quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Plantas Daninhas na Cultura do Milho



As plantas daninhas representam sérios problemas para as culturas agrícolas pelos múltiplos prejuízos que ocasionam, quer dificultando ou onerando os tratos culturais , quer determinando perdas na produção pela concorrência por água, luz, nutrientes ou espaço físico. Há instituição, quando de sua ocorrência, de um processo competitivo, quando cultura e plantas daninhas se desenvolvem juntamente.
         As pernícies causadas pela presença dessas plantas, entretanto, não se imputam exclusivamente à competição, mas sim a uma resultante total de pressões ambientais, as quais podem ser de efeito direto, como a própria competição e a alelopatia, ou indireto, tal qual o alojamento de insetos, doenças, interferência na colheita e outros. Esse efeito total denomina-se interferência, cujo grau de imposição à cultura do milho pelas infestantes é dado pela composição florística (por espécies que ocorrem na área, densidade e distribuição espacial da comunidade infestante), pelo período de convivência entre daninhas e cultura, por peculiaridades da cultura - espécie ou cultivar - como também por fatores relacionados à densidade de plantio e ao espaçamento entre filas de semeadura.
         É notória a relevância da competição por nutrientes essenciais, pois estes, na maioria das vezes, são restritos. Ainda que o milho seja eficiente na absorção de tais elementos, não consegue acumular em si nutrientes, como as plantas daninhas  fazem. Em condições de competição, o nitrogênio é um dos nutrientes de maior limitação entre milho e planta daninha. Assim, a adubação nitrogenada merece destaque em condições de alta infestação.
         A disputa por espaço é configurada no momento em que a planta de milho assume uma arquitetura diferente daquela que possuiria quando isenta da presença de outras plantas, tendo alterada, por exemplo, a disposição de suas folhas, haja  visto que o espaço que deveria ocupar encontra-se preenchido por outra planta. Sendo a planta do milho, sensível a tal condição de estresse, a mudança de sua conformação representa sérios prejuízos na produção.
         O termo alelopatia, por sua vez, designa a ação de uma planta daninha exsudar substâncias químicas nocivas ao desenvolvimento de indivíduos da própria ou especialmente de outras espécies. Diversas plantas daninhas detêm capacidade alelopática que afetam o desenvolvimento do milho, como o capim- arroz (Echinochloa crusgalli), o capim- colchão (Digitaria horizontalis) e o capim- rabo- de-raposa (Setaria faberil). O grau de interferência das plantas daninhas pode variar de acordo com as condições climáticas e os sistemas de produção. No entanto, reduções médias motivadas pela interferência resultante da convivência do milho com infestantes têm sido descritas como da ordem de 13,1%. De modo que, em casos aparte de métodos de controle, esta redução pode chegar a aproximadamente 85% quando estas plantas não forem manejadas corretamente.
         Dentre as plantas daninhas existentes, tem-se observado, no Brasil, em lavouras de milho, a ocorrência tanto de espécies dicotiledôneas, como Amaranthus spp (caruru), Cardiospermum halicacabum (balãozinho), Bidens spp. (picão -preto),Euphorbia heterophylla (leiteira), Ipomoea spp (corda -de- viola), Raphanus sativus

(nabiça), Richardia brasiliensis (poaia -branca), Commelina benghalensis(trapoeraba) e Sida spp. (guanxuma), quanto de monocotiledôneas, como Brachiaria spp (papuã), Cenchrus echinatus (timbete), Digitaria spp (colchão), Echinochloa spp(capim arroz), Eleusine indica (capim pé- de- galinha) e Panicum maximum(colonião).
       De modo geral, as espécies monocotiledôneas causam maiores prejuízos ao rendimento do milho do que as espécies dicotiledôneas. A composição das plantas daninhas vem sendo alterada em função de sua dinâmica populacional, de práticas culturais ineficientes e da utilização inadequada de produtos herbicidas, ocasionando elevação dos custos de produção e maiores impactos ambientais.

Objetivos do manejo de plantas daninhas

       O manejo integrado tem o intuito de tornar próspera a redução de espécies indesejadas durante o período crítico de competição, f ase em que a convivência com as plantas daninhas pode causar danos irreversíveis à cultura, com consequente prejuízo ao rendimento .
       Não obstante, o manejo também propicia a otimização da colheita mecanizada, poupando a proliferação de plantas daninhas, sendo garantida a produção de milho nas safras seguintes.
       Portanto, ao usar algum método de controle de plantas daninhas na cultura do milho, o produtor deve lembrar-se que os principais objetivos são:
  1. evitar perdas devido à competição;
  2. beneficiar as condições de colheita;
  3. evitar o aumento da infestação; e
  4. proteger o ambiente
Prevenção de perdas acerca da competição

       O entendimento da volubilidade, ano a ano, dos potenciais prejuízos causados por plantas daninhas ganha voga, variando o dano conforme as condições climáticas, de tipos de solo, de comunidade de plantas daninhas, de sistemas de manejo (rotação de culturas, plantio direto) etc. Assim, é necessário que o produtor de milho conheça oas possíveis perdas que as plantas daninhas venham a ocasionar em sua lavoura, uma vez que deste cuidado far-se-á subsídio para o plano de manejo.

Subsídios às condições de colheita

       Os métodos de manejo da comunidade infestante poderão também ser utilizados para favorecer a colheita e não apenas para evitar a competição inicial. Às plantas daninhas que germinam, emergem e desenvolvem em meio à lavoura de milho, passado o período crítico de competição, não é devotada tamanha atenção, por não acarretarem perdas na produção. Todavia, as colheitas manual e mecânica podem sofrer contratempos. Na primeira, por exemplo, a presença da espécieMimosa invisa Mart. Ex Colla, popularmente conhecida como malistra ou dormideira, bem como o Cenchrus echinatus (capim carrapicho), podem provocar ferimentos nas mãos dos trabalhadores. A segunda, quando realizada em lavouras com alta infestação de corda -de- viola (Ipomoea sp.) e trapoeraba (Commelinna sp.) pode ser inviabilizada, por ocasião do embuchamento dos componentes da plataforma de corte da colhedora.

Precauções quanto ao aumento da infestação

       Parte do escopo do manejo de plantas daninhas remete-se à produção sustentada. Terminada a colheita da safra, com a permanência da terra em pousio, firmar-se-á a produção de sementes das espécies daninhas, condição esta que propicia o incremento de sementes das infestantes no solo, dificultando o manejo na safra seguinte. O não controle da produção de sementes proporciona maior emergência de plantas ano a ano, intensifica a dependência do uso de herbicidas, o que reflete diretamente no custo do manejo e implica menores lucratividades.
       Em um sistema de produção sustentado, a manutenção da população de plantas daninhas em baixos níveis de infestação é imprescindível. Para isso, podem ser adotadas algumas técnicas, como rotação de culturas e semeadura de plantas de cobertura e de adubação verde. Culturas de cobertura, como nabo forrageiro, aveia, ervilhaca peluda, milheto, no período de entressafra, têem grande poder de supressão na emergência e no desenvolvimento das plantas daninhas. Operações de pós- colheita, como a passada de uma roçadeira ou a aplicação de herbicidas para dessecação das plantas daninhas, também podem ser realizadas para que não ocorra produção de sementes e/ou outros propágulos.

A questão ambiental

        Finalmente, o último objetivo do manejo integrado é intrínseco ao controle químico, que no atual sistema de produção de milho é realizado em grande parte das áreas de plantio com herbicidas. Herbicidas são substâncias químicas que apresentam diferentes características físico-químicas e, portanto, comportamento ambiental distinto. Concorde a suas propriedades, como o coeficiente de adsorção (Kd), a constante da lei de Henry e, principalmente, a meia -vida do composto no solo, ar e água (T1/2), a formulação herbicida usada pode ser uma fonte contaminação de diferentes compartimentos ambientais, como água, ar e solo, não somente pontualmente, ou seja, nos locais em que forem aplicados, mas também em áreas adjacentes, podendo atingir áreas distantes do ponto de sua aplicação.
        Produtos voláteis (que se transformam em gases) poderão contaminar o ar, produtos lixiviáveis (que sofrem movimentação no perfil do solo) poderão atingir o lençol freático subterrâneo, sendo que os ingredientes alocados nos sedimentos poderão afetar águas superficiais via transporte ou estando aí dissolvidos. A adoção de métodos de controle de plantas daninhas que minimizem ou dispensem o uso de herbicidas é desejável para tornar a atividade agrícola ambientalmente mais segura.

