quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Feijão Caupi, clima, solos e adubação



Condições climáticas

No Brasil, poucos estudos de fisiologia do feijão-caupi têm sido conduzidos com a finalidade de se verificar a resposta dessa cultura aos fatores climáticos. A maioria dessas informações são obtidas por meio de trabalhos realizados em outros países.
Dentre os elementos de clima conhecidos, destacam-se a precipitação e a temperatura do ar que, por intermédio do zoneamento de risco climático, possibilitam verificar a viabilidade e a época adequada para a implantação da cultura do feijão-caupi. Outros elementos do clima que exercem influência no crescimento e desenvolvimento dessa cultura são: fotoperíodo, vento e radiação solar.


Precipitação

A cultura do feijão-caupi exige um mínimo de 300 mm de precipitação para que produza a contento, sem a necessidade de utilização da prática da irrigação. As regiões cujas cotas pluviométricas oscilem entre 250 e 500 mm anuais são consideradas aptas para a implantação da cultura. Entretanto, a limitação em termos hídricos encontra-se mais diretamente condicionada à distribuição do que à quantidade total de chuvas ocorridas no período.
A ocorrência de ligeiros "déficits" hídricos no início do desenvolvimento da cultura pode concorrer para estimular um maior desenvolvimento radicular das plantas, porém, estresse hídrico próximo e anterior ao florescimento pode ocasionar severa retração do crescimento vegetativo, limitando a produção (Ellis et al., 1994; Fancelli & Dourado Neto, 1997).

O feijão-caupi pode ser cultivado em quase todos os tipos de solos, merecendo destaque os Latossolos Amarelos, Latossolos Vermelho-Amarelos, Argissolos Vermelho-Amarelos e Neossolos Flúvicos. De um modo geral, desenvolve-se em solos com regular teor de matéria orgânica, soltos, leves e profundos, arejados e dotados de média a alta fertilidade. Entretanto, outros solos como Latossolos e Neossolos Quartzarenicos com baixa fertilidade podem ser utilizados, mediante aplicações de fertilizantes químicos e/ou orgânicos.

Temperatura

O feijão-caupi é cultivado em uma ampla faixa ambiental desde a latitude 400N até 300S, tanto em terras altas como baixas, tais como: Oeste da África, Ásia, América Latina e América do Norte (Rachie, 1985). O bom desenvolvimento da cultura ocorre na faixa de temperatura de 18 a 34°C. A temperatura base abaixo da qual cessa o crescimento varia com o estádio fenológico. Para a germinação, varia de 8 a 11°C (Craufurd et al., 1996a), enquanto para o estádio de floração inicial, de 8 a 10°C (Craufurd et al., 1996b).

Elevadas temperaturas prejudicam o crescimento e o desenvolvimento da planta de feijão-caupi, exercem influência sobre o abortamento de flores, o vingamento e a retenção final de vagens, afetando também o número de sementes por vagem (Ellis et al., 1994; Craufurd et al., 1996b). Além disso, podem contribuir para a ocorrência de várias fito-enfermidades, principalmente aquelas associadas às altas umidades relativas do ar, condições estas que freqüentemente ocorrem quando o cultivo é feito em condições de sequeiro (Cardoso et al., 1997b).

Temperaturas baixas (<19 1978="" 1979="" 1997="" a="" al.="" aparecimento="" aumentando="" b="" ciclo="" cultura="" da="" de="" do="" e="" et="" feij="" flores="" influenciam="" leite="" littleton="" negativamente="" o-caupi="" o="" oberts="" produtividade="" retardando="" summerfield="">
Na região Meio-Norte do Brasil, limitações térmicas para o caupi podem existir em locais onde o florescimento coincida com períodos de temperatura acima de 35°C. Bastos et al. (2000) constataram por meio de simulações que, em Teresina, o plantio de caupi para o cultivo irrigado deve se restringir até o mês de julho. Quando o plantio do feijão-caupi ocorre a partir de meados do mês de agosto, há uma redução significativa da produtividade de grãos, devido ao abortamento de flores, pela ocorrência de elevada temperatura do ar durante o florescimento.


