segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Calagem e Adubação do Feijoeiro



A correção da acidez do solo e a adubação das culturas, são tidas como práticas comprovadamente indispensáveis ao manejo dos solos. Entre as tecnologias indicadas na produção de feijão, a calagem e a adubação nitrogenada são as que têm gerado maior número de questionamentos. Quanto à calagem, as dúvidas mais freqüentes são em relação à eficiência de sua aplicação em superfície.
Em relação ao nitrogênio, as dúvidas vão desde reações e mecanismos controladores da disponibilidade do N no solo, características e reações no solo das diferentes fontes de nitrogênio, até à prática da adubação, quanto a fontes, doses, métodos de aplicação, época mais adequada de aplicação durante o ciclo da cultura e a necessidade de seu parcelamento e, sobretudo, quanto aos seus aspectos econômicos. Estas técnicas de manejo de adubação, ainda são a melhor estratégia utilizada para maximizar a eficiência de uso do nitrogênio e permitir aos produtores obterem máximo retorno econômico do uso de fertilizantes.

Da mesma forma que existem muitas dúvidas sobre adubação das culturas e da correção da acidez do solo, existem, também, muitos problemas práticos relacionados com transformação no solo dos resíduos orgânicos vegetais e com a aplicação de micronutrientes.
A prática da adubação depende, de vários fatores, os quais devem ser previamente analisados no sentido de aconselhar aos agricultores a praticarem uma adubação mais adequada, quanto aos aspectos agronômico (que obtenha maior eficiência dos fertilizantes) e econômico (que resulte em maior renda líquida ao produtor).
Uma recomendação de adubação que atenda a estes princípios deve ser fundamentada nos seguintes aspectos:
  1. em resultados de análises de solo complementada pela análise de planta;
  2. numa análise do histórico da área;
  3. no conhecimento agronômico da cultura;
  4. no comportamento ou tipo da cultivar;
  5. no comportamento dos fertilizantes no solo;
  6. na disponibilidade de capital do agricultor para aquisição de fertilizantes; e
  7. na expectativa de produtividade. Portanto, a recomendação de adubação para o feijoeiro, bem como para qualquer outra cultura, depende da análise cuidadosa de todos esses fatores, ressaltando que não existe uma regra geral a seguir nas recomendações de adubação.
Quanto à cultura do feijoeiro, a quantidade de fertilizantes varia de acordo com a época de plantio, quantidade e tipo de resíduo deixado na superfície do solo pela cultura anterior, e com a expectativa de rendimento. Geralmente, varia de 60 a 150 kg ha-1 de nitrogênio, sendo recomendado a aplicação em duas vezes; de 60 a 120 kg ha-1 de P2O5 , dependendo, evidentemente, do teor disponível de fósforo no solo, das condições de risco e da expectativa de rendimento de grãos e de 30 a 90 kg ha-1 de K2O, e a fonte de potássio, na maioria da vezes, é o cloreto de potássio (60% de K2O).
Pesquisas realizadas com feijão irrigado na Embrapa Arroz e Feijão, quanto à calagem e à adubação de plantio, evidenciaram aumentos de até 54% na produtividade do feijoeiro (cultivar Aporé), decorrentes da calagem e de uma dose econômica de adubação N-P2O5-K2O, no plantio, de aproximadamente 400 kg ha-1 do formulado 4-30-16.

A adubação fosfatada corretiva é indicada para solos argilosos com teores de fósforo abaixo de 1,0 a 2,0 mg dm-3 e arenosos com teores abaixo de 6 a 10 mg dm-3. Esta recomendação serve tanto para áreas de cultivo convencional (com revolvimento do solo), como para as áreas onde se pretende iniciar com o sistema plantio direto, devendo ressaltar que o fertilizante deverá ser incorporado ao solo. A necessidade para aplicação a lanço, varia de 120 a 240 kg ha-1 de P2O5, com base no teor total, no primeiro ano de cultivo, dependendo do teor inicial de fósforo e da textura do solo. Neste caso, as fontes de fósforo mais indicadas são, entre outras, o termofosfato yoorin (cerca de 17 a 18% de P2O5 total), os hiperfosfatos Arad (33% de P2O5 total) e Gafsa (29% de P2O5 total) e alguns fosfatos parcialmente solubilizados.

