quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Produção de sementes de Alfafa


A produção comercial de sementes de alfafa requer dias ensolarados e quentes, com pouca ou nenhuma precipitação pluviométrica (RINCKER et al., 1988). Essas condições climáticas promovem a floração e a atividade dos polinizadores, permitem o adequado amadurecimento dos frutos e previnem a queda e/ou danos às sementes.
Quando se deseja obter altos rendimentos, a produção de sementes deve ser considerada como uma indústria especializada, separada da produção de forragem (MARBLE, 1980). Os fatores mais importantes na produção de sementes são a fertilidade do solo, o controle de pragas, de plantas daninhas e de doenças, a polinização e o manejo de água. Isto significa que devem adotar-se práticas de manejo que tenham por finalidade exclusivamente a produção e a colheita de sementes.
Há dois sistemas de colheita de sementes: corte, enleiramento e trilha; e colheita direta, com prévia aplicação de um desfolhante (dessecação). Na colheita, é necessário cuidar bem da regulagem de máquinas, principalmente a colhedora, para evitar perdas elevadas de produtividade e da qualidade das sementes.

 

Requerimentos ambientais

Clima

As condições climáticas que favorecem a produção de sementes são: a) um período de crescimento de ao menos 150 dias de duração; b) durante o período de floração, temperaturas médias em torno de 24-25 ºC durante o dia e menores que 18 ºC durante a noite, com ar relativamente seco (umidade relativa menor que 50%); c) alta luminosidade e ausência de ventos fortes durante a floração, com um mínimo de dias nublados e frescos; d) dias longos, com um mínimo de 14h de luz; e e) uma distribuição de chuvas ou irrigação que promova um crescimento vegetativo controlado e que, através de uma redução gradual da umidade do solo após a floração, provoque um adequado crescimento reprodutivo (MOSCHETTI et al., 2007).
Em zonas úmidas e com chuvas frequentes nos períodos de maturação e colheita, a produção de sementes costuma ser muito baixa (50 a 100 kg/ha). Ao contrário, em climas áridos, onde se pode controlar a irrigação, a produção pode chegar a 1.000 kg/ha (ECHEVERRIA, 1993). Assim, uma chuva de apenas 5 mm pode provocar a queda de vagens e causar perdas de sementes de certa magnitude; uma chuva de 10 mm a 20 mm pode produzir perdas de até 75%, se a semente estiver seca e no ponto de ser colhida (MARBLE, 1980; MARBLE, 1987). Com base na precipitação no momento de maturação e colheita das sementes, Ochoa (1980) sugeriu a seguinte classificação da aptidão agrícola para se produzir sementes em uma região: excelente: 0-20 mm; muito boa: 20-40 mm; boa: 40-60 mm; regular: 60-80 mm; problemática: 80-100 mm; muito difícil: 100-120 mm e impossível: > 120 mm.
Ainda que a alfafa seja uma espécie de dias longos, a resposta ao comprimento do dia também é influenciada pela radiação e pela temperatura (FICK et al., 1988). De modo geral, a formação de flores é favorecida por um mínimo de 12h de luz, com alta intensidade luminosa e temperaturas mínimas acima de 20 ºC (FICK et al., 1988). A temperatura e o fotoperíodo não só condicionam o desenvolvimento das inflorescências e a fertilidade do pólen e dos óvulos, como também a atividade dos polinizadores, o crescimento e a maturação das vagens (HACQUET, 1986). Temperaturas muito altas ou ventos extremamente secos podem provocar uma significativa queda de flores e/ou afetar o desenvolvimento das sementes, aumentar a proporção de sementes duras e diminuir o seu vigor (FICK et al., 1988).
Solo
Embora a alfafa se adapte a várias condições de solo, os altos rendimentos de sementes são obtidos em solos bem drenados, com baixo teor de sais e uma profundidade mínima em torno de 1 m. Os solos argilosos, argilo-arenosos ou franco-argilo-arenosos são preferíveis aos solos arenosos, por sua maior capacidade de retenção de água. Devem-se evitar os solos extremamente arenosos, pedregosos ou com algum tipo de compactação próximo à superfície. Um terreno de textura uniforme facilita o manejo da umidade no perfil do solo e a sincronização dos estádios de desenvolvimento da cultura (MARBLE et al., 1986; MARBLE, 1987; RINCKER et al., 1988). 
