quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Comercialização e Coeficientes Técnicos do Gergelim



Comercialização

No Nordeste, a comercialização do gergelim é bastante pulverizada e de difícil organização, principalmente por ser proveniente de pequenos agricultores, onde se concentra a maior parte da produção. Nessa situação, o ideal é que os agricultores se organizem em cooperativa e associações para fomentar o cultivo em comunidade, visando a um planejamento antecipado para maior eficiência e rentabilidade da exploração do gergelim. E, a partir desse sistema de organização, explorar a agregação de valores à produção, seja por meio da extração de óleo, seja pelo processamento dos grãos para uso na alimentação, pois existe um mercado potencial em expansão para atender às indústrias oleoquímica e alimentícia, podendo constituir-se em fontes de alimentos e renda que contribuirão significativamente para melhorar a dieta alimentar e desenvolvimento rural com sustentabilidade.

No setor industrial, existem algumas firmas compradoras tradicionais, como a Istambul e a Sesamo Real, ambas de São Paulo, e outras pequenas empresas, como a Coopernut e a Produtos do SOL na Paraíba, e a Germina no Rio Grande do Norte, que processam o gergelim para a produção de concentrados proteicos e fazem esmagamento para obter óleo vegetal.

Coeficientes técnicos
Tabela 1. Coeficientes técnicos por hectare em solo já cultivado (KOURI et al., 2009).
Discriminação
Unidade
Quantidade
1. OPERAÇÕES AGRÍCOLAS (serviços)


1.1. Distribuição de calcário
d/h
2
1.2. Preparo do solo


1.2.1. Aração
h/m
3
1.2.2. Gradagem niveladora
h/m
1
1.3. Abertura de sulcos
d/h/a
0,5
1.4. Distribuição de esterco
d/h
2
1.5. Plantio
d/h
2
1.6. Capinas


1.6.1. Capina com cultivador
d/h/a
2
1.6.2. Repasse com enxada e raleio
d/h
15
1.6.3. Capina com enxada
d/h
10
1.7. Controle de formigas
d/h
1
1.8. Colheita


1.8.1. Corte e formação de feixes
d/h
3
1.8.2. Amarração dos feixes e empilhamento
d/h
7
1.9. Beneficiamento


1.9.1. Batedura e limpeza
d/h
7
1.10. Transporte interno
d/h/a
0,5
2. MATERIAIS CONSUMIDOS (insumos)


2.1. Calcário dolomítico
t
2
2.2. Esterco bovino
m3
30
2.3. Sementes de gergelim
kg
3
2.4. Formicida
kg
1
2.5. Sacaria
U
30
2.6. Barbante
Rolo
8
Nota 1: h/m= hora máquina; d/h = dia homem; d/h/a= dia homem/animal.
Nota 2: produtividade de 1.000 a 1.500 kg de sementes de gergelim por hectare, onde a precipitação média pluvial varia de 400 mm a 600 mm bem distribuídos durante o ciclo da cultura.
Nota 3: dados obtidos em Unidades de Teste e Demonstração em áreas de agricultores familiares.




segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Composição química e usos do Gergelim



As sementes de gergelim são pequenas, achatadas, de coloração variando do branco ao preto. Contêm aproximadamente 25% de proteína, vitaminas do complexo B, B1, B2 e niacina. São ricas em constituintes minerais, como cálcio e ferro, fósforo, potássio, magnésio, zinco e selênio. Sua utilização em âmbito industrial envolve a fabricação de pães, biscoitos, bolos, salgados, doces e balas. O óleo, principal produto desta planta, extraído de suas sementes, é muito rico em ácidos graxos insaturados, como o oleico (média de 47%) e linoleico (média de 41%). É um óleo especial e muito procurado, apresentando vários constituintes secundários importantíssimos na definição de suas qualidades, como sesamol, sesamina, sesamolina e gama tocoferol, que determinam sua elevada qualidade, em especial, a estabilidade química em decorrência da resistência à rancificação por oxidação, propriedade atribuída ao sesamol.

