terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Clima e Solos para o Centeio



Clima
A cultura de centeio possui ampla adaptação e pode ser cultivada em uma vasta diversidade de condições ambientais, quando comparado a outros cereais de inverno. É cultivado desde o círculo polar ártico até altitudes de 4.300 m, no Himalaia (BAIER, 1994). Sob condições de temperatura baixa, próximo a zero, ou em caso de ocorrência de geada, centeio possui maior potencial de rendimento de massa verde do que trigo ou aveia (Avena sativa L.). Isso se verifica pelo fato de a atividade fisiológica de crescimento ocorrer à temperatura basal a partir de 0 ºC, enquanto trigo, a partir de 2,8 a 4,4 ºC, azevém, 6,4 ºC, e aveia, 4,4 ºC (BRUCKNER; HANNA, 1990).
Uma característica do centeio que enfatiza a eficiência da cultura para cobertura é a adaptação a condições frias e secas. A temperatura ótima para o crescimento da planta é de 25 a 31 ºC. É em regiões mais elevadas e mais frias, ou em anos com invernos mais frios ou mais secos, que centeio se destaca pela maior produção de massa e pela precocidade. Mundstock (1983) evidenciou centeio como o cereal mais tolerante a baixa temperatura, principalmente nas fases iniciais de desenvolvimento. Todavia, centeio é muito sensível a elevada temperatura durante a floração e a formação de grãos. É planta exigente em dias longos, e o florescimento é induzido por 14 horas, ou mais, de luz.
Centeio é pouco exigente em disponibilidade hídrica durante o desenvolvimento e altamente sensível a excesso de chuva, justificando assim as maiores áreas de cultivo em regiões de solos arenosos e com déficit hídrico, como na Polônia e na Argentina. A água é requerida com maior intensidade durante as fases de florescimento e de enchimento de grãos.

Solos

O centeio é mais produtivo (grãos, forragem etc.) do que outros cereais de inverno, em condições de baixa fertilidade, maior acidez e reduzida umidade de solo, podendo ser indicado para cultivo em solos arenosos, degradados e exauridos e recomendado para recuperar e proteger áreas em processo de desertificação. É menos exigente em adubação ou em preparo de solo que outros cereais de inverno. Requer temperatura baixa durante o afilhamento e solos profundos e bem drenados, devendo-se evitar seu cultivo em solos muito argilosos ou encharcados.
A planta de centeio desenvolve-se adequadamente em uma ampla variação de umidade, mas em geral ela supera as leguminosas e os demais cereais de inverno em solos arenosos, pobres quimicamente e em condições de seca, requerendo 20-30% menos água, por unidade de matéria seca, do que a planta de trigo.
O centeio é conhecido por tolerar acidez, podendo ser cultivado em condições de pH entre 4,5 e 8,0, mas, de forma genérica, encontra melhor adaptação com pH entre 5,0 e 7,0. Adapta-se melhor às regiões situadas em altitudes superiores a 400 m, no Rio Grande do Sul (RS), em Santa Catarina (SC), no Paraná (PR), em São Paulo (SP), em Minas Gerais (MG) e em Mato Grosso do Sul (MS). Entretanto, quando adubada corretamente, a cultura responde positivamente com aumento de rendimento de grãos e de massa verde.
Lemos et al. (1967) definiram que solos considerados ideais para a cultura de trigo e para outros cereais de inverno não-irrigados, deveriam apresentar as seguintes características: ausência de impedimentos de natureza química, ausência de impedimentos físicos, ausência de impedimentos à mecanização e pouca suscetibilidade à erosão. Monegat (1991) relata que centeio, apesar de se desenvolver em condições de baixa fertilidade, responde satisfatoriamente e produz mais quando adubado adequadamente e com pH do solo corrigido para valor entre 5,6 e 7,0. Hernani et al. (1995) reportam que centeio apresenta exigência hídrica menor que os demais cereais de inverno.
As seguintes propriedades e características de solo foram obtidas a partir de perfis de solos considerados ideais para cultivo de cereais de inverno, por Lemos et al. (1967), Baier (1994), Hernani et al. (1995) e Wiethölter (2011) , e que podem ser consideradas as desejáveis para o cultivo de centeio:

Químicas

  • capacidade de troca catiônica acima de 10 cmolc dm-3;
  • teor de alumínio trocável inferior a 0,5 cmolc dm-3;
  • nível de matéria orgânica do solo entre 1 e 5 %;
  • saturação por alumínio abaixo de 5%;
  • saturação por sódio abaixo de 4%;
  • saturação por bases acima de 35%;
  • Teor de fósforo médio;
  • pH entre 5,5 e 6,0.

Físicas

  • solos minerais não hidromórficos;
  • teor de argila acima de 25%;
  • densidade do solo entre 1,10 e 1,25 g cm-3;
  • porosidade total 50%;
  • água disponível acima de 10%;
  • ausência de encharcamento.

Morfológicas

  • profundidade efetiva acima de 100 cm;
  • ausência de camadas adensadas;
  • ausência de argilas expansivas;
  • drenagem de boa a forte;
  • ausência de petroplintita, pedregosidade e rochosidade.
O centeio é cultivado, no Brasil, nos estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná, de São Paulo, de Mato Grosso do Sul e de Minas Gerais (Baier, 1994). Não há zoneamento para a cultura no Brasil, porém, em virtude da similaridade, ela pode ser conduzida nas mesmas áreas aptas para a cultura de trigo. O zoneamento para a cultura de trigo divide os solos, quanto à textura (teor de argila), e indiretamente, quanto à disponibilidade de água para as plantas, em três classes, de acordo com proposto por Hamakawa et al. (1994):
- Tipo 1: solos de textura arenosa, com 7% de água disponível na região radicular.
- Tipo 2: solos de textura média, com 10% de água disponível.
- Tipo 3: solos de textura argilosa, com 12% de água disponível.

