terça-feira, 25 de outubro de 2016

Fertilidade do solo e adubação para a cultura do Amendoim


Fertilidade do solo e adubação

A maioria dos solos do Brasil, mesmo com propriedades físicas adequadas, apresenta, em geral, características químicas inadequadas, tais como elevada acidez, altos teores de alumínio trocável e deficiência de nutrientes, especialmente de cálcio, magnésio e fósforo. Mas, uma vez corrigidos quimicamente, os solos apresentam grande potencial para o cultivo do amendoim.
O amendoim apresenta facilidade de desenvolvimento na maioria dos tipos de solo, mas apresenta melhor desempenho em solos bem drenados, férteis e de textura arenosa (BELTRÃO et al., 2011), o que favorece a penetração dos ginóforos ou “esporões” no solo.
O sistema radicular do amendoim é extenso e ramificado. Apresenta raiz pivotante com ramificações laterais, o que propicia rápido crescimento inicial. A maior concentração de raízes é encontrada nos primeiros 25 cm, embora possua capacidade de atingir maiores profundidades (PINTO et al., 2008). Portanto, torna-se essencial para o bom desenvolvimento radicular a correção química do solo, visto que quanto maior o crescimento radicular maior será a tolerância ao déficit hídrico e o acesso aos nutrientes.
Para facilitar o planejamento para a correção e fertilização do solo para o cultivo do amendoim, algumas etapas devem ser seguidas:
  1. Amostragem do solo para análise química e física nas profundidades de 0 cm a 20 cm e de 20 cm a 40 cm.
  2. Verificar a necessidade de aplicação de calcário.
  3. Verificar a necessidade de aplicação de gesso.
  4. Recomendar a adubação de semeadura.
  5. Coletar folhas para avaliação do estado nutricional.

Etapa 1. Amostragem do solo

A área a ser amostrada deve ser divida em talhões uniformes em razão de indicadores de variações facilmente perceptíveis, como: topografia, cobertura vegetal natural ou uso agrícola, textura, cor, condições de drenagem, histórico de manejo e produtividade agrícola. A prática tem demonstrado que, dependendo da topografia, a área de 10 hectares possibilita uma distribuição uniforme de amostras simples (CANTARUTTI et al., 2007).
Para alcançar maior exatidão na avaliação da fertilidade média, coleta-se um número de amostras simples, não menos que 10 amostras por talhão para formar uma amostra composta. Todas as amostras simples devem ter o mesmo volume de solos e coletadas na mesma profundidade.
No cultivo de amendoim, sugere-se coletar duas profundidades, de 0 cm a 20 cm visando à recomendação de calagem e adubação e de 20 cm a 40 cm visando à recomendação de gessagem.
Os métodos de análise química de solo em uso no Brasil podem ser, em linhas gerais, categorizados em dois grupos: o primeiro fundamentado no uso do extrator ácido – Melich-1 e da solução salina de KCl, e o segundo no uso das resinas de troca iônica e do extrator quelante DTPA (CANTARUTTI et al., 2007). É importante conhecer o método utilizado pelo laboratório para interpretação dos resultados da análise de solo e posterior recomendação da adubação.

Etapa 2. Calagem

A calagem é prática fundamental para a melhoria do ambiente radicular das plantas, sendo responsável pela correção da acidez do solo. O calcário possui baixa movimentação do solo, sendo sua reação restrita à profundidade de incorporação.
O amendoim é uma leguminosa, e a acidez do solo pode comprometer a fixação biológica de nitrogênio (COX et al.,1982).
Determinação da necessidade de calagem
Para estimar a necessidade de calagem (NC), ou seja, a dose de calcário recomendada, são utilizados dois métodos: “Método da neutralização da acidez trocável e da elevação dos teores de Ca e Mg trocáveis”; e o “Método da saturação por bases” (RIBEIRO et al., 1999).
1) Método da neutralização do Al trocável e da elevação dos teores de Ca e Mg trocáveis:
Neste método, consideram-se ao mesmo tempo as características do solo e exigências das culturas. Para o cálculo é preciso conhecer a textura do solo, por meio da análise física, e conhecer os teores de alumínio, cálcio e magnésio trocáveis, mediante análise química. Este método é dividido em duas partes CA e CD:
NC (t/ha) = CA + CD
Em que:
  • CA = visa a correção da acidez por alumínio até determinado valor de tolerância da cultura à acidez (mt), e leva em consideração a capacidade tampão da acidez do solo (Y)
  • CD = correção da deficiência de Ca e Mg, assegurando um mínimo (X) desses nutrientes para a cultura
Cálculo do CA:
CA = Y [ Al+3 – (mt . t/100) ],
Em que:
  • Y é um valor variável em razão da capacidade tampão do solo e que pode ser definido de acordo com a textura do solo, conforme Tabela 1.