O excesso de umidade é prejudicial não só porque favorece demasiadamente o desenvolvimento vegetativo, mas também porque pode provocar a morte de plantas por anoxia radical (ausência de ar no solo) ou o desenvolvimento de doenças (CABRAL et al., 1985). Dessa forma, ao se utilizar um sistema de irrigação, é fundamental um bom nivelamento do terreno (sistematização), para eliminar pontos de encharcamento e uniformizar a distribuição de água. Também é importante conhecer a profundidade e a dinâmica do lençol freático, pois suas contribuições ao cultivo podem diminuir a frequência e a intensidade das irrigações aplicadas ao longo do ciclo produtivo (BRASE, 1987).
A fertilidade do solo é um fator importante para definir os rendimentos de sementes. Os conteúdos de nitrogênio (N), fósforo (P), enxofre (S) e boro (B), na ausência de restrições hídricas severas, costumam ser os elementos que mais limitam o crescimento e o desenvolvimento das plantas (DARWICH, 1992). Também não se deve descuidar do fornecimento de outros elementos como potássio (K), magnésio (Mg), zinco (Zn), cobre (Cu), manganês (Mn) e molibdênio (Mo) (CULOT, 1986; DIAZ ZORITA et al., 2007). As necessidades de fertilização podem ser definidas com base na análise do solo ou tecido vegetal. Outro fator importante é o grau de acidez dos solos, pois a alfafa não se desenvolve em solos ácidos. A acidez excessiva do solo reduz a disponibilidade de alguns macronutrientes (como P, N, Ca, Mg e K), assim como pode aumentar a solubilidade do alumínio (Al) a níveis fitotóxicos, prejudicando a fixação simbiótica do N2 ao diminuir a atividade dos rizóbios (Sinorhizobium meliloti). Quando necessário, deve-se corrigir a acidez do solo por meio da calagem (HONDA e HONDA, 1990; DIAZ ZORITA e GAMBUADO, 2007).

Estabelecimento do cultivo

Escolha e preparo do solo
A escolha do solo onde será feito o plantio deve basear-se primeiramente nas características desejáveis do solo, tanto físicas (textura, profundidade, etc.) como químicas (fertilidade, acidez, salinidade, etc.). Devem-se, também, evitar solos que tenham alta infestação de plantas daninhas que sejam difíceis de controlar e que causarão sérios prejuízos à produção, inviabilizando economicamente a atividade.
Outro critério para a seleção da área é a necessidade de isolamento, que é a distância mínima que deve existir entre lotes contíguos de alfafa de outra variedade ou de outra categoria de sementes. Desse modo, evita-se a contaminação com outras fontes de pólen, preservando-se a pureza genética da variedade que está sendo multiplicada.
Uma vez escolhida a área, as práticas de preparo de solo devem oferecer um solo bem destorroado, com uma camada fina e firme para efetuar a semeadura. As crostas superficiais de solo (pé de arado ou de grade, horizontes adensados etc.) devem ser eliminadas com aração profunda antes da preparação final para a semeadura.
Época e densidade da semeadura
Da mesma forma que para a produção de forragem, a melhor época de plantio de um cultivo de alfafa para semente deve ser escolhida com base em três fatores importantes: temperatura, umidade e incidência de plantas daninhas. A combinação desses fatores sugere que o outono é a melhor época de semeadura na grande maioria dos casos. No Brasil, o período de abril a junho (outono) é o mais indicado para a implantação da cultura (HONDA e HONDA, 1990). A semeadura na primavera, especialmente sob irrigação, também tem sido feita com êxito. No entanto, nesta época, deve-se intensificar o controle de plantas daninhas, particularmente as gramíneas.
A inoculação das sementes com Sinorhizobium meliloti é uma prática recomendável, especialmente para solos em que ainda não se cultiva alfafa. Para as condições do Brasil, o uso de sementes peletizadas - que combinam a inoculação com o uso de fungicida e recobrimento com carbonato de cálcio - pode oferecer vantagens significativas comparativamente à utilização de semente natural, pois não há tradição de cultivo da alfafa e as condições edáficas nem sempre são propícias. Ao se usar sementes peletizadas, deve-se considerar a quantidade de material inerte que se incorpora, a fim de se calcular corretamente a quantidade de sementes a serem utilizadas.
As densidades de semeadura em cultivos de alfafa destinados à produção de sementes devem ser consideravelmente mais baixas que as empregadas para a produção de forragem. Recomenda-se semear até 1 kg/ha em fileiras espaçadas de 0,7 a 1 m (ECHEVERRIA et al., 1995).