Por ser resistente à rancificação, possui a qualidade marcante de permanecer fresco por longos períodos de tempo; alimentos, doces, margarinas e produtos de panificação fabricados com óleo de gergelim permanecem livres de rancidez num espaço de tempo dez vezes maior que aqueles fabricados com alguns dos melhores óleos vegetais conhecidos.

O teor de óleo representa de 44% a 58% do peso das sementes. A torta é rica em proteínas (39,7%) e baixo teor de fibras (4,7%) com elevados teores de vitaminas do grupo B e alta concentração de aminoácidos, que contêm enxofre, especialmente a metionina (1,48%), sendo essa concentração de duas a três vezes mais elevada que a encontrada nas tortas de soja, algodão e amendoim.

As sementes descascadas, tostadas e moídas são usadas na produção de uma pasta espessa (manteiga) conhecida como “tahine”, tradicionalmente empregada na culinária do Oriente Médio. Judeus e Árabes adicionam açúcar ao tahine para confecção do “halawe”. Os Turcos fazem a “halvah”, uma mistura de queijo com gergelim torrado prensado recoberto com açúcar ou mel. Em comidas típicas da Índia, o gergelim é incorporado para elevar o nível de aminoácidos sulfurados nos alimentos, como a “dosa”.

Suas sementes podem também ser usadas como tempero em saladas e arroz, ou ingeridas diretamente in natura. A semente torrada e moída (farinha) é usada como massa para biscoito, bolachas, bolos, doces, sopas, mingaus, pães e pastas, a qual pode ser empregada também no enriquecimento de alimentos, sobretudo os da merenda escolar. No Nordeste do Brasil, as sementes do gergelim são tradicionalmente usadas no preparo de alimentos, como paçocas, cocadas, tijolinhos, fubá e pé de moleque.

A torta de gergelim, subproduto da extração do óleo, pode ser destinada à alimentação humana e animal, sem quaisquer restrições em virtude de seu alto teor de proteína (39,77%) e baixo teor de fibras (4,7%). Obtida por prensagem (método Expeller) dos grãos, a torta possui ainda 8,2% de umidade, 12,8% de óleo, 22,8% de carboidratos e 11,8% de cinzas.

As preparações caseiras incluem, além dos alimentos, o preparo de produtos de uso interno e externo (fitoterápicos e fitocosméticos conforme a sabedoria popular e repassados de pai para filho por gerações) e são recomendadas pela medicina popular. O chá das folhas é adstringente para diarreia; o óleo das sementes é usado em emplastros contra queimaduras e ainda galactagogo, antirreumático e anti-inflamatório. Na aromaterapia, é base para as composições sinérgicas dos óleos essenciais.

Com a finalidade de valorizar o cultivo do gergelim, algumas receitas/formulações/adaptações foram testadas e analisadas no Laboratório de Tecnologia de Alimentos da Embrapa Algodão (LTA) e por seus parceiros (como a Embrapa Agroindústria de Alimentos). Os produtos adaptados e/ou desenvolvidos estão arrolados num portfólio, que inclui produtos de consumo caseiro e diário, produtos indicados para merenda escolar e dietas especiais, produtos com nível de exportação e que envolvem alta tecnologia de produção (como os extrudados expandidos e farinhas instantâneas).

Relacionam-se aqui algumas indicações e receitas que foram testadas e analisadas no Laboratório de Tecnologia de Alimentos da Embrapa Algodão (LTA) e seus parceiros, e que se constituem em excelentes opções de alimentação à saúde da população, além de fonte alternativa de renda ao produtor e sua família.

Receitas alternativas com gergelim
(indicadas para a alimentação diária, merenda escolar e comercialização)

1. Biscoito de gergelim


Ingredientes

    1 xícara (chá) de farinha de gergelim
    1 xícara (chá) de açúcar
    250 g de amido de milho
    250 g de farinha de trigo
    100 g de manteiga
    2 colheres (sobremesa) de fermento
    3 ovos
    1 colher (chá) de sal

Modo de preparo

Torrar as sementes de gergelim e triturar no liquidificador. Bater a manteiga com açúcar até ficar um creme. Juntar os ovos. Acrescentar a farinha de gergelim, o amido de milho, o fermento, o sal e a farinha de trigo, até desprender das mãos. Enrolar a massa e cortar em quadradinhos. Colocar sementes de gergelim para decorar e amassar com garfo. Assar em forno à temperatura de 180º C. Cada tabuleiro leva aproximadamente 20 minutos para assar (Figura 1). Rendimento: 500 g de biscoitos.