A acidez do solo pode trazer conseqüências desastrosas para a lavoura do feijoeiro, tais como teores tóxicos de alumínio e manganês, além de deficiências de macronutrientes -principalmente cálcio, magnésio, fósforo, nitrogênio e enxofre - e baixa atividade biológica no solo, resultando em pequeno crescimento das raízes e da parte aérea. 

Quando adequadamente empregada, a calagem promove modificação no ambiente radicular e pode elevar o pH para uma faixa que oferece melhores condições para o desenvolvimento do feijoeiro, normalmente pH 5,8 a 6,2.


Métodos para estimar a necessidade de calagem

Para estimar a necessidade de calagem (NC), em Minas Gerais são usados o método da neutralização da acidez trocável e da elevação dos teores de cálcio e magnésio trocáveis e o método da saturação por bases. Quando bem empregados, ambos os métodos estimam valores de NC adequados para a cultura do feijoeiro.
É oportuno esclarecer que, independentemente do método empregado, o valor calculado de NC refere-se à quantidade de calcário com PRNT 100% a ser incorporado em 1 hectare, a 20 cm de profundidade, devendo-se fazer as devidas correções de acordo com a qualidade do calcário e a profundidade efetivamente utilizadas.


Adubação com macronutrientes  

Em Minas Gerais, as recomendações oficiais de adubação com macronutrientes para a cultura do feijoeiro consideram quatro níveis de tecnologia (NT). O NT1 inclui as lavouras para as quais são feitas calagem, adubação mineral e capina mecânica, as sementes são catadas manualmente, os rendimentos de grão, inferiores a 1.200 kg ha-1. O NT2 abrange as lavouras em que se utilizam sementes fiscalizadas e tratadas, fazem controle fitossanitário, empregam populações próximas a 240 mil plantas ha-1 e apresentam rendimentos de grãos de 1.200 kg a 1.800 kg ha-1. As lavouras contempladas no NT3 têm rendimentos variando de 1.800 kg a 2.500 kg ha-1 e utilizam herbicidas e irrigação. No NT4 estão as lavouras com rendimentos superiores a 2.500 kg ha-1 e que se utilizam de um bom manejo de irrigação e de doses maiores de fertilizantes.
Em todos os níveis tecnológicos as doses recomendadas de fósforo e potássio são aplicadas integralmente no plantio, enquanto a dose de nitrogênio é aplicada parte no plantio e parte em cobertura, conforme recomendação apresentada na Tabela 1, a qual deve ser utilizada com os resultados da análise de amostra do solo em mãos.
Para que a adubação nitrogenada em cobertura seja eficiente, o solo deve estar úmido e, sempre que possível, o adubo nitrogenado deve ser incorporado, principalmente no caso de se tratar de fonte uréia.
Nos níveis tecnológicos NT1 e NT2, a adubação nitrogenada em cobertura deve ser realizada de uma única vez, no período de 25 a 30 dias após a emergência (DAE), em filete lateral às plantas. Nos níveis NT3 e NT4 a cobertura nitrogenada deve ser parcelada, metade aos 20 DAE e metade aos 30 DAE, podendo ser aplicada também via água de irrigação - que, nesse caso, facilitará a incorporação.
É importante lembrar que, em se tratando do sistema plantio direto, poderá haver, nos primeiros anos, uma maior demanda por nitrogênio, o que deverá ser melhor avaliado por um engenheiro agrônomo. 
Em solos com baixos teores de magnésio e/ou enxofre é recomendável aplicar 20 kg ha-1 desses nutrientes.


Tabela 1. Recomendação de adubação da cultura do feijoeiro com macronutrientes.
Nível tecnológ.
N plantio
P no solo
K no solo
N cobertura
BaixoMédioBomBaixoMédioBom
------ dose de P2O5 ------------- dose de K20 --------
NT1
20
70
50
30
30
20
20
20
NT2
20
80
60
40
30
20
20
30
NT3
30
90
70
50
40
30
20
40
NT4
40
110
90
70
50
40
20
60
Adubação com micronutrientes

