quarta-feira, 30 de junho de 2021

Colheita e Pós-colheita do Café Orgânico


Colheita

O café está pronto para a colheita quando os frutos atingem o estádio cereja. A colheita deve então ser realizada o mais rapidamente possível, sendo ideal que se complete num período de 2 a 3 meses. Antes do período de colheita deve-se organizar o material a ser usado (panos, sacaria, etc.) e providenciar o ajuste e regulagem de todo o equipamento. Deve-se também assegurar a arruação para facilitar a colheita e a varrição dos frutos caídos (café de varrição). Os terreiros e secadores devem ser revisados e criteriosamente limpos, eliminando todos os resíduos de café e outras sujidades.

Café Conilon em estágio cereja. Fazendinha Agroecológica Km 47, Seropédica, RJ.

Cuidados na colheita

A colheita do café orgânico é feita principalmente por derriça manual. A catação manual favorece a colheita seletiva do café cereja, o que resulta em qualidade superior do produto. Na derriça manual, a área sob as plantas deve ser coberta com panos ou plásticos limpos para que os frutos colhidos não entrem em contato com o solo, evitando, assim, uma possível contaminação com fungos produtores de micotoxinas.

De acordo com o Manual de Segurança e Qualidade para a Cultura do Café (2004), o principal cuidado a ser observado durante a colheita do café é, justamente, evitar-se contaminação dos frutos com fungos presentes no solo e produtores de micotoxinas.

Deve-se, portanto evitar a mistura de grãos caídos com os grãos colhidos.

Pós-colheita

As operações de pós-colheita do café orgânico envolvem diversas etapas até o armazenamento, que são importantes para a preservação das características sensoriais e de segurança. Não diferem daquelas usadas na produção convencional, sendo assim, a descrição das etapas do processo de produção pós-colheita é uma adaptação do Manual de Qualidade e Segurança da Cultura do Café (2004).

Após a colheita o café deve ser transportado para o local de processamento o mais rapidamente possível, evitando-se que fique amontoado na área de produção enquanto aguarda o transporte. Recomenda-se nunca estocar o café colhido por períodos prolongados, seja nas carretas ou principalmente em sacos, para minimizar o problema de fermentação que é obviamente mais intensa quanto maior for a umidade dos frutos.

Após a colheita, manual ou mecânica, deve-se proceder a uma varrição para eliminar os frutos caídos fora dos panos ou da colheitadeira. O café de varrição deve ser devidamente separado, e processado separadamente.

Limpeza

Após a colheita, tanto por derriça manual no pano ou mecanizada, o café deve ser submetido ao processo de limpeza e separação das impurezas, que pode ser feito por peneiramento manual (abanação), ventilação forçada ou por separadores de ar e peneira (máquinas de pré-limpeza).

Processamento

O café pode ser processado por via seca ou por via úmida (Fluxograma abaixo).

O preparo via úmida dá origem aos cafés despolpados ou desmucilados através do processo de fermentação rápida ou desmucilagem. O despolpamento consiste na retirada da casca dos frutos maduros ou cerejas por meio de um descascador mecânico e posterior fermentação e lavagem dos grãos, eliminando-se a mucilagem. É uma prática comum entre os produtores do México, da Colômbia e do Quênia, mas no Brasil o despolpamento é pouco utilizado. É indicado para áreas onde o período póscolheita ocorre sob condições de elevada umidade relativa do ar. Neste caso, a retirada da mucilagem, através da operação de despolpamento, reduz os riscos de desenvolvimento de microrganismos associados aos frutos, responsáveis por fermentações indesejáveis. Além deste fato, o café despolpado e o cereja descascado apresentam a vantagem de diminuir consideravelmente a área de terreiro e o tempo necessário para secagem (um terço do tempo gasto em relação ao café integral). Nas fases posteriores do preparo, reduz-se em até 60% o volume necessário de secadores, silos e tulhas.

No processamento por via seca, mais comum no Brasil, o fruto é seco na sua forma integral (com casca) ou descascado (cereja descascado).

Processamento via seca

No processamento via seca os grãos de café, após a abanação, lavagem e separação das frações (cereja, verde e bóia) são encaminhados para a secagem em terreiro ou para secadores artificiais. Esse tipo de processamento, também pode ser conduzido com prévio descascamento dos cafés cereja e verde, porém mantendo-se a mucilagem que envolve o grão. Os grãos descascados são então encaminhados para secagem.

