A adoção dos sistemas plantio direto (PD) e cultivo mínimo (CM) na cultura do arroz irrigado na Região Subtropical do Brasil, teve como objetivo inicial o controle do arroz-vermelho, de modo que nem todos os princípios básicos dos sistemas são praticados em sua plenitude. Nas variantes mais utilizadas no arroz irrigado, PD, com preparo de solo no verão, e CM, com preparo do solo no inverno-primavera, ocorre um revolvimento reduzido do solo, antecipado à semeadura da cultura. Do mesmo modo, a rotação de culturas é uma prática ainda pouca adotada em solos de várzea.
Na atualidade, a utilização dos sistemas PD e CM, além de minimizar o problema do arroz-vermelho, vem proporcionando outros benefícios à orizicultura, cujos resultados têm contribuído para que a área cultivada com os mencionados sistemas, venha aumentando, ocupando na safra 2000/01, em torno de 44% da área cultivada com arroz irrigado no RS, que foi de aproximadamente 963 mil ha.
A diversidade de condições de solo e clima em que o arroz irrigado é cultivado não permite que se tenha uma recomendação ajustada às diferentes situações. Todavia, dentro de cada variante do sistema PD (PD propriamente dito e o CM), existe uma seqüência de passos que normalmente são seguidos, independentemente da situação.
Preparo do solo
No PD, o preparo do solo é realizado nos meses de janeiro a março (preparo de verão) e, normalmente, compreende uma aração, duas gradagens e aplainamento. Não existe a necessidade de desmanchar por completo os torrões, pois, como a semeadura do arroz é realizada após alguns meses, esta tarefa é completada pelas chuvas de inverno. No CM, as operações de preparo do solo são semelhantes às realizadas no PD, diferindo apenas na época de realização, visto que estas ocorrem do final do inverno ao início da primavera, de 60 a 45 dias antes da semeadura.
O preparo do solo antecipado, tanto no CM, como no PD, visa corrigir pequenas imperfeições de microrrelevo, preparar a superfície do solo para receber as sementes de arroz e, principalmente, estimular a germinação e emergência de sementes de plantas daninhas, como as de arroz-vermelho preto, num período em que estas não possam concorrer com a cultura do arroz.
Quando o arroz irrigado é cultivado no sistema PD, em rotação com culturas como o milho e a soja, prática já utilizada em algumas áreas de várzea do RS, o preparo do solo vem sendo dispensado. Desta forma, o sistema PD utilizado em áreas de várzea se assemelha àquele praticado em solos altos.
Entaipamento das lavoura
Após o preparo do solo, é conveniente que se faça o entaipamento prévio com taipas de perfil suave, base larga (2,8 m), e menor altura (0,3 a 0,4 m) do que as taipas convencionais. Este procedimento não prejudica as demais práticas culturais, pois as taipas, se bem construídas, suportam o trânsito de máquinas e implementos. Além disso, as semeadoras modernas possuem rodado articulado que permitem semeaduras uniformes também sobre as taipas.
Formação da cobertura vegetal
No PD, após o preparo do solo é aconselhável a implantação de uma forrageira de inverno, sendo o azevém a mais utilizada. Outras espécies, como aveia preta, trevo persa, trevo branco e lotus "El rincon", vêm apresentando desempenho promissor. Quando não houver interesse, ou possibilidade, de uma exploração mais racional da pecuária, a cobertura vegetal poderá ser composta pelas plantas que se estabelecerem naturalmente após o preparo do solo.
No CM a cobertura é formada pela flora de sucessão que se estabelece após o preparo do solo, predominando, normalmente, arroz-daninho e o capim-arroz. Para solos de várzea, 2 a 3 toneladas de matéria seca são suficientes para que se tenha uma adequada cobertura para implantação, tanto do CM, como do PD. Quantidades maiores, além de dificultarem a evaporação da água do solo, podem produzir ácidos orgânicos em níveis tóxicos ao arroz.
Na dessecação da cobertura vegetal devem ser empregados, basicamente, herbicidas sistêmicos de ação total. Por não serem seletivos, atuam em plantas anuais ou perenes, e em folhas largas e estreitas. Como não possuem atividade no solo, possibilitam, após a aplicação, a semeadura de qualquer cultura na área tratada. Para que haja uma absorção suficiente dos produtos, a relação entre parte aérea e sistema radicular das plantas deve ser de pelo menos 1:1.
Os herbicidas dessecantes de ação total mais utilizados são o glifosate e o sulfosate. Para plantas anuais são utilizadas dosagens de 2 a 4 L ha-1, enquanto que para plantas perenes deve-se usar uma dose maior, entre 4 e 6 L ha-1. Essas variações de doses estão relacionadas, principalmente, ao tipo de planta daninha, às condições nas quais estas se encontram e ao teor de umidade do solo.
A experiência adquirida pelos orizicultores com a adoção dos sistemas PD e CM, vem possibilitando a redução das doses de herbicidas empregadas no manejo da cobertura, em decorrência, principalmente, da associação destes com o final do ciclo da espécie utilizada, ou com o manejo mecânico.
Drenagem e irrigação
O sistema de drenagem pode ser formado por uma série de drenos superficiais estreitos, de 8 - 12 cm, utilizando-se valetadeiras especiais, que desembocam em drenos secundários maiores, os quais são ligados a drenos principais. Em função de suas dimensões em largura, os drenos secundários, não dificultam o trânsito de máquinas, podendo, portanto, ser construídos próximos, quando necessário. Condições de drenagem deficientes, no inverno, favorecem a presença de gramas boiadeiras que, após estabelecidas, são de difícil controle no PD e CM.
