terça-feira, 25 de outubro de 2016

Fertilidade do solo e adubação para a cultura do Amendoim


Fertilidade do solo e adubação

A maioria dos solos do Brasil, mesmo com propriedades físicas adequadas, apresenta, em geral, características químicas inadequadas, tais como elevada acidez, altos teores de alumínio trocável e deficiência de nutrientes, especialmente de cálcio, magnésio e fósforo. Mas, uma vez corrigidos quimicamente, os solos apresentam grande potencial para o cultivo do amendoim.
O amendoim apresenta facilidade de desenvolvimento na maioria dos tipos de solo, mas apresenta melhor desempenho em solos bem drenados, férteis e de textura arenosa (BELTRÃO et al., 2011), o que favorece a penetração dos ginóforos ou “esporões” no solo.
O sistema radicular do amendoim é extenso e ramificado. Apresenta raiz pivotante com ramificações laterais, o que propicia rápido crescimento inicial. A maior concentração de raízes é encontrada nos primeiros 25 cm, embora possua capacidade de atingir maiores profundidades (PINTO et al., 2008). Portanto, torna-se essencial para o bom desenvolvimento radicular a correção química do solo, visto que quanto maior o crescimento radicular maior será a tolerância ao déficit hídrico e o acesso aos nutrientes.
Para facilitar o planejamento para a correção e fertilização do solo para o cultivo do amendoim, algumas etapas devem ser seguidas:
  1. Amostragem do solo para análise química e física nas profundidades de 0 cm a 20 cm e de 20 cm a 40 cm.
  2. Verificar a necessidade de aplicação de calcário.
  3. Verificar a necessidade de aplicação de gesso.
  4. Recomendar a adubação de semeadura.
  5. Coletar folhas para avaliação do estado nutricional.

Etapa 1. Amostragem do solo

A área a ser amostrada deve ser divida em talhões uniformes em razão de indicadores de variações facilmente perceptíveis, como: topografia, cobertura vegetal natural ou uso agrícola, textura, cor, condições de drenagem, histórico de manejo e produtividade agrícola. A prática tem demonstrado que, dependendo da topografia, a área de 10 hectares possibilita uma distribuição uniforme de amostras simples (CANTARUTTI et al., 2007).
Para alcançar maior exatidão na avaliação da fertilidade média, coleta-se um número de amostras simples, não menos que 10 amostras por talhão para formar uma amostra composta. Todas as amostras simples devem ter o mesmo volume de solos e coletadas na mesma profundidade.
No cultivo de amendoim, sugere-se coletar duas profundidades, de 0 cm a 20 cm visando à recomendação de calagem e adubação e de 20 cm a 40 cm visando à recomendação de gessagem.
Os métodos de análise química de solo em uso no Brasil podem ser, em linhas gerais, categorizados em dois grupos: o primeiro fundamentado no uso do extrator ácido – Melich-1 e da solução salina de KCl, e o segundo no uso das resinas de troca iônica e do extrator quelante DTPA (CANTARUTTI et al., 2007). É importante conhecer o método utilizado pelo laboratório para interpretação dos resultados da análise de solo e posterior recomendação da adubação.

Etapa 2. Calagem

A calagem é prática fundamental para a melhoria do ambiente radicular das plantas, sendo responsável pela correção da acidez do solo. O calcário possui baixa movimentação do solo, sendo sua reação restrita à profundidade de incorporação.
O amendoim é uma leguminosa, e a acidez do solo pode comprometer a fixação biológica de nitrogênio (COX et al.,1982).
Determinação da necessidade de calagem
Para estimar a necessidade de calagem (NC), ou seja, a dose de calcário recomendada, são utilizados dois métodos: “Método da neutralização da acidez trocável e da elevação dos teores de Ca e Mg trocáveis”; e o “Método da saturação por bases” (RIBEIRO et al., 1999).
1) Método da neutralização do Al trocável e da elevação dos teores de Ca e Mg trocáveis:
Neste método, consideram-se ao mesmo tempo as características do solo e exigências das culturas. Para o cálculo é preciso conhecer a textura do solo, por meio da análise física, e conhecer os teores de alumínio, cálcio e magnésio trocáveis, mediante análise química. Este método é dividido em duas partes CA e CD:
NC (t/ha) = CA + CD
Em que:
  • CA = visa a correção da acidez por alumínio até determinado valor de tolerância da cultura à acidez (mt), e leva em consideração a capacidade tampão da acidez do solo (Y)
  • CD = correção da deficiência de Ca e Mg, assegurando um mínimo (X) desses nutrientes para a cultura
Cálculo do CA:
CA = Y [ Al+3 – (mt . t/100) ],
Em que:
  • Y é um valor variável em razão da capacidade tampão do solo e que pode ser definido de acordo com a textura do solo, conforme Tabela 1.