Lavagem e separação

Mesmo com a retirada das impurezas (gravetos, terra, pedras, folhas, etc.), o café deve passar pelo lavador ou separador hidráulico que promove a separação de acordo com o estádio de maturação dos frutos que apresentam diferentes densidades. Frutos com graus diferentes de maturação se mantidos juntos, resultam em bebida de qualidade inferior.

A lavagem deve ocorrer no mesmo dia da colheita e o café lavado não deve ser amontoado, seguindo imediatamente para o local de secagem. Na lavagem ou separação hidráulica há uma parte que flutua, conhecida pelo nome de café bóia, representada pelo grão que secou na planta, café-passa, frutos verdes, mal granados

ou leitosos. A fração que submerge é composta de frutos maduros e de meia maturação, constituindo um café de maior valor agregado. Por isso, as duas parcelas resultantes da separação hidráulica (cerejas e bóias) devem ser secas e armazenadas separadame te.

O café de varrição (colhido no chão) que deve ser lavado posteriormente, pois tem maior potencial de contaminação com fungos do solo.

Pequenos produtores podem-se fazer a lavagem do café utilizando uma caixa d’água ou outro recipiente similar disponível, e uma bombona de plástico cortada tipo balaio toda perfurada e uma peneira (Anexo 15).



quarta-feira, 16 de junho de 2021

Controle alternativo de pragas e doenças no Café Orgânico


 

Controle alternativo de pragas e doenças

A agricultura moderna caracteriza-se pela simplificação do agroecossistema em vastas áreas, substituindo a diversidade natural por um pequeno número de espécies cultivadas. Esta simplificação causa grande impacto e, conseqüentemente, desequilíbrio ao meio ambiente. Uma intensificação da incidência de pragas e doenças é resultante desse modelo. Portanto, deve-se primeiramente buscar o equilíbrio de cada ambiente através da manutenção de áreas de matas, aumento da diversidade de espécies vegetais dentro do cafezal, isolamento quanto a vizinhos com manejo convencional, etc. Estas táticas visam aumentar o número de inimigos naturais e, conseqüentemente, diminuir a pressão de pragas e doenças. Direcionadas a um correto manejo nutricional das plantas e da fertilidade do solo, essas práticas culturais evitam os excessos de adubos, principalmente os nitrogenados, e são consideradas medidas anti-estresse. Permitem que as plantas expressem plenamente seus mecanismos naturais de defesa (Akiba et al., 1999).

Entretanto, algumas vezes, estas medidas não são suficientes para impedir a ocorrência de problemas fitossanitários, principalmente em função de desequilíbrios temporários naturais que acarretam estresse, do uso de cultivares suscetíveis e de fatores não controláveis que venham determinar o aumento da incidência de pragas e concentrada deve ser diluída. Para controlar essa diluição, determina-se a densidade através de um densímetro ou aerômetro de Baumé, com graduação de 0 a 50º Bé (graus de Baumé), sendo considerada boa a calda que apresentar densidade entre 28 e 32º Bé.

O uso rotineiro da calda sulfocálcica requer certos cuidados, a seguir listados:

1. a qualidade e a pureza dos componentes da calda determinam sua eficácia, sendo que a cal não deve ter menos que 95% de CaO;

2. a calda é alcalina e altamente corrosiva, danifica recipientes de metal, as roupas e a pele. Após manuseá-la, é necessário lavar bem os recipientes e as mãos com uma solução a 10% de suco de limão ou de vinagre em água;

3. a calda pode ser fitotóxica para muitas plantas, principalmente quando a temperatura ambiente é elevada, sendo conveniente testá-la antes de emprego em maior escala e sempre preferir efetuar os tratamentos à tardinha;

4. utilizar equipamento de proteção individual (EPI) quando da realição das pulverizações;

5. não descartar os excedentes em nascentes, cursos d"água, açudes ou poços;

6. após aplicação de caldas à base de cobre (bordalesa e viçosa), deve-se respeitar o intervalo mínimo de 20 dias para tratamento com sulfocálcica.

􀂃 Calda bordalesa

É uma suspensão coloidal, de cor azul celeste, obtida pela mistura de uma solução de sulfato de cobre com uma suspensão de cal virgem ou hidratada, cujo preparo está descrito no Anexo 12.

