sábado, 9 de junho de 2018

Manejo de plantações de Eucalipto para Serraria

Introdução

Plantações de eucaliptos destinadas à obtenção de toras para processamento mecânico (desdobro) em serrarias e/ou laminadoras devem ser manejadas para elevar a qualidade da matéria-prima a ser obtida, de forma a atender às especificações das indústrias de sólidos madeireiros.
Muito embora as práticas florestais recomendadas nesses casos impliquem em despesas consideráveis ao produtor rural, por outro lado, a adoção das mesmas contribui para agregar valor à madeira produzida, o que permite obter preços diferenciados no momento de comercialização. As principais intervenções efetuadas nos povoamentos florestais voltados para produção de madeira para desdobro são a retirada gradual dos ramos laterais, técnica conhecida como desrama ou poda verde, e a eliminação periódica de árvores que possuem características inapropriadas, técnica conhecida como desbaste de condução.
Há que se destacar também que o corte final é consideravelmente ampliado, para que as toras atinjam as dimensões pretendidas, demorando usualmente de 15 a 25 anos, dependendo da espécie e condições do meio físico (solo e clima), que são os fatores condicionantes do crescimento das árvores.

A dinâmica do crescimento florestal

O entendimento de como se processa o crescimento das árvores numa plantação comercial auxilia a tomada de decisão por parte do empreendedor florestal. No presente contexto, o produto florestal almejado é a madeira, cuja produção pode ser avaliada em termos de volume.
Em um determinado sítio (área de terreno supostamente homogênea), em determinado espaço de tempo (anos), o volume de madeira aumenta com o aumento do número de árvores por unidade de área (hectare). No entanto, o diâmetro das árvores tende a diminuir com o aumento do número de árvores, enquanto que os custos das mudas e da implantação do povoamento tendem a aumentar (FERREIRA e SILVA, 2008).
Portanto, para decisão final em relação à escolha do espaçamento inicial e condução do povoamento, é necessário conhecer a capacidade suporte do local de plantio (fertilidade natural e profundidade efetiva do solo , regime pluviométrico, etc.), o grau de melhoramento do material a ser plantado (sementes x clones) e a finalidade da produção (energia, fibras, madeira roliça ou madeira processada). Evidentemente, o produto final desejado e suas dimensões devem igualmente ser levados em consideração, bem como a qualidade da madeira que varia em função da idade e do sistema de manejo adotado. A decisão interfere diretamente nos custos de implantação, por força da quantidade de mudas e de outros insumos a serem utilizados.
Quando se pretende obter maiores volumes de madeira em plantios sob espaçamentos adensados dentro de um período de tempo pré-estabelecido de “x” anos, verifica-se uma tendência para ocorrência de árvores dominadas, ou seja, de crescimento ruim e mal formadas, além de uma maior predisposição para mortalidade prematura das menos aptas. Isso acontecerá nas situações em que a competição for muito intensiva entre árvores e houver prevalência dessa condição durante parte significativa do tempo previsto de rotação (FERREIRA e SILVA, 2008).
Cada sítio comporta um limite máximo de área basal, fazendo com que o crescimento das árvores melhores ocorra apenas devido à supressão das árvores menos desenvolvidas e à eventual morte das fortemente dominadas. Naturalmente, este é um processo lento que pode ser antecipado pela prática do desbaste. O desbaste tem ainda a vantagem de permitir o aproveitamento da madeira oriunda das árvores eliminadas por meio dos cortes intermediários, podendo ser direcionado para usos energéticos (lenha, carvão, briquetes, péletes, etc.), uso na propriedade rural (lascas, escoras, estacas, moirões, postes, etc.) ou, ainda, comercializada para indústrias de celulose ou de chapas reconstituídas (chapas duras, aglomerados, etc.). Essa produção antecipa periodicamente renda ao produtor e é variável em função do volume de madeira removido a cada desbaste e das possíveis utilizações (FERREIRA e SILVA, 2008).

Espécies indicadas para serraria

Diversas espécies de eucaliptos podem ser plantadas com a finalidade de serraria. A escolha da espécie depende fundamentalmente do clima da região e das características físicas e químicas do solo.
E. grandis, E. saligna, E. dunnii, E. pilularis, E. cloeziana, E. paniculata, E. resinifera, E. microcorys, E. urophylla, Corymbia maculata (atual denominação de E. maculata) e alguns híbridos (especialmente E. urograndis) têm sido manejados em nível mundial para serraria e laminação (SANTOS, 2006; FERREIRA e SILVA, 2008).
Nem todas as espécies mencionadas possuem disponibilidade de mudas clonais, sendo sementes a única opção atualmente disponível (E. pilularis, E. cloeziana, E. paniculata, E. resinifera, E. microcorys e C. maculata). Já algumas possibilitam optar por mudas clonais ou mudas obtidas por sementes, como é o caso de E. grandis, E. saligna, E. dunnii e E. urograndis.

