quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Impacto econômico da utilização da alfafa (vacas)


Impacto econômico da utilização da alfafa na alimentação de vacas leiteiras

Para demonstrar a viabilidade econômica da utilização da alfafa na alimentação de vacas leiteiras, tomou-se como referência um sistema de produção de leite tradicional em que as vacas, com lactação média de 25 l/dia, são alimentadas com capim-tanzânia e concentrado no período das águas (novembro a março) e, silagem de milho e concentrado, no período da seca (abril a outubro). Neste exemplo, o produtor destina 35 ha de sua propriedade ao sistema de produção de leite e há fêmeas de reposição.
O emprego da alfafa no sistema tradicional, como uma terceira fonte de volumoso, muda o volume da matéria seca das forragens e do concentrado. Observa-se que a área com capim-tanzânia reduzirá de 12,13 ha para 10,11 ha e a área destinada à silagem de milho de 22,87 ha para 17,52 ha. A introdução da alfafa, no sistema tradicional, será a única mudança proposta. A alfafa será fornecida em pastejo direto na quantidade de 5 kg MS/vaca/dia durante todo o ano (Tabelas 1 e 2). Para consumir 5 kg de MS alfafa/vaca/dia são necessários 2:00 hs de pastejo, sugere-se 1 hora após a ordenha da manhã e 1 hora após a ordenha da tarde. Sugere-se pastejo em faixas na área de alfafa, para maior eficiência no uso da forragem (Tabela 2).
O manejo alimentar indicado é fornecer, na época da seca, silagem de milho e concentrado duas vezes ao dia, 40% pela manhã e 60% à tarde, sempre após o pastejo em alfafa, objetivando estimular o consumo desta forrageira. Na época das águas, o concentrado será também fornecido duas vezes ao dia, 40% pela manhã e 60% à tarde, também após o pastejo em alfafa, para estimular o consumo desta forrageira. À tarde, após o segundo pastejo em alfafa, os animais ficarão livres para pastejar o capim-tanzânia que ocorre, preponderantemente, à noite. Para animais com produção superior a 6.000 litros de leite por lactação, recomenda-se alfafa participando com 30% a 40% da matéria seca consumida.

 
Tabela 1. Informações da tecnologia utilizada pelo sistema tradicional
 
Silagem de milhoCapim-tanzâniaConcentrado
Consumo/vaca/dia verão (kg MS)-10,408,14
Consumo/vaca/dia inverno (kg MS)12,60-5,45
Área (ha)22,8712,13-
Produção (Ton./MS/ha)13,0115,3-

Tabela 2. Informações da tecnologia com o emprego da alfafa no sistema tradicional
 
Alfafa         Silagem de milhoCapim-tanzâniaConcentrado
Consumo/vaca/dia verão (kg MS)5,00-7,016,89
Consumo/vaca/dia inverno (kg MS)5,007,62-5,67
Área (ha)7,3717,5210,11-
Produção (Ton./MS/ha)20,0013,0015,30-
A composição do concentrado, na época da seca e das águas, para o sistema tradicional e com alfafa, consta das Tabelas 3 e 4. Observa-se que a adição da alfafa, como parte da dieta, permite reduzir e eliminar o farelo de soja na época da seca e das águas, respectivamente.

Tabela 3. Quantidade dos ingredientes das dietas nos tratamentos controle e de pastejo em alfafa na época da seca1.
 
Ingrediente2 Sistema TradicionalSistema com Alfafa
Silagem de milho12,607,62
Alfafa0,005,00
Farelo de Milho1,303,75
Farelo de Soja3,561,33
Núcleo Mineral0,420,42
Bicarbonato de Sódio0,160,16
Monensina Sódica0,010,01
Matéria Seca Total18,0518,29
1Critério adotado: dieta isoenergética e isoprotéica; 2Quantidade do ingrediente (kg.animal.dia-1)

Tabela 4. Quantidade dos ingredientes das dietas nos diversos tratamentos controle e de pastejo em alfafa na época das águas1.
 
Ingrediente2Sistema TradicionalSistema com Alfafa
Capim-tanzânia10,407,01
Alfafa0,005,00
Farelo de Milho6,256,30
Farelo de Soja1,300,00
Núcleo Mineral0,420,42
Bicarbonato de Sódio  0,160,16
Monensina Sódica0,010,01
Matéria Seca Total18,5418,90
1Critério adotado: dieta isoenergética e isoprotéica; 2Quantidade do ingrediente (kg.animal.dia-1)
A análise bromatológica da silagem de milho, do capim-tanzânia, da alfafa, do farelo de milho e do farelo de soja, componentes das dietas, encontra-se na Tabela 5. A alfafa, pela sua qualidade forrageira, pode ser avaliada como substituto parcial do concentrado ou como indutor da melhoria da qualidade da forragem consumida pelo animal. Já o capim-tanzânia e a silagem de milho, como parte da dieta, fornecerão a energia digestível ou metabolizável que está em déficit, equilibrará a proteína de alta degradabilidade que está em excesso e reduzirá o potencial de timpanismo que pode ocorrer quando se utiliza alfafa como único volumoso (RODRIGUES et al., 2008).
 
