sexta-feira, 19 de abril de 2019

Pragas da Erva-Mate



O número de espécies de insetos encontrados alimentando-se da erva-mate é bastante grande, porém, apenas algumas espécies são consideradas pragas, por ocasionarem danos à cultura, sendo elas, a broca-da-erva-mate, a lagarta-da-erva-mate, a lagarta-do-cartucho-da-erva-mate, a cochonilha-de-cêra, a ampola-da-erva-mate, a broca-dos-ponteiros e, mais recentemente, os ácaros.

Ácaros

Caracterização
São três as espécies de ácaros que ocorrem na erva-mate: Dichopelmus notus, Oligonychus yothersi e Poliphagotarsonemus latus.

Dichopelmus notus, conhecido como o ácaro-do-bronzeado da erva-mate, é específico para esta cultura. Apresenta coloração variando do branco, passando pelo amarelo até o marron, dependendo da maturidade das folhas que lhes servem como alimento. Possuem na parte superior dois círculos formados por pequenos pontos brancos. As fêmeas colocam de 20 a 30 ovos na sua vida. A fase de ovo a adulto dura cerca de 10 dias. Os adultos podem viver mais de 20 dias. São muito móveis, sendo encontrados no campo durante todo o ano.

Oligonychus yothersi, normalmente denominado “ácaro vermelho”, produz uma teia onde colocam os seus ovos. As ninfas são de coloração amarelada e os adultos vermelho-amarelados. A colônia se prolifera nas folhas, protegida por filamentos sedosos que formam uma teia (Figura 1).

Poliphagotarsonemus latus, ou ácaro branco, ataca inúmeras espécies de plantas. Os ovos e as ninfas possuem coloração branca hialina. Os adultos são brancos amarelados e brilhantes. Os ovos são colocados na parte inferior da folha e eclodem em três dias, aproximadamente.

Danos
D. notus: provoca o bronzeamento e queda das folhas, afetando o crescimento e a produção. 

O. yothersi: ataca folhas jovens e adultas, normalmente em reboleiras, provocando o bronzeamento, sendo que ataques severos podem provocar o desfolhamento.

P. latus: causa o prateado das folhas, de consistência áspera. Estes sintomas são detectados tanto em plantas de viveiro como em plantio definitivo. 

Controle
As populações de ácaros fitófagos têm como seus principais inimigos naturais alguns fungos e outros ácaros das famílias Phytoseiidae, Bdellidae, Anystidae, Stigmaeidae e Cheyletidae, os quais são predadores. 

De um modo geral, para todas as pragas desta cultura, o controle químico é pouco recomendável, pois, além de não haver produtos registrados para a cultura, a folha de erva-mate é consumida diretamente na forma de chás e infusões. Também poderia ocasionar desequilíbrios na entomofauna, destruindo os inimigos naturais e ocasionando o surgimento de pragas secundárias.

Foto: Dalva Luiz de Queiroz
Figura 1. Ácaro-vermelho.

Ampola-da-erva-mate
Susete do Rocio Chiarello Penteado; Edson Tadeu Iede

Caracterização
É a segunda principal praga da erva-mate. Trata-se de um inseto específico desta cultura, sendo encontrado tanto no Brasil como na Argentina e no Paraguai. As fêmeas medem em média 2,6 mm e os machos 2,2 mm (Figura 2). Possuem coloração verde-azulada e as antenas são tão compridas quanto o corpo. 

Possuem dois pares de asas e as pernas posteriores são adaptadas para saltar. 

Apresentam de oito a nove gerações anuais e o ciclo completo dura aproximadamente 30 dias. As ninfas são de coloração amarelada e passam por quatro ínstares até se tornarem adultos. 

São encontrados nos ervais durante todo o ano, com maior intensidade entre os meses de outubro e dezembro e de fevereiro a abril. As fêmeas colocam seus ovos na face superior das brotações, ao longo da nervura central. Contudo, antes de efetuar a postura, ela injeta uma substância tóxica que provoca o crescimento desigual do broto, formando a ampola (Figura 3), onde irão se desenvolver as ninfas. Em média, são colocados 32 ovos por postura.

Danos
Causam a deformação das folhas novas, que assumem o aspecto de galhas. As folhas atacadas ficam comprometidas e frequentemente caem. Quando o ataque ocorre em mudas recentemente transplantadas, verifica-se um retardamento no desenvolvimento da planta.