O uso rotineiro da calda bordalesa deve obedecer a certos requisitos, a seguir relacionados:

1. sulfato de cobre deve possuir, no mínimo, 98% de pureza e a cal não deve conter menos que 95% de CaO;

2. a calda deve ser empregada logo após o seu preparo ou no máximo dentro de 24 horas; quando estocada pronta, perde eficácia com rapidez;

3. aplicar a calda somente com tempo claro e seco;

4. os recipientes de plástico, madeira ou de agentes de doenças.

Nesses casos, faz-se necessário o uso de defensivos alternativos, que podem ser de preparação caseira ou adquiridos no comércio, a partir de substâncias não prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente. Pertencem a esse grupo as formulações que têm como características principais: baixa ou nenhuma toxicidade ao homem e à natureza, eficiência no combate aos artrópodes e microrganismos nocivos, não favorecimento à ocorrência de formas de resistência desses fitoparasitas, disponibilidade e custo reduzido. Estão incluídos na categoria, entre outros, os diversos biofertilizantes líquidos, as caldas (sulfocálcica, viçosa e bordalesa), os extratos de determinadas plantas e os agentes de biocontrole (Penteado, 1999).

Caldas de preparo caseiro

􀂃 Calda sulfocálcica

É resultante de uma reação corretamente balanceada entre o cálcio e o enxofre, dissolvidos em água e submetidos à fervura, constituindo uma mistura de polissulfetos de cálcio, cujo preparo está descrito no Anexo 11.

Além do seu efeito fungicida, exerce ação sobre ácaros, cochonilhas e outros insetos sugadores, além de ter ação repelente sobre "brocas" que atacam tecidos lenhosos.

Antes da aplicação sobre as plantas, através de pulverizações foliares, a calda concentrada deve ser diluída. Para controlar essa diluição, determina-se a densidade através de um densímetro ou aerômetro de Baumé, com graduação de 0 a 50º Bé (graus de Baumé), sendo considerada boa a calda que apresentar densidade entre 28 e 32º Bé.

O uso rotineiro da calda sulfocálcica requer certos cuidados, a seguir listados:

1. a qualidade e a pureza dos componentes da calda determinam sua eficácia, sendo que a cal não deve ter menos que 95% de CaO;

2. a calda é alcalina e altamente corrosiva, danifica recipientes de metal, as roupas e a pele. Após manuseá-la, é necessário lavar bem os recipientes e as mãos com uma solução a 10% de suco de limão ou de vinagre em água;

3. a calda pode ser fitotóxica para muitas plantas, principalmente quando a temperatura ambiente é elevada, sendo conveniente testá-la antes de emprego em maior escala e sempre preferir efetuar os tratamentos à tardinha;

4. utilizar equipamento de proteção individual (EPI) quando da realição das pulverizações;

5. não descartar os excedentes em nascentes, cursos d"água, açudes ou poços;

6. após aplicação de caldas à base de cobre (bordalesa e viçosa), deve-se respeitar o intervalo mínimo de 20 dias para tratamento com sulfocálcica.

􀂃 Calda bordalesa

É uma suspensão coloidal, de cor azul celeste, obtida pela mistura de uma solução de sulfato de cobre com uma suspensão de cal virgem ou hidratada, cujo preparo está descrito no Anexo 12.

O uso rotineiro da calda bordalesa deve obedecer a certos requisitos, a seguir

relacionados:

1. sulfato de cobre deve possuir, no mínimo, 98% de pureza e a cal não deve conter menos que 95% de CaO;

2. a calda deve ser empregada logo após o seu preparo ou no máximo dentro de 24 horas; quando estocada pronta, perde eficácia com rapidez;

3. aplicar a calda somente com tempo claro e seco;

4. os recipientes de plástico, madeira ou alvenaria são os mais indicados, porque não são atacados pelo cobre e pela cal; 5. utilizar equipamento de proteção individual quando da realização das pulverizações;

6. não descartar excedentes em nascentes, cursos d'água, açudes ou poços;

7. obedecer intervalos de 15 a 25 dias entre aplicações de calda sulfocálcica e de calda bordalesa

􀂃 Calda viçosa

Foi desenvolvida a partir da calda bordalesa pela Universidade Federal de Viçosa. É recomendada para controle de diversos fitopatógenos, dentre os quais o agente da cercosporiose do cafeeiro; por ser complementada com sais minerais (cobre, zinco, magnésio e boro) também funciona como adubo foliar. Detalhes do preparo estão descritos no Anexo 13.

