quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Pragas do Arroz Irrigado



Principais Artrópodes-Pragas

Entre as pragas que reduzem a economicidade da cultura do arroz irrigado na região Subtropical do Brasil destacam-se espécies de insetos, moluscos, e pássaros, que causam perdas de produtividade de 10 a 35%. Associados à ocorrência de pragas ainda existem os riscos de impacto ambiental, decorrentes do crescente uso irracional de inseticidas químicos aplicados para controle. O sistema de implantação da cultura é dos fatores que mais influenciam nos níveis de danos. As principais diferenças são detectadas entre lavouras implantadas em solo seco com posterior inundação (plantio direto e convencional) e lavouras de arroz pré-germinado, havendo tendência dessas ultimas serem as mais prejudicadas.


Entre as espécies de insetos são mais prejudiciais ao arroz irrigado Spodoptera frugiperda (lagarta-da-folha), Oryzophagus oryzae (gorgulho-aquático), Tibraca limbativentris (percevejo-do-colmo) e Oebalus poecilus (percevejo-do-grão). Pomacea canaliculata e Argelaius ruficapilus são respectivamente a espécie de molusco e pássaro mais daninhos à cultura. O conhecimento sobre bases técnicas do Manejo Integrado de Pragas (MIP) é essencial para o controle eficaz das espécies supra citadas, na busca de redução de custos de produção e de riscos de impacto ambiental negativo. Destaca-se o conhecimento sobre níveis populacionais de controle econômico (NCE), necessário à adoção de medidas de combate.




Hábitos, proliferação, níveis de danos e métodos de manejo integrado de pragas

Insetos

Lagarta-da-folha


Na fase de lagarta é praga aguda polífaga. A mariposa coloca os em camadas, nos dois lados das folhas, cobertos com escamas. A dispersão das lagartas, logo após a eclosão, ocorre por meio do vento. Danifica plantas novas, corta colmos rente ao solo, desfolha plantas mais desenvolvidas e causa danos a flores e panículas. Em áreas planas, o período crítico de ataque está compreendido entre a emergência das plantas e a inundação da lavoura, podendo destruir rapidamente partes ou totalmente os arrozais. Em áreas inclinadas, o ataque pode se estender a plantas sobre as taipas, até a fase de emissão das panículas. 

O monitoramento do inseto deve ser iniciado logo após a emergência das plantas, no período pré-inundação. Em intervalos semanais, vistoriar maior número possível de pontos do arrozal (0,5 x 0,5m), ao longo de linhas transversais imaginárias. A cada lagarta de 3º ínstar (± 1cm de comprimento) encontrada em média/m2, é esperada uma redução de 1% na produção de grãos. Em áreas infestadas com capim-arroz a incidência do inseto é maior.

Controle: a) maiores cuidados com arrozais próximos a áreas que foram ou estão sendo cultivadas com milho e sorgo; b) destruição de restos culturais de plantas nativas hospedeiras; c) adequar a fertilidade do solo a um rápido crescimento das plantas, para reduzir o período de maior suscetibilidade ao ataque do inseto e criar maiores condições de recuperação dos danos causados; d) inundar as áreas infestadas; e) preservar parasitóides e predadores do inseto, somente aplicando inseticidas químicos registrados quando o nível populacional de controle econômico (NCE) for atingido.


Gorgulho-aquático


Este inseto, oligófago, é praga-chave e crônica do arroz irrigado no Sul do Brasil. Surge nos arrozais quando ocorre acúmulo da água das chuvas ou da irrigação por inundação. O adulto, com 3,5 mm de comprimento (Figura 1), alimenta-se do parênquima foliar causando lesões longitudinais, acasalam e oviposita em partes submersas da bainha foliar. Cerca de uma semana pós-oviposição surgem as larvas (bicheira-da-raiz), que danificam as raízes durante aproximadamente 25 dias e atingem o comprimento de 8,5 mm no último instar. Os adultos somente provocam danos econômicos em arroz pré-germinado, quando destroem significativa quantidade de plântulas. As larvas sempre são mais prejudiciais. Ao danificarem as raízes reduzem a capacidade de absorção de nutrientes e induzem a perdas de 10 a 35% na produtividade. As lavouras instaladas mais cedo são sempre mais prejudicadas. Os danos das larvas muitas vezes são atribuídos erroneamente a deficiência de nitrogênio, toxidez por ferro e salinidade.