Solos aptos para a cultura de centeio no Rio Grande do Sul

Os dois riscos climáticos mais relevantes para a cultura de centeio no Rio Grande do Sul – geada na floração e excesso de chuva na colheita – não estão relacionados com o tipo de solo.
Tipo 2: Latossolo Vermelho-escuro (< 35% de argila) e Latossolo Vermelho-amarelo;
Tipo 3: Latossolo Vermelho-escuro com textura argilosa (> 35% de argila); Latossolo Roxo; Podzólico Vermelho-amarelo; Podzólico Vermelho-escuro; Solos Litólicos, Cambissolos e Cambissolos Eutróficos; Solos Aluviais.

Solos aptos para a cultura de centeio em Santa Catarina

Os dois riscos climáticos mais relevantes para a cultura de centeio em Santa Catarina – geada na floração e excesso de chuva na colheita – não estão relacionados com o tipo de solo.
Tipo 2: Latossolo Vermelho-amarelo (< 35% de argila).
Tipo 3: Latossolo Vermelho-escuro de textura argilosa (> 35% de argila); Latossolo Bruno, Latossolo Roxo; Latossolo Bruno Câmbico; Podzólico Bruno-acinzentado; Podzólico Vermelho-amarelo, Vermelho-escuro e Vermelho-amarelo latossólico;Terra Bruna Estruturada, Terra Roxa Estruturada; Brunizém; Brunizém Avermelhado; Cambissolo e Cambissolo Eutróficos; Solos Litólicos.

Solos aptos para a cultura de centeio no Paraná

Os dois riscos climáticos mais relevantes para a cultura de centeio no sul do Paraná (abaixo do paralelo 24° S) – geada na floração e excesso de chuva na colheita – não estão relacionados com o tipo de solo. Porém, acima desse paralelo, a deficiência hídrica destaca-se como risco e é agravada em solos arenosos.
Para o Estado do Paraná, o zoneamento para a cultura de trigo estabelece como tipos de solos aptos para o plantio não-irrigado:
Grupo 2: Latossolo Vermelho-escuro (< 35% de argila); Latossolo Vermelho-amarelo; Latossolo Vermelho-escuro com textura argilosa (> 35% de argila); Latossolo Roxo (e Latossolo Bruno).
Grupo 3: Podzólico Vermelho-amarelo; Podzólicos Vermelho-escuro; Terra Roxa Estruturada (e Terra Bruna Estruturada); Cambissolos Eutróficos; Solos Aluviais.

Solos aptos para a cultura de centeio em São Paulo

Para a cultura de centeio, sob condição de sequeiro, no Estado de São Paulo a deficiência hídrica torna-se condição de risco importante e é agravada em solos arenosos. O zoneamento para a cultura de trigo estabelece como tipos de solos aptos para o plantio não-irrigado em São Paulo, os seguintes:
Tipo 1: Areias Quartzosas; Solos Aluviais arenosos.
Tipo 2: Latossolo Vermelho-escuro (< 35% de argila); Latossolo Vermelho-amarelo (< 35% de argila).
Tipo 3: Latossolo Roxo; Latossolo Vermelho-escuro (> 35% de argila); Podzólicos Vermelho-amarelo; Podzólicos Vermelho-escuro e Terra Roxa Estruturada; Cambissolos Eutróficos; Solos Aluviais de textura média e argilosa.

O cultivo de cereais de inverno em solos muito arenosos envolve sérios riscos e devem ser observadas práticas de manejo, pois esses solos não são aptos para lavouras anuais (SPERA et al., 1998).

Solos aptos para a cultura de centeio em Mato Grosso do Sul

Para a cultura de centeio, sob condição de sequeiro, no Estado de Mato Grosso do Sul, a deficiência hídrica é limitante e impede a utilização de solos de textura arenosa. Para o Estado de Mato Grosso do Sul, o zoneamento da cultura de trigo estabelece como tipos de solos aptos para o plantio não irrigado os seguintes:
Tipo 3: Latossolo Vermelho-escuro (> 35% de argila), Latossolo Roxo; Podzólico Vermelho-amarelo; Podzólicos Vermelho-escuro (Terra Roxa Estruturada); Cambissolos Eutróficos; Solos Aluviais de textura média e argilosa.

Solos com potencial para a cultura de centeio em Minas Gerais

Para Minas Gerais, na safra 2001/2002, o Programa de Zoneamento Agrícola do MAPA incluiu a cultura de trigo sob condição de sequeiro como opção para o período de safrinha que permite aproveitar o fim do período chuvoso na região. Nessa época, apesar da temperatura e umidade do ar elevadas, é possível o cultivo de trigo sem irrigação, com a colheita prevista para o início da estação seca. A mesma consideração poderá ser estendida para centeio, ainda que não haja indicação da cultura para a região. As épocas de semeadura, considerando-se altitude de 800 m, ou superior, e solos com elevada capacidade de retenção de água, são restritas ao mês de fevereiro. O zoneamento para trigo não-irrigado em Minas Gerais indica os seguintes solos:
Tipo 3: Podzólico Vermelho-amarelo; Podzólico Vermelho-escuro (e Terra Roxa Estruturada); Latossolo Roxo; Latossolo Vermelho-escuro (> 35% de argila); Cambissolos Eutróficos; Solos Aluviais de textura média e argilosa. 

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