Devem ser tomados os mesmos cuidados indicados para as caldas bordalesa e sulfocálcica. A uréia, que faz parte da formulação original, não pode ser acrescentada à receita por que seu uso não está permitido pelas normas vigentes da agricultura orgânica.

􀂃 Nim (Azadirachta indica) 

É uma planta da família Meliaceae, cuja origem provável é a Índia e o sul da Ásia, onde é muito utilizada para fins medicinais e como pesticida. O óleo das sementes do nim é um inseticida de amplo espectro capaz de atuar contra mais de 418 espécies de pragas, incluindo: a mosca branca, pulgões e besouros, assim como contra nematóides (Ciociola Jr. & Martinez, 2002; Ferraz & Freitas, 2004).

No Brasil, já se encontram disponíveis no mercado o óleo das sementes e extrato de folhas para pulverizações de plantas. No Anexo 14 há uma receita simples de extrato de nim, recomendada pelo Grupo Temático de Práticas Ambientais Sustentáveis (2002).

Controle alternativo de fitopatógenos 

As doenças que normalmente ocorrem em cafeeiros assumindo certo grau de importância, de acordo com as condições climáticas regionais, são: 

􀂃 Ferrugem (Hemileia vastatrix)

Ocorre principalmente nas lavouras implantadas em altitudes entre 500 e 900m, sob condições de temperaturas relativamente elevadas (22 a 26ºC) e molhamento foliar contínuo superior a 12 horas. A incidência é maior nas áreas expostas a ventos, granizo e ao frio intenso e nos espaçamentos mais reduzidos.

Sintomas: manchas amareladas na face superior das folhas, variando em diâmetro, com erupções esporulantes alaranjadas na face inferior (constituídas de uredosporos do fungo). Desfolhamento mais ou menos intenso, dependendo das condições ambientais.

Agente causal: fungo da classe dos basidiomicetos que tem nos uredosporos sua principal via de disseminação.

Controle: pode ser feito pelo plantio de cultivares resistentes como: Icatu, Catucaí (Catuaí x Icatu) e Catimor (Catuaí Vermelho x Híbrido de Timor), além do Conilon. Os biofertilizantes podem ser utilizados e o controle preventivo iniciado quando a incidência da ferrugem é de no máximo 5% de folhas com pústulas esporuladas, pode ser feito com o uso da caldas viçosa. Adubações equilibradas, desbrotas e podas para melhorar o arejamento do cafezal também contribuem para manter o controle sobre a incidência da ferrugem.

􀂃 Olho Pardo ou Cercosporiose (Cercospora coffeicola)

A doença é também conhecida como mancha circular, mancha parda ou olho de pombo, presente de forma endêmica em quase todas as regiões do país (Godoy et al.,1997). As principais causas da incidência da enfermidade são: deficiência nutricional principalmente na formação de mudas em substratos pobres, excesso de insolação, queda de temperatura e estresse hídrico.

Sintomas: lesões pequenas e circulares, com 0,5 a 1,5 cm de diâmetro, de coloração pardo-clara ou marron-escura, com centro branco-acinzentado, envolvidas por anel arroxeado ou amarelado, lembrando um olho. As folhas atacadas caem rapidamente, ocorrendo desfolha e seca de ramos. Os frutos podem ser infestados, ocasionando depreciação da qualidade da bebida.

Agente causal: fungo da classe dos deuteromicetos que produz esporodóquios no centro das lesões, onde os conidióforos septados e cilíndricos são agrupados em fascículos. Apresenta conídios hialinos e multisseptados.

Controle: o fungo pode ser eficientemente controlado em plantios sombreados (Samayoa-Juárez & Sánchez-Garcia, 2000) e, também, utilizando-se caldas bordalesa ou de viçosa (1,0 a 1,5%) em pulverizações foliares a intervalos de 15 dias. Entre as práticas culturais recomendadas estão o bom preparo do solo, que deve estar livre de compactação e adensamentos de modo a proporcionar um bom arejamento das raízes, adubações equilibradas, controle do sombreamento já que a incidência da doença aumenta com o plantio a pleno sol.

