sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Produtos e utilizações da Araucária

Madeira serrada e roliça

A madeira do pinheiro-do-paraná apresenta boas características físicas e mecânicas em relação à sua massa específica, sendo indicada para construções em geral, caixotaria, móveis, laminados e vários outros usos, entre os quais: tábuas para forro, ripas, caibros, fôrmas para concreto, palitos para fósforo, lápis, carpintaria comum, marcenaria, tanoaria, molduras, guarnições, compensado, mastros de navios, pranchões, postes, cabos de vassouras, tabuinhas para telhados, entre inúmeros usos (MAINIERI; CHIMELO, 1989).
O uso da madeira de pinho para tábua de ressonância dos pianos é praticamente insubstituível. O pinheiro-do-paraná, sob a forma de madeira serrada e laminada foi, por um longo período, um dos produtos mais importantes na exportação brasileira. Em 1765, um decreto real autorizou o corte de pinheiros de Curitiba, PR, para ser construída a nau São Sebastião, um dos primeiros barcos da futura Marinha brasileira. Feita inteiramente de pinho, a nau São Sebastião durou mais de 50 anos, e acabou sendo deixada na África, no curso de uma missão oficial da Coroa portuguesa.

Energia

A lenha do pinheiro não é de boa qualidade, mas os nós de pinho são famosos, substituindo até o coque. É excelente combustível, de poderoso efeito calorífico, excedendo a 8 mil calorias (BOITEAUX, 1947). Foi muito empregado nas locomotivas, na navegação marítima e fluvial, em substituição ao carvão mineral e em indústrias particulares. A casca de indivíduos adultos é grossa, esponjosa e resinosa, e indicada para energia, principalmente nos fogões domésticos, pois queima facilmente e com poder calorífico considerável.

Celulose e papel

Produz celulose de fibra longa, resultando em papel de excelente qualidade. Teor de celulose de 58,3% e teor de lignina de 28,5%.

Outros produtos

Casca
Pela fermentação, fornece bebida agradável, medicinal, e suas cinzas contêm potassa em abundância.
Constituintes químicos
Maciel e Andrade (1996) encontraram compostos fenólicos nas amêndoas e nos tegumentos desta espécie.
Resina
É exsudada principalmente da casca, e fornece subprodutos úteis à indústria e à medicina. A resina destilada fornece alcatrão, óleos, terebintina, breu, vernizes, acetona e ácido pirolenhoso para variadas aplicações industriais, e outros produtos químicos.

Outros usos

Alimentação animal
As folhas do pinheiro-do-paraná apresentam 6,7% de proteína bruta e 8% de tanino (LEME et al., 1994), não sendo muito procuradas pelos animais em virtude de serem espinhentas. O pinhão é alimento para inúmeros animais silvestres, que também são seus dispersores (CARVALHO, 1950). Entre estes, destacam-se a gralha-picaça ou gralha-amarela (Cyanocorax chrysops), a gralha-azul (Cyanocorax caeruleus), serelepe (Sciurus aestuans), o ouriço, a cutia e os porcos-do-mato (queixada e cateto). Entre os animais domésticos, destaca-se o porco.
Alimentação humana
Os pinhões constituem um alimento muito valioso, embora de composição um pouco desequilibrada, o endosperma das sementes se torna farinhoso pelo cozimento, com gosto que lembra castanha cozida (ANDERSEN; ANDERSEN, 1988). Eles são fontes importantes de proteína no Brasil e na Argentina (RAGONESE; MARTINEZ-CROVETTO, 1947), sendo alimentos nutritivos e fortificantes, servindo para a alimentação humana, de animais domésticos e da fauna silvestre. Podem ser consumidos crus, cozidos, em água ou leite, ou assados. A amêndoa, seca ao calor e reduzida a pó, produz fécula branca e delicada, nutritiva e de fácil conservação.

Por esses atributos, foi durante um longo período um importante alimento para alguns grupos indígenas e para os primeiros colonos (HUECK, 1972). Ainda hoje, observa-se entre março e julho, principalmente no Paraná e em Santa Catarina, muitas famílias vendendo pinhão nas margens das rodovias.
Artesanato
O nó-de-pinho é aproveitado para obras de torno, de ornamentação para artefatos caseiros, e muito utilizado em peças artesanais e artísticas de real beleza, em virtude de sua coloração e formas atraentes. No sul de Minas Gerais, no Município de Munhoz, o engenheiro agrônomo e designer Ricardo Barros Afiune desenvolveu projeto em que utiliza galhos que se desprendem naturalmente desta espécie como matéria-prima para a produção de móveis rústicos.
Medicinal
O pinhão combate a azia, a anemia e a debilidade do organismo. O cozimento das folhas é eficiente contra a anemia e tumores que surgem devido às disfunções dos gânglios linfáticos (escrófulas) (FRANCO; FONTANA, 1997). A casca em infusão no álcool cura cobreiros, reumatismo, varizes e distensões musculares. A casca do caule e os brotos são usados na medicina popular pelos índios de várias etnias do Paraná e de Santa Catarina nas afecções do reumatismo, dores causadas por quedas, durante a gravidez, machucado nos olhos, catarata, cortes, feridas, dor nos rins e doenças venéreas (MARQUESINI, 1995).
Paisagístico
Pela beleza de sua copa nos vários estágios de crescimento, a espécie é de grande efeito ornamental e paisagístico. No Sul do Brasil, o pinheiro é plantado em viveiros especiais e manejado para produção de árvore-de-natal. É comum ver em Curitiba, PR, no mês de dezembro, nas esquinas de ruas, plantas de cinco anos de idade e cerca de 1 m a 2 m de altura, prontas para venda.
Reflorestamento para recuperação ambiental
Esta espécie também é usada na reposição de mata ciliar, para locais sem inundação. Bündchen e Alquini (2000) encontraram diferenças significativas nos níveis de clorofila entre uma área poluída e outra área não poluída; as folhas provenientes da área poluída apresentaram os estômatos parcial ou totalmente obstruídos por material particulado. O pinheiro-do-paraná apresenta boa deposição de resíduos orgânicos (serapilheira), com uma produção média de 6,9 t ha-1 ano-1 em floresta natural (BACKES et al., 2000) e entre 5,0 t ha-1 ano-1 a 6,4 t ha-1 ano-1em floresta cultivada (KOEHLER et al., 1987; BACKES et al., 2000).
Galhos
Os ramos do pinheiro-do-paraná se apresentam como excelente fonte de lenha, principalmente para usos domésticos, devido à facilidade do seu processamento. Por outro lado, possuem alta resistência, flexibilidade e durabilidade, podendo ser utilizados em estruturas de construções rústicas e móveis artesanais, protegidos das intempéries. A forma recurvada dos galhos dos pinheiros pode ser vantajosa para apoiar coberturas (Figura 1).
Folhas
As folhas (acículas) dos pinheiros são ricas em nutrientes minerais, reciclados até de camadas profundas do solo. Nesse sentido, produzem húmus de excelente qualidade, o qual pode ser elaborado em forma rústica e com baixo custo, em propriedades que possuem pinheiros próximos das unidades familiares. Basta juntar as grimpas ou sape e amontoar em algum local de pouca utilização, retirando anualmente a matéria decomposta, acumulada nas camadas inferiores (Figura 2). O húmus produzido pode ser aplicado diretamente em hortas ou pomares. As folhas também podem ser utilizadas para proteção de plantas, principalmente contra o assédio de animais menores, e como cobertura morta.
Foto: Amilton J. Baggio
Figura 1. Galhos de pinheiro usados em construção.
Foto: Amilton J. Baggio
Figura 2. Acículas de pinheiro para decomposição.

