segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Consumo, Mercado e Comercialização do Arroz Irrigado



O Brasil durante muitos anos foi exportador de arroz. Na década de 80 passou a importar pequenas quantidades (5% da demanda total) e, a partir de 1989/90, se tornou um dos principais importadores deste cereal, chegando a 2 milhões de toneladas, em 1997/98, quando atingiu, uma média superior a 10% da demanda interna. A lacuna entre a produção e o consumo anual de arroz irrigado, à partir da década de 90, passou a ser suprida, principalmente pelo Uruguai e Argentina, que responderam por cerca de 85 a 90% das importações brasileiras. 


Esses dois países com produção de arroz do tipo agulhinha de alta qualidade, custos de produção menores, juros mais competitivos de financiamento, carga tributária mais branda, fretes e custos de comercialização inferiores aos do Brasil, alem da proximidade geográfica e associados a uma taxa de câmbio favorável até o final de 1998, alavancaram rapidamente sua produção, com vistas ao mercado brasileiro. 

O Brasil atualmente encontra-se entre os dez maiores importadores, absorvendo cerca de 5% do volume das exportações mundiais.

O consumo médio de arroz no Brasil varia de 74 a 76 Kg/habitante/ano, tomando-se por base o grão em casca. Atualmente, o consumo está estagnado, apenas acompanhando o crescimento populacional. 
O arroz branco "in natura", que passa por um processo padrão de beneficiamento para a retirada da casca e polimento (brunido), ainda é o principal produto consumido pela população, relativamente a produção do cereal no Brasil. 

O brasileiro destina cerca de 22% do seu orçamento em alimentação, sendo o arroz ainda o principal produto da cesta básica. À partir de 1994 ( Plano Real), houve uma expansão da massa salarial e melhoria do poder aquisitivo da população, levando à retração no consumo de arroz e à diversificação do uso de proteínas animais, massas e produtos elaborados com maior valor agregado.

Em relação ao tipo de grão preferido no Brasil, o mercado aponta uma migração de consumo do arroz Tipo 2 para o Tipo 1 e Parboilizado. O arroz Tipo 1 representa, hoje, 70 a 80% do mercado de arroz polido branco. O Parboilizado, encontra-se em expansão, representando 20% (1,5 milhões de toneladas) da demanda de arroz beneficiado, que é de 7,2 milhões de toneladas.

O processo tradicional de beneficiamento de arroz, apresenta 65 a 75% de grãos polidos (inteiros e quebrados), 19 a 23% de casca, 8 a 12% de farelo e 3 a 5% de impurezas.

A classificação do arroz esta baseada no estado físico dos grãos, que varia em relação a quebra dos mesmos, de 1 a 5, e ao tamanho de grão, curto ou longo.

O processo mundial de abertura econômica ao comércio internacional, aliado ao surgimento de novas tecnologias relacionadas à informação eletrônica e comunicação para fins comercias e auxiliares na tomada de decisão, desencadearam transformações no modo de produção, comercialização e consumo de bens e serviços. As relações entre os elos da cadeia produtiva passaram a ser importantes. Os preços, produtos e a logística de distribuição e venda tornaram-se elementos inseparáveis e essenciais no processo de comercialização. O consumidor passou a ser um importante sinalizador para o processo produtivo. Além disso, ocorreu a consolidação da preferência do consumidor pelo arroz tipo "agulhinha".

A partir do início da década de 90, sob influência da globalização econômica, ocorre uma orientação para a liberalização do mercado, cujo princípio era de intervenção mínima do Governo, com redução de recursos públicos para o financiamento da produção e comercialização de produtos agrícolas. Como conseqüência, alguns instrumentos anteriormente utilizados pelo Governo, deixaram de existir e a política de aquisição da produção passou a não ser mais aplicada em todas as regiões produtoras de arroz, sendo pontual em determinadas ocasiões. O Governo, deliberadamente, repassou parte da responsabilidade da comercialização para a iniciativa privada, o que implicou em mudanças na cadeia.

Atualmente o Governo Federal procura adotar uma intervenção mínima que garanta o abastecimento de arroz em quantidade suficiente para o abastecimento interno e, ao mesmo tempo, preços compatíveis com a realidade do setor. 

Os Contratos de Opção de Venda da CONAB, ofertados ao mercado, assim como as recompras e repasses, são comercializados em Bolsa. A CONAB procede os leilões, tentando recomprar parte dos contratos já comercializados ou repassar suas obrigações a terceiros (indústrias, exportadores, etc.). A realização dos leilões de recompra/repasse de parte dos contratos comercializados, permite que o produtor tenha a oportunidade de se capitalizar antecipadamente. 

Com relação ao setor agroindustrial, observa-se que há uma concentração em pólos de produção, de beneficiamento e de empacotamento em torno das grandes agroindústrias, que estão instaladas nas regiões produtoras, em especial no Rio Grande do Sul, principal fornecedor de arroz para os grandes centros consumidores localizados na Região Sudeste e Nordeste do país.
No RS o setor opera, atualmente, com 350 engenhos, cuja produção em 2000 foi de 3,7 milhões de toneladas, no entanto, existem cerca de 600 engenhos de arroz, demostrando a ociosidade do setor. Além disso, da produção gaúcha de arroz, uma média de 20% tem sido exportada anualmente para outros Estados, ainda em casca. Isto deve-se, principalmente, pela diferenciação de alíquotas interestaduais de ICMS entre o Estado e os principais centros importadores de arroz do RS, e pela utilização do produto gaúcho, de alta qualidade, para formação de "ligas" com arroz de qualidade inferior.

Da produção gaúcha de arroz, cerca de 12% fica no Estado, do beneficiado aproximadamente 70% é exportado para outros estados, sendo 50% para São Paulo e 20% para o Rio de Janeiro. 

Em Santa Catarina, a capacidade industrial instalada é de 1,35 milhões de toneladas, portanto, além de beneficiar toda a sua produção, importa arroz em casca de outros Estados, principalmente do RS. Da produção de arroz catarinense, 90% é para a industrialização do arroz parboilizado e o restante é de beneficiado branco. A maior parte dessa produção (70%) é exportada para outros estados como Paraná, São Paulo e, principalmente, para o Nordeste, além do Paraguai.

