sexta-feira, 21 de abril de 2017

Cultivares de Algodâo

História do melhoramento do algodoeiro na Embrapa para o Cerrado do Brasil

O programa de melhoramento do algodoeiro da Embrapa para o Bioma Cerrado foi iniciado em 1989, em Mato Grosso. Posteriormente, o programa foi expandido para os cerrados de Goiás e da Bahia, resultando em uma série de cultivares desenvolvidas especificamente para esses estados. Atualmente, o programa está estruturado para desenvolver cultivares considerando condições ecológicas e de sistema de produção no Cerrado com foco em duas regiões: o cerrado da região Centro-Oeste, envolvendo os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Rondônia e o cerrado da região Nordeste, envolvendo os estados da Bahia, Maranhão e Piauí. O programa voltado para o cerrado da região Centro-Oeste preconiza a busca de cultivares com resistência múltipla às principais doenças e nematoides, de ciclo médio a curto e com maior precocidade de maturação, permitindo, inclusive, o cultivo em segunda safra. Já o programa voltado para o cerrado da região Nordeste busca cultivares de ciclo médio a tardio, resistentes às principais doenças e nematoides e com qualidade de fibra diferenciada.
Para ambas as regiões, a produtividade deve ser acima de 300 arrobas/ha, com percentagem de fibra superior a 41%. Em se tratando de fibra de padrão médio de comprimento, as características tecnológicas avaliadas em HVI (High Volume Instruments) devem apresentar finura (índice micronaire) entre 3,7 a 4,2; comprimento entre 28,5 mm a 31 mm; resistência superior a 28 gf/tex; uniformidade de comprimento superior a 80%; índice de fibras curtas inferior a 7%; número de neps que mede o enovelamento da fibra inferior a 250; fiabilidade superior a 2.200 e alongamento superior a 7%. Adicionalmente, a agregação de características através da transgenia, como a tolerância a herbicidas e a resistência a lepidópteros, contribui para uma melhor eficiência do sistema produtivo. As cultivares devem apresentar boas respostas a aplicação de insumos, incluindo fertilizantes químicos, inseticidas, herbicidas, fungicidas, reguladores de crescimento e desfolhantes. É exigida boa adaptação à colheita mecanizada, devendo as plantas apresentar a inserção do primeiro ramo frutífero acima de 20 cm do solo; porte ereto, mesmo quando manifestando todo seu potencial produtivo e capulhos bem aderidos às cápsulas.
Como resultados do programa de melhoramento, a Embrapa já desenvolveu diversas cultivares de algodoeiro para as condições do Cerrado: CNPA ITA 90, CNPA ITA 92, BRS ITA 96, CNPA ITA 97, BRS ANTARES, BRS FACUAL, BRS AROEIRA, BRS IPÊ, BRS SUCUPIRA, BRS ITAUBA, BRS CEDRO, BRS ARAÇA, BRS 269-BURITI, BRS 286, BRS 293, BRS 335 e BRS 336, BRS 368 RF, BRS 369 RF, BRS 370 RF, BRS 371 RF e BRS 372.
Entre as principais características utilizadas pelo produtor na tomada de decisão para a escolha da cultivar, além do potencial produtivo, percentagem de fibra e adaptação da mesma a sua região, podemos citar os seguintes fatores:
  • ciclo fenológico;
  • tecnologia de transgenia;
  • resistência a doenças e nematoides;
  • comprimento da fibra.
O detalhamento destas características é apresentado a seguir:

Ciclo fenológico

Com relação ao ciclo, as cultivares de algodão são classificadas como de ciclo precoce, médio e tardio conforme descrito abaixo:
  • ciclo tardio: normalmente, são indicadas na abertura do plantio em regiões que fazem o cultivo de safra única ou também denominado “algodão safra”. Cultivares com essas características de ciclo são muito utilizadas na Bahia, Tocantins, Maranhão e Piauí, bem como em algumas áreas que cultivam uma única safra no sul dos estados de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul. São consideradas cultivares tardias aquelas que demandam acima de 180 dias da emergência até a maturação (90% dos capulhos abertos), tomando-se como referência as condições do Cerrado, em altitude acima de 750 m e semeadura no período de safra.
  • ciclo médio: são indicadas para cultivo em safra podendo também ser empregadas em segunda safra. São consideradas cultivares de ciclo médio aquelas que demandam entre 160 a 180 dias da emergência até a maturação (90% dos capulhos abertos), tomando-se como referência as condições do Cerrado, em altitude acima de 750 m e semeadura no período de safra.
  • ciclo precoce: são indicadas para fechamento de plantio na primeira safra e para plantios tardios na segunda safra ou “safrinha”. Têm menor capacidade de recuperação da produção quando submetidas a estresses ambientais do que as de ciclo médio, em função do ciclo mais determinado. São consideradas cultivares de ciclo precoce aquelas que demandam menos de 160 dias da emergência até a maturação (90% dos capulhos abertos), tomando-se como referência as condições do Cerrado, em altitude acima de 750 m e semeadura no período de safra.

Tecnologias de transgenia

Atualmente, um dos fatores decisivos na escolha da cultivar pelo produtor é a tecnologia de transgenia que as cultivares possuem. Esse é um fator importante, pois influenciará bastante no manejo da lavoura. No entanto, é fundamental que a transgenia seja inserida em germoplasma de alto valor agronômico, fitossanitário e que seja provedor de fibra de alta qualidade. Atualmente, existem no mercado diversas cultivares transgênicas que possuem resistência a herbicidas, a insetos praga (lepidópteros) e também a herbicidas e insetos, simultaneamente. Ressalta-se, entretanto, que existem cultivares convencionais (não portadoras de transgenia), que poderão ser empregadas em casos aonde se opte pelo não emprego de cultivares transgênicas.
As cultivares convencionais são utilizadas em áreas de manejo convencional de plantas daninhas com herbicidas seletivos ao algodão e, também, em áreas de refúgio nas lavouras que utilizam transgenia para resistência a insetos. As áreas de refúgio devem ser de, pelo menos, 20% da área cultivada. A Embrapa possui diversas cultivares convencionais que atendem às mais diversas necessidades dos produtores. Entre elas podemos citar: a BRS 269 Buriti, BRS 286, BRS 293;  BRS 335, BRS 336 e BRS 372.
Considerando-se as opções de transgenia em algodoeiro, as cultivares podem ser portadoras das seguintes tecnologias:
  • Tecnologia Roundup Ready® (RR®): são resistentes ao herbicida glifosato aplicado em área total, até a quarta folha verdadeira do algodão (estádio V4). São cultivares da primeira geração de transgênicos de algodão no Brasil, facilitando o manejo de plantas daninhas e podendo ser utilizadas nas áreas de refúgio de cultivares com resistência a insetos;
  • Tecnologia Bollgard I® Roundup Ready® (BGRR®): apresentam resistência simultânea ao herbicida glifosato aplicado em área total, até a quarta folha verdadeira do algodão (estádio V4) e a algumas espécies de lagartas (curuquerê, lagarta rosada). São a primeira geração de transgênicos de algodão no Brasil, facilitando o manejo de plantas daninhas e insetos, esta última, em decorrência da expressão da proteína Cry1Ac.
  • Tecnologia Liberty Link® (LL®): são resistentes ao herbicida glufosinato de amônia em todas as fases do algodoeiro. Essas cultivares facilitam o manejo das plantas daninhas e podem ser utilizadas nas áreas de refúgio de cultivares com resistência às lagartas.
  • Tecnologia Roundup Ready Flex® (RF®): são resistentes ao herbicida glifosato aplicado em área total, em todas as fases da cultura do algodão. Facilitam o manejo de plantas daninhas e podem ser utilizadas nas áreas de refúgio de áreas cultivadas com cultivares resistentes a insetos. A Embrapa possui quatro cultivares com esta tecnologia: BRS 368 RF, BRS 369 RF, BRS 370 RF e BRS 371 RF.
  • Tecnologia Widestrike® (WS®): apresentam resistência às lagartas de algumas espécies de lepidópteros. Expressam duas proteínas que conferem resistência a insetos (Cry1Ac e CryF).
  • Tecnologia Bollgard II® Roundup Ready Flex® (B2RF®): apresentam resistência simultânea ao herbicida glifosato aplicado em área total, em qualquer fase do ciclo do algodão e a um amplo espectro de espécies de lagartas. Expressam duas proteínas de resistência a insetos (Cry1Ac e Cry2Ab2).
  • Tecnologia GlyTol®, TwinLink® e LibertyLink® (GLT®): apresentam resistência simultânea aos herbicidas glifosato e glufosinato de amônio aplicado em área total, em qualquer fase do ciclo fenológico da cultura do algodão e a um amplo espectro de espécies de lagartas. Expressam duas proteínas de resistência a insetos (Cry1Ab e Cry2Ae).