Tabela 1. Valores de Y para o cálculo de necessidade de calagem por causa da textura do solo.
Textura do solo
Porcentagem de argila
Y
Arenosa
0 a 15
0,0 a 1,0
Média
15,1 a 35,0
1,0 a 2,0
Argilosa
35,1 a 60,0
2,0 a 3,0
Muito argilosa
60,1 a 100
3,0 a 4,0
Fonte: Ribeiro et al. (1999).
  • Al3+ é a acidez trocável, em Cmolc/dm3, ou seja, é a quantidade de alumínio trocável no solo, este valor aparece na análise química do solo
  • mt é o valor de máxima saturação por alumínio tolerada pela cultura, em porcentagem. Para o amendoim o valor do mt é 5, ou seja, o amendoim tolera 5% de saturação por alumínio na CTC efetiva
  • t é o valor da CTC efetiva, em Cmolc/dm3; este valor aparece na análise química do solo
Observação: se o valor de CA for negativo, significa que a quantidade de alumínio presente no solo é menor que a quantidade de alumínio que a cultura é capaz de tolerar; neste caso, deve-se considerar seu valor igual a zero e continuar os cálculos da segunda parte da fórmula.
Cálculo do CD:
CD = X – (Ca2+ + Mg2+)
Em que:
  • X é o valor que representa a quantidade de cálcio e magnésio mínima que a cultura exige, no caso do amendoim, o valor de X é 2,0 Cmolc/dm3, ou seja, o amendoim precisa de no mínimo esta quantidade de cálcio e magnésio para produzir adequadamente
  • Ca2+ + Mg2+ são valores em Cmolc/dm3 de cálcio e magnésio, sendo que estes valores aparecem na análise química do solo
Observação: se o valor de CD for negativo, significa que a quantidade de cálcio e magnésio presentes no solo é maior que a quantidade que a cultura necessita; neste caso, deve-se considerar seu valor igual à zero para continuar os cálculos.
Com as duas partes calculadas e somadas, tem-se a quantidade de calcário necessária para a correção da acidez em toneladas por hectare, considerando a camada de 0 cm a 20 cm.
2) Método da saturação por bases
Neste método, considera-se a relação existente entre o pH e a saturação por bases (V). Para utilizar este método, os teores de cálcio, magnésio e potássio trocáveis e a acidez potencial (hidrogênio e alumínio) devem ser determinados por meio da análise química do solo.
A fórmula do cálculo da necessidade de calagem (NC, em t/ha) é:
NC = T .(Ve – Va)/100
Em que:
  • T é o valor da CTC a pH 7,0, que é a SB + (H+Al), em Cmolc/dm3; este valor aparece na análise de solo. SB representa a soma de bases = Ca+2 + Mg+2 + K+ + Na+ em Cmolc/dm3
  • Ve é o valor da saturação de bases desejada ou esperada para a cultura; no caso do amendoim a saturação de bases ideal é 70%, ou seja, 70% da capacidade de troca de cátions devem estar ocupadas com cálcio, magnésio e potássio
  • Va é o valor da saturação de bases atual do solo; este cálculo aparece na análise de solo
Escolha do calcário
Na escolha do calcário devem-se considerar critérios técnicos (qualidade química e física) e econômicos. O poder relativo de neutralização total (PRNT) estima o quanto de calcário irá reagir em um período de aproximadamente 3 anos. Para o cálculo do PRNT do calcário, são consideradas a capacidade de neutralizar a acidez do solo (natureza geológica) e a reatividade do material (granulometria) (RIBEIRO et al., 1999). Quanto maior o PRNT maior será a reatividade do calcário.
Todos os cálculos de calagem consideram o PRNT igual a 100%, portanto, deve-se corrigir a quantidade de calagem a ser aplicada em virtude do PRNT:
QC = NC . 100/PRNT
Em que:
  • QC é a quantidade do calcário adquirido que deverá ser aplicada na camada de 0 cm a 20 cm
  • NC é a necessidade de calagem calculada por um dos métodos descritos anteriormente
  • PRNT é o poder relativo de neutralização total do calcário adquirido, valor que caracteriza o calcário
Época de aplicação do calcário
A calagem deve ser realizada de dois a três meses antes da semeadura, com o objetivo de promover as reações químicas de neutralização da acidez. O calcário deve ser uniformemente distribuído sobre a superfície do solo, de forma manual ou mecanizada, e posteriormente deve ser incorporado com arado e grade até 20 cm.
Para que a reação do calcário inicie, é necessário umidade no solo; a água tem papel fundamental na neutralização da acidez pelo corretivo, portanto, é preciso que ocorra pelo menos uma chuva no período anterior a semeadura.

