Importância da soca
A soca, que é a capacidade das plantas de arroz (Oryza sativa L.) regenerar novos perfilhos férteis após o corte dos colmos para a colheita, pode se constituir numa prática para aumentar a produção de arroz por unidade de área e de tempo. Em regiões tropicais, uma segunda colheita de arroz, mediante o cultivo da soca, pode ser uma das primeiras alternativas viáveis para aumentar a produtividade de grãos em várzeas.
No Estado do Tocantins, a soca tem se mostrado vantajosa, em decorrência da obtenção de relação benefício/custo mais favorável; em áreas melhor conduzidas têm-se obtido 22 sacas de 60 kg ha-1, com um custo de produção equivalente a cinco sacas, com um ciclo ao redor de 50 dias. No entanto, resultados de pesquisa têm mostrado que com o uso de tecnologia é possível obter produtividades mais expressivas, o que tem estimulado o uso desta prática em áreas extensivas (Figura 1). Na Região Norte de Santa Catarina, a área cultivada com arroz irrigado está em torno de 25.000 ha e, em quase a sua totalidade, é cultivada a soca com uma produtividade que pode chegar a 3,0 t ha-1, com 110 dias de ciclo. O custo para produção da soca compreende somente a água, a uréia e o óleo diesel utilizado na roçada ou no preparo da soca, além da colheita.
O cultivo da soca possibilita aumentar a produtividade das várzeas tropicais com qualidade da produção, reduzir a sazonalidade do uso de máquinas e implementos, aumentar a ocupação da mão-de-obra rural e incrementar a renda líquida dos produtores.
Planejamento
Para obter êxito no cultivo da soca é necessário um planejamento do sistema de produção de arroz, compreendendo desde o estabelecimento da cultura principal até a segunda colheita. Deve-se explorar a soca de genótipos com reconhecida capacidade produtiva nas duas colheitas. Como a soca representa um percentual da produtividade da cultura principal, é interessante que para o seu cultivo sejam selecionadas, preferencialmente, aquelas áreas mais produtivas.
Cultivar
As cultivares comportam-se diferentemente em relação à produção e à origem dos perfilhos na soca e, consequentemente, ao seu potencial produtivo. Algumas desenvolvem perfilhos em todos os nós do colmo, enquanto outras formam perfilhos apenas dos nós inferiores. Algumas cultivares de arroz podem apresentar alta produtividade na cultura principal e não serem produtivas na soca, como por exemplo a Metica 1 (Tabela 1);
enquanto outras, como a BRS Formoso e a BRS Ourominas, tem alto potencial produtivo nos dois cultivos.
As cultivares precoces podem se comportar melhor que as de ciclo médio em regiões onde as condições climáticas são limitantes ao desenvolvimento da soca. Entretanto, sob condições favoráveis as cultivares de ciclo médio apresentam maior produção biológica que as de ciclo curto, tanto na cultura principal quanto na soca. Estudos desenvolvidos em várzeas tropicais têm demostrado que o número de panículas por m2 foi o principal componente na determinação da produtividade da soca. Há redução em torno de 48% no número de grãos por panícula da soca em relação ao da cultura principal.
Com isso, consideram-se que, para aumentar a produtividade na soca, há necessidade de aumentar este componente, seja através do melhoramento de plantas ou do emprego de técnicas de manejo da cultura.
Condições climáticas
Os elementos meteorológicos que mais influenciam a produtividade são a temperatura do ar, a radiação solar, a precipitação pluvial e o fotoperíodo. Entre os fatores do ambiente que afetam o crescimento e desenvolvimento das plantas de arroz, a temperatura e a luz têm sido relatadas como os de maior influência no comportamento da soca, particularmente o perfilhamento. A temperatura apresenta valores críticos, tanto baixo quanto alto, dependendo da fase da cultura, mas, no geral, valores abaixo de 20ºC e acima de 30ºC são prejudiciais.
Manejo da cultura principal
As práticas culturais que afetam o crescimento da planta na cultura principal afetam também o crescimento da soca. O sucesso do cultivo da soca é, em grande parte, determinado pelas práticas empregadas na cultura principal, como: a época e o sistema de plantio, o manejo de fertilizantes e o sistema de colheita. As cultivares respondem na soca diferentemente às práticas culturais empregadas na cultura principal.
Época de plantio
Épocas diferentes de semeadura ou de transplantio expõem as plantas da cultura principal e da soca a diferentes comprimentos do dia, temperaturas e condições de luz que, por sua vez, influenciam o comportamento da soca. A definição das épocas de plantio se baseia no conhecimento das condições climáticas preponderantes na região e na disponibilidade de água para irrigação. Nas condições do Norte Fluminense, RJ, e no médio e baixo vale do Itajaí e litoral norte do Estado de Santa Catarina a época de semeadura de setembro foi a que propiciou a maior produtividade de grãos na soca. Para a região de Goiânia, GO, os períodos mais favoráveis ao cultivo da soca corresponderam às semeaduras realizadas de agosto a outubro.