Resistência a doenças e nematoides

Para as condições de Cerrado, que em geral apresentam elevada precipitação pluviométrica durante o ciclo da cultura do algodão, a tolerância/resistência a doenças é um fator importante na escolha da cultivar.
Atualmente, todas as novas cultivares disponibilizadas ao mercado pelos programas de melhoramento genético no Brasil são resistentes à virose denominada doença azul (Cotton leafroll dwarf virus, CLRDV) e à bacteriose causadora da mancha angular (Xanthomonas citri subsp. malvacearum). Isso é possível devido à seleção assistida por marcadores moleculares que auxiliam na seleção de cultivares resistentes.
A resistência genética a outras doenças como a ramulose (Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides) e mancha de ramulária (Ramularia aréola), também são importantes para a escolha da cultivar. Poucas cultivares têm resistência genética à ramulose. Para a mancha de ramulária, a doença causadora das principais perdas e aumento do custo com controle no cultivo no Cerrado, na atualidade, existem cultivares com diferentes graus de resistência genética. A Embrapa Algodão desenvolveu a cultivar BRS 372, portadora de elevada resistência.
A tolerância ou resistência a nematoides também é um fator decisivo na escolha da cultivar, principalmente em áreas com níveis de infestação que causam danos significativos. Existem no mercado cultivares com diferentes níveis de resistência/tolerância a nematoides. Para mais informações sobre o manejo dos fitonematoides e/ou escolha da cultivar mais adequada em cada condição, sugere-se consultar o Comunicado Técnico 376 (Manejo de Fitonematoides na Cultura do Algodoeiro).

Comprimento da fibra

De acordo com a sua qualidade, a fibra do algodão tem diferentes aplicações industriais. O comprimento das fibras é um dos principais fatores que determinam a qualidade do produto. No entanto, é o conjunto de caraterísticas intrínsecas da fibra (comprimento, resistência, micronaire, entre outras) que possibilita a obtenção de fios e tecidos de elevada qualidade. Quanto ao comprimento da fibra, tem-se a seguinte classificação:
  • Média: comprimento de 28 mm a 31,2 mm;
  • Longa: comprimento de 31,3 mm a 34,8 mm; e
  • Extra-longa: comprimento de 34,8 mm a 41,0 mm.
As cultivares disponíveis no Brasil, em sua maioria, são classificadas como de fibra média. A Embrapa desenvolveu a cultivar BRS 336, que produz fibras no padrão médio de comprimento e com elevada resistência.
Atualmente, não existem cultivares de fibra extra-longa adaptadas às condições do Cerrado brasileiro.
Para obter as melhores respostas produtivas, bem como obter o benefício das demais características proporcionadas pelo melhoramento genético, as cultivares devem ser manejadas seguindo-se as recomendações especificadas para cada uma, atentando-se, para a população de plantas, exigência em regulador de crescimento e manejo de doenças. Também se faz fundamental a adoção de práticas e sistemas de produção que visem maior sustentabilidade, tais como a rotação de culturas, o uso de espécies de cobertura do solo, o manejo integrado de pragas e doenças, a rotação de eventos transgênicos relacionados à tolerância a herbicidas e a resistência a insetos, bem como o emprego de áreas de refúgio associadas aos cultivos com cultivares transgênicas.  
Para consultar todas as cultivares de algodão que podem ser comercializadas, acesse o Registro Nacional de Cultivares (RNC) do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA). Para serem cultivadas em uma determinada região, é recomendável que as cultivares estejam indicadas para essa região constando no Zoneamento de risco climático. O zoneamento é publicado em portarias no Diário Oficial da União e no site do MAPA.



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