2. Bolo de gergelim com coco


Ingredientes

Massa

    2 colheres (sopa) de gergelim torrado e triturado
    250 g de manteiga
    2 ½ xícaras (chá) de açúcar
    2 ½ xícaras (chá) de farinha de rosca
    1 xícara (chá) de chocolate em pó solúvel
    1 xícara (chá) de leite
    2 colheres (chá) de fermento em pó
    1/2 coco fresco ralado
    3 ovos

Recheio

    1 lata de leite condensado
    1 litro de leite
    ½ coco ralado
    2 gemas
    1 colher (sopa) de amido de milho

Cobertura

    1 lata de creme de leite
    2 colheres (sopa) de chocolate em pó solúvel
    5 colheres (sopa) de açúcar

Modo de preparo

Massa

Bater a manteiga com o açúcar e as gemas aos poucos, acrescentar os ingredientes secos e o leite. Bater as claras em neve e misturar suavemente aos outros ingredientes. Colocar a massa em forma untada e polvilhada. Levar ao forno à temperatura de 180 ºC para assar por, aproximadamente, 30 minutos.
Obs.: Forma com furo central nº 24.

Recheio

Misturar tudo e levar ao fogo mexendo sempre até engrossar. Colocar no centro e nas laterais do bolo.

Cobertura

Levar tudo ao fogo até desprender da panela, despejar sobre o bolo para formar uma camada fina. Decorar a gosto (Figura 2). Rendimento: de 20 a 25 porções.


3. Cocada de gergelim


Ingredientes

    1 coco médio (ralado)
    1 copo (americano) de gergelim
    3 copos (americano) de açúcar
    1 lata de leite condensado

Modo de preparo

Juntar todos os ingredientes em uma panela e levar ao fogo, mexendo sempre. Retirar do fogo quando estiver desprendendo da panela, depois de aproximadamente 40 minutos. Espalhar sobre uma superfície lisa. Molhar a lâmina de uma faca e cortar as cocadas, ainda quentes, no tamanho desejado. Guardá-las em vidro ou em saco plástico (Figura 3). Rendimento: 1 kg.


4. Gersal


Ingredientes

1 copo de gergelim torrado
Sal a gosto

Modo de preparo

Triturar o gergelim em moinho ou liquidificador. Juntar o sal a gosto. Colocar em vidro bem tampado. NOTA: Usa-se uma colher (chá) sobre a comida.


5. Doce de gergelim (Espécie)


Ingredientes

    1 copo americano de gergelim
    1 copo americano de farinha de mandioca
    1 colher de sopa de manteiga
    1 colher de sopa de cravo da índia torrado
    ½ copo americano de castanha de caju assada e sem pele
    4 copos americano de mel de rapadura 

Modo de preparo

Colocar o gergelim numa panela e levar ao fogo para torrar. Quando estiver estalando, retirar do fogo e continuar mexendo até esfriar um pouco. Medir o cravo e a castanha e misturar tudo. Passar no moinho (ou liquidificador) e colocar numa panela. Juntar o mel e a manteiga. Levar ao fogo, mexendo sempre. Retirar do fogo quando começar a aparecer o fundo da panela. Colocar em recipiente de boca larga com tampa (Figura 4).
IMPORTANTE: O gergelim pode ser moído ou liquidificado. Para não “embolar” deve-se colocar, no liquidificador, uma porção de gergelim e igual quantidade de farinha de mandioca, pois a farinha “enxuga” o gergelim.