Com relação aos preços de comercialização do arroz, estes são estabelecidos levando em conta fatores como: classe, tipo e percentagem de grãos inteiros. Os preços são diferenciados para o arroz proveniente do sistema irrigado e do sistema sequeiro.
O Estado de São Paulo, como principal polo consumidor de arroz agulhinha proveniente da Região Sul, juntamente com o Rio Grande do Sul, pela qualidade e volume de arroz produzido, exercem forte influência na formação de preço do cereal, e, atualmente, também há a pressão das grandes redes de supermercados sobre os preços e prazos do arroz beneficiado.

Os preços do arroz em casca pagos ao produtor, no RS, ao longo dos últimos dez anos, apresentaram redução de 31,4%, comparando-se as médias anuais de 1993 a 2001. Dividindo-se o período em triênios, observa-se que a média do primeiro (1993/95) e segundo triênio (1996/98) estiveram próximas, diferença de R$ 0,93/ 50 kg. No último triênio (1999/01) houve queda acentuada dos preços. A média deste período de R$ 18,07/ 50 kg, foi menor 23,7% que a média 1993/95 e 20,6% da média 1996/98 (Figura 18.1). Isto deve-se a queda dos preços que originou-se a partir de 1999, acentuando-se em2000 e chegando à menor cotação, R$14,02, em novembro de 2000. Os preços pagos ao produtor gaúcho naquele ano, foram os mais baixos da última década.


Fig. 1. Preços* pagos ao produtor do RS, R$ / 50 kg de arroz, no período de janeiro/93 à setembro de 2002 e médias dos triênios 93/95, 96/98 e 99/01.
Fonte: Dados compilados de IRGA, Série Histórica de preços arroz em casca, disponível em www.irga.rs.gov.br/docs/srcasca.pdf, acessado em 18/10/2002, e adaptado pelos autores.
*Preços deflacionados para setembro/02, pelo IGP-DI, da FGV.


Na figura 18.2, pode-se visualizar a sazonalidade dos preços, cuja cotação mais baixa do cereal é praticada no mês de abril. O preço neste mês é cerca de 6,5% abaixo da média do período de safra(fev-jun) e 12% da média da entre-safra.


Fig. 2. Preços* médios do período da safra e entre-safra durante os últimos cinco anos.
Fonte: Dados compilados de IRGA, Série Histórica de preços arroz em casca, disponível em www.irga.rs.gov.br/docs/srcasca.pdf, acessado em 18/10/2002, e adaptado pelos autores.
*Preços deflacionados para setembro/02, pelo IGP-DI, da FGV.

Os Preços Mínimos de Garantia do Arroz são aprovados em cada safra pelo Conselho Monetário Nacional. Na safra 2002/03, para as Regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste (exceto Mato Grosso), o Preço Mínimo Básico do arroz Longo Fino com 58% de grãos inteiros e 10% de quebrados, foi deferido em R$14,00 por saca de 50 kg. Para a Região Norte e Estado do Mato Grosso, o preço ficou em R$14,48 por 60 kg, para o produto com 55% de grãos inteiros e 13% de quebrados.

Considerando a melhoria substancial da qualidade do arroz produzido nas diversas Regiões do País - resultado conjunto das empresas de pesquisas agropecuárias, entidades representativas do setor produtivo, órgãos governamentais estaduais e indústrias de processamento - foram retirados da Pauta, o arroz dos tipos 4 e 5. Isto ocorreu principalmente na expectativa de que o setor produtivo do arroz de terras altas, desperte para a necessidade de padronizar sua produção - à exemplo do que ocorre na Região Sul do País - adequando à realidade de um mercado consumidor cada vez mais exigente, que busca sempre o produto de melhor qualidade.

Em termos de preços pagos ao produtor, algumas inovações serão implementadas na próxima safra. A Tabela de Ágios e Deságios (Tabela 2 ) passará a cotar o produto a cada ponto percentual de grãos inteiros, para cima ou para baixo, no lugar dos intervalos de três pontos. Nesse caso, partindo do Preço Mínimo Básico, quanto melhor o rendimento do produto, maior será o preço recebido pelo produtor. A situação se inverte para o produto de rendimento inferior.




domingo, 6 de setembro de 2015

Soca de Arroz Irrigado



Importância da soca

A soca, que é a capacidade das plantas de arroz (Oryza sativa L.) regenerar novos perfilhos férteis após o corte dos colmos para a colheita, pode se constituir numa prática para aumentar a produção de arroz por unidade de área e de tempo. Em regiões tropicais, uma segunda colheita de arroz, mediante o cultivo da soca, pode ser uma das primeiras alternativas viáveis para aumentar a produtividade de grãos em várzeas. 

No Estado do Tocantins, a soca tem se mostrado vantajosa, em decorrência da obtenção de relação benefício/custo mais favorável; em áreas melhor conduzidas têm-se obtido 22 sacas de 60 kg ha-1, com um custo de produção equivalente a cinco sacas, com um ciclo ao redor de 50 dias. No entanto, resultados de pesquisa têm mostrado que com o uso de tecnologia é possível obter produtividades mais expressivas, o que tem estimulado o uso desta prática em áreas extensivas (Figura 1). Na Região Norte de Santa Catarina, a área cultivada com arroz irrigado está em torno de 25.000 ha e, em quase a sua totalidade, é cultivada a soca com uma produtividade que pode chegar a 3,0 t ha-1, com 110 dias de ciclo. O custo para produção da soca compreende somente a água, a uréia e o óleo diesel utilizado na roçada ou no preparo da soca, além da colheita.

O cultivo da soca possibilita aumentar a produtividade das várzeas tropicais com qualidade da produção, reduzir a sazonalidade do uso de máquinas e implementos, aumentar a ocupação da mão-de-obra rural e incrementar a renda líquida dos produtores.