Com relação aos micronutrientes, existem recomendações generalizadas para o boro, o zinco e o molibdênio. 
Constatando-se deficiências de boro e/ou zinco, sugere-se a aplicação de 1 kg ha-1 de boro e de 2 kg a 4 kg ha-1 de zinco na mistura de adubos no plantio.
No caso do molibdênio, a aplicação foliar, na dose de 60 g ha-1, tem-se mostrado mais eficiente. Nesse caso, tanto o molibdato de sódio como o de amônio podem ser usados como fonte de molibdênio, mesmo que a calda a ser aplicada inclua defensivos usuais da cultura. A melhor época de aplicação foliar de molibdênio coincide com a da adubação nitrogenada em cobertura. Faz-se oportuno ressaltar que no sul de Minas Gerais, quando o solo apresenta pH acima de 5,7-5,8, não são esperados efeitos benéficos da adubação molíbdica pois, nessa situação, os teores nativos de molibdênio disponíveis no solo são, geralmente, suficientes para se obterem boas produções de feijão.


As quantidades de corretivos e fertilizantes devem ser determinadas com base nos resultados da análise de solo.


Calagem


Para a determinação da Necessidade de Calcário (NC), a ser aplicada no solo para corrigir a camada de 0 a 20 cm de profundidade, pode-se utilizar a fórmula abaixo, que é baseada nas quantidades de Al3- e Ca2++Mg2+ trocáveis, observadas na análise de solo.
NC = Y x Al3+ + [2-(Ca2+ + Mg2+)]
(t/ha de calcário com PRNT = 100%)
Valores de Y
0-1: Solos arenosos (0 a 15% de argila);
1-2: Solos de textura média (15 a 35% de argila);
2-3: Solos argilosos (35 a 60 % de argila)
3-4: Solos muito argilosos ( mais de 60% de argila)
A Quantidade de Calcário (QC) a ser efetivamente utilizada dependerá da profundidade de incorporação (P) e do Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT), conforme a fórmula a seguir:
QC = NC x P/20 x 100/PRNT
Para o sucesso da calagem, deve-se preferir os calcários finamente moídos, os quais devem ser distribuídos e incorporados, uniformemente, com uma antecedência mínima de 30 dias em relação ao plantio.


Adubação


Quando aplicados em fundação, os fertilizantes deverão ser colocados na cova ou sulco de plantio a uma profundidade de até 15 cm e cobertos com uma camada de solo de cerca de 10 cm, sobre a qual serão depositadas as sementes. O contato direto dos fertilizantes com as sementes poderá inibir a germinação, bem como provocar danos à radícula e aos folíolos recém emergidos da semente.


Nitrogênio


Para as condições de Rondônia, o fertilizante nitrogenado deverá ser aplicado todo na semeadura ou dividido em duas aplicações, sendo a primeira na semeadura e a segunda (cobertura) realizada 20 dias após a primeira. Quando realizada tardiamente, a adubação de cobertura torna-se antieconômica, pois será de pouca eficiência, haja vista que o incremento da produção será conseqüência da maior fixação de vagens, o que ocorre durante o florescimento.
As doses podem variar de 30 a 40 kg/ha. As principais fontes de nitrogênio para uso na cultura do feijão em Rondônia são sulfato de amônio (21% de N) e a uréia (44% de N). O sulfato de amônio tem a vantagem de também conter (24%) enxofre, elemento importante na nutrição do feijoeiro. Além disso, a uréia, para ser mais bem aproveitada, deve ser incorporada a uma profundidade de 5cm, o que demanda um dispêndio extra, em relação ao sulfato de amônio.
Durante a adubação de cobertura, o fertilizante nitrogenado deve ser aplicado a lanço sobre o solo, formando um filete ao longo das linhas de plantio, próximo às plantas, porém sem atingi-las.
O nitrogênio é importante componente da molécula de clorofila, dos aminoácidos e dos hormônios vegetais, estando, portanto diretamente associado à atividade fotossintética, aos processos de multiplicação e expansão celular, bem como à fixação de vagens e ao enchimento dos grãos.
Quando ocorre na planta em níveis inferiores a 2,8% ou superiores a 6,0%, podem ser desencadeados estados de deficiência ou toxidez, respectivamente. A deficiência de nitrogênio ocorre principalmente, em solos arenosos e lixiviados, com baixo teor de matéria orgânica (< 2 %). Em solos férteis, quando cultivados intensamente, fortemente lixiviados ou inundados por tempo prolongado, também pode ocorrer deficiência de nitrogênio. Essa deficiência também pode ser verificada como conseqüência de aplicação excessiva de fertilizantes fosfatados.
Em plantas deficientes de nitrogênio ocorrem: amarelecimento das folhas, iniciando-se pelas mais velhas; crescimento reduzido; baixa produção de ramos e botões florais; menor pegamento de vagens, redução no tamanho das sementes e conseqüentemente, baixa produtividade e qualidade inferior de grãos.

