sábado, 7 de maio de 2022

Rotação de Culturas na Soja

 

Informações gerais

A monocultura ou mesmo o sistema contínuo de sucessão do tipo trigo-soja ou milho safrinha-soja, tende a provocar a degradação física, química e biológica do solo e a queda da produtividade das culturas, além de proporcionar condições mais favoráveis para o desenvolvimento de doenças, pragas e plantas daninhas. Assim sendo, onde há o predomínio da monocultura de soja entre as culturas anuais é necessário a introdução, no sistema agrícola, de outras espécies, de preferência gramíneas, como milho, pastagem e outras.

A rotação de culturas, processo de cultivo para a preservação ambiental, influi positivamente na recuperação, manutenção e melhoria dos recursos naturais. Viabiliza produtividades mais elevadas, com mínima alteração ambiental, além de preservar ou melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo e auxiliar no controle de plantas daninhas, doenças e pragas. Além disso, repõe restos orgânicos e protege o solo da ação dos agentes climáticos ajudando a viabilização da semeadura direta e seus efeitos benéficos sobre a produção agropecuária e o meioambiente como um todo.

Conceito

A rotação de culturas consiste em alternar espécies vegetais no correr do tempo, numa mesma área agrícola. As espécies escolhidas devem ter propósito comercial e de manutenção ou recuperação do meio-ambiente. Para a obtenção de máxima eficiência da capacidade produtiva do solo, o planejamento de rotação deve considerar, além das espécies comerciais, aquelas destinadas à cobertura do solo, que produzam grandes quantidades de biomassa, cultivadas quer em condição solteira ou em consórcio com culturas comerciais.

Planejamento da lavoura

O planejamento é imprescindível, pois as tecnologias a serem usadas devem ser praticadas em conjunto. Dentre as já à disposição dos agricultores, destacam-se:

s sistema regional de conservação do solo em microbacias;

s calagem e adubação;

s cobertura vegetal do solo;

s processos de cultivo: preparo do solo, época e densidade de semeadura, cultivares adaptadas, qualidade e tratamento de sementes, população de plantas, controle de plantas daninhas, pragas e doenças;

s semeadura direta;

s integração agropecuária

s silvicultura.

Escolha do sistema de rotação de culturas

O uso da rotação de culturas conduz à diversificação das atividades na propriedade, que pode ser exclusivamente de culturas anuais ou culturas anuais e pastagens, o que demanda planejamento da propriedade a médio ou mesmo a longo prazos. A escolha das culturas e do sistema de rotação deve ter flexibilidade, de modo a atender às particularidades regionais e as perspectivas de comercialização dos produtos. A rotação possibilita o estabelecimento de esquemas que envolvam apenas culturas anuais, tais como soja, milho, arroz, sorgo, algodão, feijão e girassol ou de culturas anuais e pastagem. As espécies vegetais envolvidas na rotação devem ser consideradas do ponto de vista de sua exploração comercial ou se destinadas somente à cobertura do solo e adubação verde. Opções de espécies para sucessão e rotação de cultura envolvendo a soja são apresentadas no Capítulo 3. Esse processo aumenta o nível de complexidade das tarefas na propriedade e exige que sejam seguidos princípios básicos que considerem a aptidão agrícola de cada gleba. A adoção do planejamento deve ser gradativa para não causar transtornos organizacionais ou econômicos ao produtor. A área destinada à implantação dos sistemas de rotação deve ser dividida em tantas glebas quantos forem os anos de rotação e após essa definição deve-se estabelecer o processo de implantação sucessivamente, ano após ano, nos diferentes talhões previamente determinados. Assim procedendo, os cultivos são feitos em faixas, constituindo-se também em processos de conservação do solo. É necessário considerar ainda, que não basta apenas estabelecer e conduzir a melhor sequência de culturas, dispondo-as nas diferentes glebas da propriedade. É necessário, também, que o agricultor utilize todas as demais tecnologias à sua disposição, entre as quais, técnicas específicas para controle de erosão, calagem, adubação, qualidade e tratamento de sementes, época e densidade de semeadura, cultivares adaptadas, controle de plantas daninhas, pragas e doenças.

