1. Introdução
A alfafa (Medicago sativa L.) é considerada a primeira planta forrageira domesticada, e uma das mais importantes da atualidade. No Brasil, os primeiros registros de cultivo de alfafa datam do ano de 1850, quando foi introduzida no Rio Grande do Sul por imigrantes vindos diretamente da Europa ou através da Argentina e Uruguai (SAIBRO, 1985). O cultivo da alfafa no estado iniciou nos vales dos rios Caí, Taquari, Jacuí e Uruguai e nas encostas da Serra (SAIBRO, 1985). A cultura chegou a atingir cerca de 20 mil hectares no Rio Grande do Sul, mas hoje abrange menos de quatro mil hectares, sendo a Mesorregião das Missões a principal produtora de alfafa no Estado (Tabela 1). Ainda assim, a cultura está presente em 19% dos municípios do Estado.
2. A Região das Missões
Na Região das Missões do Rio Grande do Sul o cultivo da alfafa ocorre há pelo menos 50 anos. Atualmente, possui a maior concentração de áreas de alfafa do estado. São cerca de 3 mil hectares distribuídos em doze municípios (Tabela 2). O município com maior área cultivada é Rolador, seguido de 16 de Novembro e São Luiz Gonzaga. A área média cultivada com alfafa é de 3,82 hectares por propriedade, o que reflete a estrutura fundiária da região e o uso intensivo de mão-de-obra pela cultura, especialmente no momento do corte. A exceção é o município de Salvador das Missões, que tem uma área média de 10,0 ha, mas um pequeno número de produtores.
Tabela 2. Área, produtividade média e número de produtores que cultivam alfafa nos municípios da Região das Missões – RS.
As pragas que causam problemas a cultura são os pulgões, lagartas e besouros. Na Argentina, as lagartas são consideradas pragas chave, sendo os pulgões e besouros de importância secundária (ARAGÓN e IMWINKELRIED, 1995). No Rio Grande do Sul, segundo Williams (1982), os pulgões e as lagartas são as
18Tecnologias para a produção de alfafa no Rio Grande do Sul principais pragas da cultura, no entanto, os pulgões são considerados mais importantes, pois ataques intensos desses insetos às brotações novas paralisando seu crescimento, levando ao encurtamento dos internódios e ao encarquilhamento das folhas, que não se desenvolvem normalmente (ARAGÓN, 1991).
2. Pragas
2.1 Pulgões
2.1.1 Acyrthosiphon kondoi (Shinji, 1938) – pulgão-azul-daalfafa ou pulgão-verde-azulado
São insetos nativos do Norte da China e Manchuria. Em 1974 surgiram na costa oeste dos Estados Unidos, em 1975 na Nova Zelândia e, em 1976, na Austrália e Argentina, no entanto, agora encontram-se distribuídos em vários países (ARMBRUST et al., 1980). No Brasil o primeiro relato da ocorrência em alfafa foi em 1984 em Piracicaba (SP) (OLIVEIRA et al., 1986).
Os pulgões possuem coloração verde-azulada e os alados têm uma mancha marrom no tórax. Os ápteros medem 2,1 a 2,9 m e os alados 1,5 a 2,8 m. Apresentam os três primeiros segmentos antenais claros, escurecendo de forma gradual até o último, que é negro e em menor tamanho (HIJANO, 1993).
As colônias de A. kondoi se estabelecem sobre talos e brotos, reproduzindo-se ativamente desde meados de julho. É uma espécie adaptada ao clima mais ameno, por esta razão sua população aumenta no final do inverno e principio da primavera e praticamente desaparece no verão (ARAGÓN e IMWINKELRIED, 1995). Mendes et al. (2000) verificaram dois picos populacionais do pulgão-azul em Lavras (MG): o primeiro e menor, em junho (temperatura de aproximadamente 16ºC e precipitação nula), e o segundo e maior pico, em dezembro, a 22ºC, sendo que estes fatores já tinham sido verificados pelos autores em ano anterior (1994).
19Insetos praga da alfafa
Figura 1. Acyrthosiphon sp. em alfafa. São Luiz Gonzaga, RS, 2008.
Foto: Francisco da Silva Ledo
Ao se alimentarem, os pulgões injetam toxinas que causam danos aos brotos e talos. Em ataques severos, as plantas têm seu crescimento reduzido, com evidente redução no tamanho dos entrenós e menor desenvolvimento das folhas, que ficam com coloração amarelada ou violeta. Outra característica do dano é a deformação das folhas. Por esta razão, mesmo em menor quantidade que os demais pulgões, seu dano é mais severo. Em estudos conduzidos na Nova Zelândia, Costa dos Estados Unidos, Austrália e Argentina, foi constatado que os danos causados pelo pulgão reduzem em 40% a produção de forragem (ARAGÓN, 1990; ARAGÓN e IMWINKELRIED, 1995).
2.1.2 Acyrthosiphon pisum (Harris, 1776) – pulgão-da-ervilha ou pulgão-verde-da-alfafa
Encontra-se distribuído em quase todo mundo. Foi introduzido na América do Norte em 1900, provavelmente vindo da Europa, e hoje está amplamente distribuído no continente (BOLTON et al., 1972, EVANGELISTA e BUENO, 1999). No Brasil foi constatado em alfafais de Lages (SC) (KAVELAGE, 1992).
Medem de 4 a 4,5 m de comprimento, são de coloração verde brilhante, com as antenas claras com uma banda negra no final cada articulação de cada segmento. Possuem pernas longas e sifões muito afilados (ARAGÓN e IMWINKELRIED, 1995) (Figura 1).
20Tecnologias para a produção de alfafa no Rio Grande do Sul
Estudos conduzidos por Mendes et al. (2000) indicam que
A. pisum obteve um pico de crescimento em junho, temperaturas abaixo de 18ºC e precipitação nula. Após esse período, verificouse redução na densidade populacional, que se tornou expressiva novamente a partir de novembro e alcançando pico populacional no final de fevereiro, a uma temperatura mais alta (média de 23ºC) e precipitação de 12 m. Carvalho et al. (1996) em campos de alfafa de Minas Gerais, verificaram que a ocorrência de A. pisum esta relacionada com baixas temperaturas, tendendo a ocorrer nos meses de inverno (junho a agosto).
As plantas mais suscetíveis ao ataque do pulgão diminuem o crescimento e apresentam as folhas superiores com coloração verde claro, as folhas inferiores que foram atacadas primeiro amarelam e morrem. Outro dano causado é a proliferação de fungos saprófitas, que se desenvolvem em função da secreção liberada pelos pulgões. Há redução no rendimento e na qualidade da forragem. Durante a implantação da cultura, os danos são mais intensos, pois podem provocar a morte das plantas jovens e/ou atraso do crescimento em períodos de seca (IMWINKELRIED e SALTO, 1994; ARAGÓN e IMWINKELRIED, 1995).