􀂃 Seca dos ramos e ponteiros (Phoma spp., Phomopsis sp., Colletotrichum spp.)

É ocasionada por um complexo de fatores, destacando-se principalmente as condições climáticas desfavoráveis e má nutrição das plantas.

Sintomas: ocorre em cafeeiros de qualquer idade e caracteriza-se pela desfolha e morte descendente dos ramos.

Agente causal: diversos fungos da classe dos deuteromicetos.

Controle: preventivo, através de pulverizações foliares quinzenais com as caldas bordalesa ou viçosa (1,0 a 1,5%) e adubação foliar com biofertilizante tipo Supermagro ou Agrobio (4%). Quebra-ventos e adubações equilibradas são práticas que favorecem o controle da doença.

􀂃 Mancha aureolada (Pseudomonas syringae pv. garcae)

É uma doença bacteriana que afeta principalmente folhas jovens, rosetas, frutos novos e ramos do cafeeiro, atingindo mudas no viveiro e plantas no campo. Em regiões altas e desprotegidas de ventos, a bactéria provoca a queda prematura das folhas, prejudica o pegamento de flores e a produção do ano seguinte.

Sintomas: manchas necróticas, de coloração pardo-escura, circundadas por um halo amarelado. As lesões são mais freqüentes nas bordas das folhas. Um outro sintoma importante da doença é a seca de ramos laterais e com isto, a planta emite ramos novos, provocando um superbrotamento.

Controle: deve iniciar-se ainda na fase de viveiro, com a escolha do local de instalação, que deve estar protegido de ventos frios, sendo que a adoção de quebraventos é importante medida de mitigação da doença, tanto nos viveiros quanto no campo. As mudas atacadas devem ser podadas à altura do terceiro par de folhas e pulverizadas com as caldas bordalesa ou de viçosa (1,0 a 1,5%). Adubações equilibradas e o uso de quebra-ventos são práticas recomendadas.

Controle alternativo de insetos-pragas, ácaros e nematóides

􀂃 Bicho mineiro (Leucoptera coffeella)

O adulto deste inseto se apresenta como uma pequena mariposa. Na fase larval, a lagarta se alimenta das folhas do cafeeiro, cavando galerias ou mins, onde se aloja e se desenvolve. O ataque da praga reduz a área foliar e, por vezes, provoca intenso desfolhamento.

Controle: pulverizações foliares com calda sulfocálcica (2,5%), nos períodos mais secos do ano (Penteado, 1999), armadilhas com feromônio e controle com extratos vegetais, principalmente o nim (solução aquosa a 20 a 40%) (Martinez et al., 2001) e o mentrasto (Ageratum conyzoides). Como práticas culturais recomendadas estão a utilização de quebra-ventos e a arborização. São indicadas a seringueira, macadâmia, cajueiro, ingazeiro, grevílea robusta e bananeira. As lagartas podem ser controladas por parasitóides (Colastes letifer, Mirax sp., Closterocerus coffeella, Horismenus sp.), que podem causar cerca de 18% de mortalidade das larvas do minador, e por predadores, principalmente as vespas, tais como Proctonectarina sylveirae, Brachygastra lecheguana e Polybia scutellaris, que podem causar até 70% de mortalidade do minador nas fases de ovo, larva e pupa. Para a manutenção de uma população de vespas adequada na lavoura de café, recomenda-se a preservação de matas remanescentes e/ou o plantio de áreas de refúgio.

􀂃 Broca dos frutos (Hypothenemus hampei)

É um besouro preto, luzidio, de corpo cilíndrico e ligeiramente recurvado para trás. Este inseto ataca os frutos do cafeeiro em qualquer estágio de maturação. A fêmea perfura os frutos para fazer a oviposição, aberturas que permitem a entrada de fungos causadores de podridão. As larvas, ao se alimentarem, destroem parcial ou totalmente a semente.