Desrama

A desrama ou poda consiste no corte dos ramos laterais para minimizar a ocorrência de imperfeições na madeira, acumulação de kino e aparecimento de podridões de cerne. Dessa forma, previne-se contra defeitos direta ou indiretamente associados aos ramos, especialmente aqueles que perdem a funcionalidade e mesmo assim permanecem presos ao tronco. A prática contribui, portanto, para agregar valor à madeira.
O ideal é fazer o corte dos ramos ainda no estado verde, para permitir um adequado recobrimento da região de conexão do ramo ao tronco, restando apenas uma pequena zona diferenciada no lenho, conhecida como nó preso ou vivo. A cicatrização ocorre perfeitamente e a integridade dos tecidos é preservada. A nova madeira formada pelo crescimento lateral do tronco a partir desse ponto em diante é agora isenta de nós, sejam eles presos ou soltos. O corte deve ser feito bem rente à casca e com instrumentos de corte apropriados, de preferência empregando-se serrotes especialmente desenhados para essa finalidade. Deve-se evitar que haja desprendimento da casca na operação. Quanto à intensidade de desrama, ela nunca deve ser superior a um terço da copa viva, para que a atividade fotossintética, responsável pelo crescimento, não seja prejudicada.
As desramas devem ser iniciadas precocemente, para permitir a formação de madeira de qualidade desde cedo, devendo o procedimento ser repetido a intervalos regulares com alturas sucessivamente maiores em relação ao nível do solo. A altura da desrama é estipulada ponderando-se a relação entre custos das operações x estimativa de agregação de valor à madeira, sendo que, normalmente, até a altura de 6 m a 7 m é praticável e economicamente viável (Figura 1).
Foto: Paulo Eduardo Telles dos Santos
Figura 1. Plantio clonal de E. grandis desramado até a altura de 2,5 m.
Regimes de desrama
No planejamento da desrama, deve-se levar em consideração a taxa de crescimento das árvores do talhão e a altura pretendida para proporcionar toras de maior valor.
Exemplo 1
Desrama
Idade (anos)
Altura na árvore (m)
1,5
3
3,5
6
Fonte: Santos, P. E. T. dos
Exemplo 2
Desrama
Idade (anos)
Altura na árvore (m)
1,5 a 2,5
5
3,0 a 4,0
7
Fonte: Santos, P. E. T. dos

Sistemas de desbaste

O desbaste pode ser classificado em seletivo , sistemático ou combinado.
O desbaste é dito seletivo quando a unidade de seleção é a árvore, ou seja, quando o produtor florestal classifica cada uma delas em duas categorias: as que serão cortadas e as que serão mantidas em pé. Os critérios que norteiam a eliminação de uma árvore são definidos a priori, sendo aplicado uniformemente em todo o talhão a ser manejado.
Ao contrário do seletivo, no desbaste sistemático a unidade de seleção é a linha de plantio. Todas as árvores contidas em determinadas linhas de plantio são invariavelmente cortadas, sendo intercaladas por outras tantas sem intervenção. Como o procedimento é repetitivo, daí o nome sistemático. Nesta modalidade de manejo, também é possível, numa mesma operação de desbaste, efetuar a marcação e corte seletivo de árvores dentro das linhas de plantio que foram preservadas, caracterizando o sistema combinado.
Do ponto de vista econômico e operacional, em grandes áreas, é preferível executar o corte e a extração de madeira de forma mecanizada ao invés da manual, sendo mais econômico realizar o desbaste sistemático e não o seletivo, especialmente no primeiro desbaste. Este sistema de desbaste é recomendável para plantios muito homogêneos, ou seja, aqueles plantados com material genético selecionado e com técnicas silviculturais adequadas.

