sexta-feira, 21 de abril de 2017

Cultivares de Algodâo

História do melhoramento do algodoeiro na Embrapa para o Cerrado do Brasil

O programa de melhoramento do algodoeiro da Embrapa para o Bioma Cerrado foi iniciado em 1989, em Mato Grosso. Posteriormente, o programa foi expandido para os cerrados de Goiás e da Bahia, resultando em uma série de cultivares desenvolvidas especificamente para esses estados. Atualmente, o programa está estruturado para desenvolver cultivares considerando condições ecológicas e de sistema de produção no Cerrado com foco em duas regiões: o cerrado da região Centro-Oeste, envolvendo os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Rondônia e o cerrado da região Nordeste, envolvendo os estados da Bahia, Maranhão e Piauí. O programa voltado para o cerrado da região Centro-Oeste preconiza a busca de cultivares com resistência múltipla às principais doenças e nematoides, de ciclo médio a curto e com maior precocidade de maturação, permitindo, inclusive, o cultivo em segunda safra. Já o programa voltado para o cerrado da região Nordeste busca cultivares de ciclo médio a tardio, resistentes às principais doenças e nematoides e com qualidade de fibra diferenciada.
Para ambas as regiões, a produtividade deve ser acima de 300 arrobas/ha, com percentagem de fibra superior a 41%. Em se tratando de fibra de padrão médio de comprimento, as características tecnológicas avaliadas em HVI (High Volume Instruments) devem apresentar finura (índice micronaire) entre 3,7 a 4,2; comprimento entre 28,5 mm a 31 mm; resistência superior a 28 gf/tex; uniformidade de comprimento superior a 80%; índice de fibras curtas inferior a 7%; número de neps que mede o enovelamento da fibra inferior a 250; fiabilidade superior a 2.200 e alongamento superior a 7%. Adicionalmente, a agregação de características através da transgenia, como a tolerância a herbicidas e a resistência a lepidópteros, contribui para uma melhor eficiência do sistema produtivo. As cultivares devem apresentar boas respostas a aplicação de insumos, incluindo fertilizantes químicos, inseticidas, herbicidas, fungicidas, reguladores de crescimento e desfolhantes. É exigida boa adaptação à colheita mecanizada, devendo as plantas apresentar a inserção do primeiro ramo frutífero acima de 20 cm do solo; porte ereto, mesmo quando manifestando todo seu potencial produtivo e capulhos bem aderidos às cápsulas.
Como resultados do programa de melhoramento, a Embrapa já desenvolveu diversas cultivares de algodoeiro para as condições do Cerrado: CNPA ITA 90, CNPA ITA 92, BRS ITA 96, CNPA ITA 97, BRS ANTARES, BRS FACUAL, BRS AROEIRA, BRS IPÊ, BRS SUCUPIRA, BRS ITAUBA, BRS CEDRO, BRS ARAÇA, BRS 269-BURITI, BRS 286, BRS 293, BRS 335 e BRS 336, BRS 368 RF, BRS 369 RF, BRS 370 RF, BRS 371 RF e BRS 372.
Entre as principais características utilizadas pelo produtor na tomada de decisão para a escolha da cultivar, além do potencial produtivo, percentagem de fibra e adaptação da mesma a sua região, podemos citar os seguintes fatores:
  • ciclo fenológico;
  • tecnologia de transgenia;
  • resistência a doenças e nematoides;
  • comprimento da fibra.
O detalhamento destas características é apresentado a seguir:

Ciclo fenológico

Com relação ao ciclo, as cultivares de algodão são classificadas como de ciclo precoce, médio e tardio conforme descrito abaixo:
  • ciclo tardio: normalmente, são indicadas na abertura do plantio em regiões que fazem o cultivo de safra única ou também denominado “algodão safra”. Cultivares com essas características de ciclo são muito utilizadas na Bahia, Tocantins, Maranhão e Piauí, bem como em algumas áreas que cultivam uma única safra no sul dos estados de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul. São consideradas cultivares tardias aquelas que demandam acima de 180 dias da emergência até a maturação (90% dos capulhos abertos), tomando-se como referência as condições do Cerrado, em altitude acima de 750 m e semeadura no período de safra.
  • ciclo médio: são indicadas para cultivo em safra podendo também ser empregadas em segunda safra. São consideradas cultivares de ciclo médio aquelas que demandam entre 160 a 180 dias da emergência até a maturação (90% dos capulhos abertos), tomando-se como referência as condições do Cerrado, em altitude acima de 750 m e semeadura no período de safra.
  • ciclo precoce: são indicadas para fechamento de plantio na primeira safra e para plantios tardios na segunda safra ou “safrinha”. Têm menor capacidade de recuperação da produção quando submetidas a estresses ambientais do que as de ciclo médio, em função do ciclo mais determinado. São consideradas cultivares de ciclo precoce aquelas que demandam menos de 160 dias da emergência até a maturação (90% dos capulhos abertos), tomando-se como referência as condições do Cerrado, em altitude acima de 750 m e semeadura no período de safra.