2.1.3 Aphis craccivora (Koch, 1954) – pulgão-negro ou pulgãodas-leguminosas
É considerada uma espécie cosmopolita que está bem distribuída nos trópicos (BLACKMAN e EASTOP, 2000). As ninfas são de coloração verde escuro e os adultos preto brilhante, com 2 m de comprimento (ARAGÓN e IMWINKELRIED, 1995) (Figura 2). Formam colônias muito densas no talo das plantas. Sua presença está relacionada a períodos de secas prolongadas e altas temperaturas (EVANGELISTA e BUENO, 1999). O ataque retarda o crescimento, deforma e enruga as folhas e brotos e também é vetor de dois dos principais vírus da alfafa, o vírus do mosaico e enações.
21Insetos praga da alfafa
Figura 2. Aphis craccivora em alfafa. São Luiz Gonzaga, RS, 2008.
Foto: Francisco da Silva Ledo
2.1.4 Therioaphis trifolii (Monell, 1882) – pulgão-manchadoda-alfafa
É originário do norte da África e está muito bem adaptado ao clima quente e seco (ARAGÓN e IMWINKELRIED, 1995). No Brasil, o primeiro relato da ocorrência de T. trifolii em alfafa foi feito em 1990, no centro-sul do Paraná (LAZZARI et al., 1996).
É um inseto pequeno, sendo que os ápteros e alados medem de 1,4 a 2,2 m. São de coloração palha, branco-acinzentada a quase branca, com seis ou mais colunas de manchas pretas ao longo do dorso. Os sifúnculos são curtos e largos na base. O último segmento antenal possui a porção basal e o filamento terminal aproximadamente do mesmo comprimento (EVANGELISTA e BUENO, 1999). Apresenta um elevado potencial biótico, o adulto vive de quatro a cinco semanas, e nesse período pode originar 100 novos insetos, em situações favoráveis. A diferença para os demais pulgões que atacam a alfafa é que estes têm preferência pela face inferior das folhas basais (ARAGÓN e IMWINKELRIED, 1995).
22Tecnologias para a produção de alfafa no Rio Grande do Sul
Além de provocar o retardamento do desenvolvimento, esta espécie injeta toxinas que produzem retenção do crescimento e clorose nas folhas, podendo provocar desfolhamento levando à planta a morte. Também produzem substâncias açucaradas sobre as folhas, em que se desenvolvem fungos saprófitas que depreciam a qualidade da forragem (ARAGÓN e IMWINKELRIED, 1995).
2.2 Lagartas 2.2.1 Anticarsia gemmatalis Hueb., 1818 – lagarta-da-soja
Na cultura da soja é considerado o principal agente desfolhador, podendo ocorrer de forma simultânea nas duas culturas.
O adulto é uma mariposa cinza, na maioria das vezes apresenta uma lista transversal escura ao longo das asas, unindo as pontas do primeiro par de asas. Possuem hábitos noturnos. Os ovos são depositados isoladamente, na parte inferior das folhas, caule, ramos e pecíolos. Após 5 dias eclodem as lagartas, que se alimentam das folhas. As lagartas podem atingir 30 m de comprimento na soja, possuem coloração variável de verde, pardo-avermelhada até preta, com 5 listras brancas longitudinais no corpo. Possuem quatro pares de falsas pernas, e basta tocar na planta para que todas as lagartas caiam no chão. São muito ativas e dotadas de grande agilidade. Nos ínstares iniciais se comportam como mede-palmo. A transformação em pupa ocorre no solo, a pouca profundidade, e após uma semana emerge o adulto (HOFFMANN-CAMPO et al., 2000; GALLO et al., 2002).
Os danos à cultura ocorrem com a lagarta pequena raspando as folhas e causando a formação de manchas claras. À medida que crescem, as lagartas tornam-se muito vorazes e destroem as folhas totalmente, podendo danificar as hastes terminais (EVANGELISTA e BUENO, 1999).
23Insetos praga da alfafa
2.2.2 Mocis latipes (Guen., 1852) – curuquerê-dos-capinzais
As lagartas recém eclodidas alimentam-se da parte tenra da planta, geralmente na parte inferior das folhas, sendo de difícil visão. Completamente desenvolvidas medem 40 m de comprimento, sendo facilmente reconhecidas, porque se locomovem como se estivessem medindo palmos. Sua coloração é amarelada, com estrias longitudinais castanho-escuras. A cabeça é globosa, com estrias longitudinais amarelas. Permanece se alimentando na planta por cerca de 25 dias, terminado esse período a lagarta se transforma em pupa nas folhas que atacou, tecendo um casulo nas folhas secas, ou em torno da planta, no solo. A mariposa mede 42 m de envergadura, apresentando asas de coloração pardo-acinzentada, podendo desenvolver quatro gerações por ano. É considerada uma praga cíclica. Quando ocorrem surtos, as lagartas podem destruir totalmente a planta (GALLO et al., 2002).
2.2.3 Colias lesbia pyrhothea (Hueb., 1823) – borboleta-daalfafa
São borboletas de tamanho e cor muito variáveis, apresentando coloração que varia de amarelo-claro ao alaranjadoescuro, com bordos das asas escurecidos e com uma mancha na célula central, de tamanho e cor variáveis. Medem cerca de 60 m de envergadura. Essas borboletas efetuam a postura nas folhas de alfafa. Elas atacam as folhas, flores e hastes finas da alfafa, causando destruição da parte verde, que é utilizada como forragem (GALLO et al., 2002).
2.2.4 Spodoptera frugiperda (J.E. Smith, 1797) – lagarta-docartucho do milho
As mariposas põem de 1.500 a 2.0 ovos na página superior das folhas. Após três dias eclodem as lagartas, que passam a alimentar-se das plantas. A duração do período larval é de 12 a 30 dias. A coloração da lagarta varia de cinza-escuro a marrom. A mariposa mede cerca de 35 m de envergadura, sendo as asas
24Tecnologias para a produção de alfafa no Rio Grande do Sul anteriores pardo-escuras e as posteriores branco-acinzentadas (GRÜTZMACHER et al., 2000).
As lagartas consomem folhas novas, podendo reduzir a produção. Apesar de ser de origem subtropical, de ocorrência mais freqüente em gramíneas, particularmente na cultura do milho, pode causar severos danos em alfafa e, em caso de ataques intensos, podem ser encontradas até 300 lagartas por m2 (ARAGÓN e IMWINKELRIED, 1995).
2.3 Besouros
2.3.1 Epicauta atomaria (Germ., 1821) – vaquinha-dabatatinha
É uma praga polífaga que se alimenta de batata, tomateiro e outras solanáceas, feijoeiro, soja, batata-doce e alfafa. O adulto é um besouro com cerca de 8 a 17 m de comprimento, de coloração cinza e pontos pretos distribuídos pelos élitros, com uma constrição após a cabeça. A duração do ciclo é de 60 a 120 dias, podendo a larva entrar em diapausa. Provoca destruição das folhas, reduzindo a produção de massa verde (ZUCCHI et al., 1993; GALLO et al., 2002).
