sábado, 21 de novembro de 2020

Colheita da Mamona

 

Uma das principais características da mamoneira relacionada à colheita é o nível de deiscência dos frutos, ou seja, a intensidade com que os frutos se abrem e expelem as sementes quando amadurecem e secam. A colheita de variedades deiscentes é uma das operações mais dispendiosa e que mais consome mão de obra, em razão da necessidade de se repetir o processo de colheita 5 a 6 vezes durante o ano (CANECCHIO FILHO et al., 1963).

Uma boa variedade deverá apresentar uniformidade na frutificação, de maneira que a floração ocorra num espaço de tempo ligeiramente curto e, consequentemente, a maturação de seus frutos seja uniforme, permitindo que a operação de colheita seja feita com um mínimo de repasses (CONCEIÇÃO, s.d.). A otimização do processo de colheita, secagem e beneficiamento dos frutos da mamoneira é extremamente importante, pois está relacionada diretamente com a quantidade e qualidade do óleo para a indústria.

Nas cultivares de frutos indeiscentes, a operação de colheita é feita em uma única vez, quando todos os cachos da planta atingirem a maturidade fisiológica. Neste estágio de desenvolvimento, a semente apresenta o máximo vigor, teor de óleo e poder germinativo.


Quando colher

A deiscência dos frutos determina como a colheita deverá ser realizada. Nas variedades deiscentes, a colheita deve ser feita logo que os primeiros frutos dos racemos começam a secar, assim evita-se que as cápsulas se abram e as sementes caiam no solo. Para as cultivares semideiscentes, a coleta dos racemos deve ser realizada quando pelo menos 70% dos frutos estiverem secos e para as variedades indeiscentes, a colheita deve ser feita quando todos os frutos do racemo estiverem totalmente secos.

Segundo Ribeiro Filho (1966) e Conceição (s.d) nas variedades indeiscentes os frutos não abrem e nem caem no solo o que permite esperar a secagem completa de todos os frutos do racemo ou de todos os cachos da planta para se proceder a uma só colheita, sem perigo de perda das sementes.

A colheita prematura, quando a maioria dos frutos ainda está verde, não é aconselhável, pois o conteúdo e a qualidade do óleo desses frutos poderão ser afetados (RIBEIRO FILHO, 1966).

Ao se plantar uma área muito extensa com cultivares semideiscentes para serem colhidas manualmente, deve-se prever a necessidade de grande quantidade de mão de obra, pois se esta não estiver disponível na época certa pode haver perda de produção com a queda de sementes.


Métodos de colheita

Colheita manual

Indicada para pequenas e médias propriedades com mão de obra familiar ou em locais onde a  mão de obra disponível  é abundante; consiste em se quebrar ou cortar os cachos pela base, utilizando-se de um instrumento cortante como uma faca (Figura 1A), canivete, tesoura de poda ou “caneca” colhedora. A “caneca” colhedora é indicada para cultivares de porte baixo e indeiscentes, sendo confeccionada em chapa metálica zincada ou qualquer outro material leve. Apresenta uma alça para o seu manuseio e um rasgo vertical em forma de V entre 15 a 20cm ao lado oposto da alça, com abertura inicial do rasgo de 5cm e finalizando com 2,5cm. As bordas da abertura são reforçadas com duas lâminas para evitar a deformação do material e afiadas na base do rasgo para facilitar o corte dos frutos (Figuras 1B e C). Os frutos colhidos são depositados em sacos de náilon, jacás, cestos, caixas, carroças (Figuras 2 A e B) ou reboques e transportados para o local de secagem (terreiro ou secador) ou diretamente para a descascadora visto que os frutos serão colhidos secos nas variedades indeiscentes.

Quando a produção é grande, recomenda-se efetuar, na lavoura, o desprendimento dos frutos, para evitar o transporte dos talos, os quais representam 10% do peso do cacho (SEVERINO et al., 2005). Para isto, deve-se usar pentes feitos de prego sem cabeça ou de pinos de ferro colocados na parte interna superior do depósito, de forma que o cacho seja passado por entre os dentes do pente e os frutos se desprendam e caiam dentro do objeto de transporte (RIBEIRO FILHO, 1966).

Na África a colheita também é feita manualmente, com a quebra ou corte dos racemos para, posteriormente, se realizar o desprendimento dos frutos, porém é comum utilizar-se, em algumas regiões, um apanhador de racemos, em forma de caneca cilíndrica e de chapa grossa, em cuja lateral oposta à da asa, existe um rasgo afiado, imitando um bisel, por onde se introduz o racemo para seu corte e deposição dentro da caneca. Este método permite a colheita de 300 kg/dia a 500 kg/dia de frutos (WEISS, 1983).