Tabela 5. Análise bromatológica dos componentes das dietas experimentais1.
 
Parâmetro          Silagem de MilhoTanzâniaAlfafaFarelo de MilhoFarelo de  Soja
PB (% da MS)8,2516,2325,609,2448,93
Proteína Solúvel (% PB)41,4042,0030,0011,0035,90
FDN (% da MS)44,2565,0044,0816,7114,88
FDA (% da MS)22,5338,9129,015,939,49
N-FDN (% da MS)0,131,170,970,210,32
Lignina (% da MS)3,484,117,211,512,50
Extrato Etéreo (% da MS)3,202,273,246,050,93
Cinzas (% da MS)3,508,7810,311,618,28
1Laboratório de Nutrição Animal, Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP.
Os investimentos necessários para introdução da alfafa no sistema tradicional são apresentados na Tabela 6, e a viabilidade econômica e financeira foi analisada levando-se em conta um horizonte de planejamento de oito anos. O custo de formação da alfafa será depreciado em três anos, tempo de vida útil de um alfafal. A rotação de cultura na área de alfafa será feita com milho. Estima-se que a alfafa, após três anos de cultivo na mesma área, contribua com 100 kg/ha de N residual para a cultura subsequente (SHEAFER et al., 1991). Normalmente, a rotação de cultura com alfafa é feita com milho.
 
Tabela 6. Investimentos na produção de alfafa
 
ItensR$
Investimento em equipamentos de irrigação54.012,85
Investimento em formação da alfafa no primeiro ano20.092,42
Investimento total74.105,27
O investimento foi financiado com prazo de oito anos com taxa de juros real de 1% (taxa de juros nominal-inflação). Os fluxos de caixa foram projetados em moeda constante, portanto, a taxa de juros considerada foi real. Na Tabela 7, são apresentados os custos de produção das vacas no sistema tradicional e no sistema com alfafa.
 
Tabela 7. Custos de produção operacionais das vacas no sistema tradicional e no sistema com alfafa.
 
Itens de custo de produção em R$Sistema tradicionalSistema com alfafa
Sal mineral4.412,454.656,42
Concentrado época das águas53.565,5438.734,54
Concentrado época da seca83.889,9459.570,09
Silagem de milho81.474,9552.264,52
Mão-de-obra139.654,77147.376,43
Vacinas e medicamentos7.662,738.086,41
Inseminação artificial6.077,516.413,54
Manutenção do capim-tanzânia30.728,3425.598,36
Manutenção da alfafa-46.525,98
Manutenção de benfeitorias, máquinas e equip.2.298,822.425,92
Custo operacional total410.687,91391.652,22
Nº de vacas em lactação 7781
Nº de vacas secas 1414
Nº de rufiões33
Custo operacional/vaca/ano15.359,554.843,34
1Inclui vaca seca e rufiões
Mesmo com um maior número de vacas no sistema que utiliza alfafa, reduziu o consumo de concentrado, dado o potencial proteico desta leguminosa, que permite reduzir (Tabela 3) ou eliminar (Tabela 4) farelo de soja da dieta na época da seca e das águas, respectivamente. Houve também menor consumo de silagem de milho e redução no custo de manutenção do capim-tanzânia (Tabela 7), explicando o menor custo/vaca/ano no sistema que utiliza alfafa. O sistema com alfafa permitiu alocar mais quatro vacas em lactação do que no sistema tradicional, dada a maior competitividade da alfafa na produção de matéria seca/ha (Tabela 2).
A variação nos custos operacionais de fêmeas de reposição é pequena, os itens de custos são os mesmos, com as diferenças sendo atribuídas ao menor número de animais do sistema tradicional (Tabela 8). Foram ofertados dois kg de concentrado para fêmeas de reposição durante todo o ano, a partir dos seis meses de idade.
 
Tabela 8. Custos de produção operacionais de fêmeas de reposição do sistema tradicional e do sistema que utiliza alfafa do nascimento aos 24 meses.
 
Itens de custo de produção em R$Sistema TradicionalSistema com alfafa
Leite das bezerras7.448,177.859,99
Sal mineral1.540,031.625,17
Concentrado26.288,7527.801,83
Silagem de milho28.491,4829.025,94
Vacinas e medicamentos9.999,8610.552,76
Inseminação artificial2.605,582.749,65
Manutenção de pastagens (capim-tanzânia)9.001,389.506,07
Manutenção de benfeitorias, máquinas e equip.2.999,963.165,83
Custo operacional total90.610,8494.651,39
Nº de fêmeas de reposição3335
Custo operacional/fêmea de reposição/ano2.699,522.669,61
Na Tabela 9, são apresentados os resultados econômicos do sistema tradicional e do sistema com alfafa.
 