Tecnologias de transgenia

Atualmente, um dos fatores decisivos na escolha da cultivar pelo produtor é a tecnologia de transgenia que as cultivares possuem. Esse é um fator importante, pois influenciará bastante no manejo da lavoura. No entanto, é fundamental que a transgenia seja inserida em germoplasma de alto valor agronômico, fitossanitário e que seja provedor de fibra de alta qualidade. Atualmente, existem no mercado diversas cultivares transgênicas que possuem resistência a herbicidas, a insetos praga (lepidópteros) e também a herbicidas e insetos, simultaneamente. Ressalta-se, entretanto, que existem cultivares convencionais (não portadoras de transgenia), que poderão ser empregadas em casos aonde se opte pelo não emprego de cultivares transgênicas.
As cultivares convencionais são utilizadas em áreas de manejo convencional de plantas daninhas com herbicidas seletivos ao algodão e, também, em áreas de refúgio nas lavouras que utilizam transgenia para resistência a insetos. As áreas de refúgio devem ser de, pelo menos, 20% da área cultivada. A Embrapa possui diversas cultivares convencionais que atendem às mais diversas necessidades dos produtores. Entre elas podemos citar: a BRS 269 Buriti, BRS 286, BRS 293;  BRS 335, BRS 336 e BRS 372.
Considerando-se as opções de transgenia em algodoeiro, as cultivares podem ser portadoras das seguintes tecnologias:
  • Tecnologia Roundup Ready® (RR®): são resistentes ao herbicida glifosato aplicado em área total, até a quarta folha verdadeira do algodão (estádio V4). São cultivares da primeira geração de transgênicos de algodão no Brasil, facilitando o manejo de plantas daninhas e podendo ser utilizadas nas áreas de refúgio de cultivares com resistência a insetos;
  • Tecnologia Bollgard I® Roundup Ready® (BGRR®): apresentam resistência simultânea ao herbicida glifosato aplicado em área total, até a quarta folha verdadeira do algodão (estádio V4) e a algumas espécies de lagartas (curuquerê, lagarta rosada). São a primeira geração de transgênicos de algodão no Brasil, facilitando o manejo de plantas daninhas e insetos, esta última, em decorrência da expressão da proteína Cry1Ac.
  • Tecnologia Liberty Link® (LL®): são resistentes ao herbicida glufosinato de amônia em todas as fases do algodoeiro. Essas cultivares facilitam o manejo das plantas daninhas e podem ser utilizadas nas áreas de refúgio de cultivares com resistência às lagartas.
  • Tecnologia Roundup Ready Flex® (RF®): são resistentes ao herbicida glifosato aplicado em área total, em todas as fases da cultura do algodão. Facilitam o manejo de plantas daninhas e podem ser utilizadas nas áreas de refúgio de áreas cultivadas com cultivares resistentes a insetos. A Embrapa possui quatro cultivares com esta tecnologia: BRS 368 RF, BRS 369 RF, BRS 370 RF e BRS 371 RF.
  • Tecnologia Widestrike® (WS®): apresentam resistência às lagartas de algumas espécies de lepidópteros. Expressam duas proteínas que conferem resistência a insetos (Cry1Ac e CryF).
  • Tecnologia Bollgard II® Roundup Ready Flex® (B2RF®): apresentam resistência simultânea ao herbicida glifosato aplicado em área total, em qualquer fase do ciclo do algodão e a um amplo espectro de espécies de lagartas. Expressam duas proteínas de resistência a insetos (Cry1Ac e Cry2Ab2).
  • Tecnologia GlyTol®, TwinLink® e LibertyLink® (GLT®): apresentam resistência simultânea aos herbicidas glifosato e glufosinato de amônio aplicado em área total, em qualquer fase do ciclo fenológico da cultura do algodão e a um amplo espectro de espécies de lagartas. Expressam duas proteínas de resistência a insetos (Cry1Ab e Cry2Ae).