Métodos de controle de plantas daninhas

       Diversos são os métodos de controle de plantas daninhas empregados na cultura do milho, dentre os quais sobressaem-se:
Controle preventivo:
        O controle preventivo tem como objetivo evitar a introdução ou a disseminação de plantas daninhas nas áreas de produção. A introdução de novas espécies geralmente ocorre por meio de lotes contaminados de sementes, máquinas agrícolas e animais. A utilização de sementes de boa procedência, livres de sementes de plantas daninhas, a limpeza de máquinas e de implementos ante  cercas e estradas, em terraços, em pátios, em fontes de água e em canais de irrigação, ou em qualquer lugar da propriedade, são importantes para evitar a disseminação de sementes e de outras estruturas de reprodução.
Controle cultural:
       Diversos são os métodos de controle de plantas daninhas empregados na cultura do milho, dentre os quais sobressaem-se:      
         Controle preventivo: o controle preventivo tem como objetivo evitar a introdução ou a disseminação de plantas daninhas nas áreas de produção. A introdução de novas espécies geralmente ocorre por meio de lotes contaminados de sementes, máquinas agrícolas e animais. A utilização de sementes de boa procedência, livres de sementes de plantas daninhas, a limpeza de máquinas e de implementos ante cercas e estradas, em terraços, em pátios, em fontes de água e em canais de irrigação, ou em qualquer lugar da propriedade, são importantes para evitar a disseminação de sementes e de outras estruturas de reprodução.
       Controle cultural: este método de controle consiste na utilização das características da cultura e do meio ambiente para aumentar a competitividade da cultura do milho, favorecendo o crescimento e o desenvolvimento das plantas, tais como:
         

          a. uso de variedades adaptadas às regiões: o uso de cultivares que se

              desenvolvem mais rapidamente e cobrem o solo de maneira mais intensa,
              sofrendo menos com a interferência que venha a surgir, controla melhor
              as plantas daninhas. Assim, devem-se escolher as cultivares mais
              adaptadas à região, capazes de apresentar resistência ou tolerância às
              principais pragas e doenças que predominam na área e que sejam mais
              agressivas em seu crescimento, além de apresentarem boa
              produtividade.




          b. densidade de semeadura: a densidade de plantio, definida como o
              número de plantas por unidade de área, é fator importante para o
              rendimento de uma lavoura. Cada cultura apresenta uma densidade ótima
              (quando o rendimento é máximo), que é variável para cada situação e
              depende de três condições: cultivar; disponibilidade hídrica; e
              disponibilidade de nutrientes. A existência de alterações nesses fatores
              afetará a densidade ótima de plantio.




          c. espaçamento do milho: o arranjo equidistante das plantas de milho, com
              a redução do espaçamento entre fileiras, diminui o potencial de
              crescimento das plantas daninhas devido à redução da quantidade de luz
              que penetra pela cultura. Qualquer modificação no arranjo de plantas
              deve respeitar as características do ambiente e da cultivar.




          d. época de plantio do milho: a época mais adequada para o plantio do
              milho é aquela em que o período de floração coincida com os dias mais
              longos do ano e a etapa de enchimento de grãos com o período de
              temperaturas mais elevadas e alta disponibilidade de radiação solar,
              desde que sejam satisfeitas as necessidades de água da planta. Na
              região Sul do Brasil, o milho costuma ser plantado de agosto a setembro;
              enquanto que, nos estados do Centro-Oeste e do Sudeste, a época de
              plantio varia de outubro a novembro.




          e. uso de cobertura morta: a manutenção da cobertura vegetal sobre o
              solo diminui a emergência de plantas daninhas devido aos efeitos físicos
              e alelopáticos dessas plantas, quando em comparação com o solo
              descoberto.




            f. alelopatia: as plantas daninhas podem ter seu desenvolvimento
               suprimido ou estimulado por meio de plantas vivas ou de seus resíduos,
               os quais liberam substâncias químicas no ambiente. O uso de
               aleloquímicos obtidos a partir de plantas pode ser na forma de herbicidas,
               uma vez que são produtos naturais biodegradáveis e não persistem no
               solo como poluentes. A adição da parte aérea da leucena (Leucaena
               leucocephala (Lam.) De Wit) ao solo proporciona menor desenvolvimento
               das plantas daninhas, devido aos efeitos físicos da cobertura e
               alelopáticos, através da liberação para o solo de substância com ação
               alelopática. Assim como a leucena, há efeito alelopático das culturas de
               aveia, sorgo, centeio, nabo forrageiro e colza capaz de reduzir a
               densidade de plantas daninhas.




            g. rotação de culturas: a alternância do cultivo de diferentes espécies
               vegetais em sequência temporal numa determinada área proporciona
               menor infestação de plantas daninhas do que um sistema de sucessão de
               culturas contínuo. Além disto, a rotação de culturas permite a realização
               de rotação de herbicidas em uma mesma área de cultivo, dificultando a
               perpetuação de espécies e o aparecimento de biótipos resistentes.



Métodos mecânicos de controle 


Capina manual

      Esse método é amplamente utilizado em pequenas propriedades. Normalmente, de duas a três capinas com enxada são realizadas durante os primeiros 40 a 50 dias após a semeadura, pois, a partir daí, o crescimento do milho contribuirá para a redução das condições favoráveis para a germinação e o desenvolvimento das plantas daninhas. A capina manual deve ser realizada preferencialmente em dias quentes e secos e com o solo com pouca umidade. Cuidados devem ser tomados para evitar danos às plantas de milho, principalmente às raízes. Este método de controle demanda grande quantidade de mão-de-obra, visto que o rendimento desta operação é de aproximadamente 8 dias homem por hectare.

Capina mecânica

       A capina mecânica usando cultivadores, tracionados por animais ou tratores, ainda é utilizada no Brasil. As capinas mecânicas, assim como as manuais, devem ser realizadas nos primeiros 40 a 50 dias após a semeadura da cultura. Neste período, os danos ocasionados à cultura são minimizados, se comparados com os possíveis danos (quebra e arranque das plantas de milho) em capinas realizadas tardiamente. A exemplo da capina manual, a mecânica deve ser realizada superficialmente em dias quentes e secos, com o solo com pouca umidade, aprofundando-se as enxadas o suficiente para o arranque ou o corte das plantas daninhas.

Método químico
       
       O método de controle químico consiste na utilização de produtos herbicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e em secretarias de Agricultura para a cultura do milho (Tabela 1). Ao se pensar em controle químico para a lavoura de milho, várias considerações devem ser feitas, sendo necessário conhecer a seletividade do herbicida para a cultura e, principalmente, sua eficiência no controle das principais espécies daninhas na área cultivada. O uso de herbicidas, por ser uma operação de elevado custo inicial, é indicado para lavouras de porte médio e grande com alto nível tecnológico, onde a expectativa é de uma produtividade acima de 4.000kg/ha. A seleção de um herbicida deve ser baseada em avaliação das espécies de plantas presentes na área a ser tratada, bem como nas características físico- químicas dos produtos.


        A classificação dos herbicidas é feita de acordo com o seu comportamento quando aplicado a uma cultura: pode ser segundo a época de aplicação, a atividade, a seletividade ou o modo de ação.

    a. Época de aplicação



        Os herbicidas são classificados conforme a época de aplicação em relação às plantas daninhas e à cultura. Essa classificação considera maximizar o controle e a seletividade dos herbicidas, dividindo os mesmos em três categorias: pré-plantio- incorporado; pré-emergência; e pós-emergência. Os herbicidas de pré-plantio- incorporado são aplicados antes do plantio e necessitam ser incorporados ao solo para uma melhor eficiência no controle das plantas daninhas. Os herbicidas de pré- emergência são aplicados após o plantio da cultura, mas antes da emergência das plantas daninhas e da cultura. Os herbicidas de pós-emergência são aplicados depois da emergência das plantas daninhas, antes ou depois da emergência do milho. A época exata da aplicação dos herbicidas de pós-emergência pode variar em função da cultura, do herbicida e das plantas daninhas presentes na área. Os herbicidas de pós- emergência, considerados dessecantes, são utilizados no manejo das plantas daninhas no sistema de plantio direto antes do plantio da cultura.

    b. Atividade



        Herbicidas podem ser classificados como sistêmicos ou de contato. Os herbicidas sistêmicos são aqueles que necessitam serem absorvidos e translocados dentro das plantas para que o produto torne-se eficiente no controle das plantas daninhas. Os herbicidas de contato são aqueles produtos que atuam simplesmente pelo contato com as plantas, não havendo translocação para dentro das mesmas.

    c. Seletividade



        A seletividade dos herbicidas depende principalmente do grau de tolerância das plantas a estes produtos (Figura 7). Os herbicidas podem ser classificados como seletivos ou não seletivos. Os seletivos são aqueles que podem ser aplicados na cultura do milho, pois o mesmo apresenta tolerância ou resistência baseada em algum modo de detoxificação do herbicida. Os considerados não seletivos são aqueles herbicidas que, quando aplicados na cultura, podem ocasionar morte das plantas. Fatores como estádio de desenvolvimento das plantas, morfologia, absorção, translocação, condições ambientais, época de aplicação e metabolismo são importantes fatores na determinação da seletividade do herbicida.

     d. Modo de ação



        Apesar de ser uma forma usada para classificar herbicidas, o modo de ação não é baseado na melhora de controle das plantas daninhas. Essa classificação atualmente apresenta grande importância no manejo (seleção) dos herbicidas. Com o aparecimento de plantas daninhas resistentes a alguns herbicidas, a rotação de produtos vem sendo preconizada principalmente baseada nesta forma de classificação. Os modos de ação de alguns herbicidas utilizados na cultura do milho podem ser vistos na Tabela 1.


