sábado, 22 de agosto de 2015

Adubação e Calagem para Arroz Irrigado



As transformações que ocorrem quando os solos são submersos, como no cultivo do arroz irrigado, favorecem a disponibilidade de nutrientes no solo, tanto os nativos deste, quanto os contidos nos adubos, principalmente P, K e Ca. Também concorrem para elevar o pH dos solos ácidos para valores entre 6,0 e 6,5 e eliminar o Al trocável.
Apesar da melhoria em sua qualidade pela inundação, os solos cultivados com arroz irrigado no RS e em SC apresentam, de modo geral, fertilidade natural de moderada à baixa, tornando a prática da adubação necessária para que se alcance rendimentos que viabilizem economicamente a cultura.


Fundamentos das recomendações de adubação e de calagem

As recomendações técnicas de adubação e de calagem para a cultura do arroz irrigado, nos Estados do RS e SC, fundamentam-se em resultados obtidos durante mais de 40 anos de pesquisas, resultantes do esforço conjunto das instituições que trabalham com a cultura do arroz irrigado na Região e da experiência de entidades de assistência técnica, de extensão rural e do setor privado. O sucesso destas recomendações está associado também à coleta e análise de amostras de solo e à interpretação dos resultados analíticos.

Amostragem de Solo

Em cada uma das etapas, em que se alicerça o sucesso das recomendações de adubação e calagem, pode ocorrer erros, afetando os resultado da análise e, por conseqüência, a recomendação final de fertilizantes e de corretivos. O erro decorrente da amostragem do solo é o mais significativo, pois não pode ser corrigido nas fases seguintes. Assim, a coleta de amostras representativas de solo é decisiva para a avaliação correta das necessidades de fertilizantes e corretivos.

Níveis de Nitrogênio (N)

O nível de adubação nitrogenada que leva ao máximo rendimento econômico de grãos de arroz depende da interação de vários fatores, destacando-se entre eles a disponibilidade de N no solo, o tipo de planta e as condições climáticas, particularmente a temperatura e a radiação solar.



O N disponível do solo é praticamente todo proveniente da decomposição e mineralização da matéria orgânica (M.O.). Assim, uma avaliação simplista do grau de disponibilidade de N no solo é baseada na análise do teor de M.O.. Em relação a resposta ao N, as cultivares de arroz são agrupadas em três tipos de plantas: tradicional, com baixa resposta, intermediário (americanas), com resposta intermediária e moderno, que apresenta maior resposta. 


Quando a semeadura ocorre dentro da época recomendada, nos anos em que a radiação solar é alta no período compreendido entre 15 dias antes e 15 dias após o florescimento da cultura, devem ser esperados rendimentos elevados, sendo alta a probabilidade de ocorrência de resposta do arroz à aplicação de níveis mais elevados de N. Na Tabela 1 encontram-se as recomendações de níveis de N, para o RS e SC. Porém, devem ser consideradas as condições climáticas verificadas durante o desenvolvimento da cultura.


Épocas de aplicação e fontes de N

Para os sistemas convencional e plantio direto, recomenda-se a aplicação de 10 kg ha-1 de N, em pré-plantio (na base). O restante da dose deve ser aplicada em cobertura no início da diferenciação da panícula (IDP), caso não seja maior que 50 kg ha-1. Quando a dose for superior a 50 kg ha-1, aplicar metade no perfilhamento e metade no IDP. A aplicação no perfilhamento pode ser realizada imediatamente antes do início da submersão, o que concorre para reduzir as perdas de N.



Nos sistemas pré-germinado e de transplante de mudas, a aplicação de N em cobertura depende do ciclo da cultivar. Para cultivares de ciclo longo, aplicar 1/3 da dose no início do perfilhamento (IP), 1/3 no perfilhamento pleno e, se necessário, o restante no IDP. Para cultivares de ciclo médio e curto, aplicar metade da dose no IP e a outra metade no IDP. Devem ser interrompidas as entradas e saídas de água dos quadros, por um período mínimo de 3 a 5 dias, quando a aplicação de N em cobertura ocorrer sobre uma lâmina de água.


Fontes de N

As fontes de N mais recomendadas são a amídica (uréia) e a amoniacal, como o sulfato de amônio, os fosfatos monoamônico (MAP) e diamônico (DAP), especialmente quando aplicadas em cobertura sobre o solo inundado, pois evitam maiores perdas de N por lixiviação e desnitrificação.

Níveis e modo de aplicação fósforo (P)

Em decorrência da baixa mobilidade do P no solo, de sua grande translocação dentro da planta e de sua importância na fase inicial de crescimento das plantas de arroz, recomenda-se sua aplicação integral em pré-plantio. No sistema pré-germinado, os fertilizantes fosfatados podem ser aplicados e incorporados por ocasião da formação da lama ou após o renivelamento da área, anteriormente à semeadura.



A aplicação de fertilizante fosfatado em solo seco, pode ser a lanço ou em linha, preferencialmente ao lado e abaixo do sulco de semeadura. Nas aplicações a lanço, incorporar o adubo na camada superficial do solo, por meio de gradagem. Em áreas já estabelecidas em sistema plantio direto, a aplicação do P pode ser superficial. 

Na Tabela 2 encontram-se as recomendações de adubação fosfatada elaboradas para o RS e SC (Tabela 2).
A recomendação máxima de 40 kg ha-1 de P2O5 para SC, inferior àquela recomendada para o RS, está relacionada ao sistema de cultivo utilizado. No pré-germinado algumas formas de fosfatos do solo, como os de alumínio, cálcio e ferro, são liberados mesmo antes da semeadura, o que não acontece tão rapidamente no sistema tradicional de semeadura em solo seco.