Resistência a doenças e nematoides

Para as condições de Cerrado, que em geral apresentam elevada precipitação pluviométrica durante o ciclo da cultura do algodão, a tolerância/resistência a doenças é um fator importante na escolha da cultivar.
Atualmente, todas as novas cultivares disponibilizadas ao mercado pelos programas de melhoramento genético no Brasil são resistentes à virose denominada doença azul (Cotton leafroll dwarf virus, CLRDV) e à bacteriose causadora da mancha angular (Xanthomonas citri subsp. malvacearum). Isso é possível devido à seleção assistida por marcadores moleculares que auxiliam na seleção de cultivares resistentes.
A resistência genética a outras doenças como a ramulose (Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides) e mancha de ramulária (Ramularia aréola), também são importantes para a escolha da cultivar. Poucas cultivares têm resistência genética à ramulose. Para a mancha de ramulária, a doença causadora das principais perdas e aumento do custo com controle no cultivo no Cerrado, na atualidade, existem cultivares com diferentes graus de resistência genética. A Embrapa Algodão desenvolveu a cultivar BRS 372, portadora de elevada resistência.
A tolerância ou resistência a nematoides também é um fator decisivo na escolha da cultivar, principalmente em áreas com níveis de infestação que causam danos significativos. Existem no mercado cultivares com diferentes níveis de resistência/tolerância a nematoides. Para mais informações sobre o manejo dos fitonematoides e/ou escolha da cultivar mais adequada em cada condição, sugere-se consultar o Comunicado Técnico 376 (Manejo de Fitonematoides na Cultura do Algodoeiro).

Comprimento da fibra

De acordo com a sua qualidade, a fibra do algodão tem diferentes aplicações industriais. O comprimento das fibras é um dos principais fatores que determinam a qualidade do produto. No entanto, é o conjunto de caraterísticas intrínsecas da fibra (comprimento, resistência, micronaire, entre outras) que possibilita a obtenção de fios e tecidos de elevada qualidade. Quanto ao comprimento da fibra, tem-se a seguinte classificação:
  • Média: comprimento de 28 mm a 31,2 mm;
  • Longa: comprimento de 31,3 mm a 34,8 mm; e
  • Extra-longa: comprimento de 34,8 mm a 41,0 mm.
As cultivares disponíveis no Brasil, em sua maioria, são classificadas como de fibra média. A Embrapa desenvolveu a cultivar BRS 336, que produz fibras no padrão médio de comprimento e com elevada resistência.
Atualmente, não existem cultivares de fibra extra-longa adaptadas às condições do Cerrado brasileiro.
Para obter as melhores respostas produtivas, bem como obter o benefício das demais características proporcionadas pelo melhoramento genético, as cultivares devem ser manejadas seguindo-se as recomendações especificadas para cada uma, atentando-se, para a população de plantas, exigência em regulador de crescimento e manejo de doenças. Também se faz fundamental a adoção de práticas e sistemas de produção que visem maior sustentabilidade, tais como a rotação de culturas, o uso de espécies de cobertura do solo, o manejo integrado de pragas e doenças, a rotação de eventos transgênicos relacionados à tolerância a herbicidas e a resistência a insetos, bem como o emprego de áreas de refúgio associadas aos cultivos com cultivares transgênicas.  
Para consultar todas as cultivares de algodão que podem ser comercializadas, acesse o Registro Nacional de Cultivares (RNC) do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA). Para serem cultivadas em uma determinada região, é recomendável que as cultivares estejam indicadas para essa região constando no Zoneamento de risco climático. O zoneamento é publicado em portarias no Diário Oficial da União e no site do MAPA.