        É de grande importância verificar a persistência média no solo dos herbicidas utilizados nas culturas antecessoras, uma vez que eles podem tornar-se fitotóxicos para a cultura seguinte. Levar em consideração, ainda, na escolha de um herbicida para o controle de plantas daninhas o intervalo de segurança, que é o intervalo mínimo entre a aplicação e a colheita da cultura.


        O aparecimento de plantas daninhas resistentes a herbicidas depende de vários fatores, como adaptabilidade ecológica e capacidade de se proliferar, longevidade e dormência das sementes da espécie ou do biótipo sob seleção, frequência de utilização de herbicidas com mesmo mecanismo de ação e a sua persistência no solo, bem como a eficácia do herbicida e os métodos adicionais empregados no controle das plantas daninhas.


        Quando uma população de plantas daninhas resistentes se estabelece em determinada área, a eficácia do controle através da utilização de herbicidas diminui. Para prevenir ou retardar o aparecimento de plantas resistentes a herbicidas, são recomendados: a utilização de rotação de culturas; o manejo adequado dos herbicidas; a prevenção da disseminação de sementes através do uso de equipamentos limpos; a limpeza dos equipamentos através de bombas de água ou ar comprimido para remoção das sementes; o monitoramento da evolução inicial da resistência; e o controle das plantas daninhas suspeitas de resistência, antes que as mesmas produzam sementes.
       

Métodos de aplicação de herbicidas


        A eficiência de aplicação de qualquer herbicida depende da uniformidade e da correta aplicação. Problemas na ineficiência do controle de plantas daninhas, na maioria dos casos, estão relacionados à tecnologia de aplicação. Problemas comuns nas aplicações ocorrem devido à deficiência na calibragem do pulverizador (46%), na realização da mistura dos produtos (5%) e na combinação dos dois (12%). A maioria das aplicações de herbicidas são realizadas com tratores (sistemas hidráulicos), embora a aplicação via água de irrigação tenha aumentado nos últimos anos.


Controle de plantas daninhas em pré-plantio


       No sistema de plantio direto, o trabalho do arado e da grade é substituído pela aplicação de herbicidas capazes de matar as plantas daninhas presentes e de formar uma massa vegetal de cobertura do solo, a chamada palhada. O período entre a aplicação do herbicida e a semeadura da cultura varia com as características do herbicida, a dose utilizada, a cobertura vegetal antecessora, a textura do solo e as condições ambientais. Os principais herbicidas utilizados para este fim são glyphosate, glyphosate potássico, 2,4-D, paraquat e glufosinato de amônio.


       Os produtos à base de glyphosate são recomendados principalmente para áreas infestadas com plantas daninhas perenes, por serem herbicidas sistêmicos capazes de penetrar na planta pelas folhas e translocar-se via floema até às raízes.


       Glyphosate potássico é um herbicida semelhante ao glyphosate, apresentando o mesmo modo de ação. Porém, por causa do radical trimetilsulfôneo, penetra mais rápido nas folhas das plantas daninhas que o glyphosate, tornando-se uma boa opção no período chuvoso. O uso de 2,4-D ajuda no controle de folhas largas, principalmente trapoeraba, tolerante a glyphosate e glyphosate potássico.


       Ao contrário do glyphosate, os produtos à base de paraquat têm ação de contato, não servindo para o controle de plantas daninhas perenes. O paraquat é um disruptor da membrana celular e tem ação muito rápida. A aplicação de paraquat pode ser feita na véspera do plantio e a adição de um surfactante não iônico no tanque é sempre recomendada. O glufosinato de amônio é também um herbicida de contato, de classe IV, de ação um pouco mais lenta que o paraquat.

Controle de plantas daninhas em pré-emergência



       A pulverização, em plantio convencional do milho, é feita com o solo limpo, destorroado, após o plantio. Porém, antes da emergência da cultura e das plantas daninhas. O herbicida aplicado permanece na superfície do solo, exposto aos raios do sol e ao vento. Para uma boa performance, é preciso que o solo esteja úmido ou que, no caso de solo seco, haja uma garantia de chuva ou de irrigação nas próximas 48 horas. Caso o produto permaneça na superfície do solo sem a umidade para incorporá- lo a terra, as perdas pela forma de vapor e/ou pela decomposição através da luz acabarão por prejudicar a ação do herbicida. Por outro lado, terrenos mal preparados, cheios de torrões, comprometem seriamente a performance do herbicida.


       Os herbicidas de pré-emergência, como o próprio nome indica, controlam as plantas daninhas no estádio mais inicial, quando as sementes estão germinando e as plântulas ainda não emergiram. Esses herbicidas, ao contrário do que se pensa, não afetam a germinação das sementes, controlando as plantas daninhas após a sua germinação, durante o período de sua ação no solo. Os herbicidas aplicados devem apresentar poder residual suficiente para manter as plantas daninhas controladas até o final do período crítico de competição. Os principais herbicidas recomendados para o controle das plantas daninhas em pré-emergência na cultura do milho estão indicados na Tabela 1.


       A análise dos herbicidas indicados para o controle em pré-emergência de plantas daninhas na cultura do milho permite a observação de que alguns herbicidas, como atrazine, cyanazine e 2,4-D, são eficientes no controle de latifoliadas anuais e exercem pouca ação sobre as gramíneas. Por outro lado, herbicidas como s- metolachlor, alachlor, acetochlor, dimethenamid, isoxaflutole, trifluralin e pendimethalin apresentam uma ação mais acentuada sobre gramíneas anuais. Plantas daninhas perenes, como a tiririca e a grama seda, são tolerantes aos herbicidas de pré- emergência.


        No sistema de semeadura direta, a presença de palha na superfície do solo pode afetar o comportamento de herbicidas aplicados em pré-emergência, pois estes são aplicados sobre a palha, ficando expostos à radiação solar, às altas temperaturas e à adsorção nos resíduos vegetais. O atrazine apresenta boas perspectivas de uso em pré-emergência sobre palhadas, uma vez que é facilmente lixiviado para o solo com chuvas que ocorram logo após a aplicação.


        O acetochlor apresenta maior eficiência que o s-metolachlor no controle de gramíneas, quando aplicado sobre a palha no sistema de semeadura direta e sem chuva após a aplicação, porque aquele é mais estável nestas condições. Porém, s- metolachlor, por apresentar estrutura química mais estável e maior adsorção aos colóides orgânicos e minerais do solo, é mais eficiente do que acetochlor e alachlor, quando a chuva remove os herbicidas da palha, levando-os até o solo, onde s- metolachlor é dissipado mais lentamente, resultando em maior persistência e controle das plantas daninhas.

Controle de plantas daninhas em pós-emergência precoce e inicial



        Com o aparecimento de herbicidas de pós-emergência para a cultura do milho, o produtor ganhou em flexibilidade de tempo para sua pulverização. A aplicação pode ser iniciada na pré-emergência, passar pela pós-emergência precoce, atingir a pós- emergência inicial e terminar na pós-emergência tardia. As fases da pós-emergência podem ser assim caracterizadas:


    a. pós-emergência precoce: fase que vai desde a emergência até o estádio de duas folhas abertas. É importante salientar que as plantas daninhas ainda são muito pequenas e que as gramíneas ainda não perfilharam;


    b. pós-emergência inicial: tem seu início no estádio fenológico de três folhas abertas do milho e vai até a abertura completa da quinta folha. As gramíneas anuais apresentam de um a dois perfilhos e as folhas largas de quatro a seis folhas. Nesta fase da pós-emergência, as perdas culturais não são ainda significativas, podendo estas chegar até 10%;


    c. pós-emergência tardia: é caracterizada por perdas culturais mais evidentes (10 a 35%). Neste estádio, a cultura do milho já apresenta a sexta folha completamente aberta, as gramíneas anuais de três a quatro perfilhos e plantas daninhas, como o leiteiro, de seis a oito folhas. Esta fase da pós-emergência é recomendada para o controle das plantas daninhas somente em situações especiais, devido às perdas já ocasionadas pela interferência anterior à aplicação. A aplicação de herbicidas residuais nesta época tem como objetivo aumentar o efeito residual sobre as plantas daninhas de folhas largas, como a corda de viola, e sobre outras plantas daninhas tardias que irão causar problemas na colheita mecanizada.