Escolha da rotação de culturas no Paraná

No Paraná, as sequências de culturas indicadas para anteceder ou suceder à cultura principal, na composição de sistema de rotação com soja e trigo, estão relacionadas, em ordem de preferência, na Tabela 2.1. Estão relacionadas também, as espécies que podem ser usadas em condições especiais. Aquelas anotadas com restrição de cultivo devem ser evitadas.

Em áreas onde ocorre o cancro da haste da soja, além de outras medidas de controle, como o uso de cultivares resistentes à doença e tratamento de sementes, o guandu e o tremoço não devem ser cultivados antecedendo a soja. O guandu, apesar de não mostrar sintomas da doença durante o estádio vegetativo, reproduz o patógeno nos restos culturais. Além disso, após o consórcio milho/guandu, indicado para a recuperação de solos degradados, deve-se usar, sempre, cultivar de soja resistente ao cancro da haste. O tremoço é altamente suscetível ao cancro da haste.

Cobertura vegetal do solo

A escolha de espécies para cobertura vegetal do solo, quer como adubo verde, quer como cobertura morta, deve ser feita no sentido da produção de grande quantidade de biomassa. Além disso, devese dar preferência para plantas fixadoras de nitrogênio, com sistema radicular profundo ou abundante, promotoras de reciclagem de nutrientes, capazes de se nutrir com os fertilizantes residuais das culturas comerciais e que não sejam hospedeiras de pragas, doenças e nematoides ou apresentem efeito alelopático para as culturas comerciais.

No verão, são indicadas para cobertura verde: lab-lab, mucunas, guandu e crotalárias, em cultivo solteiro ou em consórcio com o milho. Indica-se o uso do consórcio milho + guandu gigante ou milho + mucuna preta, em rotação com soja, somente para solos degradados, situados no norte e no centro-oeste do Paraná, nos quais as culturas comerciais apresentem baixos rendimentos, não sendo indicado para as demais zonas, especialmente as de clima mais frio. Esse sistema deve ser usado por, no máximo, duas safras. Após esse período, o sistema de rotação deve ser substituído por milho solteiro.

O milho deve ser precoce, semeado até o início de outubro. O guandu forrageiro deve ser semeado 25 a 35 dias após a semeadura do milho, utilizando semeadoura regulada no mesmo espaçamento da soja, em duas linhas, nas entrelinhas do milho, com densidade de 30 a 35 sementes por metro linear, para germinação de 70% a 75% e sempre internamente às linhas do milho. Nesse processo, a umidade do solo deve ser favorável à germinação, pois é o principal fator de sucesso do sistema. No cultivo do milho, como o solo fica com a superfície irregular, deve-se tomar cuidado na semeadura do guandu que, embora não exigindo semeadura profunda, necessita de boa cobertura da semente. Na semeadura direta do guandu, podem ser usados alguns modelos de plantadoras, exceto aquelas em que as linhas coincidem com as do milho e aquelas com rodas limitadoras de profundidade muito largas; neste caso, deve-se substituir por rodas de menor largura.

A mucuna preta é semeada manualmente, na prematuração do milho, no espaçamento indicado para o guandu e com densidade de semeadura de cinco sementes por metro linear.

A colheita do milho deve ser feita logo após a maturação, regulando a plataforma de corte da colhedora saca-espiga, o mais alto possível.

O manejo da cobertura vegetal do milho + guandu ou milho + mucuna deve ser feito em meados de abril, no norte, e em fins de abril, no centro-oeste do Paraná, a fim de possibilitar o cultivo de inverno. O guandu deve ser sempre manejado antes do início do florescimento.

O rolo-faca tem sido muito eficiente no manejo dessas espécies, no sistema de semeadura direta.