Dez dias pós-inundação, no sistema de cultivo convencional (semeadura em solo seco) ou da emergência das plantas, em arroz pré-germinado, deve ser avaliada a presença de larvas, no mínimo em dez locais escolhidos ao acaso na lavoura. É importante considerar que, inicialmente, há maior concentração de larvas ao longo das margens ou nas primeiras partes inundadas da lavoura. Em cada local, retirar quatro amostras-padrâo de solo e raízes, usando uma secção de cano de PVC com 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura, aprofundando-a 8 cm no solo. Agitar as amostras sob água, em uma peneira apropriada, para liberação e contagem das larvas. A cada larva, em média por amostra-padrão, é esperada uma redução de 1,1 e 1,5 % na produção de grãos de cultivares de ciclo médio e precoce, respectivamente. 

O controle: a) por meio de práticas culturais intrínsecas do manejo da cultura como limpeza de canais de irrigação, destruição de restos culturais, aplainamento do solo e adubação nitrogenada suplementar, no máximo até a fase inicial de diferenciação das panículas (IDP), para recuperação do sistema radicular danificado pelas larvas; b) em áreas com histórico de danos, evitar o uso de cultivares de ciclo biológico, que são menos tolerantes ao ataque do inseto; c) tratamento de sementes com inseticidas; e) aplicação curativa de inseticidas, com base em NCE, apenas de produtos registrados para esse fim, conforme constam na publicação Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil.


Percevejo-do-colmo


Inseto oligófago, de ocorrência crônica, com 13 mm de comprimento e 7 mm de largura, marrom. Os adultos hibernantes invadem as novas lavouras cerca de 20 dias após a emergência das plantas de arroz. Localizam-se na base dos colmos, próximos ao colo das plantas, principalmente em partes do arrozal não atingidas pela lâmina da água de irrigação, onde acorre a reprodução. Adultos e ninfas de quarto e quinto ínstar são facilmente observados no topo das plantas de arroz, em horários de temperatura mais elevada.

Ao perfurar colmos em formação (fase vegetativa) ou já desenvolvidos (fase reprodutiva), provoca os sintomas de coração morto e panícula branca, respectivamente. Os prejuízos são maiores quando ataca na fase de pré-floração e de formação de grãos, causando perdas quantitativas e qualitativas na produção de grãos. Plantas debilitadas pelo ataque do inseto tornam-se mais sensíveis a fungos manchadores de grãos.

O percevejo-do-colmo é mais prejudicial no Planalto da Campanha do Rio Grande do Sul, onde há maior concentração de lavouras implantadas em terrenos inclinados, com grande quantidade de plantas de arroz sobre as taipas, condição altamente favorável ao seu crescimento populacional. Em Santa Catarina há maior ocorrência na Região do Alto Vale do Itajaí.

O monitoramento populacional deve ser efetuado, em intervalos semanais, do início do perfilhamento das plantas à fase de floração. Averiguar a presença de insetos preferencialmente em plantas sobre as taipas, após o meio-dia, usando rede de varredura (aro de 30 cm de diâmetro). A cada inseto adulto, em média/m2, é esperada uma redução de 1,2% na produção de grãos.