        A exemplo dos herbicidas pré-emergentes, os herbicidas recomendados para a pós-emergência precoce e inicial possuem ação residual variada e, além de controlar as plantas daninhas emergidas, controlam as que ainda irão nascer no período de ação do herbicida. A pulverização deve ser feita em dia não chuvoso para que as gotículas não sejam arrastadas, mas a umidade é muito importante para a ativação no solo e para a absorção foliar. As horas quentes do dia e a baixa umidade relativa do ar (abaixo de 50%) não são recomendadas para a pulverização. Os melhores resultados de pulverização em pós-emergência precoce e inicial têm sido obtidos por produtores que pulverizam nas primeiras horas do dia, com vazão na faixa de 100 a 250L/ha.


        Com relação às sulfoniluréias, a aplicação exige um intervalo de sete dias para a utilização de inseticidas organofosforados. O ideal, nesse caso, é o uso de inseticidas fisiológicos ou à base de piretróides, manejando as pragas da cultura sem interferir na ação do herbicida.


        Os herbicidas recomendados para o controle pós-emergente de plantas daninhas na cultura do milho estão agrupados na Tabela 2.


        Os herbicidas do grupo químico das sulfoniluréias (nicosulfuron e foransulfuron + iodosulfuron) inibem a acetolactato sintase (ALS), impedindo a síntese de aminoácidos essenciais, como valina, leucina e isoleucina. O sintoma típico de fitotoxicidade ocasionado pela aplicação de sulfoniluréias consiste em descoloração da porção mediana da lâmina das folhas centrais da planta, que se encontra em fase de expansão no momento da aplicação, sendo esse sintoma mais expressivo até sete dias após a aplicação do produto. A seletividade da cultura do milho a sulfoniluréias deve-se à capacidade do milho em metabolizar o produto em compostos não ativos; portanto, cultivares tolerantes parecem metabolizar sulfoniluréias mais rapidamente. A existência de tolerância diferencial de híbridos de milho a sulfoniluréias restringe a utilização de nicosulfuron a determinadas cultivares que tolerem o produto.


        O herbicida carfentrazone pode ser utilizado para o controle de plantas daninhas dicotiledôneas em pós-emergência. Devido a esta ação, os sintomas de fitotoxicidade podem ser observados dentro de poucas horas após a aplicação, sendo a morte da planta constatada em uma semana. A seletividade detectada nas plantas devido à aplicação de carfentrazone-ethyl deve-se ao metabolismo de detoxificação do composto químico. Cultivares de milho doce e normal apresentam boa seletividade à aplicação de carfentrazone-ethyl.


        Dentre os herbicidas registrados para a cultura do milho, encontra-se o mesotrione (2-(4-mesyl-2-nitrobenzoyl)cyclohexane-1,3-dione), pertencente ao grupo químico das triquetonas. É classificado como herbicida seletivo, com aplicação em pós- emergência, para o controle de folhas largas anuais e gramíneas na cultura do milho. Deste novo grupo de produtos, recentemente foi registrado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento o herbicida tembotrione (2-[2-chloro-4-(methyl- sulfonyl)-3-[2,2,2-trifluoro-ethoxy)methyl]benzoyl]-1,3cyclohexanediona).


        O modo de ação das triquetonas consiste na inibição da biossíntese de carotenóides através da interferência na atividade da enzima HPPD (4- idroxifenilpiruvato-dioxigenase) nos cloroplastos. Os sintomas fitotóxicos observados envolvem o branqueamento das plantas sensíveis, com posterior necrose e morte dos tecidos vegetais em cerca de 1 a 2 semanas. O milho é tolerante às triquetonas devido à sua capacidade de metabolizar rapidamente o herbicida, produzindo metabólitos sem atividade tóxica. A absorção do herbicida ocorre tanto nas raízes quanto nas folhas e nos ramos. Estes herbicidas apresentam baixa toxicidade, com pequeno risco para os mamíferos, os pássaros, o ambiente e as espécies aquáticas.

Controle de plantas daninhas tardias para beneficiar a colheita



        A aplicação dirigida de herbicidas nas entrelinhas do milho tem um caráter complementar, com o objetivo principal de melhorar as condições de colheita, ajudando o controle das chamadas plantas daninhas tardias. Com o advento das aplicações sequenciais, em que as doses dos herbicidas são diminuídas, a aplicação dirigida de herbicidas nas entrelinhas do milho torna-se cada vez mais importante, complementando a aplicação feita na pré-emergência ou nas fases da pós-emergência. Esses herbicidas são aplicados nas entrelinhas do milho, de forma que o jato do pulverizador atinja somente as folhas baixeiras e não atinja as folhas de cima do milho. Para que isso seja possível, as plantas de milho devem estar no estádio acima de quatro pares de folhas (pós-emergência avançada), com uma altura mínima de 40 a 50cm.


        Os herbicidas usados nessa operação não são seletivos para o milho e podem causar injúrias à planta se a pulverização não for direcionada. A pulverização dirigida pode ser feita com um pulverizador costal, aplicando-se o herbicida nas manchas de maior infestação ou, em casos de grandes lavouras, com um pulverizador de barra tratorizado. Para a aplicação tratorizada, recomenda-se o uso de uma barra especial com pingentes de mola que permitam baixar os bicos e dirigir o jato para a base das plantas ou com protetores para evitar a aplicação do herbicida nas plantas de milho. Essa é uma operação limitada pela altura das plantas de milho. Se o milho estiver muito alto, a barra do pulverizador pode quebrar a cana do milho.


        Essa modalidade de controle já tem sido adotada e alguns equipamentos já estão disponíveis no mercado. Entre os produtos mais comumente utilizados, estão os herbicidas à base de paraquat e glufosinato de amônio, que têm ação de contato e não apresentam efeito residual. Cuidados devem ser tomados com a aplicação de herbicidas sistêmicos não seletivos, evitando o contato do produto com a planta de milho.


Resistência / tolerância de plantas daninhas
             
      O surgimento de plantas daninhas resistentes a herbicidas sempre estará associado a mudanças genéticas na população em função da seleção ocasionada pela aplicação repetida de um mesmo herbicida ou de herbicidas com um mesmo mecanismo de ação. A variabilidade genética está presente nas populações infestantes e, caso um produto seja sempre utilizado nesta população, as plantas resistentes irão sobreviver, aumentando, nos anos subsequentes, a frequência destas plantas na população até que só ocorram plantas resistentes.


        A resistência de plantas daninhas foi primeiramente notificada no Brasil na década de 80 com o surgimento de Euphorbia heterophilla resistente a herbicidas inibidores da enzima ALS (acetolactato sintase), conforme relatado no site internacional de      monitoramento     de    plantas    daninhas      resistentes   a      herbicidas 
(Tabela 1). A partir desta data, outras espécies foram descritas como resistentes, sendo que os herbicidas inibidores da enzima ALS são os produtos que mais selecionaram plantas daninhas resistentes no Brasil e no mundo. Com a introdução das culturas transgênicas resistentes ao herbicida Round up, a pressão de seleção imposta pelas glicinas tende a aumentar e, consequentemente, o surgimento de mais populações resistentes a este grupo herbicida deverá aumentar.



        A alteração da comunidade infestante pode acontecer em função de herbicidas que selecionem espécies menos sensíveis ao produto utilizado; com o passar do tempo, estas plantas estarão dominando a população. Espécies foram selecionadas na década de 80 com o uso continuado de metribuzin e imazaquin, dificultando o manejo de plantas daninhas na cultura da soja. Euphorbia heterophylla eAcanthospermum hispidum tornaram-se espécies dominantes em sistemas de produção que utilizavam os dois produtos herbicidas. Mais recentemente, a utilização contínua de sulfoniluréias e algumas imidazolinonas contribuiu para a seleção das espécies Cardiospermum halicacabum, algumas Ipomoea, Desmodium tortuosum,Senna obtusifolia e outras.


        Com a introdução do plantio direto, algumas espécies foram selecionadas em função da troca de produtos herbicidas para o manejo das plantas daninhas. Digitaria insularis (capim colchão), Spermaccoce latifolia (erva quente) e Erigeron bonariensistiveram suas frequências aumentadas em função do novo sistema conservacionista implantado. Atualmente, após a inicio da soja transgênica, houve um aumento do uso de herbicidas à base de glyphosate e espécies como as Commelinas(trapoerabas), Ipomoeas (corda de viola), Richardia brasilienses (poaia branca),Tridax procumbens (erva de touro), Chamaesyce hirta (erva de santa luzia), Chloris polydacyla (capim branco) e Boehavia diffusa (erva tostão) têm aumentado sua incidência nos sistemas de produção que utilizam este grupo de herbicidas.


