sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Recuperação de ervais degradados (Erva-Mate)



Recuperação de ervais degradados

A recuperação de um erval degradado tem que ser analisada de forma conjuntural. 

A idade não pode ser o fator único limitante, pois há ervais com 20 anos produzindo ainda muito bem, e há ervais com 14 anos em pleno declínio. Da mesma forma, densidade e rendimento são fatores que não podem ser analisados isoladamente. Há ervais apresentando bom estado fitossanitário, mas que não produzem quase nada. Pode-se encontrar ervais com 3% a 5% de matéria orgânica no solo e que não apresentam bom desempenho. Até mesmo o número de falhas não define, por si só, um erval degradado, pois há ervais com 10% de falhas e que não produzem bem, enquanto há outros com 50% de falhas e que produzem muito bem. 

Não se deve concluir que um erval com produção inferior a 2.200 kg por hectare ao ano deva ser eliminado só por esse fato, pois ele poderá ser recuperado vantajosamente, no aspecto econômico. Da mesma forma, não se pode concluir que um erval produzindo 20 mil kg por hectare ao ano não possa ser melhorado.

 Há produtores que não acham interessante recuperar ervais antigos, preferindo plantar outro, devido ao custo de recuperação ser maior que o de implantação. 

 Outro problema que faz com que os produtores relutem em recuperar ervais é a necessidade de adotar um manejo diferenciado entre as plantas adultas que estão se recuperando e as plantas que estão sendo implantadas. Neste caso, necessita-se de mais mão de obra. Muitas vezes, recuperar uma planta pode ter um custo quatro vezes maior que aquele de plantá-la novamente. Todavia, se não houver solos disponíveis na propriedade para plantar um erval novo, a única opção é renovar.

 O capim-elefante deve ser utilizado sempre que se estiver recuperando um erval sobre solo já bastante degradado, uma vez que o mesmo retira potássio das camadas inferiores, aumenta o teor de magnésio e de cálcio, aumenta a matéria orgânica para 4% a 5% e aumenta o N pela associação com fixadores livres de N.

Esta gramínea pode servir, também, como produtora de biomassa que, após cortada, pode servir como cobertura morta para as erveiras.

O capim elefante deve ser mantido sempre roçado, pois, se deixá-lo produzir e disseminar suas sementes, ele se tornará uma planta daninha potencial. Outro problema é o alto custo de sua implantação e manejo.

Outra atividade envolvida na recuperação de ervais é a poda de renovação que pode ser do tipo rebaixamento total ou gradual. 

Normalmente, a planta gasta muita energia para se recuperar do rebaixamento total e, por isso, no primeiro ano, reage bem, mas depois sofre uma queda na sua produção. É necessário, antes do rebaixamento, manter a erveira livre de plantas daninhas e adubada, de acordo com as recomendações da assistência técnica.

Cobertura do solo

O uso de cobertura de solo é de fundamental importância para o plantio de erva-mate. Ele exerce várias funções no sistema de plantio: proteção do solo, adubação verde e controle de plantas daninhas.

O solo pode receber coberturas vivas ou coberturas mortas. Ao longo do ano, utilizam-se coberturas vivas de inverno e coberturas vivas de verão. Para o inverno, recomenda-se a aveia-preta ou a ervilhaca-comum, dependendo da cultura a ser semeada no verão. Quando não se planeja produzir culturas comerciais para o verão, a semeadura de soja comum ou feijão-de-porco poderá ser uma opção como cobertura para essa estação.

Coberturas vivas do solo

As coberturas vivas podem ser de inverno ou de verão. Alguns técnicos têm indicado coberturas mistas de aveia-preta e ervilhaca para o inverno. De todos os benefícios trazidos pela cobertura viva, talvez o maior seja a produção de matéria orgânica para incorporação ao solo, melhorando as condições físicas e estimulando processos químicos e biológicos, além de melhorar a estrutura e a capacidade de retenção da umidade dos solos. A utilização racional de coberturas vivas, para recobrir e proteger o solo contra erosão, com suas raízes, deve sempre ser levada em conta no planejamento da produção de uma propriedade agrícola.

Uma boa cobertura verde deve ser constituída de espécies com as seguintes características:

vegetem bem nas condições locais de clima e solo;
tenham sistema radicular eficiente para a sua fixação ao solo;
tenham sistema foliar significativamente denso e de porte baixo;
não sejam competitivas com a erva-mate;
sejam aproveitáveis como adubo verde;
ressemeiem;
sejam fixadoras de nitrogênio;
tenham um custo de implantação acessível aos pequenos produtores.
É bom salientar, todavia, que a prática de cobertura vegetal viva pode ser contraindicada se o custo das sementes for muito elevado, requerendo também precauções contra a disseminação de pragas ou doenças. Em regiões secas, elas podem competir por água com a erva-mate. Portanto, às vezes, é melhor enfatizar o uso de coberturas espontâneas, que devem ser invernais, com semeadura natural e competitivas com as plantas daninhas. A gradagem realizada no mês de março favorece a germinação das espécies espontâneas.

