quarta-feira, 21 de abril de 2021

Conversão Café Tradicional para o Orgânico

 

Conversão

Antes de decidir-se pela conversão, o cafeicultor deve conscientizar-se a respeito dos princípios e normas técnicas da agricultura (cafeicultura) orgânica e das implicações práticas em termos de manejo da cultura, adaptações necessárias na unidade produtiva, relações com os empregados e formas de comercialização da colheita. O conhecimento sobre o assunto evitará procedimentos incorretos que poderiam resultar em insucesso.

No Brasil, os resultados de pesquisa sobre conversão de sistemas convencionais em orgânicos são praticamente desconhecidos. Entretanto, alguns aspectos baseados nos princípios e normas da agricultura orgânica e na vivência de extensionistas, pesquisadores e produtores, podem servir de orientação inicial para aqueles que desejam fazer essa conversão. Torna-se importante frisar a necessidade de o cafeicultor entender a filosofia do movimento, respeitando-a em qualquer circunstância.

De acordo com as normas da International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM Guidelines, 2092/91 - OIC, 1997), a conversão deve obedecer a um planejamento anual. O interessado deve elaborar um projeto de conversão, que deverá ser previamente apresentado ao órgão certificador, ou ao inspetor, por ocasião da primeira visita. A caracterização da unidade como orgânica dependerá do cumprimento desse plano. Um contrato deve ser firmado entre o cafeicultor ou organização produtora e o órgão certificador.

A documentação do estabelecimento rural, contendo dados gerais, mapa e uma lista das áreas de plantio, devem ser colocadas à disposição. Os livros-caixa devem conter registros dos insumos, da produtividade e do fluxo dos produtos, incluindo as etapas de no processamento, armazenamento, embalamento e venda. Uma lista detalhada dos insumos agrícolas empregados também deve disponibilizada para aprovação.

No início da conversão, aspectos sociais, como condições de moradia, alimentação e higiene, serão inventariados e um plano de melhoria, se for o caso, deve ser submetido. Na implementação desse plano será observado um cronograma de execução. Amostras (solo, água, plantas, produtos colhidos, etc.) podem ser colhidas pelo órgão certificador, a qualquer momento, para análise de resíduos.

A transição corresponderá ao tempo transcorrido desde data da última aplicação de insumos não permitidos em uma área agrícola até o recebimento do selo orgânico.

Esse período dependerá da extensão da unidade produtiva, das condições ambientais da mesma, especialmente das condições do solo, e do nível tecnológico adotado pelo cafeicultor. Em unidades onde as lavouras são manejadas com uso mínimo de insumos externos, 18 meses serão suficientes para cumprimento dos requisitos. Por outro lado, unidades produtivas altamente tecnificadas ou semitecnificadas necessitarão um período mínimo de três anos para a transição, tempo previsto para que os resíduos de agrotóxicos sejam degradados no solo (Anacafé, 1999).

A conversão deve ser feita por etapas, substituindo os fertilizantes químicos pelos orgânicos. Aconselha-se dividir a unidade de produção em talhões uniformes quanto ao ambiente (solo, topografia, exposição solar, etc). A partir daí, o cafeicultor deve trabalhar para converter anualmente, 20 a 25% da área total (Ricci et al., 2002ac).

Na Tabela 1, abaixo é fornecido um exemplo em que a área produtiva foi dividida em cinco talhões, cada qual correspondendo a cerca de 20% da área total a ser convertida.

Normalmente, o cafeicultor faz três aplicações de fertilizantes em cobertura por ano, utilizando formulações NPK que deverão ser gradualmente substituídas. Assim, no primeiro ano, um dos talhões receberá apenas duas coberturas com o adubo químico, sendo a terceira substituída pelo adubo orgânico, na quantidade equivalente em termos de nutrientes. No ano seguinte, esse procedimento deve ser repetido no segundo talhão e, assim, sucessivamente. No segundo ano de conversão, o primeiro talhão receberá uma cobertura com adubo químico e duas coberturas com adubo orgânico e no terceiro ano, as três coberturas serão orgânicas. O mesmo talhão, no quinto ano de conversão seguindo esse modelo, poderá receber o certificado de orgânico, caso todos os outros requisitos tenham sido também atendidos.

O uso de agrotóxicos deve ser suspenso de imediato, substituindo-os por pulverizações foliares, de caráter preventivo, utilizando-se caldas permitidas (bordalesa, sulfocálcica, etc) e biofertilizantes, respeitando, no entanto, o limite de uso desses produtos (número de tratamentos e concentrações) e observando os cuidados na sua manipulação. O ideal é que o cafeicultor obedeça a um cronograma elaborado junto com um técnico extensionista.