O milheto em consórcio com guandu pode ser semeado no espaçamento de 34 cm, usando para cada 100 quilogramas de sementes, a mistura de 20 kg de milheto (20%) e 80 kg (80%) de guandu. Regular a semeadora para 22 a 27 sementes/metro linear de guandu. No caso de utilizar espaçamento diferente de 34 cm, devese fazer o cálculo da quantidade da mistura de sementes sempre pelo guandu, para cerca de 50 sementes/m2, mantendo as percentagens 80% para guandu e 20% para milheto.

O depósito da semeadora deve ser abastecido até a metade de cada vez, para evitar o acúmulo de sementes de tamanho menor (milheto) no fundo do depósito.

O girassol é outra alternativa interessante no sistema de rotação, principalmente por melhorar as condições físicas do solo. Mas deve ser cultivado com intervalo mínimo de três anos na mesma área, especialmente se forem constatadas as presenças de Sclerotinia sclerotiorum e/ou do nematoide na soja.


domingo, 13 de março de 2022

Clima para a Soja

 

Exigências hídricas

A água constitui aproximadamente 90% do peso da planta, atuando em, praticamente, todos os processos fisiológicos e bioquímicos.

Desempenha a função de solvente, através do qual gases, minerais  outros solutos entram nas células e movem-se pela planta. Tem, ainda, papel importante na manutenção e distribuição do calor.

A disponibilidade de água é importante, principalmente, em dois períodos de desenvolvimento da soja: germinação-emergência e floração e enchimento de grãos. Durante o primeiro período, tanto o excesso quanto o déficit de água são prejudiciais à obtenção de uma boa uniformidade na população de plantas. A semente de soja necessita absorver, no mínimo, 50% de seu peso em água para assegurar boa germinação. Nessa fase, o conteúdo de água no solo não deve exceder a 85% do total máximo de água disponível e nem ser inferior a 50%.

A necessidade de água na cultura da soja vai aumentando com o desenvolvimento da planta, atingindo o máximo durante a floração e enchimento de grãos (7 a 8 mm/dia), decrescendo após esse período.

Déficits hídricos expressivos, durante a floração e o enchimento de grãos, provocam alterações fisiológicas na planta, como o fechamento estomático e o enrola-mento de folhas e, como consequência, causam a queda prematura de folhas e de flores e abortamento de vagens, resultando, por fim, em redução do rendimento de grãos.

A necessidade total de água na cultura da soja, para obtenção do máximo rendimento, varia entre 450 a 800 mm/ciclo, dependendo das condições climáticas, do manejo da cultura e da duração do ciclo.

Para minimizar os efeitos do déficit hídrico, indica-se semear apenas cultivares adaptadas à região e à condição de solo; semear em época recomendada e de menor risco climático; semear com adequada umidade em todo o perfil do solo; e adotar práticas que favoreçam o armazenamento de água pelo solo. A irrigação é medida eficaz porém de custo elevado.

Exigências térmicas e fotoperiódicas

A soja melhor se adapta a temperaturas do ar entre 20oC e 30oC; a temperatura ideal para seu crescimento e desenvolvimento está em torno de 30oC.

Sempre que possível, a semeadura da soja não deve ser realizada quando a temperatura do solo estiver abaixo de 20oC porque prejudica a germinação e a emergência. A faixa de temperatura do solo adequada para semeadura varia de 20oC a 30oC, sendo 25oC a temperatura ideal para uma emergência rápida e uniforme.

O crescimento vegetativo da soja é pequeno ou nulo a temperaturas menores ou iguais a 10oC. Temperaturas acima de 40oC têm efeito adverso na taxa de crescimento, provocam distúrbios na floração e diminuem a capacidade de retenção de vagens. Esses problemas se acentuam com a ocorrência de déficits hídricos.

A floração da soja somente é induzida quando ocorrem temperaturas acima de 13oC. As diferenças de data de floração, entre anos, apresentadas por uma cultivar semeada numa mesma época e na mesma latitude, são devido às variações de temperatura. Assim, a floração precoce ocorre, principalmente, em decorrência de temperaturas mais altas, podendo acarretar diminuição na altura de planta. Esse problema pode se agravar se, paralelamente, houver insuficiência hídrica e/ou fotoperiódica durante a fase de crescimento.