        Para prevenir ou retardar o aparecimento destas plantas, é recomendada a utilização da rotação de culturas, do manejo adequado dos herbicidas, da prevenção da disseminação de sementes através do uso de equipamentos limpos, o monitoramento da evolução inicial da resistência e o controle das plantas daninhas suspeitas de resistência antes que as mesmas produzam sementes

Métodos de aplicação de herbicidas

      A eficiência de um herbicida é intrínseca à sua aplicação, que deve ser feita de maneira uniforme, pelo uso dos equipamentos adequados a cada tipo de situação. Os problemas verificados na ineficiência do controle de plantas daninhas, na maioria dos casos, está relacionada à tecnologia de aplicação. Relatos são feitos apontando que 46% dos problemas das aplicações ocorrem na calibragem do pulverizador, 5% na mistura de produtos e 12% na combinação da calibragem e da mistura de produtos. Embora a aplicação via água de irrigação tenha aumentado nos últimos anos, mais de 90% dos herbicidas ainda são aplicados via trator (sistemas hidráulicos),
    a. Terrestre


        A calibração do sistema de aplicação terrestre deve ser realizada preferencialmente no local da aplicação, observando-se os fatores que interferem na eficiência dos herbicidas. Os equipamentos tratorizados apresentam quatro componentes básicos: tanque; regulador de pressão; bomba; e bicos de aplicação, que devem ser sempre verificados, evitando defeitos ou entupimentos que possam vir a tornar a aplicação ineficiente.

    b. Aérea


        A principal vantagem da aplicação aérea em relação às aplicações terrestres tratorizadas ou à manual é o menor tempo gasto para tratar uma mesma área. Este método é economica e tecnicamente viável somente em áreas extensas e planas. Aplicações aéreas apresentam alto risco de contaminação ambiental em função do alto risco de deriva, devendo, portanto, sempre ser acompanhada por um técnico responsável.

    c. Via irrigação


       A aplicação de herbicidas via água de irrigação é conhecida como herbigação. Embora a adoção deste método de aplicação tenha aumentado nos últimos anos, ainda não existem herbicidas registrados para essa modalidade. Além disso, apenas alguns herbicidas possuem características favoráveis à aplicação com água de irrigação. Embora a herbigação apresente como vantagens a redução do custo de aplicação, o aumento da atividade herbicida, a maior uniformidade de aplicação e maior compatibilidade com o sistema de plantio direto por não haver trânsito de máquinas na época de controle das plantas daninhas, a aplicação, principalmente via pivô central, pode apresentar riscos de contaminação ambiental e aumento do tempo de aplicação.


Normas gerais para o uso de defensivos agrícolas


       Antes da aquisição de qualquer defensivo agrícola, deve-se fazer uma avaliação correta do problema e da necessidade da aplicação. Nenhum defensivo agrícola sem receituário agronômico deve ser adquirido. Deve-se proceder sempre à observação da data de validade de produtos a fim de se evitar compras de materiais vencidos ou com embalagens danificadas. Fazer a tríplice lavagem da embalagem após o uso e inutilizá- la por meio de furos constitui benefícios à saúde e ao ambiente. Toda embalagem vazia e inutilizada de qualquer defensivo agrícola deverá ser retornada aos pontos de compra (oriente-se junto ao vendedor). Cumpra as suas obrigações e exija seus direitos de consumidor.


Cuidados na aplicação
        
       No escopo da aplicação acertada de um herbicida, deve-se atentar para alguns fatores que, inerentes ao ambiente, acabam por influenciar a eficácia do método estabelecido. Desses, as condições climáticas, a umidade relativa do ar, a temperatura e o vento apresentam papel crucial.


       Boas condições de umidade favorecem a disponibilidade de água à absorção pela planta, retardam a secagem do produto aplicado e otimizam a transposição do herbicida pela superfície da planta. Em condições arbitrárias, ocorre lentidão do processo de absorção do herbicida devido à compactação da cutícula. Portanto, sob umidades abaixo de 50%, as aplicações de agentes herbicidas devem ser evitadas.


       Processos de volatilização e de celeridade na secagem dos ingredientes ativos são beneficiados a temperaturas elevadas, embora tais condições também aumentem a eficiência dos herbicidas, tornando-os mais fitotóxicos para as plantas-alvo, bem como para a cultura do milho. Temperaturas apropriadas são aquelas que se encontram no intervalo de 12 a 35° C podendo haver oscilações conforme o caso.
                               

       Clima favorável provém absorção do herbicida na dosagem apropriada, assim como inibe problemas de deriva, que geram possíveis afecções ao ambiente e/ou à saúde humana. O vento em alta velocidade é um elemento relevante, uma vez que intervém diretamente no destino da pulverização, de modo a favorecer que essa alcance o alvo ou desvie, atingindo outro componente. As circunstâncias de maior segurança acerca dos ventos consistem em velocidades na faixa de 3 a 6km/h, correspondente a uma leve brisa que apenas movimenta a folhagem. O uso de bicos de pulverização adequados e a minimização da altura de aplicação são medidas a serem tomadas para reduzir os efeitos do vento sobre aplicações. O início da manhã, o fim da tarde e o início da noite apresentam condições de vento, temperatura e umidade mais apropriados para aplicação de herbicidas.

Medidas de segurança
      
      No âmbito da proteção do trabalhador, as medidas de segurança devem atender à NCE (Necessidade de Controle de Exposição), que se dá pelo conjunto de medidas preventivas (normas regulamentadoras que tratam da higiene, da limpeza, da manutenção e educacionais) e de proteção (relativas à segurança em relação ao ambiente).


       As medidas de proteção estão segregadas em coletivas ou individuais; a primeira é feita, por exemplo, pela seleção de herbicidas menos tóxicos ou pelo uso da direção do vento para afastar o jato pulverizado. Os tipos de cultura e de equipamento também são elementos que afetam a exposição do operador.


       Como medida de proteção individual, preconiza-se o uso do EPI (Equipamento de Proteção Individual), que impede o contato direto da substância com o corpo. Esse dispositivo atua como redutor da exposição por meio dos princípios impermeabilização e hidrorrepelência. O EPI deverá ser vestido sobre a roupa comum, sendo ajustado firmemente de modo que os cordões do jaleco e da calça sejam guardados dentro da roupa. As botas devem ser impreterivelmente de PVC, sob a barra da calça, para que o produto escorrido não alcance os pés.


       O avental deve ser utilizado com o objetivo de proteger o corpo durante o preparo da calda e da pulverização, devendo ainda ser fabricado em material impermeável e ser de fácil fixação no corpo. A máscara deve impedir a inalação de vapores orgânicos, partículas finas e névoas. O aplicador deve estar barbeado para permitir a aderência correta do respirador ao rosto. A viseira, o boné árabe e as luvas têm o intuito de defender os olhos, o rosto, o couro cabeludo, o pescoço e as mãos das gotas ou da névoa de pulverização. As luvas devem ser de borracha nitrílica ou neoprene, passíveis de uso em todas as formulações.
     
Operações pós-colheita 



      Tem sido observado que os produtores têm deixado que as plantas daninhas cresçam e produzam sementes após a colheita (Figura 2), devido principalmente ao aumento dos custos de mais uma aplicação de um método de controle e pelas dificuldades financeiras que têm passados nos últimos anos. Para evitar ou minimizar o aumento da população de plantas daninhas existente em uma área, pode-se adotar técnicas como a rotação de culturas e a semeadura de cobertura. Culturas de cobertura, como milheto, nabo forrageiro e sorgo, assim como outras, na entressafra, têm grande capacidade de supressão na emergência e de desenvolvimento das plantas daninhas.



        Operações de pós-colheita, como o uso de roçadeiras ou a aplicação de herbicidas para dessecação das plantas daninhas, também podem ser realizadas, evitando-se que estas plantas se desenvolvam e produzam sementes ou propágulos que irão contribuir para o aumento do banco de sementes do solo. Devemos lembrar que, com o uso intensivo de determinados grupos de herbicidas, tem sido observado o surgimento de plantas daninhas resistentes.



       O manejo de plantas daninhas pós-colheita contribui para a não proliferação das plantas daninhas resistentes, facilitando o controle nas safras subsequentes. Na maioria dos casos, os herbicidas utilizados para o manejo pós-colheita são à base de glyphosate, 2,4D e paraquat. Qualquer utilização de herbicidas deve ser acompanhada por um técnico responsável e os produtos utilizados devem estar registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.


