sábado, 21 de novembro de 2020

Colheita da Mamona

 

Uma das principais características da mamoneira relacionada à colheita é o nível de deiscência dos frutos, ou seja, a intensidade com que os frutos se abrem e expelem as sementes quando amadurecem e secam. A colheita de variedades deiscentes é uma das operações mais dispendiosa e que mais consome mão de obra, em razão da necessidade de se repetir o processo de colheita 5 a 6 vezes durante o ano (CANECCHIO FILHO et al., 1963).

Uma boa variedade deverá apresentar uniformidade na frutificação, de maneira que a floração ocorra num espaço de tempo ligeiramente curto e, consequentemente, a maturação de seus frutos seja uniforme, permitindo que a operação de colheita seja feita com um mínimo de repasses (CONCEIÇÃO, s.d.). A otimização do processo de colheita, secagem e beneficiamento dos frutos da mamoneira é extremamente importante, pois está relacionada diretamente com a quantidade e qualidade do óleo para a indústria.

Nas cultivares de frutos indeiscentes, a operação de colheita é feita em uma única vez, quando todos os cachos da planta atingirem a maturidade fisiológica. Neste estágio de desenvolvimento, a semente apresenta o máximo vigor, teor de óleo e poder germinativo.


Quando colher

A deiscência dos frutos determina como a colheita deverá ser realizada. Nas variedades deiscentes, a colheita deve ser feita logo que os primeiros frutos dos racemos começam a secar, assim evita-se que as cápsulas se abram e as sementes caiam no solo. Para as cultivares semideiscentes, a coleta dos racemos deve ser realizada quando pelo menos 70% dos frutos estiverem secos e para as variedades indeiscentes, a colheita deve ser feita quando todos os frutos do racemo estiverem totalmente secos.

Segundo Ribeiro Filho (1966) e Conceição (s.d) nas variedades indeiscentes os frutos não abrem e nem caem no solo o que permite esperar a secagem completa de todos os frutos do racemo ou de todos os cachos da planta para se proceder a uma só colheita, sem perigo de perda das sementes.

A colheita prematura, quando a maioria dos frutos ainda está verde, não é aconselhável, pois o conteúdo e a qualidade do óleo desses frutos poderão ser afetados (RIBEIRO FILHO, 1966).

Ao se plantar uma área muito extensa com cultivares semideiscentes para serem colhidas manualmente, deve-se prever a necessidade de grande quantidade de mão de obra, pois se esta não estiver disponível na época certa pode haver perda de produção com a queda de sementes.


Métodos de colheita

Colheita manual

Indicada para pequenas e médias propriedades com mão de obra familiar ou em locais onde a  mão de obra disponível  é abundante; consiste em se quebrar ou cortar os cachos pela base, utilizando-se de um instrumento cortante como uma faca (Figura 1A), canivete, tesoura de poda ou “caneca” colhedora. A “caneca” colhedora é indicada para cultivares de porte baixo e indeiscentes, sendo confeccionada em chapa metálica zincada ou qualquer outro material leve. Apresenta uma alça para o seu manuseio e um rasgo vertical em forma de V entre 15 a 20cm ao lado oposto da alça, com abertura inicial do rasgo de 5cm e finalizando com 2,5cm. As bordas da abertura são reforçadas com duas lâminas para evitar a deformação do material e afiadas na base do rasgo para facilitar o corte dos frutos (Figuras 1B e C). Os frutos colhidos são depositados em sacos de náilon, jacás, cestos, caixas, carroças (Figuras 2 A e B) ou reboques e transportados para o local de secagem (terreiro ou secador) ou diretamente para a descascadora visto que os frutos serão colhidos secos nas variedades indeiscentes.

Quando a produção é grande, recomenda-se efetuar, na lavoura, o desprendimento dos frutos, para evitar o transporte dos talos, os quais representam 10% do peso do cacho (SEVERINO et al., 2005). Para isto, deve-se usar pentes feitos de prego sem cabeça ou de pinos de ferro colocados na parte interna superior do depósito, de forma que o cacho seja passado por entre os dentes do pente e os frutos se desprendam e caiam dentro do objeto de transporte (RIBEIRO FILHO, 1966).

Na África a colheita também é feita manualmente, com a quebra ou corte dos racemos para, posteriormente, se realizar o desprendimento dos frutos, porém é comum utilizar-se, em algumas regiões, um apanhador de racemos, em forma de caneca cilíndrica e de chapa grossa, em cuja lateral oposta à da asa, existe um rasgo afiado, imitando um bisel, por onde se introduz o racemo para seu corte e deposição dentro da caneca. Este método permite a colheita de 300 kg/dia a 500 kg/dia de frutos (WEISS, 1983).


Foto: Waltemilton V. Cartaxo

Figura 1. A: Colheita da mamona com o uso da faca; B: Colheita da mamona com o uso da caneca; C: Detalhe do rasgo da caneca para a coleta dos frutos do racemo.


Fotos: Waltemilton Vieira Cartaxo

Figura 2. A) Caixa plástica para receber e transportar os cachos; B) Carro de mão para o transporte dos cachos.


Colheita mecânica

Com a obtenção de variedades híbridas, de porte anão, indeiscentes, com plantas de arquitetura compacta e perda parcial das folhas, foi possível mecanizar-se totalmente o cultivo da mamona, especialmente a colheita. Nesse sentido, foram desenvolvidas, nos EUA, máquinas autopropelidas ou acopladas ao trator, dotadas de mecanismo de batimento que golpeia as plantas diretamente a partir do racemo mais baixo. O funcionamento dessas máquinas consiste em fazer passar os racemos por entre dois cilindros batedores com movimentos opostos, que arrancam os frutos das plantas, que caem sobre condutores helicoidais para o transporte a um mecanismo descascador ou ao depósito de produção. As máquinas colhedora-descascadoras devem trabalhar em baixa velocidade e receber abastecimento uniforme de frutos, os quais devem estar totalmente secos. Nessas máquinas, as perdas aceitáveis são de no máximo 5%. Estudos realizados sobre o seu desempenho, revelam que a velocidade é fator determinante das perdas em relação às cápsulas não descascadas e sementes danificadas, tendo-se observado perdas de 4,8% na velocidade de 4,5 km/h, de 8% a 9,0 km/h e de 9,7% a 13,5 km/h. Nos EUA, a área mínima que comporta economicamente a aquisição desse tipo de máquina, é de 300 a 400ha e a metade desta área para máquinas que colhem somente os frutos. O desempenho operacional de uma  colheitadeira de duas linhas é de 0,75 ha/h a 1,5 ha/h em lavouras com rendimento de 3.000 kg/ha (WEISS, 1983).