Manejo da cultura de arroz para a obtenção do maior potencial produtivo da soca

Planejamento
Para obter êxito no cultivo da soca é necessário um planejamento do sistema de produção de arroz, compreendendo desde o estabelecimento da cultura principal até a segunda colheita. Deve-se explorar a soca de genótipos com reconhecida capacidade produtiva nas duas colheitas. Como a soca representa um percentual da produtividade da cultura principal, é interessante que para o seu cultivo sejam selecionadas, preferencialmente, aquelas áreas mais produtivas.

Cultivar
As cultivares comportam-se diferentemente em relação à produção e à origem dos perfilhos na soca e, consequentemente, ao seu potencial produtivo. Algumas desenvolvem perfilhos em todos os nós do colmo, enquanto outras formam perfilhos apenas dos nós inferiores. Algumas cultivares de arroz podem apresentar alta produtividade na cultura principal e não serem produtivas na soca, como por exemplo a Metica 1 (Tabela 1); 
enquanto outras, como a BRS Formoso e a BRS Ourominas, tem alto potencial produtivo nos dois cultivos.

As cultivares precoces podem se comportar melhor que as de ciclo médio em regiões onde as condições climáticas são limitantes ao desenvolvimento da soca. Entretanto, sob condições favoráveis as cultivares de ciclo médio apresentam maior produção biológica que as de ciclo curto, tanto na cultura principal quanto na soca. Estudos desenvolvidos em várzeas tropicais têm demostrado que o número de panículas por m2 foi o principal componente na determinação da produtividade da soca. Há redução em torno de 48% no número de grãos por panícula da soca em relação ao da cultura principal.
Com isso, consideram-se que, para aumentar a produtividade na soca, há necessidade de aumentar este componente, seja através do melhoramento de plantas ou do emprego de técnicas de manejo da cultura.

Condições climáticas
Os elementos meteorológicos que mais influenciam a produtividade são a temperatura do ar, a radiação solar, a precipitação pluvial e o fotoperíodo. Entre os fatores do ambiente que afetam o crescimento e desenvolvimento das plantas de arroz, a temperatura e a luz têm sido relatadas como os de maior influência no comportamento da soca, particularmente o perfilhamento. A temperatura apresenta valores críticos, tanto baixo quanto alto, dependendo da fase da cultura, mas, no geral, valores abaixo de 20ºC e acima de 30ºC são prejudiciais.

Manejo da cultura principal
As práticas culturais que afetam o crescimento da planta na cultura principal afetam também o crescimento da soca. O sucesso do cultivo da soca é, em grande parte, determinado pelas práticas empregadas na cultura principal, como: a época e o sistema de plantio, o manejo de fertilizantes e o sistema de colheita. As cultivares respondem na soca diferentemente às práticas culturais empregadas na cultura principal.

Época de plantio
Épocas diferentes de semeadura ou de transplantio expõem as plantas da cultura principal e da soca a diferentes comprimentos do dia, temperaturas e condições de luz que, por sua vez, influenciam o comportamento da soca. A definição das épocas de plantio se baseia no conhecimento das condições climáticas preponderantes na região e na disponibilidade de água para irrigação. Nas condições do Norte Fluminense, RJ, e no médio e baixo vale do Itajaí e litoral norte do Estado de Santa Catarina a época de semeadura de setembro foi a que propiciou a maior produtividade de grãos na soca. Para a região de Goiânia, GO, os períodos mais favoráveis ao cultivo da soca corresponderam às semeaduras realizadas de agosto a outubro.
Nesta região, o duplo cultivo de arroz pode ser inviável, pois a colheita do primeiro cultivo e a semeadura do segundo coincidem com períodos de alta precipitação pluvial. Entretanto, o cultivo intensivo das várzeas pode ser obtido com a soca de arroz irrigado. Nas Regiões Norte e Nordeste o arroz pode ser cultivado durante todo o ano, portanto a época de semeadura não limita o cultivo da soca.

Sistema de plantio
A semeadura direta, em solo seco ou úmido, e o transplantio constituem os dois sistemas de plantio de arroz. Uma das vantagens da semeadura direta no cultivo da soca, em comparação ao transplantio, é o maior número de plantas por área. Com isso, poucos colmos são necessários para produzir um grande número de perfilhos na soca. Independentemente do sistema de plantio, uma população adequada de plantas é um pré-requisito para uma soca produtiva.

Manejo de fertilizantes
A fertilidade do solo afeta direta ou indiretamente o crescimento e a produção de grãos da soca de arroz. O nitrogênio e o fósforo afetam o crescimento da soca, pois promovem o perfilhamento e o desenvolvimento das raízes, respectivamente. A dose, a época e o modo de aplicação de nitrogênio alteram a eficiência de sua utilização pelas plantas da cultura principal e da soca. Para se ter um sistema produtivo nas duas colheitas, as doses, épocas e modos de aplicação da adubação da cultura principal devem ser baseados nos resultados da análise de solo, conforme as recomendações para a cultura de arroz irrigado.

Sistema de colheita
Outra preocupação no planejamento é com a colheita da cultura principal, especialmente, quanto à época, à altura de corte e aos equipamentos das colhedoras. Deve-se evitar o "passeio" desnecessário de colhedoras e graneleiros, para não danificar excessivamente as plantas de arroz, pois a área pisoteada pela esteira da colhedora pode corresponder a até 38 % da total cultivada. A melhor época de colheita da cultura principal para um bom cultivo da soca é quando os seus colmos estão ainda verdes. Atraso na colheita da cultura principal reduz a duração de crescimento e a produtividade da soca.

Menor altura de corte das plantas da cultura principal alongam o ciclo da soca e, aliada a época tardia de colheita, pode propiciar o seu crescimento em condições climáticas menos favoráveis, afetando a produtividade, especialmente de genótipos de ciclo médio. A maioria dos estudos mostra que as maiores respostas foram obtidas com alturas de corte de 20 a 30 cm. 

O sistema de colheita influencia o comportamento da soca, tanto no que se refere a produtividade quanto a qualidade do produto colhido. A colheita da cultura principal realizada com colhedoras equipadas com picador de palha propicia, na soca, maior produtividade e rendimento de grãos inteiros. Quando a colhedora não possui picador de palha, há formação de uma leira de palha que dificulta o crescimento dos perfilhos e favorece a ocorrência de doenças. Com isso, o uso do picador de palha é fundamental.


