terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Pragas da Cultura do Centeio


Pragas e métodos de controle

As espécies de insetos fitófagos encontradas em lavouras de centeio são praticamente as mesmas observadas em outros cereais de inverno, como trigo, cevada e aveia. Embora numerosas, apenas algumas espécies ocorrem em quantidade e frequência que as caracterizem como pragas do ponto de vista econômico, quando se justifica a adoção de medidas de controle. No controle químico, devem ser usados produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, dando-se preferência aos de menor risco toxicológico e ambiental e para os inimigos naturais das pragas.

Pulgões

Os pulgões (Hemiptera, Aphididae) são insetos sugadores de seiva. As principais espécies que ocorrem em cereais de inverno são: Metopolophium dirhodum (pulgão-da-folha), Sitobion avenae (pulgão-da-espiga), Schizaphis graminum (pulgão-verde-dos-cereais), Rhopalosiphum padi (pulgão-da-aveia) e R. rufiabdominale (pulgão-da-raiz).
Os pulgões são insetos pequenos (1,5 a 3,0 mm), de corpo mole e piriforme, com antenas longas. Possuem aparelho bucal do tipo picador-sugador e se multiplicam rapidamente, sendo favorecidos por temperatura amena e elevada e clima seco. Vivem em colônias formadas por adultos (fêmeas) alados e ápteros e por ninfas de diferentes tamanhos.
Tanto pulgões jovens (ninfas) como adultos alimentam-se da seiva de plantas, podendo ocorrer na cultura, desde a emergência até que os grãos estejam completamente formados. Ocasionam danos diretos (sucção de seiva) e indiretos (transmissão do Vírus do Nanismo Amarelo da Cevada, causador de doença, e injeção de saliva tóxica, no caso de S. graminum, que causa amarelecimento e morte de plantas). A incidência e os danos de pulgões em centeio são considerados menores que em outros cereais de inverno, como trigo, cevada e aveia.
O Programa de Controle Biológico de Pulgões desenvolvido pela Embrapa Trigo, juntamente com a racionalização do uso de inseticidas químicos, foi a base para o estabelecimento do manejo integrado de pulgões em cereais de inverno, no extremo sul do Brasil. Esse programa, embora não tenha sido dirigido especificamente para a cultura de centeio, também repercutiu positivamente sobre ela.
No manejo de pulgões da parte aérea de trigo, recomenda-se aplicar inseticidas apenas quando forem atingidos os seguintes níveis populacionais, de acordo com a fase das plantas: a) 10 % de plantas infestadas, da emergência ao perfilhamento; b) 10 pulgões/perfilho, do alongamento ao emborrachamento; e c) 10 pulgões/espiga, do espigamento ao grão em massa. O nível de infestação deve ser avaliado por meio de inspeções semanais da lavoura, amostrando-se aleatoriamente locais, na bordadura e no interior das lavouras, que proporcionem resultado médio representativo da densidade de pulgões.
Os pulgões são facilmente controlados com inseticidas diluídos em água e aplicados via pulverização da parte aérea de plantas. O tratamento de sementes com inseticidas apropriados também é tecnicamente viável.
Figura 1. Pulgões que atacam plantas de centeio.

Lagartas

As lagartas, formas jovens de mariposas (Lepidoptera, Noctuidae), estão entre as pragas mais frequentes da cultura de centeio. As espécies mais comuns inicialmente são verdes e, quando maiores, podem apresentar coloração variável do esverdeado ao quase preto, predominando a coloração pardo-acinzentada com listras longitudinais claras e escuras.
No Sul do País, podem ocorrer as espécies Pseudaletia sequax e P. adultera, denominadas lagartas-do-trigo. A lagarta-militar (Spodoptera frugiperda), também chamada lagarta-do-cartucho do milho, ocorre nas regiões de inverno seco e pouco frio. Todas são espécies polífagas, também consideradas pragas em trigo, cevada, aveia e em milho, entre outras culturas. Alimentam-se mais ativamente a noite e em dias nublados e escondem-se no solo, em rachaduras, sob torrões e/ou restos culturais. Geralmente ocorrem em focos, causando danos, inicialmente, em áreas restritas, mas que tendem a se expandir. Em locais com vegetação mais densa, ou com plantas acamadas, pode existir maior concentração de lagartas-do-trigo.
Os danos da lagarta-do-trigo são mais frequentes a partir do espigamento até a fase de maturação, período em que consomem folhas e espigas. A lagarta-militar, em geral, ocorre na fase de início de desenvolvimento da cultura, desde a emergência até o afilhamento, agindo como inseto desfolhador, podendo, porém, consumir toda a parte aérea de plântulas.
O monitoramento de lagartas com o objetivo de avaliar a densidade populacional e identificar a necessidade de controle artificial deve ser feito por amostragens manuais. Para as condições da Região Sul, o monitoramento da lagarta-do-trigo deve começar no espigamento, considerando-se o número de lagartas e o desfolhamento.
Os inseticidas, diluídos em água, devem ser aplicados em pulverização da parte aérea de plantas. O controle deve ser efetuado, preferentemente, nos focos de infestação, tendo em vista que o principal modo de ação é via ingestão.

Figura 2. Lagartas desfolhadoras. a) lagarta-do-trigo (adulto), Pseudaletia sequax; b) lagarta-do-trigo (larva), P. sequax; c) lagarta-militar, Spodoptera frugiperda e d) lagarta-dos-capinzais, Mocis latipes.