2.3.2 Panthomorus spp.
São insetos pertencentes a família Curculionidae, cujas larvas provocam severo dano as raízes das plantas de alfafa, diminuindo a produtividade, bem como a longevidade do alfafal. As larvas se desenvolvem no solo, são esbranquiçadas e ápodas e alimentam-se das raízes (Figura 3). Os adultos atacam as folhas deixando-as com aspecto rendilhado e cortam as brotações novas. Os ferimentos decorrentes da alimentação das larvas nas raízes são via de entrada para uma grande diversidade de fungos como Fusarium spp. e Phoma spp. que contribuem para o aumento da área de dano pois reduzem a capacidade de translocação de nutrientes (ZUCCHI et al., 1993; ARAGÓN e IMWINKELRIED, 1995; GALLO et al., 2002).
25 Insetos praga da alfafa
Figura 3. Panthomorus spp.em alfafa.
Foto: Francisco da Silva Ledo
2.3.3 Diabrotica speciosa (Germ., 1824) – patriota
A larva é de coloração amarelo pálida, tendo o tórax, a cabeça e as patas torácicas pretas. Desenvolvem-se no solo e, quando completamente desenvolvidas, medem de 10 a 12 m de comprimento e 1 m de diâmetro. O período larval dura aproximadamente 23 dias. A fase de pupa dura 17 dias e ocorre no solo, dentro de câmaras. Os adultos apresentam coloração geral verde com três manchas amarelas em cada asa anterior, sua cabeça é avermelhada e medem entre 5 e 6 m de comprimento. A postura é feita com ovos agrupados, sobre as partes subterrâneas da planta, e o período de incubação dura em média 8 dias.
Os adultos alimentam-se de folhas e brotos e têm preferência pelas folhas mais tenras. Ao se alimentar, realizam pequenos orifícios, porém têm capacidade de causar grandes desfolhas. Suas larvas se alimentam das raízes das plantas (HOFFMANNCAMPO et al., 2000; SOSA-GÓMEZ et al., 2006).
26Tecnologias para a produção de alfafa no Rio Grande do Sul
2.4 Tripes
São insetos muito pequenos (0,5 a 13 m). Atacam a parte aérea da planta, sugam a seiva e como conseqüência a as folhas perdem a coloração e surgem pontos escuros no local da picada. Os ataques intensos causam inicialmente lesões de brilho prateado, posteriormente as folhas secam e caem. Em muitas culturas, podem ser transmissores de vírus (ZUCCHI et al., 1993).
3. Controle
3.1 Controle de pulgões 3.1.1 Controle químico
Atualmente, não existem produtos registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) para controle de pulgões.
Na Argentina, por ser um país mais tradicional no cultivo da alfafa, existe nível de dano estabelecido para controle de pulgões (Tabela 1), bem como registro de produtos. No Brasil, ainda são necessários estudos nesse sentido.
Tabela 1. Nível de dano dos pulgões da alfafa.
Fonte: Adaptado de Aragón & Imwinkelried (1995). 3.1.2 Controle biológico
Devido ao microclima formado pelas características da cultura da alfafa, inúmeros insetos benéficos ali se desenvolvem e podem atuar como agentes de controle biológico (Tabela 2).
Espécie < 30 cm> 30 cm
Acyrthosiphon pisum 20-2530-40 Acyrthosiphon kondoi 15-2020-25 Therioaphis trifolii Primavera e outono: 40Verão: 20
27Insetos praga da alfafa Tabela 2. Inimigos naturais de pulgões da alfafa.
3.1.3 Controle cultural
Independentemente do uso ao qual a cultura se destina, se corte ou pastejo, essas práticas têm influência direta sobre a população de insetos. Carvalho et al. (1997) verificaram um declínio na população de A. pisum, A. kondoi e T. trifolii, após cada corte. Outra medida que pode ser adotada é o corte em faixas; com isso haveria a preservação dos inimigos naturais.
3.2 Controle de lagartas 3.2.1 Controle químico
Da mesma forma que para pulgões, não existem estudos mais detalhados no Brasil referentes ao nível de dano econômico causado pelas lagartas que atacam a alfafa; no entanto, a Argentina já possui a metodologia de amostragem e nível de dano bem estabelecidos (Tabela 3). O Brasil já conta com alguns produtos registrados no MAPA para a cultura (Tabela 4).
Classificação Inimigo natural
Eriopis conexa
Hippodamia convergens Coccinella ancoralis Coleomegilla sp. Nabis spp.
O tempo médio para a renovação dos alfafais tem sido de quatro anos. O número médio de cortes é de oito por ano, com produtividade anual de aproximadamente 10.0 kg/ha de feno. É grande a utilização de semente própria ou adquirida de vizinhos, embora haja algumas empresas que comercializam sementes. A produção de sementes é extremamente variável em função das condições climáticas anuais.
Praticamente toda a produção de alfafa da região é transformada em feno e destinada à comercialização para outras regiões do estado, especialmente Fronteira Oeste e Região Metropolitana de Porto Alegre, bem como para outros estados, entre eles Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul.
14 Tecnologias para a produção de alfafa no Rio Grande do Sul relativos ao controle de ervas daninhas, extremamente importante para o estabelecimento e conservação do alfafal; fertilidade do solo, cuja manutenção em geral é negligenciada e aspectos de manejo, como a definição do ponto de corte e altura de corte. Doenças e, principalmente, pragas, têm se tornado problemas graves, entre estas pode-se citar os pulgões, trips e percevejos. Quanto ao produto comercializado - o feno - além da instabilidade de preços, há dúvidas quanto ao ponto ideal de colheita, que otimize a proporção folha-caule; técnicas de secagem para manutenção de um bom aspecto e da coloração verde, evitando a presença de mofo e outras substâncias indesejáveis. Máquinas adequadas ao processo de corte e fenação, que atendam às recomendações de manejo e sejam viáveis para pequenas áreas também fazem parte das demandas. Outro aspecto importantíssimo e que não está merecendo a devido atenção por parte dos agricultores é a qualidade das sementes, destacandose a baixa produção, qualidade e fitossanidade das sementes obtidas nas lavouras da região.
Tabela 3. Produção de leite por município na área de abrangência da Coopatrigo. Missões, RS, 2007.
Pode-se inferir que há uma contradição, pois a produção de alfafa é exportada, enquanto existe um rebanho que demanda forragem de alta qualidade, muitas vezes convivendo na mesma propriedade. Razões de ordem de oportunidade econômica parecem estar associada ao fato. Entretanto, o aumento na demanda de leite, com a ampliação da capacidade industrial na região, poderá justificar um ajuste deste sistema. Desde já, há uma grande demanda dos agricultores por informações técnicas para a utilização da alfafa em pastejo.
Nos últimos anos, reconhecendo a importância da alfafa na sustentabilidade das pequenas propriedades e como alternativa às grandes lavouras na região, algumas instituições têm fomentado a cultura. A Coopatrigo iniciou este trabalho em 2005, e já financiou cerca de 300 hectares, para 199 agricultores. O Sicredi Missões tem atuado desde 2004, financiando 80 hectares para 45 agricultores (Tabela 4).