Manejo da soca
Práticas culturais que promovam uma rápida e uniforme brotação são especialmente importantes. Dentre as empregadas no cultivo da soca, que afetam o comportamento da planta de arroz, destacam-se a fertilização nitrogenada, o manejo de água e os tratos fitossanitários.

Fertilização nitrogenada
Dentre os nutrientes, o nitrogênio é o elemento que maior resposta tem proporcionado à soca de arroz. Quantidades adequadas de fósforo e de potássio aplicadas na cultura principal têm propiciado aumento significativo na produtividade da soca, mostrando, com isso, que ainda se encontram disponíveis para o crescimento e desenvolvimento da mesma. O nitrogênio deve ser aplicado na soca logo após a colheita da cultura principal, pois, assim, obtém-se uma brotação mais rápida, perfilhos mais sadios o que incrementa a produtividade. A maior resposta da soca ocorre com a aplicação de 56 kg ha-1 de N logo após a colheita da cultura principal.

Manejo de água
Para o êxito da soca é necessário um manejo adequado da água de irrigação, ainda que aproximadamente apenas 60% da água normalmente exigida pela cultura principal seja requerida. O melhor desempenho da soca é obtido quando a inundação é iniciada nove dias após a colheita da cultura principal.

Tratos fitossanitários
Via de regra, a aplicação de fungicidas pode ser necessária para a obtenção de maior produtividade e melhoria da qualidade dos grãos da soca, dependendo da ocorrência de condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento de doenças. A soca aparentemente não se apresenta favorável ao desenvolvimento de populações daninhas de Oryzophagus oryzae. Portanto, a necessidade de se fazer o seu controle durante o cultivo da soca mostra-se bastante remota.


sábado, 5 de setembro de 2015

Pós-colheita e Industrialização de Arroz Irrigado



A composição química dos grãos altera-se em função das condições edafoclimáticas, de cultivo, de pré-armazenamento, de armazenamento e do sistema de beneficiamento. Sua alteração, em consequência de inadequações nas operações de secagem, de armazenamento pode significar importantes perdas na pós-colheita.






Transporte, recepção e pré-limpeza

Como o arroz é colhido com umidade elevada e com grandes quantidades de impurezas e matérias estranhas, o transporte até unidade de secagem deve ocorrer no menor tempo possível. 

Ao chegar na unidade de conservação, logo após a pesagem e a identificação da carga, devem ser coletadas amostras e submetidas às análises de umidade, impurezas e/ou matérias estranhas, rendas, rendimentos e defeitos. 

A secagem dos grãos que chegam da lavoura deve ser iniciada tão logo se realize a colheita ou, no máximo, até 24 horas após. Entretanto, isso não sendo possível, é importante pré-limpar, aerar e/ou pré-secar o arroz. 
Se em grãos destinados à indústria a mistura de cultivares é prejudicial, em semente não se admitem misturas varietais e/ou de cultivares, em nenhuma hipótese.

Assim como ocorre com a maioria das grandes culturas, para o arroz é obrigatória a imediata operação de pré-limpeza. 

A pré-limpeza tem por finalidade promover a separação das impurezas e dos materiais estranhos, de dimensões, formas e densidades muito diferentes daquelas características dos grãos. 
Para a realização da operação de pré-limpeza, normalmente são utilizadas máquinas de ar e peneiras. Estas, em geral, possuem duas peneiras planas sobrepostas, com perfurações próprias para cada produto.


Secagem

Uma vez finalizada a pré-limpeza deve-se proceder, imediatamente, à secagem dos grãos e/ou sementes.

A secagem pode ser feita por vários métodos, desde o natural e os naturais melhorados, até a secagem forçada, a qual inclui as estacionárias , onde apenas o ar se movimenta durante a operação, e as convencionais , onde são movimentados ar e grãos durante a secagem.

A secagem artificial do arroz, forçada ou mecânica, é amplamente utilizada. Os métodos de secagem artificial empregam combinações de temperatura e fluxo de ar, tempos e formas de movimentação dos grãos e de contato ar/grão. 

Os principais danos causados aos grãos de arroz durante a secagem com ar aquecido são trincamento, formação de crosta periférica, alteração de coloração, desestruturação do amido e morte do próprio grão, que provocam reduções no rendimento industrial e no valor comercial. 

Os grãos de arroz são sensíveis aos choques térmicos, por isso a alternância do emprego de ar aquecido e ar ambiente aumenta o número de grãos trincados.

A secagem estacionária é caracterizada, portanto, pela não movimentação dos grãos, que, colocados nos silos-secadores, sofrem a ação do ar, aquecido ou não, o qual é movimentado mecanicamente em fluxos axial ou radial, se em direção do eixo principal (altura, em direção vertical a partir do fundo do silo-secador), ou do raio (lateral, em direção horizontal a partir de um tubo central perfurado), respectivamente.
A secagem estacionária de arroz pode ser feita com ar forçado, à temperatura de até 45*C, para camadas não superiores a 1,0m. 

Para a secagem intermitente, são utilizados os secadores intermitentes, e a operação ocorre com movimentação dos grãos e do ar de secagem, que mantém períodos alternados de contato e de isolamento. Em sementes, a temperatura do ar não deve ultrapassar 45ºC e a da massa de semente, 40ºC, dentro do secador.

O sistema de secagem intermitente exige maiores investimentos para a instalação e o uso de tecnologia mais sofisticada do que o estacionário, porém com resultados que podem ser bastante compensadores em grãos dotados de certa resistência a danos mecânicos e sensíveis a danos e choques térmicos, como os de arroz. 

A secagem contínua faz uso dos chamados secadores contínuos, que constam de estrutura com pelo menos duas câmaras, uma de secagem propriamente dita e uma de arrefecimento, podendo haver uma outra, intermediária, neutra, colocada entre as duas. Neste sistema, os grãos ingressam úmidos, mantêm contato com o ar aquecido na primeira câmara, perdem água e se aquecem. Ao passarem pela segunda câmara, tomam contato com ar à temperatura ambiente, quando são resfriados. 

