sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Produtos e utilizações da Araucária

Madeira serrada e roliça

A madeira do pinheiro-do-paraná apresenta boas características físicas e mecânicas em relação à sua massa específica, sendo indicada para construções em geral, caixotaria, móveis, laminados e vários outros usos, entre os quais: tábuas para forro, ripas, caibros, fôrmas para concreto, palitos para fósforo, lápis, carpintaria comum, marcenaria, tanoaria, molduras, guarnições, compensado, mastros de navios, pranchões, postes, cabos de vassouras, tabuinhas para telhados, entre inúmeros usos (MAINIERI; CHIMELO, 1989).
O uso da madeira de pinho para tábua de ressonância dos pianos é praticamente insubstituível. O pinheiro-do-paraná, sob a forma de madeira serrada e laminada foi, por um longo período, um dos produtos mais importantes na exportação brasileira. Em 1765, um decreto real autorizou o corte de pinheiros de Curitiba, PR, para ser construída a nau São Sebastião, um dos primeiros barcos da futura Marinha brasileira. Feita inteiramente de pinho, a nau São Sebastião durou mais de 50 anos, e acabou sendo deixada na África, no curso de uma missão oficial da Coroa portuguesa.

Energia

A lenha do pinheiro não é de boa qualidade, mas os nós de pinho são famosos, substituindo até o coque. É excelente combustível, de poderoso efeito calorífico, excedendo a 8 mil calorias (BOITEAUX, 1947). Foi muito empregado nas locomotivas, na navegação marítima e fluvial, em substituição ao carvão mineral e em indústrias particulares. A casca de indivíduos adultos é grossa, esponjosa e resinosa, e indicada para energia, principalmente nos fogões domésticos, pois queima facilmente e com poder calorífico considerável.

Celulose e papel

Produz celulose de fibra longa, resultando em papel de excelente qualidade. Teor de celulose de 58,3% e teor de lignina de 28,5%.

Outros produtos

Casca
Pela fermentação, fornece bebida agradável, medicinal, e suas cinzas contêm potassa em abundância.
Constituintes químicos
Maciel e Andrade (1996) encontraram compostos fenólicos nas amêndoas e nos tegumentos desta espécie.
Resina
É exsudada principalmente da casca, e fornece subprodutos úteis à indústria e à medicina. A resina destilada fornece alcatrão, óleos, terebintina, breu, vernizes, acetona e ácido pirolenhoso para variadas aplicações industriais, e outros produtos químicos.

Outros usos

Alimentação animal
As folhas do pinheiro-do-paraná apresentam 6,7% de proteína bruta e 8% de tanino (LEME et al., 1994), não sendo muito procuradas pelos animais em virtude de serem espinhentas. O pinhão é alimento para inúmeros animais silvestres, que também são seus dispersores (CARVALHO, 1950). Entre estes, destacam-se a gralha-picaça ou gralha-amarela (Cyanocorax chrysops), a gralha-azul (Cyanocorax caeruleus), serelepe (Sciurus aestuans), o ouriço, a cutia e os porcos-do-mato (queixada e cateto). Entre os animais domésticos, destaca-se o porco.
Alimentação humana
Os pinhões constituem um alimento muito valioso, embora de composição um pouco desequilibrada, o endosperma das sementes se torna farinhoso pelo cozimento, com gosto que lembra castanha cozida (ANDERSEN; ANDERSEN, 1988). Eles são fontes importantes de proteína no Brasil e na Argentina (RAGONESE; MARTINEZ-CROVETTO, 1947), sendo alimentos nutritivos e fortificantes, servindo para a alimentação humana, de animais domésticos e da fauna silvestre. Podem ser consumidos crus, cozidos, em água ou leite, ou assados. A amêndoa, seca ao calor e reduzida a pó, produz fécula branca e delicada, nutritiva e de fácil conservação.