Coberturas vivas de inverno
Recomenda-se, como as melhores coberturas de inverno a aveia (Avena sativa) e a ervilhaca comum (Vicia villosa). Coberturas mistas de inverno usando-se a aveia e a ervilhaca são bastante interessantes.

Coberturas mistas de inverno
No inverno, o ideal seria trabalhar com coberturas mistas, utilizando uma mistura de uma parte de aveia e uma parte de ervilhaca, semeadas na primeira quinzena de abril.

Deve-se atentar para o fato de que, se a cobertura estiver muito próxima da erva-mate e secar de repente, ela poderá fazer com que as plantas de erva-mate sejam prejudicadas pela ação intensa do sol.

Em algumas situações, pode-se adicionar o nabo forrageiro (Raphanus sativus L.) que possui um crescimento inicial rápido e elevada capacidade de reciclar nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo. Outra característica muito interessante é agir como subsolador natural.

Coberturas vivas de verão
O feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) pode ser plantado no espaçamento de 0,5 m x 0,5 m, ou em dois sulcos separados de 1,0 m, com 0,5 cm de espaçamento entre as plantas, nas linhas, isto em ervais plantados com espaçamento de 3,5 m x 1,5 m.

O uso do caupi, da mucuna-anã e da soja comum (Glycine max) também são recomendados. O caupi, por sua vez, deve ser de crescimento determinado e ereto e a mucuna-anã deverá possuir uma boa procedência da sementes, para garantir uma boa germinação e cobertura do solo.

Alguns produtores têm utilizado o amendoim-forrageiro (Arachis pintoi). Vale salientar que o plantio dessa espécie requer cuidados especiais quanto ao seu controle na linha de plantio da erva-mate, uma vez que ela, nas épocas de “veranico”, exerce uma forte concorrência com a erva-mate. Recomenda-se a roçagem do amendoim–forrageiro, periodicamente, usando-se a matéria verde proveniente da sua roçagem para a cobertura da linha da erva-mate. Assim, com o transcorrer do tempo, o erval terá a cobertura morta na linha e a cobertura viva de amendoim-forrageiro na entrelinha.

Coberturas mortas do solo
Moacir José Sales Medrado; Renato Antônio Dedecek; Gabriel Correa

A cobertura morta objetiva manter a umidade do solo, controlar o mato, evitar a erosão e aumentar a atividade microbiológica do solo.

O uso de sobras de palitos de indústrias ervateiras ou de palhada obtida com a roçada das entrelinhas tem apresentado excelentes resultados.

Palha de feijão e de soja têm mostrado bons resultados para esse objetivo. Outra forma muito interessante de se obter cobertura morta, para evitar a concorrência com plantas daninhas nos períodos críticos do verão, é com o plantio de aveia, durante o inverno, e sua rolagem com rolo-faca tracionado por animal (Figura 1).

Com as mudanças climáticas, a região produtora de erva-mate tem sido castigada com intensos períodos de estiagem e veranicos, o que ressalta uma maior importância da cobertura morta aos ervais.

Foto: Moacir J. S. Medrado
Figura 1. Cobertura morta com aveia-preta obtida pela rolagem com rolo-faca tracionado por animal, na propriedade do Sr. Lauro Popieviski, em Áurea, RS.

Controle de plantas espontâneas

É normal pensar que a erva-mate, por ser uma espécie nativa, suporta bem a concorrência com as plantas espontâneas. Mas isto não é verdade, pois a erva-mate é uma das culturas mais suscetíveis à competição com essas plantas. 

As erveiras devem estar protegidas da concorrência com o mato, no período de outubro a abril. Para isso, recomenda-se o uso de cobertura morta na projeção da copa da erveira.

Métodos de controle mecânicos
O uso de roçadeiras com pequenos tratores é recomendável ao controle de plantas espontâneas desde que bem conduzidos. Caso contrário, eles podem provocar grandes perdas de solo. O uso indiscriminado de grades tracionadas por tratores pesados e em épocas inapropriadas, por exemplo, logo após as chuvas, tem sido um dos maiores fatores que causam a diminuição da produtividade dos ervais plantados.

Métodos de controle culturais
Deve-se utilizar a cobertura verde (no inverno: aveia, ervilhaca, nabo forrageiro; no verão: soja comum, feijão-de-porco), rotações de cultivo (trigo/soja – aveia- preta/soja; trigo/soja – aveia preta + ervilhaca/soja; aveia preta + ervilhaca/soja – aveia preta + ervilhaca/milho) nas entrelinhas e cobertura morta (restos de mato das entrelinhas; restos de palha de milho e de feijão; bagaços e palha de cana-de-açúcar; podas de ramos de timbó – Ateleia glazioveana; capim-elefante cortado e fenado).

Métodos de controle químicos
O uso de produtos químicos para o controle de plantas espontâneas não é permitido. Esta prática é proibida por lei, pois não há registros de produtos para utilização em plantas espontâneas nos ervais.



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