Tabela 9. Resultados econômicos do sistema tradicional e do sistema com alfafa.
 
Resultados econômicosSistema tradicionalSistema com AlfafaDiferença%
Lucro líquido/ha/ano (R$)13.393,243.728,859,89
Custo de produção de vacas (R$)5.359,554.843,34-9,63
Produção diária (kg de leite)1.915,682.021,685,53
1 O lucro líquido/hectare/ano é obtido descontando-se as despesas de financiamento do investimento realizado em alfafa.
Observa-se que a utilização da alfafa na alimentação de vacas leiteiras permitirá aumento de 4 vacas no sistema de produção (Tabela 7), proporcionando aumento na produção diária de leite na ordem de 5,53% (Tabela 9). A elevada produção de matéria seca produzida pela alfafa, sem estacionalidade da produção de forragem, permitiu alocar mais vacas ao sistema. O custo de produção das vacas será reduzido em 9,63%, já que ao adicionar alfafa na dieta reduz-se (Tabela 3) e elimina-se (Tabela 4) farelo de soja da dieta na época da seca e das águas, respectivamente. O lucro líquido/ha/ano será de 9,89%, e esta lucratividade deve-se ao aumento do número de animais e à redução de custo da dieta (Tabela 9). A premissa utilizada foi de que, ao adicionar alfafa na alimentação de vacas leiteiras, mantém-se a produção de leite individual das vacas em relação ao tratamento controle, conforme demonstram trabalhos desenvolvidos na Embrapa (KUWAHARA et al., 2014 a, b).
O sistema de produção com alfafa é superior ainda em dois aspectos essenciais para o produtor de leite, remunera melhor as despesas operacionais (assistência técnica, administração e pró-labore do produtor) e o fluxo de caixa livre é superior em relação ao sistema tradicional (Tabela 10).
 
Tabela 10. Despesas operacionais e fluxo de caixa livre dos sistemas de produção com e sem alfafa.
 
Sistema TradicionalSistema com alfafa
Despesa operacional  (R$)118.700,79144.982,68
Assistência técnica   (R$)23.740,16 28.996,54
Administração  (R$)11.870,08 14.498,27
Pró-labore do produtor (R$)83.090,55101.487,87
Fluxo de caixa livre do produtor (R$)118.700,79134.978,46
O custo de formação da alfafa de R$ 2.726,38/ha, foi depreciado em três anos, com o investimento em irrigação, de R$ 7.329,11/ha, sendo depreciado em oito anos, tempo de vida útil do alfafal e do conjunto de irrigação, respectivamente. O custo de manutenção da alfafa foi de R$5.495,48/ha/ano. Neste custo está incluído o custo de oportunidade da terra, na forma de aluguel, no valor de R$ 720,00/ha, e a depreciação da alfafa, no valor de R$ 908,79/ha. O que mais pesou no custo de produção de alfafa foi a utilização de insumos, especialmente cloreto de potássio. A produção estimada de alfafa, já descontando 10% de perdas no pastejo, foi de 20 ton. MS/ha/ano.
O custo de produção da silagem de milho, de R$ 4.085,32/ha, foi obtido considerando-se 45 toneladas/ha de produção de matéria verde. Descontando 15% de perdas na produção da silagem de milho e 34% de matéria seca, obteve-se produção de 13 ton. MS/ha, a um custo de R$314,00/ton.
O custo da formação do capim-tanzânia  não foi considerado, uma vez que o sistema no qual se introduziu alfafa já possuía pastagens formadas desta forrageira.  O custo de manutenção, visando uma produção de 15.300 kg de MS/ha, já descontado 10% de perdas por pisoteio, foi de R$2.626,28/ha.
Pode-se concluir que as principais vantagens da utilização da alfafa como parte da dieta de vacas leiteiras são: reduz a utilização de concentrado; permite a utilização de concentrado com menor teor proteico; reduz o custo de produção de leite; reduz a utilização da silagem na época da seca; reduz o potencial de timpanismo; permite melhor equilíbrio na relação energia:proteína; aumenta o número de animais que pastejam alfafa; aumenta a produção de leite/ha; reduz a aplicação de fertilizante nitrogenado; reduz a estacionalidade da produção de forragem; reduz a sazonalidade da produção de leite e aumenta a lucratividade da atividade leiteira. Deve-se ressaltar, entretanto, que alfafa é uma forrageira exigente em tratos culturais, requerendo calagem, adubação de plantio e de manutenção, irrigação e controle de plantas daninhas. Portanto, o produtor rural que tiver interesse em adicionar alfafa na dieta de vacas leiteiras, deve ter o perfil de pecuarista e de agricultor.


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