Características da madeira

Massa específica aparente

A madeira do pinheiro-do-paraná é moderadamente densa (0,50 a 0,61 g cm-3), a 15% de umidade (PEREIRA; MAINIERI, 1957; JANKOWSKY et al., 1990).

Massa específica básica

0,42 a 0,48 g cm-3 (JANKOWSKY et al., 1990).

Cor

O alburno é pouco diferenciado do cerne, de coloração branca-amarelada, uniforme.

Características gerais

Superfície lisa ao tato e medianamente lustrosa; textura fina e uniforme; grã-direita. Cheiro pouco intenso e agradável, de resina e gosto pouco acentuados.

Anéis de crescimento

Araucaria angustifolia forma anéis de crescimento bastante nítidos, evidenciados pela diferenciação do xilema secundário em lenhos inicial e tardio. No lenho inicial, os traqueídes axiais são alongados radialmente e com paredes celulares delgadas, conferindo ao xilema uma coloração clara. No lenho tardio, os traqueídes são menores, achatados radialmente e com paredes celulares mais espessas, conferindo ao xilema uma cor escura, os quais podem ser identificados macroscopicamente, no xilema secundário (LISI et al., 1998; BOTOSSO; MATTOS, 2002), permitindo a estimativa da idade da árvore (OLIVEIRA, 2007; OLIVEIRA et al., 2009). Essa determinação pode ser realizada por meio de seções transversais do tronco (discos de madeira) bem como de amostras não destrutivas de madeira de pequenas dimensões, retiradas com auxílio de um trado de incremento (sonda Pressler), evitando-se, desta forma, o corte das árvores e minimizando eventuais danos aos indivíduos.
Estudos de anéis de crescimento demonstram fortes evidências do caráter anual de formação desses anéis (ROIG, 2000; TOMAZELLO et al., 2000; LISI et al. 1999; OLIVEIRA 2007; OLIVEIRA et al., 2009), identificando o seu potencial de aplicação para estudos dendrocronológicos e dendroecológicos voltados à conservação e manejo da espécie.
Seitz e Kanninen (1989) obtiveram uma cronologia de anéis de crescimento com alta correlação entre indivíduos, sugerindo que o crescimento desses foi determinado por fatores ambientais comuns, possivelmente climáticos.

Durabilidade natural

Madeira com baixa resistência ao apodrecimento e ao ataque de cupins de madeira seca.

Preservação

Madeira com alta permeabilidade às soluções preservantes, quando submetida à impregnação sob pressão.

Secagem

Sua secagem natural é difícil, por apresentar tendência à distorção e rachaduras. O processo de secagem artificial deve ser controlado cuidadosamente, para que se possa obter madeira de qualidade.

Trabalhabilidade

Fácil, com ferramentas manuais ou máquinas. A presença de madeira de compressão pode causar distorção considerável, quando é feito o aplainamento ou resserragem. Fácil de colar, aceita bem acabamentos superficiais.

Outras características

Caracteres gerais, anatômicos e principais aplicações da madeira desta espécie podem ser encontrados em Mainieri e Chimelo (1989).
Os nós do pinheiro, devido a sua elevada densidade e grande teor de resinas, são muito resistentes ao apodrecimento. O nó-de-pinho é originário da inversão dos galhos dos pinheiros, isto é, a parte que fica engastada no tronco, envolvida pelas camadas lenhosas. Tem-se visto de 1,20 m de comprimento, sobre 40 cm de largura.
O rendimento de um pinheiro de porte grande, adulto, apresenta a seguinte produção: toco que permanece no chão: 3,5%; serragem residual na indústria: 4,4%; casca: 14,2%; ponta do fuste: 15%; galhos: 25,2%; aparas e costaneiras: 14,2% e tabuado, área nobre da madeira: 23,6% (THOMÉ, 1995).



domingo, 22 de outubro de 2017

Principais doenças da Araucária

Principais doenças

A araucária pode ser atacada por patógenos, principalmente fungos, desde a fase de viveiro até nos plantios adultos. As principais doenças são: tombamento de mudas; podridão da haste por Colletotrichum; armilariose; podridão de raízes por Cylindrocladium; podridão de raízes por Hendersonula; podridão de raízes por Rosellinia; podridão de raízes por Sphaeropsis; podridão de raízes por Phellinus; e podridão do colo e morte de árvores, por Phytophthora. Existem, também, problemas de origem abiótica, como o secamento de mudas no campo e o ataque de fungos na madeira, causando a mancha castanha do cerne e a mancha azulada.