Etapa 3. Gessagem

O gesso é um importante insumo para a agricultura, sendo responsável pela correção de camadas mais profundas do solo. Pode ser utilizado como fonte de cálcio e enxofre ou na correção de camadas subsuperficiais com altos teores de alumínio trocável e/ou baixo teores de cálcio, com o objetivo principal de melhorar o ambiente radicular (RIBEIRO et al., 1999).
A recomendação de aplicação de gesso é feita de forma simples, baseada na análise química do solo na profundidade de 20 cm a 40 cm, que deve apresentar as seguintes características:
  • Teor de cálcio igual ou menor que 0,4 Cmolc/dm3 e/ou
  • Teor de alumínio trocável maior ou igual a 0,5 Cmolc/dm3 e/ou
  • Saturação por alumínio maior que 30%
Recomendação de gesso
A melhoria do ambiente radicular das camadas abaixo da arável efetua-se incorporando o gesso juntamente com o calcário, na dose de 25% da necessidade de calagem. Ou seja, a necessidade de gesso pode ser calculada pela formula:
NG = 0,25 . NC
Em que:
  • NG é a necessidade de gessagem em t/ha
  • NC é a necessidade de calagem calculada por um dos dois métodos descritos anteriormente
Suplementação de cálcio
Recomenda-se aplicar 500 kg/ha de gesso agrícola sobre a área na formação do esporão, ou seja, depois do início do florescimento.