Nesta região, o duplo cultivo de arroz pode ser inviável, pois a colheita do primeiro cultivo e a semeadura do segundo coincidem com períodos de alta precipitação pluvial. Entretanto, o cultivo intensivo das várzeas pode ser obtido com a soca de arroz irrigado. Nas Regiões Norte e Nordeste o arroz pode ser cultivado durante todo o ano, portanto a época de semeadura não limita o cultivo da soca.
Sistema de plantio
A semeadura direta, em solo seco ou úmido, e o transplantio constituem os dois sistemas de plantio de arroz. Uma das vantagens da semeadura direta no cultivo da soca, em comparação ao transplantio, é o maior número de plantas por área. Com isso, poucos colmos são necessários para produzir um grande número de perfilhos na soca. Independentemente do sistema de plantio, uma população adequada de plantas é um pré-requisito para uma soca produtiva.
Manejo de fertilizantes
A fertilidade do solo afeta direta ou indiretamente o crescimento e a produção de grãos da soca de arroz. O nitrogênio e o fósforo afetam o crescimento da soca, pois promovem o perfilhamento e o desenvolvimento das raízes, respectivamente. A dose, a época e o modo de aplicação de nitrogênio alteram a eficiência de sua utilização pelas plantas da cultura principal e da soca. Para se ter um sistema produtivo nas duas colheitas, as doses, épocas e modos de aplicação da adubação da cultura principal devem ser baseados nos resultados da análise de solo, conforme as recomendações para a cultura de arroz irrigado.
Sistema de colheita
Outra preocupação no planejamento é com a colheita da cultura principal, especialmente, quanto à época, à altura de corte e aos equipamentos das colhedoras. Deve-se evitar o "passeio" desnecessário de colhedoras e graneleiros, para não danificar excessivamente as plantas de arroz, pois a área pisoteada pela esteira da colhedora pode corresponder a até 38 % da total cultivada. A melhor época de colheita da cultura principal para um bom cultivo da soca é quando os seus colmos estão ainda verdes. Atraso na colheita da cultura principal reduz a duração de crescimento e a produtividade da soca.
Menor altura de corte das plantas da cultura principal alongam o ciclo da soca e, aliada a época tardia de colheita, pode propiciar o seu crescimento em condições climáticas menos favoráveis, afetando a produtividade, especialmente de genótipos de ciclo médio. A maioria dos estudos mostra que as maiores respostas foram obtidas com alturas de corte de 20 a 30 cm.
O sistema de colheita influencia o comportamento da soca, tanto no que se refere a produtividade quanto a qualidade do produto colhido. A colheita da cultura principal realizada com colhedoras equipadas com picador de palha propicia, na soca, maior produtividade e rendimento de grãos inteiros. Quando a colhedora não possui picador de palha, há formação de uma leira de palha que dificulta o crescimento dos perfilhos e favorece a ocorrência de doenças. Com isso, o uso do picador de palha é fundamental.
Manejo da soca
Práticas culturais que promovam uma rápida e uniforme brotação são especialmente importantes. Dentre as empregadas no cultivo da soca, que afetam o comportamento da planta de arroz, destacam-se a fertilização nitrogenada, o manejo de água e os tratos fitossanitários.
Fertilização nitrogenada
Dentre os nutrientes, o nitrogênio é o elemento que maior resposta tem proporcionado à soca de arroz. Quantidades adequadas de fósforo e de potássio aplicadas na cultura principal têm propiciado aumento significativo na produtividade da soca, mostrando, com isso, que ainda se encontram disponíveis para o crescimento e desenvolvimento da mesma. O nitrogênio deve ser aplicado na soca logo após a colheita da cultura principal, pois, assim, obtém-se uma brotação mais rápida, perfilhos mais sadios o que incrementa a produtividade. A maior resposta da soca ocorre com a aplicação de 56 kg ha-1 de N logo após a colheita da cultura principal.
Manejo de água
Para o êxito da soca é necessário um manejo adequado da água de irrigação, ainda que aproximadamente apenas 60% da água normalmente exigida pela cultura principal seja requerida. O melhor desempenho da soca é obtido quando a inundação é iniciada nove dias após a colheita da cultura principal.
Tratos fitossanitários
Via de regra, a aplicação de fungicidas pode ser necessária para a obtenção de maior produtividade e melhoria da qualidade dos grãos da soca, dependendo da ocorrência de condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento de doenças. A soca aparentemente não se apresenta favorável ao desenvolvimento de populações daninhas de Oryzophagus oryzae. Portanto, a necessidade de se fazer o seu controle durante o cultivo da soca mostra-se bastante remota.
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