Tombamento de mudas

Sintomas e sinais
Lesão necrótica na região do colo da plântula que progride para a murcha, encurvamento e seca dos cotilédones e posterior morte. Em geral, o tombamento de plântulas ocorre em reboleira.
Causas
A doença decorre do ataque dos fungos dos gêneros Fusarium e Rhizoctonia nas fases de germinação, emergência e pós-emergência, destruindo as plântulas. Os fungos podem ser veiculados em sementes infestadas, substratos e água de irrigação contaminados. As condições de alta umidade no viveiro favorecem o ataque e a disseminação dos patógenos.
Controle
  1. usar substratos comerciais com boa drenagem;
  2. semear diretamente em tubetes suspensos;
  3. evitar sombreamento excessivo das mudas;
  4. ralear as plântulas o mais cedo possível;
  5. usar sementes e água de irrigação livres de patógenos;
  6. selecionar as mudas para descarte das doentes e mortas;
  7. retirar tubetes sem mudas;
  8. aplicar adubação equilibrada nas mudas;
  9. irrigar de forma a evitar a falta ou excesso de umidade.

Podridão da haste por Colletotrichum

Sintomas e sinais
A doença é caracterizada pela murcha do ponteiro da muda e sua posterior morte. A lesão se inicia nas acículas, progredindo para a haste, onde causa o estrangulamento do caule.
Causas
Essa doença é causada por uma espécie de Colletotrichum. As condições de alta umidade no viveiro favorecem o ataque e disseminação do patógeno.
Controle
Para o controle dessa doença, as recomendações são as mesmas das preconizadas para o tombamento de mudas.

Armilariose

Sintomas e sinais
A doença é caracterizada pelo ataque das raízes e do colo de árvores jovens de araucária. A lesão pode surgir nas raízes ou no colo, com exsudação de resina, progredindo para a morte da casca, amarelecimento e seca das acículas, terminando com a morte da planta. A presença do fungo é detectada pela ocorrência de um feltro micelial, de coloração branca a creme e pelas rizomorfas, estruturas filamentosas escuras similares a cordões.
Causas
Essa doença é causada por uma espécie de Armillaria. O fungo é habitante do solo e pode sobreviver decompondo matéria orgânica na forma de raízes e tocos de árvores. Esse patógeno também ataca espécies comerciais de Pinus e frutíferas, como pessegueiro, ameixeira e videira, entre outras.
Controle
Eliminar os tocos e raízes de árvores doentes e mortas pela doença. Evitar o plantio em áreas onde já se verificou a doença.

Podridão de raízes por Cylindrocladium

Sintomas e sinais
As plantas afetadas apresentam inicialmente um amarelecimento característico na copa, com posterior secagem das folhas. O patógeno ataca raízes de árvores, formando focos circulares discretos. Os exemplares doentes podem permanecer em pé por vários meses, até caírem por conta do apodrecimento da base da árvore.
Causas
Essa doença é causada pelo fungo Cylindrocladium clavatum. Esse fungo é polífago, atacando também espécies de Eucalyptus e Pinus.
Controle
Até o momento, não há recomendações de controle dessa doença.

Podridão de raízes por Hendersonula

Sintomas e sinais
A doença é caracterizada por uma podridão nas raízes e colo de árvores jovens.
Causas
Essa doença é causada pelo fungo Hendersonula sp.
Controle
Eliminar as árvores doentes e mortas, retirando-as dos focos da doença no campo.

Podridão de raízes por Rosellinia

Sintomas e sinais
A doença é caracterizada por uma podridão das raízes e do colo. O fungo forma uma crosta fúngica com rizomorfas e estruturas reprodutivas na superfície da base da planta.
Causas
Essa doença é causada pelo fungo Rosellinia bunodes. O fungo se dissemina no solo por meio de rizomorfas que, ao atingirem uma planta sadia, penetram na raiz ou no colo da planta. A doença é observada em locais onde a derrubada da mata é recente e o solo encontra-se úmido e sombreado.
Controle
Eliminar os tocos e raízes de árvores doentes e mortas pela doença.

Podridão de raízes por Sphaeropsis

Sintomas e sinais
A doença ocorre em mudas que, inicialmente, apresentam uma lesão no colo, com escurecimento interno do tecido lenhoso que provoca a sua murcha. Posteriormente, a planta apresenta coloração marrom-escura, com a secagem das acículas.
Causas
Essa doença é causada pelo fungo Sphaeropsis sapinea.
Controle
Empregar medidas que garantam o vigor das mudas e práticas que mantenham a sua sanidade, como eliminação das mudas doentes, adubação e irrigação adequadas, de forma a evitar a falta ou excesso de umidade.

Podridão de raízes por Phellinus

Sintomas e sinais
A doença é caracterizada pela podridão de raízes e do colo em árvores jovens e adultas. A podridão se inicia nas raízes próximas da base da árvore, evoluindo para o colo e causando a seca da copa e a morte da árvore.
Causas
Essa doença é causada por uma espécie de Phellinus.
Controle
Da mesma forma empregada para a armilariose, fazer a eliminação dos indivíduos doentes e mortos, para não servirem de fonte de inóculo.

Podridão do colo e morte de árvores causada por Phytophthora

Sintomas e sinais
Doença constatada em plantação de araucária e em árvores isoladas. Os sintomas iniciais das árvores doentes caracterizam-se pela escassa folhagem, aspecto clorótico e redução do tamanho da copa. Internamente, no caule e raízes, verificam-se áreas escurecidas. A doença pode provocar a morte das árvores afetadas.
Causas
Essa doença é causada por Phytophthora cinnamomi.
Controle
Até o momento, não há recomendações de controle dessa doença.

Seca de mudas no campo

Sintomas e sinais
O sintoma se inicia com o amarelecimento da planta, seguido pela murcha nas horas mais quentes do dia e necrose da casca da base da muda, na linha do solo.
Causas
Problema que ocorre no período de verão, em consequência do aquecimento excessivo da base da muda recém-plantada no campo. Podem surgir patógenos secundários nos tecidos necrosados, os quais participam do processo que conduz à morte da planta.
Controle
Efetuar o plantio das mudas no campo, tão logo finde o inverno, para permitir a formação de um tecido mais resistente e que suporte a insolação, no período de verão. Fazer a proteção da base da planta com cobertura morta, aproveitando sobras de resíduos da limpeza de área para plantio, como capim e folhagem. Evitar o plantio da muda de modo profundo no solo.

