sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Cultivo do Centeio


O centeio é uma opção de cultivo de inverno no Brasil. Em relação aos outros cereais de estação fria, destaca-se pela rusticidade e capacidade de adaptação em condições de ambiente menos favoráveis. Pode ser usado tanto para alimentação humana quanto animal (grãos). Entretanto, é como planta forrageira (integração lavoura e pecuária) e para cobertura de solo seu maior uso.
O cultivo de centeio no País ainda está muito aquém das nossas potencialidades. As estatísticas oficiais dão conta que são ocupadas anualmente ao redor de dois mil e quinhentos hectares com centeio. Há quem estime que essa área seja, pelo menos, o quádruplo (dez mil hectares), uma vez que muitas informações sobre cultivo de centeio ficam restritas no âmbito das propriedades rurais, não sendo formalmente contabilizadas nos levantamentos da produção agrícola brasileira. De qualquer forma, há muito espaço para crescimento desse cereal no Brasil; especialmente na Região Sul (onde existem condições climáticas adequadas e tradição de cultivo). E a Embrapa Trigo está consciente deste fato e comprometida com a geração de tecnologia para que isso efetivamente se torne realidade.
Esta publicação “Sistema de Produção” é mais um resultado do esforço que a equipe de pesquisadores da Embrapa Trigo vem realizando em favor do desenvolvimento da cultura de centeio, contendo informações básicas para os mais diferentes segmentos da cadeia produtiva de centeio no Brasil.
Agradecemos o esforço dedicado pelo Dr. Augusto Carlos Baier pelo desenvolvimento da cultura no Brasil e ao Dr. Erivelton Scherer Roman ("in memorian") por contribuições na elaboração deste documento.

Introdução

O centeio (Secale cereale L.), no mundo, é cultivado especialmente no centro e no norte da Europa, em regiões de clima frio ou seco, em solos arenosos e poucos férteis. Polônia, Rússia,  Alemanha, Bielorússia e Ucrânia, os países que mais cultivam centeio, juntos, perfazem por 75% da área mundial. Somente a Rússia e a Polônia representam 51% da área (FAO, 2013 acesso em 15 de janeiro de 2013). Nesses países, predominam cultivares de hábito invernal, e a cultura destina-se à alimentação humana e animal e à adubação verde. Na Alemanha, por exemplo, dois terços dos pães consumidos, são produzidos com farinha de centeio.
No Brasil, o centeio foi introduzido por imigrantes alemães e poloneses dois séculos atrás.
De acordo com Baier (1994), a área de centeio no Brasil diminuiu nas últimas cinco décadas, provavelmente em razão do subsídio estendido à cultura de trigo, da extinção de moinhos coloniais de centeio, da reduzida pesquisa e da incidência de doenças. Contudo, outros fatores também podem ter contribuído, como o desenvolvimento de cultivares de trigo mais adaptadas que oferecem ao produtor maior rentabilidade econômica, a maior disponibilidade de sementes de trigo, de aveia e de cevada e, finalmente, o fator cultural, devido à mudanças no hábito alimentar.
A área média de cultivo no Brasil foi de 3,5 mil hectares nos últimos dez anos, sendo que, em 2012 apenas 2,3 mil hectares foram cultivados (IBGE, 2012). Entretanto, a estimativa oficial carece de informações precisas e em muitos casos, quando o produtor utiliza de recursos próprios (sementes, adubos, etc.) e/ou utiliza a espécie para cobertura de solo ou para pastejo, em cultivo solteiro ou consorciado com outras gramíneas e leguminosas de inverno, estas informações não são repassadas ou contabilizadas. Estima-se que o cultivo de centeio anual, no Brasil, seja ao redor de oito mil hectares.
O Rio Grande do Sul (RS) é o estado com a maior área de cultivo de centeio no Brasil seguido pelo Paraná (PR). Entretanto, cultivos em Santa Catarina (SC) , Mato Grosso do Sul (MS) e São Paulo (SP) apesar de existirem, não estão contabilizados na estatística oficial.
Centeio é uma espécie de fecundação cruzada de grande rusticidade e adaptação a solos pobres, especialmente os arenosos, e possui sistema radicular profundo e abundante, característica que lhe permite absorver água e nutrientes indisponíveis a outras espécies.
Se a intenção de cultivo for alimentação animal e/ou cobertura de solo, através da produção de massa verde, a semeadura poderá ser realizada logo após a colheita de soja, no fim do mês de março até maio. Apesar dessa antecipação de semeadura, o centeio apresenta grande resistência ao frio, quando comparado a outros cereais de inverno, podendo fornecer pastagem de qualidade ao gado, principalmente de leite, no período crítico para outras forragens de inverno. Essas características, e em especial a capacidade de produzir excelente volume de forragem verde palatável, permitem o uso do centeio em sistemas integrados de manejo, rotação, preservação e produção, auxiliando na diversificação, economia e racionalização de esforços nas propriedades rurais no Sul do Brasil.