6. Tijolinho de gergelim


Ingredientes

    1 copo americano de gergelim
    2 copos americano de açúcar
    ½ copo de água

Modo de preparo

Colocar o açúcar numa caçarola e levar ao fogo para fazer a calda caramelada (calda para pudim). Quando estiver derretido, juntar a água. Deixar dissolver todo o açúcar. Juntar o gergelim e mexer uma vez ou outra. Quando estiver soltando das paredes da panela, está no ponto. Retirar a panela do fogo e continuar mexendo, a fim de endurecer um pouco. Espalhar sobre uma tábua ou superfície lisa. Retirar os tijolinhos e embalar em papel celofane.


7. Fuba de gergelim (Paçoca)


Ingredientes

    1 copo de gergelim torrado
    2 copos de farinha de mandioca
    ½ copo de açúcar

Modo de preparo

Juntar o gergelim e a farinha. Passar no moinho ou liquidificador. Peneirar juntamente com o açúcar. Guardar em vidro.

8. Pé de moleque de gergelim

Ingredientes

    1 rapadura grande ou duas pequenas
    1 prato raso de gergelim torrado
    Manteiga para untar

Modo de preparo

Levar a rapadura (em pedaços pequenos) ao fogo com um pouco de água para derreter. Coar depois em um pano. Levar ao fogo para engrossar até o ponto de bala mole. Retirar do fogo e colocar o gergelim. Bater até começar a açucarar. Despejar em superfície untada com manteiga. OBS: Cortar, ainda morno, no formato desejado.  

9. Empadas com gergelim


Ingredientes

    ½ xícara (chá) de gergelim torrado e triturado
    300 g de manteiga
    450 g de farinha de trigo
    3 colheres (sopa) de água fria
    1 colher (chá) de sal
    2 gemas

Modo de preparo

Misturar muito bem todos os ingredientes, sem sovar; abrir pequenas porções da massa nas mãos, forrar a forma de empada e encher com o recheio, à escolha (frango ou camarão). Depois de colocar o recheio, cobrir a empada, pincelar com gema e decorar com sementes de gergelim. Levar ao forno à temperatura de 180 ºC por, aproximadamente, 20 minutos (Figura 5). Rendimento:100 empadas.


10. Coxinha com gergelim


Ingredientes

    ½ xícara (chá) de gergelim torrado e triturado
    2 xícaras (chá) de farinha de trigo
    1 kg de peito de frango
    2 ovos
    200 g de farinha de rosca

Modo de preparo

Cozinhar o frango com todos os temperos, uma colher (sopa) de farinha de gergelim e água suficiente para formar um caldo. Depois de cozido, reservar o caldo, que deve ser de aproximadamente 400 ml, para fazer o pirão com a farinha de trigo e a farinha de gergelim (até desprender da panela). Deixar esfriar, modelar as coxinhas e colocar o recheio; passar em ovos batidos e na farinha de rosca; fritar em óleo bem quente para não abrir a massa (Figura 6). Recheio: Desfiar o frango e temperar a gosto.



11. Cookie de gergelim: uma proposta para o aproveitamento da torta na merenda escolar


Ingredientes

1 xícara (chá) de manteiga sem sal
1 xícara (chá) de açúcar mascavo
1 ovo; 1 colher (chá) de baunilha
2 ½ xícaras (chá) de farinha de trigo
1 colher (chá) de fermento em pó
1 xícara (chá) de raspas de chocolate meio amargo
½ xícara (chá) de gergelim triturado
Sal a gosto

Modo de preparo

Bater numa batedeira planetária a manteiga e o açúcar mascavo até a obtenção de um creme claro e fofo; posteriormente, adicionar os ovos e a essência de baunilha. Após bem homogeneizado, adicionar (um a um homogeneizando bem) a farinha peneirada, sal, as gotas de chocolate, o gergelim triturado e por último o fermento. Logo em seguida, retirar a massa em mesa de inox (ou granito, mármore, etc.) higienizada e recortada nos tamanhos de aproximadamente 4 cm de diâmetro. Colocar os biscoitos em forma previamente untada e enfarinhada e levá-los ao forno pré-aquecido a 200º C para assar e dourar por, aproximadamente, 15 minutos. Após assados, deixar esfriar sobre o fogão (Figura 7).