Diferenças de data de floração entre cultivares, numa mesma época de semeadura e na mesma latitude, são devido, principalmente, à resposta diferencial das cultivares ao comprimento do dia (fotoperíodo).

A maturação pode ser acelerada pela ocorrência de altas temperaturas. Quando vêm associadas a períodos de alta umidade, as altas temperaturas contribuem para diminuir a qualidade da semente e, quando associadas a condições de baixa umidade, predispõem a semente a danos mecânicos durante a colheita. Temperaturas baixas na fase da colheita, associadas a período chuvoso ou de alta umidade, podem provocar atraso na data de colheita, bem como haste verde e retenção foliar.

A adaptação de diferentes cultivares a determinadas regiões depende, além das exigências hídricas e térmicas, de sua exigência fotoperiódica. A sensibilidade ao fotoperíodo é característica variável entre cultivares, ou seja, cada cultivar possui seu fotoperíodo crítico, acima do qual o florescimento é atrasado. Por isso, a soja é considerada planta de dia curto. Em função dessa característica, a faixa de adaptabilidade de cada cultivar varia à medida que se desloca em direção ao norte ou ao sul. Entretanto, cultivares que apresentam a característica “período juvenil longo” possuem adaptabilidade mais ampla, possibilitando sua utilização em faixas mais abrangentes de latitudes (locais) e de épocas de semeadura.



terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

A produção de soja no Brasil


 

A produção de soja no Brasil

Na Figura 2, observa-se a distribuição espacial da soja no Brasil. Nota-se um importante contraste entre as duas principais regiões produtoras de soja. Na Região Sul prevalecem microrregiões que são formadas por vários municípios com pequena área territorial, onde as sedes estão relativamente

próximas umas às outras. De outra forma, a região Centro-Oeste é formada por microrregiões, cujos municípios possuem áreas significativas e sedes mais distantes umas das outras. Esse aspecto, quando integrado a outros, como, por exemplo, capacidade de armazenagem e eficiência dos modais de transportes, tem reflexos nas cadeias produtivas, impactando em fatores fundamentais para o desenvolvimento regional, como estrutura fundiária, tipos de indústrias (ex. cooperativas agroindustriais, empresas nacionais, organizações transnacionais, etc.), modelo agroindustrial (nível de integração vertical e diversificação dos negócios), logística agropecuária e custos de serviços essenciais (ex. frete agrícola), entre outros.

Não obstante as regiões Sul e Centro-Oeste concentrarem 78,2% da área nacional de soja, na Figura 2 observa-se que a soja também tem ampliado sua fronteira no Norte e no Nordeste do País, sobretudo na região conhecida como MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e no estado do Pará, que em razão das características edafoclimáticas, necessita de tecnologias mais adaptadas à realidade local (Hirakuri et al., 2018).

A produção brasileira de soja apresentou uma taxa geométrica de crescimento anual de 6,2% entre as safras agrícolas 2000/2001 e 2017/2018, o que fez a quantidade colhida mais do que triplicar, saltando de 38,4 milhões para 119,3 milhões de toneladas. Para tanto, dois elementos tiveram grande importância: área e produtividade.

A área nacional apresentou um crescimento significativo no período (4,6% a.a.), passando de 14,0 milhões para 35,1 milhões de hectares (Mha), assim como a produtividade (1,5% a.a.), que na safra 2000/2001 foi de 2.751 kg/ha, saltando para 3.394 kg/ha na safra 2017/2018.

Como consequência do aumento de produtividade e área, o Brasil obteve recordes de produção quase sucessivos (Tabela 1). Isso causou fortes e sustentáveis impactos positivos na balança comercial brasileira, com o complexo agroindustrial da soja liderando as exportações do agronegócio, alcançando US$ 40,7 bilhões no ano de 2018 (Brasil, 2019).

Figura 2. Distribuição espacial da soja no Brasil – safra 2016/2017.Fonte: IBGE [2018].

