sábado, 17 de dezembro de 2016

Mecanização no Amendoim

Equipamentos para a colheita mecanizada do amendoim

Como o amendoim forma suas vagens abaixo da superfície do solo, a colheita necessita de um maior número de operações quando comparadas as demais grandes culturas em que geralmente é feita uma única operação. No Brasil a colheita totalmente mecanizada é utilizada apenas nas lavouras do Estado de São Paulo, onde os produtores são mais tecnificados. Nos estados produtores do Nordeste, a maior parte do amendoim produzido é proveniente de pequenos produtores com pouco uso da mecanização, principalmente na colheita.
Arranquio, enleiramento, cura e recolhimento das vagens feitos manualmente ou de forma semimecanizada
Os pequenos produtores, na maioria das situações, fazem o arranquio e despencamento manuais. Entretanto, atualmente existem alguns equipamentos disponíveis para auxiliar os pequenos produtores no arranquio. A Embrapa Algodão avaliou diversas enxadas acopladas a um implemento à tração animal, com a finalidade de auxiliar no arranquio do amendoim (SILVA et al., 1999a). O implemento consiste em uma armação de um pequeno arado, o qual se acopla uma enxada do tipo facão ou aiveca, para efetuar o arranquio do amendoim. Este equipamento reduz a mão de obra necessária para o arranquio de 12 dias/homem para 2 dias/homem. Em estudo feito por Silva et al. (1999a) com vários tipos de enxadas, verificaram que o arrancador com enxada tipo facão e asa de andorinha foram os que demandaram menor força, potência e energia para a operação de afofamento da terra, para o arranquio das plantas de amendoim e consequentemente demandaram menores custos. O arrancador com a enxada do tipo facão foi o único tratamento que não alterou a configuração das fileiras de plantas de amendoim.
Assim, o arranquio do amendoim feito pelos pequenos produtores pode ser feito de forma totalmente manual ou com o auxílio de um equipamento dotado de uma lâmina à tração animal ou mecânica, a qual tem a finalidade de cortar as raízes previamente ao arranquio, fazendo também um afrouxamento do solo, o que proporciona redução das perdas (GODOY et al., 1984). Alguns produtores têm utilizado um implemento tracionado por trator, que possui duas lâminas cortantes em forma de V aberto que cortam quatro linhas por vez.
Após o arranquio é feito o enleiramento manual, amontoando as plantas em fileiras com as vagens para cima, de maneira a favorecer o processo de cura ou secagem em condições de campo. Após o processo de cura e secagem, faz-se a retirada das vagens ou despencamento, o qual pode ser efetuado manualmente batendo-se um feixe de amendoim seco contra a borda de um balaio de bambu ou com auxílio de trilhadeiras estacionárias. Em seguida, as vagens do amendoim são peneiradas, ensacadas e, conforme o grau de umidade, continuam a secar em terreiro.
Arranquio, enleiramento, cura e recolhimento das vagens mecanizados
Atualmente, os produtores mais tecnificados vêm utilizando a colheita mecanizada em todas as etapas do processo de colheita, o que tem ocasionado redução da necessidade de mão de obra, diminuindo significativamente o custo de produção, além de aumentar significativamente o rendimento operacional e proporcionar melhora na qualidade do produto, uma vez que a operação é mais rápida, reduzindo o tempo que o produto fica exposto às intempéries do clima no campo. Na colheita mecanizada, a operação de colheita do amendoim inicia-se com o arranquio e enleiramento, passando pelo processo de cura em condições de campo e finalizando com o recolhimento das vagens.
Para o arranquio e enleiramento são utilizados os equipamentos denominados de arrancadores-invertedores, que fazem as duas operações simultaneamente (Figura 1). Este equipamento possui lâminas cortadoras em forma de “V”, onde atrás de cada lâmina existem diversas hastes. Em seguida às hastes, a máquina apresenta uma esteira elevadora das plantas acionada pela tomada de potência do trator (TDP). O arranquio ocorre com as lâminas cortadoras penetrando no solo a uma profundidade de aproximadamente 5 cm abaixo das vagens da planta com a finalidade de cortar as raízes e proporcionar o afofamento do solo ao redor das vagens. As hastes contidas na parte posterior das lâminas conduzem as plantas com as vagens e o solo para a esteira elevadora que, dotada de movimento, separa o solo das plantas. Estas são conduzidas até a parte superior da esteira e caem sobre um dispositivo que realiza o enleiramento das plantas na superfície do solo, deixando as plantas voltadas para cima (SILVA et al., 2009).
Foto: Raimundo Estrela Sobrinho
Figura 1. Representação esquemática de um arrancador-enleirador de amendoim.
Após a secagem ao sol ou cura, é feito o recolhimento e despencamento das vagens mecanizado (Figura 2). O equipamento utilizado com esta finalidade é acoplado na barra de tração do trator e acionado pela tomada de potência. Na parte dianteira existe uma plataforma recolhedora que recolhe as plantas enleiradas do solo por meio de dedos com molas e as conduz a uma esteira elevadora, a qual por sua vez, conduz as plantas para o mecanismo de batimento ou despencamento constituído pelo cilindro batedor e pelo côncavo (SILVA et al., 2009). O cilindro batedor trabalha a baixas rotações, normalmente de 400 rpm a 600 rpm, e o côncavo é constituído de uma tela perfurada em formato de um losango onde ocorre a separação das vagens das demais partes da planta. Após a separação, as vagens passam por um sistema de limpeza composto por peneiras vibratórias e ar, de maneira semelhante às colhedoras de grãos e cereais, sendo que, em seguida, as vagens são conduzidas a uma caçamba graneleira própria onde são armazenadas ou podem ser ensacadas com auxílio de um operador. Atualmente, a maioria dos equipamentos de recolhimento possui uma caçamba basculante para armazenamento do amendoim em vagem e para o esvaziamento da mesma; cilindros hidráulicos externos acionados pelo trator levantam a caçamba e fazem o descarregamento nos veículos utilizados no transporte.
Fotos: Odilon R.R.F. Silva
Figura 2. Equipamentos utilizados no recolhimento e despencamento do amendoim em sistema totalmente mecanizado.
Quando a colheita mecanizada é feita com recolhedoras que fazem o armazenamento das vagens de amendoim a granel, a produção é transportada por meio de carretas graneleiras ou transbordos tracionados por trator. Por sua vez, quando a recolhedora utilizada faz o ensaque, o amendoim em vagem ensacado fica distribuído no campo, e se utilizam carregadeiras usadas para colheita de cana-de-açúcar para o carregamento dos sacos em caminhões que transportam do campo até as unidades de recebimento ou armazenamento (BOLONHEZI et al., 2005).
Quando o processo de “cura” ou secagem natural no campo não é suficiente para que as vagens atinjam a umidade adequada de armazenamento, é necessária a secagem artificial. Dessa forma, o amendoim em vagem é recebido na unidade de armazenamento, onde é feita a pré-limpeza com a finalidade de eliminação de resíduos mais grosseiros, como terra, pedras e pedaços de plantas, e o mesmo é destinado à secagem artificial. A secagem normalmente é feita em “carretas secadoras”, as quais apresentam um fundo falso perfurado, para insuflação de ar previamente aquecido. O aquecimento do ar de secagem proporciona a redução da umidade relativa e, por isso, ao atravessar a massa de vagens na carreta, ocorre a secagem das vagens.
Máquinas para descascamento do amendoim
O descascamento do amendoim pode ser feito manualmente ou com equipamentos de acionamento manual ou totalmente mecanizado. O descascamento manual é extremamente demorado, requerendo elevada quantidade de mão de obra. Assim, as formas predominantes de descascamento utilizadas pelos pequenos produtores são por meio de pequenas máquinas de acionamento manual ou motorizado, e os grandes produtores utilizam máquinas de grande porte motorizadas.
A Embrapa Algodão desenvolveu alguns equipamentos visando a aumentar a capacidade de trabalho do pequeno produtor rural e reduzir os custos, principalmente da operação de descascamento do amendoim (SILVA et al., 1999b). O equipamento de descascamento possui um chassi feito com cantoneiras de ferro para sustentação do mecanismo descascador, o qual é composto de um côncavo, confeccionado com barras chatas e redondas de ferro, que formam uma tela curva e um semicilindro formado por barras chatas de ferro dotadas de fileiras de grampo galvanizado de cerca, com a função de promover a quebra das vagens, sendo este acionado por uma alavanca manual (Figura3). O descascamento ocorre pela fricção das vagens no côncavo, provocada pelo movimento alternado semicircular do semicilindro, induzindo à quebra das cascas das vagens, e estas, juntamente com as sementes, fluem através das malhas do côncavo, caindo sobre uma lona de pano ou de plástico. A alimentação é feita por um operador, que coloca as vagens de forma contínua e uniforme, em uma espécie de moega, que é continuação do côncavo. Por se tratar de um equipamento simples, o mesmo não dispõe de dispositivo de separação da casca das sementes, necessitando, assim, que esta operação seja feita de forma manual, com o auxílio de uma peneira e do vento para a abanação e, consequentemente, da limpeza dos grãos. Em testes de avaliação, o equipamento apresentou capacidade operacional média de 83 a 113 kg/hora de trabalho efetivo, com eficiência de descascamento entre 95% a 96% e quebra das sementes abaixo de 6%, dependendo das condições de umidade das vagens do amendoim.
A partir do equipamento de acionamento manual, a Embrapa Algodão também desenvolveu um equipamento com o mesmo princípio de funcionamento com acionamento motorizado. Entretanto, o equipamento com acionamento motorizado possui um sistema de separação das cascas dos grãos, o qual é feito por meio de um ventilador exaustor que succiona o ar na parte de baixo do côncavo, e, como as cascas são mais leves que os grãos, succiona as mesmas e ocorre a remoção.
Foto: Odilon R.R.F. Silva
Figura 3. Equipamento de descascamento do amendoim de acionamento manual.
As máquinas de grande porte utilizadas em unidades de beneficiamento são constituídas basicamente por dois sistemas, sendo um de descascamento ou batimento e outro de separação e limpeza (Figura 4A). O sistema de descascamento é constituído de um cilindro batedor de barras e um côncavo em forma de peneira (Figura 4B). A ação do cilindro sobre as vagens quebra as mesmas e faz com que tanto as sementes como os fragmentos de vagens (cascas) atravessem a peneira do côncavo. Em seguida, as cascas são separadas das sementes por meio da força do ar produzido por um ventilador. As sementes por apresentarem peso maior que as cascas não são carregadas pelo ar e são conduzidas para outro mecanismo de separação e limpeza ou então ensacadas.
Foto: Valdinei Sofiatti
Figura 4. Equipamento utilizado no descascamento do amendoim (A) e mecanismo de descascamento do equipamento constituído por cilindro e côncavo (B).







terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Manejo de plantas daninhas na Cultura do Amendoim


Manejo de plantas daninhas

O manejo integrado de plantas daninhas na cultura do amendoim deve visar não somente a maior produtividade da cultura, mas também a conservação do solo e a preservação do seu potencial produtivo. Nem sempre a eliminação total das plantas daninhas significa o lucro máximo, pois o investimento requerido para altos percentuais de controle pode trazer menor retorno. Por isso, deve-se analisar caso por caso a relação custo de controle versus benefício. Além disso, a presença de plantas daninhas no momento da colheita dificulta o arranquio e inversão das plantas, a secagem/cura do amendoim no campo, o que pode ocasionar a contaminação por aflatoxinas. Os principais métodos de controle de plantas daninhas são descritos a seguir.

Controle cultural

Respeitadas as exigências culturais de cada cultivar, recomenda-se buscar o mais rápido fechamento das entrelinhas, para possibilitar maior sombreamento do solo reduzindo o crescimento das plantas daninhas. A rotação de culturas também deve ser uma prática adotada, pois além de suas múltiplas vantagens, impede a seleção natural de certas espécies de plantas daninhas, que são controladas pela aplicação de herbicidas nas culturas de rotação. Vale ressaltar que o controle cultural apenas reduz a incidência de plantas daninhas e deve ser utilizado juntamente com outros métodos de controle para que a produtividade da cultura não seja prejudicada.

Controle mecânico

O controle mecânico das plantas daninhas pode ser feito com uso de enxada ou cultivador à tração animal ou mecânica na entrelinha da cultura. Quando se utiliza o cultivador na entrelinha da cultura, normalmente é necessário o retoque com enxada para eliminação das plantas daninhas dentro das linhas de plantio. Quando se utiliza o cultivador mecânico, usam-se preferencialmente ponteiros do tipo “asa-de-andorinha”, pois, esse modelo apresenta a vantagem de efetuar uma capina superficial, sem remover grande quantidade de solo, e sem formar sulcos profundos nas entrelinhas, evitando-se danos ao sistema radicular da cultura. Para que não ocorra redução na produtividade da cultura, é necessário mantê-la sem a interferência das plantas daninhas no período compreendido entre 10 e 60 dias após a emergência, dependendo da cultivar e das espécies infestantes.

Controle químico

Atualmente o controle químico das plantas daninhas é o método mais utilizado principalmente entre os médios e grandes produtores. Quando empregados corretamente, respondem com eficiência e segurança aos objetivos visados. Caso contrário, poderão causar sérios prejuízos não somente à cultura, como também ao homem e ao meio ambiente. Para se obter máxima eficiência com o controle químico de plantas daninhas, é fundamental que o equipamento de aplicação esteja em perfeitas condições de uso, sem vazamentos, com bicos apresentando vazão uniforme, além de estar adequadamente regulado e calibrado.
Os herbicidas utilizados na cultura do amendoim podem ser aplicados nas modalidades de aplicação descritas abaixo.
OBS: Para o uso de Herbicidas, devem procurar o Agrônomo da região.

Herbicida de pré-plantio incorporado (PPI)
Os herbicidas de pré-plantio incorporado são aplicados antes da semeadura do amendoim, pois são produtos que, por suas características físico-químicas, necessitam ser incorporados mecanicamente ao solo, evitando-se, com isso, redução em sua eficiência agronômica. A incorporação deverá ser realizada logo após a aplicação, usando-se grade niveladora de discos, regulada para trabalhar numa profundidade de 10 cm a 15 cm.
Herbicidas de pré-emergência (PRÉ)
Os herbicidas de pré-emergência são aqueles aplicados após a semeadura do amendoim. Por ocasião da aplicação, o solo deve apresentar-se com umidade e destorroado, para que ocorra uma perfeita distribuição do herbicida na sua superfície. Para proporcionar um controle eficiente das plantas daninhas com herbicidas residuais de solo que não apresentam atividade em pós-emergência, recomenda-se efetuar a semeadura, seguida da aplicação dos produtos, imediatamente após a última gradagem, evitando a emergência das plantas daninhas antes da aplicação do herbicida.
Herbicidas de pós-emergência (PÓS)
Uma característica importante desses herbicidas é a sua seletividade à cultura, pois a aplicação é realizada após a emergência das plantas daninhas e da cultura. Para obtenção de melhores resultados, é necessária a observação de alguns fatores importantes, tais como as condições climáticas por ocasião da aplicação e o estágio de desenvolvimento das plantas daninhas.
Em condições de estresse biológico das plantas daninhas, deve-se evitar a aplicação de herbicidas de pós-emergência, pelo fato das mesmas não se encontrarem em plena atividade fisiológica e, assim, a atuação do herbicida pode ficar prejudicada. Os estágios iniciais de desenvolvimento das plantas daninhas (entre duas e quatro folhas) são os mais susceptíveis à ação dos herbicidas de pós-emergência e, portanto, devem ser as épocas preferenciais de aplicação (Figura 1).
Foto: Taís de Moraes Falleiro Suassuna
Figura 1. Controle de plantas daninhas com herbicida pós-emergente, em lavoura de amendoim. Mogeiro, PB., 2008.
Manejo da resistência de plantas daninhas a herbicidas
O uso continuado de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação pode contribuir para o aumento de população de plantas daninhas a ele resistentes. Como prática de manejo e resistência de plantas daninhas, deverão ser aplicados herbicidas com diferentes mecanismos de ação, devidamente registrados para a cultura. Não havendo produtos alternativos, recomenda-se a rotação de culturas que possibilite o uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação.





quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Doenças do Amendoim

Doenças

O amendoim é afetado por várias doenças que podem reduzir a produção, caso medidas de controle não sejam implementadas em tempo hábil. Aqui são fornecidas algumas informações necessárias ao reconhecimento das principais doenças de origem biótica associadas à cultura do amendoim no Brasil, assim como formas de manejá-las, visando a um controle mais racional e eficaz.
Mancha-castanha
A mancha-castanha é uma das doenças mais importantes da cultura do amendoim no Brasil. A mancha-castanha pode reduzir a produtividade da cultura em até 50%, como resultado da desfolha precoce provocada principalmente em cultivares suscetíveis plantadas em regiões onde as condições ambientais são favoráveis ao desenvolvimento de epidemias. É causada pelo fungo Passalora arachidicola (teleomorfo: Mycosphaerella arachidi), que é transportado pelo vento e sobrevive em restos de culturas do ano anterior, e cujo desenvolvimento é favorecido por alta umidade relativa do ar e temperaturas entre 20 oC a 24 oC. Os sintomas da doença são lesões nas folhas de cor castanha, com bordos irregulares e circundadas por um halo de coloração amarelada (Figuras 1 e 2). Os primeiros sintomas da doença são visíveis por volta dos 40 dias após o plantio, sendo, geralmente, a primeira doença que ocorre na cultura. O manejo da doença é realizado principalmente por meio de rotação de culturas, utilização de cultivares com algum nível de resistência à doença, e uso de fungicidas no tratamento de sementes ou por meio de pulverizações na parte aérea da planta de amendoim.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 1. Detalhe dos sintomas avançados de mancha-castanha (lesões com halos amarelados) em folíolos de amendoim.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 2. Sintomas de mancha-castanha em folíolos de amendoim.
Pinta-preta
A pinta preta, assim como a mancha castanha, é uma das doenças mais importantes da cultura do amendoim. Essa doença reduz a área foliar e provoca a queda prematura das folhas, podendo causar perdas totais. Mais tardia e mais agressiva que a mancha castanha, a pinta preta é causada pelo fungo Passalora personata (teleomorfo:Mycosphaerella berkeley), que, assim como a agente causal da mancha castanha, pode ser transportado pelo vento e sobreviver em restos de culturas do ano anterior, sendo favorecido por alta umidade do ar e temperaturas entre 20 oC a 24 oC. Os sintomas da doença são lesões escuras bem definidas e halo amarelado na face superior (menor do que o observado na mancha castanha – Figura 3) ou indistinto (Figura 4), podendo ocorrer lesões também em outras partes da planta. Ocorre intensa esporulação do patógeno na face inferior da folha (Figuras 5 e 6). O manejo da doença é feito por meio de rotação de culturas, utilização de cultivares com algum nível de resistência à doença, e uso de fungicidas no tratamento de sementes ou por meio de pulverizações na parte aérea da planta. Existe variação genética em genótipos de amendoim (Figuras 7 e 8), sendo a escolha de cultivares com maiores níveis de resistência uma das principais táticas no manejo da doença. As cultivares IAC Caiapó, IAC 503 e IAC 505 possuem boa resistência genética.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 3. Sintomas de pinta-preta (várias lesões com halo de menor intensidade) em folíolos de amendoim.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 4. Sintomas avançados de pinta-preta (com halo indistinto) na face superior de folíolo de amendoim.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 5. Sintomas de pinta-preta na face inferior de folíolos de amendoim.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 6. Detalhe de intensa esporulação dePassalora personata na face inferior de folíolo de amendoim.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 7. Diferentes níveis de resistência à pinta-preta de linhagens de amendoim: suscetível (D), intermediária (C) e resistente (E).
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 8. Linhagem de amendoim extremamente suscetível (D) e resistente (E) à pinta-preta.
Ferrugem
O principal dano causado pela ferrugem é a redução da área foliar em plantas de amendoim. Ao contrário da mancha-castanha e da pinta-preta, a ferrugem não causa a queda das folhas, porém, o agente causal da doença se dispersa mais rápido do que os agentes causais da mancha-castanha e pinta-preta. A ferrugem é causada pelo fungo Puccinia arachidis, que pode ser transportado pelo vento e sobreviver em plantas voluntárias. Ao contrário dos agentes causais da mancha-castanha e da pinta-preta, o agente causador da ferrugem sobrevive em restos de culturas apenas por poucos dias e necessita de umidade do ar e temperaturas elevadas (entre 20 oC e 30 oC) para se desenvolver. Os sintomas iniciais da doença são pequenos pontos amarelados na face superior da folha (Figura 9), com correspondentes pontos de coloração amarela mais escura na face inferior (Figura 10). Com a maturidade, esses pontos passam da cor amarelada para marrom avermelhada, lembrando uma superfície enferrujada (Figura 11). O manejo da doença pode ser implementado por meio de rotação de culturas, uso de cultivares com algum grau de resistência à doença e pulverizações com fungicidas na parte aérea da planta).
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 9. Sintomas iniciais de ferrugem na face superior de folíolos de amendoim.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 10. Sintomas iniciais de ferrugem na face inferior de folíolos de amendoim.
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 11. Sintomas avançados de ferrugem na face superior de folíolos de amendoim.
Verrugose
Essa doença causa a seca das plantas e redução de produtividade, podendo se tornar um problema fitossanitário sério, com maiores perdas, quando ocorre nos estágios iniciais da cultura. A verrugose é causada pelo fungo Sphaceloma arachidis, que pode sobreviver de um ano para o outro em plantas oriundas de sementes deixadas durante a colheita ou restos de culturas do ano anterior. É mais comum quando ocorre ataque por tripes. Os principais sintomas dessa doença são cancros ou verrugas, que ocorrem na parte aérea da planta (Figura 12), principalmente na haste (Figuras 13 e 14), nas nervuras e folhas (Figuras 15 e 16), causando deformações na planta (Figura 17). A verrugose pode ser manejada por meio de rotação de culturas, controle da população de tripes na lavoura de amendoim e por meio de pulverizações de fungicidas na parte aérea da planta.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 12. Planta de amendoim com sintomas de verrugose.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 13. Sintomas iniciais de verrugose na haste principal de planta de amendoim.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 14. Sintomas avançados de verrugose na haste principal de planta de amendoim.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 15. Verrugose em folíolos e na haste de amendoim.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 16. Verrugose na haste principal, nervuras e folíolos de amendoim.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 17. Deformação de plantas de amendoim com verrugose.
Mancha em “V”
Essa doença reduz a área foliar de plantas de amendoim, principalmente no início do ciclo da cultura. A mancha em “V” é causada pelo fungo Leptosphaerulina crassiasca, que sobrevive de um ano para outro em plantas deixadas durante a colheita ou em restos de culturas do ano anterior, sendo o seu desenvolvimento favorecido por alta umidade relativa do ar e temperaturas entre 20 oC e 30 oC. Os sintomas da doença são manchas a partir do ápice em forma de “V”, com o vértice voltado para base da folha, circundado por um halo amarelado (Figuras 18 e 19). A mancha em “V” pode ser manejada por meio da rotação de culturas e eliminação de restos de culturas e plantas voluntárias.
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 18. Sintomas iniciais de mancha em “V” em folíolos de amendoim.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 19. Sintomas avançados de mancha em “V” em folíolos de amendoim.
Mofo-branco
Em algumas regiões produtoras de amendoim, é considerada a principal doença da cultura, responsável por perdas acima de 50%. Um complicador dessa doença é o fato de seu agente causal, Sclerotinia sclerotiorum, causar doença em uma gama diversificada de hospedeiros, o que torna muito difícil o manejo por meio de práticas culturais, como rotação de culturas, muito utilizadas no manejo de outras doenças que acometem a planta de amendoim. O fato de esse fungo produzir estruturas de resistência (escleródios) que podem sobreviver no solo por períodos superiores a 10 anos é outro agravante. O fungo causador da doença é favorecido por alta umidade relativa do ar e temperaturas entre 18 oC e 20 oC. Os principais sintomas da doença são lesões em todas as partes da planta de amendoim com crescimento de um micélio branco sobre as lesões, podendo, em estágios mais avançados da doença, ser observados escleródios sobre os tecidos afetados da planta.
Murcha de Sclerotium
Assim como o mofo-branco, a murcha de Sclerotium é um problema fitossanitário de difícil manejo. O agente causal da doença, Sclerotium rolfsii, também causa doença em um grande número de espécies cultivadas, e, semelhante ao fungo causador do mofo-branco, produz estruturas de resistência (escleródios) que podem se manter viáveis no solo por longos períodos de tempo, o que dificulta a utilização de práticas culturais, como a rotação de culturas, no manejo da doença. O desenvolvimento de S. rolfsii é favorecido por altas umidades relativas e temperaturas entre 25 oC e 30 oC. A doença é caracterizada por podridões, geralmente no colo da planta, com crescimento de micélio branco sobre as lesões. As hastes afetadas ou toda a planta desenvolvem murcha (Figura 20) e em seguida secam. Em estágios avançados da doença, pode ocorrer o desenvolvimento de escleródios inicialmente brancos e posteriormente escuros sobre as lesões.
Foto: Nelson Dias Suassuna
Figura 20. Planta de amendoim sadia (D) e com sintomas de murcha (E) por causa do ataque de Sclerotion rolfsii.
Podridão de Rhizoctonia
É o principal problema em pré e pós-emergência de plântulas de amendoim. Essa doença é causada pelo fungo Rhizoctonia solani, que é favorecido por alta umidade do solo e temperaturas amenas. Os principais sintomas são lesões de coloração marrom-escura no colo da planta, abaixo da superfície do solo. O agente causal da doença pode sobreviver no solo na forma de estruturas de resistência (escleródios) ou matéria orgânica, podendo ser disperso para outras áreas de cultivo por meio de sementes contaminadas. O manejo da doença pode ser realizado por meio de tratamento de sementes com fungicidas .
Mancha-barrenta
É uma doença de importância secundária que pode ocorrer no terço final de ciclo de cultivo do amendoim, reduzindo a área foliar da planta neste estágio vegetativo. A mancha-barrenta é causada pelo fungo Phoma arachidicola, que sobrevive em restos de culturas, e pode ser disperso pelo vento e por respingos de chuva. O desenvolvimento do agente causal da mancha-barrenta é favorecido por alta umidade relativa do ar e temperaturas entre 20 oC e 24 oC. Os principais sintomas da doença são pequenas manchas pardas irregulares nos folíolos da planta, inicialmente de coloração mais clara (Figuras 21 e 22) que podem coalecer, tornando-se escurecidas (Figura 23). Os folíolos afetados aparentam estar sujo de barro, o que originou o nome da doença. A doença pode ser controlada por meio de rotação de culturas e aplicações de fungicidas na parte aérea da planta. Geralmente os fungicidas utilizados no controle da mancha-castanha e da pinta-preta também são eficazes no controle da mancha-barrenta.
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 21. Sintomas iniciais de mancha-barrenta em folíolos de amendoim.
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 22. Sintomas iniciais de mancha-barrenta em folíolos de amendoim.
Foto: Taís de Moraes Falleiro Suassuna
Figura 23. Sintomas avançados de mancha-barrenta em folíolos de amendoim.