Controle: a) evitar, quando possível, plantio escalonado de arroz em áreas com histórico de danos; b) destruição de restos culturais e hospedeiros nativos; c) cultura armadilha, criando condições favoráveis à concentração do inseto, em determinados locais às margens dos arrozais, por meio da adubação nitrogenada mais elevada, manutenção de plantas de espécies nativas hospedeiras ou plantio de cultivares precoces, visando ao controle localizado; d) catação manual, em pequenas lavouras, possibilitada pela colocação de abrigos ou esconderijos (pedaços de tábuas), em taipas e estradas internas, com coletas periódicas dos insetos; e) maximizar o controle biológico natural, preservando o complexo de parasitóides e predadores do inseto; f) uso de inseticidas químicos somente com base em NCE.


Percevejo-do-grão


Inseto oligófago, de ocorrência aguda, com 7 a 8 mm de comprimento e 4 mm de largura, castanho amarelo. Surge nos arrozais, normalmente quando os grãos atingem a fase leitosa. Geralmente inicia a oviposição em panículas de Echinochla spp. (capim-arroz), representando verdadeiros focos de desova. É mais ativo em horários nublados do dia, pois, quando a temperatura é mais elevada, abriga-se entre as plantas de arroz, nas partes baixas, junto ao solo.

O percevejo-do-grão afeta a quantidade e qualidade do produto. A natureza e extensão do dano dependem do estágio de desenvolvimento dos grãos. Espiguetas com endosperma leitoso, se sugadas, podem ficar completamente vazias ou darem origem a grãos atrofiados com diminutas manchas escuras nas glumas, nos pontos de introdução do estilete. A alimentação na fase de endosperma pastoso origina grãos com manchas escuras na casca, gessados, estruturalmente enfraquecidos nas regiões danificadas. Esses grãos quebram facilmente durante o processo de beneficiamento, diminuindo ainda mais o rendimento de engenho.

O percevejo-do-grão está distribuído em todas as regiões orizícolas do Rio Grande do Sul. O lançamento e a expansão do cultivo, no Estado, de cultivares de grãos finos e longos, com ciclo diferenciado daquelas tradicionais ocasionaram mudanças no comportamento do inseto e induziu à antecipação da época de ocorrência nos arrozais. O inseto, anualmente, tem sido mais prejudicial à cultura do arroz irrigado nas Regiões Central e Norte do Brasil. 

O monitoramento populacional do percevejo-do-colmo deve ser efetuado desde a fase de polinização ao início do amadurecimento das panículas. Em horários com temperaturas mais amenas, verificar a presença do inseto em locais da lavoura onde há maior densidade e vigor de plantas de arroz ou infestação de capim-arroz, usando rede de varredura, com aro de 30 cm de diâmetro. A cada inseto adulto em média/m2 é esperada uma redução de 1% na produtividade, sem considerar ainda as perdas qualitativas.

Controle: a) evitar plantio escalonado de arroz; b) destruição dos restos culturais e hospedeiros nativos; c) controle localizado em cultura armadilha (focos premeditados de capim-arroz ou de plantas de arroz adubadas com altas doses de nitrogênio); d) em áreas com histórico de danos severos, se possível, utilizar cultivares de ciclo mais curto; e) em pequenas lavouras, catação manual de massas de ovos nos focos de desova; f) maximizar o controle biológico natural, preservando o complexo de parasitóides e predadores do inseto; g) aplicar inseticidas somente com base em NCE.


Pássaro-preto


A população do pássaro-preto, nos últimos anos, aumentou sensivelmente nas várzeas do Rio Grande do Sul, fazendo com que atingisse o status de praga do arroz irrigado. O pássaro, de aproximadamente 180 mm de comprimento, ao arrancar plântulas de arroz no período de implantação da cultura, reduz significativamente população de plantas, principalmente em lavouras localizadas menos de 200 m de bosques ou de vegetação nativa, arbórea ou herbácea, que servem de locais de refúgio ou descanso. Prefere atacar lavouras de arroz pré-germinado pois normalmente estão localizadas próximas a bosques e são as primeiras serem implantadas. Também ataca plantas na fase reprodutiva, alimentando-se de grãos em maturação, podendo causar perdas de aproximadamente 1250 kg.ha-1.