A profundidade ótima de semeadura não deve exceder 1,5-2 cm de profundidade em solos franco-arenosos ou 0,6-1,5 cm em solos franco-argilosos. Quando se semeia a profundidades de 2,5 a 3,5 cm, a emergência de plântulas é significativamente reduzida e é quase nula a partir dos 5 cm (SMITH et al., 1967). A semeadura profunda atrasa a emergência e aumenta a probabilidade de perda de plantas por ocorrências meteorológicas desfavoráveis, por invasão de plantas daninhas e/ou crostas de solo (MARBLE, 1980; MARBLE et al., 1986).
Espaçamento entre fileiras
Vários trabalhos de pesquisa têm demonstrado que as semeaduras em espaçamentos maiores produzem maiores rendimentos de semente do que os espaçamentos menores usados para a produção de forragem (GOPLEN, 1975 e 1976; HART, 1980). Isto se deve a maior produção de néctar (e, portanto, maior atração para os polinizadores) e menor índice de aborto de flores nas plantas distanciadas. Outras vantagens observadas incluem o desenvolvimento de plantas mais eretas, que facilitam o trabalho dos polinizadores; a penetração da luz e o aumento da temperatura do solo; a diminuição do acamamento e a redução da umidade na folhagem, que reduzem a incidência das doenças foliares e os danos à semente; a maior eficiência no uso de agroquímicos, devido à maior penetração na pulverização; a simplificação no manejo da irrigação; e a possibilidade de se realizar controles mecânicos de plantas daninhas e de plantas de alfafa de cultivos anteriores, assegurando-se, desta forma, a pureza genética (MARBLE, 1976; MARBLE, 1987; RINCKER et al., 1987).
O espaçamento entre fileiras mais aconselhável varia de 0,9 m a 1 m para áreas com maior período de crescimento, e de 0,7 m a 0,8 m para áreas com menor período de crescimento, depositando 4 a 5 sementes a cada 20 cm ou 30 cm da linha de plantio, formando-se o conceito de grupo de plantas e não plantas individuais (Figura 1).
Foto: Daniel Horacio Basigalup

Figura 1. Germinação de grupos de plantas de alfafa em sistema de irrigação por gotejamento.

Irrigação
O uso de irrigação é um aspecto fundamental para a produção de sementes de alfafa e é um dos temas mais difíceis de regular na prática. Como cada situação particular requer seu próprio ajuste, a irrigação é mais uma arte que uma técnica rígida. Entre outros fatores, as quantidades e os momentos de aplicação de água variam em função da textura e da profundidade dos solos, das chuvas recebidas, da evapotranspiração, da influência dos lençóis freáticos, da quantidade e qualidade da água disponível, da densidade do cultivo e do tipo de cultivar (MARBLE, 1976; RINCKER, 1979; MARBLE et al., 1986; RINCKER et al., 1987). Em consequência, a complexidade das interações entre todos esses fatores torna quase impossível a definição de um esquema de irrigação de aplicação geral.
Quando bem manejada, a irrigação deve promover um crescimento lento e sustentado das plantas, evitando o desenvolvimento vegetativo excessivo e favorecendo o desenvolvimento reprodutivo. Um desenvolvimento vegetativo excessivo, como consequência da aplicação de água em demasia, aumenta a predisposição ao acamamento e reduz a produção de flores, com menor conteúdo de néctar. Por outro lado, uma severa deficiência de água gera plantas com pequeno desenvolvimento vegetativo, baixa produção de flores e sementes muito pequenas.
Nas áreas produtoras de semente do mundo se empregam basicamente três sistemas de irrigação: sulco ou inundação, aspersão ou gotejamento.
Controle de plantas daninhas
Uma forte infestação de plantas daninhas em uma área de alfafa pode reduzir significativamente a produção de sementes e o resultado econômico da atividade, não só pela competição por luz, água e nutrientes, mas também pela interferência no trabalho dos agentes polinizadores, pelas complicações na colheita e pelo aumento dos custos de produção e das perdas durante o processamento da semente (DELL’ AGOSTINO et al., 1990; ECHEVERRIA et al., 1995). É mais simples e econômico eliminar as plantas daninhas antes da colheita do que fazê-lo depois da semente colhida. Se as plantas daninhas amadurecerem e formarem sementes – além de aumentar o banco de sementes da área – estas serão colhidas junto com a alfafa e terão que ser eliminadas no processo de limpeza. Esta é uma prática muito difícil, particularmente quando se trata de sementes com peso e tamanho similares às de alfafa.