Produtos adaptados e/ou desenvolvidos que envolvem alta tecnologia de produção

1. Farinha instantânea de milho e de gergelim integral por extrusão (Figura 8).

Matéria-prima: Milho e gergelim (Grits de milho com granulometria média de 850 μm e grãos de gergelim integral “BRS SEDA”).
Condicionamento – Umidade de 15%.
Extrusão – Temperatura de 100 ºC a 160 ºC.
Secagem – 5% a 7% de umidade final.
Moagem – Farinha instantânea.


2. Extrudados não expandidos (pellets) de milho e de gergelim integral (Figura 9).


Matéria-prima: Grits de milho e gergelim in natura.

Mistura e condicionamento – Umidade de 27%.

Extrusão – Baixa taxa de cisalhamento com temperatura da última zona inferior a   100 ºC

Corte – Com 3 cm.

Embalagem e comercialização dos pellets secos e/ou Expansão dos pellets com fritura em gordura hidrogenada de palma (180 ºC e embalagem dos pellets expandidos em lâmina plástica).



3. Utilização Parcial da farinha extrudada de gergelim em biscoitos à base de arroz (Figura 10).


Matéria-prima: Gergelim na forma de semente e torta (resíduo da extração do óleo) e arroz.

Condicionamento – 15% de umidade.

Extrusão – 100 ºC a 160 ºC.

Secagem – 5% a 7% de umidade final.

Moagem – Farinha instantânea.



Produtos adaptados e/ou desenvolvidos que envolvem alta tecnologia de produção
Os produtos à base de gergelim produzidos por comunidades de agricultores familiares atendidos por projetos vinculados ao laboratório de tecnologia de alimentos (LTA) da Embrapa algodão incluem:

1. Óleos (Figuras 11 e 12).


Figura 11. Óleo de gergelim orgânico extraído a frio por agricultores familiares da Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA) em Simplício Mendes, PI.


Figura 12. Biscoito e óleo de gergelim extraído a frio por agricultores familiares vinculados à Cooperativa de Agricultores Familiares de Lucrécia (Coafal) em Lucrécia, RN.

 

2. Doces, cocadas e bolos (Figuras 13 e 14).


Figura 13. Doce de gergelim confeccionado para comercialização por agricultores familiares da Cooperativa de Agricultores Familiares de Lucrécia (Coafal) em Lucrécia, RN.



Figura 14. Produtos diversos à base de gergelim (doce, cocada, biscoito e bolo) confeccionados para comercialização por agricultores familiares da Cooperativa de Agricultores Familiares de Lucrécia (Coafal) em Lucrécia e Marcelino Vieira, RN.

 

3. Farinhas e multimisturas (Figura 15).

Figura 15. Farinha de gergelim, multimistura (com gergelim) e produtos diversos elaborados para comercialização por mulheres integrantes da Cooperativa de Produção e Suplementos Naturais de Campina Grande LTDA (Coopernut) em Campina Grande, PB.




quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Colheita do Gergelim


A colheita é uma das etapas mais importantes para o rendimento final do sistema produtivo do gergelim, pois perdas de sementes de 50%, ou mais, podem ocorrer em decorrência da abertura dos frutos depois da maturação completa. Além disso, a qualidade das sementes também pode ser afetada, caso haja chuvas nos frutos abertos. A colheita do gergelim deve ser programada para a época de estiagem e em sincronia com o ciclo da cultivar, que, na maioria, é de 90 a 110 dias.

A operação de colheita deve ser feita assim que as hastes, folhas e frutos atinjam o amarelecimento completo e antes que os frutos estejam totalmente abertos. Em cultivares deiscentes, os frutos da base abrem-se mais cedo, o que indica o momento exato para se iniciar a colheita.