Etapa 4. Adubação mineral

As plantas precisam de 17 elementos para completar o ciclo, são eles: C, H, O, N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu, Cl, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn (DECHEN; NACHTIGAL, 2006). Portanto, para uma planta estar bem nutrida, todos estes elementos devem estar presentes. Os três primeiros nutrientes, C, H e O, são fornecidos pela água e ar, por isso, não serão comentados nesta publicação. Os macronutrientes primários (N, P e K) são fornecidos por meio da fertilização orgânica ou mineral, os macronutrientes secundários (Ca, Mg e S) são fornecidos via calagem e gessagem, e os micronutrientes via fertilização mineral.
Em media, cultivares de amendoim absorvem os macronutrientes, na seguinte ordem: nitrogênio (192 kg/ha); potássio (60 kg/ha); cálcio (26 kg/ha); magnésio (20 kg/ha); fósforo (13 kg/ha) e enxofre (9 kg/ha) (FEITOSA et al., 1993).
A calagem é responsável pelo suprimento de cálcio e magnésio; no caso específico do cultivo do amendoim, o suprimento de cálcio é imprescindível para enchimento e formação das vagens. Considerando-se o aspecto qualitativo da produção, o cálcio é o nutriente mais importante para a cultura do amendoim (BOLONHEZI et al., 2005). Um detalhe com relação ao magnésio em amendoim, é que, se ele estiver deficiente, há aumento na incidência da cercosporiose, causada pelo fungo Mycospharella arachidicola (MALAVOLTA et al., 1997). A gessagem fornece cálcio e enxofre.
O amendoim responde eficientemente à adubação fosfatada, sendo que alguns trabalhos apresentam resultados expressivos para produção de vagens e grãos, utilizando-se concentrações de 40 kg/ha e 80 kg/ha de P2O5 (BOLONHEZI et al., 2005). A adubação fosfatada será recomendada em virtude dos teores de fósforo no solo. Para interpretar os resultados de fósforo no solo, é primordial conhecer o método utilizado pelo laboratório. Se o método utilizado pelo laboratório for Melich-1, deve-se utilizar a Tabela 2. Se o método utilizado for resinas de troca iônica será a Tabela 3.
Tabela 2. Classes de interpretação da disponibilidade para o fósforo pelo método Melich-1, de acordo com o teor de argila do solo ou do valor de fósforo remanescente (P-rem).
Classificação do fósforo disponível (P)
Característica
Muito baixo
Baixo
Médio
Bom
Muito bom
Argila (%)
mg/dm3
60-100
≤ 2,7
2,8 – 5,4
5,5 – 8,0
8,1 – 12,0
> 12,0
35-60
≤ 4,0
4,1 – 8,0
8,1 – 12,0
12,1 – 18,0
> 18,0
15-35
≤ 6,6
6,7 – 12,0
12,1 – 20,0
12,1 – 18,0
> 30,0
0-15
≤ 10,0
10,1 – 20,0
20,1 – 30,0
30,1 – 45,0
> 45,0
P-rem (mg/L)
mg/dm3
0 – 4
≤ 3,0
3,1 – 4,3
4,4 – 6,0
6,1 – 9,0
> 9,0
4 – 10
≤ 4,0
4,1 – 6,0
6,1 – 8,3
8,4 – 12,5
> 12,5
10 – 19
≤ 6,0
6,1 – 8,3
8,4 – 11,4
11,5 – 17,5
> 17,5
19 – 30
≤ 8,0
8,1 – 11,4
11,5 – 15,8
15,9 – 24,0
> 24,0
30 – 44
≤ 11,0
11,1 – 15,8
15,9 – 21,8
21,9 – 23,0
> 33,0
44 – 60
≤ 15,0
15,1 – 21,8
21,9 – 30,0
30,1 – 45,0
> 45,0
Fonte: Ribeiro et al. (1999).
Da mesma forma, com relação ao potássio, a tabela de interpretação escolhida deve estar de acordo com o método utilizado, se for Melich-1 utilizar Tabela 4, se for método de resinas de troca iônica utilizar Tabela 5.
Tabela 3. Classes de interpretação da disponibilidade para o fósforo pelo método de resinas de troca iônica.
Classificação do fósforo disponível (P) Resina
Muito baixo
Baixo
Médio
Bom
----------------------------------- mg/dm3 ----------------------------------
0 – 6
7 - 15
16 – 40
> 45,0
Fonte: Raij et al. (1996).
Tabela 4. Classes de interpretação da disponibilidade de potássio pelo método Melich-1.
Classificação do potássio disponível (K)
Muito baixo
Baixo
Médio
Bom
Muito bom
mg/dm3
≤ 15,0
16,0 – 40,0
41,0 – 70
71 – 120
> 120,0
Fonte: Raij et al., 1996.
Tabela 5. Classes de interpretação da disponibilidade de potássio pelo método de resinas de troca iônica.
Classificação do potássio disponível (K)
Muito baixo
Baixo
Médio
Bom
Muito bom
------------------------------ mmolc/dm3 -------------------------------
0 – 0,7
0,8 – 1,5
1,6 – 3,0
3,1 – 6,0
> 6,0
Fonte: Raij et al. (1996).
As quantidades de nutrientes a serem aplicadas dependem dos resultados da análise do solo. Os manuais de recomendação de fertilizantes para o amendoim são sistematizados em tabelas de acordo com as classes de disponibilidade dos nutrientes disponíveis no solo. Na Tabela 6, são apresentadas recomendações para a adubação com fósforo e potássio em virtude da interpretação da análise de solo pelo método Melich-1. E na Tabela 7 pelo método de resinas de troca iônica, em razão da expectativa de produção e dos teores acusados na análise de solo.
Tabela 6. Doses de nitrogênio, de fósforo (P2O5) e de potássio (K2O), de acordo com a disponibilidade de baixa, média e boa de fósforo e potássio disponíveis no solo, extraídos pelo Melich-1, para amendoim conforme a quinta aproximação.
Dose de N na semeadura
Disponibilidade de P
Disponibilidade de K
Dose de N em cobertura
Baixa
Média
Boa
Baixa
Média
Boa
Dose de P2O5 (kg/ha)
Dose de K2O (kg/ha)
0
80
60
40
60
40
20
0
Fonte: Ribeiro et al. (1999).
Tabela 7. Recomendação de adubação mineral na semeadura, de acordo com análise de solo e expectativa de produção.