Fósforo

Os fertilizantes fosfatados deverão ser aplicados de uma só vez, em fundação. As doses poderão variar de 40 a 100 kg/ha, dependendo da fertilidade natural do solo, revelada por meio da análise de solo, e do nível de tecnologia a ser empregado no cultivo. Cultivos em solos de média a alta fertilidade e/ou baixo nível tecnológico deverão receber doses menores, enquanto cultivos realizados em solos de baixa fertilidade e/ou maior emprego de tecnologia deverão receber doses mais elevadas de fósforo.
Os principais fertilizantes fosfatados para cultura do feijão em Rondônia são o Superfosfato simples (18% de P2O5) e o superfosfato triplo (41% de P2O5). O superfosfato simples também é rico em cálcio (25% de CaO) e enxofre (12% de S).
O fósforo é o nutriente que mais influencia a produção de grãos de feijão. Sua atividade está relacionada com a composição das principais moléculas transferidoras de energia.


Potássio


As respostas do feijoeiro às adubações potássicas, em termos de rendimento, têm sido instáveis. A cultura tem se mostrado mais responsiva ao fósforo e ao nitrogênio. No entanto, o potássio é segundo elemento mais abundante na constituição química da planta, sobretudo nas vagens e sementes.
As doses de potássio podem variar de 20 a 60 kg/ha e podem ser aplicadas na forma de cloreto de potássio (60% de K2O) de uma só vez na fundação, ou parceladas e aplicadas juntamente com o nitrogênio.
A deficiência de potássio pode ocorrer em solos com baixo teor de matéria orgânica, em solos arenosos originados a partir de rochas pobres em potássio e em solos muito argilosos onde o elemento foi lixiviado.
A deficiência de potássio retarda a maturação e reduz o vigor das plantas e a produção de grãos. As plantas deficientes apresentam menor crescimento, reduzida produção de ramos e flores, os folíolos das folhas mais velhas podem apresentar coloração amarelada ou verde pálida e posteriormente desenvolverem uma clorose marginal, que tende a evoluir pelo limbo, até aproximar-se da nervura principal que permanece circundada por uma tênue região de tecido verde. Não cessando a deficiência, o folíolo morre e cai.


Macronutrientes secundários
Cálcio


As deficiências de cálcio no feijoeiro são observadas em cultivos realizados em solos arenosos ácidos, em solos turfosos e orgânicos, em solos alcalinos ou sódicos e em solos com elevado teor de alumínio trocável e baixo cálcio trocável. A deficiência de cálcio provoca redução do crescimento, pouca ramificação, deformações nas pontas da planta e folhagem verde. Os sintomas aparecem primeiro e são mais severos nas folhas mais jovens. Em caso de deficiência severa, ocorrem lesões necróticas amarronzadas nos brotos e a planta pode morrer antes do florescimento. A deficiência de cálcio pode ser evitada pela aplicação de calcário.


Magnésio


Poderá ocorrer deficiência de magnésio em solos arenosos ácidos, onde o Mg foi lixiviado, em solos orgânicos e turfosos, e em solos que receberam dosagens excessivas de potássio e calcário, nos quais a absorção de Mg é inibida. Os sintomas de deficiência são verificados inicialmente nas folhas mais velhas, que apresentam clorose internerval. As plantas podem apresentar-se atrofiadas, com folhas pequenas, talo rígido, reduzida produção de ramos, folhas e flores. A deficiência de magnésio nos solos ácidos pode ser evitada aplicando-se calcário dolomítico.

Enxofre

A deficiência de enxofre poderá ocorrer em solos com baixo teor de matéria orgânica após muitos anos de cultivo, sem aplicação de corretivos e fertilizantes. A deficiência de enxofre resulta em perda de vigor e produção reduzida. Os sintomas são observados primeiro nas folhas mais jovens, que desenvolvem clorose e apresentam tamanhos reduzidos. Apenas em caso de deficiência severa esses sintomas são verificados nas folhas mais velhas. A aplicação de calcário e o uso de superfosfato simples ou sulfato de amônio, gerlamente, suprem as necessidades de enxofre da cultura.






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