Corós

Os corós (Coleoptera, Melolonthidae) são larvas de solo de cor esbranquiçada, com a cabeça e os três pares de pernas (torácicos) mais escuros. Constituem problema maior no Sul do Brasil, em que ocorrem as espécies Diloboderus abderus (coró-da-pastagem) e Phyllophaga triticophaga (coró-do-trigo). São espécies que passam pelas fases de ovo, larva (coró), pupa e adulto e de ciclo biológico longo: D. abderus tem ciclo anual e P. triticophaga, bianual. Podem ser diferenciados morfologicamente: os adultos (besouros) diferem em tamanho e em cor; as larvas (corós), em tamanho, se comparadas na mesma fase, e na disposição de pêlos e de espinhos na região ventral do último segmento abdominal. A identificação de espécies é importante, pois nem todos os corós presentes no solo são rizófagos e, potencialmente, pragas. Os corós são polífagos, podendo atacar diversas espécies de plantas, cultivadas ou não.
A ocorrência de corós não está generalizada em todas as regiões produtoras. Os ataques iniciam em manchas, podendo evoluir para áreas maiores. O fato de uma área ter problemas de corós num ano, não significa que os terá nos anos seguintes, pois as populações flutuam naturalmente, em função de clima e de inimigos naturais. No Sul, os corós ocasionam maiores danos em culturas de inverno, embora também possam danificar culturas de verão em fim de ciclo (soja) ou semeadas precocemente (soja e milho). Em centeio, os danos de corós são potencialmente grandes, uma vez que o cereal é semeado e cultivado na época em que larvas apresentam maior capacidade de consumo. Os corós alimentam-se de sementes, raízes e parte aérea de plântulas, que puxam para dentro do solo, diminuindo a população de plantas e a capacidade de produção das plantas sobreviventes.
Para manejo de corós, é fundamental que seja realizado monitoramento periódico das áreas, por meio da abertura de trincheiras com 20 cm de profundidade no solo, em número e tamanho necessário para conferir representatividade à amostragem. Sinais e sintomas da presença de corós (diminuição da população de plantas, plantas mal desenvolvidas, perdas em rendimento etc.) também auxiliam no monitoramento.
Não existem indicações específicas para manejo de corós em centeio. Em trigo, tanto o coró-das-pastagens como o coró-do-trigo podem causar danos a partir de 5 corós/m2. O tratamento de sementes com inseticidas tem se mostrado eficiente no controle dessas larvas de solo.
Figura 3. A) Adulto do coró-do-trigo; B) Larva
Figura 4. A) Adulto do Coró-das-pastagens; B) Larva

Outras pragas

A broca-do-colo (Elasmopalpus lignosellus - Lepidoptera, Pyralidae) pode infestar diversas culturas de gramíneas e de leguminosas. É uma lagarta muito ágil, de coloração marrom-esverdeada, com faixas transversais claras e escuras, que atinge de 1,5 a 2,0 cm de comprimento. Elevadas infestações estão associadas a longos períodos de estiagem, a temperatura média relativamente elevada e a solos arenosos. Ocorre desde a emergência até o afilhamento das plantas, quando penetra na região do colo e vai broqueando uma galeria ascendente no colmo, provocando morte de plântulas e de afilhos. O plantio direto desfavorece a infestação da broca-do-colo. A broca-da-cana (Diatraea saccharalis - Lepidoptera, Pyralidae) também pode atacar cereais de inverno, geralmente sem causar danos em escala econômica. A lagarta recém-eclodida penetra no colmo, broqueando-o à medida que se desenvolve, causando morte da espiga, com típico sintoma de espiga-branca.
No Sul, ocorrem outras espécies de brocas, como a broca-da-coroa (Listronotus bonariensis - Coleoptera, Curculionidae) e a larva-alfinete (Diabrotica speciosa – Coleoptera, Chrysomelidae). São larvas pequenas (3 mm e 10 mm, respectivamente) que agem na região da coroa das plantas, alimentando-se de raízes e perfurando galerias ascendentes, que provocam morte de folhas centrais de plântulas e morte de afilhos.
Os percevejos (Hemiptera) são insetos sugadores, que passam pelas fases de ovo, ninfa e adulto. As espécies mais comumente encontradas em cereais de inverno são percevejo-verde (Nezara viridula - Pentatomidae), percevejo-do-trigo (Thyanta perditor - Pentatomidae) e percevejos-raspadores (Collaria scenica e C. oleosa - Miridae). Mais recentemente, têm havido infestações do percevejo-barriga-verde Dichelops spp.
Os tripes (Thysanoptera, Thripidae) são insetos diminutos, com menos de 1 mm de comprimento. Ninfas e adultos raspam e sugam os tecidos vegetais. Localizam-se e atacam especialmente na base do limbo foliar e de aristas, originando lesões de aspecto branco-prateado e manchas pretas, que são as fezes dos insetos.
Diversas espécies de besouros desfolhadores (Coleoptera), como vaquinha-verde-amarela ou patriota (Diabrotica speciosa), alimentam-se de folhas, mas, em geral, sem causar prejuízos. Ocorrem com maior intensidade desde a emergência até o alongamento do colmo das plantas, período em que as plantas toleram até mesmo desfolhamentos severos.
Além de corós, centeio pode ser atacado em seus órgãos subterrâneos por diversas outras espécies de larvas, normalmente sem haver danos severos. Entre essas, podem ser citadas a larva-arame (Conoderus scalaris - Coleoptera, Elateridae) e o gorgulho-do-solo (Pantomorus sp. - Coleoptera, Curculionidae).
Formigas saúvas (Atta spp.) e quenquéns (Acromyrmex spp.) (Hymenoptera, Formicidae) podem atacar a cultura de centeio, principalmente no início do desenvolvimento de plantas, em pequenas áreas da lavoura, cortando folhas e colmos.

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