domingo, 20 de agosto de 2017

Uso da alfafa na alimentação de equinos

A alfafa é considerada no mundo todo como a forrageira padrão na alimentação de equinos. No Brasil, a alfafa é fornecida aos cavalos na forma verde, ceifada diariamente, ou ainda na forma de feno, produzido no próprio criatório ou comprado. Conhecer as limitações do corte diário e as qualidades nutricionais do feno é condição básica para se elaborar um adequado plano nutricional dos equinos.

Corte e fornecimento verde

A esmagadora maioria dos haras que possuem alfafal manejam a área para corte e para fornecimento diário da forragem verde. Essa modalidade de fornecimento visa a simplificar operações de manejo do alfafal (por prescindir de conservação posterior) e garantir fornecimento de forragem verde, principalmente para animais estabulados, quer em preparo para exposição, provas ou leilão, quer para melhoria do desempenho reprodutivo de determinadas fêmeas. Nesse último caso, alia-se o uso da luminosidade artificial (em baias) com a presença de fitormônios na alfafa verde, fatores que adiantam o aparecimento do cio e promovem coberturas (fertilização) precoces e consequentemente ideais em função do “ano hípico”. No caso do turfe, animais nascidos em agosto e setembro competem com aqueles nascidos em novembro e dezembro. Assim sendo, animais paridos no início do ano hípico são considerados “bem nascidos”, pela vantagem que levam no desenvolvimento.
Para ser corretamente executado o corte diário de um talhão de alfafal, o operador deve estar consciente de que no momento da ceifa a altura de corte deve poupar a brotação basilar (7 ‒ 8 cm). Isso é mais fácil de conseguir com roçadoras manuais mecânicas (a gasolina) do que com o uso do alfanje, e com operadores sem prática anterior do uso do implemento manual.
Cada dia, ceifa-se determinada área consoante o consumo diário dos animais. Não é necessário efetuar corte para cada refeição, pois o material colhido verde pode ser depositado em lugar abrigado e fornecido ao longo do dia. Importante nesse tipo de manejo é assegurar que o material verde seja retirado do campo sem contaminação com terra. Para isso, a irrigação (quando existe) do talhão a ser ceifado deve ser suspensa no dia anterior, ou ser realizada de acordo com a capacidade de retenção de água do solo.
Retirada a massa ceifada, tratos culturais, por exemplo, limpeza e adubação, devem ser imediatos ou executados em menor prazo possível. Deve haver atenção especial para o uso de enxadas que potencialmente danificam a coroa da alfafa, contribuindo para a morte de plantas (perda de estande). Também o fator adubação (reposição de nutrientes exportados) é de fundamental importância, lembrando que o potássio é o elemento retirado em maior escala.
O alfafal para corte verde, a exemplo dessa cultura com outras modalidades de exploração, deve ser vistoriado duas vezes ao dia e ter uma pessoa responsável pelas decisões.

Utilização do feno

É a modalidade mais utilizada na criação de cavalos, que engloba animais estabulados (hípicas, hipódromos, haras) e animais livres, com fornecimento adicional à pastagem.
Atualmente, a esmagadora maioria dos animais alimentados com feno de alfafa tem acesso ao alimento comprado e não produzido nos estabelecimentos. Isso obriga os responsáveis pelo programa nutricional dos animais a saber reconhecer o feno de boa qualidade, armazená-lo corretamente e fornecê-lo em bases nutricionalmente adequadas.
O bom feno de alfafa deve ser seco, esverdeado, sem presença de bolor (fungos), de poeira (esporos) e de material estranho (invasoras que foram fenadas com a planta). Deve apresentar odor característico e maciez ao tato, o que equivale a um produto com alta relação folha:haste e pequena abcisão (queda) de folhas. A queda de folhas é um grande problema no processo de fenação de leguminosas (alfafa inclusa) e isso é minimizado pela secagem (cura) à sombra com ventilação forçada, ou uso de condicionadores pós-ceifa (NUSSIO e MANZANO, 1999).
No processo de armazenagem, o feno deve ser guardado em local seco, abrigado do sol e ventilado. O uso de paletes ou de isolantes da umidade do chão e a ausência de contato com as paredes do fenil são medidas importantes no processo de conservação. Adquirido (ou produzido) o feno, os primeiros dias são críticos na manutenção de seu valor nutritivo.
Mudanças nutricionais são relativamente pequenas no feno bem elaborado. Típicas modificações nos primeiros seis meses de armazenamento incluem decréscimo de 1% a 2% na digestibilidade da matéria seca, pequena variação no teor de proteína bruta e ligeiro acréscimo no teor de fibra. A maior variação ocorre em feno guardado com teor inadequado de água (BUCKMASTER et al., 1989).
Turner et al. (2002) constataram haver aumento na concentração de fibra (fibra em detergente neutro ‒ NDF, fibra em detergente ácido ‒ ADF e lignina) durante os primeiros doze dias de armazenagem, seguido de estabilização no patamar alcançado. Há relação positiva e linear entre concentração dos componentes da fibra (NDF, ADF, hemicelulose e lignina) e medidas de combustão espontânea do feno, tais como temperatura máxima e média de temperatura nos fardos de alfafa (COBLENTZ et al., 1996). Portanto, a “tomada de temperatura” dos fardos estocados é medida obrigatória após elaboração ou aquisição de feno.
Esquema de fornecimento
A alfafa é considerada o volumoso padrão para equinos, devido aos seus altos teores de proteína, de vitaminas A, D, E e K (se fornecida verde ou como feno curado ao sol) e de fibra de alta digestibilidade. Também é rica em lisina, considerada o aminoácido cuja deficiência é a mais limitante para o crescimento de potros. A relação Ca:P situa-se próximo de 6:1. O clássico binômio aveia:alfafa constitui-se em balanceamento quase completo de nutrientes, pois o grão de aveia agrega energia à dieta e sua fibra, também de alta digestibilidade, dificulta o surgimento de distúrbios nutricionais, notadamente cólicas (NRC, 1989).
Todavia, o fornecimento de volumosos para equinos nunca deve ser realizado misturado ao concentrado. Portanto, para animais estabulados, submetidos a três refeições diárias, o esquema de fornecimento dos componentes da refeição deve ser:
Manhã ‒ a metade da quantidade total de concentrado;
Meio-dia ‒ a outra metade do concentrado e um terço da quantia total de volumoso;
Noite ‒ dois terços do volumoso.
O cavalo tende a ingerir primordialmente o alimento concentrado, que deverá estar à disposição em cocho separado do volumoso. Deve-se observar o princípio da uma hora, ou seja, alimentar os animais uma hora antes do exercício ou executar o exercício uma hora após a alimentação (CARVALHO e HADDAD, 1987).
No caso de fornecimento da alfafa verde, assegurar limpeza do cocho após a ingestão, pois a umidade da massa favorece o aparecimento de fermentações indesejáveis. No caso do feno, fornecê-lo de forma integral, sem picar ou triturar, podendo-se umedecê-lo na hora do fornecimento, ressalvando as medidas de higiene descritas.
Em alguns estabelecimentos, é comum colocar o volumoso no chão da baia, de modo a simular o ato de pastejo pelo cavalo. Não há contra-indicação da medida, mas deve-se assegurar a não contaminação do produto fornecido. Entretanto, fornecer alfafa no chão do piquete (animais no pasto) aumenta o risco de cólica, devendo-se dar preferência a manjedouras ou cochos especiais (Figura 1).
Foto: Claudio Haddad