Tabela 1. Fungicidas químicos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o controle da mancha-castanha (1), causada por Passalora arachidicola, pinta-preta (2), causada por Passalora personata, ferrugem (3), causada por Pucccinia arachidis, verrugose (4), causada por Sphaceloma arachidis, podridão de Rhizoctonia (8), causada por Rhizoctonia solani, e mancha-barrenta (9), causada por Phoma arachidicola.
Doença Produto comercial Ingrediente ativo (grupo químico) Dose do produto comercial
Intervalo Unidade
1,2 Abacus epoxiconazole (triazol) + piraclostrobina (estrobirulina) 0,25 0,3 L/ha
1,4 Agrinose oxicloreto de cobre (inorgânico) 4,5 6,0 kg/ha
1,2 Amistar WG azoxistrobina (estrobilurina) 80 120 g/ha
1,2,4,9 Bravonil 500 clorotalonil (isoftalonitrila) 2,5 3,5 L/ha
1,2 Bravonil 720 clorotalonil (isoftalonitrila) 1,5 2,0 L/ha
1,2,4,9 Bravonil 750 WP clorotalonil (isoftalonitrila) 1,5 2,0 kg/ha
8 Captan 750 TS captana (dicarboximida) - 200 g/kg de sementes
1,2 Caramba 90 metconazol (triazol) 0,5 0,75 L/ha
2,4 Cerconil SC clorotalonil (isoftalonitrila)+tiofanato metílico (benzimidazol) - 2,5 L/ha
1,2,4 Cobox oxicloreto de cobre (inorgânico) 2,0 2,5 kg/ha
1,2,4 Cobre Atar BR óxido cuproso (inorgânico) 1,0 2,0 kg/ha
1,2,4 Cobre Atar MZ óxido cuproso (inorgânico) 1,0 2,0 kg/ha
1,2 Comet piraclostrobina (estrobilurina) - 0,6 L/ha
1 Condor 200 SC bromuconazol (triazol) - 750 mL/ha
1,2 Constant tebuconazol (triazol) - 0,5 L/ha
1,2,4 Contact hidróxido de cobre (inorgânico) 2,0 3,0 kg/ha
1,4 Cupravit Azul BR oxicloreto de cobre (inorgânico) 3,0 4,0 kg/ha
1,2 Cuprogarb 500 oxicloreto de cobre (inorgânico) 2,0 2,5 kg/ha
1,2,4,9 Cuprozeb mancozebe (alquilenobis (ditiocarbamato)+ oxicloreto de cobre (inorgânico) - 200 g/100 L
1,2,4 CUP001 oxicloreto de cobre (inorgânico) 2,0 2,5 kg/ha
1,2,4,9 Daconil 500 clorotalonol (isoftalonitrila) 2,5 3,0 L/ha
1,4 Dacostar 500 clorotalonil (isoftalonitrila) 2,5 3,5 L/ha
1,4,9 Dacostar 750 clorotalonil (isoftalonitrila) 1,7 2,4 kg/ha
1 Dithane NT mancozebe (alquilenobis (ditiocarbamato) - 2,0 kg/ha
1 Echo clorotalonil (isoftalonitrila) 1,5 2,0 L/ha
1 Echo WG clorotalonil (isoftalonitrila) 1,25 1,5 kg/ha
1,2 Elite tebuconazol (triazol) - 0,5 L/ha
1,2 Envoy epoxiconazol (triazol) + piraclostrobina (estrobilurina) - 0,6 L/ha
1,2,4 Flare difeconazol (triazol) - 0,35 L/ha
1,2 Folicur PM tebuconazol (triazol) - 0,5 kg/ha
1,2 Folicur 200 EC tebuconazol (triazol) - 0,5 L/ha
2,4 Fungitol Verde oxicloreto de cobre (inorgânico) - 220 g/100 L
1,2,4 Garant hidróxido de cobre (inorgânico) 2,0 3,0 kg/ha
1,2,4 Garant BR hidróxido de cobre (inorgânico) 2,0 3,0 kg/ha
1 Icarus 250 EC tebuconazol (triazol) - 400 mL/ha
1,2 Ichiban clorotalonil (isoftalonitrila) 1,5 2,0 L/ha
1,2 Isatalonil clorotalonil (isoftalonitrila) - 2,7 kg/ha
1,2 Isatalonil 500 SC clorotalonil (isoftalonitrila) - 2,5 L/ha
1,4,9 Mancozeb Sipcam mancozebe (alquilenobis (ditiocarbamato) 1,0 2,0 kg/ha
1 Manzate 800 mancozebe (alquilenobis (ditiocarbamato) - 2,0 kg/ha
8 Maxim fludioxonil (fenilpirrol)+metalaxil-M (acilalaninato) - 200 ml/100 kg sementes
- Maxim XL fludioxonil (fenilpirrol)+metalaxil-M (acilalaninato) - 100 ml/100 kg sementes
1,2,3 Nativo tebuconazol (triazol)+trifloxistrobina (estrobilurina) 0,6 0,75 L/ha
1,2 Opera epoxiconazol (triazol)+piraclotrobina (estrobilurina) - 0,6 L/ha
1,2 Opera Ultra metconazol (triazol)+piraclostrobina (estrobilurina) 0,5 0,6 L/ha
1,2 Pilarich clorotalonil (isoftalonitrila) 1,5 2,0 L/ha
1,2 Pladox epoxiconazol (triazol)+piraclostrobina (estrobilurina) - 0,6 L/ha
1 Pronto WG clorotalonil (isoftalonitrila) 1,25 1,5 kg/ha
1,2 Prospect epoxiconazol (triazol)+piraclostrobina (estrobilurina) - 0,6 L/ha
1,2,4 Remexane 850 PM oxicloreto de cobre (inorgânico) 2,0 2,5 kg/ha
1,2,4 Reconil oxicloreto de cobre (inorgânico) 3,0 4,0 kg/ha
1,2,4 Recop oxicloreto de cobre (inorgânico) 2,0 2,5 kg/ha
1,2,4 Score difeconazol (triazol) - 0,35 L/ha
1,2 Shake epoxiconazol (triazol)+piraclostrobina (estrobilurina) - 0,6 L/ha
8 Spectro difeconazol (triazol) - 33,4 ml/100 kg sementes
1,2 Stratego 250 EC propiconazol (triazol)+triflostrobina (estrobilurina) - 0,6 L/ha
4 Sulficamp enxofre (inorgânico) - 600 g/100 L de água
1,2 Envoy epoxiconazol (triazol) + piraclostrobina (estrobilurina) - 0,6 L/ha
7,8 Terraclor 750 WP quintozeno (cloroaromático) - 300 g/100 kg sementes
1,2,4 Tilt propiconazol (triazol) - 0,5 L/ha
1,2 Triade tebuconazol (triazol) - 0,5 L/ha
1,2,4 Vanox 500 SC clorotalonil (isoftalonitrila) 2,5 3,5 L/ha
1,2 Vantigo azoxistrobina (estrobilurina) 80 120 g/ha
7,8 Vitavax-Thiram WP carboxina (carboxanilida)+tiram (dimetilditiocarbamato) 250 400 g/100 kg sementes







quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Pragas do Amendoim


Manejo integrado de pragas

Introdução

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) se refere ao uso racional e integrado de várias táticas no contexto do ambiente em que a praga se encontra, de maneira a complementar e facilitar a ação dos agentes de controle biológico e levando-se em consideração aspectos econômicos, toxicológicos, ambientais e sociais. As táticas são as ações que devem ser implementadas para que as populações das pragas sejam mantidas abaixo dos níveis de dano econômico (nível no qual o prejuízo causado equivale ao custo de controle). Portanto, o MIP é um arcabouço de medidas que precisam ser tomadas em conjunto para o sucesso na redução dos prejuízos causados por pragas. E, portanto, não se trata necessariamente do uso integrado de diversos métodos de controle ou ferramentas de controle.
No MIP, as principais táticas são as seguintes:
  1. Reconhecimento das pragas-chave: as pragas-chave são aquelas que ocorrem com frequência e cujas populações podem superar os níveis tolerados pelos agricultores. Portanto, se referem àquelas pragas que invariavelmente causam prejuízo. Destaca-se que uma praga pode ser chave numa região, mas pode não ser em outra. Portanto, é muito importante se reconhecer as pragas que são importantes na região em que a cultura está sendo conduzida.
  2. Reconhecimento dos agentes de controle biológico: diversos organismos (insetos, ácaros, aranhas, fungos, etc.) podem contribuir para o controle das pragas. Assim, esses agentes precisam ser conhecidos e favorecidos nos agroecossistemas, pois desempenham importante papel na regulação das populações dos insetos que se alimentam das plantas (= pragas).
  3. Amostragem: a determinação da quantidade de pragas é fundamental para se verificar o tamanho da população. A amostragem pode ser realizada de diversas formas, sendo que, para o amendoim, adota-se principalmente a visualização e contagem de insetos e ácaros nas lavouras. As informações devem ser anotadas em ficha própria para acompanhamento da dinâmica das pragas e, consequentemente, verificação da necessidade de tomada de decisão de controle.
  4. Táticas de controle: as medidas de controle devem ser tomadas somente quando os níveis populacionais se aproximarem do nível de dano econômico. Em geral, o controle químico é o principal método de controle adotado na cultura do amendoim. Portanto, níveis de controle (que são níveis populacionais inferiores aos níveis de dano econômico) devem ser utilizados. O uso de variedades resistentes também é uma tática interessante de controle que está em desenvolvimento e poderá ser bastante útil ampliar o número de possibilidades de métodos-controle na cultura.

Pragas-chave do amendoim

Diversos insetos e ácaros ocorrem durante o ciclo fenológico da cultura, atacando tanto a parte subterrânea quanto a parte aérea da planta. Entretanto, nem sempre a ocorrência destes organismos na cultura representa um risco à sua produtividade, dependendo principalmente do nível populacional da praga e dos danos provocados. Na cultura do amendoim, as principais pragas que ocorrem em praticamente todas as regiões produtoras são: tripes-do-prateamento e lagarta-do-pescoço-vermelho.
Tripes-do-prateamento
Enneothrips flavens (Thysanoptera: Thripidae)
Esta é uma praga que possui preferência pela cultura do amendoim. Portanto, é bastante comum em todas as regiões produtoras. Os adultos apresentam coloração cinza com cerca de 2 mm de comprimento (Figura 1). As fêmeas podem se reproduzir por partenogênese. A postura é endofítica, ou seja, os ovos são colocados no interior do tecido vegetal dos folíolos fechados ou semiabertos. As ninfas, que apresentam coloração amarelada ou esbranquiçada vivem nos folíolos fechados, onde se alimentam. Ao final do período ninfal, os insetos empupam no solo. O ciclo de desenvolvimento é de 15 dias (Tabela 1), podendo ser mais curto sob condições de temperaturas mais elevadas.
Foto: Odair Aparecido Fernandes
Figura 1. Adulto de Enneothrips flavens em folíolo de amendoim.
Tabela 1. Ciclo de desenvolvimento do tripes-do-prateamento, Enneothrips flavens(Thysanoptera: Thripidae).
Ciclo
Estágios
Ovo
Larva
Pré-pupa
Pupa
Adulto
I
II
Duração
6 dias
2 dias
4 dias
2 dias
1 dia
-
Local de Ocorrência
Folíolos fechados ou semiabertos
Solo
Folíolos fechados ou
semiabertos

