sábado, 21 de dezembro de 2019

Doenças da Cultura do Gergelim



Doenças
A cultura do gergelim pode ser afetada por vários patógenos, os quais causam doenças que podem induzir severos danos à cultura e perdas expressivas à produção. Não existem fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para controle de doenças do gergelim. Nesse sentido, o controle deve se basear em medidas de exclusão e no uso de cultivares resistentes. A seguir são apresentadas as doenças de maior importância para esta cultura no Brasil, e as principais medidas utilizadas para minimizar os danos por elas ocasionados. As principais doenças do gergelim são as manchas foliares causadas por fungos, as quais podem causar sérios prejuízos à cultura quando as condições são favoráveis ao seu desenvolvimento (LIMA et al., 2001).

Mancha-angular - A doença é causada pelo fungo Mycosphaerella sesamicola Sivan., que tem como forma assexuada ou anamórfica Pseudocercospora sesami (Hansf.) Deighton (sin. Cercoseptoria sesami (Hansf.) Deighton, Cylindrosporium sesami Hansford, = Cercospora sesamicola (Mohanty). Afeta principalmente as folhas mais velhas induzindo a formação de manchas angulares e irregulares de cor pardo-escura na face adaxial e mais claras na face abaxial, sendo limitadas em um ou mais lados pelas nervuras (Figura 1). É encontrada com maior intensidade no terço inferior da planta. O fungo é transmitido pelas sementes, as quais constituem fonte de inóculo inicial. A propagação da doença em área plantada ocorre por meio do vento, que transporta os esporos das plantas infectadas para plantas sadias. O meio mais eficiente de controle dessa doença é o uso de cultivares resistentes. Embora não haja fungicidas registrados para controle da doença, o tratamento das sementes com fungicidas à base de carbendazim ou tiofanato metílico e a pulverização com sulfato de cobre quando as plantas atingem 25 cm a 30 cm de altura têm-se mostrado medidas eficientes na redução dos danos causados pela doença.

Foto: F.A.S. Batista
Figura 1. Sintomas de mancha angular em folha de gergelim.

Mancha-de-cercospora – É causada por Cercospora sesami e ocorre em todas as regiões produtoras de gergelim do Brasil, induzindo perdas à produção entre 5% e 20%. Nas folhas (Figura 2) e frutos, os sintomas se caracterizam por apresentar manchas arredondadas, com centro de cor cinza-clara a esbranquiçada e bordas marrons. Nos caules e pecíolos, as lesões são largas e elípticas, chegando a formar cancros com área necrosada e deprimida. Plantas severamente afetadas apresentam desfolha acentuada. O fungo penetra no interior da cápsula e alcança as sementes, tornando-as enegrecidas. Lesões nos cotilédones podem dar origem a infecções secundárias. Embora não haja fungicidas registrados para controle da doença, o tratamento de sementes com fungicidas à base de carbendazin e tiofanato metílico apresenta bons resultados. Para evitar a disseminação do patógeno, recomenda-se tratar as sementes com fungicidas à base de carbendazin e tiofanato metílico e fazer pulverizações preventivas com fungicidas cúpricos, pois tais tratamentos apresentam resultados satisfatórios no controle.  O uso de cultivares resistentes deve ser encorajado.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 2. Manchas foliares causadas por Cercospora sesami.

Podridão-negra-do-caule – É causada pelo fungo Macrophomina phaseolina e é uma das mais importantes doenças do gergelim nas principais regiões produtoras do mundo, assim como no Brasil. O fungo afeta, principalmente, o caule e os ramos da planta, ocasionando lesões de cor marrom-clara que podem circundar essas partes da planta ou se estenderem de forma longitudinal (Figura 3), podendo alcançar o broto terminal da planta. Nas lesões, podem ser observadas pontuações negras que correspondem aos picnídios do patógeno (Figura 4). Cortes longitudinais dos tecidos afetados ao longo do caule exibem também pontuações negras que correspondem aos microescleródios do fungo (Figura 5). As plantas afetadas murcham, podendo secar e morrer. Altas temperaturas e baixa umidade do solo favorecem o desenvolvimento da doença. A disseminação ocorre principalmente por meio da água da chuva ou irrigação, partículas de solo transportadas por máquinas e implementos e sementes infectadas. O controle da podridão-negra se baseia na rotação de culturas, no uso de sementes sadias, na eliminação de restos culturais e no uso de cultivares resistentes.

Fotos: Dartanhã José Soares
Figura 3. Sintomas de podridão-negra causada por Macrophomina phaseolina no caule e plantas de gergelim.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 4. Picnídios de Macrophomina phaseolina em caule de gergelim com sintomas da podridão-negra-do-caule.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 5. Microescleródios de Macrophomina phaseolina em caule de gergelim com sintomas de podridão-negra-do-caule.