Um programa racional de controle das plantas daninhas, tanto no estabelecimento quanto em cultivos já estabelecidos, deve combinar medidas de prevenção com controles culturais, mecânicos e químicos. Uma das medidas mais efetivas de prevenção é a escolha de um lote livre de plantas daninhas problema e com baixa ou nenhuma infestação de plantas daninhas perenes.
O controle mecânico é um método econômico, mesmo que seja efetivo somente para as plantas daninhas anuais. Pode ser feito com implementos como grade de discos, carpideiras, cultivadores rotativos, etc. Obviamente, o cultivo em espaçamentos maiores facilita essas operações. Para se decidir o momento e a frequência do controle mecânico, deve-se verificar o desenvolvimento das plantas e o dano que ele pode ocasionar. Portanto, é conveniente que o trator tenha rodas estreitas. O controle mecânico também pode ser útil para a eliminação de plântulas de alfafa de cultivos anteriores, bem como para melhorar a infiltração da água de irrigação no perfil do solo (ECHEVERRIA et al., 1995).
O controle químico com herbicidas seletivos costuma ser efetivo e duradouro, mas exige maior grau de planejamento e conhecimento do que o requerido no controle mecânico. Moschetti et al. (2007) descrevem os herbicidas que têm sido empregados na produção de sementes de alfafa, que podem resumir-se da seguinte maneira: A- Preparação do terreno: glifosato (2-4 L i.a/ha) para plantas daninhas perenes e paraquat (500 a 750 g i.a/ha) para plantas daninhas anuais; B- Estabelecimento da cultura: a) pré-plantio incorporado: trifluralina (550 a 900 g i.a./ha) e EPTC (2,5-3,0 kg i.a/ha); b) pré-emergência: methazole (1,5 a 1,8 kg i.a./ha) e flumetsulam (50 a 70 g i.a./ha); e c) pós-emergência: i) latifoliadas (dicotiledôneas ou “folhas largas”): 2,4-DB (0,75 a 1,0 kg i.a./ha); bromoxinil (350 a 550 g i.a./ha); e flumetsulam (35 g i.a./ha) ou bentazon (300 a 500 g i.a./ha), geralmente combinados com 2,4-DB para controlar plantas daninhas pouco sensíveis ou resistentes a este último; e ii) gramíneas (monocotiledôneas ou “folhas estreitas”): cletodim, fenoxaprop-p-etil, fluazifop-p-butil, haloxifopmetil, quizalofop-etil, quizalofop-p-etil, e setoxidim (DELL’AGOSTINO et al., 1987; DELL’AGOSTINO, 1990); e C- Cultivos já estabelecidos: a) durante o repouso invernal e em pré-emergência das plantas daninhas: diuron (2,0-2,4 kg i.a./ha), terbacil (0,8 a 1,0 kg i.a./ha), metribuzin (550 a 750 g i.a./ha) e propizamida (1,0 a 2,0 kg i.a./ha); e b) pós-emergência: 2,4-DB, bromoxinil, flumetsulam (25 a 35 g i.a./ha), imazetapir (80 a 100 g i.a./ha), clorimurón etil (5 a 7,5 g i.a./ha), bentazon (300 a 500 g i.a./ha) e glifosato (0,5 a 1,0 kg i.a./ha), aplicados durante os meses sem rebrota ativa na alfafa. Deve-se ressaltar que estes herbicidas não possuem registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para serem utilizados em alfafa no Brasil.