Fonte: Campos et al., 2006.
Esses insetos raspam os folíolos. Com isso, aparecem manchas prateadas nas folhas. Esta injúria causa redução na área fotossinteticamente ativa da planta e, consequentemente, pode comprometer o desenvolvimento e produção da cultura. Os folíolos atacados apresentam estrias e deformações (Figura 2). Além disso, as plantas podem estar mais predispostas a doenças foliares (ex.: verrugose). O ataque pode causar a redução de 10% a 70% na produção nas variedades de porte ereto. Em geral, o ataque é maior em períodos quentes e secos.
Foto: Taís de Moraes Falleiro Suassuna
Figura 2. Injúrias em folíolos causadas por tripes.
Lagarta-do-pescoço-vermelho
Stegasta bosquella (Lepidoptera: Gelechiidae)
Os adultos são mariposas de cor cinza-prateada com manchas douradas e apresentam 6 mm a 7 mm de envergadura (distância entre as pontas das asas). As fêmeas realizam a postura em folíolos fechados. As lagartas são esverdeadas, apresentam a cabeça escura e podem atingir 6 mm de comprimento. Os dois primeiros segmentos torácicos são avermelhados (Figura 3) e, por isso, o nome comum de lagarta-do-pescoço-vermelho. Nesta fase, os insetos alimentam-se do limbo foliar em folíolos ainda fechados (Tabela 2). Em geral, se alimentam dos folíolos jovens, ocasionando perfurações simétricas (Figura 4). Ainda, este ataque nas variedades rasteiras tem causado morte dos ponteiros e consequente redução do desenvolvimento das plantas e redução da produção.
Foto: Odair Aparecido Fernandes
Figura 3. Adulto da lagarta-do-pescoço-vermelho (Stegasta bosquella).
Tabela 2. Ciclo de desenvolvimento de Stegasta bosquella (Lepidoptera: Gelechiidae).
Ciclo
Estágios
Ovo
Lagarta
Pupa
Adulto
Duração
2-3 dias
8-15 dias
4-10 dias
6-17 dias
Local de Ocorrência
Folíolos
fechados
Folíolos fechados e galerias no interior das gemas
Solo (geralmente)
-

Fonte: Campos et al., 2006.
Foto: Taís de Moraes Falleiro Suassuna
Figura 4. Dano típico do ataque da lagarta-do-pescoço-vermelho.

Pragas secundárias

Há diversas outras pragas de importância secundária. Nas regiões de Jaboticabal e Sertãozinho, SP, destacam-se a ocorrência de surtos populacionais da lagarta-da-soja,Spodoptera spp. e algumas pragas de solo (percevejos). Todavia, há diversos outros insetos e ácaros que podem ocorrer na cultura.
Lagarta-da-soja
Anticarsia gemmatalis (Lepidoptera: Noctuidae)
Os adultos são mariposas pardo-acinzentadas com 40 mm de envergadura. As asas apresentam linha que divide o corpo ao meio e pode ser facilmente observada quando o inseto está em repouso (Figura 5). Os ovos esbranquiçados são colocados isoladamente na face inferior das folhas. As lagartas apresentam coloração esverdeada e cinco estrias brancas no dorso (Figura 6). Entretanto, elas podem apresentar outras cores. Sob altas populações, as lagartas apresentam coloração preta. Ainda, as lagartas possuem quatro pares de falsas pernas abdominais. Portanto, essas lagartas não apresentam a característica de caminhar “medindo palmo”. Ao final desta fase, podem atingir 30 mm de comprimento e empupam no solo (Tabela 3).
Foto: Raul Porfirio de Almeida
Figura 5. Adulto da lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis)
Foto: Raul Porfirio de Almeida
Figura 6. Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis).
Tabela 3. Ciclo de desenvolvimento de Anticarsia gemmatalis (Lepidoptera: Noctuidae).
Ciclo
Estágios
Ovo
Lagarta
Pupa
Adulto
Duração
3 dias
15 dias
9 dias
1-8 dias
Local de Ocorrência
Folhas
Folhas
Solo
Fêmea oviposita 500 ovos

Fonte: Campos et al., 2006.
A lagarta-da-soja se alimenta de todo o limbo foliar, causando desfolha. Com isso há comprometimento da fotossíntese e, desse modo, redução da produção de metabólitos. Essa praga ocorre sistematicamente nas regiões de Jaboticabal e Sertãozinho em surtos esporádicos, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro. Como neste período há condições propícias para a ocorrência de epizootias do fungo Nomuraea rileyi, as populações desta praga acabam sendo controladas por este agente de controle biológico (Figura 7).
Foto: Odair Aparecido Fernandes
Figura 7. Lagarta infectada pelo fungo entomopatogênico Nomuaraea rileyi.
Lagarta-marrom
Spodoptera spp. (Lepidoptera: Noctuidae)
Há diversas espécies do gênero Spodoptera, cujas lagartas podem atacar a cultura do amendoim (Figura 8). Em geral, elas ocorrem na mesma época que a lagarta-da-soja. As lagartas deste grupo apresentam coloração marrom ou preta e também causam desfolha nas plantas. Uma das espécies mais comuns na região de Jaboticabal e Sertãozinho é S. cosmioides, cujo ciclo de desenvolvimento é apresentado na Tabela 4.
Foto: Odair Aparecido Fernandes
Figura 8. Espécie do gênero Spodoptera atacando folíolo de amendoim.
Tabela 4. Ciclo de desenvolvimento de Spodoptera cosmioides (Lepidoptera: Noctuidae).
Ciclo
Estágios
Ovo
Lagarta
Pupa
Adulto
Duração
4 dias
20-28 dias
14-16 dias
10-22 dias
Local de Ocorrência
Folhas
Folhas
Solo
Fêmea oviposita mais de 1.000 ovos

Fonte: Bavaresco et al., 2003.
Percevejo-preto e percevejo-castanho
Cyrtomenus mirabilis (Hemiptera: Cydnidae)
Scaptocoris castanea (Hemiptera: Cydnidae)
Estes percevejos são pequenos insetos sugadores (cerca de 7 mm de comprimento). Todos os estágios de desenvolvimento ocorrem no solo, e tanto as ninfas como os adultos atacam o sistema radicular. No caso do amendoim, há sérios danos às vagens. Os adultos apresentam coloração marrom (Scaptocoris – Figura 9) ou preta (Cyrtomenus - Figura 10). Os ovos são colocados no solo. As ninfas são esbranquiçadas e também são encontradas associadas ao sistema radicular. O ciclo biológico destes insetos ainda é pouco conhecido. Todavia, o ciclo completo pode durar até um ano. No período chuvoso, é possível se observar revoada destes insetos. Estes insetos são polífagos, que atacam diversas culturas, inclusive cana-de-açúcar. As formas jovens e adultas aderem-se às raízes sugando a seiva, enfraquecendo a planta, podendo causar a morte. Uma característica que denuncia a presença destes insetos no campo é o forte cheiro exalado quando o solo é revolvido para plantio. As vagens afetadas produzem grãos deformados.
Foto: D. N. Gassen
Figura 9. Adulto do percevejo-castanho (Scaptocoris castanea).
Foto: Odair Aparecido Fernandes
Figura 10. Adulto do percevejo-preto (Cyrtonemus mirabilis).
Nos últimos anos, esses insetos passaram a se destacar como pragas, pois os danos causados às vagens e grãos têm aumentado consideravelmente. Estas lesões comprometem o aspecto visual do grão e, consequentemente, a comercialização (Figura 11).
Foto: Odair Aparecido Fernandes
Figura 11. Dano em grãos causado pelo percevejo-preto.
Larva-alfinete
(Diabrotica speciosa) (Germar, 1824) (Coleoptera: Chrysomelidae).
As larvas são de coloração branco-leitosa e de formato afilado (Figura 12). O adulto é vulgarmente conhecido como vaquinha (Figura 13). A larva perfura as vagens ainda não completamente formadas, além de facilitar a penetração de patógenos. O adulto alimenta-se do limbo foliar, provocando perfurações circulares.
Foto: D. N. Gassen
Figura 12. Larva-alfinete (Diabroticaspeciosa).
Foto: Raul Porfírio de Almeida

