Arborização de cafezais
O café é originário de florestas caducifólias da Etiópia, onde as árvores dos extratos mais altos perdem as folhas durante os meses de julho a setembro, quando o cafeeiro mais necessita de luz para a floração (CEPA, 1971). Trata-se, portanto, de uma espécie adaptada à sombra, embora, no Brasil, a maioria das lavouras seja conduzida a pleno sol.
O sistema de produção de café orgânico no Brasil é mundialmente criticado devido à escassez de biodiversidade nas lavouras. As plantações orgânicas nacionais são vistas como monoculturas, sem árvores e com grande uso de matéria orgânica externa à propriedade (Moreira et al., 2002).
Embora não seja uma prática comum, o cultivo em faixas de leguminosas arbóreas, fruteiras ou outras espécies perenes intercaladas no cafezal é recomendável (Ricci et al., 2002ab). A arborização é um recurso para diversificar as lavouras tradicionais, sendo comum em países produtores de café da América Latina, tais como Colômbia, Venezuela, Costa Rica, Panamá e México. As espécies mais comuns são leguminosas, como ingá (Inga sp.) e Erythrina poeppigiana, fruteiras, como a banana (Musa spp.) e os citros (Citrus spp.), e espécies madeiráveis, como freijó-louro (Cordia alliodora) e cedro (Cedrela odorata) (Beer, 1997).
O cultivo a pleno sol tem apresentado problemas de superprodução e conseqüente esgotamento das plantas, durante os primeiros anos, até que o auto-sombreamento diminua esse efeito (Souza & Oliveira, 2000). Pesquisas recentes demonstram uma relação positiva entre níveis de sombreamento e produção de frutos (Soto-Pinto et al., 2000). Segundo Fernandes (1986), a arborização com espécies e espaçamentos adequados pode apresentar resultados satisfatórios, quando comparado ao cultivo a pleno sol.
Uma das vantagens da utilização de árvores é a ciclagem de nutrientes, ou seja, a quantidade de nutrientes das camadas mais profundas do solo que a árvore retira e depois deposita sobre o solo através da queda de suas folhas ou quando é podada.
De acordo com resultados de uma pesquisa realizada em Machado, MG, comparando-se café orgânico a pleno sol com café orgânico sombreado por Platycyamus regnellii (pau pereira), esse sombreamento proporcionou:
Menor temperatura do solo e menor oscilação;
Maturação mais uniforme dos grãos;
Menor lixiviação de nutrientes, principalmente potássio;
Maior reciclagem de nutrientes;
Maiores concentrações de potássio nos grãos, nas folhas e no solo;
Melhor qualidade de bebida e tipo dos grãos;
Produtividade equivalente.
É recomendável entre 30 e 40% de sombreamento, dependendo das condições de clima e da fertilidade do solo. Há duas maneiras de se obter a taxa de sombreamento desejado. A primeira é por meio do espaçamento das árvores que pode ser maior ou menor, de acordo com o porte de cada espécie. O espaçamento no sombreamento definitivo, geralmente varia de 8x8m até 15x15m. Entretanto, como muitas das espécies usadas têm um crescimento lento, o produtor pode optar por um plantio mais adensado e, à medida que as árvores forem crescendo, eliminam-se algumas. A outra maneira de dosar a sombra é por meio de podas.
Quanto à localização das árvores, estas devem ser plantadas obedecendo ao desenho do cafezal, em curvas de nível e na mesma linha dos cafeeiros, deixando livre as ruas para passagem de máquinas.
Um aspecto importante a ser considerado é que a arborização retarda e uniformiza a maturação dos grãos. Desse modo, os frutos do cafeeiro Conilon permanecem por mais tempo no estágio cereja, possibilitando a catação manual e contribuindo para a qualidade do produto (Matiello & Coelho, 1999).
Outro fato a ser considerado é que lavouras arborizadas ou em consórcios agroflorestais, podem possibilitar ao produtor um maior retorno econômico (frutas, madeiras, etc), especialmente para pequenos empreendimentos (Beer, 1997), ou nos períodos em que o preço do café está em baixa.
Existem dois tipos de arborização, a temporário ou provisório e a permanente. O primeiro tipo serve de proteção ao cafeeiro na fase de estabelecimento, permanecendo na área somente durante os primeiros anos, devendo ser eliminado quando o sombreamento definitivo estiver estabelecido. Para a arborização provisória são utilizadas espécies anuais ou perenes, de porte médio, sendo a banana a espécie mais comum nos países latinos.
Na seleção de espécies para arborização definitiva, os seguintes requisitos devem ser observados:
Adaptação às condições ambientais da região;
Capacidade de obter nitrogênio através da fixação biológica (família das leguminosas);
Crescimento rápido e vida longa;
Sistema radicular profundo, a fim de não concorrer por água e nutrientes com o cafeeiro;
Preferencialmente, sem espinhos;
Resistência a ventos;
Copa rala ou perda de folhas no período de julho a setembro, em que o café necessita de mais luz para floração;
Boa capacidade de rebrota e proporcionar de aporte de nutrientes;
Retorno adicional de renda (lenha, alimentos, etc.);
Não exigir podas freqüentes;
Resistência às pragas e agentes de doenças que possam prejudicar o cafeeiro.
Mais informações sobre a arborização de cafezais estão apresentadas no Anexo 9.
Árvores de Gliricidia sepium em plena floração usada na arborização de um cafezal Conilon cultivado organicamente na Fazendinha Agroecológica Km 47, em Seropédica, RJ.
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