A CULTURA DO FEIJÃO CAUPI
Botânica:
- Família: Fabaceae = Leguminosae
-
Gênero: Vigna
-
Espécie Vigna Unguiculata (L) Walp
Centro de Origem: Sudeste asiático
O feijão Caupi é uma cultura tradicionalmente explorada por pequenos
agricultores, normalmente descapitalizados, por isso mesmo, na maioria das vezes, com
emprego de pouca tecnologia. Tara-se de uma leguminosa de alto valor nutricional, e com
boa aceitação no mercado. É uma cultura pouco exigente no que diz respeito à fertilidade
do solo, pois tem a grande vantagem de ser uma planta fixadora de nitrogênio, um dos
elementos essências à cultura. No entanto, variações climáticas podem afetar
significativamente a produtividade da cultura.
Clima
O bom desenvolvimento da cultura ocorre quando a temperatura média do ar fica
na faixa de 18 a 34°C. Quando essa temperatura estiver abaixo de 8 a 11°C, a cultura não
se desenvolve.
Altas temperaturas inibem o crescimento das plantas do feijoeiro Caupi, prejudica
a polinização, provoca abortamento de flores, vingamento e retenção final de vagens. Além
de contribuir para a ocorrência de doenças.
A cultura do feijão Caupi exige um mínimo de 300 mm de precipitação para que
produza a contento, sem a necessidade de utilização da prática de irrigação. Assim, as
regiões cujas precipitações oscilem entre 250 e 500 mm são consideradas aptas para a
exploração da cultura.
Na região Meio-Norte do Brasil, a principal causa da variação da produtividade de
grãos feijoeiro Caupi em condições de sequeiro está associada á disponibilidade hídrica no
solo, devido principalmente à má distribuição das chuvas, que limitam o crescimento e o
desenvolvimento da cultura. Outros fatores, como a radiação solar e a umidade relativa do
ar, também afetam essa produtividade.
3 Solo
O feijão Caupi pode ser cultivado em quase todos os tipos de solo. De um modo
geral, desenvolve-se bem em solos com regular teor de matéria orgânica, soltos, leves e
profundos, arejados e dotados de uma média a alta fertilidade. No entanto, solos de baixa
fertilidade podem ser utilizados, com aplicação de fertilizantes químicos ou orgânicos.
3.1 Correção de acidez
As recomendações de correção de acidez devem ser feitas com base em resultados
de análise química do solo, e deve levar em consideração a percentagem de saturação de alumínio no solo. Para a cultura do feijão Caupi, recomenda-se que seja feito correção de
acidez do solo quando essa percentagem de saturação for igual ou superior a 20%.
3.2 Adubação
Além do carbono, hidrogênio e oxigênio, que estão presentes na atmosfera, são
essenciais às plantas os macros e os micronutrientes que estão presentes no solo. No caso
de qualquer desses nutrientes presentes no solo em níveis muito baixos, constatados por
meio de análise de solo, a correção da fertilidade deve ser feita para que a cultura se
desenvolva e produza satisfatoriamente.
Recomendação de adubação química (kg/ha) para a cultura de feijão Caupi
com base em resultados de análise de solo.
Época N P2O5 K2O
P no solo mg dm-
³ K no solo mg dm-
³
Plantio - 0-5 6-10 >10 0-25 26-50 >50
- 60 40 20 40 30 20
Cobertura 20 - -
Fonte: EMBRAPA - 2000
4 Época de plantio
A melhor época de plantio para as variedades de ciclo médio (70 a 80 dias) é na
metade do período chuvoso de cada região. Para as variedades de ciclo precoce (55 a 60
dias), recomenda-se fazer o plantio dois meses antes da previsão de término do período
chuvoso. Com isso evita-se que a colheita seja feita em períodos com maior probabilidade
de ocorrência de chuvas.
Na região Nordeste do Brasil, a má distribuição das precipitações pluviométricas,
torna a agricultura de sequeiro uma atividade econômica de alto risco. Para reduzir esse
risco é recomendado que se faça o plantio do feijão Caupi escalonado, e num sistema
policultivar.
A semeadura escalonada consiste em distribuir diferentes variedades com
diferentes características de ciclo de desenvolvimento, em diferentes épocas, dentro de
intervalo de tempo mais indicado para o plantio da cultura na região.