sábado, 8 de abril de 2017

Plantio e Manejo Cultural no Algodão

O plantio é umas das etapas mais importantes do cultivo do algodoeiro, sendo decisivo para a obtenção de altas produtividades. Ele requer muitos cuidados, pois dele depende todo o processo produtivo. No processo de semeadura, é fundamental a escolha correta da cultivar; o uso de sementes com alta pureza genética e qualidade fisiológica (germinação e vigor); a definição da época de semeadura, do espaçamento entre fileiras e da população desejada de plantas, do equipamento e da profundidade de semeadura; a realização do tratamento de sementes com fungicidas e inseticidas; a regulagem da dose e localização do adubo de semeadura etc.
A época de semeadura do algodoeiro é influenciada diretamente pelos fatores climáticos; por isso, o zoneamento agroclimático determina o período de semeadura, para cada região, de modo que as condições climáticas sejam favoráveis para o cultivo do algodoeiro. Assim, a semeadura deve ser realizada em período que haja adequada disponibilidade de água para o estabelecimento da lavoura e período de seca para a colheita da fibra. Além disso, a exigência legal do vazio sanitário, como estratégia de controle integrado de pragas e doenças, é fator determinante que influencia nas épocas de semeadura e colheita.
A semeadura na época correta é muito importante em virtude da sensibilidade que o algodoeiro possui aos fatores ambientais. Ele apresenta algumas fases fenológicas mais sensíveis ao déficit hídrico, como é o caso do florescimento e enchimento das maçãs, devendo-se programar a época de semeadura, de maneira que as chances de ocorrência de déficit hídrico nessas fases fenológicas sejam mínimas. A colheita do algodão deve ocorrer no período seco, sendo desejável que a partir do início da abertura dos capulhos ocorra redução no volume de precipitação pluvial, e por ocasião da colheita esteja seco, de modo que facilite a operação mecânica e evite perda da qualidade da fibra.
O ciclo da cultivar influencia a época da semeadura. Geralmente, a semeadura deve ser iniciada com cultivares de ciclo mais longo, e encerrada com cultivares de ciclo precoce. No cerrado dos estados da Bahia (BA), Goiás (GO) e Minas Gerais (MG), a semeadura, normalmente, é iniciada após meados de novembro, se estendendo até o final de dezembro. No Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS), a melhor época de semeadura tem sido durante o mês de dezembro, mas no norte do MT e em algumas regiões de GO e MS, por vezes, a semeadura é prolongada até o início de janeiro. Para o cultivo do algodoeiro como segunda safra, ou “safrinha”, realizado em algumas regiões de GO, MT e MS após a colheita de soja precoce ou de feijão, a semeadura do algodoeiro deve ser realizada até o final de janeiro. Em algumas situações regionais, a semeadura se estende até meados de fevereiro; porém, é enorme o risco de redução da produtividade, uma vez que existe alta probabilidade de interrupção das chuvas no período de enchimento de maçãs.
Para qualquer cultivar de algodoeiro, cultivado em regime de sequeiro, recomenda-se que a semeadura não se prolongue além de um mês, de modo a reduzir problemas com pragas, particularmente o bicudo do algodoeiro, a lagarta rosada e percevejos, que podem comprometer seriamente o manejo de pragas e o rendimento.
O teor de água do solo é de grande importância por ocasião da semeadura, por facilitar as operações mecânicas, favorecer a germinação das sementes e o desenvolvimento inicial das plantas, e ainda permitir adequada população de plantas.
A definição do espaçamento entre linhas e da densidade populacional são cruciais para o sucesso do cultivo do algodoeiro. Entende-se por espaçamento o intervalo entre duas fileiras, e por densidade de semeadura o espaço deixado entre plantas dentro da fileira. O espaçamento e a densidade de semeadura são aspectos tecnológicos que definem a população e o arranjo de plantas, podendo interferir no manejo a ser realizado e no rendimento da lavoura. A determinação do espaçamento entre fileiras, bem como a densidade de semeadura, ou número de plantas por metro linear, são influenciados, principalmente, pela cultivar, o clima, a fertilidade do solo e o sistema de cultivo e colheita (RIGHIi et al., 1965; LACA BUENDIA; FARIA, 1982). Alterações no espaçamento e na densidade de semeadura induzem a uma série