Ainda quanto ao fomento da produção da alfafa na região, podemos mencionar o apoio recebido do governo federal via PRONAF investimento (operacionalizado principalmente pelo Banco do Brasil) e do governo estadual, via projetos de desenvolvimento do RS RURAL, operacionalizado pelo Banrisul e EMATER/RS em parceria com Sindicatos de trabalhadores rurais, prefeituras municipais e agricultores familiares. Estes recursos
16Tecnologias para a produção de alfafa no Rio Grande do Sul foram aplicados principalmente na instalação de novos alfafais (correção e adubação do solo e aquisição de sementes), aquisição de equipamentos (pulverizadores manuais e tratorizados e enfardadeiras). Para incentivar a ampliação das áreas cultivadas com alfafa, algumas prefeituras na região das Missões estão cedendo em comodato máquinas para adubação do solo, colheita, enleiramento e enfardamento.
Em 2007, foi inaugurada no município de Roque Gonzáles, uma peletizadora de alfafa, como parte de um grande projeto de organização da cadeia produtiva da alfafa em parceria com todos os segmentos com interesse na cultura, visando otimizar os processos de produção, industrialização e comercialização, oferecendo ao mercado produtos de qualidade a preços competitivos. O investimento foi de aproximadamente R$ 50.0,0, via Banco do Brasil, e a capacidade de produção é de 120 toneladas por mês.
Outro aspecto sobre a sustentabilidade da cultura na região refere-se à demanda da cultura por mão-de-obra. Estima-se que cada hectare de alfafa empregue 1,5 pessoas. Assim, a atual área de alfafa no Estado envolveria 4372 pessoas, direta e indiretamente.
Assim, a procura por informações técnicas sobre o cultivo da alfafa tem aumentado e a colaboração entre instituições precisa ser intensificada, tanto na pesquisa como na transferência de tecnologias aos agricultores.
Insetos praga da alfafa
1. Introdução
A alfafa (Medicago sativa L.) se destaca pela alta produtividade e valor nutritivo, e é considerada um dos volumosos mais indicados para vacas de alta produção (VIANA et al., 2004). Seu cultivo exige certo critério, em especial nas regiões de clima subtropical e tropical, onde pragas e doenças podem trazer danos à cultura, como perda de rendimento e qualidade da forragem (EVANGELISTA e BUENO, 1999).
Independentemente da utilização da alfafa, se pastejo, corte ou obtenção de sementes, há formação de microclima devido à densidade de plantas e natureza semi-perene da cultura, o que constitui um ambiente favorável à proliferação de muitas espécies de ácaros e insetos, entre os quais se encontram as principais pragas dessa cultura (ARAGÓN e IMWINKELRIED, 1995).
Geocoris spp. Orius sp.
Predador
Chrysopa spp.
Aphidius spp. Parasitóide Praon sp.
Patógeno Entomophthora sp.
O procedimento para amostragem é o seguinte:
a) Revisar a lavoura uma vez por semana; b) Se as condições climáticas forem favoráveis ao estabelecimento das lagartas, reduzir para 4 ou 5 dias as verificações; c) Usar rede de varredura de aproximadamente 38 cm de diâmetro, de modo que a passada seja de 1,20 a 1,30 m; d) Realizar a contagem de lagartas maiores e menores que 10 m, utilizando a tabela, deve-se tomar a decisão de controle.
Tabela 4. Produtos registrados para controle de lagartas em alfafa.
Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil.
Cultivos < 30 cmCultivos > 30 cm
Larvas > 10 mLarvas > 10 m N.º amostragens Inferior Superior Inferior Superior
Nível de controle: 150 lagartasNível de controle: 300 lagartas
Inseticida (ingrediente ativo)Grupo químico
Triclorfon Organofosforado Bacillus thuringiensis Biológico
29Insetos praga da alfafa
3.2.2 Controle biológico
Na Argentina, têm sido observado fungos, bactérias, insetos e vírus afetando as lagartas, principalmente no que diz respeito à lagarta-da-alfafa (Tabela 5). No Brasil, ainda não existem estudos nesse sentido.
Tabela 5. Inimigos naturais da lagarta-da-alfafa.
3.2.3 Controle cultural
A antecipação no corte e/ou no pastejo pode reduzir a incidência e o dano causado pelas lagartas.
Fonte: Adaptado de Aragón & Imwinkelried (1995).
Estádio da lagartaInimigo natural
OvoTrichogramma sp. Balaustin sp.
Eriops connexa Hippodamia convergens Coccinella ancoralis
Ovos e lagartas pequenas
Coleomegilla sp. Larvas pequenas e médiasCalosoma sp.
Cotesia lesbiae
Euphocera sp.Larvas
Voria sp. Larvas médias e grandesBorrelina campeoles
1. Introdução
A cultura da alfafa tem despertado o interesse dos produtores rurais, em função de sua produtividade e, principalmente, pela qualidade da forragem produzida. A produtividade da alfafa pode ultrapassar com facilidade 20 t ha-1 de matéria seca com alta qualidade, mais de 20% de PB e mais de 70% de digestilibilidade in vitro (OLIVEIRA, 2006) e rica em minerais, como cálcio (Ca), fósforo (P) e vitaminas A e C (NUERNBERG et al., 1990).
Muito conhecida entre os criadores de cavalo, tem despertado a atenção também dos produtores de leite interessados em diminuir os custos de produção e aumentar a produtividade do rebanho. Com a cultura da alfafa torna-se possível a redução de custos de produção de forragem para o rebanho leiteiro e, quando bem manejada, pode apresentar custos de produção compatíveis com os da silagem de milho. A redução no custo de produção pode ser ainda maior se utilizada na forma de pastejo.
Ao contrário do que muitos pensam, a alfafa comum (Medicago sativa L.) não é uma planta de clima temperado. Entretanto, devido ao seu potencial de produção e sua adaptação às condições climáticas adversas como frio intenso durante vários meses, a alfafa é uma espécie forrageira utilizada principalmente em países de clima temperado.
No Brasil, embora a área cultivada com alfafa seja pequena, a cultura representa uma das mais promissoras ferramentas para o aumento da produtividade e aumento de competitividade da pecuária brasileira. A alfafa, quando bem manejada, possibilita a produção de um material de excelente qualidade, com até onze cortes por ano, no mínimo cinco cortes a mais que nos países de clima temperado (ANCHÃO, 1995). Devido às condições excelentes de clima e a possibilidade de produção superior a dos países maiores produtores, a perspectiva para o cultivo da alfafa no Brasil é muito grande, apesar das tímidas iniciativas ocorridas até o presente momento e praticamente restrita à fenação.