Dentre as vantagens do plantio escalonado, podemos citar:
- diminuição dos riscos de perdas por adversidades climáticas;
- maior proteção do solo contra erosão;
- melhor distribuição das práticas de implantação da lavoura;
- possibilidade de colheita e beneficiamento da produção num maior intervalo de
tempo;
- oportunidade de colocação da produção no mercado por um maior período de
tempo e épocas mais adequadas, quando melhore preços podem ser alcançados.
Em relação ao sistema de policultivo, a diferença é que variedades de ciclos
diferentes podem ser plantadas na mesma época.
Quando o cultivo for irrigado, a flexibilização da época de plantio é maior. No
entanto, devem ser observadas as oscilações de preços do produto no mercado. Num
sistema irrigado deve-se optar por variedades mais precoces e produtivas, e que sejam indicadas para esse sistema de cultivo. A semeadura deve ser feita em períodos em que o
florescimento não coincida com períodos de altas temperaturas.
5 Métodos de plantio
O feijão Caupi pode ser plantado pelos mais variados métodos, desde os mais
rudimentares até os motomecanizados, com plantadeiras adubadeira.
5.1 Plantio manual
É o mais usado em pequenas propriedades, utilizando-se enxadas e “matracas”,
também conhecidas como “tico-tico”. Esse tipo de plantadeira permite um melhor
rendimento que as enxadas.
5.2 Plantio a tração animal
É feito com a utilização de plantadeiras simples, que contém apenas os depósitos
de sementes e fertilizantes. São implementos com dispositivos que permitem colocar o
fertilizante em faixa, ao lado e abaixo da semente.
5.3 Plantio motomecanizado
O implemento que executa esse tipo de plantio tem o mesmo princípio da
plantadeira a tração animal. A diferença está na produtividade do serviço e no fato de que
algumas possuem mecanismos que facilitam o controle da distribuição da quantidade de
semente desejada.
6 Densidade de plantio
Uma das causas da baixa produtividade de grãos de feijão Caupi, na região
Nordeste do Brasil é a escassez ou excesso de plantas por unidade de área. A escassez pode
ser ocasionada por falhas que ocorrem na linha de plantio, podendo ser conseqüência da
má regulagem de plantadeira, utilização de sementes de baixo vigor, danos causados por
insetos ou doenças que matam as plantas ou devido ao plantio efetuado com pouca
umidade no solo.
A densidade ótima de plantio é definida como sendo o número de plantas capazes
de explorar de maneira mais eficiente e completa uma determinada área de solo.
Pesquisas já mostraram que a maior produtividade de grãos é obtida com uma
densidade de plantio em torno de 50 a 60 mil plantas por hectare, para variedades de porte
ramador e 70 a 90 mil plantas para variedades de porte moita.
7 Espaçamento
O número de plantas por unidade de área é definido pela função do espaçamento
entre linhas de plantio e a densidade de planta por metro linear. Para variedades de porte
ramador é recomendado o espaçamento de 0,8 a 1,0m entre linhas. Para variedades de
porte moita, o espaçamento mais recomendado é de 0,6 m. A densidade de semente
recomendada por linha de plantio é de 6 a 8 por metro.
Plantando-se a cultura na densidade correta haverá um melhor aproveitamento
interceptada pelas plantas, principalmente nas regiões que apresentam grande intensidade
luminosa, como é o caso da região Nordeste do Brasil.
8 Cultivos consorciados
O feijão Caupi no Meio-Norte do Brasil é cultivado, em grande parte, em
associação com outras culturas, sendo a mais comum o milho.
O cultivo em consórcio possibilita a subsistência do produtor, a utilização
permanente de mão-de-obra, a alimentação diversificada, e o melhor controle de erosão do
solo e de pragas, doenças e ervas invasoras. Este sistema de cultivo é uma opção para o
aproveitamento intensivo da terra, além de proporcionar renda familiar relativamente
estável ao longo dos anos.
8.1 Vantagens de cultivos consorciados
Dentre as principais vantagens deste sistema de cultivo podem ser citadas:
- Maior produção de alimento por unidade de área cultivada;
- Estabilidade de produção, pois diminui os riscos de insucesso total da lavoura, ou
seja, se uma cultura falha ou produz pouco a cultura consorte pode compensá-la.