Produção esperada
t/ha

N
Disponibilidade de P Resina
Disponibilidade de K trocável
Muito baixo
Baixo
Média
Boa
Muito baixo
Baixo
Média
Boa
Dose de P2O5 (kg/ha)
Dose de K2O (kg/ha)
<1 font="">
0
60
40
20
0
20
20
0
0
1,5 – 3,0
0
80
60
40
20
40
30
20
20
> 3,0
0
100
80
50
20
60
40
20
20
Fonte: adaptado de Recomendações de Adubação e Calagem para o Estado de São Paulo – Boletim Técnico
100 (Raij et al., 1996).

Observação: De um modo geral, a cultura do amendoim responde bem à adubação residual da cana-de-açúcar, mesmo para condições de baixa e média fertilidade do solo (GERIN et al., 1996).
Adubação nitrogenada
Em solos adequadamente corrigidos, drenados e inoculados, não há resposta à aplicação de nitrogênio (NOGUEIRA; TAVORA, 2005). Por se tratar de uma leguminosa, a adubação nitrogenada é dispensada na cultura do amendoim, pois esta planta tem a capacidade de associar a bactérias capazes de fixar o nitrogênio da atmosfera, mediante fenômeno conhecido com fixação biológica de nitrogênio (GIARDINI et al., 1985). Na Figura 1 podemos observar nodulação abundante nas raízes amendoim, resultante da associação espontânea com rizóbio em área cultivada no Nordeste. Aproximadamente 55% do nitrogênio requerido pelo amendoim são provenientes da fixação biológica (ELKAN, 1995).
Foto: Nelson Suassuna
Figura 1. Nodulação de rizóbio nas raízes de amendoim, variedade “Vagem Lisa”, em Itabaiana, SE.
Quando o pH não estiver na faixa adequada para a fixação biológica (entre 5,9 e 6,3) ou o amendoim estiver sendo cultivado na área pela primeira vez, recomenda-se aplicar entre 10 kg/ha e 16 kg/ha de nitrogênio (BOLONHEZI et al., 2005).
Micronutrientes
A marcha de absorção de micronutrientes acompanha o acúmulo de matéria seca, ocorrendo valores máximos entre 85 e 100 dias do ciclo biológico, com a seguinte ordem decrescente de extração da parte aérea: ferro, manganês, boro, zinco e cobre (FEITOSA et al., 1993; BOLONHEZI, 2005).
O boro é o micronutriente que mais limita o rendimento e qualidade da vagem (NOGUEIRA; TAVORA, 2005).
Os micronutrientes ferro, cobre, manganês e zinco diminuem a disponibilidade com o aumento do pH, mas em geral não é necessária a suplementação. As classes para interpretação da disponibilidade de micronutrientes são apresentadas nas Tabelas 8 e 9, a escolha da tabela será em virtude do método utilizado pelo laboratório de solo para o qual foi encaminhada a amostra de solo.

Etapa 5. Análise foliar

Um programa correto de adubação se inicia com a análise de solo, que é uma técnica preventiva, ou seja, representa o primeiro passo para diagnosticar possíveis problemas nutricionais para as plantas e sustentará as decisões de adubação e correção do solo. A análise de folha, complementar à análise de solo, servirá para diagnosticar se a adubação recomendada com base na análise de solo foi eficiente, e adicionalmente, servirá para ajustar as adubações para as safras seguintes. Na Tabela 10 podemos observar os teores adequados de macro e micronutrientes, baseados em análise foliar, para a cultura do amendoim.
  • Época: início do florescimento.
  • Tipo de folha: quarta folha da haste principal a partir da base (primeira acima dos ramos cotiledonares).
  • Número de folhas por hectare: 30.
Tabela 10. Teores totais de macronutrientes e micronutrientes considerados adequados para o amendoim (análise de folhas).
Nitrogênio
Fósforo
Potássio
Cálcio
Magnésio
Enxofre
g/kg
40
2
15
20
3
2,5
Boro
Cobre
Ferro
Manganês
Molibdênio
Zinco
Molibdênio
g/kg
20-180
10 – 50
50 - 300
50 - 350
0,13-1,39
20 - 150
0,1 – 1,4
Fonte: Bataglia et al. (1991); Malavolta et al. (1997).





quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Cultivares de Amendoim



A produção de amendoim no Brasil mudou rapidamente nos últimos anos, graças à substituição das tradicionais variedades tipo “Valência”, popularmente conhecidas como tipo “Tatu”, por variedades do grupo Virgínia runner, em especial a cultivar Runner IAC 886, lançada pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Esta mudança foi mais significativa no Estado de São Paulo, que concentra entre 70% a 80% da produção de amendoim no Brasil. O cultivo de variedades tipo “Tatu” ainda predomina nas regiões do Sul, enquanto na região Nordeste outra variedade local tipo “Valência”, denominada “Vagem Lisa”, é a preferida dos agricultores.