A alfafa utilizada sob forma de pastejo tem seu custo reduzido em 50% quando comparada à fenação e pode ser uma alternativa para reduzir os custos da alimentação dos bovinos leiteiros, em razão da economia com fertilizantes nitrogenados, da diminuição do uso de alimentos concentrados e da contribuição para o aumento da produção de forragem na época seca do ano, dada sua baixa estacionalidade. Por se tratar de uma planta de ciclo fotossintético do tipo C3, as cultivares de alfafa não dormentes apresentam pouca estacionalidade de produção de biomassa durante os meses de inverno, sob as condições climáticas da região centro-sul do Brasil, ao contrário das gramíneas tropicais, que possuem o ciclo fotossintético do tipo C4, sensíveis a dias curtos e temperaturas baixas.
Trabalhos de seleção de alfafa desenvolvidos recentemente identificaram cultivares apropriadas à utilização sob pastejo, de alta qualidade nutricional (VILELA, 1994; OLIVEIRA et al., 2001; OLIVEIRA, 2006), com baixa estacionalidade de produção de forragem e tolerantes ao pisoteio (OLIVEIRA, 2001; OLIVEIRA et
Uso de alfafa para pastejo bovino.
2. O cultivo da alfafa para pastejo
O estabelecimento de um alfafal para uso em pastejo é semelhante ao de uma lavoura para feno ou silagem. O plantio da alfafa exige do agropecuarista atenção e dedicação especiais, visto que é a etapa mais importante da atividade. Por se tratar de uma cultura semi-perene, de ciclo de exploração potencial de até oito anos, o estabelecimento do alfafal deve ser conduzido com uma série de precauções e medidas para sua exploração economicamente viável.
2.1 Estabelecimento da cultura
Para a implantação de um alfafal devemos observar alguns pontos importantes para o sucesso da atividade como:
2. 1.2 Densidade de semeadura e estande
As recomendações de quantidade de sementes a serem utilizadas por hectare são muito variadas. No entanto, sabe-se que a utilização de 10 a 15 kg de sementes por hectare é suficiente para a obtenção de um bom estande, sendo a quantidade maior usada quando a alfafa for semeada a lanço. O estande (número de plantas por metro quadrado) que garante o estabelecimento de um alfafal é de aproximadamente 120 plantas por metro quadrado (ANCHÃO, 1995). É possível estabelecer um alfafal com taxas de semeadura baixas, da ordem de 3 kg/ha de sementes, entretanto, a dificuldade de distribuição das sementes se torna muito grande. Apesar de desnecessário, também existe recomendação de altas densidades, chegando a até 50 kg/ha de sementes. No Rio Grande do Sul não foram observadas diferenças significativas na produção de matéria seca com semeadura de 5 a 15 kg/ha de sementes, desde que essas sejam de boa qualidade. A recomendação oscila entre 12 a 20 kg/ha, dependendo da forma de semeadura (KEPLIN e SANTOS, 1991).
36Tecnologias para a produção de alfafa no Rio Grande do Sul
Antes de decidir a densidade de semeadura a ser utilizada, devem ser considerados alguns pontos: estande adequado produz plantas com maior vigor que competem melhor com as plantas daninhas; densidade de semeadura muito baixas podem proporcionar falhas de plantio que não se recuperam, pois a alfafa não possui a mesma capacidade que as gramíneas para recuperar o estande. Dessa forma, haverá queda na produtividade e possibilidade de aparecimento de plantas daninhas. Altas taxas de semeadura geram plantas com raízes fracas, susceptíveis ao ataque de pragas e doenças. Quanto maior a taxa de semeadura maior o número de plântulas que, no entanto, morrem por competição entre si, além de refletir em aumento sensível no custo de implantação de um alfafal, visto que um quilo de semente de alfafa custa entre 10 e 20 dólares.
2. 1.2 Condições físicas do solo
O plantio de alfafa é realizado tanto a lanço quanto em linha por semeadoras mecanizadas, sendo a segunda opção a de melhores resultados. O solo para o plantio de alfafa deve estar bem preparado sem a presença de torrões, tocos e pedras. Devese, no entanto, evitar a pulverização do solo.
Após o plantio deve-se promover o melhor contato entre a semente e solo através de compactação realizada com rolo próprio. Nas áreas onde existe a possibilidade de irrigação e em que a semeadura foi realizada em linha e em sulcos, a compactação pode ser dispensada. O impacto das gotas de água sobre a superfície do solo proporciona o contato necessário, além de adiantar o processo de germinação através da hidratação da semente.
O solo utilizado para o plantio da alfafa não pode apresentar problemas de drenagem da água de chuva, pois a alfafa é extremamente sensível ao encharcamento de suas raízes. Nestas condições, as raízes são muito prejudicadas, aumentando a possibilidade de ataque de pragas e doenças. Este fato diminui a longevidade do alfafal e sua produtividade de forragem. Também não pode apresentar impedimentos físicos superficiais, pois o
37Uso de alfafa para pastejo bovino sistema radicular da alfafa é pivotante, muito agressivo e explora grandes profundidades, atingindo com facilidade cinco metros.
2.1.3 Profundidade de semeadura
A profundidade de semeadura influencia diretamente o vigor das plântulas e a inadequada deposição das sementes pode propiciar grandes problemas para o estabelecimento da cultura. Semeadura muito profunda dificulta a germinação, produzindo plântulas debilitadas e favorecendo o ataque de fungos causadores do damping-off (tombamento de plântulas) (ANCHÃO, 1995).
A profundidade média para deposição das sementes gira em torno de 1,5 cm. No entanto, existem trabalhos na literatura que diferenciam a textura dos solos e recomendam a profundidade de 1,5 a 2,0 cm para solos argilosos e 1,5 a 2,5 cm para solos arenosos (KEPLIN e SANTOS, 1991).
Na Figura 1 é possível verificar o desenvolvimento de plântulas de alfafa semeadas em profundidade e condição de solo adequadas.
No ato da semeadura, caso o plantio seja realizado com semeadora-adubadora, devemos regular a deposição do fertilizante entre 2,5 e 5,0 cm de profundidade, de forma a evitar contato direto das sementes com os sais utilizados como fertilizantes, como o cloreto de potássio.
Figura 1. Desenvolvimento de plântulas de alfafa. (Adaptado de Hanson, 1975).
38Tecnologias para a produção de alfafa no Rio Grande do Sul
2.1.4 Tipo de semeadura e espaçamento Existem dois tipos básicos de semeadura: a lanço e em linha.
A semeadura a lanço consiste na distribuição de semente manualmente ou com espalhadora de fertilizante do tipo pendular. Embora seja de fácil execução e baixo custo, não proporciona uma boa distribuição das sementes. Nas áreas que recebem mais sementes a penetração de luz é dificultada, o que provoca senescência mais rápida e queda das folhas mais baixas. Outro problema da semeadura a lanço está na escolha do dia adequado, pois em dias de forte vento a distribuição pode ser comprometida. Não existe a possibilidade de regular o espaçamento entre plantas nesse sistema.