A seca-aeração, antes da etapa final estacionária, em silo-secador, utiliza um secador convencional contínuo adaptado, em que a câmara originalmente destinada ao resfriamento recebe ar aquecido, se transformando, dessa forma, numa segunda câmara de secagem, de onde os grãos saem ainda quentes e parcialmente secos, indo diretamente a um secador estacionário, onde permanecem em repouso durante um determinado tempo.


Armazenamento

O arroz pode ser armazenado em sacaria, no sistema convencional, ou a granel, em silos ou em armazéns graneleiros.

O armazenamento em sacaria, para ser eficiente em conservabilidade, requer grãos secos, locais bem ventilados e pilhas com 4,5-5,5m de altura e 19m de comprimento, no máximo, por razões de segurança e operacionalidade. As pilhas e/ou os blocos devem ficar afastados cerca de 0,5m das paredes do armazém convencional. Para armazenamento em sacaria deve ser mantida boa ventilação nas pilhas, através de afastamento entre elas ou os blocos e entre elas e as paredes. Na parte inferior, podem ser utilizados estrados de madeira com altura mínima de 12cm.

A armazenagem a granel é mais adequada para grandes quantidades. Num silo ou num graneleiro, grãos relativamente pequenos, como os de arroz, exibem comportamento diferente do de outras espécies de cereais, de grãos maiores, principalmente por apresentarem maior tendência à compactação e oferecerem maior resistência à passagem do ar, durante a aeração. Problemas decorrentes dessa característica são contornados através de intrassilagem parcial ou total da carga do silo e/ou de transilagens periódicas, durante o armazenamento, a cada período de 60 dias ou, no máximo, 90 dias.

Diariamente, durante o período de armazenamento, a temperatura deve ser controlada, por termometria.


Pragas e microflora de armazenamento

Os grãos armazenados são atacados por pragas (roedores, insetos e ácaros) que causam sérios prejuízos qualitativos e quantitativos. 

O resultado da ação de insetos em grãos armazenados traduz-se em perda de peso e poder germinativo, desvalorização comercial do produto, disseminação de fungos e formação de bolsas de calor durante o armazenamento. 

As boas condições de higiene e sanidade nos silos e nos armazéns são fundamentais para a conservabilidade dos grãos. Aparecendo pragas, devem ser realizados expurgos. 

O expurgo pode ser aplicado tanto em arroz a granel como em sacaria, desde que respeitadas as especificações técnicas de cada produto.

Em grãos a granel - os silos verticais metálicos, requerem maior atenção em relação ao controle de pragas dos produtos armazenados, principalmente por se tratar de um sistema que dificulta a vedação. 

Em grãos ensacados - a operação de expurgo pode ser feita através de câmaras móveis ou lençóis plásticos, permitindo a fumigação de cada pilha separadamente. 

O controle das pragas pode ser complementado com inseticidas não-fumigantes. 

Também é muito importante o controle de roedores nas redondezas do armazém. Além da colocação de raticidas ao redor do armazém, todos os buracos e fendas deverão ser calafetados. 

Os ácaros atacam todas as espécies de grãos, principalmente os danificados. Mais de oitenta espécies de ácaros podem ocorrer em grãos armazenados, especialmente em climas temperados. 

Os fungos fazem parte das principais causas de deterioração dos grãos armazenados, sendo superados quantitativamente apenas pelos insetos, mas seus efeitos qualitativos geralmente são mais preocupantes.


Parboilização

Parboilização é um processo hidrotérmico, no qual o arroz em casca é imerso em água potável, a uma temperatura acima de 58ºC, seguido de gelatinização parcial ou total do amido e secagem. 

Antes de ser submetido às operações hidrotérmicas, o arroz, ainda em casca, passa por um conjunto de equipamentos para a realização de operações complementares de limpeza e seleção, que pode incluir de máquinas de ar e peneiras a mesas densimétricas. 

Em grande parte das indústrias a autoclavagem é realizada em equipamentos de fluxo contínuo ou semicontínuo, que operam em temperaturas ao redor de 110ºC, com pressões de 0,4 a 1,2 kgf/cm-1, em tempos que variam de 10 a 30 minutos.

Depois da autoclavagem, as operações hidrotérmicas seguem com a etapa das secagens.

Após a secagem preliminar em secador rotativo é realizada a secagem complementar ou secundária.

Completadas as operações hidrotérmicas e passado o período de temperagem, os grãos são descascados, produzindo o arroz integral parboilizado. 

Na maioria das indústrias, o processo continua com as operações de brunimento e/ou polimento.

Após o polimento e as seleções, os grãos são embalados, mecanicamente. 


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Colheita do Arroz Irrigado



do sistema de produção do arroz, a colheita, a pós-colheita e a industrialização são as últimas operações antes da comercialização. Este fato é suficiente para justificar atenção especial , pois, nestas fases, o custo agregado ao produto é o mais alto, devido aos inúmeros gastos que já foram realizados no decorrer do processo de produção.


Ponto de Colheita

O teor de umidade do grão adequado para realizar-se a colheita do arroz está entre 18 e 23%. Se colhido com teor muito elevado, haverá grãos em formação. Por outro lado, se a colheita for muito tarde haverá mais quebra de grãos no beneficiamento e, quando se destina a semente, o vigor poderá ser afetado.

Colheita mecânica de arroz irrigado

Dentre as operações agrícolas que desempenham papel importante na produção de arroz , destaca-se a da colheita. 

A operação de colheita é realizada, geralmente, por diversos tipos de máquinas, desde as de pequeno porte tracionadas por trator, até as colhedoras automotrizes, dotadas de barra de corte de até 6 metros de largura, as quais realizam, em seqüência, as operações de corte, recolhimento, trilha e limpeza.

Funções de uma colhedora
Podem-se distinguir as seguintes funções em uma colhedora: corte da cultura e direcionamento para os mecanismos de trilha; trilha, que consiste na separação dos grãos de suas envolturas e de partes de suporte na planta; separação do grão e da palha; limpeza.

Perdas na colheita de arroz irrigado

As perdas na colheita mecânica de arroz poderão ocorrer por três motivos básicos: antes da colheita, na plataforma da colhedora e nos mecanismos internos da colhedora.

