quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Araucária: Aspectos econômicos e ambientais



Ocorrência natural

Latitude: De 19º 15 `S (Serra do Padre Ângelo, em Conselheiro Pena, MG, no Alto Rio Doce) a 31º 30 `S (Canguçu, RS), mas as populações de maior interesse econômico situam-se entre 22º S e 28º `S (NTIMA, 1968).
Longitude: Estende-se desde 41º 30 `W até 55º 00 `W (GOLFARI, 1971; LOPEZ et al., 1987).
Variação altitudinal: De 300 m a 2.300 m de altitude, sendo encontrada, preferencialmente, de 700 m a 1.300 m. Quanto menor a latitude, maior a altitude mínima requerida para propiciar temperaturas adequadas, de modo que, no Estado de São Paulo e mais ao norte, a espécie só é encontrada a partir de 750 m. No Paraná, o limite inferior normal de ocorrência é 500 m no sudoeste e 800 m no leste.
Como pontos de menor altitude no Brasil, a espécie ocorre a, aproximadamente, 300 m do nível do mar em São Martinho e Tenente Portela, no noroeste do Rio Grande do Sul (MATTOS, 1972) e também na costa sul catarinense, na divisa entre Lauro Muller e Urussanga (REITZ; KLEIN, 1966). Excepcionalmente, há registro de uma população quase ao nível do mar, em Sombrio, SC, na Planície Quaternária, no extremo sul catarinense (REITZ; KLEIN, 1966).
Distribuição geográfica: Araucaria angustifolia ocorre de forma natural no Brasil (Figura 1), e em pequenas populações, no extremo nordeste da Argentina, na província de Misiones (COZZO, 1980). No leste do Paraguai, há uma única população seguramente nativa, na pequena Reserva Nacional del Pinalito, localizada no sul do Departamento del Alto Paraná, a sudoeste de Foz de Iguaçu, PR (REITZ; KLEIN, 1966; LOPEZ et al., 1987).
No Brasil, a área original das florestas de pinheiro-do-paraná era, aproximadamente, 185.000 km2(MACHADO; SIQUEIRA, 1980). A maior parte estava concentrada na região Sul: 73.780 km2 no Paraná (40% da superfície original), 56.693 km2 em Santa Catarina (31%) e 46.483 km2 no Rio Grande do Sul (25%). Ao norte do Estado do Paraná, as populações estendiam-se, de forma esparsa e irregular, pelo Estado de São Paulo (MARTIUS, 1996a) onde perfazia 5.340 km2 (3%), internando-se até o sul de Minas Gerais e daí chegando até as proximidades do Rio Doce e ao Estado do Rio de Janeiro (AZEVEDO, 1962; MARTIUS, 1996; MOURA, 1975), sempre em terras de altitude elevada (1%).
Ruschi (1950) constatou a presença desta espécie no Espírito Santo, num relicto, crescendo espontaneamente, em meio natural, na Serra do Caparaó, acima de 1.700 m de altitude.