A semeadura em linhas pode ser realizada em vários espaçamentos, podendo ser feita manualmente com pequenos instrumentos adaptados (lata furada, garrafa furada, matraca), ou por semeadoras mecanizadas para sementes pequenas. A recomendação de espaçamento entre linhas é de 15,0 cm para campos onde pretende-se utilizar herbicidas e 30,0 cm para campos com capina manual. Atualmente não se recomenda a capina manual, devido ao custo elevado, possibilidade de injúria sobre a coroa da planta, além do fato de que espaçamentos acima de 20 cm apresentam reduzida produtividade.
No Rio Grande do Sul, Keplin e Santos (1991) recomendam o plantio em linha com espaçamento de 17 cm entre linhas e salientam para maior produção de forragem. Evangelista et al., 2001 também observaram maior produção de forragem e proteína bruta com economia de 5 kg/ha de sementes quando a alfafa foi semeada em linha.
O uso de herbicida pré-emergente ou pós-inicial e o plantio em linhas menos espaçadas entre si, proporciona maior eficiência no controle das plantas daninhas, menores custos com mão-deobra, menores danos nas plantas de alfafa, além de uma melhor distribuição das plantas sobre a área. Essa distribuição diminui a
39Uso de alfafa para pastejo bovino competição entre plantas e diminui a proliferação de pragas e doenças devido à maior penetração dos raios de sol na área.
2.2 Inoculação e peletização das sementes
A alfafa possui a capacidade de produzir alta quantidade de uma forragem rica, palatável, nutritiva, quando bem manejada. Mais de trinta toneladas de matéria seca por hectare e ano foram obtidas no Ceará (ARAÚJO FILHO, 1972). Um dos fatores básicos que contribuem para o elevado potencial forrageiro da alfafa é a sua capacidade de fixação de nitrogênio atmosférico.
A alfafa (Medicago sativa L.) é uma planta da família das leguminosas (Fabaceae). Essa família, que inclui plantas como o feijoeiro, soja e amendoim, e árvores como o angico e a sibipiruna, possui em comum algumas características. Dentre essas, podemos destacar como a mais importante a capacidade de se associar com bactérias da família Rhizobiaceae, formando o que se denomina uma “simbiose”. O rhizobium específico da alfafa é o Sinorhizobium meliloti. Essa simbiose propicia à planta uma fonte de nitrogênio retirado do ar (N2) pela bactéria, que é absorvido pelas raízes. Em troca, a planta fornece alimento para a bactéria na forma de seiva. Essa capacidade confere à cultura da alfafa e das demais leguminosas uma economia representativa em adubos nitrogenados e pode ser obtida através da inoculação da bactéria no ato do plantio. No caso da alfafa, é possível fixar mais de 900 kg/ha de nitrogênio por ano, o que corresponde a mais de 90% do necessário ao seu desenvolvimento (OLIVEIRA et al., 2003).
Figura 2. Nódulos de alfafa.
Apesar de ser bastante antigo o conhecimento do Rhizobium (1886) e da possibilidade do uso dessas bactérias através da inoculação do solo, liberando a cultura das adubações nitrogenadas, ainda hoje se constata tanto a implantação de campos de produção de alfafa sem a inoculação, como insucessos por desconhecimento dos procedimentos necessários para a sua execução. Este fato deve receber a maior atenção dos produtores, principalmente pela vantagem econômica que representa. O potencial de fixação de nitrogênio é influenciado, entre outros fatores, pela interação entre o genótipo (cultivar) da alfafa e a estirpe do Rhizobium. Nos solos tropicais, que não possuem o Rhizobium específico para alfafa, torna-se indispensável a inoculação das sementes antes da semeadura. Isso permite a
41Uso de alfafa para pastejo bovino introdução de estirpes mais eficientes, sem a concorrência de estirpes nativas.
Para o plantio de 1 ha de alfafa são necessários 10 kg de sementes e uma dose de inoculante de 200 g. Certamente a inoculação promove o suprimento de mais de 600 kg/ha.ano de nitrogênio pela fixação biológica, então tem-se que:
Esse cálculo, mais o fato de que a inoculação só pode ser realizada durante o plantio, não sendo viáveis inoculações com o alfafal já estabelecido, mostra a importância das precauções para que a inoculação seja bem sucedida.
1.2.1Fatores que interferem na inoculação
Alguns fatores interferem drasticamente no sucesso da inoculação e estabelecimento da simbiose, como vemos a seguir:
2.2.1.1 Acidez do solo - Assim como as plantas da alfafa, o Sinorhizobium meliloti é sensível a solos ácidos. A formação de nódulos nas raízes das plantas é muito mais sensível ao pH do que a bactéria em vida livre. A calagem em níveis adequados para a planta da alfafa é suficiente para proporcionar condições ótimas para a sobrevivência das bactérias no solo e formação dos nódulos.
ItemValor (R$)
- 1 dose de inoculante (200 g) - 1 kg de nitrogênio
- Vida útil do alfafal
5 anos
- Custo da inoculação por ano - Economia com fertilizante durante a vida útil do alfafa
42Tecnologias para a produção de alfafa no Rio Grande do Sul
2.2.1.2 Temperatura do solo - De maneira geral, para as leguminosas tropicais, temperaturas diurnas de 20 a 32 oC são ótimas para a nodulação, funcionamento da simbiose e crescimento das plantas. Temperaturas baixas retardam a formação dos nódulos radiculares, enquanto que em temperaturas altas os nódulos se formam mas não retiram o nitrogênio do ar.
2.2.1.3 Umidade - A água é um importante fator para o transporte das bactérias pelo solo. O excesso de umidade impede a aeração do solo diminuindo a retirada de nitrogênio do ar. A falta de umidade desseca a bactéria provocando sua morte.
2.2.1.4 Compactação - solos extremamente compactados ou inundados inibem o desenvolvimento das raízes, diminuindo a eficiência do processo de nodulação.
2.2.1.5 Disponibilidade de nitrogênio - Devemos salientar que no início do desenvolvimento das plantas é necessário que exista uma pequena quantidade de nitrogênio no solo para o desenvolvimento inicial das plantas. A falta de nitrogênio inibe o processo por produzir plantas fracas e incapazes de se estabelecerem, o excesso impede a formação da simbiose, porque é mais fácil para a planta extrair nitrogênio do solo sem ter que dar nada em troca, do que no processo de simbiose com a bactéria em que a planta tem que fornecer seiva.
2.2.1.6 Uso de herbicidas, inseticidas e fungicidas -
O uso de defensivos agrícolas utilizados para controlar pragas e doenças no plantio pode provocar efeitos negativos sobre a população de Rhizobium no solo. O uso de herbicidas para controle de ervas daninhas e, fungicidas para o tratamento de sementes são práticas imprescindíveis para a cultura da alfafa, principalmente em grandes áreas, então estudos que estabeleçam quais defensivos podem ser usados sem causar danos à rizobiologia do sistema são de suma importância.
43Uso de alfafa para pastejo bovino Tabela 1. Medidas preventivas para o sucesso da inoculação.