A irrigação do arroz nos sistemas PD e CM assemelha-se àquela utilizada no sistema convencional de cultivo. Todavia, determinados produtores vêm antecipando a época de início do alagamento do solo, pretendendo, com isso, utilizar a água como uma barreira física para o controle de plantas daninhas.
Adubação do arroz irrigado - peculiaridades
A adubação da cultura do arroz irrigado, nos sistemas PD e CM, de modo geral, segue as mesmas recomendações utilizadas para o sistema convencional. Todavia, no PD, quando for cultivada uma pastagem de inverno, a adubação deve ser realizada visando suprir as necessidade desta cultura, de modo que o arroz se beneficiaria do efeito residual, principalmente no que se refere a fósforo e potássio. Neste caso, a adubação para o arroz poderia ser restringida à adubação nitrogenada de cobertura, eliminando-se problemas de redução do estande de plantas, uma vez que não seria realizada a adubação de pré-plantio. Maiores detalhes encontram-se em "Manejo da adubação mineral e da calagem para o arroz irrigado".
Semeadura da cultura do arroz irrigado
O estabelecimento de um estande adequado de plantas é importante para a obtenção de altos rendimentos. Na realidade, as plantas de arroz, notadamente, as cultivares do tipo moderno, apresentam alta capacidade de perfilhamento, podendo compensar um menor número de plantas por área, através da emissão de um maior número de perfilhos. Por outro lado, uma alta população de plantas não garante altos rendimentos, pois nesta condição, embora o número de panículas possa ser maior, estas são constituídas por um número menor de espiguetas, com menor peso de grãos.
De modo geral, a densidade de semeadura e o espaçamento entre linhas, nos sistemas PD e CM, devem ser semelhantes aqueles considerados para o sistema convencional de cultivo de arroz. São necessárias uma quantidade de 200 a 300 plantas de arroz m-2, uniformemente distribuídas. Deve-se considerar que existe uma série de variáveis que podem influir sobre a germinação das sementes, tais como clima, solo, cobertura vegetal e cultivar, o que torna difícil uma recomendação genérica em termos de densidade.
Controle de plantas daninhas - peculiaridades
No sistema PD, existe uma tendência de redução na população das plantas daninhas anuais e um aumento das perenes, que apresentam uma dificuldade maior de controle. Um grupo de plantas perenes, denominadas genericamente de gramas boiadeiras, tem limitado, em alguns casos, a expansão deste sistema devido à dificuldade de controle.
Em áreas altamente infestadas, deve-se realizar o preparo de verão de forma superficial, com a finalidade de seccionar raízes e estolões das gramas boiadeiras, e promover a desidratação destes através da exposição ao sol. Após o preparo, deve-se implantar uma cobertura vegetal, mantendo-se a área bem drenada durante o inverno.
Em áreas onde a infestação é baixa, deve-se realizar um preparo mínimo superficial do solo, 60 a 45 dias antes da semeadura do arroz, objetivando, em decorrência do corte dos estolões, estimular a emissão de novas folhas, aumentando a relação entre a parte aérea e o sistema radicular, o que facilita a absorção e a atuação do dessecante na planta. Maiores detalhes sobre este assunto encontram-se em "Manejo de plantas daninhas em arroz irrigado".
AEm termos econômicos, destaca-se a redução nos custos de produção, principalmente. O tempo de máquina necessário, por exemplo, para a execução das atividades do preparo do solo à colheita, no sistema convencional, situa-se em torno de 9,8 horas ha-1, enquanto que no PD e no CM, fica em torno de 5,2 horas ha-1, para trator de 100 HP.
No sistema PD pode ocorrer uma melhor integração entre a agricultura e a pecuária, uma vez que a pecuária pode ser conduzida sobre uma pastagem de melhor qualidade, durante os meses críticos do ano em termos alimentares. Ademais, a permanência dos animais por maior tempo na pastagem, resulta em maiores retornos econômicos.
A redução de tráfego de máquinas e implementos agrícolas, a menor mobilização do solo, a inclusão de rotação de culturas e o uso de espécies vegetais para a formação de cobertura morta, aspectos inerentes à adoção dos sistemas PD e CM, são todos fatores que agem diretamente sobre a recuperação e conservação da estrutura e da fertilidade do solo, concorrendo para melhorar sua qualidade. Além do que, os sistemas PD e CM possibilitam um melhor manejo de água e semeadura em época mais adequada.
As limitações para ampliação da área de cultivo de arroz, com os sistemas PD e CM, relacionam-se ao elevado índice de arrendamento da terra (65% dos produtores são arrendatários no RS), investimento inicial elevado; dificuldades no controle de plantas daninhas (gramas perenes); dificuldades no estabelecimento de rotação de culturas; problemas de drenagem, colocação de adubo junto a sementes, entre outras.
Em função das limitações apresentadas são sugeridas algumas alternativas, como alterações nas relações de produção; estabelecimento de sistemas de drenagem eficientes; viabilização da rotação de culturas; terceirização ou associativismo; adaptação de semeadoras convencionais (kits especiais); integração orizicultores/ pecuaristas; ampliação do nível de capacitação de técnicos, produtores e pessoal de campo, sobre os sistemas.
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