Figura 1. Modelos de manjedouras.

Ainda em relação à utilização da alfafa como feno, há a possibilidade de aquisição de pellets de alfafa, de cubos e de ração completa peletizada. A fabricação do pellet envolve fina moagem da forragem desidratada, que é então prensada na forma de macarrão e seccionada. A temperatura de peletização pode atuar como agente controlador de microrganismos patogênicos, mas implica sempre parcial ou total desnaturação vitamínica.
A forma de fina moagem impede a seleção entre folhas e talos do feno original, mas acelera a passagem da forragem pelo trato gastrintestinal do equino e diminui a digestibilidade. Esse problema é minimizado na utilização dos cubos, porque esses apresentam pedaços maiores de fibra (CARVALHO e HADDAD, 1987).
Tanto o pellet como a ração completa peletizada podem levar o equino estabulado a desenvolver vícios, tais como roedura de madeira, inspiração e deglutição de ar e nervosismo. A explicação básica para o desenvolvimento desse comportamento são a ausência de fibra longa, essencial para mastigação correta pelo herbívoro, e a manutenção durante longos períodos de reclusão (estabulação).

A alfafa é uma planta forraginosa, de origem asiática e da família das leguminosas, subfamília papilonácea. Ela é muito rica em proteínas, vitaminas e sais minerais. No Brasil, seu uso é, prioritariamente, restrito à forragem de cavalos de esporte, devido aos altos custos de produção, sendo raramente utilizada na alimentação de outros animais ou em rações industrializadas.

 Na Argentina, ela é empregada para alimentação do gado de leite, porque melhora substancialmente a qualidade do leite fornecido, segundo o engenheiro agrônomo Ademir Honda, de Cambará (PR). De acordo com ele, essa forrageira aumenta a fertilidade das fêmeas e poder propiciar um corte de 50% no fornecimento de rações complementares. Ele defende que se o país dispusesse de uma produção de alfafa mais barata, o resultado seria a oferta de leite a preços também mais baratos e de melhor qualidade.

Geralmente, a alfafa é consumida na forma de feno, o que facilita o transporte e a estocagem. O processo de fenação retira 75% do líquido sem prejuízo do valor nutritivo original e das propriedades fibrosas.

Paulo Nania, engenheiro agrônomo, do Centro de Treinamento do Jockey Club de São Paulo, em Campinas (SP), recomenda que a alfafa não seja ingerida pura, pelos cavalos estabulados, e sugere uma associação com feno de gramíneas, como o coast cross. Segundo ele, a alfafa pura aumenta a necessidade de água pelo aumento da ingestão de proteína; faz com que os níveis de uréia aumentem no sangue, o que pode causar distúrbios intestinais como enterotoxemia; aumenta a amônia no sangue, o que pode causar problemas como irritação nervosa e distúrbios no metabolismo dos carboidratos. Sua recomendação é devido ao excesso de proteína bruta em quantidade acima da necessária para os cavalos de competição que essa forrageira apresenta quando consumida pura.

 O veterinário Renato Pires de Oliveira Dias, formado pela USP, lembra que a alimentação tradicional dos cavalos sempre foi alfafa e aveia. Só que a aveia precisa ser achatada pouco antes do consumo para não perder valor nutritivo em função da oxidação dos componentes, o que demanda mais trabalho e encarece o produto, por isso nem sempre os criadores estão dispostos a investir.

Segundo ele, as gramíneas associadas à ração balanceada produzem cavalos leves de osso e com pouca musculatura, enquanto a associação alfafa - aveia induz a uma boa ossatura e musculatura. Para ele, o uso do feno de coast cross só deve ser administrado pelo cavalo de 24 a 48 horas antes da corrida, em substituição a alfafa, por facilitar a digestão.



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