Normalmente, a colheita do gergelim é feita de forma manual, com rendimento de 0,2 a 0,3 ha/hora/homem. As plantas devem ser cortadas na base, a uma distância de 20 cm do solo, e amarradas com barbante, cipó ou embira, em feixes pequenos de 30 cm de diâmetro, que são empilhados no campo em forma de meda ou encostados em cercas, com os ápices para cima (Figura 1) para secagem ao sol, durante 10 dias, aproximadamente. Quando as hastes estiverem secas, faz-se a batedura para separar as sementes dos frutos. Por ser a etapa mais trabalhosa, representa cerca de 60% a 70% do custo total de produção.

    

Figura 1. Operações de colheita manual do gergelim.

A batedura deve ser feita sobre lona ou pano de algodão, a fim de facilitar a coleta das sementes, a limpeza e ventilação, bem como a exposição ao sol para completar a secagem. Para batedura, pode-se usar um pedaço de madeira ou bater plantas contra outras. Para limpeza e ventilação, normalmente são utilizadas duas peneiras: uma de malha grossa (Ref. 60), para pré-limpeza, deixando passar o gergelim e retendo os restos culturais, e uma segunda de malha fina (Ref. 35), para remoção de materiais bem pequenos. A maturação do gergelim não é uniforme porque os frutos na planta apresentam idades diferentes, afetando a eficiência do processo de colheita. Dependendo da cultivar e da incidência de ventos na região durante a época de colheita, são necessárias até três bateduras para soltar todas as sementes.

Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 2. Batedura dos feixes de gergelim sobre uma lona plástica. Lucrécia, RN.

A ventilação, que pode ser natural ou artificial, auxilia na eliminação de impurezas por diferença de densidade. Sujeiras, terra, pedras, pedaços de pau desvalorizam e prejudicam a comercialização do produto final.

Outra técnica simples de ventilação natural das sementes de gergelim adotada pelos agricultores do Nordeste é realizada por meio de uma peneira feita de madeira, contendo uma chapa de latão perfurada por prego, a qual fica no plano inferior da coluna de descarga da semente efetuada por um operário de campo sobre um tamborete, visando a reter as sujeiras pesadas e grandes presentes nas sementes (QUEIROGA, et al., 2008). Ao mesmo tempo, a coluna de descarga das sementes é afetada pela ação do vento para separar as sujeiras leves e pequenas (Figura 3).

Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 3. Ventilação natural dos grãos de gergelim usando uma peneira de madeira com chapa de latão perfurada por prego.

Depois da colheita e da secagem das sementes, faz-se a limpeza definitiva (abanação e retirada de folhas e pedaços de galhos) e, em seguida, o ensacamento e armazenamento, obedecendo às normas gerais de armazenamento, como local ventilado, sobre estrado de madeira, proteção contra chuvas e orvalho, etc.

A fase de colheita é também um período crítico para seleção de plantas de cultivares geneticamente pura. Portanto, tomando-se alguns cuidados simples é possível evitar muitos dos problemas de mistura varietal, a fim de selecionar as melhores sementes de gergelim, oriundas de plantas altamente vigorosas.

Geralmente, a seleção das sementes é feita sobre o material guardado a granel, ou seja, depois da colheita. Dessa forma, perde-se a oportunidade de iniciar a seleção ainda no campo. Além de evitar mistura varietal, a seleção prévia é uma boa alternativa para prevenir problemas de infestação de pragas e doenças (TORRES et al., 2006). Para obter sucesso em tal operação, é necessário que os agricultores, com acompanhamento técnico, possam aproveitar a fase vegetativa para marcar as plantas que têm características mais interessantes (por exemplo: maior precocidade de floração) e fazer uma seleção direcionada a um melhoramento genético específico da variedade utilizada (massal), mediante a marcação das plantas eleitas com etiquetas coloridas (Figura 4).

Foto: Vicente de Paula Queiroga
Figura 4. Campo de produção com a cultivar BRS Seda, plantas identificadas por etiquetas coloridas com base na sua precocidade de floração.