A condução da lavoura dentro das técnicas recomendadas e o uso de variedades uniformes quanto ao porte de plantas, diâmetro do fruto e maturidade, são requisitos importantes para obter bom desempenho das máquinas na colheita. Em lavouras tecnificadas, outra prática importante e usual é a desfolha das plantas com a aplicação de desfolhantes 10 a 15 dias antes da colheita. Essa prática permite a obtenção de um produto mais limpo.

No Brasil, até o momento não houve desenvolvimento de máquinas destinadas à colheita e ao descascamento de mamona, sendo utilizadas apenas colheitadeiras de cereais adaptadas que estão apresentando eficiência aceitável, mas podem ser aperfeiçoadas. A adaptação é feita em uma plataforma colhedora de milho, agregando-se vários dispositivos; na parte da condução das plantas para dentro da plataforma, introduziu-se uma nova carenagem que tem a configuração de uma torre (Figura 3). Ainda para facilitar a entrada das plantas e, sobretudo, na retenção dos frutos na plataforma foram colocadas, em cada unidade de colheita, duas esteiras (correias) com cerdas de náilon que têm movimentos convergentes e atuam como anteparos despojadores dos frutos. O caule da planta é extraído da plataforma por dois cilindros de ferro localizados na parte inferior da unidade colhedora e que apresentam movimentos contrários entre si.

Os frutos, depois de separados do cacho, são conduzidos pelo “sem fim alimentador” e pela esteira transportadora para o batimento que se realiza pela ação do cilindro batedor e o côncavo, os quais devem ser revestidos de borracha, com ajustes no seu distanciamento e rotação de trabalho, para evitar a quebra das sementes. As peneiras separadoras devem ser ajustadas de acordo com o tamanho das sementes. A colheita só dever ser feita em dias secos e nas horas quentes do dia para que o descascamento seja feito adequadamente. O índice de quebra e marinheiro neste processo é considerado aceitável, situando-se abaixo de 10%.

Fotos: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva

Figura 3. Colheitadeira com plataforma de milho adaptada para a colheita da mamona, com detalhes das adaptações realizadas na plataforma; A: Vista frontal;  B: Vista lateral; C: Detalhe da plataforma colhedora das plantas; D: Correias com cerdas de náilon para o despojamento e condução dos cachos e sem fim alimentador; E: Detalhe do côncavo e do cilindro batedor recoberto com borracha; F: Côncavo e do cilindro batedor montados na máquina prontos para o descascamento.




quarta-feira, 18 de novembro de 2020

SELEÇÃO DE MATRIZES DA ERVA-MATE

 

COLHEITA DOS FRUTOS E PREPARO DAS SEMENTES 

A produção de mudas de erva-mate de qualidade passa necessariamente pela seleção de matrizes que apresentem os requisitos desejados na futura plantação. A seguir, são apresentados os principais parâmetros desejados para uma árvore fornecedora de sementes. 

2.1 PARÂMETROS PARA SELEÇÃO DE MATRIZES 

Figura 1 - Planta matrizeira 

Uma planta matrizeira deve atender aos seguintes requisitos: 

Crédito: Jurandir José Marques, 2012. 16 


2.1.1 Histórico das erveiras 

É importante conhecer o seu histórico de produtividade, cortes, idade e problemas ocorridos. As árvores devem ser vigorosas, bem desenvolvidas, produtivas em folhas. Devem-se evitar plantas que sejam susceptíveis ao ataque de pragas e doenças, e que estejam apresentando sintomas anormais. 

2.1.2 Idade das erveiras 

Preferencialmente selecionar árvores adultas de meia idade (entre 15 e 30 anos) para erveiras plantadas. Para erveiras nativas não há estudos sobre idade. Erveiras muito jovens e muito velhas devem ser evitadas, pois produzem sementes de baixa germinação. 

2.1.3 Produtividade de massa foliar 

Selecionar árvores preferencialmente com porte médio, copada bem formada, com ramificações abertas em formato de taça, com grande produção de folhas e poucas sementes.  


2.1.4 Coleta de sementes 

Sempre que possível, coletar sementes em matrizes em bloco ou capão, com erveiras macho e fêmea, na proporção de 4 árvores macho para 1 árvore fêmea. Devem estar afastadas de ervais plantados de procedência duvidosa. 

2.1.5 Tipo de bebida 

O ideal é selecionar as erveiras matrizes de acordo com o tipo de produto (chimarrão, bebida, chá, corante, cosmético) para produzir mudas de erva-mate de acordo com a demanda do mercado. 

2.2 COLHEITA E BENEFICIAMENTO DOS FRUTOS 

A erva-mate floresce entre os meses de setembro e dezembro. A frutificação ocorre nos meses de janeiro a março. 

2.2.1 Colheita 

Quando os frutos estão maduros apresentam coloração violácea a roxa. A colheita pode ser realizada a partir de fevereiro, quando os frutos começarem a cair. Recomenda-se 18  colocar uma lona ou rede embaixo da planta, recolhendo os frutos a cada 05 dias. 

2.2.2 Beneficiamento 

Após a colheita, os frutos devem permanecer algumas horas em água, o que facilita a separação das sementes da polpa que as envolve. A separação também pode ser feita por esmagamento. Em seguida, procede-se à lavagem e limpeza das sementes, eliminando-se casca e polpa. Se houver necessidade de armazenar as sementes antes da semeadura ou da estratificação, procede-se à sua secagem em locais sombreados. A água utilizada na lavagem e limpeza das sementes não deve ser jogada em cursos d’água. 

2.2.3 Estratificação das sementes 

Quando os frutos estão maduros, mais de 95% das sementes estão com os embriões em fase de desenvolvimento ou imaturos. A estratificação das sementes é realizada com a finalidade de quebrar a dormência, amolecer a casca das sementes e concluir a maturação dos embriões. 

Utiliza-se uma caixa de madeira ou tonel com o fundo perfurado, que permite a saída da umidade. Nesse recipiente, colocam-se camadas alternadas de 5 cm de altura de areia e 2 cm de altura de sementes até enchê-lo. Coloca-se o recipiente cheio em locais sombreados, suspenso do chão e com cobertura impermeável (se em local aberto). As sementes devem permanecer umedecidas através de regas frequentes por um período aproximado de 6 meses. Por serem suscetíveis ao ataque de fungos, recomenda-se realizar tratamento periódico sob orientação técnica. 