Tabela 1. Valores de Y para o cálculo de necessidade de calagem por causa da textura do solo.
Textura do solo
Porcentagem de argila
Y
Arenosa
0 a 15
0,0 a 1,0
Média
15,1 a 35,0
1,0 a 2,0
Argilosa
35,1 a 60,0
2,0 a 3,0
Muito argilosa
60,1 a 100
3,0 a 4,0
Fonte: Ribeiro et al. (1999).
  • Al3+ é a acidez trocável, em Cmolc/dm3, ou seja, é a quantidade de alumínio trocável no solo, este valor aparece na análise química do solo
  • mt é o valor de máxima saturação por alumínio tolerada pela cultura, em porcentagem. Para o amendoim o valor do mt é 5, ou seja, o amendoim tolera 5% de saturação por alumínio na CTC efetiva
  • t é o valor da CTC efetiva, em Cmolc/dm3; este valor aparece na análise química do solo
Observação: se o valor de CA for negativo, significa que a quantidade de alumínio presente no solo é menor que a quantidade de alumínio que a cultura é capaz de tolerar; neste caso, deve-se considerar seu valor igual a zero e continuar os cálculos da segunda parte da fórmula.
Cálculo do CD:
CD = X – (Ca2+ + Mg2+)
Em que:
  • X é o valor que representa a quantidade de cálcio e magnésio mínima que a cultura exige, no caso do amendoim, o valor de X é 2,0 Cmolc/dm3, ou seja, o amendoim precisa de no mínimo esta quantidade de cálcio e magnésio para produzir adequadamente
  • Ca2+ + Mg2+ são valores em Cmolc/dm3 de cálcio e magnésio, sendo que estes valores aparecem na análise química do solo
Observação: se o valor de CD for negativo, significa que a quantidade de cálcio e magnésio presentes no solo é maior que a quantidade que a cultura necessita; neste caso, deve-se considerar seu valor igual à zero para continuar os cálculos.
Com as duas partes calculadas e somadas, tem-se a quantidade de calcário necessária para a correção da acidez em toneladas por hectare, considerando a camada de 0 cm a 20 cm.
2) Método da saturação por bases
Neste método, considera-se a relação existente entre o pH e a saturação por bases (V). Para utilizar este método, os teores de cálcio, magnésio e potássio trocáveis e a acidez potencial (hidrogênio e alumínio) devem ser determinados por meio da análise química do solo.
A fórmula do cálculo da necessidade de calagem (NC, em t/ha) é:
NC = T .(Ve – Va)/100
Em que:
  • T é o valor da CTC a pH 7,0, que é a SB + (H+Al), em Cmolc/dm3; este valor aparece na análise de solo. SB representa a soma de bases = Ca+2 + Mg+2 + K+ + Na+ em Cmolc/dm3
  • Ve é o valor da saturação de bases desejada ou esperada para a cultura; no caso do amendoim a saturação de bases ideal é 70%, ou seja, 70% da capacidade de troca de cátions devem estar ocupadas com cálcio, magnésio e potássio
  • Va é o valor da saturação de bases atual do solo; este cálculo aparece na análise de solo
Escolha do calcário
Na escolha do calcário devem-se considerar critérios técnicos (qualidade química e física) e econômicos. O poder relativo de neutralização total (PRNT) estima o quanto de calcário irá reagir em um período de aproximadamente 3 anos. Para o cálculo do PRNT do calcário, são consideradas a capacidade de neutralizar a acidez do solo (natureza geológica) e a reatividade do material (granulometria) (RIBEIRO et al., 1999). Quanto maior o PRNT maior será a reatividade do calcário.
Todos os cálculos de calagem consideram o PRNT igual a 100%, portanto, deve-se corrigir a quantidade de calagem a ser aplicada em virtude do PRNT:
QC = NC . 100/PRNT
Em que:
  • QC é a quantidade do calcário adquirido que deverá ser aplicada na camada de 0 cm a 20 cm
  • NC é a necessidade de calagem calculada por um dos métodos descritos anteriormente
  • PRNT é o poder relativo de neutralização total do calcário adquirido, valor que caracteriza o calcário
Época de aplicação do calcário
A calagem deve ser realizada de dois a três meses antes da semeadura, com o objetivo de promover as reações químicas de neutralização da acidez. O calcário deve ser uniformemente distribuído sobre a superfície do solo, de forma manual ou mecanizada, e posteriormente deve ser incorporado com arado e grade até 20 cm.
Para que a reação do calcário inicie, é necessário umidade no solo; a água tem papel fundamental na neutralização da acidez pelo corretivo, portanto, é preciso que ocorra pelo menos uma chuva no período anterior a semeadura.

Etapa 3. Gessagem

O gesso é um importante insumo para a agricultura, sendo responsável pela correção de camadas mais profundas do solo. Pode ser utilizado como fonte de cálcio e enxofre ou na correção de camadas subsuperficiais com altos teores de alumínio trocável e/ou baixo teores de cálcio, com o objetivo principal de melhorar o ambiente radicular (RIBEIRO et al., 1999).
A recomendação de aplicação de gesso é feita de forma simples, baseada na análise química do solo na profundidade de 20 cm a 40 cm, que deve apresentar as seguintes características:
  • Teor de cálcio igual ou menor que 0,4 Cmolc/dm3 e/ou
  • Teor de alumínio trocável maior ou igual a 0,5 Cmolc/dm3 e/ou
  • Saturação por alumínio maior que 30%
Recomendação de gesso
A melhoria do ambiente radicular das camadas abaixo da arável efetua-se incorporando o gesso juntamente com o calcário, na dose de 25% da necessidade de calagem. Ou seja, a necessidade de gesso pode ser calculada pela formula:
NG = 0,25 . NC
Em que:
  • NG é a necessidade de gessagem em t/ha
  • NC é a necessidade de calagem calculada por um dos dois métodos descritos anteriormente
Suplementação de cálcio
Recomenda-se aplicar 500 kg/ha de gesso agrícola sobre a área na formação do esporão, ou seja, depois do início do florescimento.