Figura 13. Adulto da larva-alfinete (vaquinha).
Lagarta-rosca
Agrotis ipsilon (Hufnagel, 1767) (Lepidoptera: Noctuidae).
As lagartas variam de cinza-escura a verde-escura, tem o hábito de quando tocadas enrolarem-se rapidamente. O adulto é uma mariposa de coloração marrom. Esta praga corta o coleto da planta em nível de solo (Figura 14). O ataque intenso reduz significativamente a população de plantas.
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 14. Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)
Lagarta-elasmo
Elasmopalpus lignosellus (Zeller, 1848) (Lepidoptera: Pyralidae).
É considerada uma das mais severas pragas para o amendoinzeiro. A lagarta apresenta listras transversais e coloração verde-azulada e produzem uma teia característica (Figura 15). Os adultos apresentam coloração pardo-avermelhada, pardo-escura a cinza. Este inseto pode atacar o ginóforo e as vagens (Figura 16). Além do dano direto, sua injúria facilita a penetração de patógenos.
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 15. Teia produzida pela lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus).
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 16. Injúrias na vagem causadas pela lagarta-elasmo.
Cigarrinha-verde
Empoasca kraemeri (Ross & Moore, 1957) (Hemiptera: Cicadellidae).
Os insetos são de coloração verde (Figura 17) e têm como característica locomover-se lateralmente. Durante a alimentação introduzem seu aparelho bucal nos vasos de seiva da planta sugando-a, deixando as folhas com as bordas voltadas para baixo e ligeiramente amareladas (Figura 18).
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 17. Ninfa de cigarrinha-verde (Empoasca kraemeri).
Foto: Taís de Moraes Falleiro Suassuna
Figura 18. Folíolos com as bordas amareladas por causa do ataque de cigarrinhas.
Gafanhoto-do-nordeste
Schistocerca pallens (Thrunberg, 1815) (Orthoptera: Acrididae).
As ninfas são de coloração verde (Figuras 19), e à medida que mudam de instar escurecem, até atingirem a cor acinzentada quando adulto (Figura 20). Esta praga remove grandes quantidades de área foliar, deixando as plantas completamente desfolhadas (Figura 21).
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 19. Ninfa de gafanhoto (Schistocerca pallens).
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 20. Adulto de gafanhoto (Schistocerca pallens).
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 21. Injúrias do gafanhoto-do-nordeste.
Curuquerê-dos-capinzais
Mocis latipes (Guenée, 1852) (Lepidoptera: Noctuidae).
As lagartas são de coloração amarelada com listras longitudinais castanho-escuras. A cabeça também apresenta estrias longitudinais amarelas. Locomovem-se como mede palmo (Figura 22). O adulto apresenta coloração parda (Figura 23). As lagartas atacam as ramas e os folíolos, podendo em altas infestações consumir toda área foliar.
Foto: Paulo Henrique Soares da Silva
Figura 22. Curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes).
Foto: Paulo Henrique Soares da Silva
Figura 23. Adulto do curuquerê-dos-capinzais.
Lagarta-da-teia
Stylopalpia costalimai (Almeida, 1960) (Lepidoptera: Pyralidae).
As lagartas apresentam coloração esverdeada a cinza. O ataque caracteriza-se pela presença de vários insetos sobre uma mesma planta, podendo até causar o seccionamento na altura do coleto. Pode ainda haver formação de um emaranhado de teia entre as hastes e a região do coleto.
Ácaro-rajado
Tetranychus urticae (Koch, 1836) (Acari: Tetranychidae).
Estes artrópodes são de tamanhos bastante reduzidos, apresentando na sua fase adulta quatro pares de pernas. Tem como característica principal duas manchas escurecidas na face dorsal do corpo. Localizam-se na face inferior dos folíolos e tecem considerável quantidade de teia; em altas infestações migram para o ponteiro da planta para dispersão. As injúrias são muito parecidas com as causadas por tripes. Durante a alimentação introduzem seus estiletes nas células das folhas e sugam o conteúdo celular extravasado. As plantas geralmente apresentam as folhas cloróticas, e com a evolução do ataque tornam-se bronzeadas, podendo cair.
Ácaro-vermelho
Tetranychus evansi (Baker & Pritchard, 1960) (Acari: Tetranychidae). Morfologicamente estes ácaros são muito parecidos com o ácaro-rajado, porém apresentam coloração vermelha intensa (Figura 24). Os sintomas são os mesmos do ácaro-rajado, ou seja, formação de teia e clorose nos folíolos.
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 24. Ácaro-vermelho (Tetranychus evansi).
Os ácaros não são tão importantes como praga do amendoinzeiro em condições normais, entretanto, quando da ocorrência de veranico (alta temperatura e baixa unidade), podem se tornar problema sério, pois nestas condições seu desenvolvimento populacional é bastante acelerado.

Pragas de ocorrência durante a armazenagem dos grãos

Traça-das-vagens
Corcyra cephalonica (Stainton, 1865) (Lepidoptera: Pyralidae).
Foto: Bayer S.A.
Figura 25. Injúrias causadas pela traça-das-vagens (Corcyra cephalonica).

O adulto é uma pequena mariposa de coloração cinza nas asas anteriores. As lagartas são de coloração branco-pérola. No caso desta praga, apenas a forma jovem causa injúria. Os insetos atacam os grãos defeituosos sobre os quais abrem uma galeria. Em grãos inteiros, atacam a região do embrião. A lagarta ainda pode penetrar no fruto.
Gorgulho
Tribolium castaneum (Herbst, 1797) (Coleoptera: Tenebrionidae).
As larvas são de coloração branco-amarelada e os adultos são achatados de coloração castanho-avermelhada (Figura 26). Tanto os adultos como as larvas provocam perfurações nos grãos. A ocorrência desta praga está relacionada à presença, anteriormente, de uma praga primária.
Foto: Fábio Aquino de Albuquerque
Figura 26. Gorgulho (Tribolium castaneum).
Cascudinho
Alphitobius diaperinus (Panzer, 1797).
É uma praga secundária de grãos armazenados e se alimenta de produtos cereais e de ração animal. Considerada mundialmente como uma das principais pragas da avicultura moderna, foi introduzida em sistemas de produção animal, provavelmente por meio de ração contaminada, dispersando-se e se adaptando rapidamente às condições dos aviários. Os adultos apresentam coloração branca e sem quitinização, a qual é adquirida em quatro dias, passando à coloração marrom-avermelhada.