Um quilo de semente de erva-mate tem em média 100.000 sementes que apresentam um índice de 20 a 40% de germinação. 



quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Pragas da Cultura da Mamona

 

Pragas das plântulas e raízes

Lagarta Elasmo: Elasmopalpus lignosellus, (Zeller, 1848) (Lepidoptera:  Pyralidae)

Características gerais: As mariposas fêmeas apresentam coloração cinza escura e os machos são de cor pardo amarelada. Os adultos têm em torno de 20 mm de envergadura, deslocam-se em voos rápidos e curtos e, quando estão em repouso no solo, são confundidos com restos culturais. Os ovos são de coloração verde-pálida. O estágio larval dura de 13-26 dias e as lagartas passam por seis instares (fases de desenvolvimento). Estas apresentam coloração verde azulada com cabeça marrom e medem 15 mm de comprimento quando completamente desenvolvidas.

Tipo de injúria: A lagarta perfura a região do coleto da planta e constrói galerias provocando amarelecimento, murcha e morte das plantas. O maior prejuízo se verifica quando as plantas são atacadas no início do seu desenvolvimento vegetativo, sendo esta a fase de maior suscetibilidade das culturas em geral. Também podem atacar as raízes das plantas.


Lagarta rosca [Agrotis ipsilon (Hufnagel, 1766) (Lepidoptera: Noctuidae)]

Características gerais: O inseto adulto é uma mariposa de coloração pardo-escura a marrom, com algumas manchas escuras nas asas anteriores, sendo as asas posteriores semitransparentes. Alcançam entre 40mm a 50 mm de envergadura. As lagartas possuem coloração variável entre o cinza ao marrom-escuro podendo alcançar de 45mm a 50 mm no seu máximo desenvolvimento. Apresentam a sutura epicranial na forma de Y invertido e possuem quelasas pretas em cada segmento do seu corpo.

Tipo de injúria: As lagartas cortam as plantas jovens (plântulas) rente ao solo, causando grandes falhas nos cultivos e redução no estande final da cultura.


Pragas das folhas

Ácaro Rajado [Tetranychus urticae (Koch, 1836) (Acari: Tetranychidae)]

Características gerais: São artrópodes minúsculos, cujos adultos têm coloração esverdeada, apresentando duas manchas mais escuras no dorso, uma de cada lado. As fêmeas medem aproximadamente 0,5 mm de comprimento e possuem corpo ovalado, enquanto os machos são menores e têm o corpo afilado posteriormente dando a impressão de que as pernas são mais longas que as das fêmeas. Formam colônias na face inferior das folhas que recobrem com grande quantidade de teias, nas quais são colocados os ovos, que são esféricos e amarelados quando maduros. Passam por três estágios que duram em média oito dias.

Tipo de injúria: Se localizam na face inferior das folhas, onde perfuram as células alimentando-se do conteúdo extravasado. Em decorrência, ocorre a formação de manchas esbranquiçadas na face superior das folhas, pequenas pontuações cloróticas que se unem causando necrose. São facilmente reconhecidos pelas teias que tecem na face inferior das folhas. Costumam atacar inicialmente as folhas do terço médio e migrarem para as extremidades das plantas para dispersão.


Ácaro Vermelho [Tetranychus ludeni (Koch, 1836) (Acari: Tetranychidae)]

Características gerais: As fêmeas são de cor vermelha intensa e os machos e as formas jovens são amarelo-esverdeados. Atingem entre 0,26mm a 0,50 mm de comprimento. Os ovos são colocados entre as teias e são amarelados ou vermelho-opacos quando maduros. Formam colônias densas na página inferior das folhas que também exibem abundância de teias. Seu ataque é facilmente percebido pela presença destas teias e de muitos “pontos vermelhos” na página inferior das folhas.

Tipo de injúria: Introduzem as peças bucais (estiletes) no tecido vegetal e sugam o conteúdo celular extravasado. As folhas ficam cloróticas e, com a evolução da injúria, tornam-se necrosadas, quebradiças e, eventualmente caem.


Foto: Fábio Aquino de Albuquerque

Figura 1. Clorose causada pelo ácaro vermelho na mamoneira.


Foto: Fábio Aquino de Albuquerque

Figura 2. Colônia do ácaro vermelho.


Foto: Fábio Aquino de Albuquerque

Figura 3. Teias do ácaro vermelho sobre frutos de mamoneira.


Cigarrinhas [Agallia sp. e Empoasca sp. (Hemiptera: Cicadellidae)].

Características gerais: são insetos pequenos (3mm - 4 mm), bastante ágeis. As espécies do gênero Agallia possuem coloração variando do páleo ao acinzentado, podendo possuir manchas escuras nas asas. As espécies do gênero Empoasca possuem coloração esverdeada tanto na fase adulta quanto na fase ninfal.

Tipo de injúria: Ninfas e adultos alimentam-se do floema da planta, sugando a seiva, podendo injetar toxinas que fazem com que as folhas fiquem deformadas. Quando o ataque é intenso, as folhas podem apresentar manchas inicialmente cloróticas (amareladas) que, com a evolução, podem se tornar necrosadas, secarem e se tornarem quebradiças. Em alguns casos pode ocorrer a curvatura dos bordos foliares para baixo. Apesar de não existirem relatos de doenças viróticas associadas à mamoneira, estes insetos são capazes de transmitir viroses para um grande número de culturas que atacam.


Foto: Máira Milani

Figura 4. Cigarrinha em folha de mamona.


Lagartas desfolhadoras

Thalesa citrina (Sepp, 1848) (Lepidoptera: Arctiidae)

Características gerais: Os adultos, também conhecidos por “borboleta amarela da mamoneira”, são mariposas pequenas, medindo cerca de 30 mm de envergadura, de cor amarela, com as asas posteriores brancas. As lagartas são pequenas, de coloração amarelada e apresentam grande quantidade de setas.

Tipo de injúria: Atacam o limbo foliar, desfolhando a planta. Ataques severos provocam a destruição completa das folhas chegando, às vezes, a ocasionar a desfolha total da planta.


Spodoptera sp. (Lepidoptera: Noctuidae)

Características gerais: Os adultos são mariposas pequenas com aproximadamente 40 mm de envergadura. As fêmeas diferenciam-se dos machos por apresentarem as asas anteriores contendo desenhos brancos, enquanto os machos apresentam as asas amareladas, com desenhos escuros. As lagartas são de coloração parda a negra e são aveludadas, apresentando manchas pretas no dorso e podendo atingir entre 40mm a 50 mm de comprimento quando bem desenvolvidas. Nos bordos laterais encontram-se listras longitudinais de cor alaranjada marcadas sucessivamente por áreas esbranquiçadas.

Tipo de injúria: Alimentam-se do limbo foliar, provocando a desfolha das plantas, que são mais ou menos sensíveis dependendo do estágio de desenvolvimento que se encontram e da magnitude da injúria.