Controle: o controle cultural é o melhor método quando a colheita do café é realizada em uma época definida, e consiste em iniciar a colheita nos talhões mais infestados, realizar uma colheita bem feita, sem deixar frutos na planta e no chão e fazer o “repasse” da colheita, colhendo os frutos que sobraram no chão e na planta. pulverizações foliares com o fungo entomopatogênico Beauveria bassiana, na proporção de 1 a 2kg/ha de formulações comerciais em pó (Penteado, 1999). É possível controlar a broca-do-café através do parasitóide Cephalonomia stephanoderis, vulgarmente conhecida como vespa-da-Costa-do-Marfim (Benassi, 1996). O controle também pode ser conseguido por meio de armadilhas de etanol com adição de óleo de café que atraem as fêmeas adultas (Reis et al., 2002).

􀂃 Ácaro vermelho (Oligonychus ilicis)

As fêmeas medem em torno de 0,5 mm de comprimento e vivem na parte superior das folhas. Em anos de inverno seco e menos rigoroso, causam desfolhamento do cafeeiro.

Controle: pulverizações foliares com calda sulfocálcica (2%).

Cigarras

Nos últimos anos, esse inseto tem aumentando em importância para a cultura do café, devido principalmente à utilização de áreas de cerrado para plantio. Os gêneros já foram registradas infestar cafeeiros são: Quesada, cujos adultos medem de 6 a 7 cm de comprimento, Dorisiana, Fidicina e Carineta, que são de menor tamanho, medindo de 2 a 3 cm. Causam debilitação das plantas devido à sucção contínua de seiva das raízes pelas ninfas, as plantas apresentam uma clorose nas folhas da extremidade dos ramos, semelhante a deficiências nutricionais, ocorrendo posteriormente queda de folhas com conseqüente queda de flores e frutos e as extremidades dos ramos secam, causando sensível diminuição da produção em lavouras entre 6 a 10 anos. Nas condições brasileiras, a fase de ninfa pode durar de um ano a mais.

Controle: Há relatos de que o fungo Metarhizium anisopliae causa mortalidade das ninfas (Reis et al., 2002). O controle por prática cultural consiste na arborização com espécies que não sejam hospedeiras para as cigarras, por exemplo, as grevíleas. Nos casos de infestação grave só resta a eliminação do cafezal e replantio somente após pelo menos 3 anos. Os cafeeiros em formação não são atacados pelas cigarras.

Nematóides

Os nematóides formadores de galhas radiculares, principalmente Meloidogyne incognita, são limitantes para a cultura em solos arenosos. As infestações normalmente ocorrem em reboleiras. Em áreas infestadas, é necessária a introdução de leguminosas antagonistas como: mucuna preta, mucuna anã e Crotalaria spectabilis (Thomaziello, 2000) ou, ainda, utilizar mudas de C. arabica enxertadas sobre a cultivar resistente Apoatã (Zambolim, 2000). Já em solos livres de infestação, recomenda-se o plantio de mudas certificadas de cafeeiro.



sábado, 12 de junho de 2021

Controle da vegetação espontânea no Café Orgânico


Controle da vegetação espontânea é uma etapa muito importante visto que o cafeeiro é muito sensível à competição por água e nutrientes, importante especialmente, durante algumas fases do ano.

É comum chamar as plantas que ocorrem espontaneamente na área, de “invasoras” ou “daninhas”, por considerar que causam mais danos do que benefícios às plantas cultivadas, devendo, dessa forma, serem erradicadas. Todavia, na agricultura orgânica, nem toda planta espontânea é considerada daninha. As plantas espontâneas são capazes de reciclar nutrientes das camadas mais profundas do solo para a superfície, disponibilizando-os novamente para o café.

O controle eiro; promovem a descompactação do solo; protegem o solo da erosão e da insolação; aumentam a aeração e a retenção de água dos solos; aumentam a diversidade de espécies ocorrentes na área que podem auxiliar no controle biológico de pragas; quando cortadas, podem ser utilizadas na preparação de compostos orgânicos e de biofertilizantes , bem como são produtoras de biomassa.

Portanto, essas plantas não devem ser erradicadas, mas sim, manejadas ou controladas.

Certas espécies, como por exemplo, beldroega, sapê e carqueja, são indicadoras das condições físicas e químicas do solo. Uma lista de plantas indicadoras é apresentada no Anexo 10.

A ocorrência das plantas espontâneas varia conforme o período do ano. No período chuvoso (outubro a abril), meses onde a temperatura e a disponibilidade de água são maiores, estas espécies tornam-se mais abundantes, predominando as gramíneas.