Manejo de Plantas Daninhas no Milho Cultivado no Sistema de Integração Lavoura-Pecuária


Uma vez implantado o SILP com SPD, o manejo dos herbicidas no consórcio

lavoura-forrageira passa a representar uma etapa das mais importantes, pois dela vai depender a produtividade tanto da lavoura quanto da pastagem que se vai formar. 
Em geral, o momento para aplicação dos produtos para dessecação pode ocorrer após as primeiras chuvas, quando a nova brotação da forrageira estiver vigorosa e em pleno crescimento (15 a 20 dias após o corte, 20 a 25 cm de altura). A aplicação deve ser feita, preferencialmente, nos períodos com temperaturas mais amenas (nas primeiras horas da manhã ou ao entardecer) e com ventos de baixa intensidade. Outra condição relaciona-se à dessecação com a espécie forrageira em estádio avançado de crescimento. Nessa situação, recomenda-se um pastejo de curta duração utilizando alta taxa de lotação no final do período seco ou manejo com roçadeira ou triturador vegetal (triton). A época de aplicação e a dosagem do herbicida dependerão do sistema de semeadura da cultura e da espécie da forrageira. As situações comumente encontradas podem ser: A - Semeadura da forrageira após a emergência do milho. Semeia-se o milho solteiro e faz-se o controle das plantas daninhas antes do plantio da forrageira. Sistema usado quando há alta incidência de plantas daninhas ou em condições de milho safrinha. O produto não deve apresentar efeito residual no solo ou deve ser seletivo para a gramínea a ser cultivada para evitar deficiências ou falhas na formação da pastagem. B - Semeadura simultânea do milho + forrageira. A aplicação deverá ocorrer na fase em que cultura do milho estiver com 4 a 6 folhas e da forrageira com mais de 3 perfilhos. Quando houver predominância de plantas daninhas de folhas largas e a braquiária não estiver exercendo interferência na cultura do milho, não haverá necessidade de aplicação de graminicida ou redução do crescimento da forrageira, podendo ser utilizado o herbicida atrazina na dosagem de 800 a 1.300 g i.a./ha. Nas situações em que é necessário o controle de plantas daninhas de folhas largas com necessidade de inibição temporária do crescimento da forrageira, sugere-se a aplicação de atrazina associada à uma subdose de herbicidas com ação graminicida. Maiores informações e detalhes sobre utilização de herbicidas no Sistema de Integração Lavoura Pecuária, recomenda-se consultar a Circular Técnica 110, Embrapa Milho e Sorgo, 2008.



quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Quimigação na Cultura do Milho




Introdução

A Quimigação consiste em aplicar uma solução, ou calda, de agroquímicos (fertilizante, inseticida, fungicida, herbicida ou nematicida) por meio do sistema de irrigação. Quando se trata de produtos que atuam no solo, a aplicação, em princípio, pode ser feita por meio de qualquer método de irrigação: gravitacional, aspersão ou localizado. Porém, a plicação de produtos com atividade foliar somente é viável nos sistemas de irrigação por aspersão: laterais portáteis (convencional), pivô central, rolão e outros.
Uma vez que a solução estará misturada à água de irrigação, a uniformidade de aplicação do agroquímico se confunde com a da aplicação da água e portanto é necessário que essa uniformidade seja elevada, para que se obtenha uma boa uniformidade de aplicação do produto. A quimigação é praticamente restrita aos métodos pressurizados (aspersão e irrigação localizada).
Os sistemas pressurizados vêm sendo cada vez mais utilizados nesse processo, devido ao movimento turbulento da água, que ajuda a manter o material químico uniformemente distribuído nas tubulações. Essa característica contribui na obtenção de boa uniformidade de aplicação. Esses sistemas podem ser usados para aplicar diversos produtos químicos, como fertilizantes, herbicidas, inseticidas, fungicidas e até mesmo outros produtos não tradicionais, como bioinseticidas e vírus. A injeção é feita na tubulação principal ou lateral e o ponto de aplicação será o aspersor ou emissor. No caso da cultura do milho, pelas suas características de densidade de plantio, a irrigação localizada tem pouco uso comercial.
A injeção dos produtos pode ser efetuada utilizando-se diferentes métodos e equipamentos (Costa & Brito, 1994), porém, independentemente do método adotado, a qualidade dos resultados obtidos na quimigação depende do cálculo correto de váriáveis como taxa de injeção, quantidade do produto a ser injetada, volume do tanque de injeção, dose do produto a ser aplicada na área irrigada, concentração do produto na água de irrigação, entre outros.
Além dos cálculos operacionais feitos corretamente, é necessário assegurar-se de que o sistema, tanto de irrigação quanto de injeção, está funcionando de acordo com os parâmetros para os quais está ajustado, ou seja, que a vazão calculada corresponde àquela efetiva no sistema, ou que a taxa de injeção desejada estará realmente ocorrendo no campo. Portanto, tão importante quanto os cálculos operacionais, é também proceder à calibração periódica dos equipamentos (Brito & Costa, 1998).


Informações preliminares sobre produtos

A quimigação requer que os produtos usados estejam em solução, ou que possam ser disponibilizados em forma líquida, ou fluida. Portanto, se os materiais usados não forem originalmente fluidos, é necessário preparar a solução desejada, antes de proceder à injeção. Para tanto, é importante conhecer algumas características dos produtos, como solubilidade, conteúdo do elemento ou princípio ativo desejado, densidade e/ou concentração e limite de tolerância pelas culturas, entre outros.

Aplicação via aspersão com laterais portáteis (Convencional)

A injeção de produtos químicos pode ser realizada utilizando vários métodos (Costa & Brito, 1994). Pelo fato de o sistema permanecer estacionário durante a aplicação de água, é comum a utilização de depósitos hermeticamente fechados, constituídos de fibra de vidro, ou de metal protegido contra a ação corrosiva dos agroquímicos. Nesse caso, o volume do depósito é função da área a ser irrigada, do método de injeção e das condições de suprimento de água.
A quantidade do produto a ser aplicada, por hectare, depende da dose recomendada e é determinada a partir das análises laboratoriais ou do receituário agronômico. A quantidade total do produto requerida pela cultura pode ser parcelada em diversas aplicações, conforme as exigências da mesma em cada estádio de desenvolvimento. O tipo e concentração da solução a ser aplicada depende das recomendções agronômicas estabelecidas para a cultura e do manejo a ser usado na aplicação.
A área a ser irrigada e o tempo requerido por cada posição da(s) linha(s) lateral(ais) são informações que devem estar disponíveis, para que se possa calcular as quantidades de produto/solução a injetar. O tempo é função da capacidade do sistema de irrigação, da capacidade de retenção de água no solo, do clima e da cultura.

Quantidade do produto injetada por lateral

A aplicação de agroquímicos, num sistema de aspersão com laterais portáteis, consiste de várias etapas, cujos cálculos são apresentados na sequência seguinte (Frizzone et al. 1985):

Quantidade de produto a ser injetada

Para calcular a quantidade de produto a ser injetada, pode-se usar a fórmula:
     (eq. 1)
onde Qi é a quantidade de produto, ou princípio ativo, a ser aplicada por linha lateral (kg); Ea é o espaçamento entre aspersores na linha lateral (m); El é o espaçamento entre laterais (m); Na é o número de aspersores na linha lateral; Pd é a dose recomendada do produto ou princípio ativo (kg/ha).

Quantidade de produto sólido a ser colocada no tanque

Quando o produto, no seu estado original, é sólido, é necessário preparar a solução no tanque, podendo-se usar a equação:
     (eq. 2)
em que Qp é quantidade de produto a ser colocada no tanque (g); Ca é a concentração desejada do elemento ou princípio ativo na solução na saída dos aspersores (g/m3, mg/L ou ppm); Q é a vazão do sistema de irrigação (m3/h); Va é a capacidade do tanque (m3); qi representa a taxa de injeção (m3/h); P é a porcentagem do elemento no produto, expresso em valor decimal. Vale mencionar que a presença de Ca na fórmula deve-se ao fato de que alguns produtos, dependendo de sua concentração na água, podem produzir efeitos de queima ou toxidez na folhagem. Ao utilizar algum produto dessa natureza, deve-se verificar o limite recomendável de concentração.

