Produção de sementes
Uma semente de qualidade deve ter:
1) pureza genética, que irá expressar-se no potencial produtivo, nas suas características agronômicas, na reação a doenças e pragas, nas características da semente, entre outras;
2) pureza física, determinada pelo grau e tipo de contaminantes presentes no lote;
3) qualidade fisiológica, evidenciada pelo seu potencial em gerar uma nova planta, perfeita e vigorosa, sob condições favoráveis; e
4) bom estado fitossanitário, pois a boa semente não deve veicular patógenos, capazes de afeta negativamente, a emergência e o vigor das plântulas e constituir o inóculo primário para o desenvolvimento de epidemias conseqüente redução no rendimento.
Outro fator importante para o processo produtivo da semente é a descrição da cultivar, que fundamenta sua identidade, resguarda os direitos de seus criadores e, ainda, serve de suporte ao registro da cultivar, às inspeções dos campos de produção, ao processamento, à análise laboratorial e à comercialização.
A escolha da região de produção é de fundamental importância. O Brasil Central, norte de São Paulo, Minas Gerais e zonas do Nordeste brasileiro apresentam clima apropriado para a produção de sementes de feijão de alta qualidade. Já as condições climáticas da Região Sul, com temperaturas mais baixas e alta umidade, exigem dos produtores de sementes a adoção de uma estratégias especiais de manejo e tratamento fitossanitário, para a obtenção de um produto sadio.
Recentemente, nas várzeas tropicais do Estado do Tocantins, durante a entressafra do arroz, o feijoeiro tem sido cultivado utilizando o método de subirrigação. Pela elevação do nível de água nos canais, a água na gleba eleva-se por capilaridade, tornando-se disponível à semente e, mais tarde, às raízes das plantas. Este método, por não apresentar limitações com relação à disseminação de doenças, tem proporcionado excelentes resultados. A irrigação por aspersão favorece a disseminação e o desenvolvimento de doenças da parte aérea e a irrigação por sulco, pode causar o transporte de estruturas de resistência de patógenos (clamidosporas, esclerócios, etc.) de um local para outro. Assim, uma nova alternativa para a obtenção de sementes de alta qualidade sanitária, fisiológica e genética pode ser viabilizada pela produção, em várzeas tropicais, com subirrigação durante o inverno.
A semente genética, cuja produção é de responsabilidade da equipe de melhoramento, deve reproduzir fielmente as características hereditárias da cultivar e estar livre de misturas varietais e de doenças transmissíveis por semente. Dependendo da quantidade inicial de semente genética e da demanda por semente básica pode ser produzida uma classe intermediária, denominada de semente "pré-básica". Esta classe, embora não oficialmente reconhecida na legislação, tem sido utilizada com certa freqüência, visando à obtenção de maior volume de semente básica na multiplicação subseqüente. A necessidade de maior quantidade de semente básica decorre da maior demanda de semente certificada, resultante da recomendação de determinada cultivar ou do aumento da utilização de sementes de outras categorias. Para a obtenção da semente genética, nos lotes de produção de sementes para o segundo ano dos ensaios de valor de cultivo e uso (VCU), que é a última fase de avaliação das linhagens do programa de melhoramento, 100 plantas são selecionadas e colhidas individualmente. A semente proveniente destas plantas é semeada manualmente em linhas de 5m de comprimento, distanciadas de 1m, constituindo um bloco de 100 linhas. Para a obtenção de aproximadamente 2000 kg de semente "pré-básica", é semeado 1 ha, com uma distância entre linhas de 0,7m e uma densidade de plantio de cinco sementes por metro linear. Os blocos devem ser separados com corredores de, no mínimo, 5m de largura. Para a produção da semente básica e demais categorias de semente, regiões com temperaturas mínimas superiores a 17ºC, nos meses de abril a setembro (por exemplo: noroeste de Goiás e Estado do Tocantins), são as mais apropriadas para a obtenção de semente com alta qualidade sanitária.
Qualidade da semente
Qualidade da semente O primeiro passo para se alcançar alta produtividade na cultura do feijoeiro é a utilização de sementes de boa qualidade. A qualidade da semente é expressa pela interação de quatro componentes: genético, físico, fisiológico e sanitário.
Componente genético: refere-se às características intrínsecas da cultivar, quanto ao seu potencial produtivo, resistência às pragas e doenças, arquitetura da planta e qualidade culinária, entre outras.
Componente físico: refere-se à pureza do lote e a condição física da semente. A pureza física do lote é prejudicada pela presença de sementes de outras espéciese por substâncias inertes. A condição física envolve o teor de umidade, tamanho, cor, formato e densidade da semente, que devem ser uniformes.
Componente fisiológico: refere-se à longevidade da semente e à sua capacidade de gerar uma planta perfeita e vigorosa, avaliados pelo teste de germinação e vigor. A qualidade fisiológica é influenciada pelo ambiente em que as sementes se formaram e pelas condições de colheita, secagem, beneficiamento e armazenamento.
Componente sanitário: refere-se à qualidade sanitária, ao efeito deletério provocado pelos microorganismos associados às sementes, desde o campo de produção até o armazenamento.
Ao adquirir sementes para a formação de sua lavoura, o produtor deve ter em mente que a procedência dessa semente é uma credencial das mais importantes, sendo recomendável que, além da análise da sua qualidade física e fisiológica, seja também exigido o boletim de análise sanitária. Isso porque as sementes de feijão, a exemplo do que ocorre com outras culturas, podem transportar e transmitir inúmeros patógenos responsáveis por doenças que causam danos dos mais variados na lavoura, o que, certamente, resulta em prejuízo ao agricultor. Os principais patógenos transmissíveis por sementes e as doenças que causam estão relacionados na Tabela 1. Atenção especial deve ser dada aos patógenos habitantes do solo e que são transmitidos por sementes, como Sclerotinia sclerotiorum, Fusarium oxysporum, Fusarium solani, Rhizoctonia solani eMacrophomina phaseolina, os quais, uma vez introduzidos e estabelecidos em uma área, têm a sua erradicação praticamente impossibilitada a curto prazo.