Murcha-de-fusário - Ocorre em todas as regiões produtoras de gergelim do Brasil. É causada por um fungo habitante do solo, o Fusarium oxysporum f. sp. Sesami, sendo a planta suscetível ao patógeno em todos os estádios de desenvolvimento. Os sintomas se caracterizam pelo amarelecimento inicial e posterior flacidez e murcha da planta, que, em seguida, seca e morre (Figura 6). Fazendo-se um corte transversal no caule, pode-se observar o enegrecimento dos tecidos do sistema vascular (Figura 7). O fungo sobrevive no solo na forma de esporos de resistência chamado clamidósporos ou vivendo saprofiticamente em restos de cultura. Sua disseminação é feita por partículas do solo e gotas de água da chuva ou de irrigação. As medidas de controle baseiam-se em práticas culturais, tais como o uso de sementes sadias, uma vez que o patógeno é transportado e transmitido por elas, rotação de culturas, eliminação de restos de cultura e o plantio de cultivares resistentes.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 6. Caule de gergelim apresentando sintomas de murcha-de-fusário.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 7. Sintomas internos da murcha-de-fusário.

Filoidia – “Esta doença está associada a um Organismo do Tipo Micoplasma” da sigla em inglês “MLO”, sendo um fitoplasma conhecido como Phytoplasma asteris. A filoidia caracteriza-se pelo encurtamento dos entrenós e pela proliferação abundante de folhas e de ramos na região apical da planta, dando um aspecto de envassouramento ou superbrotamento (Figura 8A e 8B). A transformação dos órgãos florais em folhas torna a planta estéril. O patógeno é transmitido por cigarrinhas da família Cicadellidae, principalmente por Orosius albicinctus. O controle deve ser realizado por meio do combate ao inseto vetor quando este for identificado na área cultivada. Medidas de manejo cultural, como a erradicação de plantas doentes evitando que sirvam de fonte de inóculo, a semeadura em épocas menos favoráveis e o plantio em locais onde não haja histórico de ocorrência da doença, devem ser observadas e podem contribuir para a redução dos níveis de incidência.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 8A. Sintomas iniciais de filoidia em planta de gergelim.

Foto: Nair Helena Castro Arriel
Figura 8B. Sintoma severo de superbrotamento ou filoidia.

Virose – No Brasil foi observada a ocorrência de um Potyvirus em gergelim no Estado do Ceará. As plantas afetadas mostravam-se atrofiadas, apresentando superfície foliar com áreas cloróticas ou de cor amarela, intercaladas com áreas de coloração verde, tipo mosaico (Figura 9). Embora a doença tenha sido associada ao Blackeye cowpea mosaic virus (BlCMV), o agente causal é conhecido atualmente como uma estirpe do Bean common mosaic virus (BCMV). A virose é transmitida pela cigarrinha-verde, a partir de planta infectada, por feijão e por malváceas (guaxumas, vassourinhas). Para evitar a disseminação, deve-se promover a erradicação e queima das plantas afetadas e o controle da cigarrinha.

Foto: Nair Helena Castro Arriel
Figura 9. Planta de gergelim com sintomas de virose.

Mancha-bacteriana – É causada pela bactéria Xanthomonas campestris pv. sesami e ocorre com frequência no Estado de São Paulo, na África e nos Estados Unidos. Inicialmente, aparecem manchas escuras arredondadas ou angulares, nas folhas, nos caules e nas cápsulas, que, posteriormente, adquirem coloração marrom avermelhada ou negra, e que podem coalescer formando uma área necrosada. A mancha-bacteriana é disseminada pela água da chuva junto com o vento e transmitida pela semente. Pode sobreviver em restos culturais. Alto teor de nitrogênio no solo favorece essa doença. Para seu controle, recomenda-se a eliminação de restos culturais, a rotação de culturas e o uso de sementes sadias.

Mancha-de-alternária -  É causada pelo fungo Alternaria sesami e ocorre no Brasil, Japão, Rússia e em diferentes países da Ásia e das Américas do Norte e do Sul. Os sintomas dessa doença caracterizam-se por manchas marrons, circulares ou irregulares nas folhas e nos caules, que podem coalescer e levar à necrose da área afetada, causando e induzindo ao desfolhamento e à morte da planta. Nas cápsulas, as lesões apresentam, frequentemente, anéis concêntricos de tecido necrosado com diâmetro de até 2 cm. Altas temperaturas favorecem o surgimento dessa doença, que é transmitida pelas sementes. Como medida de controle recomenda-se fazer rotação de culturas, eliminação de restos culturais e uso de sementes sadias.

Podridão-do-colo - É uma doença causada pelo fungo habitante do solo Sclerotium rolfsii, bastante destrutiva, uma vez que pode ocorrer em qualquer estádio de desenvolvimento das plantas e induzir 100% de mortalidade. Os sintomas se caracterizam pela perda progressiva da coloração normal das plantas, seguido pelo seu tombamento. As raízes infectadas se tornam de coloração marrom-clara, fazendo com que as plantas sejam facilmente destacadas do solo. Escleródios caracterizados como estruturas de coloração branca a castanho podem ser vistos em volta das raízes infectadas. Os sintomas podem atingir a haste e causar a sua destruição (Figura 10). O controle da doença é feito com base em práticas culturais que incluem a rotação de culturas, sobretudo com gramíneas, a drenagem adequada do solo, a destruição e queima de restos culturais, o manejo da matéria orgânica, evitando sua acumulação no colo da planta, o plantio em solos com boa drenagem e o uso de cultivares resistentes. Esta doença, embora já tenha sido registrada no Brasil, ainda é de ocorrência esporádica e não generalizada.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 10. Sintoma da podridão-do-colo do gergelim causada por Sclerotium rolfsii mostrando a presença de crescimento micelial do patógeno e escleródio assinalado por uma seta.




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