- Aumenta a proteção vegetativa do solo, protegendo-o contra erosão;
- Permite melhor aproveitamento de mão-de-obra e o seu uso com mais eficiência; e
- Diminui a incidência de pragas e doenças tanto na cultura principal como na
consorte.
8.2 Desvantagens do consórcio
-
Dificuldade de utilização de práticas culturais mais eficientes e capazes de levar a
altas produtividades;
- Tecnologias mais evoluídas são de difícil utilização neste sistema de cultivo,
principalmente quando é pretendido o uso de mecanização.
8.3 Consorcio Milho x Feijão Caupi
A associação de milho com feijão Caupi pode ser feita de diversas maneiras. As
duas culturas podem ser plantadas simultaneamente na mesma fileira, ou em fileiras
intercaladas. Neste caso os sistemas mais utilizados são os de uma fileira de milho para
uma de feijão, uma de milho para duas de feijão. Um outro sistema é o de faixas
alternadas, sendo o de duas fileiras de milho para três de feijão Caupi o mais recomendado.
Neste caso deve ser preservado o espaçamento recomendado para as culturas.
9 Escolha de variedades
Deve ser feita de acordo com indicação da pesquisa para a região, que
normalmente levam em consideração as condições climáticas da região e as exigências do
mercado consumidor. Vale ressaltar que as tradições regionais também devem ser levadas
em consideração. Também deve-se levar em consideração o ciclo da cultivar na hora do
planejamento da lavoura. O ciclo do Caupi para as condições tropicais, está classificado
em, superprecoce, precoce, médio, médio-precoce, médio-tardio e tardio. Esses ciclos
podem ser detalhados da seguinte maneira:
Ciclo superprecoce – a maturidade é alcançada até 60 dias após a semeadura;
Ciclo precoce – a maturidade é alcançada entre 61 e 70 dias após a semeadura;
Ciclo médio – a maturidade é alcançada entre 71 e 90 dias após a semeadura; Ciclo médio-precoce – a maturidade é alcançada entre 71 e 80 dias após a
semeadura;
Ciclo médio -tardio – a maturidade é alcançada entre 81 e 90 dias após a
semeadura;
Ciclo tardio – a maturidade é alcançada a partir de 91 dias após a semeadura.
10 Tratos culturais
Para a cultura do feijão Caupi, os mais importantes são:
- controle de ervas invasoras;
- controle de pragas e doenças; e
- manejo de restos culturais.
10.1 Controle de plantas invasoras
São definidas como plantas invasoras qualquer espécie vegetal crescendo em local
não desejado, e que de alguma forma interferem com as atividades produtivas esperadas
pelo agricultor.
O período crítico de competição das invasoras com o feijão Caupi ocorre
aproximadamente até os 35 dias após a emergência. As espécies que se desenvolvem
posteriormente a esse período não interferem diretamente na produção de Feijão Caupi.
Na necessidade de eliminação de invasoras de determinada área, deve-se, sempre
que possível utilizar o controle integrado, ou seja, a combinação de dois ou mais métodos,
potencializando os efeitos individuais e aumentando os efeitos das práticas.
O planejamento do controle deve levar em consideração a disponibilidade de mãode-obra
e de implementos agrícolas.
O controle normalmente pode ser:
Preventivo – tem o objetivo de prevenir a introdução, o estabelecimento e/ou a
disseminação de determinadas espécies de invasoras em áreas de cultivo não infestadas.
Controle cultural – aproveitamento de características agronômicas de culturas
comerciais com o objetivo de levar vantagens sobre as ervas invasoras.
Controle mecânico – utilização de práticas de controle de plantas invasoras por
meio de efeitos físico-mecânico, como a capina manual e o cultivo mecânico.
A utilização de enxadas, e principalmente, os cultivadores a tração animal são os
métodos mais comuns de controle de plantas invasoras em feijão Caupi.
Controle químico – é recomendado para grandes áreas, quando justificado, ou
em áreas com mão-de-obra escassa. Nesse método são utilizados herbicidas, que podem ser
classificados em, de pré-plantio incorporado (PEI), pré-emergente (PE) e pós-emergente
(POS). esse método de controle de invasoras deve ser um complemento de outras práticas
de manejo, e deve ser utilizado com o objetivo de reduzir as necessidades dos métodos de
controle manual ou mecânico.