A divisão em talhões facilita a reestruturação da unidade de produção e o planejamento das ações, especialmente quanto à necessidade de mão-de-obra e de insumos orgânicos. Não é aconselhável a conversão completa no primeiro ano, substituindo de uma só vez todo o fertilizante químico pelo orgânico que poderia acarretar um estresse nutricional, predispondo a planta um ataque mais severo de pragas e doenças.

Convém salientar que, a partir do início da conversão, no plantio de novas áreas, o produtor deverá optar por cultivares resistentes à ferrugem, visto que esta é a principal doença da cultura no Brasil. A simples substituição de insumos químicos pelos orgânicos não é suficiente, em termos de conversão, mas representa um começo.

Paralelo a isto, o cafeicultor deve buscar alternativas para melhorar toda a paisagem da unidade de produção, concebendo-a como um “organismo”.

Tabela 1 - Exemplo de um cronograma de substituição de fertilizantes, envolvendo diferentes talhões de uma unidade produtiva em conversão para orgânica



Convencional = três coberturas da formulação química usual; Certificada = Certificação orgânica. Fonte: Ricci et al., 2002 




segunda-feira, 12 de abril de 2021

Café Orgânico: Fundamentos da agricultura orgânica

 

Fundamentos da agricultura orgânica

Agricultura orgânica é o sistema de manejo sustentável da unidade de produção com enfoque sistêmico que privilegia a preservação ambiental, a agrobiodiversidade, os ciclos biogeoquímicos e a qualidade de vida humana.

A agricultura orgânica aplica os conhecimentos da ecologia no manejo da unidade de produção, baseada numa visão holística da unidade de produção. Isto significa que o todo é mais do que os diferentes elementos que o compõem. Na agricultura orgânica, a unidade de produção é tratada como um organismo integrado com a flora e a fauna.

Portanto, é muito mais do que uma troca de insumos químicos por insumos orgânicos/biológicos/ecológicos. Assim o manejo orgânico privilegia o uso eficiente dos recursos naturais não renováveis, aliado ao melhor aproveitamento dos recursos naturais renováveis e dos processos biológicos, a manutenção da biodiversidade, a preservação ambiental ao desenvolvimento econômico, bem como, a qualidade de vida humana.

A agricultura orgânica fundamenta-se em princípios agroecológicos e de conservação de recursos naturais. O primeiro e principal deles, é o do respeito à natureza. O agricultor deve ter em mente que a dependência de recursos não renováveis e as próprias limitações da natureza devem ser reconhecidas, sendo a ciclagem de resíduos orgânicos de grande importância no processo. O segundo princípio é o da diversificação de culturas que propicia uma maior abundância e diversidade de inimigos naturais. Estes tendem a ser polífagos e se beneficiarem da existência de maior número de hospedeiros e presas alternativas em ambientes heterogêneos (Risch et al., 1983; Liebman, 1996). A diversificação espacial, por sua vez, permite estabelecer barreiras físicas que dificultam a migração de insetos e alteram seus mecanismos de orientação, como no caso de espécies vegetais aromáticas e de porte elevado (Venegas, 1996). A biodiversidade é, por conseguinte, um elemento-chave da tão desejada sustentabilidade. Outro princípio básico muito importante da agricultura orgânica é o de que o solo é um organismo vivo. Desse modo o manejo do solo privilegia práticas que garantam um fornecimento constante de matéria orgânica, através do uso de adubos verdes, cobertura morta e aplicação de composto orgânico que são práticas indispensáveis para estimular os componentes vivos e favorecer os processos biológicos fundamentais para a construção da fertilidade do solo no sentido mais amplo. O quarto e último princípio é o da independência dos sistemas de produção em relação a insumos agroindustriais altamente dependentes de energia fóssil que oneram a produção e comprometem a sustentabilidade.

Na agricultura orgânica os processos biológicos substituem os insumos tecnológicos. Por exemplo, as práticas monoculturais apoiadas no uso intensivo de fertilizantes sintéticos e agrotóxicos da agricultura convencional são substituídas na agricultura orgânica pela rotação de culturas diversificação, uso de bordaduras, consórciosentre outras práticas. A baixa diversidade dos sistemas agrícolas convencionais os torna biologicamente instáveis, sendo o que fundamenta ecologicamente o surgimento de pragas e agentes de doenças, em nível de danos econômicos (USDA, 1984; Montecinos, 1996; Pérez & Pozo, 1996). O controle de pragas e agentes de doenças e mesmo das plantas invasoras que na agricultura orgânica são denominadas plantas espontâneas é fundamentalmente preventivo.

 

Café arábica cultivado organicamente associado à bananeiras, na Estação Experimental da Embrapa



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