Mancha castanha do cerne

Sintomas e sinais
Aparecimento de manchas na madeira que deixam o cerne com uma coloração castanho-escura que tende a desaparecer com a secagem da madeira. A mancha apresenta contornos sinuosos e surge após o corte da árvore, notadamente na porção do tronco, que vai da base até, aproximadamente, 7 m de altura. O escurecimento seria consequência do desenvolvimento do fungo no interior e a oxidação de compostos da madeira, sem alterar as condições físico-mecânicas, apenas depreciando o seu valor estético.
Causas
O aparecimento de manchas é causado por fungos do gênero Fusarium.
Controle
Efetuar o corte das árvores em períodos mais secos e quentes. Retirar as árvores do campo o mais breve possível, para a secagem e para o processamento mecânico da madeira na serraria, impedindo que o fungo a manche.

Mancha azulada

Sintomas e sinais
Aparecimento de manchas na madeira que ocorrem após o corte de árvores de coníferas. O azulamento decorre do desenvolvimento do fungo no interior da madeira, promovendo uma coloração azul-acinzentada ou azul escura, sem alterar as condições físico-mecânicas, apenas depreciando o seu valor estético.
Causas
Esse processo de mancha da madeira é causado pelos fungos Aureobasidium pullulans e Ceratocystis triangulospora.
Controle
Para o controle dessa doença, as recomendações são as mesmas preconizadas para a mancha castanha do cerne.


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Principais Pragas da Araucária



Entre as espécies de insetos que ocorrem no pinheiro-do-paraná, os danos mais severos são causados por:

Cydia araucariae (Lepidoptera: Tortricidae)

Adultos: medem de 15 mm 20 mm de envergadura, e o macho geralmente é menor do que a fêmea. Apresentam coloração marrom, sendo que na asa anterior há duas faixas transversais iniciando paralelamente à margem posterior e curvando-se opostamente na margem anterior. Machos e fêmeas possuem antenas filiformes. Apresentam hábito diurno.
Lagartas: possuem a cabeça marrom e o corpo branco, cinza ou verde claro, dependendo da alimentação. A postura ocorre preferencialmente nas pinhas, sendo menos frequente nas folhas, ramos, brotos terminais e cones masculinos. A pupa é formada dentro ou fora do substrato da planta, dentro de um casulo de teia.
Danos: este inseto é responsável pela inviabilidade de grande parte das sementes da araucária, podendo reduzir a produção de sementes viáveis em até 64 %.
Ocorrência: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Misiones, na Argentina.
Evidência do ataque: a existência de uma fina serragem na base da pinha ou da gema apical indica a presença da praga.

Dirphia araucariae (Lepidoptera: Saturniidae)

Adultos: medem de 65 mm a 110 mm de envergadura, com o macho geralmente menor do que a fêmea. A cabeça e tórax são de coloração marrom-escura, e o abdômen, marrom-avermelhado ou alaranjado, com estrias pretas, transversais. As asas apresentam vários tons de marrom, e a asa anterior apresenta duas linhas brancas muito salientes. Os machos têm antenas filiformes, e as fêmeas, pectinadas e geralmente com abdômen mais volumoso. Apresentam hábitos noturnos.
Lagartas: de coloração verde e com espinhos muito compridos.
Ciclo biológico: dura de 5 a 7 meses, com duas gerações por ano. A postura é feita geralmente no tronco da araucária, mas também pode ocorrer no ramos e copa do pinheiro. Posteriormente, as larvas sobem para as copas e alimentam-se das acículas. A pupa é formada no solo, sob a matéria orgânica em decomposição.
Danos: consomem grande parte das acículas das árvores, porém, não atacam os brotos apicais.
Ocorrência: Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
Evidência do ataque: o ataque pode ser evidenciado pela desaciculação, em função da alimentação das larvas. Porém, os brotos apicais não são danificados pois eles encontram-se muito aderidos dificultando o acesso das larvas às suas bordas, onde inicia a alimentação.

Elasmopalpus lignosellus (Lepidoptera: Pyralidae)

Adulto: apresentam de 15 mm a 20 mm de envergadura e possuem asas anteriores acinzentadas.
Lagartas: quando completamente desenvolvidas, medem 15 mm de comprimento. São de coloração verde-azulada e são muito ativas.
Danos: lesionam o colo das plantas jovens.
Ocorrência: Ásia, América do Norte, América Central, Oceania e América do Sul. No Brasil, está presente na Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Pará, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.
Evidência do ataque: lesões causadas pela alimentação das larvas.

Fulgurodes sartinaria (Lepidoptera: Geometridae)

Adultos: apresentam, nas asas, desenhos irregulares e indefinidos, em forma de mosaico, de contorno, e tonalidade marrom, com fundo branco. Os machos são menores do que as fêmeas. O abdômen é mais volumoso nas fêmeas. As antenas são bipectinadas nos dois sexos. Na fêmea, as ramificações são curtas e quase despercebidas. As fêmeas realizam suas posturas durante o dia, dispondo os ovos quase sempre isoladamente ou em grupos de 2 a 4, ao longo das acículas.
Lagarta: possui a cabeça e o dorso pretos, com duas listras longitudinais claras ao longo do corpo, nas regiões dorso-lateral e lateral. Em estágios mais desenvolvidos, possuem a cabeça esverdeada e corpo verde com listras longitudinais brancas.
Danos: desfolhamento das plantas. As lagartas cortam grande quantidade de acículas, que, em sua maioria, caem ao chão antes de serem consumidas, deixando uma espessa camada de acículas no solo.
Ocorrência: São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.
Evidência do ataque: camada de acículas próxima às árvores atacadas, devido à alimentação das lagartas.




quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Crescimento, produção e Conservação genética das Araucárias