10.2 Principais pragas e seu controle
Os insetos, geralmente atacam as plantas naquela época em que o seu estágio
fenológico está produzindo seu alimento ideal. Assim as pragas do feijão Caupi se distribuem de acordo com estágio fenológico da cultura (Fig.10.2.1). O conhecimento
dessa relação inseto/planta é importante para que o técnico ou produtor faça um
acompanhamento adequado do nível populacional das pragas para fins de manejo e/ou
controle.
O controle é normalmente feito com a utilização de produtos químicos, e nunca
deve ser realizado sem a orientação e acompanhamento técnico.
10.3 Doenças
Os agentes de doenças que infestam o feijão Caupi determinam perdas tanto no
volume de produção quanto na qualidade do produto.
A forma de controle mais recomendada engloba um conjunto de procedimento a
serem utilizados por ocasião da implantação da cultura. Entre tais procedimentos constam,
a utilização de variedades resistentes, sementes sadias e certificadas, rotação de cultura,
época correta de semeadura. Solos encharcados devem ser evitados. No caso de todos esses
procedimentos falharem, o controle químico é recomendado. Mas só deve ser feito com
orientação e acompanhamento técnico.
As principais doenças que infestam a cultura do Caupi se dividem em:
Podridão de raiz-colo-caule
- Tombamento (Damping off);
-
Podridão das raízes;
-
Podridão do colo;
-
Podridão cinzenta do caule;
-
Murcha de fusarium; e
-
Murcha/podridão de esclerótico.
Doenças foliares
- Mosaico severo do Caupi;
-
Mosaico rugoso;
- Mosqueado severo;
-
Mosaico do pepino; -
Mosaico dourado;
- Carvão;
-
Mancha café;
-
Cercosporiose (Mancha vermelha);
-
Mela;
- Mancha zonada;
- Ferrugem;
-
Mancha de alternaria;
-
Oídio cinza; e
-
Mancha bacteriana.
Doenças das flores vagens e sementes
-
Sarna;
- Mofo cinzento das vagens.
11 Colheita
O momento da colheita constitui-se num fator de grande importância para a
obtenção de grãos de boa qualidade. A colheita deve ser realizada quando as plantas
atingirem a maturidade fisiológica, que caracteriza-se pela mudança da cor das vagens e
dos grãos obedecendo aos padrões das variedades consideradas. A maturação fisiológica
no feijão Caupi ocorre normalmente vinte dias após o início da fase de formação das
vagens.
A colheita antecipada faz com que o tempo e o custo para secagem sejam
elevados, além de dificultar o processo de trilha. Se for adiada, pode ser reduzida a
produtividade de grãos, em função da deiscência das vagens no campo. Poderá haver
também deterioração dos grãos por eventuais incidências de fungos e ataque de insetos,
além de aumentar os riscos de germinação de grãos nas vagens.
11.1 Colheita Manual
O feijão é colhido vagem por vagem, e a debulha é feita manualmente ou por
meio de bateção.
11.2 Colheita Mecânica
É feita por meio de máquinas especiais para essa operação.
11.3 Colheita Semimecanizada.
É a combinação da colheita manual e mecânica, envolvendo as operações de
arranquio e recolhimento manual e bateção (trilha) mecanizada.
12 Secagem e Armazenamento
A secagem é um processo que utiliza o ar como um meio para conduzir calor e
transferir o excesso de umidade da massa de grãos para a atmosfera. Isso geralmente em
duas etapas:
- Pré-secagem das ramas – feita ao sol na sua forma original ou enleirada no campo,
ou ainda espalhada em lonas ou terreiros; - Secagem dos grãos após a trilha – normalmente e feita ao sol, espalhando-se os
grãos em lonas ou terreiros.
13 Armazenamento
Normalmente é feito a granel, em silos ou ensacados, em armazéns.
14 Comercialização
-
Em feiras livres, e nas Centrais de Abastecimentos Estaduais, baseado no preço
mínimo estabelecido pelo governo, ou a livre concorrência
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