Etapa 4. Adubação mineral

As plantas precisam de 17 elementos para completar o ciclo, são eles: C, H, O, N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu, Cl, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn (DECHEN; NACHTIGAL, 2006). Portanto, para uma planta estar bem nutrida, todos estes elementos devem estar presentes. Os três primeiros nutrientes, C, H e O, são fornecidos pela água e ar, por isso, não serão comentados nesta publicação. Os macronutrientes primários (N, P e K) são fornecidos por meio da fertilização orgânica ou mineral, os macronutrientes secundários (Ca, Mg e S) são fornecidos via calagem e gessagem, e os micronutrientes via fertilização mineral.
Em media, cultivares de amendoim absorvem os macronutrientes, na seguinte ordem: nitrogênio (192 kg/ha); potássio (60 kg/ha); cálcio (26 kg/ha); magnésio (20 kg/ha); fósforo (13 kg/ha) e enxofre (9 kg/ha) (FEITOSA et al., 1993).
A calagem é responsável pelo suprimento de cálcio e magnésio; no caso específico do cultivo do amendoim, o suprimento de cálcio é imprescindível para enchimento e formação das vagens. Considerando-se o aspecto qualitativo da produção, o cálcio é o nutriente mais importante para a cultura do amendoim (BOLONHEZI et al., 2005). Um detalhe com relação ao magnésio em amendoim, é que, se ele estiver deficiente, há aumento na incidência da cercosporiose, causada pelo fungo Mycospharella arachidicola (MALAVOLTA et al., 1997). A gessagem fornece cálcio e enxofre.
O amendoim responde eficientemente à adubação fosfatada, sendo que alguns trabalhos apresentam resultados expressivos para produção de vagens e grãos, utilizando-se concentrações de 40 kg/ha e 80 kg/ha de P2O5 (BOLONHEZI et al., 2005). A adubação fosfatada será recomendada em virtude dos teores de fósforo no solo. Para interpretar os resultados de fósforo no solo, é primordial conhecer o método utilizado pelo laboratório. Se o método utilizado pelo laboratório for Melich-1, deve-se utilizar a Tabela 2. Se o método utilizado for resinas de troca iônica será a Tabela 3.
Tabela 2. Classes de interpretação da disponibilidade para o fósforo pelo método Melich-1, de acordo com o teor de argila do solo ou do valor de fósforo remanescente (P-rem).
Classificação do fósforo disponível (P)
Característica
Muito baixo
Baixo
Médio
Bom
Muito bom
Argila (%)
mg/dm3
60-100
≤ 2,7
2,8 – 5,4
5,5 – 8,0
8,1 – 12,0
> 12,0
35-60
≤ 4,0
4,1 – 8,0
8,1 – 12,0
12,1 – 18,0
> 18,0
15-35
≤ 6,6
6,7 – 12,0
12,1 – 20,0
12,1 – 18,0
> 30,0
0-15
≤ 10,0
10,1 – 20,0
20,1 – 30,0
30,1 – 45,0
> 45,0
P-rem (mg/L)
mg/dm3
0 – 4
≤ 3,0
3,1 – 4,3
4,4 – 6,0
6,1 – 9,0
> 9,0
4 – 10
≤ 4,0
4,1 – 6,0
6,1 – 8,3
8,4 – 12,5
> 12,5
10 – 19
≤ 6,0
6,1 – 8,3
8,4 – 11,4
11,5 – 17,5
> 17,5
19 – 30
≤ 8,0
8,1 – 11,4
11,5 – 15,8
15,9 – 24,0
> 24,0
30 – 44
≤ 11,0
11,1 – 15,8
15,9 – 21,8
21,9 – 23,0
> 33,0
44 – 60
≤ 15,0
15,1 – 21,8
21,9 – 30,0
30,1 – 45,0
> 45,0
Fonte: Ribeiro et al. (1999).
Da mesma forma, com relação ao potássio, a tabela de interpretação escolhida deve estar de acordo com o método utilizado, se for Melich-1 utilizar Tabela 4, se for método de resinas de troca iônica utilizar Tabela 5.
Tabela 3. Classes de interpretação da disponibilidade para o fósforo pelo método de resinas de troca iônica.
Classificação do fósforo disponível (P) Resina
Muito baixo
Baixo
Médio
Bom
----------------------------------- mg/dm3 ----------------------------------
0 – 6
7 - 15
16 – 40
> 45,0
Fonte: Raij et al. (1996).
Tabela 4. Classes de interpretação da disponibilidade de potássio pelo método Melich-1.
Classificação do potássio disponível (K)
Muito baixo
Baixo
Médio
Bom
Muito bom
mg/dm3
≤ 15,0
16,0 – 40,0
41,0 – 70
71 – 120
> 120,0
Fonte: Raij et al., 1996.
Tabela 5. Classes de interpretação da disponibilidade de potássio pelo método de resinas de troca iônica.
Classificação do potássio disponível (K)
Muito baixo
Baixo
Médio
Bom
Muito bom
------------------------------ mmolc/dm3 -------------------------------
0 – 0,7
0,8 – 1,5
1,6 – 3,0
3,1 – 6,0
> 6,0
Fonte: Raij et al. (1996).
As quantidades de nutrientes a serem aplicadas dependem dos resultados da análise do solo. Os manuais de recomendação de fertilizantes para o amendoim são sistematizados em tabelas de acordo com as classes de disponibilidade dos nutrientes disponíveis no solo. Na Tabela 6, são apresentadas recomendações para a adubação com fósforo e potássio em virtude da interpretação da análise de solo pelo método Melich-1. E na Tabela 7 pelo método de resinas de troca iônica, em razão da expectativa de produção e dos teores acusados na análise de solo.
Tabela 6. Doses de nitrogênio, de fósforo (P2O5) e de potássio (K2O), de acordo com a disponibilidade de baixa, média e boa de fósforo e potássio disponíveis no solo, extraídos pelo Melich-1, para amendoim conforme a quinta aproximação.
Dose de N na semeadura
Disponibilidade de P
Disponibilidade de K
Dose de N em cobertura
Baixa
Média
Boa
Baixa
Média
Boa
Dose de P2O5 (kg/ha)
Dose de K2O (kg/ha)
0
80
60
40
60
40
20
0
Fonte: Ribeiro et al. (1999).
Tabela 7. Recomendação de adubação mineral na semeadura, de acordo com análise de solo e expectativa de produção.

Produção esperada
t/ha

N
Disponibilidade de P Resina
Disponibilidade de K trocável
Muito baixo
Baixo
Média
Boa
Muito baixo
Baixo
Média
Boa
Dose de P2O5 (kg/ha)
Dose de K2O (kg/ha)
<1 font="">
0
60
40
20
0
20
20
0
0
1,5 – 3,0
0
80
60
40
20
40
30
20
20
> 3,0
0
100
80
50
20
60
40
20
20
Fonte: adaptado de Recomendações de Adubação e Calagem para o Estado de São Paulo – Boletim Técnico
100 (Raij et al., 1996).

Observação: De um modo geral, a cultura do amendoim responde bem à adubação residual da cana-de-açúcar, mesmo para condições de baixa e média fertilidade do solo (GERIN et al., 1996).
Adubação nitrogenada
Em solos adequadamente corrigidos, drenados e inoculados, não há resposta à aplicação de nitrogênio (NOGUEIRA; TAVORA, 2005). Por se tratar de uma leguminosa, a adubação nitrogenada é dispensada na cultura do amendoim, pois esta planta tem a capacidade de associar a bactérias capazes de fixar o nitrogênio da atmosfera, mediante fenômeno conhecido com fixação biológica de nitrogênio (GIARDINI et al., 1985). Na Figura 1 podemos observar nodulação abundante nas raízes amendoim, resultante da associação espontânea com rizóbio em área cultivada no Nordeste. Aproximadamente 55% do nitrogênio requerido pelo amendoim são provenientes da fixação biológica (ELKAN, 1995).
Foto: Nelson Suassuna
Figura 1. Nodulação de rizóbio nas raízes de amendoim, variedade “Vagem Lisa”, em Itabaiana, SE.
Quando o pH não estiver na faixa adequada para a fixação biológica (entre 5,9 e 6,3) ou o amendoim estiver sendo cultivado na área pela primeira vez, recomenda-se aplicar entre 10 kg/ha e 16 kg/ha de nitrogênio (BOLONHEZI et al., 2005).
Micronutrientes
A marcha de absorção de micronutrientes acompanha o acúmulo de matéria seca, ocorrendo valores máximos entre 85 e 100 dias do ciclo biológico, com a seguinte ordem decrescente de extração da parte aérea: ferro, manganês, boro, zinco e cobre (FEITOSA et al., 1993; BOLONHEZI, 2005).
O boro é o micronutriente que mais limita o rendimento e qualidade da vagem (NOGUEIRA; TAVORA, 2005).
Os micronutrientes ferro, cobre, manganês e zinco diminuem a disponibilidade com o aumento do pH, mas em geral não é necessária a suplementação. As classes para interpretação da disponibilidade de micronutrientes são apresentadas nas Tabelas 8 e 9, a escolha da tabela será em virtude do método utilizado pelo laboratório de solo para o qual foi encaminhada a amostra de solo.

