quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Sementes e Produção de mudas de Araucária



Sementes

Coleta e beneficiamento

Os pinhões são obtidos quando as pinhas maduras são derrubadas no chão, processo conhecido comumente como desfalhamento. Este método apresenta o risco de ataques de roedores e insetos às sementes, bem como de perda da qualidade fisiológica destas pela permanência no solo, sob condições de ambiente natural. O método recomendado para a coleta consiste da retirada das pinhas diretamente da árvore quando estas apresentam pintas amarronzadas. Em seguida, os pinhões são extraídos manualmente da pinha. Após a extração dos pinhões, é aconselhável a eliminação dos pequenos, selecionando-os através de peneiras com alvéolos oblongos acima de 6 cm de comprimento, pois existe uma relação entre vigor e tamanho das sementes desta espécie.

Número de sementes por quilograma

Segundo Monteiro e Speltz (1980), varia entre 123 a 205 sementes por quilograma.

Tratamento para superação da dormência das sementes

A presença do tegumento externo (brácteas) atrasa o processo de germinação das sementes destas espécies (DONI FILHO et al., 1985). O atraso na germinação de sementes do pinheiro-do-paraná está associado à restrição da entrada de água, ocasionada pelo tegumento (BORGES et al., 1987). Por isso, é prática recomendada deixar os pinhões imersos em água à temperatura ambiente entre 24 a 48 horas, para embebição. Após esta operação, deve-se utilizar para a produção de mudas os pinhões que afundarem e rejeitar aqueles que flutuarem, pois estão chochos e mal formados.

Determinação do grau de umidade das sementes em laboratório

Nogueira e Henemann (1997) estabeleceram, como procedimentos mais indicados pela praticidade, metodologia para determinar o grau de umidade de sementes de pinheiro-do-paraná, utilizando sementes inteiras, sob temperaturas de 105 ºC, durante 24 horas e, em função da rapidez na obtenção dos resultados, temperatura 130 ºC por um período de quatro horas.

Teste de germinação de sementes em laboratório

O teste de germinação das sementes de pinheiro-do-paraná pode ser realizado sobre papel de filtro, em germinador regulado à temperatura entre 20 °C e 30 °C. As sementes devem ser submetidas à remoção parcial do tegumento (corte lateral no endosperma com auxílio de bisturi) que visam abreviar e uniformizar a germinação, de acordo com Eira et al. (1991). As avaliações devem ser feitas em intervalos de sete dias, adotando-se o critério de plântula normal prescrito por (Brasil, MARA, 2009). A duração total do teste é de 35 dias.

Conservação das sementes em armazenamento

As sementes do pinheiro-do-paraná são classificadas fisiologicamente como recalcitrantes e, por isso, perdem a viabilidade rapidamente (WILLAN, 1985). O prolongamento da longevidade das sementes dessa espécie, por meio do armazenamento, foi estudado por diversos autores, que associaram a perda de viabilidade à redução do grau de umidade das sementes (SUITER FILHO, 1966; AQUILA; FERREIRA, 1984; FARRANT et al., 1989).
As sementes recalcitrantes apresentam limites de redução de umidade, variável para cada espécie, a partir do qual inicia a perda da viabilidade. O grau de umidade em que ocorre o início da perda da viabilidade é conhecido como umidade limite de sobrevivência ou nível crítico de umidade. O nível crítico de umidade das sementes de pinheiro-do-paraná varia entre 40% (TOMPSETT, 1984) e 38% (EIRA et al., 1994), abaixo do qual há perda total de viabilidade.
Em experimentos conduzidos na Embrapa Florestas, Fowler et al. (1998) testaram ambientes e embalagens para a conservação de sementes de pinheiro-do-paraná, em armazenamento por 12 meses, e concluíram que a melhor condição foi em ambiente de câmara fria (temperatura de 4 ºC + 1 ºC e U.R. 89% + 1%) combinado com a embalagem de polietileno de 24 micras de espessura, pois mantiveram 79% do índice de germinação inicial das sementes. O grau de umidade inicial das sementes na instalação do experimento era de 43%.

Produção de mudas

Semeadura

A semeadura dos pinhões pode ser feita de três maneiras: direta no campo, utilizando-se dois ou três pinhões por cova, para garantir que, pelo menos, uma das plântulas se estabeleça; em recipientes ou ainda em sementeiras. O recipiente, geralmente saco de polietileno (Figura 1) ou tubete (Figura 2) deve ter no mínimo 20 cm de altura e 7 cm de diâmetro e com volume de substrato de 300 ml a 500 ml, no mínimo. Quanto maior a altura final desejada das mudas a serem produzidas, maior deve ser o tamanho dos recipientes utilizados na sua produção. Uma sequência detalhada de produção de mudas de araucária em tubetes é apresentada por Wendling e Delgado (2008). Embora muitos autores afirmem que essa espécie não aceita a repicagem, tal operação é usual em muitos viveiros, sendo feita tão logo aconteça a emissão da parte aérea, chegando, em alguns casos, a até 100% de sobrevivência; mudas com parte aérea com até 15 cm de altura aceitam bem a repicagem e apresentam alto índice de sobrevivência. As restrições à repicagem decorrem do fato de o pinheiro apresentar uma raiz principal ou pivotante muito desenvolvida, e qualquer dano a esta compromete a sobrevivência da muda transplantada.