Crescimento e produção

O crescimento inicial do pinheiro-do-paraná é lento; mas a partir do terceiro ano, em sítios adequados, apresenta incremento anual em altura de 1 m, e a partir do quinto ano, taxas de incremento em diâmetro de 1,5 cm a 2,0 cm. Os povoamentos apresentam uma grande heterogeneidade, que se manifesta principalmente na altura e na formação de pseudo-verticilos. É admissível esperar um incremento volumétrico anual de 10 m3 a 23 m3 ;por hectare (WEBB et al., 1984).
Em casos excepcionais, pode atingir 30 mha-1ano-1, com casca. O fuste é quase cilíndrico, com um fator de forma de 0,75 a 0,80 (BUENO, 1965). Árvores jovens emitem dois pseudoverticilos por ano, e árvores adultas um pseudoverticilo (BUENO, 1965).
Em plantio de conversão ou transformação localizado em Colombo, PR, em sítios de fertilidade química média e com alto teor de alumínio, a produtividade, dependendo da procedência utilizada, variou de 12 m3a 18 m3 ha-1ano-1. Estima-se uma rotação a partir de quinze anos para o corte final, em solos férteis e sob espaçamentos adequados. Os primeiros desbastes devem ser realizados, segundo o grau de qualidade, entre 7 e 12 anos (LAMPRECHT, 1990).
O pinheiro-do-paraná tem sido plantado em locais fora de sua ocorrência natural, merecendo menção de um plantio situado nas proximidades de Ubaíra, no sul da Bahia, em solos férteis (GOLFARI et al., 1978). Fora do Brasil, esta espécie foi introduzida em diversos países, entre os quais a África do Sul, a Austrália, o Quênia, a República Malgaxe (Madagascar) e o Zimbábue (ARAUCARIA..., 1960; NTIMA, 1968), com comportamento variável.

Conservação genética

Com a exploração indiscriminada, o avanço da fronteira agrícola e o processo de urbanização, entre outros fatores, ocorreu a devastação da Floresta Ombrófila Mista (floresta com araucária) (DEAN, 1996) a tal ponto que, hoje, a araucária encontra-se na lista das espécies ameaçadas de extinção do Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2008), na categoria vulnerável. De acordo com o MMA (2002), citado por Medeiros et al. (2005), as estimativas dos remanescentes de Floresta Ombrófila Mista, nos estágios primários ou mesmo avançados não perfaziam mais do que 7% da área original. Em Santa Catarina, restam apenas alguns relictos remanescentes em fragmentos dispersos. No Paraná, os estudos realizados pelo PROBIO Araucária (CASTELA, 2001) indicaram a ocorrência de apenas 0,8% de Floresta Ombrófila Mista em estágio avançado, sendo que a distribuição espacial desses remanescentes apresenta-se dispersa em fragmentos pequenos e médios, não superior a 5 mil ha.
No sul de Minas Gerais, a espécie é incapaz de autorregeneração natural nos ecossistemas nativos da região, e sua sobrevivência depende da reprodução artificial em viveiros e posterior plantio (VIEIRA, 1990). No Estado de São Paulo, está ameaçada de extinção, na categoria criticamente em perigo (SÃO PAULO, 1998).
Levantamento quantitativo realizado em Mauá, na Região Metropolitana de São Paulo, área considerada como a única concentração significativa de Mata de Araucária na região, notou-se que a espécie teve uma redução considerável, passando de 36.310 indivíduos, em 1937, para 9 mil indivíduos, em 1999 (MARCONDES; BARRETO, 2000). No Paraguai, a única área de ocorrência natural da espécie foi declarada, em 1971, como uma Reserva Nacional (LOPEZ et al., 1987).
Com a exploração predatória da floresta com Araucária, e a consequente introdução dessa espécie na lista do Ibama (1999), das espécies ameaçadas de extinção, categoria vulnerável, o Governo Federal instituiu a Resolução Nº 278 do CONAMA, em 24 de maio de 2001, proibindo o corte da araucária nativa. A suspensão, segundo essa resolução, permaneceria em vigor até o estabelecimento de critérios técnicos cientificamente embasados, que garantissem a sustentabilidade da exploração e a conservação genética das populações exploráveis.
No entanto, essa medida não surtiu o efeito esperado, de forma que parte da sociedade passou a ver na regeneração natural um empecilho para o futuro uso da terra. Tem-se buscado medidas para contornar essa situação, mas, até o momento, sem muito sucesso. A forma de conservação que tem se mostrado efetiva em todo o mundo é a conservação pelo uso. Esse deve ser um dos caminhos para a manutenção do patrimônio genético da espécie. Neste contexto, é importante valorizar e viabilizar a utilização dos produtos não madeiráveis. Áreas de Preservação Permanente devem existir para assegurar o potencial de evolução das espécies, e neste sentido o governo tem se esforçado para a criação dessas áreas. O incentivo ao plantio, baseado em estudos de manejo e melhoramento florestal e outras áreas importantes, deverá reduzir a pressão sobre os remanescentes naturais.
Há escassez de resultados técnico-científicos para embasar as políticas públicas de conservação, apesar do incremento significativo na última década. Estudos de genética de populações conduzidos a partir do ano 2000, com respeito às populações naturais dessa espécie (SHIMIZU et al. 2000; SOUSA, 2001; AULER, 2002; MANTOVANI et al. 2006; PUCHALSKI et al. 2006; STFENON, 2007; BITTENCOURT; SEBBENN, 2007) têm colaborado na elucidação dos parâmetros genéticos dessas populações. Todavia, um maior número de pesquisas deve ser conduzido, já que a espécie se distribui em uma ampla área de ocorrência natural. Diferenciações de ocorrência entre as populações das regiões norte (acima de Campos do Jordão) e região sul são evidentes. Essas diferenças têm sido observadas em ensaios de procedências e progênies, e distâncias genéticas (VALGAS, 2008, SOUSA et al. 2009, dentre outros) obtidas por diferentes tipos de marcadores genéticos. Deve-se considerar esse aspecto tanto nos programas de conservação quanto nos de melhoramento genético.
À Embrapa Florestas cabe continuar conservando o material genético já coletado e, se possível, implantar novas áreas de conservação e incentivar o plantio e programas de melhoramento genético, para a redução da pressão sobre os remanescentes nativos. A conservação por meio de parcerias, envolvendo as comunidades locais, deve ser implementada. A conservação da espécie deve, além disso, considerar o mapa de vulnerabilidade da mesma (WREGE et al. 2009), já que as mudanças climáticas afetarão drasticamente algumas populações, especialmente considerando que a araucária, em termos evolutivos, encontra-se muito aquém das folhosas, e sua respostas às mudanças climáticas poderão afetá-la mais fortemente