A demanda por cultivares do tipo “Runner” no Brasil foi percebida pelo Instituto Agronômico de Campinas (GODOY, 2001), que registrou a primeira cultivar tipo Runner no Brasil em 1999, a IAC Caiapó, que também apresentava resistência múltipla às doenças foliares (GODOY et al., 1999b), uma das maiores demandas de pesquisa com esta cultura no Brasil (MARTINS; VICENTE, 2010). Em 2002 foi registrada pelo IAC a Runner IAC 886, com maior potencial produtivo e rendimento industrial (maior rendimento após descascamento e sementes de tamanho uniforme – 60 a 70 gramas em 100 sementes), sendo adotada pela maioria dos produtores paulistas. Em 2009 o IAC lançou as cultivares alto oleico IAC 503 e IAC 505, que também apresentam resistência moderada e diversas doenças foliares. O maior teor de ácido oleico (70%) nas cultivares alto oleico confere maior estabilidade oxidativa, maior vida útil de prateleira, para o amendoim e produtos que contenham amendoim em sua composição, um mercado importante que inclui indústrias de alimentos nacionais e internacionais. Cultivares alto oleico desenvolvidas na Argentina (Granoleico e Pronto AO) e nos Estados Unidos (TamRun OL01 e OLin) também foram registradas no Brasil em 2010 e 2011 (MAPA, 2012), demonstrando a elevada demanda por cultivares com estas características e a perspectiva de expansão da produção de amendoim no Brasil.
As cultivares BR 1, BRS 151 L-7 e BRS Havana (SUASSUNA et al., 2008), registradas pela Embrapa entre 1999 e 2005, são adequadas à colheita manual e atendem à demanda do mercado regional de consumo in natura de amendoim no Nordeste. A cultivar BRS 151 L-7 é mais precoce (85 dias) e tolerante à seca, característica herdada da cultivar africana Senegal 55437, e apresenta maior potencial produtivo sob cultivo irrigado. Os ciclos das cultivares BR 1 e BRS Havana também são precoces (90 dias); BR 1 é amplamente difundida entre os agricultores nordestinos e também tolerante à seca; BRS Havana tem apresentado boas produtividades no Nordeste e Centro-Oeste, sendo também indicada para o mercado da indústria de alimentos (SANTOS et al., 2006). Nos últimos anos, o cultivo do amendoim rasteiro passou a ser interessante na região graças à perspectiva de expansão dos mercados de confeitaria e agroenergia, incentivados pela Petrobras e Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), incluindo os estados de Pernambuco, Maranhão e Piauí. A Embrapa registrou em 2011 a cultivar rasteira BRS Pérola Branca, cujas principais características são: porte rasteiro, ciclo 120 dias, 50% de óleo nas sementes, relação O/L 1,9, sendo indicada para o mercado de óleos vegetais (SANTOS et al., 2012).
A aquisição de sementes das cultivares desenvolvidas pela Embrapa pode ser feita diretamente no Escritório de Negócios (SNT) de Campina Grande, PB, telefones (83) 3315-4348 ou 3341-2314 ou pelo e-mail sementes@cnpa.embrapa.br.




quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Zoneamento agrícola para a cultura do Amendoim


Regiões produtoras de amendoim no Brasil

São Paulo é responsável por 70% a 80% da produção de amendoim no Brasil (Figura 1). Recentemente, a cadeia produtiva do amendoim neste estado adotou novas tecnologias no que se refere à produção e processamento, gerando aumentos de produção, em virtude de maiores produtividades. O novo padrão de qualidade e as novas exigências técnicas de produção, além dos ganhos em produtividade e em volume produzido e da conquista do mercado externo também proporcionaram a valorização do produto, expressa no aumento real e na relativa estabilidade dos preços médios recebidos pelos produtores nos últimos anos (MARTINS, 2011). Assim, a condição de país importador de grãos de amendoim foi mudada para a de país exportador de amendoim em casca e de grãos preparados (“blancheados”, sem película); a exportação de óleo bruto também tem figurado entre as exportações de mercadorias da cadeia de produção de amendoim (MARTINS, 2011).