Controle
O uso de inseticidas, mesmo sem registro para a cultura, é uma prática frequente, entretanto, na sua maioria, é realizado de maneira e no momento inadequados, comprometendo ainda mais a rentabilidade econômica da cultura.

A poda e destruição dos ramos mais atacados podem ajudar na diminuição da população deste inseto.

Foto: Susete do R. C. Penteado
Figura 2. Adultos da ampola-da-erva-mate.

Foto: Susete do R. C. Penteado

Figura 3. Danos realizados nas brotações.

Broca-da-erva-mate
Caracterização
É a principal praga da cultura. Sua incidência tem sido registrada em toda a região de ocorrência da erva-mate.

O adulto é um besouro que mede, aproximadamente, 2,5 cm de comprimento (Figura 4), com o corpo de coloração geral preta, recoberto por pêlos brancos.

As antenas são longas e finas. As posturas são feitas, principalmente, na região do colo da planta, podendo também ocorrer nas raízes expostas e brotos ladrões. Após a eclosão, a larva inicia a sua alimentação, construindo galerias subcorticais. Posteriormente, atinge o lenho, podendo dirigir-se para a raiz da planta ou serem ascendentes. As larvas são de coloração geral branca. Durante o processo de broqueamento, a larva vai compactando atrás de si a serragem, que lhe serve de proteção e quando expelida para fora da planta, denuncia a presença da praga (Figura 5).

Quando está próxima de se transformar em pupa, constrói a câmara pupal, onde permanece até a sua emergência. O ciclo de ovo a adulto pode ultrapassar 17 meses. Os adultos vivem muito tempo e estão presentes, em maior número, entre os meses de outubro e junho. Eles roem a casca dos ramos para a sua alimentação, servindo também como indicativo da sua presença na erveira.

Danos
Os maiores danos são ocasionados pelas larvas que, durante a alimentação, constroem galerias, dificultando a circulação da seiva. Isto debilita a planta, diminuindo a sua produção. Se o broqueamento é muito intenso ou se ocorrem sucessivas gerações da praga, os galhos da planta podem secar e, muitas vezes, ocorrer a morte da erveira.

Controle
É difícil o seu controle, pois as larvas, ao escavarem as galerias, compactam atrás de si a serragem, obstruindo o orifício e tornando quase impossível atingi-las e os adultos procuram as regiões mais protegidas da planta para se abrigarem.

A catação manual dos adultos é recomendada e pode ser utilizada por qualquer produtor, pois apresenta custo baixo e não agride o meio ambiente. Entretanto, esta atividade deve ser realizada no período de maior ocorrência dos adultos no campo, outubro a junho, e entre as 10h e 16h horas. 

A utilização do fungo Beauveria bassiana tem apresentado resultados promissores. Um bioinseticida foi desenvolvido, mas ainda está em fase de registro, não estando disponível para utilização no momento.

Foto: Susete do R. C. Penteado
Figura 4. Adultos da broca-da-erva-mate.

Foto: Susete do R. C. Penteado
Figura 5. Larva e galerias da broca da erva-mate.

Broca-dos-ponteiros-da-erva-mate
Caracterização
É um besouro que mede em torno de 1,3 cm de comprimento. Apresenta coloração geral escura, com uma faixa amarela ao longo da porção dorso lateral de cada asa. Logo após a cabeça, aparecem duas manchas arredondadas de cor vermelha e as antenas são longas (Figura 6). As fêmeas fazem posturas em fendas previamente preparadas, no ramo principal (planta com até dois anos) ou nos ramos superiores das plantas mais velhas. Após a eclosão, a larva inicia a sua alimentação, construindo uma galeria descendente no interior do ramo (Figura 6).

Danos
Atacam preferencialmente plantas novas, com até dois anos de idade, cujos galhos broqueados apresentam aspecto enegrecido, por estarem ocos. Quando o ataque se dá em plantas adultas, o dano ocorre nos galhos superiores mais finos.

Empupam dentro do ramo atacado e podem levar plantas novas à morte. São mais frequentes em ervais com regime bienal de poda, visto que observações preliminares indicam que o ciclo é de aproximadamente um ano.

Controle
Poda e queima dos galhos atacados e coleta de adultos.

Foto: Susete do R. C. Penteado
Figura 6. Adulto e danos da broca-dos-ponteiros-da-erva-mate.

Cochonilha-de-cêra
Caracterização
A fêmea adulta tem formato hemisférico, de cor alaranjada, sendo recoberta por uma camada de cera róseo-clara. Normalmente vivem agregadas nos ramos, podendo, algumas vezes, cobri-los totalmente. As formas jovens localizam-se nas folhas, principalmente na sua parte inferior. Apenas as formas jovens e os machos deslocam-se na planta (Figura 7).