A soja representou 52,4% da produção total de grãos do País na safra 2017/2018. Conforme destacado, o cultivo da soja está concentrado nas regiões Sul e Centro-Oeste, que possuem os cinco estados maiores produtores nacionais da cultura, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul.

Embora os incrementos de área e produção nas regiões Centro-Oeste e Sul sejam os mais significativos em valores absolutos, no período indicado na Tabela 1, quando se considera as taxas de crescimento, verifica-se um avanço significativo de área e produção nas regiões Norte (16,4% e 17,5% a.a.) e Nordeste (7,1% e 8,8% a.a.). Isso ocorreu, sobretudo, em função do crescimento da sojicultura na Região do MATOPIBA e no Pará, que possuem áreas significativas com condições favoráveis à expansão da fronteira agrícola, notadamente em áreas de pastagens degradadas (Hirakuri et al., 2018). Além disso, ressalta-se que essas regiões também tiveram evolução destacada na produtividade, que já são similares aos valores alcançados por grandes produtores nacionais, tais como o Mato Grosso, em condições edafoclimáticas favoráveis.




quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Cultivo de Soja no Cerrado


A soja é a mais importante oleaginosa cultivada no mundo. Da produção mundial das principais oleaginosas, a participação da soja corresponde a mais de 50%. Contudo, embora o óleo seja um importante produto, os principais responsáveis pelo crescimento da produção de soja têm sido os seus farelos proteicos, dada sua relação direta com a produção e o consumo de carnes. Os farelos proteicos são o produto mais barato por unidade de proteína, haja vista, sua participação na dieta alimentar animal, principalmente, de suínos e aves.

A produção mundial de soja foi de 336,7 milhões de toneladas em 2018. O Brasil aparece como o segundo maior produtor, com 34,8% desse total, com produtividade média da ordem de 3.333 kg/ha.

Os estados brasileiros com maior produção em 2018 foram Mato Grosso, com 31,88 milhões de toneladas, Paraná, com 19,07 milhões de toneladas, e Rio Grande do Sul, com 16,96 milhões de toneladas. O estado de Roraima aparece na relação dos produtores de grãos como área de fronteira agrícola onde a soja é plantio recente. Em 2018 foram plantados 38.200 hectares, com produtividade média estimada de 3.077 kg/ha e estimativa de crescimento tanto da área plantada como em produtividade. Estima-se que, em 2019, haja crescimento, tanto na área plantada como na produtividade de pelo menos 10%.

Para o cultivo da soja tem importância ímpar na incorporação das áreas de cerrado ao processo produtivo. Os solos pobres do ecossistema, melhorados pela correção do solo e pela fixação de nitrogênio realizada pela leguminosa, possibilitam o desenvolvimento de cultivos subsequentes como os de milho, arroz, algodão, bem como a integração lavoura-pecuária e integração lavoura-pecuária-floresta. A maior oferta de insumos agrícolas, devida ao cultivo da soja, deve viabilizar outros segmentos produtivos, como a fruticultura, a piscicultura, a pecuária bovina e a criação de pequenos e médios animais.

Esta publicação apresenta os conhecimentos e as tecnologias necessários para o desenvolvimento da cultura da soja no cerrado, cabendo aos técnicos e produtores fazerem os ajustes e adaptações necessárias a cada ambiente ou sistema de produção em que forem aplicados.

Os preços internacionais dos produtos do complexo agroindustrial da soja

A partir da década de 2000, o crescimento econômico significativo e acelerado de grande parte dos países emergentes elevou o poder de compra da população. Com o incremento sustentado de renda, criou-se condições amplamente favoráveis para o evento mais impactante do cenário agrícola mundial, que foi o aumento contínuo na demanda por alimentos, especialmente por proteína animal. Foi nesse âmbito que as variáveis de oferta e demanda se tornaram os drivers do preço da soja na CBOT (Chicago Board of Trade), que é uma bolsa de mercadorias, referência no comércio mundial de soja e derivados.