Rothschildia jacobaeae (Walker, 1856) (Lepidoptera: Saturniidae)

Características gerais: Os adultos são mariposas grandes, de coloração vermelho-escura, apresentando desenhos brancos nos bordos e manchas triangulares na região central das asas. Podem alcançar até 110 mm de envergadura. As lagartas são grandes e robustas, apresentam coloração verde-clara e quelasas avermelhados quando bem desenvolvidas e se transformam em crisálidas protegidas por casulos branco-acinzentados e em formato de cacho, semelhante ao do bicho-da-seda.

Tipo de injúria: Alimentam-se do limbo foliar, provocando a desfolha das plantas, que são mais ou menos sensíveis dependendo do estágio de desenvolvimento que se encontram e da magnitude da injúria.


Mosca Minadora [Liriomyza sp. (Diptera: Agromyzidae)]

Características gerais: Os adultos são pequenas moscas (medem cerca de 1mm -1,5 mm) e em algumas espécies é comum a presença de um ponto amarelecido no tórax. A fêmea põe os ovos dentro do tecido foliar e após dois ou três dias nascem as larvas que possuem coloração hialina e após a primeira troca de pele tornam-se amareladas.

Tipo de injúria: Constroem minas serpenteadas nas folhas, entre a epiderme superior e inferior das folhas, formando lesões esbranquiçadas. Os adultos alimentam-se do exsudado liberado pelas folhas após estas serem perfuradas para ovipositar. Quando a população de larvas nas folhas é alta, pode ocorrer comprometimento da área fotossintética, principalmente quando o ataque é verificado na fase inicial do desenvolvimento vegetativo e quando as plântulas possuem poucas folhas.


Pragas das folhas e frutos

Percevejo Verde [Nezara viridula (Linnaeus, 1758) (Hemiptera: Pentatomidae)].

Características gerais: Os adultos alcançam de 12-15 mm de comprimento, apresentam coloração geral verde, podendo, às vezes, ser escura no dorso. A face ventral possui coloração verde-claro

Tipo de injúria: Tanto os adultos quanto as formas jovens, alimentam-se de seiva introduzindo seu aparelho bucal nos tecidos das folhas e frutos, podendo provocar a murcha e secamento com consequente chochamento dos frutos. Em infestações severas, os cachos da mamoneira podem ficar totalmente secos. Podem ocasionar prejuízos consideráveis à mamoneira, já que são considerados extremamente polífagos, podendo permanecer em atividade o ano todo nas regiões com temperaturas amenas. Seu ataque é mais intenso quando a mamoneira é cultivada em consórcio com o feijão.


Foto: José Jandui Soares

Figura 5. Percevejo verde (Nezara viridula).


Outras pragas

Além das supracitadas, a mamoneira pode ser atacada por outros insetos com maior ou menor intensidade. Dentre estes destaca-se o percevejo de renda (Corytucha sp. - Hemiptera: Tingidae) que tem atacado plantas de mamoneira anualmente causando injúrias severas. Normalmente, verifica-se esse ataque nos meses mais secos ou quando ocorrem veranicos durante o período chuvoso. As injúrias no início assemelham-se ao ataque de ácaros, mas uma observação mais cuidadosa e verificando-se a face inferior das folhas pode-se notar as colônias da praga. Foi também coletado em áreas de cultivo de mamona um percevejo verde, Chinavia sp., muito parecido com o Nezara, mas sem causar danos significativos.

Foto: Fábio Aquino de Albuquerque

Figura 6. Colônia de Corytucha sp. sobre mamoneira.


Foto: Fábio Aquino de Albuquerque

Figura 7.  Injúria causada devido a alimentação de Corytucha sp.


Principais estratégias de controle para pragas da mamoneira

Diminuição da suscetibilidade do hospedeiro via cultivo de variedades resistentes – alguns estudos relatam a existência de cultivares de mamoneira resistentes à fitófagos.

Diminuição na densidade de insetos migrantes entre cultivos – essa medida pode ser implementada por meio de práticas como a rotação de culturas, a destruição dos restos culturais, a eliminação de mamoneiras nativas próximas ao local de cultivo comercial, e a contenção de surtos populacionais das pragas que atacam a mamoneira nas demais culturas que elas ocorrem infestando, já que a maioria das pragas que infestam a cultura são cosmopolitas e/ou polífagas.

Diminuição da densidade de insetos presentes no cultivo - a utilização de táticas curativas (como o controle químico) para contenção de surtos populacionais das pragas que atacam a mamoneira é restrita, uma vez que o número de produtos registrados para uso neste cultivo é limitado. Somente o enxofre inorgânico possui registro para contenção dos surtos populacionais dos ácaros vermelho e rajado na mamoneira, recomendando-se utilizar a dosagem de 300g a 400 g de produto comercial em 100 litros de água. Adicionalmente não existem informações a respeito de quando estes produtos devem ser utilizados ou quais os níveis de controle que devem ser adotados para as diferentes espécies que atacam a mamoneira.

A utilização de agentes de controle biológico também é possível via conservação das populações naturalmente incidentes e/ou incremento (liberações inoculativas ou inundativas). A conservação pode ser implementada com a adoção de medidas que favoreçam a emigração e manutenção dos inimigos naturais no cultivo. Dentre estas medidas, uma de fácil implementação seria o plantio de faixas circundantes com culturas fornecedoras de pólen, como o milho ou o sorgo.






sábado, 5 de setembro de 2020

Doenças da Mamona


Doenças

Mofo Cinzento

Agente causal: Botryotinia ricini (Godfrey) Whetzel [= Amphobotrys ricini (N.F. Buchw.) Hennebert]

Condições favoráveis: Ocorrência de temperaturas amenas (20°C-24 °C) e alta umidade (maior que 85%) durante o florescimento.

Sintomas e desenvolvimento da doença: O patógeno afeta principalmente as inflorescências da planta em qualquer estágio de seu desenvolvimento, causando, inicialmente, pequenas manchas de coloração cinza-azulada. Em condições climáticas favoráveis, o fungo se desenvolve abundantemente sobre as flores femininas e masculinas, antes da antese (abertura), ou em frutos em desenvolvimento. Partes da inflorescência afetadas pelo fungo podem se desprender e, quando em contato com outros órgãos da planta (folhas, pecíolos, raque), podem produzir novos pontos de infecção. O patógeno é facilmente disperso pelo vento, o que pode ser observado, pelo desprendimento de nuvens de esporos. O patógeno pode ainda ser disseminado por insetos e pela semente. Dependendo do estágio em que ocorre a doença, esta pode afetar o teor de óleo e a qualidade das sementes. No início da ocorrência da doença usualmente se observa a presença do patógeno em poucas inflorescências ou frutos; no entanto, se persistirem condições climáticas favoráveis, em poucos dias a doença pode afetar todas as plantas da lavoura.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 1. Sintomas iniciais do mofo cinzento.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 2. Inflorescência destruída pelo mofo cinzento.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 3. Sintomas do mofo cinzento nos frutos.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 4. Sintomas do mofo cinzento no pecíolo foliar.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 5. Sintomas do mofo cinzento na folha.