Danos
São sugadores, alimentando-se da seiva das plantas, tornando-as debilitadas. Além disso, eliminam uma substância açucarada, da qual se alimentam algumas formigas. Estas disseminam esporos de um fungo que causa a doença denominada fumagina. Quando a população na planta é alta, pode ocorrer a morte da erveira.

Controle
Escovação e/ou poda de ramos infestados são medidas que podem auxiliar no controle.

Foto: Susete do R. C. Penteado
Figura 7. Cochonilha-de-cêra nos ramos de erva-mate.

Lagarta-da-erva-mate
Caracterização
Trata-se de uma pequena mariposa, medindo aproximadamente 38 mm de envergadura. As asas são franjeadas e de coloração amarelo palha, sendo os machos menores que as fêmeas. O corpo é recoberto por pelos longos e amarelados. As posturas geralmente são realizadas na parte superior das folhas, com uma média de 81 ovos por postura. Estes são de coloração esverdeada, tornando-se arroxeados quando maduros e apresentam um período de incubação de 15 a 16 dias. As lagartas, após a eclosão, são de coloração verde clara, apresentando duas faixas escuras longitudinais nos lados do corpo.

No último ínstar, atingem, em média, 40 mm de comprimento e apresentam coloração variando do verde escuro ao negro, com uma faixa amarela dorsal entre duas linhas longitudinais mais escuras (Figura 8). O período de ocorrência das lagartas é de setembro a março, podendo, eventualmente, ocorrer a partir de julho. Completando o desenvolvimento larval, estes insetos deixam a planta e dirigem-se ao solo, onde penetram a uma profundidade de até 10 cm, passando para a fase de pupa, que pode durar de oito a dez meses.

Danos
As lagartas são vorazes e destroem tanto brotações novas quanto as folhas mais velhas da erva-mate. 

Controle
O controle poderá ser feito com a exposição das pupas ao sol; com a coleta dos adultos por meio de armadilha luminosa e com a eliminação de folhas contendo posturas. Inseticidas à base de Bacillus thuringiensis são eficientes no controle e não provocam desequilíbrio ambiental, entretanto ainda não há nenhum produto registrado para uso na erva-mate.

Foto: Susete do R. C. Penteado
Figura 8. Lagarta-da-erva-mate.

Lagarta-do-cartucho-de-seda
Caracterização
É uma mariposa que mede de 40 mm a 45 mm de envergadura. Apresenta o corpo piloso, de coloração negra, com alguns pelos alaranjados nas laterais do abdômen e as asas são de coloração cinza-escura. As posturas são realizadas sobre as folhas ou galhos da erva-mate e cada uma pode conter centenas de ovos. Cada postura mede cerca de 1 cm de diâmetro e são recobertas com pelos do corpo do inseto, de coloração marron-clara. 

As larvas possuem hábito gregário e, quando totalmente desenvolvidas, são de coloração cinza-escura, com fileiras de longos espinhos urticantes espalhados pelo corpo (Figura 9). Medem em torno de 40 mm de comprimento e, para se protegerem, tecem um cartucho de seda que pode conter centenas de lagartas (Figura 10). A época de ocorrência das lagartas se dá, geralmente, entre os meses de setembro e novembro. O empupamento ocorre, geralmente, na planta, em um casulo formado por folhas com fios de seda. Podem também empupar no solo, entre folhas secas.

Danos
São muito vorazes, podendo alimentar-se de folhas novas ou mais velhas, comprometendo a produção. Além disso, por apresentarem pelos urticantes, provocam irritação e queimaduras quando em contato com a pele. Portanto, recomenda-se atenção durante a colheita da erva-mate. Também a mariposa apresenta o abdômen recoberto por pelos urticantes, podendo provocar reações alérgicas às pessoas.

Controle
Catação das massas de ovos e dos cartuchos de seda, que contém uma grande quantidade de lagartas, auxiliam na redução da população. Inseticidas à base de Bacillus thuringiensis são eficientes no controle e não provocam desequilíbrio ambiental, entretanto ainda não há nenhum produto registrado para uso na erva-mate.

Foto: Susete do R. C. Penteado
Figura 9. Lagarta-do-cartucho-de-seda.

Foto: Susete do R. C. Penteado

Figura 10. Cartucho-de-seda contendo as lagartas.



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