Etapa 5. Análise foliar

Um programa correto de adubação se inicia com a análise de solo, que é uma técnica preventiva, ou seja, representa o primeiro passo para diagnosticar possíveis problemas nutricionais para as plantas e sustentará as decisões de adubação e correção do solo. A análise de folha, complementar à análise de solo, servirá para diagnosticar se a adubação recomendada com base na análise de solo foi eficiente, e adicionalmente, servirá para ajustar as adubações para as safras seguintes. Na Tabela 10 podemos observar os teores adequados de macro e micronutrientes, baseados em análise foliar, para a cultura do amendoim.
  • Época: início do florescimento.
  • Tipo de folha: quarta folha da haste principal a partir da base (primeira acima dos ramos cotiledonares).
  • Número de folhas por hectare: 30.
Tabela 10. Teores totais de macronutrientes e micronutrientes considerados adequados para o amendoim (análise de folhas).
Nitrogênio
Fósforo
Potássio
Cálcio
Magnésio
Enxofre
g/kg
40
2
15
20
3
2,5
Boro
Cobre
Ferro
Manganês
Molibdênio
Zinco
Molibdênio
g/kg
20-180
10 – 50
50 - 300
50 - 350
0,13-1,39
20 - 150
0,1 – 1,4
Fonte: Bataglia et al. (1991); Malavolta et al. (1997).





quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Cultivares de Amendoim



A produção de amendoim no Brasil mudou rapidamente nos últimos anos, graças à substituição das tradicionais variedades tipo “Valência”, popularmente conhecidas como tipo “Tatu”, por variedades do grupo Virgínia runner, em especial a cultivar Runner IAC 886, lançada pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Esta mudança foi mais significativa no Estado de São Paulo, que concentra entre 70% a 80% da produção de amendoim no Brasil. O cultivo de variedades tipo “Tatu” ainda predomina nas regiões do Sul, enquanto na região Nordeste outra variedade local tipo “Valência”, denominada “Vagem Lisa”, é a preferida dos agricultores.


A demanda por cultivares do tipo “Runner” no Brasil foi percebida pelo Instituto Agronômico de Campinas (GODOY, 2001), que registrou a primeira cultivar tipo Runner no Brasil em 1999, a IAC Caiapó, que também apresentava resistência múltipla às doenças foliares (GODOY et al., 1999b), uma das maiores demandas de pesquisa com esta cultura no Brasil (MARTINS; VICENTE, 2010). Em 2002 foi registrada pelo IAC a Runner IAC 886, com maior potencial produtivo e rendimento industrial (maior rendimento após descascamento e sementes de tamanho uniforme – 60 a 70 gramas em 100 sementes), sendo adotada pela maioria dos produtores paulistas. Em 2009 o IAC lançou as cultivares alto oleico IAC 503 e IAC 505, que também apresentam resistência moderada e diversas doenças foliares. O maior teor de ácido oleico (70%) nas cultivares alto oleico confere maior estabilidade oxidativa, maior vida útil de prateleira, para o amendoim e produtos que contenham amendoim em sua composição, um mercado importante que inclui indústrias de alimentos nacionais e internacionais. Cultivares alto oleico desenvolvidas na Argentina (Granoleico e Pronto AO) e nos Estados Unidos (TamRun OL01 e OLin) também foram registradas no Brasil em 2010 e 2011 (MAPA, 2012), demonstrando a elevada demanda por cultivares com estas características e a perspectiva de expansão da produção de amendoim no Brasil.
As cultivares BR 1, BRS 151 L-7 e BRS Havana (SUASSUNA et al., 2008), registradas pela Embrapa entre 1999 e 2005, são adequadas à colheita manual e atendem à demanda do mercado regional de consumo in natura de amendoim no Nordeste. A cultivar BRS 151 L-7 é mais precoce (85 dias) e tolerante à seca, característica herdada da cultivar africana Senegal 55437, e apresenta maior potencial produtivo sob cultivo irrigado. Os ciclos das cultivares BR 1 e BRS Havana também são precoces (90 dias); BR 1 é amplamente difundida entre os agricultores nordestinos e também tolerante à seca; BRS Havana tem apresentado boas produtividades no Nordeste e Centro-Oeste, sendo também indicada para o mercado da indústria de alimentos (SANTOS et al., 2006). Nos últimos anos, o cultivo do amendoim rasteiro passou a ser interessante na região graças à perspectiva de expansão dos mercados de confeitaria e agroenergia, incentivados pela Petrobras e Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), incluindo os estados de Pernambuco, Maranhão e Piauí. A Embrapa registrou em 2011 a cultivar rasteira BRS Pérola Branca, cujas principais características são: porte rasteiro, ciclo 120 dias, 50% de óleo nas sementes, relação O/L 1,9, sendo indicada para o mercado de óleos vegetais (SANTOS et al., 2012).
A aquisição de sementes das cultivares desenvolvidas pela Embrapa pode ser feita diretamente no Escritório de Negócios (SNT) de Campina Grande, PB, telefones (83) 3315-4348 ou 3341-2314 ou pelo e-mail sementes@cnpa.embrapa.br.




quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Zoneamento agrícola para a cultura do Amendoim


Regiões produtoras de amendoim no Brasil

São Paulo é responsável por 70% a 80% da produção de amendoim no Brasil (Figura 1). Recentemente, a cadeia produtiva do amendoim neste estado adotou novas tecnologias no que se refere à produção e processamento, gerando aumentos de produção, em virtude de maiores produtividades. O novo padrão de qualidade e as novas exigências técnicas de produção, além dos ganhos em produtividade e em volume produzido e da conquista do mercado externo também proporcionaram a valorização do produto, expressa no aumento real e na relativa estabilidade dos preços médios recebidos pelos produtores nos últimos anos (MARTINS, 2011). Assim, a condição de país importador de grãos de amendoim foi mudada para a de país exportador de amendoim em casca e de grãos preparados (“blancheados”, sem película); a exportação de óleo bruto também tem figurado entre as exportações de mercadorias da cadeia de produção de amendoim (MARTINS, 2011).

Figura 1. Área de produção de amendoim tipo Runner – Dumont, SP.
A região Nordeste é o segundo maior polo consumidor de amendoim no Brasil. Todavia, a produção obtida na região atende apenas a 28% da demanda regional, intensificada no período das festas juninas. As principais regiões produtoras são o Agreste dos estados da Paraíba, Sergipe e Bahia e a região semiárida no Cariri cearense.
Os sistemas de produção utilizados pelos produtores dos quatro estados são muito semelhantes. A maioria das operações é feita manualmente, exceto preparo de solo, feito com tração animal ou trator. O controle de pragas e doenças nem sempre é realizado e, quando é feito, muitas vezes empregam-se produtos sem registro no Mapa. Por causa da indisponibilidade de sementes certificadas, o plantio é realizado com grãos comprados em feiras livres, armazenados da safra anterior ou provenientes de outros estados. Foram visitados plantios irrigados apenas no Estado de Sergipe (municípios de Itabaiana e Lagarto). Praticamente todos os produtores do Estado da Paraíba colhem os grãos maduros (90 dias após a semeadura) destinados à torrefação. Parte dos grãos produzidos no Estado do Ceará também é destinada à torrefação; esporadicamente, parte é vendida cozida com os grãos colhidos verdes (75 – 80 dias após o plantio) e esta é destinada ao mercado do Estado de Sergipe, durante o período de entressafra. Quase 100% da produção dos estados de Bahia e Sergipe é comercializada para o processamento imediato de amendoim cozido (Figura 2). A colheita e despencamento são realizados aos 75 dias, duas semanas antes da maturação das vagens.