2.2.2 Recomendações para inoculação e peletização de sementes de alfafa
É importante salientar que junto ao procedimento de inoculação, podemos realizar também a peletização das sementes de alfafa. Devido a seu tamanho reduzido fica muito difícil regular a semeadora para a distribuição perfeita da semente de alfafa. Isso pode ser resolvido por meio da peletização que é o processo de aumentar o tamanho da semente, que ficará envolta com uma camada de calcário Filler.
Procedimento e quantidades para 10 kg de sementes:
Situação Sugestão
Acidez do soloCorreção da acidez do solo através de calagem adequada, o que também elimina o problema da toxidez do alumínio e manganês
AdubaçãoCorreção das deficiências nutricionais do solo, especialmente Cálcio, Fósforo, Magnésio, Cobalto e Molibdênio
Solos salinosEvitar o plantio em solos salinos e, caso não seja possível, evitar adubos como cloreto de potássio que podem promover o aumento da salinidade do solo
AeraçãoVerificar a aeração do solo evitando solos inundados e procedendo a subsolagens em caso de compactação excessiva do solo
Qualidade do inoculante Procurar adquirir o inoculante de empresas idôneas
Conservação do inoculante Conservar os pacotes de inoculantes em geladeira até o momento da inoculação
InoculaçãoRealizar as operações de inoculação e peletização das sementes a sombra. Sementes inoculadas devem ser utilizadas no máximo no dia seguinte após a inoculação. Evitar a compra de sementes préinoculadas
1) Preparar a solução aderente. Dissolver em um copo de água fria 50 gramas de polvilho, em seguida misturar em 2 litros de água fervente;
2) Resfriar a solução aderente e colocar o inoculante (200 g), misturando bem; 3) Derramar a suspensão sobre as sementes já tratadas com fungicida e misturá -las;
4) Adicionar sobre as sementes, de maneira lenta e gradual, o calcário filler (6 kg/10 kg de semente);
5) Misturar em movimentos circulares, até que todas as sementes estejam recobertas;
6) Deixar o material secar a sombra bem esparramado, durante 12 horas; 7) plantar no dia seguinte.
44Tecnologias para a produção de alfafa no Rio Grande do Sul
2.3 Adubação e calagem
De todos os passos que compreendem o estabelecimento e manutenção de um alfafal, a adubação e calagem são os principais. A cultura da alfafa é muito exigente em fertilidade e controle de acidez.
Como o sistema radicular da alfafa é capaz de atingir grandes profundidades, deve-se considerar a fertilidade de solo nas camadas de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm de profundidade para calcular a aplicação de calcário e fertilizantes em alfafa. A eliminação de toxidez de alumínio e o fornecimento de cálcio em profundidade é importante para permitir o bom desenvolvimento do sistema radicular em alfafa.
De modo geral, a calagem deve ser realizada em quantidade suficiente para a elevação da saturação de bases a 80% na Capacidade de Troca de Cátions (CTC) do solo e pH em torno de 6,5. Não é difícil encontrar produtores que utilizam dose de calcário maior que a prevista, em virtude da dificuldade em se alcançar efetivamente os índices exigidos. Antes do estabelecimento da cultura, o calcário deve ser incorporado no mínimo a 20 cm de profundidade. Após o estabelecimento, as correções de acidez devem ser realizadas em superfície.
A cultura da alfafa, além de exigente em condições de fertilidade, exige especial atenção com os níveis dos micronutrientes. A análise de solo realizada antes do plantio deve quantificar também os micronutrientes, principalmente boro, cobalto e molibdênio. Outros micronutrientes como ferro, zinco, cobre e manganês também são importantes porque são gradativamente indisponibilizados com o aumento do pH do solo.
Um alfafal de alta produtividade, com mais de 20 t/ha de matéria seca ao ano, pode extrair mais de 600 kg de nitrogênio, 60 kg de fósforo, 450 kg de potássio, 250 kg de cálcio, 40 kg de magnésio e 50 kg de enxofre por hectare por ano. Essas quantidades de nutrientes devem ser repostas durante o período
45Uso de alfafa para pastejo bovino de um ano, lembrando-se que para alguns nutrientes há necessidade de parcelamento para melhor eficiência de uso.
É importante ressaltar que a necessidade de adubação inicial e de correção devem ser calculadas de acordo com a análise do solo por um Engenheiro Agrônomo, mas algumas particularidades podem ser adiantadas:
- Adubação nitrogenada, tanto no início quanto na manutenção da cultura, é dispensável;
- A adubação com fósforo deve ser feita preferencialmente com super fosfato simples em virtude da adição de enxofre e micronutrientes. O termofosfato magnesiano também é eficaz, porém exige a adição de enxofre;
- Para adubação com potássio, recomenda-se o uso de cloreto de potássio, salvo em solos salinizados;
- A correção dos níveis de cálcio e magnésio, normalmente faz-se através da calagem, dando preferência ao calcário dolomítico. Quando utilizado outro tipo de calcário devese fazer correções dos níveis de magnésio;
- A correção dos níveis de micronutrientes pode ser realizada com sulfato de zinco, sulfato de cobre e bórax em duas aplicações anuais;
- De um modo geral, os adubos utilizados no parcelamento são o superfosfato simples e cloreto de potássio.
- Após a implantação, a correção de acidez do solo dos anos subsequentes deve ser feita em superfície durante os meses de julho a agosto.
A recomendação oficial para o Estado de São Paulo (Boletim 100) caracteriza a alfafa como uma planta forrageira de uso intensivo (WERNER et al., 1996) e sugere a correção da saturação por bases para 80% para o estabelecimento e manutenção da alfafa. Os autores não recomendam o uso de N em nenhuma fase do desenvolvimento da cultura. A recomendação de fertilização de estabelecimento com fósforo (P) é de 150, 130, 100, 50 kg/ha de
é de 130, 100, 60, 50 kg/ha de K2O quando os níveis de K no solo estiverem entre 0 e 0,7; 0,8 e 1,5; 1,6 e 3,0 e acima de 3,0 mg/dm3 respectivamente. A recomendação de enxofre é de 50 kg/ha durante o estabelecimento. Os micronutrientes recomendados para a adubação de plantio da alfafa são boro, cobre, molibdênio e zinco. As doses de zinco são de 3 a 5 kg/ha, equivalentes a 15 a 25 kg/ha de sulfato de zinco; 1 a 3 kg/ha de cobre, equivalentes a 7,7 a 23 kg/ha de sulfato de cobre e 1 a 1,5 kg/ha de boro, equivalentes a 9 a 13,3 kg/ha de bórax.
No estabelecimento torna-se interessante o uso de micronutrientes em tratamento de sementes, principalmente para atender às necessidades de cobalto e molibdênio, importantes nutrientes para a fixação biológica do nitrogênio. Em alfafais de alta produção, a fertilização foliar tem sido usada para auxiliar no fornecimento de micronutrientes, especialmente boro, cobalto e molibdênio.