de modificações no crescimento e desenvolvimento do algodoeiro. A altura das plantas, o diâmetro da haste principal, a altura de inserção do primeiro ramo frutífero, o número de ramos vegetativos e reprodutivos são algumas das características morfológicas significativamente influenciadas pela população de plantas (STAUT; LAMAS, 1999: JOST; COTHREN, 2000). Geralmente, tem-se verificado tendência de redução do espaçamento entre fileiras e aumento da densidade de plantas. Entretanto, os resultados já obtidos permitem inferir que, nem sempre a produtividade é maior numa condição de alta população (LAMAS et al., 1989; JOST; COTHREN, 2000). A relação entre a população de plantas e a produção de algodão depende das condições edafoclimáticas nas quais a cultura se desenvolve.
Atualmente, o algodoeiro é cultivado em dois sistemas com espaçamentos entre linhas distintos: sistema convencional com espaçamento entre linhas igual ou superior a 0,76 m e sistema adensado com espaçamento entrelinha igual ou menor que 0,76 m. No sistema convencional, a semeadura é realizada como “safra” principal ou primeira safra e também de segunda safra em plantios feitos antes do final do mês de janeiro (principalmente em MT). Normalmente, são utilizadas de 6 a 12 sementes por metro, com população entre 70.000 a 120.000 plantas/ha. Nesse sistema, o processo de colheita é feito, obrigatoriamente, com colheitadeiras de fusos, as quais garantem algodão com excelente qualidade, uma vez que este tipo de equipamento é bastante seletivo, colhendo com o mínimo de contaminação da fibra.
O sistema de semeadura adensada, normalmente, é feito no espaçamento de 0,45 m nas entrelinhas. É um sistema adotado pelos agricultores que cultivam o algodoeiro no período de “segunda safra, ou safrinha” em plantios feitos tardiamente (normalmente em fevereiro), após a colheita de feijão ou de soja de ciclo curto, semeados no início da estação chuvosa. Nesse sistema, como o período de disponibilidade hídrica ao algodoeiro é menor, o número de nós e o seu ciclo tendem a ser reduzidos, devendo-se priorizar cultivares de ciclo curto ou médio, com porte menor. Devido ao pouco crescimento do algodoeiro, a população de plantas usada pode chegar a 200.000 plantas por hectare, dependendo da cultivar. No sistema adensado em segunda safra, a colheita mecanizada pode ser feita com colheitadeiras equipadas com plataforma de fusos adaptadas ou com colheitadeiras com plataformas de pente, que são mais baratas e as mais comumente utilizadas. Entretanto, vale ressaltar que a contaminação da fibra é maior quando são usadas colheitadeiras de pente, e por isso o cuidado na condução da lavoura deverá ser redobrado, uma vez que a presença de plantas daninhas ou de maçãs imaturas, e problemas na desfolha, podem agravar ainda mais a contaminação da fibra. Em razão dessas questões de dificuldade de colheita e contaminação/qualidade de fibra, cada vez mais têm sido cultivadas cultivares de algodoeiro de ciclo precoce ou médio, no período de safrinha, com espaçamento de 76 cm entre as fileiras, com população de plantas entre 120.000 a 160.000 plantas/ha.
A semeadura do algodoeiro no Cerrado é feita mecanicamente, com semeadora tratorizada (Figura 1). Deve ser efetuada em curva de nível ou, pelo menos, em sentido perpendicular ao escorrimento das águas (Figura 2). A profundidade de semeadura deverá fixar-se entre 3 cm e 5 cm, conforme a textura e a capacidade de armazenamento de água do solo. De maneira geral, quanto maior a capacidade de retenção de água do solo, menor a profundidade de semeadura. Solos de textura arenosa e com baixa capacidade de armazenamento de água requerem maior profundidade que os solos de textura argilosa. Para os arenosos, recomenda-se a semeadura a 5 cm de profundidade e, para os argilosos, a 3 cm.
Foto: Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira
Figura 1. Semeadora tratorizada.
Foto: Alderi Emídio de Araújo
Figura 2. Plantio direto em nível sobre palhada de milheto.
Antes da semeadura mecânica, é fundamental tratar as sementes com fungicidas e inseticidas, além de serem grafitadas para facilitar a operacionalização. A calibração da máquina semeadora deverá ser feita levando-se em consideração, também, a percentagem de germinação e vigor da semente. A prática do desbaste, recomendada para pequenas propriedades, não se aplica às condições do Cerrado.