Fontes de P

O arroz irrigado tem mostrado respostas semelhantes às diferentes fontes de P existentes. Alguns fosfatos naturais reativos, como o de Arad, de Gafsa e de Marrocos, entre outros, isolados ou misturados com fosfatos solúveis em água, têm mostrado eficiência comparável a destes últimos, notadamente em solos com teor de P superior a 3 mg dm-3. As principais fontes solúveis de P utilizadas são: superfosfato triplo (SFT) e os fosfatos diamônico (DAP) e monoamônio (MAP).

Níveis e épocas de aplicação de potássio (K)

A baixa resposta do arroz irrigado ao K, apesar da alta exigência da cultura pelo nutriente, pode estar relacionada à contribuição do K contido na água de irrigação, (10 a 50 kg ha-1 de K2O), ao aumento da disponibilidade de K, como conseqüência de seu deslocamento dos sítios de troca, à liberação de K das frações não-trocável pela inundação e à substituição parcial do K por sódio (Na), que é abundante na maioria dos solos cultivados com arroz.



As aplicações de K devem ocorrer em pré-plantio, tanto para semeadura em solo seco, como para o pré-germinado. Neste sistema, os adubos potássicos podem ser aplicados e incorporados por ocasião da formação da lama ou após o renivelamento da área, antecedendo a semeadura. Nos sistemas plantio direto e cultivo mínimo, têm sido observados efeitos favoráveis à aplicação de K em cobertura, podendo ser realizada metade na base e metade no IDP, ou integralmente no IDP.


Na Tabela 3 encontram-se as recomendações de adubação potássica para o arroz irrigado


Fontes de K

Em relação às fontes de K, as opções são poucas, visto que, das duas principais fontes disponíveis no mercado brasileiro, cloreto e sulfato de potássio, a primeira atende praticamente a totalidade da área cultivada com arroz irrigado no País. Ademais, o cloreto é mais concentrado em K e mais barato. A presença do enxofre no sulfato de potássio, pode, também, em determinadas circunstâncias, causar danos à produtividade.

Calagem em Arroz Irrigado

Embora a ocorrência do efeito da "autocalagem" em solos submersos, recomenda-se a utilização de calcário segundo o índice SMP - pH 5,5 para o arroz irrigado semeado em condições de solos seco, visto que a inundação é iniciada ao redor de 30 dias após a emergência. Nessa situação, a correção da acidez e as condições de solo mais adequadas ao crescimento da cultura, provocadas pela inundação, ocorrem próximo ao final da fase vegetativa. Esta fase, para as principais cultivares utilizadas nas lavouras do Estado, tem duração variável de 40 a 65 dias após a emergência das plântulas.



Nos sistemas de cultivo com sementes pré-germinadas, adotado em SC e em cerca de 12% da área arrozeira gaúcha, ou de transplantio de mudas, fenômeno da "autocalagem" pode dispensar a aplicação de calcário, visto que as plantas encontram o solo com a acidez corrigida e condições mais adequadas ao crescimento, causadas pela inundação, desde o início do ciclo. Dessa forma, não são esperados aumentos significativos no rendimento de grãos em função da calagem, exceto quando o solo for naturalmente deficiente em cálcio e magnésio. Nestes casos, é indicada a aplicação de uma (1) t ha-1 de calcário dolomítico, apenas para corrigir prováveis deficiências de cálcio e de magnésio, quando o solo apresenta níveis de Ca+Mg inferiores a 5 mmolc dm-3.


Tabela 1. Recomendações de doses de N para a cultura do arroz irrigado, baesadas no teor de matéria orgânica do solo e no tipo de planta, para o RS e SC
Matéria
orgânica
Interpretação
Santa
Catarina
Rio Grande do Sul
Tipo de planta
Moderno
Intermediário
Tradicional
%
---------------------- kg ha-1 de N ---------------------
<- 2="" font="">
Baixo
90 - 120
90
60
40
2,6 - 5,0
Médio
60-90
80
45
25
> 5,0
Alto
<- 60="" font="">
<- 70="" font="">
<-30 font="">
<-10 font="">
Fonte: Instituto Riograndense do Arroz (2001).
Tabela 2. Recomendações de adubação fosfatada para o arroz irrigado nos Estados do RS e de SC, em função dos teores de P extraível no solo, (método Mehlich-I)
P no solo,
mg dm-3
Interpretação
Adubação fosfatada, kg ha-1 de P2O5
Tipo de planta
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
<- 3="" font="">
Baixo
40
60
3,1 - 6,0
Médio
40
40
> 6,0
Suficiente
<- 2="" font="">
<- 20="" font="">
Fonte: Comissão de Fertilidade do Solo - RS/SC (1994); Embrapa Clima Temperado (1999)
Tabela 3. Recomendações de adubação fosfatada para o arroz irrigado nos Estados do RS e de SC, em função dos teores de P extraível no solo, (método Mehlich-I)
K no solo,
mg dm-3
Interpretação
Adubação fosfatada, kg ha-1 de K 2O
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
<- 30="" font="">
Baixo
80
60
31 - 60
Médio
60
40
> 60
Suficiente
<- 40="" font="">
<- 20="" font="">
Fonte: Comissão de Fertilidade do Solo - RS/SC (1994); Embrapa Clima Temperado (1999)




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