Antes da colheita
As perdas devem-se a o fato de a colheita ser realizada fora de época, à ocorrência de chuvas em excesso, granizo e ventos, à debulha natural influenciada pela genética das cultivares, bem como ao ataque de pássaros, comuns nesta região na época da colheita.

Na plataforma da colhedora
Este é o local de maior perda de grãos na colheita, respondendo por até 85% do prejuízo.
Plataforma convencional
Os pontos responsáveis por estas perdas na plataforma são os seguintes: 
Molinete: ocorrem perdas devido à baixa ou excessiva velocidade, ou devido a sua má posição na hora da operação da máquina, causando debulha, acamamento e/ou duplo corte.

Barra de corte: as perdas devem-se ao fato de as navalhas estarem quebradas, tortas, trincadas ou sem fio, e/ou os dedos encontrarem-se tortos; também devido à folga nas peças de ajuste da barra de corte.
Velocidade da máquina: o operador deve conduzir a colhedora, cortando de maneira a aproveitar toda a largura da barra de corte, porém, avançando à maior ou menor velocidade, segundo as condições da cultura.
Densidade da cultura: uma baixa densidade de plantas dificulta o trabalho da plataforma, fazendo com que as plantas deixem de ser recolhidas pelo molinete, perdendo, por conseguinte, grãos.
Presença de plantas daninhas: a presença de plantas daninhas na lavoura de arroz contribui para o aumento das perdas.
Umidade dos grãos: padrões fora da umidade recomendada, 18 a 23%, aumenta as perdas.
Plataforma recolhedora
Estes equipamentos retiram ou arrancam o grão ao invés de cortar a panícula, como fazem as colhedoras equipadas com plataformas convencionais.

Os resultados iniciais obtidos com arroz irrigado na Itália mostram que são possíveis aumentos de até 60% na taxa de colheita.


Mecanismos internos da colhedora
Os principais pontos de perda são: perdas no cilindro, no saca-palha e nas peneiras.
Perdas no cilindro
Acontecem devido a pouca velocidade ou a muita distância entre o cilindro e o côncavo. Normalmente, apresentam-se em forma de panículas sem debulhar.
Perdas no saca-palhas
As perdas no saca-palhas acontecem a semelhança do caso anterior.
Perdas nas peneiras
As perdas nas peneiras são causada geralmente por trilha curta, furos das telas muito fechados e ar mal dirigido, insuficiente ou excessivo. As perdas nas peneiras são grãos soltos, que saem juntamente com a palha miúda.

Correção de algumas regulagens das colhedoras

São apresentados no Quadro 1, os pontos da colhedora onde ocorre o maior percentual de perdas, suas causas e as correções mais comuns.

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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Pragas do Arroz Irrigado



Principais Artrópodes-Pragas

Entre as pragas que reduzem a economicidade da cultura do arroz irrigado na região Subtropical do Brasil destacam-se espécies de insetos, moluscos, e pássaros, que causam perdas de produtividade de 10 a 35%. Associados à ocorrência de pragas ainda existem os riscos de impacto ambiental, decorrentes do crescente uso irracional de inseticidas químicos aplicados para controle. O sistema de implantação da cultura é dos fatores que mais influenciam nos níveis de danos. As principais diferenças são detectadas entre lavouras implantadas em solo seco com posterior inundação (plantio direto e convencional) e lavouras de arroz pré-germinado, havendo tendência dessas ultimas serem as mais prejudicadas.


Entre as espécies de insetos são mais prejudiciais ao arroz irrigado Spodoptera frugiperda (lagarta-da-folha), Oryzophagus oryzae (gorgulho-aquático), Tibraca limbativentris (percevejo-do-colmo) e Oebalus poecilus (percevejo-do-grão). Pomacea canaliculata e Argelaius ruficapilus são respectivamente a espécie de molusco e pássaro mais daninhos à cultura. O conhecimento sobre bases técnicas do Manejo Integrado de Pragas (MIP) é essencial para o controle eficaz das espécies supra citadas, na busca de redução de custos de produção e de riscos de impacto ambiental negativo. Destaca-se o conhecimento sobre níveis populacionais de controle econômico (NCE), necessário à adoção de medidas de combate.




Hábitos, proliferação, níveis de danos e métodos de manejo integrado de pragas

Insetos

Lagarta-da-folha


Na fase de lagarta é praga aguda polífaga. A mariposa coloca os em camadas, nos dois lados das folhas, cobertos com escamas. A dispersão das lagartas, logo após a eclosão, ocorre por meio do vento. Danifica plantas novas, corta colmos rente ao solo, desfolha plantas mais desenvolvidas e causa danos a flores e panículas. Em áreas planas, o período crítico de ataque está compreendido entre a emergência das plantas e a inundação da lavoura, podendo destruir rapidamente partes ou totalmente os arrozais. Em áreas inclinadas, o ataque pode se estender a plantas sobre as taipas, até a fase de emissão das panículas. 

O monitoramento do inseto deve ser iniciado logo após a emergência das plantas, no período pré-inundação. Em intervalos semanais, vistoriar maior número possível de pontos do arrozal (0,5 x 0,5m), ao longo de linhas transversais imaginárias. A cada lagarta de 3º ínstar (± 1cm de comprimento) encontrada em média/m2, é esperada uma redução de 1% na produção de grãos. Em áreas infestadas com capim-arroz a incidência do inseto é maior.

Controle: a) maiores cuidados com arrozais próximos a áreas que foram ou estão sendo cultivadas com milho e sorgo; b) destruição de restos culturais de plantas nativas hospedeiras; c) adequar a fertilidade do solo a um rápido crescimento das plantas, para reduzir o período de maior suscetibilidade ao ataque do inseto e criar maiores condições de recuperação dos danos causados; d) inundar as áreas infestadas; e) preservar parasitóides e predadores do inseto, somente aplicando inseticidas químicos registrados quando o nível populacional de controle econômico (NCE) for atingido.