A Figura 1 ilustra as séries históricas mensais (jan/1998 a dez/2018) dos preços de produtos do complexo agroindustrial da soja (grão, farelo e óleo), fixados na CBOT. A partir da referida figura, as seguintes inferências podem ser feitas sobre o comportamento desses preços:

• Com as variáveis de oferta e demanda assumindo o papel de driver do mercado, os preços estabelecidos se tornaram bastante voláteis, o que pode ser verificado pelos coeficientes de variação dos produtos, que ficaram entre 36,12% e 38,46%.

• Durante o período, vê-se que os preços da soja em grão seguiram uma trajetória ascendente até o ano de 2014, estimulados, sobretudo, pelo desequilíbrio na balança oferta/demanda. Esse desequilíbrio foi ocasionado por quebras na safra da oleaginosa devido a eventos climáticos, notadamente entre os anos agrícolas 2007/2008 e 2013/2014.

• Entre as safras 2014/2015 e 2017/2018, as condições climáticas foram favoráveis para grande parte dos principais países produtores de soja, sobretudo Estados Unidos e Brasil, propiciando produções mundiais substanciais.

Nesse cenário, os preços da soja em grão recuaram significativamente em 2015, mantendo relativa estabilidade até dezembro de 2018 (Figura 1a).

Entretanto, em um patamar superior ao período de 1998 a 2006.

• Não obstante as variáveis de oferta e demanda constituírem o driver do mercado atual de grãos e oleaginosas, outras variáveis podem causar interferências no fluxo de valor das cotações. Por exemplo, movimentos estratégicos podem influir no mercado, como a realização de lucros, em que investidores realizam vendas em um momento de valorização para obter ganhos financeiros.

• Embora o farelo seja o principal produto derivado da soja e o que mais contribui para a liquidez da commodity, os novos mercados do óleo (ex. biodiesel) tornaram esse produto mais competitivo, podendo causar oscilações em suas cotações no mercado internacional e interno.







terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Importância do Cultivo da Ervilha

 

O provável centro de origem da ervilha ( Pisum sativum L.) é o Oriente Médio com sua distribuição natural alcançando o nordeste da India e Afeganistão. A Etiópia e tida também como centro de origem secundário. A cultura e bem significativa para a historia, existindo vários relatos de ervilha na Biblia, alem de ter sido de grande importância para pesquisas de Gregor Mendel, criador da genetica moderna. Atualmente, as ervilhas continuam tendo enorme importância, principalmente na nutricao humana, por ser um excelente alimento, contendo em sua composição elevados teores de proteínas, vitaminas do complexo B (tiamina, riboflavina e niacina), minerais (ferro, calcio, potassio e fosforo), alem dos carotenoides luteina, β-caroteno e violaxantina.

O teor do aminoácido lisina faz com que seja, em termos nutricionais, um bom complemento dos cereais.

Apresenta ainda uma maior digestibilidade (90%) quando comparada ao feijão (73%). A India e o maior produtor mundial, com um volume anual com cerca de 35% da produção, seguida da China, com cerca de 23%.

Esses dois países atingem produtividades de ate 9 t/ha. A Uniao Europeia (U.E.) e responsável por aproximadamente 16% e os E.U.A. por cerca de 10% da producao mundial. Na U.E., a Franca e o maior produtor, com cerca de 5% do total mundial. As maiores produtividades desta cultura são obtidas na Belgica, Paises Baixos e Franca (14 t/ha -18 t/ha).

No Brasil, a ervilha e consumida principalmente na forma de grãos secos reidratados e enlatados ou como ervilha partida (dry pea); como ervilha verde / fresca (green pea ou garden pea ) debulhada, enlatada ou congelada; como ervilha de vagem comestível (sugar pea) achatada (snow pea) ou arredondada (snap pea) . Existe ainda a ervilha forrageira que e destinada ao consumo animal (gado leiteiro principalmente) ou utilizada como adubo verde (ou cobertura do solo). Ate a decada de 1980, quase toda a ervilha consumida no Brasil era importada acarretando uma evasão anual de divisas na ordem de sete milhões de dólares. Atualmente, toda a demanda poderia ser atendida pela producao nacional, gracas as pesquisas realizadas pela Embrapa Hortaliças, juntamente com as empresas de pesquisa e extensão rural dos Estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul e as industrias de processamento, através do desenvolvimento de cultivares adaptadas e técnicas de cultivo.