Produção de madeira para desdobro

O aproveitamento das toras para serraria é tanto mais elevado quanto maior for o diâmetro da tora, respeitando-se o limite superior mencionado anteriormente. Assim, quanto mais cedo o povoamento atingir diâmetros elevados minimizando-se a competição, mais rentável será o empreendimento florestal. Para atingir este objetivo, os desbastes praticados a idades jovens são recomendáveis por estimularem precocemente o crescimento em diâmetro.
Entretanto, a madeira inicialmente produzida, até pelo menos os cinco primeiros anos de crescimento, é de qualidade inferior do ponto de vista de propriedades físicas e mecânicas. As árvores normalmente possuem elevadas tensões de crescimento , o que contribui para intensificar o rachamento das extremidades de toras e aumentar o empenamento de peças serradas. Para aumentar a proporção de madeira de boa qualidade, e limitar a madeira de qualidade inferior a um pequeno cilindro central, devem-se executar desbastes e desramas periodicamente. Quando as árvores atingirem maiores idades, haverá prevalência de madeira adulta, de propriedades superiores, mais estável e sem a presença de nós, por isso o período mais longo de rotação comparativamente aos outros usos.
Visando assegurar a adoção de manejo específico para o povoamento e a região de interesse, considerando o potencial de produção e o sortimento específicos do povoamento florestal, como função da idade e dos regimes de manejo, é altamente recomendável utilizar simuladores de crescimento e produção. Neste particular, foi desenvolvido pela Embrapa um programa computacional de gerenciamento de plantações florestais de eucaliptos denominado SisEucalipto®. Este simulador é uma ferramenta de extrema importância para a definição do regime de desbastes ideal para cada povoamento e situação de mercado.

Desbaste

Os desbastes de plantios florestais são necessários quando se deseja obter toras de diâmetros elevados ao final da rotação. Este é o caso da produção de toras para serraria e laminação. As indústrias desse segmento normalmente têm preferência por diâmetros entre 20 cm e 40 cm (Figura 2).
Foto: Paulo Eduardo Telles dos Santos
Figura 2. Plantio jovem de E. dunnii após o primeiro desbaste (intensidade de 30%).

Quando o objetivo for a produção do maior volume possível de madeira de pequenos diâmetros, em espaço de tempo menor até o corte final, como é o caso para fins energéticos, os desbastes não são necessários (FERREIRA e SILVA, 2008).
Como cada sítio admite apenas um determinado valor limite de área basal, ao se reduzir a densidade de árvores, a área basal máxima será o resultado da somatória das áreas basais individuais de número menor de árvores comparativamente à população original. Porém, essas árvores – ditas remanescentes – alcançarão diâmetros maiores. A estratégia mais recomendável é manter o povoamento crescendo a taxas próximas do máximo incremento corrente anual (ICA) em área basal (m²), o que pode ser conseguido através de desbastes periódicos (FERREIRA e SILVA, 2008).
Os desbastes iniciais devem ser dimensionados de forma a proporcionar significativa diminuição da competição, tendo o objetivo de também eliminar árvores mal formadas, tortas, bifurcadas e doentes, mesmo que apresentem dimensões acima da média. Deve-se evitar a retirada de árvores em agrupamentos, sendo ideal procurar manter uma distribuição uniforme de espaço livre entre as árvores remanescentes. Isto evita a formação de clareiras e o crescimento de plantas invasoras entre as árvores. Dessa forma, evita-se também o surgimento de número excessivo de brotações laterais a partir das gemas epicórmicas, que podem prejudicar a qualidade da madeira. Este efeito indesejável ocorre devido ao estímulo provocado pela incidência de luz solar sobre as gemas dormentes existentes ao longo do fuste e também quando as árvores entortam devido a desbastes excessivos (FERREIRA e SILVA, 2008).
Ainda segundo Ferreira e Silva (2008), para certificar que o número de árvores por hectare preconizado permaneça após o desbaste, é recomendável medir o comprimento de duas linhas de plantio que conterão dez árvores, por exemplo, ao final do desbaste. Um método simples de calcular essa distância consiste em multiplicar o número remanescente de árvores por hectare pela distância entre as linhas de plantio e dividir este valor pela área de um hectare (10.000 m²). Em seguida, deve-se dividir por cinco (número de árvores em uma linha) pelo valor anteriormente obtido. O valor resultante é o comprimento de duas linhas onde devem ser deixadas dez árvores.
Aplicando para uma distância entre linhas de 3 m, tem-se:
500 x 3 m = 1.500 m
1.500 m /10.000 m² = 0,15 m¹
5/15 m¹ x 100 = 33,3 m.
Portanto, para se obter a densidade de plantas remanescente pretendida (500 árvores/ha-¹), é necessário deixar dez árvores a cada 33 m de linha dupla.
Deve ser mencionado que não é necessário manter indistintamente, por exemplo, cinco árvores em cada linha de 33 m. Se necessário, pode-se deixar quatro árvores em uma linha e seis na outra, ou outras combinações não muito discrepantes.