Figura 1. Área de produção de amendoim tipo Runner – Dumont, SP.
A região Nordeste é o segundo maior polo consumidor de amendoim no Brasil. Todavia, a produção obtida na região atende apenas a 28% da demanda regional, intensificada no período das festas juninas. As principais regiões produtoras são o Agreste dos estados da Paraíba, Sergipe e Bahia e a região semiárida no Cariri cearense.
Os sistemas de produção utilizados pelos produtores dos quatro estados são muito semelhantes. A maioria das operações é feita manualmente, exceto preparo de solo, feito com tração animal ou trator. O controle de pragas e doenças nem sempre é realizado e, quando é feito, muitas vezes empregam-se produtos sem registro no Mapa. Por causa da indisponibilidade de sementes certificadas, o plantio é realizado com grãos comprados em feiras livres, armazenados da safra anterior ou provenientes de outros estados. Foram visitados plantios irrigados apenas no Estado de Sergipe (municípios de Itabaiana e Lagarto). Praticamente todos os produtores do Estado da Paraíba colhem os grãos maduros (90 dias após a semeadura) destinados à torrefação. Parte dos grãos produzidos no Estado do Ceará também é destinada à torrefação; esporadicamente, parte é vendida cozida com os grãos colhidos verdes (75 – 80 dias após o plantio) e esta é destinada ao mercado do Estado de Sergipe, durante o período de entressafra. Quase 100% da produção dos estados de Bahia e Sergipe é comercializada para o processamento imediato de amendoim cozido (Figura 2). A colheita e despencamento são realizados aos 75 dias, duas semanas antes da maturação das vagens.

Figura 2. Área de produção de amendoim tipo “Valência” em Cruz das Almas, BA. Amendoim consorciado com mandioca e milho; no detalhe, caixa para comercializar a produção de amendoim verde, denominada “quarta”.

Zoneamento agrícola de risco climático

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático é um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura. O estudo é elaborado com o objetivo de minimizar os riscos relacionados aos fenômenos climáticos e permite a cada município identificar a melhor época de plantio das culturas, nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares. A técnica é de fácil entendimento e adoção pelos produtores rurais, agentes financeiros e demais usuários.
São analisados os parâmetros de clima, solo e de ciclos de cultivares, a partir de uma metodologia validada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e adotada pelo Ministério da Agricultura (Mapa).
A análise das épocas de chuvas, bem como das épocas de maior incidência de déficit hídrico, deve ser realizada para que possíveis eventualidades não impossibilitem a prática da agricultura de subsistência ou comercial. A tomada de decisões sobre como e onde plantar garante ao agricultor a possibilidade de analisar as potencialidades da cultura, como também a melhor distribuição para a produção. Por meio de vários estudos, observa-se que a definição das épocas de plantio por meio do balanço hídrico do solo para a cultura pode contribuir para diminuir o risco climático.
A regionalização dos elementos agroclimáticos que definem a produtividade das culturas, como precipitação pluvial, evapotranspiração potencial, entre outros, exige análise mais abrangente, tanto no tempo como no espaço. A identificação de regiões com condições edafoclimáticas que permitam à cultura externar o seu potencial genético na produtividade torna-se necessária para o sucesso da agricultura. Por meio de estudos que relacionam a interação solo-planta-clima, é possível definir as áreas que apresentam aptidão, viabilizando a exploração agrícola das plantas, ecológica e economicamente.
Dessa forma são quantificados os riscos climáticos envolvidos na condução das lavouras que podem ocasionar perdas na produção. Esse estudo resulta na relação de municípios indicados ao plantio de determinadas culturas, com seus respectivos calendários de plantio.
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático foi usado pela primeira vez na safra 1996 para a cultura do trigo. Recebe revisão anual e é publicado na forma de portarias, no Diário Oficial da União e no site do Mapa. Atualmente, os estudos de zoneamentos agrícolas de risco climático já contemplam 40 culturas, inclusive a do amendoim.




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