A produção de ervilha (seca ou verde) destinada a industria tem sido realizada na forma de contrato entre o produtor e a empresa, onde sao estabelecidos a area a ser cultivada, a epoca de plantio, a cultivar, os insumos e as demais atribuições relacionadas a produção, entrega e preço do produto.

A partir da decada de 1990, as agroindústrias passaram a importar grãos de ervilha novamente, e dependendo da taxa cambial, este produto e produzido aqui no pais ou e importado.

Dados mostram que a importação de ervilha tem sido relativamente alta nos últimos anos, chegando em 2015 ao volume importado de 41 mil toneladas, representando um valor de 23 milhoes de dolares (Figura 1).

Em 2010, a area cultivada com ervilhas no Brasil foi de, aproximadamente, 2.575 ha, com producao de 5.963 toneladas. Apesar da expansao da producao de ervilha no pais nos últimos anos, a participação do Brasil no mercado mundial de ervilhas ainda e inexpressiva, apresentando consideráveis oscilações em termos de area cultivada e de produção ao longo dos anos. Assim, e de extrema importância a melhoria de tecnologia de produção e ou incentivos que favoreçam o aumento dessa produção no pais. As informacoes que seguem visam apresentar aspectos importantes relacionados a produção de ervilha nas condições tropicais do Brasil.


quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Arborização no Cafezal Orgânico

 

Arborização

Os principais efeitos ligados à arborização dos cafezais são:

􀂃 Produção de entrenós mais longos;

􀂃 Redução do número de folhas, porém aumento da área foliar de cada folha;

􀂃 Produção de frutos maiores, mais moles e açucarados;

􀂃 Melhoria do aspecto vegetativo do cafeeiro;

􀂃 Aumento do número de ramos primários e secundários;

􀂃 Aumento da capacidade produtiva do cafeeiro;

􀂃 Obtenção de cafés de bebida mais suave;

􀂃 Redução na bianualidade de produção;

􀂃 Menor incidência da seca dos ponteiros e da cercosporiose.

Em regiões quentes e de menor altitude, a arborização é recomendada com base na fisiologia da planta, para reduzir os picos de temperatura e elevar as temperaturas mínimas, criar condições de conservação de umidade do solo, reduzir a evapotranspiração e a ação dos ventos, principal causa de ressecamento.

Do ponto de vista do solo, a arborização proporciona aporte de matéria orgânica, através da queda de folhas, reduz a decomposição das mesmas pela diminuição da temperatura, assim como as perdas de nitrogênio, contribuindo para a melhoria da fertilidade (Muñoz & Alvarado, 1997). Seu efeito sobre a conservação da umidade do solo, associado à incorporação de matéria orgânica, favorece a biologia e a microbiologia do solo.

A presença de árvores atenua o impacto das chuvas sobre o solo, aumenta a capacidade de absorção e infiltração de água, reduzindo o risco de erosão, aspecto importante na conservação dos solos, especialmente em áreas onde o declive é acentuado. Quando as espécies utilizadas são leguminosas, aumenta a fixação biológica do nitrogênio do ar e, conseqüentemente, a disponibilidade deste nutriente para as plantas (Tabela 8.1).

O cafeeiro é capaz de fazer fotossíntese em condições de baixa luminosidade porque apresenta uma baixa irradiância de saturação (de 300 a 600 μmol m-2 s-1;) ou seja, a assimilação total diária é maior à sombra do que a pleno sol

O cafeeiro responde ao sombreamento diminuindo a temperatura foliar e aumentando a área foliar.