Fotoperíodo

Outro fator que exerce influência no crescimento e desenvolvimento do feijão-caupi é o fotoperíodo. Segundo Steele & Mehra (1980) existem cultivares de feijão-caupi sensíveis e outras insensíveis ao fotoperíodo, cujo crescimento vegetativo, arquitetura da planta e desenvolvimento reprodutivo são principalmente determinados pela interação de genótipos com a duração do dia e temperaturas do ar.
As cultivares de feijão-caupi sensíveis ao fotoperíodo são consideradas plantas de dias curtos (Hadley et al., 1983; Craufurd et al., 1996b), as quais têm o seu florescimento atrasado quando o fotoperíodo é maior que o fotoperíodo crítico. Quando genótipos ou cultivares são insensíveis ao fotoperíodo, o crescimento e desenvolvimento da cultura são funções apenas da temperatura do ar (Craufurd et al., 1996c).


Vento

A incidência do vento constante em lavouras de feijão pode aumentar a demanda de água por parte da planta, tornando-a mais suscetível a períodos curtos de estiagem, afetando o desempenho da cultura.


Radiação solar

A radiação solar pode ser considerada um fator de grande importância para o crescimento e desenvolvimento vegetal, pois influencia diretamente na fotossíntese das plantas. Loomis & Williams (1963) comentaram que, sob condições favoráveis de solo e clima e quando pragas e doenças deixam de ser fatores limitantes, a máxima produtividade de uma cultura passa a depender principalmente da taxa de interceptação de luz e da assimilação de dióxido de carbono pelas plantas.
De acordo com Phogat et al. (1984), a interceptação da energia luminosa no feijão-caupi geralmente é alta devido às folhas glabras e de coloração verde escura. Os autores, avaliando a taxa de fotossíntese líquida e a absorção da radiação fotossinteticamente ativa por esta cultura, observaram que apenas 4,3% da energia luminosa foi refletida pelas folhas de feijão-caupi, em condições ótimas de água no solo.

Amostragem do solo

A amostragem deve seguir critérios que assegurem confiança de representatividade em número ideal de amostras. Para colher uma boa amostra, recomenda-se:
  • Subdividir as áreas em unidades homogêneas; nessa subdivisão considerar os tipos de solo, a topografia, a vegetação e o histórico utilizado (uso de corretivos ou adubações).
  • Retirar uma amostra composta de áreas aparentemente uniformes. O número de amostras simples (subamostras), que deverá formar uma amostra composta, deve ser de 15 a 20.
  • Fazer amostragem ao acaso em zigue-zague, verificando o grupo de homogeneidade da área. As diversas subamostras devem ser colocadas em um recipiente limpo e misturadas, separando-se então, cerca de 500g para serem enviadas ao laboratório. Para culturas anuais, como o feijão-caupi, a profundidade de coleta é a da camada arável, ou seja, de 0-20 cm.
  • Identificar a amostra de solo com uma etiqueta contendo os nomes do município, do proprietário, da propriedade, da cultura a ser plantada e o número da amostra.


Correção da acidez do solo

As recomendações para correção de acidez devem ser feitas com base em resultados de análise química do solo. A tendência atual na recomendação de calagem é dar mais ênfase a percentagem de saturação de alumínio no solo do que seu teor isoladamente.
Recomenda-se calagem para a cultura de feijão-caupi, quando esta percentagem de saturação de alumínio for igual ou maior do que 20%.
A quantidade de corretivo, com base no teor de alumínio e cálcio + magnésio trocáveis, pode ser calculada utilizando-se as seguintes fórmulas:

  • Dose de calcário (t/ha) = (0,2 x Al3+) + 20 - [(Ca2+ + Mg2+)] 
    quando o Ca2+ + Mg2+ for < que 20 mmolc.dm-3 de TFSA. .............(1)

  • Dose de calcário (t/ha) = 0,2 x Al3+
    quando o Ca2+ + Mg2 for > que 20 mmolc.dm-3 de TFSA. ...............(2)
Outro critério para o cálculo da necessidade de calagem é pela elevação da saturação de bases a um nível desejado. No caso do feijão-caupi, a elevação da saturação de base em 50% é feita utilizando-se a fórmula:
  • Dose de calcário (t/ha) = (V2 - V1)T/PRNT x f x 10-1

    onde:

    T = mmolc.dm3+ de H+ + Al3+ + K+ + Ca2+ + Mg2+ + Na+
    V1 = S/T x 100 sendo S = mmolc.dm-3de K+ + Ca2+ + Mg2+ + Na+
    V2 = 50%
    PRNT = poder relativo de neutralização total do calcário
    f = fator de profundidade, 1 para calagem até 20 cm e 1,5 para calagem até 30 cm.
Na calagem são empregados, geralmente, calcários que podem ser calcíticos ou dolomíticos, o último, pelo teor de magnésio que contém, deve ser usado sempre que possível.
O calcário deve ser aplicado pelo menos dois meses antes da semeadura para que se obtenham os efeitos esperados. Contudo, essa é uma orientação geral, pois a reação do calcário está diretamente condicionada à umidade do solo e às características do corretivo. Caso o calcário possua um PRNT diferente de 100%, é necessário corrigir a quantidade recomendada nas fórmulas 1 e 2, citadas anteriormente, utilizando-se a seguinte fórmula:
Dose a aplicar (t/ha) = dose recomendada (t/ha)/ PRNT do calcário x 100.


Nitrogênio

Elemento altamente móvel na planta e, por isso, os primeiros sintomas de deficiência surgem nas folhas mais velhas, em forma de clorose uniforme homogênea, amarelo-esverdeada, passando a amarelo-esbranquiçada, que se estende às folhas novas, com a intensificação dos sintomas. O número de folhas, a área foliar e o crescimento das plantas são reduzidos, dando lugar a um desfolhamento prematuro.
O feijão-caupi absorve, para seu desenvolvimento completo, uma quantidade superior a 100 kg de N/ha. Considerada como planta de boa capacidade noduladora e eficiente sistema de fixação, o caupi dispensa a adubação nitrogenada. Culturas desenvolvidas em áreas recém-desmatadas, arenosas ou com teor de matéria orgânica menor que 10 g/kg, geralmente apresentam deficiência de nitrogênio. Nessas condições, recomenda-se a aplicação de 20 kg de N/ha, em cobertura, aos 15 dias após a fase de emergência das plantas.

Fósforo

Elemento móvel na planta, cujos sintomas de deficiência aparecem nas folhas velhas, como manchas cloróticas irregulares, de coloração verde-limão. As folhas mais novas apresentam cor verde-azulada brilhante. Com a acentuação dos sintomas, a cor das folhas mais velhas progride para amarelo-castanha, das bordas para o centro do limbo. As folhas caem prematuramente. Em campo verifica-se retardamento no ponto de colheita e vagens mal formadas, com reduzido número de grãos.
O nível crítico teórico do elemento no solo, para o bom desenvolvimento da planta, está em torno de 10 mg kg-1. Entre os macronutrientes, é o elemento extraído em menor quantidade e o que mais limita a produção do feijão-caupi. Considerando as condições do solo e as propriedades do elemento no meio, as doses recomendadas encontram-se na faixa de 20 a 60 kg de P2O5/ha.


Potássio

Elemento extremamente móvel na planta. Nas folhas mais velhas, inicialmente, desenvolvem-se manchas necróticas castanho-escuro, irregulares, do ápice para a parte central do folíolo, atingindo-o, finalmente, entre as nervuras. O crescimento do caule, o número de folhas e a área foliar ficam reduzidos, e as flores caem precocemente.
Teores baixos de potássio são encontrados em muitos solos onde a cultura é explorada comercialmente. O valor considerado crítico para o bom desenvolvimento do feijão-caupi, está abaixo de 50 mg.kg-1 de K2O. Embora apresente altas concentrações no tecido das plantas a adubação potássica em feijão-caupi, não tem refletido no aumento da produção de grãos. Considerando as condições do solo, normalmente são recomendadas, no balanceamento de fórmulas de adubação, quantidades que variam na faixa de 20 a 40 kg de K2O/ha.


