sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Doenças da Cultura do Centeio



Doenças e métodos de controle

As populações de centeio cultivadas no Brasil apresentam marcada resistência às doenças da parte aérea, como oídio, ferrugem da folha e septoriose. Em outros países, é comum a ocorrência de doenças fúngicas, como oídio, carvão, ferrugem da folha, ferrugem amarela, escaldadura da folha, mancha em rede, septoriose e antracnose. Além disso, também ocorrem doenças causadas por vírus, nematóides e bactérias.
As principais doenças que ocorrem na cultura de centeio no Sul do Brasil são:
  • Nome comum: Ferrugem do colmo (Agente causal – Puccinia graminis Pers. f.sp. secalisEriks & Henn.). Esta doença pode ser considerada a mais importante de centeio. As plantas infectadas apresentam descoloração inicial dos tecidos, e, com o progresso da doença, surgem frutificações (pústulas), ovais a alongadas, isoladas ou agrupadas, sobre colmo, baínhas e lâminas foliares, inicialmente de coloração amarelada, que escurecem com o tempo. As pústulas podem romper a epiderme do tecido e liberar os esporos (uredosporos). Os esporos do fungo são disseminados, principalmente pelo vento, e sobrevivem em plantas voluntárias. A maioria das populações coloniais, cultivar Centeio BR 1, inclusive, são suscetíveis à ferrugem do colmo, que ocorreu intensamente no Brasil em 1981, sendo a principal responsável pela destruição da quase totalidade das lavouras. A cultivar IPR 89, registrada em 2000 pelo IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná), possui considerável resistência às raças de ferrugem do colmo existentes no Brasil. Para controle desta doença, a eliminação de plantas voluntárias, o uso de cultivares resistentes e o controle químico são os procedimentos mais indicados.
  • Nome comum: Brusone (Agente causal – Magnaporthe oryzae B. Couch (anamorph. Pyricularia oryzae Cavara). No Brasil, entre as chamadas “culturas de inverno”, o problema da brusone transcende à cultura do trigo, atingindo a cultura do centeio que também sofre muito com a doença. A ocorrência da doença é mais comum no Norte do Paraná, no Estado de São Paulo e regiões do Cerrado brasileiro onde o centeio é cultivado. O fungo pode atacar toda a parte aérea da planta, porém, o sintoma mais característico é observado nas espigas. Quando a infecção ocorre na ráquis, a espiga apresenta branqueamento parcial ou total da parte imediatamente superior à lesão (ponto preto e brilhante no local de penetração do fungo), promovendo esterilidade ou enchimento parcial dos grãos, também conhecido por “chochamento”. De maneira geral, as dificuldades para o controle da brusone na cultura do centeio são idênticas àquelas verificadas na cultura do trigo. Entre as práticas de manejo mais importantes indicadas para o controle da doença, estão as seguintes. Rotação de culturas, adubação equilibrada, tratamento de sementes e da parte aérea com fungicidas, uso de cultivares com maior nível de resistência à doença. No entanto, tais práticas não tem sido suficientes para evitar os danos causados pela doença, especialmente em anos de fortes epidemias.
  • Nome comum: Mal-do-pé (Agente causal – Gaeumannomyces graminis var. tritici (Sacc.) Arx & Oliv..). É uma das mais sérias doenças radiculares dos cereais de inverno (trigo, cevada, triticale e centeio). O fungo sobrevive no solo, e a infecção pode ocorrer em qualquer época da estação de desenvolvimento da cultura. Os maiores danos são observados quando a infecção ocorre nas fases iniciais de desenvolvimento da planta. Elevada umidade e temperatura do solo abaixo de 20 ºC favorecem o desenvolvimento da infecção radicular. Os sintomas mais comuns são “reboleiras” de plantas mortas, ou cloróticas, e formação de espigas esbranquiçadas ou cloróticas durante o enchimento de grãos. Quando arrancadas, as plantas oferecem pouca resistência, em razão do sistema radicular deficiente e de coloração escura a preta, assim como nos tecidos do caule logo acima da superfície do solo. A medida de controle é a rotação de culturas com espécies não-suscetíveis, como aveias e leguminosas de inverno.
  • Nome comum: Nanismo amarelo (Barley/Cereal yellow dwarf virus) O nanismo amarelo é causado por espécies do Barley yellow dwarf virus (BYDV) e do Cereal yellow dwarf virus(CYDV). Estes vírus são capazes de infectar várias espécies de gramíneas entre elas o centeio. A transmissão é realizada por várias espécies de afídeos. São particularmente importantes no Sul e Centro-sul do Brasil, o Rhopalosiphum padi que ocorre ao longo de todo o ano, e Sitobion avenae, que ocorre principalmente na época de espigamento das culturas de inverno. A doença ocorre nas diversas regiões tritícolas brasileiras, sendo que invernos com temperaturas amenas e clima mais seco favorecem as populações de afídeos e a disseminação da doença. O sintoma típico desta virose é o amarelecimento e/ou avermelhamento das folhas, que ocorre do seu ápice em direção à base (esta normalmente permanece verde). O limbo foliar tende a ficar enrijecido e enrolar sobre si mesmo. A doença ocorre em reboleiras, mas, sob condições favoráveis, pode ocupar grandes áreas. A severidade dos sintomas e os danos são dependentes da cultivar e do estádio em que ocorreu a infecção. Plantas de cultivares suscetíveis e intolerantes, que tenham sido infectadas em estádio inicial de desenvolvimento, apresentam redução da estatura, do número de afilhos, do tamanho e do número das espigas e grãos. Os genótipos de centeio brasileiros tem-se mostrado mais tolerantes a esta virose do que outros cereais de inverno como triticale, trigo e aveia (LAU et al.,2012). Em geral, o controle biológico por meio de parasitóides e predadores e os níveis de tolerância desta espécie são eficazes.