Foto: Waltemilton V. Cartaxo

Figura 1. A: Colheita da mamona com o uso da faca; B: Colheita da mamona com o uso da caneca; C: Detalhe do rasgo da caneca para a coleta dos frutos do racemo.


Fotos: Waltemilton Vieira Cartaxo

Figura 2. A) Caixa plástica para receber e transportar os cachos; B) Carro de mão para o transporte dos cachos.


Colheita mecânica

Com a obtenção de variedades híbridas, de porte anão, indeiscentes, com plantas de arquitetura compacta e perda parcial das folhas, foi possível mecanizar-se totalmente o cultivo da mamona, especialmente a colheita. Nesse sentido, foram desenvolvidas, nos EUA, máquinas autopropelidas ou acopladas ao trator, dotadas de mecanismo de batimento que golpeia as plantas diretamente a partir do racemo mais baixo. O funcionamento dessas máquinas consiste em fazer passar os racemos por entre dois cilindros batedores com movimentos opostos, que arrancam os frutos das plantas, que caem sobre condutores helicoidais para o transporte a um mecanismo descascador ou ao depósito de produção. As máquinas colhedora-descascadoras devem trabalhar em baixa velocidade e receber abastecimento uniforme de frutos, os quais devem estar totalmente secos. Nessas máquinas, as perdas aceitáveis são de no máximo 5%. Estudos realizados sobre o seu desempenho, revelam que a velocidade é fator determinante das perdas em relação às cápsulas não descascadas e sementes danificadas, tendo-se observado perdas de 4,8% na velocidade de 4,5 km/h, de 8% a 9,0 km/h e de 9,7% a 13,5 km/h. Nos EUA, a área mínima que comporta economicamente a aquisição desse tipo de máquina, é de 300 a 400ha e a metade desta área para máquinas que colhem somente os frutos. O desempenho operacional de uma  colheitadeira de duas linhas é de 0,75 ha/h a 1,5 ha/h em lavouras com rendimento de 3.000 kg/ha (WEISS, 1983).

A condução da lavoura dentro das técnicas recomendadas e o uso de variedades uniformes quanto ao porte de plantas, diâmetro do fruto e maturidade, são requisitos importantes para obter bom desempenho das máquinas na colheita. Em lavouras tecnificadas, outra prática importante e usual é a desfolha das plantas com a aplicação de desfolhantes 10 a 15 dias antes da colheita. Essa prática permite a obtenção de um produto mais limpo.

No Brasil, até o momento não houve desenvolvimento de máquinas destinadas à colheita e ao descascamento de mamona, sendo utilizadas apenas colheitadeiras de cereais adaptadas que estão apresentando eficiência aceitável, mas podem ser aperfeiçoadas. A adaptação é feita em uma plataforma colhedora de milho, agregando-se vários dispositivos; na parte da condução das plantas para dentro da plataforma, introduziu-se uma nova carenagem que tem a configuração de uma torre (Figura 3). Ainda para facilitar a entrada das plantas e, sobretudo, na retenção dos frutos na plataforma foram colocadas, em cada unidade de colheita, duas esteiras (correias) com cerdas de náilon que têm movimentos convergentes e atuam como anteparos despojadores dos frutos. O caule da planta é extraído da plataforma por dois cilindros de ferro localizados na parte inferior da unidade colhedora e que apresentam movimentos contrários entre si.

Os frutos, depois de separados do cacho, são conduzidos pelo “sem fim alimentador” e pela esteira transportadora para o batimento que se realiza pela ação do cilindro batedor e o côncavo, os quais devem ser revestidos de borracha, com ajustes no seu distanciamento e rotação de trabalho, para evitar a quebra das sementes. As peneiras separadoras devem ser ajustadas de acordo com o tamanho das sementes. A colheita só dever ser feita em dias secos e nas horas quentes do dia para que o descascamento seja feito adequadamente. O índice de quebra e marinheiro neste processo é considerado aceitável, situando-se abaixo de 10%.

Fotos: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva

Figura 3. Colheitadeira com plataforma de milho adaptada para a colheita da mamona, com detalhes das adaptações realizadas na plataforma; A: Vista frontal;  B: Vista lateral; C: Detalhe da plataforma colhedora das plantas; D: Correias com cerdas de náilon para o despojamento e condução dos cachos e sem fim alimentador; E: Detalhe do côncavo e do cilindro batedor recoberto com borracha; F: Côncavo e do cilindro batedor montados na máquina prontos para o descascamento.




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