Cálcio

Por ser um elemento imóvel na planta, os sintomas característicos da deficiência manifestam-se nas folhas mais novas. As plantas apresentam as folhas superiores coriáceas, quebradiças, encurvadas e com reduzido crescimento do sistema radicular e do caule. Em caso extremo de deficiência, o broto terminal morre, e as plantas não alcançam o florescimento.
As deficiências são, normalmente, corrigidas com aplicação no solo, de corretivos, de preferência calcário dolomítico, visando manter a saturação de bases acima de 50%.


Magnésio

Elemento móvel na planta. Os sintomas de deficiência caracterizam-se por clorose internerval nas folhas mais velhas, os bordos do limbo desenvolvem-se recurvados para baixo. As plantas florescem, mas os botões florais caem prematuramente.
Normalmente, a aplicação de calcário dolomítico oferece a quantidade suficiente de magnésio para a cultura. Recomenda-se que os materiais corretivos apresentem uma relação cálcio-magnésio na proporção 4/1.

Enxofre

Elemento pouco móvel na planta. As plantas deficientes em enxofre apresentam crescimento aparentemente normal. Os sintomas característicos iniciam-se pelas folhas mais novas, na forma de manchas irregulares, verde-claras, distribuídas no limbo dos folíolos. Com o desenvolvimento das plantas as folhas tornam-se amarelas, e os folíolos caem facialmente. Contudo, há produção de vagens.
O feijão-caupi requer aproximadamente 10 kg de enxofre/ha. Alguns fertilizantes das fórmulas básicas de adubação contém o enxofre em quantidade suficiente para a cultura.

Micronutrientes

Os micronutrientes são exigidos em pequenas quantidades pela planta do feijão-caupi. Normalmente, as reservas dos solos são capazes de atender às necessidades das plantas. Deficiências podem ocorrer em solos cujo material de origem é pobre em nutrientes ou que apresentam condições adversas à sua mobilização/absorção pela planta, tais como valores extremos de pH e excesso de matéria orgânica.
São raras as informações técnicas sobre as necessidades de micronutrientes em solos onde é cultivado o feijão-caupi. Alguns micronutrientes (molibdênio e zinco) exercem grande influência na nodulação e na fixação simbiótica do nitrogênio pelas leguminosas.
As deficiências desses nutrientes ocorrem normalmente em solos ácidos e arenosos. Vinte grama de molibdênio são suficientes para tratar sementes necessárias ao plantio de 1 ha. Quanto ao zinco as deficiências podem ser corrigidas com aplicação, em fundação, do zinco, na razão de 3 kg/ha.

Recomendação de adubação

De uma maneira geral, a recomendação de adubação química leva em consideração os resultados da análise química do solo e as exigências nutricionais da cultura. Para uma melhor utilização dessa recomendação, foram acrescentadas algumas informações técnicas que são de grande interesse para o sucesso dos programas da adubação na cultura do feijão-caupi (Tabela 1).
Tabela 1. Recomendação de adubação química (kg.ha-1) para a cultura do feijão-caupi com base nos resultados da análise química do solo.
Época
N
P2O5
K2O
P no solo mg.dm-3
K no solo mg.dm-3
Plantio

0 - 5
6 - 10
> 10
0 - 25
26 - 50
> 50
-
60
40
20
40
30
20
Cobertura
20

Observações técnicas adicionais
  • Em áreas recém-desmatadas ou em solos de textura arenosa e com baixos níveis de matéria orgânica (menos de 10g.kg-1) recomenda-se utilizar uma adubação de cobertura, com nitrogênio na dosagem de 20 kg de N.ha-1, em cobertura, aos 15 dias após a fase de emergência das plantas.
  • Caso seja necessário adubação nitrogenada, recomenda-se usar as combinações sulfato de amônio e superfosfato triplo ou uréia e superfosfato simples para garantir o suprimento de enxofre às plantas.
  • Em solos com reconhecida deficiência em micronutrientes (molibdênio e zinco), recomenda-se aplicar no sulco de plantio, 3 kg de zinco/ha e realizar o tratamento das sementes, utilizando-se 20 gramas de molibdênio para 20 kg de semente.
  • Repetir a análise química do solo após o terceiro cultivo consecutivo, para ajustar a recomendação de adubação.





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