Aspectos econômicos e ambientais

É uma árvore muito útil. Pode-se dizer que tudo nela é aproveitável.
As sementes, no interior dos pinhões, são bastante apreciadas pelos animais, especialmente por pássaros, principalmente periquitos e papagaios. É excelente fonte de alimento para inúmeras espécies de animais, inclusive porcos domésticos. É rico em amido, proteínas e gorduras, constituindo, assim, alimento bastante nutritivo. Quando amadurece, a fartura de pinhão altera toda a vida na mata. Pesquisas históricas e arqueológicas sobre as populações indígenas que viveram no planalto sul-brasileiro, de seis mil anos até os nossos dias, registram a importância do pinhão no cotidiano desses grupos.
A madeira do pinheiro-do-paraná reúne uma variedade de aplicações, tais como: forros, assoalhos, confecção de caixas e palitos de fósforos e mastros de embarcações. Em aplicações rústicas, os galhos eram apenas descascados e polidos, transformando-se em cabos de ferramentas agrícolas.
A resina, após extraída e destilada, fornece alcatrão, óleos diversos, terebentina e breu, para variadas aplicações industriais.
A aplicação do pinheiro-do-paraná ou pinheiro-brasileiro pode se estender, também, ao importante campo da fabricação de papel. Dele, pode-se obter a pasta de celulose, que, após uma série de operações industriais, resulta na produção de papel.
Da forma que ocorreu inicialmente em todo o Brasil, a madeira exportada era retirada do litoral, pois a falta de ligação desse com o planalto constituía-se no maior empecilho para a exploração dos pinheiros, que eram utilizados apenas nos limites da serraria.
A iniciativa do primeiro grande investimento madeireiro no Paraná ocorreu em 1871, com a organização da Companhia Florestal Paranaense, próxima ao traçado da então futura ferrovia Curitiba-Paranaguá.
Porém, a concorrência estrangeira, notadamente a do pinho-de-riga, e a dificuldade de vias de comunicação que possibilitassem o escoamento da madeira, induziram o empreendimento ao fracasso.
Especificamente no Paraná, foi somente após a abertura da Estrada da Graciosa, ligando Curitiba a Antonina, em 1873, da construção da Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba, em 1885, e do ramal Morretes-Antonina, em 1891, que a extensa floresta de A. angustifolia, existente nos planaltos paranaenses, passou a ser explorada como atividade econômica importante para o estado.
O grande fator propulsor da exportação do pinheiro paranaense foi, sem dúvida, a Primeira Guerra Mundial, pois, com a impossibilidade de importação do similar estrangeiro, o pinho-do-paraná passou a abastecer o mercado brasileiro e o argentino. Multiplicaram-se as serrarias, concentrando-se no centro-sul e deslocando-se para oeste e sudoeste do estado, na medida em que se esgotavam as reservas de pinheiros mais próximas das ferrovias. Transformou-se, assim, a exportação de pinho na nova atividade econômica paranaense, ultrapassando a importância da erva-mate como fonte de arrecadação de divisas para o estado.
O desenvolvimento do transporte feito por caminhão, após a década de 1930, libertou a indústria madeireira da dependência exclusiva da estrada de ferro, penetrando, desta forma, cada vez mais para o interior do país. Com os problemas decorrentes da crise estabelecida no ciclo de exploração da erva-mate, a exploração do pinheiro-do-paraná tomou força. No bojo deste ciclo, instalaram-se no Paraná diversas indústrias, como fábricas de fósforos, de caixas e de móveis.
Em um determinado espaço de tempo, notadamente durante a Segunda Guerra Mundial, a madeira de pinho liderou a pauta das exportações do Paraná e foi importante produto no processo de industrialização de outros estados do Sul do Brasil. Findo o período de conflito, o ciclo madeireiro foi declinando, sendo substituído, no Paraná, pelo café que já despontava como uma das forças econômicas desse estado.
Assim, o ciclo econômico do pinho terminou por volta de 1940, sendo que, da primitiva floresta de pinheiro-do-paraná, originalmente existente no Estado do Paraná, resta aproximadamente 1%. Mas é inegável também a importância que a araucária exerce ainda hoje na história, cultura, hábitos e artes de várias áreas da região Sul do Brasil.

Aspectos ecológicos

Grupo sucessional

Espécie secundária longeva, mas de temperamento pioneiro (IMAGUIRE, 1979). É colonizadora dos campos, inclusive em solos rasos (HUECK, 1961). Segundo Reitz e Klein (1966), o pinheiro-do-paraná é uma espécie colonizadora e heliófila, avançando e irradiando-se sobre os campos de modo a formar continuamente novos capões, cuja composição varia de acordo com as condições edafoclimáticas (de solo e clima). Árvores adultas do pinheiro-do-paraná apresentam tolerância aos incêndios fracos (incêndios de piso, como nos campos, não incêndios de copa), devido ao papel isolante e térmico da casca grossa.
Quanto à classificação sucessional de Budowski (1965), muito difundida no Brasil, o pinheiro pode ser enquadrado como transição entre secundária inicial-SI e secundária tardia-ST, com predominância do caráter SI.

