Uma topografia plana, com declividade pequena, suficiente para evitar estagnação de água, um solo sedimentar argilo-humifero ou simplesmente argiloso, sobre camadas impermeáveis de subsolo, próximas da superfície, é o mais indicado para a cultura irrigada. Em todos os países de alta produção, o arroz é irrigado.
O arroz irrigado exige solos com condições físicas que permitam a inundação na maior parte do ciclo. Os solos mais indicados são os de relevo plano, lençol freático próximo à superfície e uma textura que possibilite as condições adequadas de retenção de água.
Quanto à acidez, embora a faixa mais indicada de pH seja entre 5,7 a 6,2, o arroz produz ainda em solos que tenham alto índice de acidez e baixo teor de elementos minerais. Por sua vez, em terrenos alcalinos, o arroz não se dá bem.
Para definirmos a aptidão de determinado solo é necessário o entendimento daquilo que é “solo”, o que varia conforme a atividade ou a formação das pessoas.
Todavia, o enfoque de desenvolvimento agrícola e preservação ambiental requer uma definição de solo que contemple aspectos desde sua origem, composição, importância ambiental, até o seu uso e manejo.
No Rio Grande do Sul, a combinação da diversidade geológica, climática e de relevo originou uma grande variedade de tipos de solos, que contribuíram para os diferentes padrões de ocupação das terras, de seu uso agrícola e do desenvolvimento regional.
Para organizar o conhecimento que se tem a respeito dos solos e facilitar o entendimento do grande número de informações disponíveis utilizar-se-á o agrupamento dos solos em classes de acordo com suas semelhanças e, ao mesmo tempo, separando-os em classes distintas conforme suas diferenças entre si. Os critérios usados para a classificação dos solos quanto sua aptidão para o cultivo com arroz irrigado referem características e propriedades (morfológicas, físicas, químicas e mineralógicas) consideradas importantes para a interpretação de seu uso com a cultura. O avanço do conhecimento a respeito dos solos (mapa de solos mais detalhados, por exemplo), pode exigir uma correspondente readequação da interpretação atual.
1. O perfil do solo e suas características para o cultivo com arroz irrigado
A identificação dos tipos de solos no campo é feita pela observação do perfil do solo em um talude de estrada, na parede de uma trincheira ou por tradagem. O entendimento do perfil é a primeira etapa na identificação e interpretação das características do solo para fins de recomendação de uso e manejo. O perfil do solo mostra uma seqüência vertical de camadas mais ou menos paralelas à superfície, resultantes da ação dos processos de formação do solo (processos pedogenéticos). Estas camadas são chamadas de horizontes pedogenéticos que são diferenciados entre si pela espessura, cor, textura, estrutura e outras características. Os horizontes principais, não necessariamente presentes em todos os perfis de solo, são: A, E, B, C, R, O e H.
As características morfológicas representam a aparência do solo no campo, sendo visíveis a olho nu ou perceptível por manipulação. A sua feição no perfil de solo é utilizada na identificação de solos, na avaliação da capacidade de uso da terra, no diagnóstico da causa de variação no crescimento de plantas e no diagnóstico de degradação em propriedades do solo.
Os perfis representando os diversos tipos de solos mostram uma grande heterogeneidade quanto à presença e a seqüência de horizontes, bem quanto à espessura e cor. Além dessas propriedades visíveis, os horizontes de cada solo podem variar quanto à textura, à estrutura, ao teor de matéria orgânica, à capacidade de troca de cátions, à saturação por bases, ao teor de alumínio extraível e outros atributos. Isto implica em que o mesmo tipo de horizonte pedogenético (A, E, B ou C) pode apresentar diferenças de um solo para outro. Não menos importante dizer que esta variação entre os solos representa qualidades ou limitações ao uso para determinados fins (cultivo de arroz irrigado), além de refletir o ambiente particular de formação de cada solo, ou seja, variações quanto ao material de origem, clima, relevo, drenagem e outras. Uma das primeiras características que se procura identificar é se no perfil dos solos ocorre algum horizonte ou camada com baixa condutividade hidráulica. As principais características do solo para sua avaliação quando do cultivo com arroz irrigado são:
a. Classe de solo: as informações contidas nas classes de solos encerram a natureza do ecossistema terras baixas;
b. Seqüência e tipo de horizontes: horizontes argilosos e a determinadas profundidades facilitam o manejo da água e/ou reduzem a percolação de água no perfil;
c. Classe de drenagem: solos que apresentem classes de drenagem de baixa ou muito baixa condutividade hidráulica racionalizam o uso da água de irrigação;
d. Textura; os solos que apresentam textura argilosa em todo perfil e/ou horizontes, camadas de textura argilosa favorecem o manejo da irrigação por inundação;
e. Classe de relevo: quanto mais suave o relevo, menor a movimentação de solo, melhor o manejo da água e controle de ervas daninhas, com consequente aumento de produtividade.
2. Classes de solos aptas ao cultivo de arroz irrigado
A sociedade não mais aceita e o planeta não mais comporta a produção de alimentos a qualquer custo. Certamente, nas próximas décadas aqueles solos com certas limitações e/ou vocações deverão ter seu uso direcionados para atividades específicas, as quais deverão levar em conta não apenas o ganho em produtividade, mas, também a preservação para que possa continuar a produzir alimentos. Esta visão não é apenas romântica como pode-se pensar, mas uma necessidade face o aumento populacional da humanidade.
O processo de formação dos solos é muito lento e, se levar-se em conta que, dependendo do clima, relevo, rocha etc. é gasto em média para a formação de um centímetro de solo 400 anos, uma camada de 30 centímetros levaria 12.000 anos. Portanto, solos rasos apresentam grandes limitações de uso, assim como outros solos de textura muito arenosa (Neossolos Flúvicos ou Quartzarênicos). Nestes, os riscos de erosão, desperdício de água, contaminações profundas e a baixa produtividade alcançada são potencializados. Solos com horizontes superficiais arenosos e muito profundos, utilizam maior volume de água para irrigação e facilitam a percolação de nutrientes e pesticidas, afetando o ambiente de produção.
Características gerais dos principais solos cultivados com arroz irrigado
Os solos cultivados com arroz irrigado no RS e SC apresentam drenagem naturalmente deficiente, decorrente de densidade elevada, baixa porosidade total, alta relação micro/macroporos, presença de camada subsuperficial com baixa permeabilidade e do relevo plano a suave ondulado. Parte destas condições são acentuadas pelo preparo do solo realizado em condições de umidade excessiva.
Solos situados em patamares mais elevados ou em terras adjacentes às várzeas, de relevo suave ondulado a plano, eventualmente também são usados com cultura de arroz irrigado. No RS, esses solos são encontrados na região da Campanha e Fronteira Oeste; em SC, ocorrem em patamares mais elevados de várzeas de praticamente todas as regiões.
Até um determinado ponto, as condições apresentadas pelos solos de várzea podem ser consideradas favoráveis para o cultivo do arroz irrigado por reduzir as perdas de água e de nutrientes, porém são restritivas ao desenvolvimento do sistema radicular das culturas de sequeiro, podendo, em casos extremos de compactação, ser prejudiciais mesmo para o arroz irrigado. Em função da heterogeneidade do material de origem e dos diferentes graus de hidromorfismo, apresentam grande variação nas características morfológicas, físicas, químicas e mineralógicas, o que determina seu agrupamento em diferentes classes, com diferentes limitações.
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