A taxa fotossintética é reduzida sob alta intensidade luminosa, em decorrência do aumento da temperatura foliar e da conseqüente elevação da concentração interna de CO2. 

Apesar da grande adaptabilidade morfológica e fisiológica do cafeeiro a diferentes intensidades luminosas em áreas de baixa altitude e alta temperatura, pode haver necessidade de sombreamento parcial para aumentar a sustentabilidade e longevidade da cultura. Mesmo submetidas a um sombreamento de até 50% as plantas desempenham funções compensatórias e mantêm um crescimento normal.

Café Conilon sob manejo orgânico em consórcio com feijão guandu (Cajanus cajan) para adubação verde 

Café arábica sob manejo orgânico, consorciado com bananeira e Erythrina verna. 



segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Como Fazer o Biofertilizante Vairo

 

Biofertilizante Vairo

No preparo do biofertilizante tipo Vairo, deve-se usar esterco de vacas o que possibilita um efluente de melhor qualidade, pois os animais recebem dieta balanceada que contém uma variedade de microrganismos, o que acelera a fermentação. Para o respectivo preparo, o esterco fresco, complementado ou não com urina, deve ser misturado em volume igual de água não clorada, sendo a mistura colocada em biodigestor hermeticamente selado. Podem ser empregadas bombonas plásticas, tomando-se o cuidado de manter o nível da mistura a um mínimo de 10 cm abaixo da tampa, onde se adapta um sistema de válvula hidraúlica de pressão ou uma mangueira plástica fina, cuja extremidade é mergulhada em recipiente com água, para permitir a saída do gás metano produzido na fermentação, assim mantendo a condição de anaerobiose.

O final do processo, que dura de 30 a 40 dias, coincide com a cessação do borbulhamento observado no recipiente d'água. Nessa ocasião, a solução deverá ter atingido pH próximo a 7,0. Para separação da parte ainda sólida do produto, utiliza-se peneiramento e coagem.

Os biofertilizantes podem ser feitos com qualquer tipo de matéria orgânica fresca. Na maioria das vezes se utiliza estercos, mas também é possível usar somente restos vegetais. 

O biofertilizante Vairo é produzido a partir da fermentação de esterco bovino fresco. Seu uso se dá no tratamento de sementes, na produção de mudas e em aplicações em todas as culturas. 

Esse biofertilizante sofre uma fermentação na ausência de oxigênio (anaeróbica).

Ingredientes: 

- Metade de água; 

- Metade de esterco; 

- Vasilhame para fermentação do biofertilizante; 

- Mangueira; 

- Garrafa PET de 2 litros. 

 Como preparar o biofertilizante Vairo: 

1º passo: 

- Colocar no vasilhame uma medida de esterco fresco mais a outra medida de água (pura e sem cloro), deixando 20% do total do vasilhame sem preenchimento com ingredientes. O recipiente deve possuir uma tampa que proporcione uma boa vedação; 

- Fazer uma abertura no centro da tampa do reservatório, do tamanho que possa passar uma mangueira; 

- Após isso, introduzir uma mangueira que passe pelo buraco com o comprimento adequado. Uma ponta ficará localizada entre os 20% que estão sem água no reservatório e a outra dentro da garrafa pet com água. 



2º passo: 

- Deixar fermentar por 30 a 40 dias. 

-Teremos um sinal de que o biofertilizante estará pronto quando parar o borbulhamento observado na garrafa PET. 

3º passo: 

- Coar o biofertilizante Vairo e usá-lo de acordo à tabela de aplicação do Biofertilizante Vairo. 

 Importante! 

O biofertilizante deve ser usado logo após o preparo ou até a primeira semana para que tenha maior eficiência. 

A parte sólida poderá ser usada como adubo de berço para plantio de mudas (cova) ou na formação de compostagem. 

Produtores orgânicos devem consultar a OCS ou OAC para autorização do uso de biofertilizantes, principalmente quanto à aplicação em partes comestíveis das plantas. 

O uso de biofertilizante é permitido desde que ele esteja fermentado e bioestabilizado (curado).



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