Germinação

É hipógea, distribuindo-se desuniformemente por um longo período de tempo (FERREIRA, 1977; KUNIYOSHI, 1983) (Figuras 3 e 4). O início dá-se entre 20 a 110 dias após a semeadura, atingindo até 90%, dependendo da viabilidade inicial das sementes. O tempo mínimo de permanência em viveiro é de três a quatro meses; normalmente seis meses, quando as mudas atingem 15 cm a 20 cm de altura (Figura 3).
Foto: Ivar Wendling
Figura 1. Muda de araucária pronta para o plantio em saco plástico.
Foto: Ivar Wendling
Figura 2. Muda de araucária produzida em tubete.
Foto: Ivar Wendling
Figura 3. Germinação de semente de araucária.
Foto: Ivar Wendling
Figura 4. Germinação de sementes de araucária.

Associação simbiótica

As micorrizas são estruturas formadas em raízes de plantas, decorrentes do estabelecimento de uma simbiose com fungos do solo. Essa simbiose normalmente promove uma melhor nutrição da planta hospedeira, que leva a um maior crescimento e sobrevivência. Consequentemente, observa-se uma maior produção vegetal.
A presença de micorrizas em araucárias pode ser confirmada pela ocorrência de radículas arredondadas e semelhantes a nódulos com formatos e tamanhos variados. Por serem micorrizas endófitas, são micorrizas arbusculares. Estudos com fungos micorrízicos inoculados em araucária mostram efeitos positivos no desenvolvimento de mudas de araucárias, da mesma forma que ocorrem em outras coníferas, como é o caso de Pinus.
A presença de micorrizas em araucária foi relatada por Milanez e Monteiro Neto (1950), que trabalharam com cortes anatômicos de raízes. Santos (1951), em estudos de ocorrência de micorrizas em talhões desta espécie, observou radículas com formato de contas do rosário, arredondadas e semelhantes a nódulos; verificou, porém, não se tratarem de nódulos e sim de raízes de formato e tamanho modificados, sendo, portanto, consideradas pelo autor micorrizas endófitas do tipo vesicular-arbuscular (VA).
A evidência da ocorrência de micorrizas, no Brasil, foi confirmada por Oliveira e Ventura (1952). Em levantamento efetuado na área do Jardim Botânico, em São Paulo, foram encontradas 15 taxas de fungos MVA na rizosfera do pinheiro-do-paraná, destacando-se AcaulosporaGigasporaGlomus e Scutellospora(BONONI et al., 1989). Muchovej et al. (1992) verificaram a formação de micorrizas nesta espécie, inoculadas com os fungos ectomicorrízicos Rhizopogon nigrescens e Pisolithus tinctorius e com os fungos MVA Acaulospora scrobiculata e Glomus mosseae. Segundo esses autores, os fungos inoculados não tiveram efeito positivo aparente para as plantas.

Propagação vegetativa

As poucas tentativas de estabelecimento de protocolos de estaquia para a propagação da araucária têm apresentado uma série de limitações para a sua adoção em escala comercial, principalmente em relação aos métodos eficientes de resgate e rejuvenescimento de material adulto, hábito plagiotrópico das brotações, entre outros.
A enxertia é viável, mas não tem sido empregada, talvez pelo fato de o enxerto apresentar crescimento lateral quando se utiliza ramos plagiotrópicos, aliada à dificuldade de soldadura da união do enxerto com o porta-enxerto e à impossibilidade da utilização do broto apical de árvores adultas, devido ao diâmetro avantajado. É recomendado o uso de ramos ortotrópicos de brotação existente na base e ao longo das árvores, contudo não estão disponíveis em todas as plantas. As mudas de araucária com um ano e meio a dois anos de idade foram enxertadas com bons resultados, embora, durante o desenvolvimento, os ramos apresentaram plagiotropismo e ortotropismo. Para evitar o plagiotropismo, é necessário utilizar estacas caulinares apicais, com as quais se obtém até 25% de enraizamento. Gurgel Filho (1959), empregando dois métodos de enxertia, conseguiu 47,5% de êxito com a garfagem por fenda a cavalo, enquanto que, com a borbulhia de escudo tipo janela, os resultados não foram satisfatórios.
Horbach et al. (2006), comparando diferentes tipos de fixação (fitilho plástico e grampo de cabelo) e dois sistemas de proteção (sem proteção em casa de vegetação, com umidade e temperatura do ar controlada e com proteção de um saco plástico amarrado no enxerto, em casa de sombra), concluíram que os enxertos podem ser mantidos tanto em casa de vegetação quanto de sombra. Quanto ao tipo de fixação do enxerto, o melhor resultado foi obtido com o fitilho.
Ciampi et al. têm procurado estabelecer protocolos da multiplicação in vitro desta espécie, via cultivo de segmentos caulinares. Com relação às dificuldades de enraizamento in vitro dos brotos do pinheiro-do-paraná, Iritani e Zanette (2000) conseguiram médias de enraizamento de 50% a 70%, utilizando de 0,5 a 2 mg L-1 do ácido indol-3-butírico (AIB) para materiais juvenis, oriundos de sementes.

Cuidados especiais

Para programas de regeneração por meio do plantio de mudas, recomenda-se a produção de mudas a céu aberto, que estarão morfologicamente adaptadas para garantir uma maior sobrevivência (INOUE; TORRES, 1980). Durante muitos anos, o insucesso dos plantios do pinheiro-do-paraná foi creditado a um manuseio indevido das mudas, notadamente devido à ruptura da raiz principal durante o transporte ou plantio. Demonstrou-se, no entanto, que a poda da raiz no viveiro, além de não ser prejudicial, ainda melhora a qualidade da muda (MALINOVSKI, 1977). A semeadura direta possibilita que aves e mamíferos ocasionem estragos, comprometendo o estabelecimento da muda. A perdiz (Rhynchotus rufescens rufescens) alimenta-se dos brotos, além de arrancar a semente para comer a raiz da muda. O ratinho-do-mato (Oligoryzomys utiaritensis), igualmente arranca os pinhões da cova para comê-los. Isso acontece principalmente nos anos de baixa produção de pinhões.



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