Tensões de crescimento

Na árvore viva, as tensões de crescimento são fundamentais para a sustentação do tronco e o equilíbrio das copas, respondendo, portanto, pelo crescimento e desenvolvimento normais da árvore. Os inconvenientes começam por ocasião de sua derrubada e posterior processamento mecânico das toras.
Segundo SANTOS (2006), as rachaduras afetam diretamente o rendimento nas serrarias, pois comprometem a integridade da madeira e o tamanho final das peças serradas. A primeira evidência da liberação das tensões é o aparecimento de rachaduras de extremidade de toras (Figura 3). Os empenamentos, embora também indesejáveis, podem ser contornados mais eficazmente por meio de procedimentos operacionais apropriados de desdobro. O tipo de empenamento associado diretamente às tensões de crescimento é o encurvamento (empenamento longitudinal da face), muito embora existam outros tipos de empenamentos da madeira: arqueamento (empenamento longitudinal da borda), torcimento (empenamento simultâneo em dois eixos) e encanoamento (empenamento transversal da face).
Existe grande variação entre espécies de eucaliptos e mesmo entre árvores pertencentes a uma mesma espécie, como resultado de variações genéticas e ambientais.
Em condições apropriadas de crescimento, objetivando a produção de madeira para serraria, as árvores devem ser conduzidas para formarem troncos grossos e copas simétricas. O ideal é que as árvores cresçam de forma a não sofrerem forte competição entre si, evitando, portanto, que se tornem excessivamente altas e finas e com copas demasiadamente pequenas. Nessas condições, o nível interno de tensões de crescimento tende a ser menor, resultando menos perdas em rendimento durante o desdobro em serraria. Além disso, a madeira produzida sob tais condições tende a ser mais homogênea.
Foto: Paulo Eduardo Telles dos Santos
Figura 3. Extremidade de tora com rachaduras decorrentes da liberação das tensões de crescimento após o corte da árvore.

Regimes de desbaste

Não existe uma receita única que sirva para as inúmeras situações encontradas no campo, até porque há uma séria enorme de fatores que interferem no ritmo de crescimento da plantação florestal. Esses fatores podem ser, por exemplo, fertilidade do solo, disponibilidade hídrica, espaçamento de plantio, espécie, grau de melhoramento do material, condições climáticas, ocorrência de pragas e doenças, entre outros.
A título de exemplos, as Tabelas a seguir ilustram possíveis manejos a serem adotados para o eucalipto para produção final de toras destinadas à serraria/laminação.
Exemplo 1
Desbaste
Idade (anos)
Retirada (%)
Número de árvores remanescentes por ha
7
40
1.200
10
40
720
13
40
430
16
33
280
20
40
180
Corte final
28
100
-
Obs.: população inicial de 2 mil árvores por hectare.
Fonte: Santos, P. E. T. dos
Exemplo 2
Desbaste
Idade (anos)
N° de Árvores
Volume (m³/ha‾¹)
Usos
Inicial
Corte
Restantes
5
1.400
840
560
76
Energia, celulose, carvão
9
560
336
224
164
Celulose, madeira para processamento mecânico
Corte final
20
224
224
0
250
Celulose, madeira para processamento mecânico
350
Serraria e laminação
TOTAL = 840 m³/ha‾¹
Fonte: Santos, P. E. T. dos
Exemplo 3. Simulação de regime de desbaste proposto para E. grandis por meio do uso do programa computacional SisEucalipto®.
Idade (anos)
Árvores removidas por ha
Árvores remanescentes por ha
Porcentagem de desbaste
Volume total de madeira (m³)
Madeira para celulose (m³)
Madeira para desdobro (m³)
0
0
1.047
-
-
-
-
5
647
400
62
288,3
143,4
0
8
200
200
50
320,9
108,8
34,4
15
200
0
100
409,4
90,2
306,4
Fonte: Santos, P. E. T. dos

Marcação para desbaste

A marcação do desbaste é uma operação especializada para a qual é necessário treinamento e discernimento para reconhecer as árvores que devem ser retiradas e as que devem permanecer, ressaltando-se a importância de uma operação homogênea dentro do talhão (FERREIRA e SILVA, 2008).
Uma forma prática de identificar as árvores a serem removidas é fazer a retirada superficial de uma pequena quantidade de casca utilizando-se facão ou foice, e que seja facilmente visível ao operador durante o corte propriamente dito. Outra forma de marcação é assinalar a superfície da casca usando-se tinta branca e trincha, fazendo-se uma faixa ou desenhando-se um “X”. Essa identificação deve ser feita a uma altura prática, ou seja, por volta do diâmetro à altura do peito (DAP).




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