domingo, 8 de outubro de 2017

Características silviculturais e Melhoramento genético da Araucária



Características silviculturais

Em plantios, o pinheiro-do-paraná tolera sombra no período juvenil, porém, não tolera sombreamento lateral quando plantado em faixa, em capoeira alta. Na fase adulta, é essencialmente heliófila, segundo Imaguire (1979).
É espécie tolerante às temperaturas baixas, mas, em algumas ocasiões, as mudas nascidas no campo, com semeadura direta, foram afetadas por temperaturas inferiores a -5 ºC. Foram observados também pequenos danos pelo frio nos brotos de plantas com 2 a 3 anos de idade.

Hábito

Apresenta crescimento monopodial e forma cônica quando jovem, com os galhos distribuídos em pseudoverticilos. Segundo Hosokawa (1976), a poda não é necessária, dada a ocorrência de desrama natural. Todavia, o pinheiro apresenta desrama natural deficiente, devendo ser realizada poda dos galhos para se obter madeira de melhor qualidade, sem nós. A poda pode ser feita a partir do terceiro ano (poda verde), quando plantado em sítios adequados e sua madeira se destina para laminação ou serraria.

Métodos de regeneração

O pinheiro-do-paraná pode ser plantado satisfatoriamente a pleno sol, em plantio puro, principalmente em solos de boa fertilidade química. A semeadura direta no campo é o método mais adequado. É usual uma superlotação inicial (6 a 12 mil sementes/ha-1), com seleção posterior, deixando as plantas mais vigorosas. A semeadura direta no campo é feita com sementes recém-colhidas, no outono ou inverno. Mudas (Figura 1) também podem ser utilizadas, com espaçamento maior, todavia, requerendo cuidados com a qualidade da muda, com os replantios e com as limpezas. Quando plantada a pleno sol, por sementes ou mudas, costuma-se adotar plantios de grãos nas ruas, durante poucos anos, para viabilizar as limpezas (ver exemplos em GUIDONI; KONECSNI, 1982; BOM et al., 1994).
O pinheiro-do-paraná pode, também, ser plantado em vegetação matricial arbórea (plantio de conversão ou transformação), como em capoeiras adultas formadas, principalmente, pela bracatinga (Mimosa scabrella) e pela taquara (Chusquea sp.). O preparo inicial dessas áreas consiste na abertura de faixas na direção leste-oeste e coveamento; deve haver liberação gradual da vegetação matricial, de maneira a se obter a exposição total das plantas até a idade de sete anos, quando a capoeira se transforma em plantio puro com o pinheiro-do-paraná (PINHEIRO..., 1985). A conversão de capoeiras, hoje, deve ser autorizada pelo órgão ambiental, devido à Lei da Mata Atlântica, Decreto No 6.660/2008.
Em programas de regeneração natural, a abertura gradual do dossel oferece melhores condições para o pinheiro-do-paraná sobrepujar a vegetação concorrente (INOUE; TORRES, 1980).
As árvores do pinheiro-do-paraná brotam após o corte, mas não se recomenda, em qualquer circunstância, o seu manejo pelo sistema de talhadia

Melhoramento genético

Nas últimas décadas, tem-se observado uma crescente demanda por sementes de essências nativas, para recompor ou implantar áreas de preservação permanente (APP), Reserva Legal (RL), e recuperação e restauração de áreas degradadas. Mas a produção de sementes em povoamentos naturais não tem sido suficiente para atender a essa demanda.
A produção de sementes melhoradas de espécies florestais tem sido focada nas espécies exóticas, principalmente pínus e eucalipto. Apesar da Araucaria angustifolia ser a espécie nativa mais estudada para fins de conservação genética in situ e ex situ, ainda não há registro de um programa de melhoramento genético sólido para essa espécie. Em estudos de conservação genética do pinheiro-do-paraná, autores relatam a existência de variações genotípicas entre procedências (KAGEYAMA; JACOB, 1980; HIGA et al., 1992), que devem ser exploradas para aumento da produtividade.
O pinheiro-do-paraná foi considerado uma das espécies da Floresta com Araucária (Floresta Ombrófila Mista) com maior potencial de uso para reflorestamentos econômicos, e tem sido objeto de estudos na Universidade Federal do Paraná (UFPR), na Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná (FUPEF), na Embrapa Florestas e em empresas privadas, no Sul do Brasil. A Embrapa Florestas, em parceria com outras instituições públicas e privadas, implantaram bancos de conservação genética composto de várias procedências alguns destes foram transformados em áreas de produção de sementes, com possibilidade de futuramente disponibilizar sementes dessas áreas. Testes de progênies de araucária já foram implantados para a produção de sementes advindas de Pomar de Sementes por Mudas (PSM).
Em programa de melhoramento genético da espécie, deve-se considerar a ampla área de ocorrência que contribui para a sua diferenciação em raças geográficas e ecotipos (GURGEL; GURGEL FILHO, 1965; GURGEL FILHO, 1980). Reitz e Klein (1966) referem-se a nove variedades de Araucaria angustifoliaeleganssancti Josefangustifoliaindehiscensnigrastriatasemi-alba e alba, as quais foram identificadas pelos autores, por meio das diferentes colorações das sementes maduras. Além da cor, Mattos (1972) acrescenta a época de amadurecimento dos pinhões. Diferenças significativas entre procedências, encontradas para caracteres quantitativos em testes de procedências e progênies, são evidentes em vários outros trabalhos demonstrando o seu potencial para trabalhos de melhoramento, com a possibilidade de se obter ganhos significativos.
Para plantios no Sul e Sudeste do Brasil, recomenda-se que se utilizem sementes selecionadas da mesma zona ecológica e, quando isto não for possível, utilizar pelo menos das zonas mais próximas àquela em que for estabelecido o reflorestamento.
Com base nos resultados de ensaios de procedências instalados no Paraná e em São Paulo, pode-se recomendar como fonte de sementes, além da local, as de origens mais setentrionais, como as de Itapeva, Itararé e Campos do Jordão, do Estado de São Paulo (CARPANEZZI, 1986). A principal dificuldade na promoção do melhoramento genético desta espécie surge quando se considera a sua reprodução controlada. As árvores normalmente produzem sementes apenas após 15 a 20 anos de idad, além do ciclo reprodutivo ser muito longo (aproximadamente quatro anos, segundo SHIMOYA, 1962).



quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Sementes e Produção de mudas de Araucária



Sementes

Coleta e beneficiamento

Os pinhões são obtidos quando as pinhas maduras são derrubadas no chão, processo conhecido comumente como desfalhamento. Este método apresenta o risco de ataques de roedores e insetos às sementes, bem como de perda da qualidade fisiológica destas pela permanência no solo, sob condições de ambiente natural. O método recomendado para a coleta consiste da retirada das pinhas diretamente da árvore quando estas apresentam pintas amarronzadas. Em seguida, os pinhões são extraídos manualmente da pinha. Após a extração dos pinhões, é aconselhável a eliminação dos pequenos, selecionando-os através de peneiras com alvéolos oblongos acima de 6 cm de comprimento, pois existe uma relação entre vigor e tamanho das sementes desta espécie.

Número de sementes por quilograma

Segundo Monteiro e Speltz (1980), varia entre 123 a 205 sementes por quilograma.

Tratamento para superação da dormência das sementes

A presença do tegumento externo (brácteas) atrasa o processo de germinação das sementes destas espécies (DONI FILHO et al., 1985). O atraso na germinação de sementes do pinheiro-do-paraná está associado à restrição da entrada de água, ocasionada pelo tegumento (BORGES et al., 1987). Por isso, é prática recomendada deixar os pinhões imersos em água à temperatura ambiente entre 24 a 48 horas, para embebição. Após esta operação, deve-se utilizar para a produção de mudas os pinhões que afundarem e rejeitar aqueles que flutuarem, pois estão chochos e mal formados.

Determinação do grau de umidade das sementes em laboratório

Nogueira e Henemann (1997) estabeleceram, como procedimentos mais indicados pela praticidade, metodologia para determinar o grau de umidade de sementes de pinheiro-do-paraná, utilizando sementes inteiras, sob temperaturas de 105 ºC, durante 24 horas e, em função da rapidez na obtenção dos resultados, temperatura 130 ºC por um período de quatro horas.

Teste de germinação de sementes em laboratório

O teste de germinação das sementes de pinheiro-do-paraná pode ser realizado sobre papel de filtro, em germinador regulado à temperatura entre 20 °C e 30 °C. As sementes devem ser submetidas à remoção parcial do tegumento (corte lateral no endosperma com auxílio de bisturi) que visam abreviar e uniformizar a germinação, de acordo com Eira et al. (1991). As avaliações devem ser feitas em intervalos de sete dias, adotando-se o critério de plântula normal prescrito por (Brasil, MARA, 2009). A duração total do teste é de 35 dias.

Conservação das sementes em armazenamento

As sementes do pinheiro-do-paraná são classificadas fisiologicamente como recalcitrantes e, por isso, perdem a viabilidade rapidamente (WILLAN, 1985). O prolongamento da longevidade das sementes dessa espécie, por meio do armazenamento, foi estudado por diversos autores, que associaram a perda de viabilidade à redução do grau de umidade das sementes (SUITER FILHO, 1966; AQUILA; FERREIRA, 1984; FARRANT et al., 1989).
As sementes recalcitrantes apresentam limites de redução de umidade, variável para cada espécie, a partir do qual inicia a perda da viabilidade. O grau de umidade em que ocorre o início da perda da viabilidade é conhecido como umidade limite de sobrevivência ou nível crítico de umidade. O nível crítico de umidade das sementes de pinheiro-do-paraná varia entre 40% (TOMPSETT, 1984) e 38% (EIRA et al., 1994), abaixo do qual há perda total de viabilidade.
Em experimentos conduzidos na Embrapa Florestas, Fowler et al. (1998) testaram ambientes e embalagens para a conservação de sementes de pinheiro-do-paraná, em armazenamento por 12 meses, e concluíram que a melhor condição foi em ambiente de câmara fria (temperatura de 4 ºC + 1 ºC e U.R. 89% + 1%) combinado com a embalagem de polietileno de 24 micras de espessura, pois mantiveram 79% do índice de germinação inicial das sementes. O grau de umidade inicial das sementes na instalação do experimento era de 43%.

Produção de mudas

Semeadura

A semeadura dos pinhões pode ser feita de três maneiras: direta no campo, utilizando-se dois ou três pinhões por cova, para garantir que, pelo menos, uma das plântulas se estabeleça; em recipientes ou ainda em sementeiras. O recipiente, geralmente saco de polietileno (Figura 1) ou tubete (Figura 2) deve ter no mínimo 20 cm de altura e 7 cm de diâmetro e com volume de substrato de 300 ml a 500 ml, no mínimo. Quanto maior a altura final desejada das mudas a serem produzidas, maior deve ser o tamanho dos recipientes utilizados na sua produção. Uma sequência detalhada de produção de mudas de araucária em tubetes é apresentada por Wendling e Delgado (2008). Embora muitos autores afirmem que essa espécie não aceita a repicagem, tal operação é usual em muitos viveiros, sendo feita tão logo aconteça a emissão da parte aérea, chegando, em alguns casos, a até 100% de sobrevivência; mudas com parte aérea com até 15 cm de altura aceitam bem a repicagem e apresentam alto índice de sobrevivência. As restrições à repicagem decorrem do fato de o pinheiro apresentar uma raiz principal ou pivotante muito desenvolvida, e qualquer dano a esta compromete a sobrevivência da muda transplantada.