Figura 2. Área de produção de amendoim tipo “Valência” em Cruz das Almas, BA. Amendoim consorciado com mandioca e milho; no detalhe, caixa para comercializar a produção de amendoim verde, denominada “quarta”.

Zoneamento agrícola de risco climático

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático é um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura. O estudo é elaborado com o objetivo de minimizar os riscos relacionados aos fenômenos climáticos e permite a cada município identificar a melhor época de plantio das culturas, nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares. A técnica é de fácil entendimento e adoção pelos produtores rurais, agentes financeiros e demais usuários.
São analisados os parâmetros de clima, solo e de ciclos de cultivares, a partir de uma metodologia validada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e adotada pelo Ministério da Agricultura (Mapa).
A análise das épocas de chuvas, bem como das épocas de maior incidência de déficit hídrico, deve ser realizada para que possíveis eventualidades não impossibilitem a prática da agricultura de subsistência ou comercial. A tomada de decisões sobre como e onde plantar garante ao agricultor a possibilidade de analisar as potencialidades da cultura, como também a melhor distribuição para a produção. Por meio de vários estudos, observa-se que a definição das épocas de plantio por meio do balanço hídrico do solo para a cultura pode contribuir para diminuir o risco climático.
A regionalização dos elementos agroclimáticos que definem a produtividade das culturas, como precipitação pluvial, evapotranspiração potencial, entre outros, exige análise mais abrangente, tanto no tempo como no espaço. A identificação de regiões com condições edafoclimáticas que permitam à cultura externar o seu potencial genético na produtividade torna-se necessária para o sucesso da agricultura. Por meio de estudos que relacionam a interação solo-planta-clima, é possível definir as áreas que apresentam aptidão, viabilizando a exploração agrícola das plantas, ecológica e economicamente.
Dessa forma são quantificados os riscos climáticos envolvidos na condução das lavouras que podem ocasionar perdas na produção. Esse estudo resulta na relação de municípios indicados ao plantio de determinadas culturas, com seus respectivos calendários de plantio.
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático foi usado pela primeira vez na safra 1996 para a cultura do trigo. Recebe revisão anual e é publicado na forma de portarias, no Diário Oficial da União e no site do Mapa. Atualmente, os estudos de zoneamentos agrícolas de risco climático já contemplam 40 culturas, inclusive a do amendoim.




domingo, 2 de outubro de 2016

Produção e mercado do Amendoim


Produção e mercado

Amendoim (Arachis hypogaea, L.) e o costume de adicionar o seu fruto a outros alimentos fazem parte da cultura brasileira, sendo delícia que acompanhou todas as gerações desde antes da chegada dos colonizadores. O provável centro de origem dessa planta são os vales dos rios Paraná e Paraguai, e as primeiras descrições do uso do amendoim demonstram que os nativos brasileiros do século 16 já o consumiam regularmente.