Fitormônios

O uso de fitormônios no algodoeiro é prática indispensável no Cerrado, em virtude das extensas áreas cultivadas, ao sistema de cultivo e colheita mecanizada. Entre os fitormônios, estão os reguladores de crescimento, os desfolhantes e os promotores de abertura de maçãs, usualmente chamados de maturadores.
Regulador de crescimento
O algodoeiro herbáceo apresenta hábito de crescimento indeterminado, ou seja, durante a fase reprodutiva ele continua a emitir estruturas vegetativas, que podem competir entre si pelos produtos da fotossíntese.
Na cotonicultura do Cerrado, são cultivadas extensas áreas, usadas variedades com alto potencial produtivo, altas doses de fertilizantes, muitos defensivos agrícolas, sendo imprescindível o uso de máquinas e implementos. Por causa desse sistema de cultivo, é essencial o uso de reguladores de crescimento, de forma que os algodoeiros não cresçam demasiadamente e comprometam o manejo e o rendimento da cultura, bem como que as plantas apresentem altura adequada à colheita mecânica.
Para a colheita mecanizada, o ideal é que os algodoeiros tenham altura de, no máximo, 1,30 m; acima disso, pode interferir negativamente na eficiência do processo. Além disso, a colheita mecânica dos algodoeiros altos favorece a contaminação da fibra com galhos, folhas e cascas dos ramos, depreciando a sua qualidade.
Os algodoeiros que crescem de forma descontrolada, dependendo da condição do ambiente, podem apresentar maior apodrecimento ou queda das maçãs posicionadas nos primeiros ramos frutíferos.
As variedades de algodão usadas no Brasil, geralmente, apresentam porte médio a alto, ou seja, crescem vigorosamente, sendo necessário o uso de reguladores de crescimento. A manipulação da arquitetura do algodoeiro com reguladores de crescimento é uma estratégia agronômica que, normalmente, não gera incremento de produtividade; porém, observa-se melhoria da eficiência da aplicação de inseticidas, fungicidas e a penetração da luz, a qual contribui para a abertura mais rápida e uniforme dos frutos.
Os reguladores de crescimento são substâncias químicas sintéticas que apresentam efeito sobre o metabolismo vegetal, inibindo a formação do ácido giberélico, com consequente redução do crescimento devido à menor elongação celular. Os dois fitorreguladores de crescimento usados na cotonicultura brasileira são o cloreto de mepiquat e o cloreto de clormequat.
Algumas vantagens do uso dos reguladores de crescimento:
  • Controla o excessivo desenvolvimento vegetativo dos algodoeiros.
  • Melhora o equilíbrio entre as partes vegetativas e reprodutivas.
  • Reduz a altura e o comprimento dos ramos, e assim facilita os tratos culturais.
  • Reduz a abscisão e o apodrecimento de estruturas reprodutivas, que podem refletir negativamente na produtividade.
  • Diminui o ciclo por meio da redução do número excessivo de nós.
  • Facilita a colheita mecanizada.
  • Melhora a qualidade da fibra por meio da redução de impurezas como galhos, folhas e cascas dos ramos.
Os efeitos dos reguladores de crescimento sobre o algodoeiro dependem de alguns fatores, podendo-se destacar: temperatura, disponibilidade de nutrientes no solo, população de plantas, cultivar, disponibilidade de água no solo, precipitação pluvial, dose, época e forma de aplicação. Destes, é importante destacar a dose e a forma de aplicação.
Com relação à dose, ela pode variar de 50 a 100 g/ha do ingrediente ativo, a depender do porte e das condições do solo e da lavoura, da época de semeadura, em síntese, da expectativa de crescimento do algodoeiro (Tabela 1).
Tabela 1. Dose do ingrediente de reguladores de crescimento em relação ao porte da planta de algodoeiro.
Cultivares
Dose* (g/ha) do ingrediente ativo cloreto de mepiquat ou de clormequat
Porte alto
85 a 100
Porte médio
60 a 85
Porte baixo
dose < 50

* espaçamento entre fileiras – 76 a 90 cm, para o cultivo na época tradicional (safra).
Recomenda-se aplicar os reguladores de crescimento de forma parcelada (Tabela 2). As pulverizações devem ser iniciadas quando os algodoeiros atingirem a altura de 30 cm a 45 cm, em função do porte da variedade. A partir dessa fase, normalmente, observa-se intenso crescimento vegetativo, razão pela qual são necessários monitoramentos constantes de forma a definir as demais pulverizações para o controle da altura.
Tabela 2. Parcelamento da dose (em % da dose total) de reguladores de crescimento na cultura do algodoeiro.