Além dos aspectos citados anteriormente, o manejo de pragas, doenças e, principalmente, o controle das ervas daninhas, que são tópicos de outros capítulos desse livro, são de suma importância também nos alfafais destinados ao pastejo.
2.4 Escolha da cultivar e potencial de produção
A produção da alfafa, assim como outras culturas forrageiras apresenta seu pico de produção nos meses de verão. No entanto, a alfafa apresenta a vantagem de produzir satisfatoriamente mesmo nos meses mais frios do ano.
47Uso de alfafa para pastejo bovino
Existem registros de produção de mais de 30 t/ha de matéria seca por ano (ARAÚJO FILHO et al., 1972), mas, para a cultivar mais explorada pelos produtores, a cultivar Crioula, os registros encontram-se entre 20 e 25 t/ha de matéria seca por ano. É válido lembrar que a produção de matéria seca da alfafa no inverno é inferior a do verão, mas, ainda assim é bem superior ao das gramíneas de um modo geral.
No Sul do País alguns trabalhos já foram desenvolvidos com ênfase no melhoramento genético da alfafa para pastejo. Nessa Região do Brasil, Perez et al. (2002) encontraram sobrevivência de 90, 65, 59, 5 e 45%, respectivamente para as cultivares ABT 805, Crioula (sementes chilenas), Crioula Roque e Crioula Ledur, o que demonstrou o potencial de uso das diversas populações de alfafa Crioula para pastagem. O artigo de Favero et al., 2008 também demonstra o interesse por essas populações no desenvolvimento de cultivares adaptadas ao pastejo.
3. Formas de uso da alfafa
A alfafa pode ser usada de várias formas – fenação, forragem verde, ensilagem, pastejo, e forragem peletizada (compactada). A fenação e a forragem verde são as formas mais tradicionais de uso da alfafa e muito empregadas no sul do País. Entretanto, devido ao clima brasileiro, a fenação torna-se uma tarefa onerosa e laborosa e com grande possibilidade de perda pela ocorrência de chuvas durante o proceso de fenação. A adoção do pastejo de alfafa poderia reduzir o custo deste volumoso em cerca de 50%, baixando para U$ 0,06 e U$ 0,04 por quilograma de massa seca produzido, tomando como base os levantamentos de Resende (1992) e Anchão (1992) respectivamente, além de tornar o uso da alfafa uma tarefa menos árdua. Dessa forma, alguns grupos de produtores iniciaram o pastejo da alfafa, procurando principalmente redução de custos e de perdas. Instituições de pesquisa e de extensão também juntaram esforços no sentido de implementar o pastejo de alfafa nas propriedades produtoras de leite do Brasil.
A plena implementação do uso de alfafa para pastejo no Brasil ainda depende de mais estudos, considerando-se que o pastejo é a forma de aproveitamento da alfafa de mais díficil controle, dado o efeito do animal sobre a planta.
49Uso de alfafa para pastejo bovino
3.1 Pastejo em alfafa
O uso de alfafa para pastejo ainda é pouco estudado no Brasil, embora haja trabalhos que indicam potencial técnico e econômico para esse fim, como observado em Minas Gerais por Vilela (1994) onde o pastejo de alfafa por vacas em lactação suportou até 3,1 ua ha-1 com produção média de leite de 20,0 kg vaca-1 dia-1, sem comprometimento do peso vivo, da capacidade reprodutiva e sem problemas de empanzinamento dos animais. No Rio Grande do Sul, Costa e Saibro (1994) encontraram excelentes resultados no acúmulo de carboidratos não estruturais para o consórcio de alfafa e gramínea a uma taxa suave de pastejo e com a altura do resíduo de 10 cm. A escassez de informações no Brasil em relação ao pastejo de alfafa contrasta com o grande número de trabalhos desenvolvidos no exterior em relação ao tema.
Na Argentina, 65 a 70% da produção de leite de vacas provém de pastagens, sendo a alfafa a espécie de maior importância, com participação variável de 30% no outono/inverno e até 80% na primavera/verão (COMERÓN e ROMERO, 2007), o que demonstra o potencial de uso da alfafa para pastejo. Nesse país, o trabalho de seleção e teste de cultivares de alfafa para pastejo vem sendo conduzido pelo INTA desde 1971, tendo apresentado resultados extremamente importantes para a pecuária leiteira por meio do programa intitulado Red Nacional de Evaluación de Cultivares de Alfalfa (HIJANO, 1994).
As razões citadas por Comerón e Ramero, 2007 para a adoção do pastejo de alfafa na Argentina foram os altos rendimentos de forragem, elevada qualidade de forragem, possibilidade de uso durante todo o ano e baixo custo da forragem produzida.
Nos EUA, o pastejo de alfafa também é largamente empregado, e nas últimas décadas cultivares específicas para pastejo foram desenvolvidas. Várias cultivares foram selecionadas por Bouton e colaboradores, dentre elas a Alfagraze, para climas
50Tecnologias para a produção de alfafa no Rio Grande do Sul frios, a Cut’n’Graze, originária da cultivar Apollo (BOUTON et al., 1995), e a cultivar ABT 805 originária da Cultivar Flórida-7 (BOUTON et al., 1997), que não apresenta período de dormência, devendo produzir satisfatoriamente durante o inverno.
3.2 Aspectos práticos do pastejo de alfafa
Em países como a Argentina, existe a adoção do pastejo exclusivo de alfafa e muitos trabalhos de pesquisa e extensão são feitos nesse sentido. De modo geral, o manejo do pastejo da alfafa naquele país é conduzido de forma a conciliar a produção de leite por animal e por unidade de área, adotando-se uma oferta de forragem de aproximadamente 1,5 vezes o consumo máximo esperado, o que equivaleria a um valor de 20 a 2 kg MS/vaca.dia de oferta de forragem, ou seja, ao redor de 4% do peso vivo, com uma eficiência de utilização de pelo menos 70% (COMERÓN e ROMERO, 2007).
No Brasil, a proposta de uso da alfafa para pastejo é diferente, e a pretensão é inserir algumas horas de pastejo exclusivo de alfafa nos sistemas de produção de leite que utilizam gramíneas forrageiras tropicais (coloniões, braquiárias, capim elefante e espécies do gênero Cynodon) como a principal fonte de volumosos. Normalmente, tem-se realizado 2 a 3 horas de pastejo em alfafa com a finalidade de diminuir o fornecimento de concentrados e o uso de fertilizantes nitrogenados. A quantidade de matéria seca ingerida pelos animais tem sido da ordem de 3 a 4 kg MS/dia, nesses sistemas. Para isso é implantada uma área de alfafa, que é dividida em piquetes com o período de ocupação de um dia e o período de descanso variando de 28 a 35 dias, dependendo da época do ano. O pastejo de alfafa, por ser adotado em um número de horas restrito, tem sido realizado durante o dia. O pastejo com as gramíneas tropicais, por constituírem a maior parte da forragem, tem sido realizado após a última ordenha, por um período de 10 a 14 horas, até a retirada dos animais para a primeira ordenha, pela manhã.
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