O aumento da população do pássaro-preto resulta da perda de arroz durante a colheita, transporte, nas estradas, e de resíduos da pré-limpeza de grãos, disponíveis durante o inverno. Tal oferta extra de alimento reduz a mortalidade dos pássaros, especialmente de espécimes jovens e faz com que as fêmeas não necessitem sincronizar a reprodução.

Sistemas de manejo do pássaro-preto não devem focar simplesmente a eliminação total da população, mas sim mante-lá abaixo do nível de dano econômico (NDE), considerando que o este desempenha um papel importante ao alimentar-se de insetos fitófagos e sementes de plantas daninhas. A estratégia é encontrar o ponto de equilíbrio entre a redução dos danos causados pelo pássaro e a manutenção dos benefícios que oferece. Qualquer plano de manejo do pássaro deve ser global, em uma determinada região, contemplando a participação integrada de vários produtores na adoção de medidas de controle populacional.

As seguintes medidas devem ser adotadas para evitar aumento populacional do pássaro-preto: a) redução de perdas de grãos, na colheita, e durante o transporte, em estradas; b) não acumular resíduos da pré-limpeza de grãos; c) abate por meio de caça e uso de armadilhas, segundo regulamentação oficial. Para reduzir danos na fase de implantação da cultural são indicados: a) cobertura completa das sementes após a semeadura; b) sincronismo da semeadura, o máximo possível, em uma determinada região produtora; c) aumento da densidade de semeadura em áreas mais próximas a banhados e bosques; d) no sistema pré-germinado, não retirar totalmente a água de irrigação lavoura após a semeadura. Na fase reprodutiva, os danos podem ser minimizados se as primeiras lavouras forem implantadas em áreas mais afastadas possível de banhados e bosques, se as bordas dos arrozais forem mantidas livres de plantas daninhas e se o tempo de exposição de grãos maduros ao pássaro for reduzido.


Moluscos


Os moluscos (caramujos), nos últimos oito anos, tornaram-se praga importante do arroz irrigado, essencialmente em cultivos de arroz pré-germinado, sendo e espécie Pomacea canaliculata a mais prejudicial. A espécie (dimensão) apresenta uma concha grande, arredondada, de cor castanho-clara, com listras marrons, e possui elevada capacidade de reprodução. A oviposição é feita em pontos não submersos, em caules ou folhas de plantas, moirões e troncos de árvores. Os ovos ficam aglutinados e aderidos por meio de um líquido transparente gelatinoso expelido pela fêmea. A postura é similar a um cacho de uva, vulgarmente chamada de ovo de sapo. Em maio cessam a oviposição, reiniciando em agosto.

Os caramujos invadem as lavouras de arroz pré-germinado por meio da água de irrigação e permanecem vários dias em condições de alimentação reduzida. Com a semeadura do arroz, passam alimentar-se de plântulas, durante o dia e a noite, causando danos significativos à cultura. Tornam-se mais vorazes quando atingem de 15 a 30 mm de diâmetro. A praga normalmente atinge elevada densidade populacional, tendo sido verificado que três caramujos por m2, ao atacarem sementes de arroz pré-germinado, podem causar danos superiores a 90%, em apenas dois dias. A ocorrência na lavoura é mais acentuada nos canais de irrigação, entradas de águas, nas passagens de água de um tabuleiro a outro, e também em pontos correspondentes a depressões do solo, onde há maior acúmulo de água na fase de implantação da cultura. 

As seguintes medidas podem ser empregadas para reduzir os danos causados por caramujos: a) coleta e destruição de posturas; b) limpeza e drenagem dos canais de irrigação; c) preparo do solo com enxadas rotativas; d) drenagem dos tabuleiros durante o período germinação e crescimento das plântulas; e) colocação de telas nos canais de irrigação, nos pontos de entrada de água na lavoura; f) implantação de poleiros nas lavouras para facilitar a mobilização gavião-caramujeiro (predador de caramujos). Não há produtos químicos registrados para controle de caramujos, portanto, este método não é recomendado.






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