Número necessário de tanques do produto (NT)

Para estabelecer o número de tanques que serão necessários para comportar a solução, ou calda, a ser injetada, faz-se o cálculo seguinte:
     (eq. 3)
onde Qp representa a quantidade do produto (sólido) em cada tanque, que nesta fórmula é comumente usado em kilograma (kg), diferentemente da (eq. 2); A é a área irrigada, em cada posição da linha lateral (ha), e os outros termos já foram anteriormente definidos.
Exemplo 1 Pretende-se aplicar nitrogênio (N) numa área, utilizando-se uréia, com um sistema de irrigação com laterais portáteis (convencional), em que cada lateral é composta de 12 aspersores, com vazão individual de 3 m3/hr, espaçamento igual entre linhas e entre aspersores, de 18 m. As seguintes informações são disponíveis:
  • concentração desejada na água de irrigação, Ca = 250 ppm de N;capacidade de injeção da bomba, qi = 0,50 m3/h;capacidade do tanque, Va = 400 L (0,40 m3);
  • dose recomendada do nutriente (N), Pd = 50 kg/ha de N;


Calcular:
  1. a quantidade de nutriente (N) a ser aplicado, por lateral;a quantidade de fertilizante sólido (uréia), a ser colocada em cada tanque.
  2. o número necessário de tanques, por aplicação;


Solução:

  1. quantidade de N a ser injetada, em cada lateral :
    Usando a eq. 1, tem-se:
    como a uréia tem 45% de N, esses 19,44 kg equivalem a 43,2 kg de uréia.quantidade de fertilizante sólido (uréia), a ser colocada em cada tanque. Como cada lateral contém 12 aspersores, com vazão individual de 3 m3 /h. a vazão na lateral, Q, será de 36 m3 /h, A uréia contém 45% de N, ou 0,45. Usando a eq. 2, calcula-se:
    que é a quantidade de uréia sólida a ser colocada em cada tanque.
    A solubilidade da uréia é de 120 kg/100L. Como o tanque tem capacidade de 400 litros, para diluir 16 kg de uréia, isso équivale a uma solubiidade de 4 kg/100L, bastante inferior à da uréia. Portanto, o produto será facilmente diluido.
  1. Número necessário de tanques (NT):
    A área irrigada a cada posição da lateral, considerando o espaçamento de 18 x 18 m, será de 12 x 324 m2 = 3.888 m2, ou aproximadamente 0,39 ha.
    Usando a eq. 3, obtém-se:
    Portanto serão necessários 3 tanques. Multiplicando-se o numero de tanques pela quantidade de uréia a ser colocada em cada um (3 x 16), obtém-se o total de 48 kg, portanto superior ao valor encontrado no final do item (a) do exemplo, 43,2 kg, devendo-se a diferença a erros de arredondamento. Nesse caso pode-se ajustar a quantidade do produto a ser colocada em cada tanque para 43,2/3 = 14,4 kg.
Aplicação via pivô central

O sistema pivô central tem sido amplamente usado para quimigação, graças à sua facilidade de automação e possibilidades de aplicação eficiente da água. O comprimento da lateral do sistema é bastante variado, dependendo da necessidade do produtor, das características topográficas e das dimensões da área a ser irrigada, variando de 60m até aproximadamente 650m, correspondendo a uma área irrigada de 1,31 a 133ha, respectivamente. Os métodos de injeção empregados normalmente utilizam as bombas de deslocamento positivo, que se caracterizam por baixas vazões e altas pressões, ideais para aplicação de produtos químicos via pivô central.
Cálculo da taxa de injeção
A taxa de injeção de produtos químicos via pivô central deve ser constante durante a aplicação de uma determinada dose na área irrigada. Esta condição é necessária porque o equipamento opera com um deslocamento contínuo e uniforme para aplicação da lâmina de água requerida.
A taxa de injeção de determinado produto químico depende da dose do produto a ser distribuída na área, da velocidade de deslocamento do equipamento, da área irrigada e da concentração do produto no tanque de injeção. Estas variáveis estão todas relacionadas e a taxa de injeção pode ser calculada pela equação:
     (eq. 4)
onde qi é a taxa de injeção (L/min); Pd é a dose do produto na área irrigada (kg ou L/ha); vt é velocidade do pivô na última torre (m/min); rt é a distância do ponto do pivô até a última torre (m); r é o raio irrigado do pivô central; Qp é a quantidade do produto no tanque de injeção (kg ou L); e Va é o volume de água no tanque em que o produto é diluído (L). Na constante 20.000 está embutida a unidade m2/ha. Na prática, geralmente, a taxa de injeção é pré-fixada, calculando-se a quantidade do produto a ser diluída em um determinado volume de água.
Dependendo da concentração da solução injetada, de sua taxa de injeção e da vazão do sistema de irrigação, poderão surgir efeitos indesejáveis, como precipitação de sais da água, corrosão dos materiais componentes do equipamento, toxicidade das plantas ou contaminação do ambiente. Por isso, considera-se muito importante obter a concentração final do produto injetado na água de irrigação e avaliar as possibilidades de dano ao equipamento de irrigação e ao sistema de produção utilizado. O cálculo da concentração do produto na água de irrigação, Ca (mg/L), pode ser realizado utilizando a seguinte expressão:
     (eq. 5)
onde Q representa a vazão do sistema de irrigação (L/s).
Quando o sistema não dispõe de um medidor de vazão, recomenda-se estimar seu valor a partir de informações sobre a lâmina média aplicada e a uniformidade de distribuição de água do equipamento, utlizando a seguinte fórmula:
     (eq. 6)
onde Li é a lâmina média aplicada (mm/d); e Ui representa o índice de uniformidade adotado, expresso em forma decimal;

O número de tanques a serem utilizados na aplicação depende do tamanho do pivô, da capacidade do reservatório de injeção utilizado, da velocidade de deslocamento do equipamento e da taxa de injeção empregada. Pode ser calculado da seguinte forma:

     (eq. 7)
em que NT representa o número de tanques necessários para a aplicação em um círculo completo; as outras variáveis já foram definidas anteriormente.
Exemplo 2 Deseja-se aplicar uma dose de 20 kg/ha de uréia, através de um pivô central com raio irrigado de 400 m. O equipamento irá deslocar-se numa velocidade de 2,5 m/min, na última torre, que se encontra a 385 m do ponto pivô. Pretende-se dissolver 360 kg do fertilizante, de uma só vez, em 800 L de água no tanque de injeção. Pede-se determinar: a) a taxa de injeção necessária para aplicar uréia uniformemente; b) a concentração do produto na água de irrigação, sabendo que a vazão no sistema de irrigação é de 47,5 L/s; c) o volume total de solução necessário para aplicação da dose requerida em toda a área desse pivô central.

Solução:
Sendo o raio irrigado de 400m, a área total é p (400)2 = 502.654 m2, ou 50 ha. Com a dose de 20 kg/ha, isso representa um total de 1000 kg de uréia a serem aplicados.

  1. Taxa de injeção:
    Usando a eq. 4
     Concentração do produto na água de irrigação
    Aplicando o valor obtido acima na eq. 5
     Se fosse o caso de produto com maior nível de toxidez, este valor de concentração deverá ser comparado ao limite tolerável pela cultura.
  1. Volume total de solução:
    Redistribuindo os termos da eq. 7
     o que equivale aproximadamente a 2,8 tanques de 800 L, ou seja, serão usados 3 tanques. Ajustando-se os 1000 kg de uréia para 3 tanques, deverão ser diluídos 333 kg de uréia por tanque.
O equipamento de pivô central deve estar bem ajustado, para promover uma aplicação eficiente. Em geral, equipamentos com uniformidade de distribuição acima de 85% são considerados adequados para a quimigação.