Características sociológicas

Espécie emergente e marcadora da fisionomia da vegetação. Apresenta regeneração natural fraca em ambientes pouco perturbados. Numerosos levantamentos feitos mostraram que essa espécie não se regenera no interior da floresta fechada: suas plantas jovens não conseguem se desenvolver devido à pouca luminosidade (BACKES, 1973). Em formações mais abertas ou em talhões manejados, pinheiros de regeneração podem viver alguns anos, tomando forma estiolada e terminando por morrer, caso não haja abertura suficiente do dossel.
O pinheiro forma todo o estrato superior da floresta conhecida como pinhal ou pinheiral, em associação principalmente com espécies dos gêneros IlexOcotea e Podocarpus, componentes do estrato logo abaixo das copas dos pinheiros (HERTEL, 1980). Nos solos muito drenados, como nas encostas dos campos de São Joaquim, SC, o sub-bosque lenhoso dos pinheirais é pouco desenvolvido ou até ausente (REITZ; KLEIN, 1966).
É árvore longeva, atingindo, em média, entre 140 e 250 anos, existindo exemplares, de acordo com os anéis de crescimento, com até 386 anos de idade (GOLFARI, 1971), porém são raros. Reitz e Klein (1966) e Backes e Nilson (1983), baseados na contagem dos anéis de crescimento, afirmaram que a idade média de pinheiros adultos, com diâmetros superiores a 1,50 m, está entre 140 e 200 anos, ultrapassando raramente os 300 anos. Assim, a araucária com DAP de 2,40 m e volume aproximado de madeira de 120 m3, em Canela, RS, cuja idade é estimada entre 500 a 700 anos (BACKES; NILSON, 1983), deve ser vista com reserva. Lisi et al. (1999) examinaram 21 árvores de pinheiro de populações naturais em Camanducaia, MG, por meio da análise dos anéis de crescimento: as árvores apresentaram idades de 35 a 373 anos, com média de 157 anos, em função do estágio sucessional da população analisada.

Regiões fitoecológicas

Araucaria angustifolia é espécie característica e exclusiva da Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucária), nas formações Aluvial (galeria), Submontana, Montana e Alto-Montana (VELOSO et al., 1991). A espécie é também encontrada nas áreas de tensão ecológica com a Floresta Estacional Semidecidual e com a Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica).
A espécie ocorre em área de Floresta Ombrófila Mista no Estado do Paraná, onde se contempla a coexistência de representantes das floras tropical (afrobrasileira) e temperada (austrobrasileira), com marcada relevância fisionômica de elementos Coniferales e Laurales. Essa unidade fitoecológica compreende as formações florestais típicas e exclusivas dos planaltos da região Sul do Brasil com disjunções na região Sudeste e em países vizinhos (Paraguai e Argentina). Encontra-se predominantemente entre 800 m e 1200 m, podendo eventualmente ocorrer acima desses limites (RODERJAN et al., 2002).
Há diversas populações de pinherais em plena Floresta Ombrófila Densa submontana no sul de Santa Catarina (municípios de São João Batista, Antonio Carlos, Lauro Müller, Urussanga e Sombrio). São considerados relictos de uma vegetação outrora predominante e que ainda não foi totalmente deslocada pela relativamente recente imigração da floresta pluvial para a região. Tal hipótese baseia-se na composição das associações e em seus fortes estágios sucessionais (KLEIN, 1960; REITZ; KLEIN, 1966).
Estudos feitos no Estado de São Paulo indicam que a substituição da floresta de araucárias pelas florestas de folhosas, ainda em curso, iniciou há 16 mil anos, associada à mudança para um clima mais quente e úmido (PESSENDA et al., 2009). Ao menos em algumas regiões houve, depois, um refluxo temporário do clima, permitindo reinstalação também temporária da floresta de coníferas (GARCIA et al., 2004). A invasão dos campos do sul do Brasil pelo pinheiro é um fenômeno mais recente, decorrente de mudança climática para uma maior umidade, tendo ocorrido notadamente nos últimos 1.400 anos (BEHLING; PILLAR, 2007).

Densidade

De acordo com o estágio de desenvolvimento do pinheiral e das condições edáficas ou ambientais, a densidade do pinheiro era muito variável, de apenas uma até 200 árvores por hectare (REITZ et al., 1978). Em um inventário conduzido na Selva Misionera na Província de Misiones, Argentina, o pinheiro-do-paraná representou valores entre 0 a 48 exemplares por hectare (MARTINEZ-CROVETTO, 1963). No planalto meridional do Brasil, os pinheirais abrigavam, tipicamente, de 12 a 65 árvores em ponto de corte por hectare, cada uma fornecendo em média 4 m3 de tora ou 2,5 m3 a 3 m3 de madeira serrada (AUBREVILLE, 1949).
Estudos feitos na Reserva Florestal da Embrapa/Epagri em Caçador, SC, exemplificam a variação de densidade do pinheiro em áreas contíguas. Para a área total da Reserva, a densidade do pinheiro é de 17 árvores por hectare, considerando DAP a partir de 20 cm e chegando a 150 cm (RIVERA, 2007). Numa parte da Reserva, o pinheiral é mais denso, com 65 árvores por hectare, também considerando DAP de 20 cm ou mais (LINGNER et al., 2007).



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