Germinação

É hipógea, distribuindo-se desuniformemente por um longo período de tempo (FERREIRA, 1977; KUNIYOSHI, 1983) (Figuras 3 e 4). O início dá-se entre 20 a 110 dias após a semeadura, atingindo até 90%, dependendo da viabilidade inicial das sementes. O tempo mínimo de permanência em viveiro é de três a quatro meses; normalmente seis meses, quando as mudas atingem 15 cm a 20 cm de altura (Figura 3).
Foto: Ivar Wendling
Figura 1. Muda de araucária pronta para o plantio em saco plástico.
Foto: Ivar Wendling
Figura 2. Muda de araucária produzida em tubete.
Foto: Ivar Wendling
Figura 3. Germinação de semente de araucária.
Foto: Ivar Wendling
Figura 4. Germinação de sementes de araucária.

Associação simbiótica

As micorrizas são estruturas formadas em raízes de plantas, decorrentes do estabelecimento de uma simbiose com fungos do solo. Essa simbiose normalmente promove uma melhor nutrição da planta hospedeira, que leva a um maior crescimento e sobrevivência. Consequentemente, observa-se uma maior produção vegetal.
A presença de micorrizas em araucárias pode ser confirmada pela ocorrência de radículas arredondadas e semelhantes a nódulos com formatos e tamanhos variados. Por serem micorrizas endófitas, são micorrizas arbusculares. Estudos com fungos micorrízicos inoculados em araucária mostram efeitos positivos no desenvolvimento de mudas de araucárias, da mesma forma que ocorrem em outras coníferas, como é o caso de Pinus.
A presença de micorrizas em araucária foi relatada por Milanez e Monteiro Neto (1950), que trabalharam com cortes anatômicos de raízes. Santos (1951), em estudos de ocorrência de micorrizas em talhões desta espécie, observou radículas com formato de contas do rosário, arredondadas e semelhantes a nódulos; verificou, porém, não se tratarem de nódulos e sim de raízes de formato e tamanho modificados, sendo, portanto, consideradas pelo autor micorrizas endófitas do tipo vesicular-arbuscular (VA).
A evidência da ocorrência de micorrizas, no Brasil, foi confirmada por Oliveira e Ventura (1952). Em levantamento efetuado na área do Jardim Botânico, em São Paulo, foram encontradas 15 taxas de fungos MVA na rizosfera do pinheiro-do-paraná, destacando-se AcaulosporaGigasporaGlomus e Scutellospora(BONONI et al., 1989). Muchovej et al. (1992) verificaram a formação de micorrizas nesta espécie, inoculadas com os fungos ectomicorrízicos Rhizopogon nigrescens e Pisolithus tinctorius e com os fungos MVA Acaulospora scrobiculata e Glomus mosseae. Segundo esses autores, os fungos inoculados não tiveram efeito positivo aparente para as plantas.

Propagação vegetativa

As poucas tentativas de estabelecimento de protocolos de estaquia para a propagação da araucária têm apresentado uma série de limitações para a sua adoção em escala comercial, principalmente em relação aos métodos eficientes de resgate e rejuvenescimento de material adulto, hábito plagiotrópico das brotações, entre outros.
A enxertia é viável, mas não tem sido empregada, talvez pelo fato de o enxerto apresentar crescimento lateral quando se utiliza ramos plagiotrópicos, aliada à dificuldade de soldadura da união do enxerto com o porta-enxerto e à impossibilidade da utilização do broto apical de árvores adultas, devido ao diâmetro avantajado. É recomendado o uso de ramos ortotrópicos de brotação existente na base e ao longo das árvores, contudo não estão disponíveis em todas as plantas. As mudas de araucária com um ano e meio a dois anos de idade foram enxertadas com bons resultados, embora, durante o desenvolvimento, os ramos apresentaram plagiotropismo e ortotropismo. Para evitar o plagiotropismo, é necessário utilizar estacas caulinares apicais, com as quais se obtém até 25% de enraizamento. Gurgel Filho (1959), empregando dois métodos de enxertia, conseguiu 47,5% de êxito com a garfagem por fenda a cavalo, enquanto que, com a borbulhia de escudo tipo janela, os resultados não foram satisfatórios.
Horbach et al. (2006), comparando diferentes tipos de fixação (fitilho plástico e grampo de cabelo) e dois sistemas de proteção (sem proteção em casa de vegetação, com umidade e temperatura do ar controlada e com proteção de um saco plástico amarrado no enxerto, em casa de sombra), concluíram que os enxertos podem ser mantidos tanto em casa de vegetação quanto de sombra. Quanto ao tipo de fixação do enxerto, o melhor resultado foi obtido com o fitilho.
Ciampi et al. têm procurado estabelecer protocolos da multiplicação in vitro desta espécie, via cultivo de segmentos caulinares. Com relação às dificuldades de enraizamento in vitro dos brotos do pinheiro-do-paraná, Iritani e Zanette (2000) conseguiram médias de enraizamento de 50% a 70%, utilizando de 0,5 a 2 mg L-1 do ácido indol-3-butírico (AIB) para materiais juvenis, oriundos de sementes.

Cuidados especiais

Para programas de regeneração por meio do plantio de mudas, recomenda-se a produção de mudas a céu aberto, que estarão morfologicamente adaptadas para garantir uma maior sobrevivência (INOUE; TORRES, 1980). Durante muitos anos, o insucesso dos plantios do pinheiro-do-paraná foi creditado a um manuseio indevido das mudas, notadamente devido à ruptura da raiz principal durante o transporte ou plantio. Demonstrou-se, no entanto, que a poda da raiz no viveiro, além de não ser prejudicial, ainda melhora a qualidade da muda (MALINOVSKI, 1977). A semeadura direta possibilita que aves e mamíferos ocasionem estragos, comprometendo o estabelecimento da muda. A perdiz (Rhynchotus rufescens rufescens) alimenta-se dos brotos, além de arrancar a semente para comer a raiz da muda. O ratinho-do-mato (Oligoryzomys utiaritensis), igualmente arranca os pinhões da cova para comê-los. Isso acontece principalmente nos anos de baixa produção de pinhões.



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