Nos meses mais secos (maio a setembro), predominam as espécies de folhas largas, por possuírem um sistema radicular pivotante, capaz de retirar água de camadas mais profundas. Neste período é muito importante controlar essas populações porque coincide com a época de florescimento e de frutificação do cafeeiro (Fernandes, 1986; Alcântara et al., 1989), a fim de diminuir a competição.

O crescimento de plantas espontâneas é mais intenso em lavouras jovens, devido à maior disponibilidade de luz. À medida que os cafeeiros crescem, menor se torna o espaço nas entrelinhas disponível à entrada de luz, diminuindo dessa forma, os níveis de ocorrência.

Uma alternativa viável para reduzir significativamente a concorrência de plantas espontâneas nos primeiros anos da lavoura é o consórcio dos cafeeiros com feijão,milho, crotalária, lab-lab, guandu, entre outras. Além de controlar as plantas espontâneas, as culturas consorciadas podem funcionar como adubos verdes, aumentando o aporte de matéria orgânica e de nutrientes (especialmente de nitrogênio, no caso das leguminosas), a proteção dos solos e a diversidade das populações de insetos benéficos na área, além de possibilitarem lucro adicional.

Na cafeicultura orgânica o uso de herbicidas está proibido. O manejo das plantas espontâneas, é feito normalmente através de roçadas e capinas manuais e mecânicas, evitando-se a exposição completa do solo, mantendo-o coberto a maior parte do ano.

A roçada/capina manual, feita com foices/enxadas, é eficaz, mas o rendimento é baixo, tornando-se onerosa por necessitar de considerável mão-de-obra. É mais usada em áreas relativamente pequenas e/ou declivosas. A capina seletiva elimina somente as espécies mais agressivas.

A roçada/capina mecânica tratorizada é rápida, mas depende de um espaçamento largo que permita a passagem das máquinas e implementos. Depende ainda do cafezal estar bem alinhado, da declividade da área e da presença suficiente de carreadores. A necessidade de mão-de-obra é menor, porém mais especializada. Como desvantagens, exige alto investimento em equipamentos e constitui-se numa prática apenas “tolerável” pelas normas da produção orgânica, uma vez que desestrutura o solo e promove sua compactação.

A roçada pode ser feita com roçadeira costal motorizada.O rendimento é muito bom, sem muitas das desvantagens da capina mecânica tratorizada: pode ser adotada em espaçamentos menores, áreas mais declivosas e exige menor investimento.

O esterco de animais a pasto representa uma fonte de sementes de espécies espontâneas, sendo, portanto, de grande importância a sua compostagem antes da utilização, visto que, a elevação da temperatura durante o processo, reduz consideravelmente a viabilidade das sementes.



domingo, 6 de junho de 2021

Arborização de Cafezais Orgânicos


Arborização de cafezais

O café é originário de florestas caducifólias da Etiópia, onde as árvores dos extratos mais altos perdem as folhas durante os meses de julho a setembro, quando o cafeeiro mais necessita de luz para a floração (CEPA, 1971). Trata-se, portanto, de uma espécie adaptada à sombra, embora, no Brasil, a maioria das lavouras seja conduzida a pleno sol.

O sistema de produção de café orgânico no Brasil é mundialmente criticado devido à escassez de biodiversidade nas lavouras. As plantações orgânicas nacionais são vistas como monoculturas, sem árvores e com grande uso de matéria orgânica externa à propriedade (Moreira et al., 2002).

Embora não seja uma prática comum, o cultivo em faixas de leguminosas arbóreas, fruteiras ou outras espécies perenes intercaladas no cafezal é recomendável (Ricci et al., 2002ab). A arborização é um recurso para diversificar as lavouras tradicionais, sendo comum em países produtores de café da América Latina, tais como Colômbia, Venezuela, Costa Rica, Panamá e México. As espécies mais comuns são leguminosas, como ingá (Inga sp.) e Erythrina poeppigiana, fruteiras, como a banana (Musa spp.) e os citros (Citrus spp.), e espécies madeiráveis, como freijó-louro (Cordia alliodora) e cedro (Cedrela odorata) (Beer, 1997).