Manejo: Não existem cultivares resistentes a esta doença disponíveis no Brasil, assim como não existem fungicidas registrados para a cultura; contudo, estudos tem permitido concluir que procimidona e iprodiona são eficientes no controle do patógeno, desde que aplicados quando constatados os primeiros sintomas da doença. Ressalta-se, entretanto que, dependendo das condições climáticas, a relação custo/benefício não é vantajosa, devido à necessidade de aplicações sucessivas destes fungicidas. Dessa forma, a melhor estratégia disponível é o plantio em locais ou épocas desfavoráveis a ocorrência da doença, evitando que o florescimento coincida com a época chuvosa.

Podridão Negra do Caule

Agente causal: Macrophomina phaseolina (Tassi) Goid.

Condições favoráveis: Baixa umidade do solo associada a altas temperaturas provocam estresse na planta e favorecem a ocorrência da doença; assim como o cultivo sucessivo de plantas hospedeiras aumenta a quantidade de inoculo do patógeno no solo favorecendo a infecção.

Sintomas e desenvolvimento da doença: Os sintomas na parte aérea usualmente se confundem com aqueles da murcha de Fusarium e são caracterizados pelo amarelecimento das folhas e murcha da planta, podendo ou não haver escurecimento do caule. Na parte subterrânea, os sintomas são mais característicos, e pode ocorrer necrose parcial ou total da raiz e do colo da planta, com o desprendimento da camada cortical da raiz; com o decorrer do tempo, a podridão evolui da raiz em direção ao caule, tornando-se parcial ou totalmente enegrecida. Nesta fase, é mais fácil distinguir a podridão de Macrophomina da murcha de Fusarium, uma vez que pode ser observada, na parte interna do caule, a presença de pequenas estruturas negras arredondadas que correspondem aos microescleródios do fungo. O patógeno sobrevive por vários anos no solo e em restos de cultura e é capaz de infectar uma ampla gama de plantas, como por exemplo, feijão, girassol, gergelim, algodão, soja, entre outras.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 6. Planta de mamoneira com sintomas da podridão do caule causado por Macrophomina phaseolina.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 7. Detalhe do caule de uma planta infectada por M. phaseolina onde é possível observar a presença dos microescleródios do fungo.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 8. Detalhe interno do caule de uma planta de mamoneira em estágio avançado da infecção por M. phaseolina (note a densa presença de pontuações negras que correspondem aos microescleródios do fungo).

Fotos: Dartanhã José Soares
Figura 9. Plantas de mamoneira apresentando sintomas da podridão negra causada por M. phaseolina onde é evidente o enegrecimento do sistema radicular e da região do colo da planta.

Manejo: Não existem informações sobre variedades resistentes a esta doença no Brasil. O tratamento químico das sementes pode retardar o desenvolvimento da doença, mas não protege a planta durante todo o ciclo da cultura. A melhor estratégia para controlar a doença é o plantio em locais livres do patógeno, além de um manejo adequado da irrigação, eliminação dos restos culturais, e a rotação de culturas com espécies não hospedeiras, principalmente gramíneas, exceto milho, que também é hospedeiro do patógeno. Por se tratar de um patógeno que sobrevive no solo não se recomenda o controle químico das plantas infectadas.

Murcha de Fusarium

Agente causal: Fusarium oxysporum f.sp. ricini (Wollenw.) L.W. Gordon.

Condições favoráveis: Solos de textura leve (arenosos) e temperaturas amenas (22°C-26 °C) associadas à presença de nematóides, que causam ferimentos nos tecidos radiculares da planta, são fatores preponderantes para o estabelecimento do patógeno. Temperaturas mais elevadas podem favorecer a expressão dos sintomas.

Sintomas e desenvolvimento da doença: Os sintomas iniciais da doença são caracterizados pela perda de turgescência, amarelecimento e queda das folhas mais velhas; com a evolução dos sintomas, é possível observar o amarelecimento generalizado da planta, levando à morte parcial de ramos ou de toda planta. À medida que a doença progride, pode haver enegrecimento externo do caule, o que muitas vezes é confundido com sintomas da podridão negra causada por M. phaseolina. Nesta fase, para se distinguir a murcha de Fusarium da podridão negra é necessário observar o caule internamente. No caso da murcha de Fusarium, ocorre o escurecimento dos vasos condutores da planta podendo ser observada também a presença de micélio esbranquiçado no interior dos entrenós, diferentemente da podridão negra, onde se observa, internamente, a presença de pontuações negras arredondadas, que são as estruturas de resistência (microescleródios) de M. phaseolina. O patógeno sobrevive por vários anos no solo e em restos de cultura, sua dispersão ocorre principalmente pelo transporte de partículas de solo contaminado, pela movimentação de máquinas no campo de cultivo, e por meio de sementes contaminadas.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 10. Planta de mamoneira com sintomas da murcha de Fusarium.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 11.  Planta de mamoneira com sintomas avançados da murcha de Fusarium (escurecimento externo do caule e morte de ramos laterais). 

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 12. Corte transversal do caule evidenciando o escurecimento dos vasos condutores da planta, devido a infecção por Fusarium oxysporum f.sp. ricini.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 13. Caule de mamoneira sem casca, evidenciando o escurecimento dos tecidos internos, devido a infecção por Fusarium oxysporum f.sp. ricini.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 14. Secção interna do caule de uma planta de mamoneira em estágio avançado de infecção por Fusarium oxysporum f.sp. ricini, evidenciando a presença do micélio do fungo em seu interior.

Manejo: Cultivares com níveis elevados de resistência ainda não estão disponíveis comercialmente no Brasil. Recomenda-se o tratamento químico das sementes, de forma a eliminar o patógeno associado às mesmas ou visando retardar a infecção após a semeadura; é aconselhável também a prática da rotação de culturas e a eliminação dos restos culturais, visando à redução da densidade de inoculo do patógeno no solo. Por se tratar de um patógeno que sobrevive no solo não se recomenda o controle químico das plantas infectadas.

Mancha de Alternaria

Agente causal: Alternaria ricini (Yoshii) Hansf.

Condições favoráveis: Temperaturas amenas (22°C-26 °C) e alta umidade relativa (maior que 80%).