Primeira aplicação
Segunda aplicação
Terceira aplicação
Quarta aplicação
10%
20%
30%
40%

1ª Aplicação
  • CULTIVARES DE PORTE ALTO: 30-35 cm de altura
  • CULTIVARES DE PORTE MÉDIO: 35-40 cm de altura
  • CULTIVARES DE PORTE BAIXO: 40-45 cm de altura
O momento em que é realizada a primeira aplicação é fundamental, pois o atraso pode comprometer seriamente (Figura 3) a eficiência do controle do crescimento.
Foto: Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira
Figura 3. Controle eficiente (A) e controle ineficiente (B) da altura dos algodoeiros por meio do regulador de crescimento, cultivar BRS 269 – Buriti.
As aplicações subsequentes (segunda, terceira e quarta) devem ocorrer quando houver retomada do crescimento. Para isso, quando a taxa de crescimento for maior que 1,5 cm/dia, recomenda-se aplicar novamente o fitorregulador. É essencial dividir a área em talhões homogêneos, de acordo com a cultivar, época de semeadura, condições de fertilidade do solo e adubações etc.
O monitoramento do crescimento deve ser constante, pois, após o término do efeito residual do fitorregulador aplicado (normalmente de 10 a 14 dias em função de uma série de fatores e condições do ambiente de cultivo), o algodoeiro volta a crescer à taxa maior que 1,5 cm/dia, carecendo de nova aplicação.
Cuidados na aplicação
  • Os reguladores de crescimento devem ser aplicados, preferencialmente, no período da manhã, mas deve-se evitar nos algodoeiros molhados pelo orvalho.
  • Normalmente, quando se usa cloreto de mepiquat – produto comercial mais concentrado, o período mínimo entre a aplicação e a ocorrência de chuva deve ser de 4 horas, para evitar que o cloreto seja lavado. Em caso de chuva após as aplicações, provavelmente, será preciso reaplicar. Isso dependerá:
    • do produto ou ingrediente ativo;
    • da dose;
    • do intervalo entre a pulverização e a ocorrência da chuva;
    • da intensidade da chuva;
    • da fase de desenvolvimento da cultura;
  • A partir da emissão dos primeiros botões florais, semanalmente, deve-se avaliar o crescimento do algodoeiro, preferencialmente em plantas previamente marcadas, para que a leitura do crescimento seja feita na mesma planta.
Quando o algodoeiro apresenta flor aberta no terceiro nó de cima para baixo (Figura 4), sua intensidade de crescimento tende a reduzir. A partir dessa fase, normalmente, não é mais necessário aplicar regulador de crescimento. Se tudo tiver ocorrido bem, nessa fase, as cultivares de porte médio e alto deverão estar com altura média entre 120 a 130 cm, desde que as pulverizações anteriores tenham sido realizadas adequadamente.
Foto: Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira

Figura 4. Fase de interrupção do crescimento do algodoeiro, com flor aberta no ponteiro (terceiro nó de cima para baixo).
Para mais informações sobre o uso de fitorreguladores, consulte o Comunicado Técnico 372 (Fitorreguladores de Crescimento em Algodoeiro).
Desfolhantes e maturadores
O algodoeiro, por ser espécie com hábito de crescimento indeterminado, na época da colheita ainda apresenta grande quantidade de folhas e de estruturas reprodutivas (botões florais, flores e frutos jovens) que depreciam a qualidade da fibra. As estruturas reprodutivas produzidas no final do ciclo não resultam em incremento de produção visto que, normalmente, não são colhidas, servindo apenas de alimento, local de oviposição e abrigo da lagarta-rosada (Pectinophora gossypiella) e do bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis). Desta forma, no cerrado, é muito importante a aplicação de desfolhantes e maturadores, que são usados com o objetivo de planejar e melhorar o desempenho da colheita mecânica, reduzir a umidade das fibras e das sementes no campo e proporcionar a obtenção de um produto mais limpo, reduzindo os custos do beneficiamento.
Os desfolhantes e maturadores são fitormônios, cujos princípios ativos atualmente mais utilizados são o tidiazuron e o etefom, respectivamente, atuam no balanço hormonal das plantas. Com a aplicação de tidiazuron, verifica-se redução da concentração e transporte endógeno do inibidor da abscisão (AIA), resultando em aumento substancial na produção de etileno, hormônio responsável pela formação da camada de abscisão. Em geral, se constata, após a aplicação do tidiazuron, declínio da concentração de auxina, com consequente formação da camada de abscisão.
O etefom (ácido-2-cloro-etil-fosfônico) é uma substância liberadora de etileno, que inibe a biossíntese e, subsequentemente, a movimentação de auxinas, acelerando a maturação dos frutos e a formação da zona de abscisão, promovendo a desfolha. A precocidade e uniformidade de abertura dos frutos são aumentadas significativamente com a aplicação de etefom.
Dentre os fatores ambientais, a temperatura é o que mais influencia a ação desses produtos. A eficiência dos desfolhantes e maturadores é sensivelmente reduzida quando a temperatura média é inferior a 20 ºC, situação em que não se recomenda a sua aplicação.
Em geral, os desfolhantes devem ser aplicados quando 60% a 70% dos frutos (capulhos) estiverem abertos. Dependendo das condições climáticas, a desfolha ocorre entre sete a quinze dias após a aplicação do produto; em plantas sobre efeito de estresse, especialmente o hídrico, a desfolha é bem mais lenta e reduzida do que a verificada em algodoeiros com atividade metabólica normal. A aplicação de desfolhantes, quando menos de 60% dos frutos estão abertos, provoca redução significativa na produção e efeitos negativos sobre as características tecnológicas da fibra, especialmente sobre o micronaire. Em função da dificuldade em se quantificar a porcentagem de frutos abertos (capulhos), recomenda-se que o desfolhante seja aplicado quando, acima do capulho localizado na posição mais alta da planta, existirem, no máximo, quatro ramos com maçãs, com probabilidade de se transformarem em capulho.
Com a aplicação de desfolhantes, a colheita pode ser antecipada, pois a desfolha provocada pelo produto facilita a penetração dos raios solares no interior do dossel das plantas, e favorece a abertura dos frutos. Além disso, ela auxilia o controle de pragas e a obtenção de produto mais limpo, a colheita é facilitada e o seu rendimento melhor.
Sete a quinze dias após a aplicação do desfolhante, é notória intensa desfolha, o que deixa os capulhos totalmente expostos à ação de chuvas, poeira etc. Portanto, algodoeiros que foram desfolhados não devem ser colhidos muito tempo depois, devido ao risco de depreciação da qualidade da fibra.
No caso de grandes áreas, recomenda-se fazer a aplicação do desfolhante, quando necessário, de forma escalonada, observando-se a capacidade de colheita, como o número de máquinas e a sua capacidade.
Produtos utilizados como desfolhantes:
  1. Tidiazuron + diuron – 120 + 60 g L-1 – dose recomendada é de 48 a 60 g ha-1 de tidiazuron + 24 a 30 g ha-1   de diuron.
  2. Carfentrazone-ethyl (triazolona) – 400 g L-1 – dose recomendada – 40 a 60 g ha-1 + 1% v.v, de óleo mineral. Deve-se tomar cuidado com a concentração de óleo mineral, pois sendo superior a 1% v.v, poderá comprometer a qualidade da fibra, causando sobretudo pegajosidade.
Os maturadores devem ser aplicados quando 100% dos frutos atingirem a maturidade fisiológica ou mais de 90% dos frutos (capulhos) estiverem abertos. Pulverizações precoces de etefom têm efeito negativo sobre a produção e a qualidade da fibra.
Quando da aplicação de maturadores, o alvo principal é o fruto; assim, caso os algodoeiros ainda tenham número elevado de folhas, é imprescindível a aplicação de produto com ação desfolhante, anterior à aplicação do maturador, de modo a facilitar o contato do produto com os frutos (maçãs).
Embora os produtos utilizados como maturadores tenham algum efeito como desfolhante, o objetivo da sua aplicação é acelerar a maturação e a consequente abertura dos frutos.
Um dos produtos recomendados como maturador é o etefom + cyclanilide, em dose que varia entre 720 a 1.200 g de etefom + 90 a 150 g de cyclanilide, que potencializa o efeito do etefom, provocando abscisão foliar.
Para mais informações sobre o uso de desfolhantes e maturadores, consulte a Circular Técnica 95 (Uso de Reguladores de Crescimento, Desfolhantes, Dessecantes e Maturadores na Cultura do Algodoeiro).


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