No caso do fungo Colletotrichum lindemuthianum, agente causal da antracnose, devido ao grande número de raças do patógeno e às perdas que pode causar nas lavouras, não é tolerada a presença de uma semente contaminada sequer nos lotes de sementes (Tabela 2 e Tabela 3).
Ainda com relação ao padrão de lavoura, é importante esclarecer que não são aprovadas aquelas que apresentam plantas com crescimento prejudicado, excesso de plantas daninhas – considerando-se tolerável o máximo de 20% da área coberta - ou outras condições que prejudiquem a inspeção do campo. Deve ser feito rigoroso controle de doenças e pragas e, sempre que necessário, o roguing. Na ocorrência de mofo-branco em reboleiras, essas devem ser eliminadas com uma faixa de segurança de, no mínimo, 5 m circundantes; em caso de ocorrência generalizada, a área será condenada.
O tratamento de sementes de feijão com fungicidas é uma medida importante para o controle dos patógenos que são transportados por elas. Vale lembrar que esse tipo de controle não é total, principalmente se o patógeno for transportado na parte interna da semente.
A mistura de fungicida sistêmico com protetor é recomendável para ampliar o leque de patógenos controlados e diminuir o risco de que seja desenvolvida resistência a determinado fungicida.
Ao escolher o local para produzir sementes deve-se utilizar, preferencialmente, uma área que não tenha sido antes cultivada com feijão e, sempre que possível, em local isolado de outras lavouras dessa leguminosa. O isolamento do campo de produção de sementes é necessário principalmente para diminuir o risco de contaminação do feijoeiro por doenças presentes em lavouras vizinhas. Barreiras físicas, como faixas plantadas com milho, podem ser úteis para melhorar o isolamento da cultura.
Para produzir sementes de feijão na região sul de Minas Gerais deve-se utilizar, de preferência, o método de irrigação por sulcos. O molhamento da parte aérea das plantas, proporcionado pela irrigação por aspersão ou pivô central, favorece o aparecimento de muitas doenças. Se forem utilizados esses tipos de irrigação, deve-se diminuir o número de regas, mesmo que tal prática venha a reduzir a produtividade. Irrigações pesadas e com maior intervalo entre elas são preferíveis a irrigações leves e freqüentes. Sempre que possível, as irrigações devem ser feitas durante o período noturno e encerradas assim que as vagens mais velhas amarelecerem.
No sul de Minas Gerais, a semeadura do feijão na safra das “águas” deve ser feita de 15 de outubro a 15 de novembro, e na safra da “seca”, de 15 de fevereiro a 15 de março, pois a partir dessa data as chuvas tornam-se escassas. Na terceira safra, a semeadura deve ocorrer a partir de 15 de julho, para evitar geadas durante o florescimento da cultura. Cabe lembrar que essa última safra só é viável quando se utiliza irrigação.
Quanto à densidade de semeadura, deve-se considerar que o uso de maiores espaçamentos entre plantas e, principalmente, entre fileiras, além de ajudar no controle de doenças, facilita as inspeções, o roguing e os tratamentos fitossanitários. Nas lavouras destinadas à produção de sementes recomenda-se o espaçamento entre linhas de 60-70 cm, com 7-10 plantas por metro.
Para manter a pureza da cultivar deve-se fazer o roguing, operação que prevê a eliminação das plantas que estão fora do padrão durante todo o ciclo da cultura. O roguing é mais eficaz nas fases de florescimento e enchimento de vagens.
Deve-se manter a cultura no limpo durante todo o seu ciclo. A eliminação das plantas daninhas, além de evitar a competição com o feijão, facilita a operação do roguing, elimina possíveis hospedeiros de patógenos e garante a pureza física da semente.
Nas áreas de produção de sementes, os fungicidas devem ser aplicados preventivamente a partir dos 20 dias após a emergência até próximo à maturação das plantas, para garantir a pureza sanitária das sementes.
Quando necessário, deve-se fazer a aplicação de inseticidas para garantir alta produtividade e controlar possíveis vetores de patógenos.
A colheita deve ser realizada assim que as folhas estiverem amarelecidas, e as vagens, mais velhas, secas. Na safra “das águas”, a colheita geralmente ocorre no mês de janeiro, podendo coincidir com períodos prolongados de chuva. Nesse caso, sempre que possível, é aconselhável antecipar um pouco a colheita e concluir a secagem do feijão em local arejado e protegido das chuvas.
A trilha é feita quando o teor de umidade das sementes está em torno de 16%. Para evitar misturas e danos na semente, deve-se utilizar uma trilhadeira previamente limpa e regulada.
Pré-limpeza, secagem e beneficiamento
Na pré-limpeza das sementes deve-se utilizar o peneirão.
As sementes devem ser expostas ao sol até que seu teor de umidade atinja 12-13%.
No beneficiamento das sementes deve-se usar máquina de ventilação e peneira e, em seguida, a mesa gravitacional. Não havendo disponibilidade dessas máquinas, deve-se fazer a catação manual das sementes.
Se as sementes não forem usadas logo após a colheita, deve-se fazer o controle de carunchos.
O teste de sanidade deve ser realizado para confirmar a qualidade da semente produzida.
Fonte: Embrapa
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