Sintomas e desenvolvimento da doença: No Brasil a mancha de Alternaria causa problema principalmente na fase de inicial do cultivo, provocando a morte prematura dos cotilédones, e retardando assim o estabelecimento da cultura. Nesta fase, são observadas manchas irregulares de coloração marrom e má formação dos cotilédones. Na planta adulta as manchas são geralmente circulares a elípticas, de coloração marrom, inicialmente isoladas, as quais, à medida que envelhecem, podem coalescer  e afetar grande parte do limbo foliar. Em ataques severos pode haver queda prematura das folhas. O fungo pode também afetar os frutos, provocando lesões marrom-escuras deprimidas e eventualmente o chochamento dos mesmos.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 15. Sintomas da mancha de Alternaria em folha cotiledonar de mamoneira.

Fotos: Dartanhã José Soares
Figura 16. Sintomas da mancha de Alternaria em folhas de mamoneira.

Manejo: Não existem informações sobre cultivares resistentes a esta doença no Brasil. Recomenda-se o tratamento químico de sementes para reduzir a ocorrência da doença nos estágios iniciais do desenvolvimento da planta Pulverizações da parte área também podem ser realizadas, ressalta-se, entretanto, que não existem produtos registrados para o controle desta doença na mamoneira.

Mancha Bacteriana

Agente causal: Xanthomonas axonopodis pv. ricini (Yoshii & Takimoto 1928) Vauterin, Hoste, Kersters & Swings 1995

Condições favoráveis: Chuvas e ventos, alta temperatura (26°C-30 °C) e alta umidade relativa (maior que 85%).

Sintomas e desenvolvimento da doença: A doença ocorre principalmente nas folhas, onde são observadas inicialmente pequenas manchas circulares de coloração escura com um halo aquoso. À medida que os sintomas evoluem, as manchas geralmente adquirem um formato irregular, sendo muitas vezes delimitadas pelas nervuras, principalmente na face abaxial das folhas. Com o coalescimento das lesões, grandes áreas do limbo foliar podem ser afetadas. Dependendo das condições climáticas, o halo aquoso pode ser mais ou menos pronunciado, o que pode facilitar o diagnóstico da doença. A dispersão do patógeno ocorre principalmente por meio de respingos de água (chuva ou irrigação).

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 17. Sintomas da mancha bacteriana causada por X. axonopodis pv. ricini.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 18. Sintomas da mancha bacteriana, evidenciando a presença do halo “encharcado” (anasarca).

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 19. Sintomas da mancha bacteriana, evidenciando a delimitação das lesões pelas nervuras (manchas-angulares).

Manejo: Não existem cultivares resistentes a esta doença disponíveis no Brasil. Recomenda-se  a utilização de sementes sadias provenientes de campos isentos da doença e o plantio em locais desfavoráveis ao seu desenvolvimento.

Mancha de Cercospora

Agente causal: Cercospora ricinella Sacc. & Berl.

Condições favoráveis: Temperaturas amenas (22°C-26 °C) e períodos de alta umidade relativa (superior a 80%) alternados com períodos mais secos.

Sintomas e desenvolvimento da doença: A doença caracteriza-se por pequenas manchas deprimidas, circulares a elípticas, com centro esbranquiçado e margens marrom escuras. À medida que os sintomas evoluem, as manchas tornam-se maiores e eventualmente coalescem. As folhas mais velhas são afetadas com mais frequência; no caso de infecções severas, pode ocorrer desfolha da planta.

Fotos: Dartanhã José Soares
Figura 20. Sintomas da mancha de Cercospora em diferentes níveis de severidade.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 21. Detalhe dos sintomas da mancha de Cercospora, evidenciando as lesões com centro esbranquiçado e margens marrom-escuras.

Manejo: Não existem informações sobre variedades resistentes a esta doença no Brasil, assim como não existem fungicidas registrados para a cultura. Recomenda-se evitar o plantio de cultivares que tenham apresentado níveis elevados da doença, em plantios anteriores, e propiciar uma adubação equilibrada às plantas.

Murcha Bacteriana

Agente causal: Ralstonia solanacearum (Smith 1896) Yabuuchi, Kosako, Yano, Hotta & Nishiuchi 1996.

Condições favoráveis: Solos de textura leve e temperaturas elevadas (26°C-32 °C).

Sintomas e desenvolvimento da doença: Um dos primeiros sintomas da doença é caracterizado pela murcha da planta nas horas mais quentes do dia, o que pode ser facilmente confundido com deficiência hídrica. À medida que os sintomas evoluem, observa-se a murcha permanente, associada com a queima e queda prematura de folhas, o que pode culminar com a morte da planta. Diferentemente da murcha de Fusarium, a murcha bacteriana não causa escurecimento dos vasos condutores, sendo facilmente diagnosticada por meio de um corte no caule, onde se observa exsudação (escorrimento) do pus bacteriano.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 22. Planta de mamoneira com sintomas iniciais da murcha bacteriana, causada por Ralstonia solanacearum.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 23. Planta de mamoneira com sintomas avançados da murcha bacteriana causada por Ralstonia solanacearum.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 24. Corte longitudinal em caule de planta de mamoneira, evidenciando a exsudação do pus bacteriano (setas).

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 25. Teste diagnóstico (teste do copo) da murcha bacteriana onde se observa a exsudação do pus bacteriano (seta).

Manejo: Recomendas-se evitar o plantio em áreas com o histórico da doença, usar material propagativo sadio, fazer rotação com culturas não hospedeiras, principalmente gramíneas, e realizar um manejo adequado da irrigação evitando o escorrimento superficial da água.




sábado, 22 de agosto de 2020

Plantas Daninhas na Cultura da Mamona


Plantas daninhas

Planta daninha pode ser definida como toda e qualquer planta que ocorre onde não é desejada (SHAW, 1982). Para qualquer cultivo agrícola o termo interferência de plantas daninhas refere-se ao conjunto de ações que recebe uma determinada cultura em decorrência da presença da comunidade infestante.

Os efeitos negativos observados no crescimento, desenvolvimento e produtividade de uma cultura, não devem ser atribuídos exclusivamente à competição, mas a um conjunto de pressões ambientais que estão direta ou indiretamente ligadas à presença das plantas daninhas no ambiente agrícola (Pitelli, 1985). De acordo com Pitelli; Pitelli (2008), os mecanismos de interferência podem ser divididos em diretos, dos quais se destacam competição, alelopatia e depreciação da qualidade do produto; e indiretos, com relevância para patógenos ou pragas hospedados por plantas daninhas, e os possíveis efeitos prejudiciais às práticas agrícolas.

A mamoneira é muito sensível à interferência das plantas daninhas, principalmente por causa do crescimento inicial lento da cultura. Em termos de produtividade, a redução pode ser maior que 80% em razão da presença da infestação (AZEVEDO et al., 2007). Na Figura 1, é exemplificada uma situação em área experimental do Semiárido (Sousa-PB), na qual o cultivo da oleaginosa sem controle algum de plantas daninhas resultou em 95% de redução da produtividade, em relação ao controle durante todo seu ciclo realizado por meio de capinas.