Produção

O fruto do amendoim é rico em óleo, proteínas e vitaminas, sendo uma importante fonte de energia e aminoácidos para alimentação humana. Leguminosa genuinamente sul-americana, ela produz um dos grãos mais consumidos do mundo atual (MACÊDO, 2007).
A planta do amendoim foi, durante os últimos 500 anos, se espalhando pelas regiões do mundo, e, atualmente, a China é o maior produtor de amendoim em casca. Em 2011 os chineses já produziam quase a metade do total mundial: 15.709.036 toneladas métricas, colhidas em 4.547.917 hectares. No século 18 o amendoim foi levado à Europa; no século 19, difundiu-se do Brasil para a África, e do Peru para as Filipinas, China, Japão e Índia. Trata-se de um produto que é conhecido e apreciado pelo seu sabor inconfundível e pela versatilidade de uso em pratos salgados e doces e na indústria.
No mundo, a produção de amendoim em casca em 2012 foi de 35.340.000 toneladas métricas, obtida numa área de 20.780.000 hectares (USDA, 2013). No Brasil, em 2011 foram produzidas 311.409 toneladas métricas de amendoim em casca e, em 2012, 324.178 toneladas, tendo sido plantados 101.758 hectares (e colhidos 101.680 hectares). O rendimento foi de 3.350 kg/ha, na primeira safra, e de 1.628 kg/ha, na segunda safra (IBGE, 2013). Em termos de produtividade da cultura, consegue-se no Brasil quase a mesma que na China, de 3.454 kg/ha (FAO, 2012), mas a média no Nordeste fica muito abaixo do desempenho chinês: 1.164 kg/ha (IBGE, 2012). A produção alcançada no Nordeste na safra 2010 2011 foi de 10.900 toneladas, colhidas em 12.000 hectares; e na safra 2011 2012, deve ser alcançado um total de 6.100 toneladas, num ano caracterizado por seca climatológica severa (CONAB, 2013), (dados preliminares, sujeitos a mudanças).
Os mais de 4 milhões de hectares plantados anualmente pela China estão inseridos num “modelo” econômico de prospecção de atividades nos mais variados setores econômicos, e que é necessário na busca de alimentos suficientes para a maior população humana da Terra: 1 bilhão e 300 milhões de bocas, ávidas por proteínas e vitaminas, presentes nessa importante e oportuna fonte de energia e aminoácidos que é o amendoim. Recordando que essa leguminosa é nativa da América do Sul, considere-se na 
O Brasil já esteve na sétima posição desse ranking, com a produção de 956.200 toneladas obtida em 1972. Esse quantitativo é um marco na história do amendoim brasileiro, e até hoje se busca repeti-lo. A perda de posições relativas naquele ranking tem causas já bem explicadas na literatura econômica, e a situação de decréscimo produtivo até meados da década de 1990 só foi revertida quando aconteceram contribuições de novas tecnologias geradas por instituições de pesquisa, como o Instituto Agronômico de Campinas, a Embrapa, o Instituto Agronômico do Paraná, e universidades, em conjunto com produtores e industriais. Tiveram que ser superadas as causas daquela depressão na produção, como, principalmente, a contaminação de grãos por aflatoxina, a maior disponibilidade de óleo de soja no mercado alimentar brasileiro e a queda do preço do produto nos mercados interno e externo, o que desestimulou o plantio. Assim, e a partir de 1974, houvera forte redução da área plantada e da produção, caindo até a cifra de 137.200 toneladas de amendoim em casca, na safra 1996 1997 (CONAB, 2012), quando começou uma reversão nesse descenso continuado.
Desde então se tem verificado crescimento sistemático das safras anuais brasileiras de amendoim em casca, alcançando-se, na safra de 2011 2012, já citada, 324.178 toneladas métricas, colhidas em 101.680 hectares. Com destaque para o Estado de São Paulo, maior produtor nacional, que alcançou na safra citada o patamar de 88% do total produzido (IBGE, 2013), consorciando também o amendoim com a cultura da cana-de-açúcar. O rendimento médio do amendoim no Brasil em 2012 foi de 3.350 kg/ha na primeira safra – que corresponde aos plantios realizados em outubro novembro, em todo o País (a chamada “safra das águas”) –, representando 95% do volume total; e de 1.628 kg/ha, na segunda safra – a chamada “safra da seca”, que complementa o montante, sendo os plantios realizados no mês de março nas regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste.
A principal forma de consumo é por meio dos grãos, torrados ou cozidos. A farinha, contudo, é altamente proteica e pode ser utilizada de várias maneiras, sobretudo na panificação e confecção de doces e salgados. No processamento industrial os grãos podem ser utilizados para obtenção de óleo e farelo, na fabricação de produtos alimentícios, no ramo de conservas e na indústria farmacêutica. Mas as características do grão de amendoim é que o podem levar a ter um papel mais central na alimentação mundial. A qualidade do seu óleo é superior ao do azeite de oliva, o que pode ajudar na prevenção de doenças cardíacas. Além disso, os grãos apresentam grandes concentrações de vitamina E — um antioxidante que previne câncer, diabetes e doenças autoimunes — e de proteína, podendo substituir a carne em países onde há escassez desse alimento. Não foi à toa que, quando 100 especialistas de todo o mundo se reuniram para uma análise prospectiva na 5ª Conferência Internacional da Comunidade Científica de Amendoim, em Brasília, DF, em junho de 2011, concluíram que o amendoim pode se tornar um dos alimentos mais importantes do mundo nos próximos 25 anos. Aqui é bom recordar do “modelo” chinês, que parece já ter se dado conta de que o amendoim substituirá a soja em importância econômica daqui a um lustro de século. Nos seus Anais, aquela Conferência registrou que as pesquisas de melhoramento das variedades de amendoim e seu alto conteúdo de proteína e óleos insaturados aumentarão seu papel fundamental na alimentação de povos de países da América Latina, da África e da Ásia; e que, além disso, o amendoim cumpre um importante papel social, garantindo a segurança nutricional e a sustentabilidade da agricultura em áreas áridas e semiáridas de diversas nações, inclusive do Brasil. No Haiti, após o terremoto de janeiro de 2010, foi servido pela entidade Partners In Health (PIH) um composto nutritivo que tinha o amendoim como base, e era um produto alimentar terapêutico pronto para consumo e tratamento da desnutrição infantil extrema.
De 1990 em diante a Embrapa Algodão veio desenvolvendo tecnologias voltadas para o incremento da cadeia produtiva brasileira do amendoim, em especial a da região Nordeste. Nesse período já foram disponibilizadas quatro cultivares aprovadas em vários estados localizados no território nacional, demonstrando ser adaptáveis às regiões avaliadas nos dois regimes de cultivo, irrigado e sequeiro. Outras tecnologias foram também disponibilizadas ao setor produtivo. Mas o esforço tem que ser dirigido para a oferta de alternativas econômicas de cultivo que, no cotidiano prático, tenha relevante valor alimentar e permita boa remuneração aos produtores nacionais. Os resultados das pesquisas não podem prescindir de políticas públicas que os promovam, pois que falecerão de inanição econômica nos mercados competitivos da atualidade se os produtores não tiverem condições econômicas de os adotarem. Insistir em cultivar amendoim praticamente sem a utilização de insumos, em cultivos convencionais ou consorciado com milho, como ocorre em grandes áreas do Semiárido brasileiro, é não aproveitar todas as possibilidades das conquistas agronômico-tecnológicas financiadas com recursos públicos. Diante dessa realidade, se a administração pública pretender desconcentrar a produção de amendoim no território nacional, terá que recuperar práticas recentes, quando o dinheiro público gerava crédito rural subsidiado, mas financiava também setores da indústria e comércio ligados à produção agropecuária, atuantes como fornecedores de insumos e serviços, ou como compradores de bens gerados no interior das fazendas (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGROBUSINESS, 2002).
A importância econômica do amendoim no mundo atual é mais bem revelada no fato de ser uma das culturas agrícolas que mais pode contribuir significativamente para sustentar o aumento da demanda de produtividade por hectare, sem ampliar a fronteira agrícola (CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DA COMUNIDADE CIENTÍFICA DE AMENDOIM, 2011). Em outras palavras, o amendoim é uma das culturas agrícolas que pode produzir mais alimentos no mesmo espaço agrícola usado hoje, a partir de variedades mais produtivas, nutritivas e resistentes, a serem obtidas com as ferramentas da biotecnologia e da genômica. Esses são determinantes para tornar os cultivos mais competitivos, já que em 25 anos será necessário que a Terra dobre a produção de amendoim (CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DA COMUNIDADE CIENTÍFICA DE AMENDOIM, 2011). O Brasil possui a maior coleção de germoplasma de amendoim do mundo, criada pela Embrapa. São 80 espécies e mais 8 em fase de descrição. Dessas, 67 são silvestres e originárias do Brasil. A diversidade de plantas silvestres brasileiras e o solo fértil do País, além de áreas para expansão da agricultura, fazem do Brasil um dos países com maior potencial para a produção de amendoins, que pode até ultrapassar a da soja. Tendo todas as ferramentas para isso, é essencial que o Brasil seja um dos principais atores na produção de alimentos de qualidade. Nada mais de acordo com a Economia Verde e a necessária e urgente sustentabilidade econômico-social-ambiental para o Mundo, em vista do Aquecimento Global.