Calibração

Na produção agrícola são usados diferentes tipos de equipamentos e técnicas de medição. Uma vez tomada a decisão de "quimigar", deve-se ter em mente que uma calibração bem feita é essencial para a segurança do operador, segurança ambiental e para a economia do empreendimento. Erros de calibração podem resultar no desperdício de grandes somas em químicos, além do risco de contaminação que isso representa.
Para que a uniformidade de distribuição dos produtos químicos seja efetiva na área irrigada, ela deve ser similar à uniformidade de distribuição de água do sistema de irrigação. O processo de calibração dos sistemas envolvidos na quimigação deve ser iniciado com a checagem do coeficiente de uniformidade do sistema de irrigação empregado. Após esse procedimento, pode-se iniciar a calibração dos equipamentos de injeção dos produtos químicos e do sistema de irrigação.
O sistema de injeção é o equipamento usado para adicionar o produto à água de irrigação. As peças individuais incluem: bomba injetora, tubo de calibração, tanque-depósito com agitador e as conexões e tubulações associadas. Conforme sugestões da Universidade de Nebraska (1996), para segurança e precisão na aplicação, deve-se ter sistemas diferentes de injeção para pesticidas e fertilizantes. Os sistemas são semelhantes, mas as capacidades são diferentes. Pesticidas geralmente são aplicados com bombas de diafragma de baixo volume, que podem ser ajustadas durante o bombeamento, portanto agilizando o processo de calibração. Os tanques normalmente tem a capacidade de 200 a 400 L. A taxa de injeção de pesticidas, em média, está em torno de 30 a 200 mL/min. Portanto, um tubo de calibração de 1000 mL é adequado. Em contraste, os fertilizantes são aplicados em quantidades relativamente grandes, e tanques com capacidade de até 4000 L são comuns.
Geralmente os equipamentos vêm com recomendações dos fabricantes, com o objetivo de diminuir a margem de erros durante o processo de injeção. Entretanto, as possibilidades de aplicação de produtos químicos são muito variadas, em função das características dos produtos e dos sistemas de irrigação. Por isso, é de bom senso que, junto com as informações dos fabricantes, haja monitoramento dos sistemas de injeção, em intervalos regulares ou no começo de cada operação, com o objetivo de assegurar a aplicação uniforme e segura do produto.
A calibração dos equipamentos de injeção é relativamente simples e direta, se um mínimo de material é colocado à disposição para esse procedimento. Nesse material, incluem-se basicamente um cilindro graduado com capacidade de até 20 litros, para coletar o efluente do sistema de injeção, um hidrômetro e um cronômetro.
Os passos requeridos para uma calibração acurada são (Universidade de Nebraska, 1996):
  • determinação da área a ser tratada;cálculo da quantidade de químico necessária;determinação do tempo de aplicação (ou de revolução, no caso de pivô central);cálculo da taxa de injeção;
  • conversão da taxa de injeção para as unidades do tubo de calibração.
A calibração é conduzida pelo ajuste da taxa de injeção de produto da bomba injetora, para injetar a quantidade correta do produto. Pequenos erros na entrada de produtos podem causar taxas mais altas ou mais baixas de aplicação e pode-se obter resultados insatisfatórios.
Dentre os vários tipos de equipamento de injeção, os sistemas baseados no venturi e as bombas injetoras de pistão e diafragma são os mais usados na injeção de fertilizantes nitrogenados (Moreira & Stone, 1994). O processo de calibração, quando se usa venturi, é feito determinando-se a vazão derivada, que é uma parte da vazão total que passa pelo tanque de solução. A determinação dessa vazão é feita instalando-se um hidrômetro na mangueira entre o ponto de tomada de água na tubulação de irrigação e o tanque de solução. Após a determinação da vazão derivada, é feita a calibração, isto é, a vazão derivada é ajustada à taxa de aplicação do produto determinada antecipadamente.
Por exemplo, deseja-se aplicar uma solução de agroquímico a uma taxa de 20 L em 10 minutos. Com o sistema em funcionamento e o tanque com água, mede-se o tempo gasto para passar os 20 litros pelo hidrômetro; se o tempo for menor que os 10 minutos necessários, é sinal de que o registro está muito aberto e deve ser fechado um pouco. Se maior, está muito fechado e deve ser aberto um pouco mais. Este procedimento deve ser repetido até obter a vazão desejada de 20 litros em 10 minutos. Na ausência de um hidrômetro, pode-se utilizar o cilindro graduado e coletar a vazão derivada em um tempo preestabelecido, ou determinar o tempo de uma vazão preestabelecida. Em ambos os casos, deve-se utilizar a unidade de litros por minuto (L/min) (Moreira & Stone, 1994).
As bombas injetoras de pistão são bastante apropriadas para a injeção de fertilizantes nitrogenados. Nesse equipamento, a taxa de injeção do produto químico é determinada pelo número de golpes dados por um pistão de determinado comprimento e diâmetro. Normalmente, a relação taxa de injeção por número de golpes é fornecida pelo fabricante através de catálogos, o que não deve impedir que se faça uma nova calibração a cada aplicação, uma vez que os valores dessa relação estão sujeitos a variações resultantes de alterações na pressão diferencial a que o injetor é submetido.
O procedimento de calibração é o seguinte (Moreira & Stone, 1994): com a bomba instalada e o sistema de irrigação em funcionamento, abre-se lentamente o registro de entrada de água localizado na parte inferior da bomba. A bomba imediatamente entra em funcionamento. Ligado à bomba, um contador registra o número de golpes do pistão. A cada movimento do pistão, a bomba injeta determinada vazão, que deve ser medida por meio de um cilindro graduado. Como a quantidade de produto por área é calculada antecipadamente, ajusta-se o funcionamento da bomba injetora a esses valores. Isto é feito mediante a abertura do registro de água, que regula a freqüência dos golpes, que normalmente são de um a doze por minuto, o que corresponde a aproximadamente a 30 a 360 L/h de solução.
Em seguida, são apresentados procedimentos de calibração para sistemas de irrigação por laterais portáteis, pivô central e gotejamento, extraidos de Moreira & Stone (1994).

Sistema de aspersão por laterais portáteis (convencional)

(a). Determinar a área irrigada por uma linha lateral. Multiplicar o espaçamento entre laterais ao longo da linha principal pelo comprimento da lateral. Se mais de uma linha lateral funciona simultaneamente, multiplicar também pelo número de laterais.
Exemplo:

6 laterais com 240 m de comprimento cada, espaçadas entre si de 6 m. (240m x 6m x 6) / (10.000m2/ha) = 0,86 ha.


(b). Determinar a quantidade necessária do produto químico por hectare (especificação do produto).
Exemplo:

Dose de 4 L/ha.

(c). Determinar a quantidade total de produto químico necessária, multiplicando-se a área irrigada pela quantidade do produto por hectare: 0,86 ha x 4 L/ha = 3,44 L do produto.
(d). Determinar a quantidade de água a ser aplicada durante a irrigação de uma lateral (calculada na elaboração do projeto de irrigação).
Exemplo:

28 mm de água devem ser aplicados na irrigação de uma lateral.

(e). Determinar a taxa de aplicação de água do sistema de irrigação (obtida de tabelas, em função das características do aspersor em uso).
Exemplo:

De acordo com a tabela de aspersores, a taxa de aplicação de água será de 7mm/h.

(f). Determinar o tempo de irrigação, dividindo-se a quantidade de água a ser aplicada (item 4) pela taxa de aplicação de água (item 5): (28 mm) / (7mm/h) = 4 h de irrigação.
Recomenda-se que alguns produtos, como herbicidas, sejam aplicados durante a primeira metade do tempo de irrigação, ou durante as primeiras duas horas.
(g). Encher parcialmente o tanque de solução com água, deixando espaço suficiente para a adição do produto químico. Acionar o agitador do tanque e adicionar o produto.
Exemplo:

Para um tanque de 50 L, adicionar aproximadamente 46,5 L de água, ligar o agitador e adicionar os 3,44 L do produto para completar o volume total.

(h). Determinar a taxa de injeção, dividindo o total de litros no tanque (item 7) pelo tempo, em horas, requerido para aplicar o produto (item 6):

50 L/2 h = 25 L/h.

(i). Ajustar a taxa de injeção da bomba para 25 L/h, para assegurar a aplicação correta do produto químico.
(j). Se a solução for aplicada no final do tempo de irrigação, deixar o sistema de irrigação em funcionamento por tempo suficiente, após o término da injeção, para assegurar que a solução foi completamente removida do sistema.

Pivô central

(a). Determinar a área irrigada pelo pivô central. O cálculo é:

onde A é área irrigada (ha) e r é o raio máximo molhado (m).

Exemplo:

Se r = 280 m

(b). Determinar a quantidade total de produto químico a ser aplicado, multiplicando-se a área irrigada pela quantidade de produto por hectare.
Exemplo:

Supondo-se uma dose recomendada para o produto de 3 L/ha, tem-se:
Volume = 24,6 ha x 3 L/ha = 73,8 L do produto, a serem injetados.

(c). Encher parcialmente o tanque de solução com água e deixar espaço suficiente para a adição do produto químico. Acionar o agitador do tanque e adicionar o produto.
Exemplo:

Num tanque de 200 L, adicionar aproximadamente 126 L de água, ligar o agitador e adicionar os 73,8 L do produto, para completar o volume total.

(d). Determinar a velocidade de deslocamento do pivô central. A velocidade rotacional do pivô é dada geralmente em metros por minuto.
Exemplo:

Distância percorrida em 10 minutos = 200 metros.
(e). Determinar o tempo de uma revolução completa do pivô central. A circunferência e a velocidade rotacional do pivô são necessárias nesse cálculo. A circunferência (C) é calculada pela fórmula:

onde r é o raio medido do centro até a ultima torre do pivô (m).
Exemplo:

Raio do pivô = 250 metros
O tempo de revolução é calculado dividindo-se a circunferência pela velocidade de deslocamento do pivô:

(f). Determinar a taxa de aplicação/injeção do produto, que é obtida dividindo-se a quantidade de solução necessária para a quimigação (item 3) pelo tempo de revolução do pivô (item 5):


(g). Ajustar a taxa de injeção da bomba injetora para 15,3 L/h, para assegurar a correta aplicação do produto.
(h). Deixar o pivô central em operação por tempo suficiente (normalmente em torno de 5 minutos) após o término da injeção, para assegurar que a solução foi completamente removida do sistema de irrigação.





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