  • Nomes comuns: Mosaico comum, Vírus do Mosaico Comum do Trigo, Vírus do Mosaico do Trigo etc. Esta virose, transmitida pelo fungo de solo Polymyxa graminis Led., pode ocorrer em trigo, triticale e cevada. O desenvolvimento da infecção é favorecido em condições de elevada umidade do solo, situação com maior possibilidade de ser encontrada em áreas de baixada ou solos sujeitos ao encharcamento, podendo ser agravada em anos com excesso de precipitação pluvial. Os sintomas podem ser verificados em plantas isoladas e/ou em “reboleiras”, caracterizadas por coloração de verde-clara a amarela, em mosaico nos limbos foliares, com reduzido crescimento e desenvolvimento das plantas. Como medida de controle devem-se usar variedades resistentes.
  • Nome comum: Podridão comum de raízes. Caracteriza-se pela colonização dos tecidos das raízes e da coroa, sendo Cochliobolus sativus (Ito & Kurib.) Drechs. ex Dastur (Bipolaris sorokiniana (Sacc. in Sorok.) Shoemaker) o principal fungo associado em trigo no Brasil, podendo ocorrer com menor frequência Gibberella zeae (SchW.) Petch (Fusarium graminearum Schwabe), de acordo com Reis et al. (2001). As principais fontes de inóculo são sementes infectadas e propágulos no solo. O ataque em plântulas pode resultar em morte ou acamamento de plantas. Os sintomas mais comuns são o descoloramento do tecido radicular, que, com o tempo, torna-se acinzentado. Plantas adultas doentes apresentam lesões pequenas, ovais e de coloração marrom nas raízes, nas baínhas das folhas inferiores ou nos internódios da coroa da planta, próximo à superfície do solo. Essa coloração acinzentada do sistema radicular é uma das características que diferem esta doença do mal-do-pé (REIS et al., 2001). O controle pode ser realizado mediante rotação de culturas com espécies não-suscetíveis, tratamento de sementes com fungicidas específicos de amplo espectro, uso de sementes sadias e manutenção da fertilidade do solo em nível suficiente para o desenvolvimento vigoroso das raízes.
  • Nomes comuns: Helmintosporiose ou Mancha marrom (Agente causal Cochliobolus sativus(Ito & Kurib.) Drechs. ex Dastur (Bipolaris sorokiniana (Sacc. in Sorok.) Shoemaker). De acordo com Reis et al. (2001), é a mancha foliar mais comum de centeio. A incidência da doença é favorecida por temperatura superior a 24 ºC, períodos de molhamento ininterruptos de 9 a 24 horas ou superiores e elevada umidade do ar (PICININI, FERNANDES, 2002). Os sintomas iniciais da doença manifestam-se nas primeiras folhas na forma de lesões necróticas de pardas a negras, podendo ocorrer em todos os estádios de desenvolvimento. As lesões podem ser ovaladas a oblongas, com bordos definidos que variam em tamanho, podendo crescer até coalescerem, formando grandes manchas que cobrem largas áreas do limbo foliar. Nas espigas, as lesões nas glumas têm centro claro e halo escuro. As medidas de controle são: uso de sementes sadias, tratamento de sementes, uso de cultivares resistentes e rotação de culturas.
  • Nomes comuns: Giberela ou Fusariose (Agente causal Gibberella zeae (Fusarium graminearum Schw.)). Esta doença é comum nos estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná, ocorrendo com maior frequência em regiões de umidade do ar ou precipitação pluvial elevadas durante o período compreendido entre espigamento e maturação das plantas. Os sintomas de infecção das espiguetas podem ser observados pelo escurecimento dos tecidos do ráquis e da base das espiguetas. Muitas vezes, as espigas ou espiguetas infectadas tornam-se esbranquiçadas, gerando grãos pequenos e mal-formados. Se houver condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento do micélio do fungo, de coloração avermelhada ou marrom, este poderá cobrir parte da estrutura floral e dos grãos. O fungo pode produzir micotoxinas, como a deoxynivalenol (DON), altamente associada à ocorrência de fusariose no grão. A presença de micotoxinas deprecia o produto, até mesmo quando usado para ração animal, podendo causar redução de consumo e perda de peso, especialmente em animais não-ruminantes. Níveis de DON nos grãos são dependentes de muitos fatores, desde a intensidade de ataque de fusariose nos grãos à resistência genética da cultivar e às condições ambientais durante o curso da infecção. Assim, torna-se fundamental a realização de testes para determinar o nível de DON em grãos infectados para uso em forrageamento. O patógeno sobrevive em restos culturais, em sementes infectadas e em plantas hospedeiras. As principais medidas de controle são uso de materiais menos suscetíveis, escalonamento de semeadura e uso de sementes sadias.
  • Nome comum: Clavagem, também chamada Ergot ou esporão do centeio (Claviceps purpurea). Doença muito preocupante em vários países, pois produz um alcalóide muito tóxico ao homem e aos animais. Em doses diminutas, esse alcalóide é usado como medicamento abortivo. O Ergot ocorre esporadicamente em centeio, sem, no entanto, ser considerado grave. Culturas com incidência, como azevém, são hospedeiras desse fungo, e podem causar abortos em animais com prenhez positiva.
Para controle de doenças de centeio e de outros cereais de inverno, é importante obedecer às normas de rotação de culturas e usar materiais resistentes e semente de procedência.

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