Fotos: Augusto Guerreiro Fontoura Costa
Figura 1. Cultivo de mamoneira sem (A) e com (B) controle de plantas daninhas no Semiárido no Município de Sousa/PB.

Outro aspecto a ser considerado quanto à elevada sensibilidade da cultura à mato-interferência, refere-se aos largos espaçamentos entre linhas de semeadura e à baixa densidade entre plantas no estande, comumente utilizados, que resultam em menores populações de plantas e, consequentemente, aumento do número de dias para o fechamento da cultura. Esse fato, muitas vezes associado ao baixo nível tecnológico empregado na lavoura, tende a favorecer ainda mais as plantas daninhas na ocupação da área e competição pelos recursos disponíveis. Durante o período que ocorre essa interferência sobre a cultura (período crítico de prevenção à interferência, conhecido como PCPI), o controle deverá ser efetivamente realizado para evitar a presença das plantas daninhas. Esse período pode variar de acordo com diversidade das espécies e densidade da comunidade infestante, condições ambientais e do próprio sistema de cultivo.

Em trabalhos realizados no Brasil, pode se verificar que o PCPI pode ser mais longo, ocorrendo dos 14 aos 84 dias após a emergência (DAE) para mamoneira de porte médio semeada em espaçamento de 2m x 1 m (entre linhas x plantas, respectivamente), conforme constatado nas condições do Semiárido nordestino por Azevedo et al. (2006); ou  mais curto, quando se utiliza cultivares de porte baixo e espaçamentos menores (0,5m x 1,0 m e 0,5m x 0,5 m), conforme informações mencionadas por Maciel et al. (2004; 2006a; 2007); Tropaldi et al. (2011), que verificaram ocorrência do PCPI entre 3 e 42 DAE, em estudos realizados no Sudeste e Centro-Oeste (Paraguaçu Paulista/SP, Garça/SP e Cassilândia/MS).

Para evitar a interferência das plantas daninhas na cultura da mamoneira, o manejo das plantas infestantes deve se basear na integração de estratégias preventivas e de controle. A seguir serão abordadas as principais técnicas que podem ser utilizadas.

Prevenção
A prevenção tem por objetivo evitar que sementes e outras estruturas de propagação das plantas daninhas sejam transportadas para área de cultivo. Medidas importantes são: a limpeza de máquinas e equipamentos; uso de insumos mais seguros quanto à ausência de propágulos, como sementes certificadas e esterco curtido; controle de plantas infestantes nos arredores da área e evitar a entrada de animais na mesma.

Métodos de controle
os métodos de controle para o manejo de plantas daninhas em mamoneira devem ser considerados como estratégias adaptadas às condições locais de infraestrutura, a disponibilidade de mão de obra, implementos e custos envolvidos. A seguir são apresentadas informações a respeito dos principais métodos de controle de plantas infestantes e a possibilidade de utilização na cultura da mamoneira.

Controle cultural
O controle cultural envolve ações adequadas de manejo que reduzam a incidência das plantas daninhas e/ou favoreçam a capacidade da cultura em se estabelecer e desenvolver. Portanto, o controle pode ser resultado da adequação de práticas como o preparo do solo e fertilização do solo, seleção da cultivar, uso de sementes certificadas, rotação de culturas, estande de plantas, uso de cobertura morta, sucessão e consórcio, entre outros.

Quando se realiza o preparo do solo, o mesmo representa uma alternativa de método de controle. O preparo primário geralmente é realizado em maior profundidade com arados ou grades aradoras, e o secundário, de forma mais superficial, com grades niveladoras. Nesse processo as sementes e demais propágulos de plantas daninhas podem ser incorporados a maiores profundidades e/ou destruídos junto com os demais restos culturais, dificultando ou impedindo sua germinação, brotação ou emergência. A prática deve ser realizada com critério técnico, caso contrário pode levar a degradação física, química e biológica do solo.

Foto: Cleber Daniel de Góes Maciel
Figura 2. Solo preparado para semeadura da mamoneira. Nas laterais encontra-se ilustrado o controle das plantas daninhas onde efetuaram-se as operações de aração, calagem e gradagem, ao contrário do centro onde não foi efetuado gradagem final para incorporação do calcário, juntamente com as plantas daninhas remanescentes.

A seleção de cultivar adaptada e recomendada para o ambiente e sistema de cultivo é fundamental para maior capacidade competitiva da cultura com as plantas daninhas. As características genéticas adequadas ao maior desenvolvimento nas condições de solo e clima da região contribuem para o estabelecimento, desenvolvimento e fechamento da cultura a partir do favorecimento da captação dos recursos disponibilizados no agroecossistema. Sendo assim, a adequada escolha da cultivar, devidamente registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), deve seguir as recomendações para o cultivo da mesma, como adubação, espaçamento, densidade de plantas, época de semeadura, conforme zoneamento agroecológico, e demais tratos culturais para o pleno desenvolvimento da mamoneira.

Populações ou arranjos de plantas que favoreçam a ocupação mais rápida da área de cultivo tendem a aumentar as vantagens competitivas da mamoneira. O espaçamento entre linhas e a densidade de semeadura são fatores fundamentais para capacidade competitiva da cultura, por determinar a precocidade e intensidade do sombreamento do solo (PITELLI; PITELLI, 2008), resultando em efeitos negativos sobre a germinação, emergência e desenvolvimento das plantas daninhas.

Utilizar arranjos de plantas adequados que permitam maiores populações pode contribuir para redução do nível e o período de interferência das plantas daninhas na mamoneira. Esse tipo de constatação pôde ser observada em trabalho realizado por Maciel et al (2006a), pois ao diminuírem o espaçamento entre plantas de 1,0 para 0,5 m, verificaram a redução do PCPI de 9 aos 35 DAE para 3 aos 25 DAE, respectivamente. Portanto, dentre os fatores que afetam o PCPI, a combinação das características de crescimento das cultivares de mamoneira associadas a maiores populações tendem a reduzir o período de interferência de plantas daninhas, especialmente se o tempo necessário para o fechamento das entre linhas e o ciclo da cultura forem menores. De maneira geral, isso acontece com os materiais genéticos (cultivares ou híbridos) mais modernos.

Fotos: Augusto Guerreiro Fontoura Costa
Figura 3. Efeito da população de plantas de mamoneira no fechamento da cultura.

Foto: Cleber D. de G. Maciel
Figura 4. Cultura da mamoneira semeada em espaçamento de 1,0m x 0,5 m.

Em relação à utilização de cobertura morta como método de controle cultural, a mesma pode reduzir a infestação de plantas daninhas pelos efeitos de diminuição da alternância na temperatura do solo; menor disponibilidade de luz; barreira física e liberação de substâncias alelopáticas.