O clima da região semiárida do Nordeste nos meses de maio a dezembro é seco, porém, pode ocorrer em alguns anos precipitações pluviométricas atípicas entre os meses de maio e julho, o que ocasiona o escurecimento e oxidação das sementes de gergelim em processo de secagem no campo. Consequentemente, essa oxidação do produto é bastante depreciada pelo mercado. Portanto, para evitar as chuvas ocasionais durante a secagem dos feixes com ápices voltados para cima, os produtores do Município de Lucrécia, RN, agruparam os feixes sob uma lona plástica grande, de maneira que ela envolveu vários feixes de gergelim desde a parte superior até a parte inferior, formando uma cobertura total à prova de chuvas (Figura 5). Após a chuva, recomenda-se retirar a lona de cobertura dos feixes para favorecer sua exposição ao sol e secagem dos frutos.

Fotos: Ana Yimiko Kojima
  


Figura 5. Sistema de secagem dos feixes de gergelim com cobertura de lona plástica no campo para evitar às chuvas ocasionais. Lucrécia, RN, 2012.

Na colheita totalmente mecanizada, é importante o uso de cultivares indeiscentes, que hoje é restrito a países como Estados Unidos, Venezuela e Colômbia onde foram desenvolvidas cultivares aptas para colheita mecânica e simultaneamente a adaptação de máquinas e implementos para esta finalidade. Pode-se ainda usar o sistema alternativo, com o uso de cultivares deiscentes de maturação uniforme, fundamental para garantir a eficiência da operação de colheita, no que diz respeito à perda de sementes ocasionada pela abertura dos frutos. Uma opção seria o uso de herbicidas dessecantes, como diquat e paraquat antes da abertura dos frutos. Mazzani (1983) recomenda o uso do herbicida diquat para dessecação das plantas, na dosagem de 1 kg i a/ha e relatam o uso de 2 a 3 litros (produto comercial) do paraquat, dependendo do porte e do momento da maturação fisiológica das plantas.

No Estado de Goiás, onde o gergelim vem sendo cultivado em grande escala, produtores efetuaram adaptação para colheita mecânica parcial, em que as plantas são cortadas manualmente e deixadas para secar no campo em forma de meda (Figura 6); em seguida, é efetuado batimento das plantas por meio de uma colheitadeira de cereal adaptada. As adaptações consistem na feitura de uma plataforma totalmente em chapa para recebimento das plantas do gergelim (Figura 7). Da plataforma, as plantas são direcionadas para a boca de alimentação da máquina (Figura 8), que as conduzem por meio de correias alimentadoras até o cilindro batedor e côncavo. A rotação do cilindro batedor deve ser ajustada para a cultura do gergelim. A seguir, o material batido passa por peneiras, que devem ser específicas para sementes miúdas, para separar estas do restante da planta. Uma vez limpas as sementes, estas são conduzidas ao depósito da máquina para posteriormente serem descarregadas em sacos de polipropileno (Figuras 9 e 10).

Foto: Felipe Macedo Guimarães
Figura 6. Medas de gergelim secando no campo.

Foto: Waltemilton Vieira Cartaxo

Figura 7. Colheitadeira de cereal adaptada para cultura do gergelim.

Foto: Waltemilton Vieira Cartaxo
Figura 8. Detalhe da boca de alimentação.

Foto: Waltemilton Vieira Cartaxo
Figura 9. Detalhe da saída de sementes de gergelim, após trilhagem e batedura.

Foto: Waltemilton Vieira Cartaxo
Figura 10. Sementes de gergelim ensacadas.

Outro equipamento para colheita semimecanizada do gergelim (Figura 11) vem sendo usada por agricultores de Goiás. A máquina funciona acoplada ao trator para efetuar o corte de 3 ha dia-1 a 4 ha dia-1, para auxiliar na coleta dos feixes cortados e enfileiramento. Para formação das medas são necessários 2 a 3 homens dia-1. Esse corte mecânico das plantas deve ser feito antes da abertura das cápsulas. Recomenda-se utilizar essa colheitadeira nas pequenas áreas de produção do gergelim dos agricultores familiares (QUEIROGA et al., 2013).

Foto: Túlio Benatti
Figura 11. Colheitadeira semimecanizada de gergelim para atender às pequenas áreas de produção de agricultores familiares.




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