Agentes de controle biológico

Os agentes de controle biológico são agentes naturais de controle, tais como predadores, parasitoides e fungos entomopatogênicos que atuam na regulação populacional das pragas. Estes organismos têm sido pouco estudados na cultura do amendoim. Todavia, tem-se verificado a ocorrência de parasitoides e fungos entomopatogênicos principalmente sobre lagartas desfolhadoras.
Os predadores são, em geral, maiores do que as pragas e se alimentam de diversas presas para se desenvolverem. Dentre os principais predadores, podemos destacar: joaninhas, bicho-lixeiro, carabídeo, vespas, aranhas, ácaro fitoseídeo, etc. Os parasitoides, por sua vez, são muito menores do que as pragas. Assim, são pouco percebidos na lavoura. Esses insetos precisam, em geral, apenas de uma presa para se desenvolverem. Os parasitoides são, em geral, pequenas vespas ou moscas, cujas larvas se desenvolvem no interior de pragas. Um exemplo é o parasitoide de ovos Trichogramma pretiosum, que é bastante comum associado aos ovos de mariposas, cujas lagartas atacam lavouras.
Os entomopatógenos são microrganismos que causam doenças nas pragas. Os principais microrganismos são fungos, bactérias e vírus. Talvez o patógeno mais conhecido seja oBacillus thuringiensis, que causa a morte de lagartas, em geral. Na cultura do amendoim, é bastante comum a ocorrência de Nomuraea rileyi em lagartas desfolhadoras durante os períodos de alta temperatura e alta umidade. Todavia, este fungo benéfico pode ser afetado por fungicidas utilizados no controle de doenças foliares do amendoim.
É importante lembrar que os inimigos naturais sempre estão presentes em todas as lavouras. Porém, eles são grandemente afetados pela ação de inseticidas de largo espectro, ou seja, inseticidas não seletivos. Assim, é muito importante que toda e qualquer medida de controle leve em consideração a preservação dos agentes de controle biológico na lavoura.

Amostragem

A amostragem é uma ferramenta fundamental para a tomada de decisão. Munido da informação da quantidade de pragas (nível da infestação), o produtor passa a ter maior segurança para realizar ou não o controle. Portanto, a lavoura precisa ser vistoriada frequentemente para se garantir que a praga está presente e se há necessidade de se adotar qualquer medida de controle.
Para a realização da amostragem, o produtor de amendoim dever seguir alguns passos:
Dividir a área em talhões menores
É fundamental a divisão da área em talhões menores. O tamanho do talhão não deve ultrapassar (preferencialmente) 10 ha. Isso garantirá maior precisão na avaliação da população das pragas e tomada de decisão.
Pontos de amostragem
Iniciar amostragem aos 15 dias após a emergência. A amostragem pode ser feita por meio da observação da presença de tripes em 10 pontos de amostragem por talhão, sendo que cada ponto de amostragem é representado por um metro na linha (aproximadamente 3 plantas). Assim, observa-se 4 folíolos fechados de cada planta do ponto de amostragem de modo que, ao final, são avaliados 120 folíolos por talhão. As demais pragas e doenças também devem ser observadas em todas as plantas do ponto de amostragem.
Ficha de amostragem
As informações devem ser devidamente anotadas em ficha própria (Tabela 5). Isto facilita o registro e posterior análise dos dados.

Táticas de controle

O controle químico ainda é o principal método utilizado na cultura do amendoim. Como o principal alvo é o tripes-do-prateamento, inseticidas fosforados, piretroides e neonicotenoides têm sido os principais grupos utilizados. Trabalho recente demonstrou que o produto metamidofós não apresenta mais a mesma eficiência de controle observada há alguns anos. Isto pode ser um indicativo que as populações da praga podem ter desenvolvido resistência ao produto. Cabe ressaltar que este produto não é mais recomendado para o controle de tripes no amendoim e, portanto, não deve ser utilizado. Todavia, serve de alerta aos produtores para evitar o uso contínuo e restrito de um único princípio ativo.
Dessa forma, dentro do contexto do MIP é imprescindível a adoção de estratégias de manejo de resistência de insetos a inseticidas. Portanto, é imprescindível a adoção da rotação de produtos que apresentem modos de ação distintos. Ainda, a adoção de produtos seletivos ou utilização racional para se garantir seletividade permitirá que os agentes de controle biológico possam encontrar condições para atuar sobre as pragas. Isto vale também para a utilização de fungicidas que podem reduzir a ação de fungos entomopatogênicos, que podem atuar sobre insetos-praga na cultura do amendoim.

Comentários finais

A adoção do MIP é perfeitamente factível, mesmo que o produtor de amendoim utilize ferramentas básicas, como amostragem e utilização do controle químico apenas. A realização da amostragem para tomada de decisão ao invés da utilização de aplicações pré-agendadas poderá garantir ao produtor redução de custos e maior proteção ao meio ambiente e seu próprio investimento.
Com a implementação da Produção Integrada do Amendoim, o MIP passa a ser um componente obrigatório. Portanto, os produtores já devem incorporar o MIP no sistema produtivo para garantir, entre outros pontos, segurança de que as aplicações de inseticidas são executadas de acordo com critérios técnicos, baseadas em amostragem e observação ao período de carência para evitar resíduos no produto final.
Para a cultura do amendoim, a implementação do programa de MIP apresenta alguns desafios, os quais deverão ser enfrentados pelos agricultores, extensionistas e pesquisadores. Entre eles, destacam-se:
  1. Plantios em áreas arrendadas: diversos produtores de amendoim arrendam diversas áreas de reforma de canavial. Desse modo, em geral, os produtores possuem diversas áreas de produção localizadas em pontos distantes. Isso causa entraves logísticos para deslocamento de máquinas e pessoal. Portanto, os produtores têm preferido a adoção do calendário de pulverização. Com a Produção Integrada, o controle baseado no calendário não será possível. Critérios baseados no MIP deverão ser adotados.
  2. Sistema de amostragem e dos níveis para tomada de decisão para as variedades rasteiras: os poucos níveis para tomada de decisão de controle de pragas foram desenvolvidos para as variedades eretas. Assim, há escassez de informação para as novas variedades. Ainda, o sistema de monitoramento de pragas também precisa ser aprimorado. Em particular, o manejo das pragas de solo precisa ser aprimorado com a maior urgência.
  3. Alternativas aos produtos organofosforados: os produtos organofosforados têm sido muito utilizados para o controle de diversas pragas na cultura do amendoim. Ademais, os mercados consumidores têm exigido a eliminação do uso desses produtos para o controle de pragas. Assim, alternativas de controle devem ser propostas.
  4. Aprimoramento de sistema de monitoramento de ocorrência de doenças: a utilização regular de fungicidas em associação com inseticidas acaba levando os produtores a utilizarem produtos desnecessariamente em algumas ocasiões. Num trabalho realizado em Jaboticabal, verificou-se que, em média, metade dos produtos incluídos na mistura não precisaria ser aplicada (Tabela 6).
Tabela 6. Comparação da tomada de decisão de controle de pragas na produção integrada e convencional de amendoim na região de Jaboticabal, SP.
Local
Nº de Aplicações
Nº de Produtos
Produção Integrada
Produtor (convencional)
Produção Integrada
Produtor (convencional)
Dumont
6
5
1,3
3,2
Guariba
5
6
1,6
2,5
Jaboticabal
9
9
1,4
2,1
Jaboticabal
6
6
2,2
2,8
Sertãozinho
5
6
2,6
2,5
Taquaritinga
7
6
1,3
2,7
Taquaritinga
6
7
1,8
2,0
Média
6,3
6,4
1,7
2,5
Redução em relação ao convencional
1,5%
-
32%
-

Fonte: Conceição, 2009.
Com isso, verifica-se que a integração dos pesquisadores, agentes de extensão, cooperados e produtores é imprescindível para se avançar no controle de pragas do amendoim, nos quais o MIP e a produção integrada são contemplados. Seguramente, este é um dos componentes importantes de sustentação do agronegócio do amendoim.




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