Mercado

Mesmo que se considere o amendoim como um mero tira-gosto, há de se ter em mente que o grão é um dos petiscos mais consumidos no Planeta, e que o mercado mundial do amendoim movimenta por ano cerca de US$18,5 bilhões. Os maiores consumidores de amendoim são a União Europeia, o Japão, a Rússia, a Indonésia, o Canadá e o México. Os maiores exportadores são a Argentina e a China, onde o Brasil chega a exportar 25% do que produz anualmente, ou seja, cerca de 80 mil toneladas em 2012. Com um consumo interno que se aproxima da marca das 100.000 toneladas anuais de amendoim sem casca, e produção firmemente crescente a cada ano; já há quem avalie ser a cultura que apresenta o quarto melhor rendimento do agronegócio brasileiro (ABICAB, 2013).
O mercado internacional se interessa muito pelo amendoim. Os países que não o produzem em casca são seus principais importadores no mercado internacional: os países da Europa e o Japão. No Mundo, em 2010, a importação do amendoim em casca movimentou US$321 milhões e a exportação US$281 milhões; e de amendoim sem casca o valor das importações foi de US$1 bilhão e 692 milhões; e das exportações foi de US$1 bilhão e 305 milhões (FAOSTAT, 2013). O Brasil, naquele mesmo ano, exportou 50.808 toneladas de amendoim sem casca e 400 toneladas de amendoim com casca, o que rendeu 47,851 milhões de dólares norte-americanos, no primeiro caso, e 396 mil dólares, no segundo caso (FAOSTAT, 2013). Em relação ao óleo de amendoim, produz-se no mundo um percentual de pouco mais de 4% do total da produção de óleos vegetais, o que faz dele o quinto mais consumido, com uma produção em 2012 superior a 5 milhões de toneladas métricas.
Menos de 6% (seis por cento) do amendoim no Planeta, incluindo o óleo e a produção de farelo de amendoim, são comercializados internacionalmente. Os Estados Unidos da América são um exportador líquido de amendoins. Em 2010, as suas exportações totalizaram mais de 244,5 milhões de dólares, superando as importações em cerca de 212,1 milhões dólares (USDA, 2013).
O comércio exterior tem na variação cambial e no nível de estoque, tanto nacional quanto internacional, aspectos importantes para a escolha de estratégias, visando ao posicionamento dos negociadores e exportadores nesse mercado, estabelecendo determinada dinâmica e influência na formação dos preços praticados no mercado interno (MACÊDO, 2007). E, dessa forma, no caso brasileiro, é no Estado de São Paulo que, ao se considerar os preços médios mensais recebidos pelos produtores nos últimos anos, mais se nota a tendência de valorização do produto.
Em 2010, no Brasil, uma pesquisa inédita realizada por encomenda da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab) revelou que 66% da população brasileira costuma consumir amendoim; 75% apreciam a paçoca e 71% não largam um pé de moleque. Os resultados também revelaram que 63% dos brasileiros consideram o amendoim muito saboroso, mesmo que desconheçam seus valores nutritivos e a ampla variedade de benefícios que o produto permite à saúde. Ainda segundo o levantamento, a população brasileira ainda não faz a associação direta entre o consumo do amendoim e a saudabilidade. Por sua vez, grande parte dos entrevistados associou o produto com situações de prazer, futebol, happy hour, confraternização e sociabilidade, com ênfase no sabor. Outros pontos positivos identificados na pesquisa foram o valor: 23% acham o produto barato; 19% o consideram energético, e 13% dizem que é um produto que “dá vontade de comer” (ABICAB, 2013).
Em termos produtivos, a safra 2011 2012 do amendoim brasileiro se distribuiu assim: região Sudeste (91%), região Sul (3,5%), região Norte (3%), região Nordeste (2%) e região Centro-Oeste (0,5%). E no Sudeste, apenas o Estado de São Paulo (295.177 toneladas) e o Estado de Minas Gerais (9.005 toneladas) produziram amendoim em casca. É notória a concentração produtiva em São Paulo, e as contribuições de novas tecnologias geradas por instituições de pesquisa fazem parte das explicações para que isso venha se dando nos últimos 15 anos. Em conjunto com produtores e indústrias, os institutos de pesquisa agropecuária pesquisaram e validaram sistemas produtivos em que o cultivo é feito em rotação de culturas e em segunda safra, com cultivares de porte rasteiro e mecanização nas operações de plantio e colheita, o que refletiu em maior produtividade. Em São Paulo e no Cerrado brasileiro, essas tecnologias emplacaram mais rapidamente. Existem no território paulista áreas agrícolas apropriadas para o cultivo de amendoim, em especial as duas regiões conhecidas como Alta Paulista e Alta Mogiana, compreendidas por cidades como Tupã, Marília, Dumont, Ribeirão Preto, Jaboticabal e Sertãozinho, onde a produção é maior em volume. Coincidência, ou não, o fato é que “a combinação vegetal entre cana-de-açúcar e amendoim se estabeleceu, em São Paulo, há algumas décadas, na Alta Mogiana, centro-leste do estado, em regionais agrícolas tradicionais na produção e industrialização da cana, como Ribeirão Preto, SP e Jaboticabal, SP. No oeste do estado, especialmente na Alta Paulista, o amendoim combinava-se com pastagens e, na década de 1940, destacava-se na produção mundial de amendoim. Mudanças conjunturais envolvendo aspectos econômicos, tecnológicos e estruturais transformaram a antiga realidade dessas duas culturas” (MARTINS, 2011). A agregação de valor ao produto in natura, pelo processo industrial, foi facilitada pela proximidade com as indústrias, com investidores capitalistas e com as áreas de produção, o que viabilizou e viabiliza agora que parte da produção seja exportada – com e sem pele, bem como o óleo cru de amendoim –, ou destinada à indústria de alimentos, a qual tem à disposição um mercado consumidor dos mais expressivos, o da região Centro-Sul, mas que complementa também o consumo Nordestino de mais de 50 mil toneladas por ano1. O consumo interno de amendoim em 2008 foi de 95.000 toneladas, obtidas da safra 2007 2008 de 305,8 mil toneladas (ABICAB, 2013). No processamento industrial os grãos podem ser utilizados para obtenção de óleo e farelo, na fabricação de produtos alimentícios, no ramo de conservas e na indústria farmacêutica (o amendoim ajuda na prevenção de doenças cardíacas, além de apresentar grandes concentrações de vitamina E, um antioxidante que previne câncer, diabetes e doenças autoimunes). Da produção de doces e salgados com amendoim na região Sudeste, 85% são consumidos nessa mesma região brasileira.
O Estado de São Paulo domina quase a totalidade das exportações de amendoim em grão, e seu percentual de participação nas exportações de óleo de amendoim é de 90%. O Estado de Minas Gerais iniciou participação tímida neste último mercado a partir de 2010.
A importância do Brasil como produtor de amendoim tem sido recuperada, gradativamente, com seu papel novamente relevante no suprimento de óleo vegetal para o mercado interno e na exportação de subprodutos. Conforme previsto por Freitas et al. (2005), após o período 1965-1999 de crescimento até 1974 e descenso continuado até a safra 1996 1997 – entrou em curso “importantes mudanças tecnológicas no cultivo e beneficiamento do produto, que tem implicações no volume produzido e nas características do mercado”. Os últimos 15 anos marcaram a construção de novas possibilidades para a produção brasileira de amendoim. Em simples comparação entre os anos que iniciam e os que encerram esse período, é possível verificar os resultados alcançados com a produção e exportação de amendoim em casca, amendoim descascado e óleo bruto de amendoim.
Trata-se de uma cultura agrícola que ainda tem poucos rebatimentos econômicos no Nordeste, o que pode ser ilustrado pelos volumes de produção: o maior produtor do Nordeste é o Estado da Bahia (3.837 toneladas, em segunda safra); em seguida Sergipe (1.590 toneladas, em segunda safra); depois, o Ceará (325 toneladas, em primeira safra), e a Paraíba (148 toneladas, em segunda safra). Muito embora o volume de matéria-prima transacionado na cadeia produtiva (35 mil toneladas de grãos) tenha grande expressão econômica. A produção Nordestina de amendoim em casca, em torno de 10.000 toneladas anuais, é insuficiente para atender aos principais mercados de consumo regionais, na Bahia, em Sergipe, no Ceará, em Pernambuco e na Paraíba. Existem indústrias na região que são abastecidas de matéria-prima oriunda da região Sudeste, ficando a demanda anual em torno de 50 mil toneladas de vagens (aproximadamente 35 mil toneladas de grãos). A vulnerabilidade dos sistemas de produção existentes se liga à presença das secas periódicas que limita no tempo os ganhos obtidos nos anos de chuvas mais regulares. Ou seja, os empreendedores rurais acumulam lucros por alguns anos e, na ocorrência periódica de uma seca mais severa, se descapitalizam rapidamente, voltando ao ponto inicial dos seus empreendimentos. Desde os anos 1940 1950 que se sabe dessas injunções de ordem técnica sobre o empreendedorismo rural no Semiárido brasileiro, exigindo que o aconselhamento dos profissionais da agronomia e os técnicos previnam os produtores com planejamento técnico-científico dos seus empreendimentos. A ausência de uma assistência técnica pública e gratuita e de extensão rural ininterruptas no Semiárido leva profissionais e técnicos inadvertidos a pregarem uma contribuição da cadeia produtiva de amendoim do Nordeste à melhoria na qualidade de vida de agricultores familiares plantadores de amendoim a partir do fabrico de subprodutos em condições de fazenda. A efetividade de renda gerada em negócios rurais no Semiárido brasileiro precisa de sustentabilidade no tempo, na convivência com as condições climatológicas locais. A possibilidade de agregar renda está condicionada pela capacidade de fazer essa atividade ser lucrativa no tempo, apesar do advento de secas que signifiquem diminuição da oferta de matéria-prima; ou do seu encarecimento proibitivo, o que dá no mesmo. Há de se ofertar a esses agricultores familiares empreendedores o planejamento e a administração profissional nos seus negócios familiares, e ampará-los com políticas macroeconômicas, a exemplo da criação e manutenção de fundos de desenvolvimento da cultura do amendoim.
A produção local é direcionada para o mercado de consumo in natura, composta pelo amendoim cozido e torrado que é distribuído por meio de feiras livres (ou vendido para outros estados, quando será comercializado também em feiras livres). Hoje, uma das grandes dificuldades para a cultura do amendoim é o custo da produção. Em casos de contratação de mão de obra externa às propriedades rurais, os gastos podem chegar a até R$2.000,00 por hectare. No entanto, na safra, o valor do produto não deixa margem para prejuízos. Em 2012, o amendoim em casca teve preço de R$2,30 o quilograma, em média. Para os agricultores, o rendimento bruto chegou a ser de R$3.500,00 por hectare.