Gorgulho-aquático


Este inseto, oligófago, é praga-chave e crônica do arroz irrigado no Sul do Brasil. Surge nos arrozais quando ocorre acúmulo da água das chuvas ou da irrigação por inundação. O adulto, com 3,5 mm de comprimento (Figura 1), alimenta-se do parênquima foliar causando lesões longitudinais, acasalam e oviposita em partes submersas da bainha foliar. Cerca de uma semana pós-oviposição surgem as larvas (bicheira-da-raiz), que danificam as raízes durante aproximadamente 25 dias e atingem o comprimento de 8,5 mm no último instar. Os adultos somente provocam danos econômicos em arroz pré-germinado, quando destroem significativa quantidade de plântulas. As larvas sempre são mais prejudiciais. Ao danificarem as raízes reduzem a capacidade de absorção de nutrientes e induzem a perdas de 10 a 35% na produtividade. As lavouras instaladas mais cedo são sempre mais prejudicadas. Os danos das larvas muitas vezes são atribuídos erroneamente a deficiência de nitrogênio, toxidez por ferro e salinidade.

Dez dias pós-inundação, no sistema de cultivo convencional (semeadura em solo seco) ou da emergência das plantas, em arroz pré-germinado, deve ser avaliada a presença de larvas, no mínimo em dez locais escolhidos ao acaso na lavoura. É importante considerar que, inicialmente, há maior concentração de larvas ao longo das margens ou nas primeiras partes inundadas da lavoura. Em cada local, retirar quatro amostras-padrâo de solo e raízes, usando uma secção de cano de PVC com 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura, aprofundando-a 8 cm no solo. Agitar as amostras sob água, em uma peneira apropriada, para liberação e contagem das larvas. A cada larva, em média por amostra-padrão, é esperada uma redução de 1,1 e 1,5 % na produção de grãos de cultivares de ciclo médio e precoce, respectivamente. 

O controle: a) por meio de práticas culturais intrínsecas do manejo da cultura como limpeza de canais de irrigação, destruição de restos culturais, aplainamento do solo e adubação nitrogenada suplementar, no máximo até a fase inicial de diferenciação das panículas (IDP), para recuperação do sistema radicular danificado pelas larvas; b) em áreas com histórico de danos, evitar o uso de cultivares de ciclo biológico, que são menos tolerantes ao ataque do inseto; c) tratamento de sementes com inseticidas; e) aplicação curativa de inseticidas, com base em NCE, apenas de produtos registrados para esse fim, conforme constam na publicação Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil.


Percevejo-do-colmo


Inseto oligófago, de ocorrência crônica, com 13 mm de comprimento e 7 mm de largura, marrom. Os adultos hibernantes invadem as novas lavouras cerca de 20 dias após a emergência das plantas de arroz. Localizam-se na base dos colmos, próximos ao colo das plantas, principalmente em partes do arrozal não atingidas pela lâmina da água de irrigação, onde acorre a reprodução. Adultos e ninfas de quarto e quinto ínstar são facilmente observados no topo das plantas de arroz, em horários de temperatura mais elevada.

Ao perfurar colmos em formação (fase vegetativa) ou já desenvolvidos (fase reprodutiva), provoca os sintomas de coração morto e panícula branca, respectivamente. Os prejuízos são maiores quando ataca na fase de pré-floração e de formação de grãos, causando perdas quantitativas e qualitativas na produção de grãos. Plantas debilitadas pelo ataque do inseto tornam-se mais sensíveis a fungos manchadores de grãos.

O percevejo-do-colmo é mais prejudicial no Planalto da Campanha do Rio Grande do Sul, onde há maior concentração de lavouras implantadas em terrenos inclinados, com grande quantidade de plantas de arroz sobre as taipas, condição altamente favorável ao seu crescimento populacional. Em Santa Catarina há maior ocorrência na Região do Alto Vale do Itajaí.

O monitoramento populacional deve ser efetuado, em intervalos semanais, do início do perfilhamento das plantas à fase de floração. Averiguar a presença de insetos preferencialmente em plantas sobre as taipas, após o meio-dia, usando rede de varredura (aro de 30 cm de diâmetro). A cada inseto adulto, em média/m2, é esperada uma redução de 1,2% na produção de grãos.

Controle: a) evitar, quando possível, plantio escalonado de arroz em áreas com histórico de danos; b) destruição de restos culturais e hospedeiros nativos; c) cultura armadilha, criando condições favoráveis à concentração do inseto, em determinados locais às margens dos arrozais, por meio da adubação nitrogenada mais elevada, manutenção de plantas de espécies nativas hospedeiras ou plantio de cultivares precoces, visando ao controle localizado; d) catação manual, em pequenas lavouras, possibilitada pela colocação de abrigos ou esconderijos (pedaços de tábuas), em taipas e estradas internas, com coletas periódicas dos insetos; e) maximizar o controle biológico natural, preservando o complexo de parasitóides e predadores do inseto; f) uso de inseticidas químicos somente com base em NCE.


Percevejo-do-grão


Inseto oligófago, de ocorrência aguda, com 7 a 8 mm de comprimento e 4 mm de largura, castanho amarelo. Surge nos arrozais, normalmente quando os grãos atingem a fase leitosa. Geralmente inicia a oviposição em panículas de Echinochla spp. (capim-arroz), representando verdadeiros focos de desova. É mais ativo em horários nublados do dia, pois, quando a temperatura é mais elevada, abriga-se entre as plantas de arroz, nas partes baixas, junto ao solo.

O percevejo-do-grão afeta a quantidade e qualidade do produto. A natureza e extensão do dano dependem do estágio de desenvolvimento dos grãos. Espiguetas com endosperma leitoso, se sugadas, podem ficar completamente vazias ou darem origem a grãos atrofiados com diminutas manchas escuras nas glumas, nos pontos de introdução do estilete. A alimentação na fase de endosperma pastoso origina grãos com manchas escuras na casca, gessados, estruturalmente enfraquecidos nas regiões danificadas. Esses grãos quebram facilmente durante o processo de beneficiamento, diminuindo ainda mais o rendimento de engenho.