Merece consideração especial o controle de uma planta daninha muito problemática para a produção de semente de alfafa: a cuscuta. Esta espécie anual e parasita aparece geralmente em forma de manchas isoladas (reboleiras) que, se não forem controladas, podem chegar a invadir toda a área. O controle preventivo inclui o uso de semente livre de cuscuta; a adequada limpeza das máquinas ao término da colheita de uma área; o controle de cuscuta e de plantas daninhas hospedeiras em estradas e carreadores, alambrados e canais de irrigação, e impedir o pastejo em áreas contaminadas (DAWSON et al., 1984; DELL’ AGOSTINO, 1990). Quando aparecem manchas (reboleiras) de cuscuta em uma área, é fundamental eliminá-las antes que a mesma floresça e produza sementes. Para isso, devem-se cortar as plantas de alfafa parasitadas abaixo do ponto onde a cuscuta está aderida, deixá-las secar e depois retirá-las do lote e destruí-las. Uma alternativa é cortar as plantas de cuscuta e  queimá-las após a secagem. Outra opção é queimar diretamente o setor invadido com um lança-chamas ou aplicar um herbicida de contato (paraquat) e, após a secagem, queimá-lo. Em todos os casos, é aconselhável o tratamento de uma área maior do que a invadida para se evitar a permanência de plantas parasitadas na cultura (DAWSON et al., 1984; DELL’ AGOSTINO, 1990). Quanto ao controle químico, podem-se usar diversos produtos. O glifosato, em doses muito baixas (75 a 150 g i.a/ha), permite um controle seletivo da cuscuta quando esta já está aderida ao
hospedeiro (DAWSON, 1986). No caso de lotes já invadidos, com uma grande quantidade de sementes de cuscuta no solo, os herbicidas propizamida (1 a 2 kg i.a./ha), trifluralina (granulada e em doses muito altas), cloroprofán, pendimetalín ou dinitroanilina tem sido usados com sucesso nos EUA, em aplicações de préemergência (ORLOFF, 1985; DAWSON, 1986; BURRIL et al., 1988; ORLOFF et al., 1989; DELL’ AGOSTINO, 1990).
Polinização
Para produzir semente em quantidade e qualidade, a alfafa requer que haja polinização cruzada (alogamia). A disposição dos órgãos florais requer um mecanismo que libere os órgãos sexuais das flores (pistilo e estames), atividade que é realizada por várias espécies de insetos (MARTINEZ, 1987). Deste modo, quando os órgãos sexuais da planta tocam o abdômen do inseto, o estigma entra em contato com o pólen proveniente de outras flores. Mecanismos de auto-incompatibilidade e auto-esterilidade favorecem a alogamia (VIANDS et al., 1988).
A polinização deficiente é um dos fatores que mais dificultam a produção de sementes de alfafa no mundo. Na ausência de insetos polinizadores, a grande maioria das sementes provém da auto-fecundação, o que dará origem a plantas com pouco vigor, tendo, consequentemente, baixa produção de forragem e de sementes. Com auto-fecundação, somente 35% das flores fecundadas formam vagens, enquanto na polinização cruzada esse valor chega a 60%. Em geral, rendimentos de sementes de 50 a 150 kg/ha e 1 a 3 sementes/vagem indicam alto nível de auto-fecundação. Por outro lado, rendimentos acima de 500 kg/ha indicam polinização cruzada, chegando a produzir 9 sementes/vagem (MOSCHETTI et al., 2007).
As abelhas são os insetos mais eficientes como polinizadores de alfafa. As espécies mais importantes são: abelha melífera ou européia (Apis mellifera), abelha cortadeira de folhas (Megachile rotundata), abelha alcalina (Nomia melanderi) (MARBLE, 1976; MARBLE, 1980; MARBLE et al., 1986).
A atividade das abelhas depende, entre outros fatores, das condições ambientais, da cultivar, da proximidade de fontes competitivas de pólen, do tamanho e cor das flores, da aplicação de inseticidas na área ou em áreas vizinhas, etc. (MARTINEZ et al., 1983). As temperaturas baixas, os ventos fortes, o céu nublado e a chuva retardam o vôo das abelhas e dificultam a colheita de pólen ou néctar (MARTINEZ, 1987).
Polinização com abelhas melíferas
Nos campos de semente de alfafa, as abelhas operárias são principalmente coletoras de néctar (MARTINEZ et al., 1983) e, mesmo visitando as flores rapidamente (cerca de 14/minuto), evitam o mecanismo de desenlace dos órgãos sexuais florais, chegando a fecundar somente 1% das flores visitadas. Mesmo em número reduzido (1-5% da população da colméia), as operárias que colhem pólen trabalham mais lentamente (8 flores/minuto), mas conseguem ativar o mecanismo de desenlace em 80% das flores visitadas, o que faz com que polinizem uma média de 384 flores/hora e sejam 45 vezes mais eficientes como polinizadoras do que as operárias coletoras de néctar (MARTINEZ, 1988). As abelhas coletoras de pólen têm picos de atividade entre 32 ºC e 44ºC, enquanto as coletoras de néctar alcançam sua máxima atividade entre 32 ºC e 35ºC (FRANKLIN, 1951).