O sistema de semeadura direta na palha, apesar de ainda não ser uma realidade para a mamoneira, tem grande potencial de ser adaptado aos sistemas de produção dessa oleaginosa, principalmente se a mesma for cultivada na chamada “segunda safra” ou “safrinha”. Nesse sistema, a dessecação do cultivo ou vegetação anterior, bem como a premissa de não movimentar o solo permite obter resíduos vegetais (palhada) sobre a superfície do solo. De acordo com Maciel (2006), a adoção desse sistema de produção para cultura da mamona permitiria maior flexibilidade na época de semeadura, possibilitando que a mesma seja semeada logo após a dessecação ou em até vários dias após o manejo da cobertura vegetal antecessora.

Foto: Cleber D. de G. Maciel
Figura 5. Cultura da mamona de porte baixo implantada em sistema de semeadura direta na palha de Brachiaria ruzizienses na região de Paranavaí/PR.

A rotação de culturas é outra prática agrícola que se enquadra como método cultural de controle de plantas daninhas. Entre outros benefícios para o agroecossistema, permite reduzir a incidência de infestação, especialmente no que se refere à atividade do banco de sementes, uma vez que possibilita alternância dos métodos de controle que são utilizados pelas culturas anteriores, principalmente relacionados aos aspectos de herbicidas. Além disso, o controle mecânico e o próprio efeito cultural das culturas antecessoras ou dos sistemas de produção podem exercer papel importante na dinâmica da comunidade de plantas daninhas. Para o cultivo da mamoneira a rotação de culturas é uma alternativa bastante interessante, a qual pode beneficiar tanto o pequeno como o grande produtor em relação aos aspectos agronômicos.

O consórcio de culturas agrícolas, prática utilizada principalmente em pequenas propriedades para produção de alimentos, pode contribuir para a redução da comunidade de plantas daninhas pelo simples motivo da maior ocupação da área. Essa prática contribui para que a mamoneira e as culturas cultivadas na entrelinha, como por exemplo, o feijão caupi (Figura 6), tenham vantagens competitivas em relação às plantas daninhas. Entretanto, a decisão da utilização do consórcio por parte do produtor também deve levar em consideração os aspectos relacionados ao aproveitamento da área e práticas culturais necessárias, bem como expectativas quanto à produtividade, diversificação de produtos, complementação alimentar e de renda.

Foto: Tarcísio Marcos de Souza Gondim
Figura 6. Cultivo de mamoneira consorciada com feijão-caupi.

Controle mecânico
Na cultura da mamoneira o controle mecânico é o principal método utilizado, especialmente nas pequenas áreas, podendo ser realizado principalmente com enxada (Figura 7) ou por cultivos mecânicos com equipamento tratorizado (Figura 8) ou de tração animal (Weiss, 1983; Deuber, 1997; Savy Filho, 2005; Beltrão et al., 2006a; Beltrão et al., 2006b; Azevedo et al., 2007).

As capinas com enxadas e/ou cultivadores, nas linhas e entrelinhas, resultam em controle em área total, sendo normalmente realizadas a partir dos estágios iniciais do desenvolvimento da cultura, evitando-se solos úmidos e, preferencialmente, dias quentes e secos (SILVA et al., 2007; CONSTANTIN, 2011). Para evitar danos às raízes a profundidade de corte da capina não deve ultrapassar 3 cm (YAROSLAVSKAYA, 1986; MELHORANÇA; STAUT, 2005; AZEVEDO et al., 2007).

Outra possibilidade também é a utilização de roçadeiras manuais ou motorizadas, principalmente na entrelinha, substituindo o cultivador quando as raízes da cultura estão mais desenvolvidas e os riscos de danos às mesmas aumentam.

Em geral, são necessárias de duas a quatro capinas ao longo do ciclo da cultura para um controle satisfatório das plantas daninhas, podendo variar de acordo com a condição local. Considerando-se a escassez de mão de obra e os custos envolvidos cada vez mais elevados para esse tipo de controle, o tamanho da área a ser plantada deve ser cuidadosamente avaliado no planejamento para implantação e condução da lavoura.

Fotos: Tarcísio Marcos de Souza Gondim
Figura 7. Controle mecânico com enxada.

Fotos: Cleber D. de G. Maciel
Figura 8. Controle mecânico com cultivadores tratorizados e possíveis danos físicos na cultura da mamona.

Controle químico
Apesar de existirem estudos que comprovam a seletividade e eficácia de herbicidas, atualmente não existem produtos registrados no Brasil para uso na cultura da mamoneira (BRASIL, 2013). Entretanto, a partir das pesquisas realizadas no Brasil (MACIEL et al., 2006bcd;  2007b; MACIEL et al., 2008; SOFIATTI et al., 2008; SILVA et al., 2010bc; MACIEL et al., 2011; SILVA, 2011, SOFIATTI et al., 2012) tem se verificado resultados positivos para o controle químico. Na Tabela 1 estão apresentados os principais herbicidas com maior viabilidade técnica para utilização na cultura da mamoneira, de acordo com as respectivas modalidades de aplicação.

Tabela 1.  Principais herbicidas que tem apresentado maior viabilidade técnica para uso em mamoneira a partir de pesquisas realizadas no Brasil.
Modalidade de aplicação
Herbicida
Dessecação
- glifosato isolado ou em mistura com carfentrazona-etílica ou 2,4-D*
Pré-plantio-incorporado
- trifluralina, pendimetalina.
Pré-emergência
- trifluralina, pendimetalina e clomazona.
Pós-emergência (área total)
- fluazifope-P-butílico, setoxidim, haloxifope-P-metílico, quizalofope-P-etílico, cletodim, propaquizafope, butroxidim, clorimurom-etílico e halossulfurom-metílico.
Pós-emergência (jato dirigido)
- paraquate em mistura com bentazona ou
diquate.
* Com intervalo mínimo de 6 dias entre a aplicação de 2,4-D e a semeadura da mamoneira.

Manejo integrado de plantas daninhas em mamoneira
Em geral, para diversos cultivos agrícolas, o manejo integrado de plantas daninhas tem contribuído para o controle mais efetivo e sustentável, portanto, sempre que possível deve ser utilizado. De acordo com Ronchi et al. (2010), essa integração visa à utilização conjunta de técnicas de controle para minimizar a interferência das plantas daninhas, mantendo suas populações em níveis abaixo de causarem danos econômicos, além de mitigar os efeitos negativos ao meio ambiente. Como não existem herbicidas registrados para a cultura da mamoneira para uso no Brasil (BRASIL, 2013), o manejo integrado de plantas daninhas deve envolver as técnicas de controle culturais e mecânicas, associadas sempre às medidas preventivas.





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