centeio é uma gramínea pertencente à família Poaceae, do gênero Secale e seu nome científico de espécie é Secale cereale. Apenas uma espécie, o próprio centeio, para este gênero. Obedecendo à uma árvore filogenética, o trigo e a cevada tem algum parentesco com o centeio. Morfologicamente, a espécie possui uma raque firme, apresenta grãos grandes e seu ciclo é anual. Ainda diferencia-se das demais culturas de inverno por não apresentar uma característica constante quanto à maturação, espigamento e tipo de planta. Sendo assim, no inverno é possível observar espigas longas, apenas duas flores férteis e três anteras grandes, e dois grãos por cada espigueta presente. Nesta situação, há muita produção de pólen. Suas folhas apresentam um tom de verde-azulado, que pode variar e tendenciar a cor para um acinzentado.

Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Poales
Família: Poaceae
Gênero: Secale
Espécie: Secale cereale

O cultivo do centeio pode ocorrer em solos suavemente ácidos, suporta bem climas mais secos e frios. Além de ainda serem mais resistentes à doenças e pragas comuns ao plantio. Por esses motivos, aqui no Brasil, o centeio virou uma cultura alternativa. Ele pode ser plantado sozinho ou com outras espécies, para compor a forragem do gado ou para ser utilizado e colhido como feno. Ou ainda, colhido para fornecer subsídios alimentares para os seres humanos.
Economicamente é um grão interessante, pois a partir dele a indústria alimentar pode elaborar rações, farinhas (base para pães e biscoitos), cerveja, whisky e vodcas.
Para os humanos, o centeio é indicado para diabéticos, hipertensos e atletas, desde que tolerantes à glúten, pois é rico em fibras e sais minerais e pobre em calorias. O que leva a entender que, se associado a uma dieta alimentar séria, pode auxiliar no combate à obesidade.
O uso do centeio não é indicado para pessoas que são alérgicas ao glúten, ou às pessoas que são sensíveis à esta substância, ou ainda às pessoas portadoras de doença celíaca.
Para o uso animal, o centeio pode ser associado à forragens, ou na composição de rações nutritivas para os bovinos. Apesar do valor nutricional do grão chegar a 90%, em uma ração a quantidade do centeio não pode ultrapassar os 20%, haja vista que é sabor não tanto agradável e é resistente à mastigação, é um grão mais rígido. O centeio tem muitas vantagens: se desenvolve bem em ambientes mais frios, pode ser colhido precocemente e ainda assim dará um bom complemento alimentar para os animais, além de se desenvolverem bem e rápido, em relação a outros grãos. Com isso se torna uma excelente alternativa tanto de plantio como de colheita.
As plantações seguintes ao centeio serão certamente beneficiadas, pois raízes e palhas que entram em decomposição enriquecem o solo e ainda afastam daninhas, soltando no solo substâncias alelopáticas. Isso resultará para o agricultor uma economia financeira pois não utilizará tantos herbicidas e para o consumidor final a vantagem também será boa: consumirá um alimento mais livre de agrotóxicos.



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