Colheita
Há basicamente dois métodos de colheita de sementes de alfafa: a) corte, enleiramento e trilha; e b) colheita direta, com prévia aplicação de um desfolhante (dessecação). Utiliza-se o primeiro método quando é necessário colher cultivares de maturação tardia com uma significativa percentagem de vagens imaturas, com uma alta proporção de sementes verdes, que terminam de amadurecer após o enleiramento. Por sua vez, a colheita direta permite reduzir a incidência dos fatores ambientais, como chuvas, alta umidade relativa (que podem provocar sementes ardidas e manchadas) ou ventos (que podem disseminar o material cortado e amontoado na fileira) (MARBLE, 1976; STEPHEN et al., 1976; MOSCHETTI e DELL’ AGOSTINO, 1982; MOSCHETTI e DELL’ AGOSTINO, 1990).
Quando o enleiramento se realiza em condições de baixa umidade relativa e ventos fortes, as perdas de semente podem superar 50% (MARBLE, 1976; GOSS, 1979). O uso de dessecantes químicos na colheita direta permite uma secagem rápida e homogênea do cultivo, diminuindo os riscos da secagem natural.
Se for utilizado o sistema de enleiramento, a cultura deve ser cortada quando cerca de 70% das vagens apresentarem cor marrom-escura, mas antes de começarem a abrir. A operação deve ser feita durante as horas do dia com maior umidade do ar, ou quando as folhas estão úmidas por efeito do orvalho (STANGER e THORP, 1974). A semente está pronta para ser trilhada quando o conteúdo de umidade da folhagem oscilar entre 12% e 18% (BUNNELLE et al., 1954). Sob condições ótimas de trabalho, as perdas na barra de corte da enleiradeira não devem exceder os 10 kg/ha.
Para a implementação do sistema de colheita direta, o dessecante químico deve ser aplicado quando pelo menos 80-85% das vagens apresentarem cor marrom-escura. Para que a aplicação do dessecante seja mais efetiva, as plantas devem apresentar um crescimento aberto e ereto, e o teor de umidade do solo deve ser baixo, para inibir a rebrotação da coroa (ROYLANCE, 1968; MARBLE, 1976). Se o cultivo é muito denso e apresenta abundante folhagem, ou se está com alta infestação de plantas daninhas, é mais eficaz efetuar duas aplicações separadas com 2-4 dias de intervalo (MARBLE, 1976; MOSCHETTI e DELL’ AGOSTINO, 1979). Para evitar perdas por deiscência (abertura de vagens), a colheita deve iniciar-se quando o teor de umidade das folhas e vagens está ao redor de 15-20% e ao redor de 50% nos talos. Em áreas com altas temperaturas, a colheita se efetua normalmente entre 3 e 5 dias após a aplicação do dessecante, enquanto em áreas com temperaturas mais baixas podem ser necessários entre 5 e 12 dias (JONES e MARBLE, 1961; MARBLE, 1976). Se as recomendações técnicas de ajuste dos implementos são seguidas, as perdas na colheita devem oscilar entre 10 e 20 kg/ha (MARBLE, 1976; GOSS et al., 1977 e 1979).
Os dessecantes químicos, que são produtos de contato e que não se translocam na planta nem afetam a coroa ou a raiz, têm efeito temporário e não afetam a rebrotação posterior das plantas. Os mais usados são diquat e paraquat, em doses de 1 a 4 L/ha de produto formulado, com um volume de água não inferior a 100 L/ha em aplicações terrestres, e de 20-25 L/ha em aplicações aéreas. Recomenda-se o uso de espalhante adesivo não iônico, em concentrações de 0,10% ou 0,50%. A efetividade destes dessecantes é mais alta quando a aplicação é sucedida por um período de horas sem luz (fim da tarde), favorecendo a penetração do produto nas plantas. Nos EUA, são utilizados outros produtos, como dinoseb, pentaclorofenol, DNOC e endothal, embora ocasionalmente possa aumentar o número de sementes duras . Na maioria dos casos, a maior segurança de colheita e a diminuição das perdas tornam mais econômico o uso do dessecante, apesar do seu preço relativamente elevado.
Na colheita, é necessário cuidar bem da regulagem de máquinas, principalmente a colhedora, para evitar perdas elevadas de produtividade e qualidade das sementes.




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