O percevejo-do-grão está distribuído em todas as regiões orizícolas do Rio Grande do Sul. O lançamento e a expansão do cultivo, no Estado, de cultivares de grãos finos e longos, com ciclo diferenciado daquelas tradicionais ocasionaram mudanças no comportamento do inseto e induziu à antecipação da época de ocorrência nos arrozais. O inseto, anualmente, tem sido mais prejudicial à cultura do arroz irrigado nas Regiões Central e Norte do Brasil. 

O monitoramento populacional do percevejo-do-colmo deve ser efetuado desde a fase de polinização ao início do amadurecimento das panículas. Em horários com temperaturas mais amenas, verificar a presença do inseto em locais da lavoura onde há maior densidade e vigor de plantas de arroz ou infestação de capim-arroz, usando rede de varredura, com aro de 30 cm de diâmetro. A cada inseto adulto em média/m2 é esperada uma redução de 1% na produtividade, sem considerar ainda as perdas qualitativas.

Controle: a) evitar plantio escalonado de arroz; b) destruição dos restos culturais e hospedeiros nativos; c) controle localizado em cultura armadilha (focos premeditados de capim-arroz ou de plantas de arroz adubadas com altas doses de nitrogênio); d) em áreas com histórico de danos severos, se possível, utilizar cultivares de ciclo mais curto; e) em pequenas lavouras, catação manual de massas de ovos nos focos de desova; f) maximizar o controle biológico natural, preservando o complexo de parasitóides e predadores do inseto; g) aplicar inseticidas somente com base em NCE.


Pássaro-preto


A população do pássaro-preto, nos últimos anos, aumentou sensivelmente nas várzeas do Rio Grande do Sul, fazendo com que atingisse o status de praga do arroz irrigado. O pássaro, de aproximadamente 180 mm de comprimento, ao arrancar plântulas de arroz no período de implantação da cultura, reduz significativamente população de plantas, principalmente em lavouras localizadas menos de 200 m de bosques ou de vegetação nativa, arbórea ou herbácea, que servem de locais de refúgio ou descanso. Prefere atacar lavouras de arroz pré-germinado pois normalmente estão localizadas próximas a bosques e são as primeiras serem implantadas. Também ataca plantas na fase reprodutiva, alimentando-se de grãos em maturação, podendo causar perdas de aproximadamente 1250 kg.ha-1.

O aumento da população do pássaro-preto resulta da perda de arroz durante a colheita, transporte, nas estradas, e de resíduos da pré-limpeza de grãos, disponíveis durante o inverno. Tal oferta extra de alimento reduz a mortalidade dos pássaros, especialmente de espécimes jovens e faz com que as fêmeas não necessitem sincronizar a reprodução.

Sistemas de manejo do pássaro-preto não devem focar simplesmente a eliminação total da população, mas sim mante-lá abaixo do nível de dano econômico (NDE), considerando que o este desempenha um papel importante ao alimentar-se de insetos fitófagos e sementes de plantas daninhas. A estratégia é encontrar o ponto de equilíbrio entre a redução dos danos causados pelo pássaro e a manutenção dos benefícios que oferece. Qualquer plano de manejo do pássaro deve ser global, em uma determinada região, contemplando a participação integrada de vários produtores na adoção de medidas de controle populacional.

As seguintes medidas devem ser adotadas para evitar aumento populacional do pássaro-preto: a) redução de perdas de grãos, na colheita, e durante o transporte, em estradas; b) não acumular resíduos da pré-limpeza de grãos; c) abate por meio de caça e uso de armadilhas, segundo regulamentação oficial. Para reduzir danos na fase de implantação da cultural são indicados: a) cobertura completa das sementes após a semeadura; b) sincronismo da semeadura, o máximo possível, em uma determinada região produtora; c) aumento da densidade de semeadura em áreas mais próximas a banhados e bosques; d) no sistema pré-germinado, não retirar totalmente a água de irrigação lavoura após a semeadura. Na fase reprodutiva, os danos podem ser minimizados se as primeiras lavouras forem implantadas em áreas mais afastadas possível de banhados e bosques, se as bordas dos arrozais forem mantidas livres de plantas daninhas e se o tempo de exposição de grãos maduros ao pássaro for reduzido.


Moluscos


Os moluscos (caramujos), nos últimos oito anos, tornaram-se praga importante do arroz irrigado, essencialmente em cultivos de arroz pré-germinado, sendo e espécie Pomacea canaliculata a mais prejudicial. A espécie (dimensão) apresenta uma concha grande, arredondada, de cor castanho-clara, com listras marrons, e possui elevada capacidade de reprodução. A oviposição é feita em pontos não submersos, em caules ou folhas de plantas, moirões e troncos de árvores. Os ovos ficam aglutinados e aderidos por meio de um líquido transparente gelatinoso expelido pela fêmea. A postura é similar a um cacho de uva, vulgarmente chamada de ovo de sapo. Em maio cessam a oviposição, reiniciando em agosto.

Os caramujos invadem as lavouras de arroz pré-germinado por meio da água de irrigação e permanecem vários dias em condições de alimentação reduzida. Com a semeadura do arroz, passam alimentar-se de plântulas, durante o dia e a noite, causando danos significativos à cultura. Tornam-se mais vorazes quando atingem de 15 a 30 mm de diâmetro. A praga normalmente atinge elevada densidade populacional, tendo sido verificado que três caramujos por m2, ao atacarem sementes de arroz pré-germinado, podem causar danos superiores a 90%, em apenas dois dias. A ocorrência na lavoura é mais acentuada nos canais de irrigação, entradas de águas, nas passagens de água de um tabuleiro a outro, e também em pontos correspondentes a depressões do solo, onde há maior acúmulo de água na fase de implantação da cultura. 

As seguintes medidas podem ser empregadas para reduzir os danos causados por caramujos: a) coleta e destruição de posturas; b) limpeza e drenagem dos canais de irrigação; c) preparo do solo com enxadas rotativas; d) drenagem dos tabuleiros durante o período germinação e crescimento das plântulas; e) colocação de telas nos canais de irrigação, nos pontos de entrada de água na lavoura; f) implantação de poleiros nas lavouras para facilitar a mobilização gavião-caramujeiro (predador de caramujos). Não há produtos químicos registrados para controle de caramujos, portanto, este método não é recomendado.






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