1 Em 2013, enquanto se paga R$ 2,30/1kg de amendoim em casca aos agricultores familiares do Semiárido brasileiro, em qualquer mercadinho dos municípios localizados na mesma região se compra aquela quantidade de amendoim “torrado e salgado sem pele” por R$ 18,76 (ou U$$ 9.33/1kg, com 1 dólar valendo 2,01 reais, em 23/3/2013), ou seja, com um adicional de valor de 682%. Assim, pelo menos em tese, parte da renda popular é carreada de região pobre para outra rica, já que aquele amendoim consumido no Nordeste é produzido, processado e embalado em São Paulo.




sábado, 1 de outubro de 2016

Origem e classificação do amendoim


Origem e classificação do amendoim

Origem do amendoim cultivado

A espécie cultivada Arachis hypogaea L. é originária da América do Sul, e já era cultivada pelas populações indígenas muito antes da chegada dos europeus no final do século 15. O gênero Arachis compreende cerca de 80 espécies descritas, distribuídas em uma grande variedade de ambientes, desde as regiões costeiras do Brasil e Uruguai até altitudes de 1.450 m na região dos Andes ao noroeste da Argentina (BERTIOLI et al., 2011).
Espécies silvestres de amendoim podem ser encontradas em diferentes regiões do Brasil, e a correta identificação das mesmas exige treinamento para reconhecer estruturas específicas que as distinguem umas das outras. No entanto, é possível reconhecer que a planta pertence ao gênero Arachis ao identificarmos a estrutura reprodutiva formada a partir da base da flor - o ginóforo, ou esporão, como é popularmente conhecido.
Embora algumas espécies apresentem folhas formadas por três folíolos, a maioria das espécies deArachisapresenta quatro folíolos, como podemos observar na Figura 1.
Foto: Francisco Pereira de Andrade
Figura 1. Arachis dardani, espécie comum na região semiárida do Brasil, em meio a gramíneas e outras espécies (Patos, PB).
Algumas espécies silvestres também são exploradas como plantas forrageiras, como Arachis pintoi.
No entanto, a espécie cultivada para grão (A. hypogaea L.) também pode ser servir como forragem, como fazem os agricultores africanos no Mali, ao desidratar a parte aérea para obter o feno de amendoim (Figura 2).
Foto: Boubacar Diombana
Figura 2. Feno de amendoim produzido a partir das plantas desidratadas, após a colheita dos grãos, em mercado popular em Bamako, Mali.
O amendoim é uma planta poliploide, ou seja, foi formada a partir da combinação de dois conjuntos completos de cromossomos (genomas) de duas espécies diferentes, sendo classificado como alopoliploide. Supõe-se que o local de origem do amendoim cultivado seja a região compreendida entre o noroeste da Argentina e o sudeste da Bolívia, onde são encontradas as espécies A. ipaënsis e A. duranensis, os prováveis ancestrais do amendoim. A formação de poliploides e alopoliploides é relativamente comum na natureza, tanto em espécies silvestres quanto cultivadas.
Estima-se que o evento que originou A. hypogaea tenha ocorrido há mais de 5.000 anos. A partir de então, o homem percebeu e selecionou plantas “diferentes”, resultando na geração de subespécies e variedades com variação para diferentes ambientes onde o homem as cultivava, incluindo características como sabor, cor das sementes, formato da vagem, etc. (FREITAS et al., 2003).

Classificação de A. hypogaea L.

O amendoim (Arachis hypogaea L.) é botanicamente dividido em duas subespécies e seis variedades. Também existe a classificação agronômica, baseada em critérios reprodutivos e vegetativos. Na Tabela 1 podem ser observadas as características consideradas nas classificações botânica e agronômica do amendoim.




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