Por esses atributos, foi durante um longo período um importante alimento para alguns grupos indígenas e para os primeiros colonos (HUECK, 1972). Ainda hoje, observa-se entre março e julho, principalmente no Paraná e em Santa Catarina, muitas famílias vendendo pinhão nas margens das rodovias.
Artesanato
O nó-de-pinho é aproveitado para obras de torno, de ornamentação para artefatos caseiros, e muito utilizado em peças artesanais e artísticas de real beleza, em virtude de sua coloração e formas atraentes. No sul de Minas Gerais, no Município de Munhoz, o engenheiro agrônomo e designer Ricardo Barros Afiune desenvolveu projeto em que utiliza galhos que se desprendem naturalmente desta espécie como matéria-prima para a produção de móveis rústicos.
Medicinal
O pinhão combate a azia, a anemia e a debilidade do organismo. O cozimento das folhas é eficiente contra a anemia e tumores que surgem devido às disfunções dos gânglios linfáticos (escrófulas) (FRANCO; FONTANA, 1997). A casca em infusão no álcool cura cobreiros, reumatismo, varizes e distensões musculares. A casca do caule e os brotos são usados na medicina popular pelos índios de várias etnias do Paraná e de Santa Catarina nas afecções do reumatismo, dores causadas por quedas, durante a gravidez, machucado nos olhos, catarata, cortes, feridas, dor nos rins e doenças venéreas (MARQUESINI, 1995).
Paisagístico
Pela beleza de sua copa nos vários estágios de crescimento, a espécie é de grande efeito ornamental e paisagístico. No Sul do Brasil, o pinheiro é plantado em viveiros especiais e manejado para produção de árvore-de-natal. É comum ver em Curitiba, PR, no mês de dezembro, nas esquinas de ruas, plantas de cinco anos de idade e cerca de 1 m a 2 m de altura, prontas para venda.
Reflorestamento para recuperação ambiental
Esta espécie também é usada na reposição de mata ciliar, para locais sem inundação. Bündchen e Alquini (2000) encontraram diferenças significativas nos níveis de clorofila entre uma área poluída e outra área não poluída; as folhas provenientes da área poluída apresentaram os estômatos parcial ou totalmente obstruídos por material particulado. O pinheiro-do-paraná apresenta boa deposição de resíduos orgânicos (serapilheira), com uma produção média de 6,9 t ha-1 ano-1 em floresta natural (BACKES et al., 2000) e entre 5,0 t ha-1 ano-1 a 6,4 t ha-1 ano-1em floresta cultivada (KOEHLER et al., 1987; BACKES et al., 2000).
Galhos
Os ramos do pinheiro-do-paraná se apresentam como excelente fonte de lenha, principalmente para usos domésticos, devido à facilidade do seu processamento. Por outro lado, possuem alta resistência, flexibilidade e durabilidade, podendo ser utilizados em estruturas de construções rústicas e móveis artesanais, protegidos das intempéries. A forma recurvada dos galhos dos pinheiros pode ser vantajosa para apoiar coberturas (Figura 1).
Folhas
As folhas (acículas) dos pinheiros são ricas em nutrientes minerais, reciclados até de camadas profundas do solo. Nesse sentido, produzem húmus de excelente qualidade, o qual pode ser elaborado em forma rústica e com baixo custo, em propriedades que possuem pinheiros próximos das unidades familiares. Basta juntar as grimpas ou sape e amontoar em algum local de pouca utilização, retirando anualmente a matéria decomposta, acumulada nas camadas inferiores (Figura 2). O húmus produzido pode ser aplicado diretamente em hortas ou pomares. As folhas também podem ser utilizadas para proteção de plantas, principalmente contra o assédio de animais menores, e como cobertura morta.
Foto: Amilton J. Baggio
Figura 1. Galhos de pinheiro usados em construção.
Foto: Amilton J. Baggio
Figura 2. Acículas de pinheiro para decomposição.

Características da madeira

Massa específica aparente

A madeira do pinheiro-do-paraná é moderadamente densa (0,50 a 0,61 g cm-3), a 15% de umidade (PEREIRA; MAINIERI, 1957; JANKOWSKY et al., 1990).

Massa específica básica

0,42 a 0,48 g cm-3 (JANKOWSKY et al., 1990).

Cor

O alburno é pouco diferenciado do cerne, de coloração branca-amarelada, uniforme.

Características gerais

Superfície lisa ao tato e medianamente lustrosa; textura fina e uniforme; grã-direita. Cheiro pouco intenso e agradável, de resina e gosto pouco acentuados.

Anéis de crescimento

Araucaria angustifolia forma anéis de crescimento bastante nítidos, evidenciados pela diferenciação do xilema secundário em lenhos inicial e tardio. No lenho inicial, os traqueídes axiais são alongados radialmente e com paredes celulares delgadas, conferindo ao xilema uma coloração clara. No lenho tardio, os traqueídes são menores, achatados radialmente e com paredes celulares mais espessas, conferindo ao xilema uma cor escura, os quais podem ser identificados macroscopicamente, no xilema secundário (LISI et al., 1998; BOTOSSO; MATTOS, 2002), permitindo a estimativa da idade da árvore (OLIVEIRA, 2007; OLIVEIRA et al., 2009). Essa determinação pode ser realizada por meio de seções transversais do tronco (discos de madeira) bem como de amostras não destrutivas de madeira de pequenas dimensões, retiradas com auxílio de um trado de incremento (sonda Pressler), evitando-se, desta forma, o corte das árvores e minimizando eventuais danos aos indivíduos.
Estudos de anéis de crescimento demonstram fortes evidências do caráter anual de formação desses anéis (ROIG, 2000; TOMAZELLO et al., 2000; LISI et al. 1999; OLIVEIRA 2007; OLIVEIRA et al., 2009), identificando o seu potencial de aplicação para estudos dendrocronológicos e dendroecológicos voltados à conservação e manejo da espécie.
Seitz e Kanninen (1989) obtiveram uma cronologia de anéis de crescimento com alta correlação entre indivíduos, sugerindo que o crescimento desses foi determinado por fatores ambientais comuns, possivelmente climáticos.

Durabilidade natural

Madeira com baixa resistência ao apodrecimento e ao ataque de cupins de madeira seca.

Preservação

Madeira com alta permeabilidade às soluções preservantes, quando submetida à impregnação sob pressão.

Secagem

Sua secagem natural é difícil, por apresentar tendência à distorção e rachaduras. O processo de secagem artificial deve ser controlado cuidadosamente, para que se possa obter madeira de qualidade.

Trabalhabilidade

Fácil, com ferramentas manuais ou máquinas. A presença de madeira de compressão pode causar distorção considerável, quando é feito o aplainamento ou resserragem. Fácil de colar, aceita bem acabamentos superficiais.

Outras características

Caracteres gerais, anatômicos e principais aplicações da madeira desta espécie podem ser encontrados em Mainieri e Chimelo (1989).
Os nós do pinheiro, devido a sua elevada densidade e grande teor de resinas, são muito resistentes ao apodrecimento. O nó-de-pinho é originário da inversão dos galhos dos pinheiros, isto é, a parte que fica engastada no tronco, envolvida pelas camadas lenhosas. Tem-se visto de 1,20 m de comprimento, sobre 40 cm de largura.
O rendimento de um pinheiro de porte grande, adulto, apresenta a seguinte produção: toco que permanece no chão: 3,5%; serragem residual na indústria: 4,4%; casca: 14,2%; ponta do fuste: 15%; galhos: 25,2%; aparas e costaneiras: 14,2% e tabuado, área nobre da madeira: 23,6% (THOMÉ, 1995).



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