O cultivo a pleno sol tem apresentado problemas de superprodução e conseqüente esgotamento das plantas, durante os primeiros anos, até que o auto-sombreamento diminua esse efeito (Souza & Oliveira, 2000). Pesquisas recentes demonstram uma relação positiva entre níveis de sombreamento e produção de frutos (Soto-Pinto et al., 2000). Segundo Fernandes (1986), a arborização com espécies e espaçamentos adequados pode apresentar resultados satisfatórios, quando comparado ao cultivo a pleno sol.

Uma das vantagens da utilização de árvores é a ciclagem de nutrientes, ou seja, a quantidade de nutrientes das camadas mais profundas do solo que a árvore retira e depois deposita sobre o solo através da queda de suas folhas ou quando é podada.

De acordo com resultados de uma pesquisa realizada em Machado, MG, comparando-se café orgânico a pleno sol com café orgânico sombreado por Platycyamus regnellii (pau pereira), esse sombreamento proporcionou:

􀂃 Menor temperatura do solo e menor oscilação;

􀂃 Maturação mais uniforme dos grãos;

􀂃 Menor lixiviação de nutrientes, principalmente potássio;

􀂃 Maior reciclagem de nutrientes;

􀂃 Maiores concentrações de potássio nos grãos, nas folhas e no solo;

􀂃 Melhor qualidade de bebida e tipo dos grãos;

􀂃 Produtividade equivalente.

É recomendável entre 30 e 40% de sombreamento, dependendo das condições de clima e da fertilidade do solo. Há duas maneiras de se obter a taxa de sombreamento desejado. A primeira é por meio do espaçamento das árvores que pode ser maior ou menor, de acordo com o porte de cada espécie. O espaçamento no sombreamento definitivo, geralmente varia de 8x8m até 15x15m. Entretanto, como muitas das espécies usadas têm um crescimento lento, o produtor pode optar por um plantio mais adensado e, à medida que as árvores forem crescendo, eliminam-se algumas. A outra maneira de dosar a sombra é por meio de podas.

Quanto à localização das árvores, estas devem ser plantadas obedecendo ao desenho do cafezal, em curvas de nível e na mesma linha dos cafeeiros, deixando livre as ruas para passagem de máquinas.

Um aspecto importante a ser considerado é que a arborização retarda e uniformiza a maturação dos grãos. Desse modo, os frutos do cafeeiro Conilon permanecem por mais tempo no estágio cereja, possibilitando a catação manual e contribuindo para a qualidade do produto (Matiello & Coelho, 1999).

Outro fato a ser considerado é que lavouras arborizadas ou em consórcios agroflorestais, podem possibilitar ao produtor um maior retorno econômico (frutas, madeiras, etc), especialmente para pequenos empreendimentos (Beer, 1997), ou nos períodos em que o preço do café está em baixa.

Existem dois tipos de arborização, a temporário ou provisório e a permanente. O primeiro tipo serve de proteção ao cafeeiro na fase de estabelecimento, permanecendo na área somente durante os primeiros anos, devendo ser eliminado quando o sombreamento definitivo estiver estabelecido. Para a arborização provisória são utilizadas espécies anuais ou perenes, de porte médio, sendo a banana a espécie mais comum nos países latinos.

Na seleção de espécies para arborização definitiva, os seguintes requisitos devem ser observados:

􀂃 Adaptação às condições ambientais da região;

􀂃 Capacidade de obter nitrogênio através da fixação biológica (família das leguminosas);

􀂃 Crescimento rápido e vida longa;

􀂃 Sistema radicular profundo, a fim de não concorrer por água e nutrientes com o cafeeiro;

􀂃 Preferencialmente, sem espinhos;

􀂃 Resistência a ventos;

􀂃 Copa rala ou perda de folhas no período de julho a setembro, em que o café necessita de mais luz para floração;

􀂃 Boa capacidade de rebrota e proporcionar de aporte de nutrientes;

􀂃 Retorno adicional de renda (lenha, alimentos, etc.);

􀂃 Não exigir podas freqüentes;

􀂃 Resistência às pragas e agentes de doenças que possam prejudicar o cafeeiro.

Mais informações sobre a arborização de cafezais estão apresentadas no Anexo 9.

Árvores de Gliricidia sepium em plena floração usada na arborização de um cafezal Conilon cultivado organicamente na Fazendinha Agroecológica Km 47, em Seropédica, RJ.



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