sábado, 9 de dezembro de 2017

Pragas da Canola



Insetos

Resultados de pesquisa com manejo e controle de insetos-praga na cultura da canola, no Brasil, são escassos. A principal referência nessa área foi publicada na década de 1990 (DOMINICIANOS; SANTOS, 1996).
A canola, ao longo do seu ciclo de desenvolvimento, é danificada por diversos insetos que atacam raízes, folhas, inflorescências e síliquas/grãos.
Neste tópico, serão apresentados os principais insetos-praga da cultura, seus danos e manejo (algumas vezes adaptado de outras culturas).

Insetos rizófagos - corós

As principais espécies que ocorrem no Rio Grande do Sul são o coró-das-pastagens (Diloboderusabderus) e o coró-do-trigo (Phyllophaga triticophaga) (Coleoptera: Scarabaeidae) (Figura 1). Os danos são ocasionados pelas larvas, denominadas popularmente de corós, que, ao consumirem as raízes, causam a morte de plântulas, redução no crescimento de plantas, amarelecimento e murchamento de folhas. Após a destruição completa das raízes, plântulas inteiras podem ser puxadas para dentro do solo e consumidas.
Sempre que for possível, evitar a semeadura de canola em áreas com infestação por corós, tendo em vista que:
  1. A área de cultivo de canola no Brasil é muito menor que a área semeada com outras culturas oleaginosas.
  2. O uso de tratamento de sementes, ou outro controle químico, para o controle de corós onera a cultura, podendo diminuir a viabilidade econômica da mesma.
  3. A quantidade de sementes de canola empregada, em torno de 3 kg/ha, constitui veículo limitado para a quantidade de inseticida necessária ao controle de corós.
Devido à carência de resultados de pesquisa acerca do controle de corós na cultura da canola sugere-se o manejo e as informações geradas por Pereira; Salvadori (2011) para essas pragas na cultura do trigo:
  • Fazer amostragens de solo (trincheiras) para identificar a(s) espécie(s) ocorrente(s) (nem todas são pragas) e a densidade (nº de corós rizófagos/m2);
  • O nível de controle para corós-praga na cultura do trigo é de 5 corós-praga/m2;
  • Em trigo, altas populações (>15 corós/m2), não são eficientemente controladas, mesmo com doses altas de inseticida nas sementes devido ao curto efeito residual e longo período de vida da praga;
  • Para a cultura do trigo os inseticidas à base dos princípios ativos acetamiprido, carbosulfano, fipronil, imidacloprido, tiametoxam e tiodicarbe estão registrados para o controle do coró D. abderus e para o controle do coró P. triticophaga é registrada a mistura dos ingredientes ativos imidaclopride + tiodicarbe (AGROFIT, 2012).
  • A viabilidade econômica do controle dos corós depende da relação entre preços do inseticida e dos grãos de canola, da dose de defensivo necessária, do potencial de rendimento da lavoura e do tamanho da área infestada em relação a toda a lavoura;
  • Levar em conta que existem espécies de corós de ciclo anual (D. abderus) e de ciclo bianual (P. triticophaga), sendo que esta última pode ocorrer em anos alternados;
  • A mortalidade natural (controle biológico) geralmente é elevada e o nível das infestações varia de ano para ano.
Fotos: Paulo Roberto Valle da Silva Pereira
Figura 1. Principais espécies de corós rizófagos (Coleoptera Scarabaeidae).

Insetos desfolhadores – traça-das-crucíferas, formigas-cortadeiras e vaquinhas

Esses insetos, ao se alimentarem das folhas, diminuem a área fotossintética das plantas, ocasionando redução de crescimento, de produção e, quando a desfolha ocorre no início de desenvolvimento da cultura, a morte de plântulas.
A área foliar possui importância decisiva no rendimento de grãos, especialmente no início da floração (Tabela 1). Portanto, deve-se monitorar com mais frequência nessa fase crítica e, se necessário, realizar o controle de insetos.
Tabela 1. Importância da área foliar no rendimento de grãos de canola na floração, no Canadá.
Estádio de desenvolvimento
Área foliar destruída (%)
10
50
100
Redução no rendimento de grãos (%)
Início da floração
2
12
25
5o dia de floração
2
8
16
10o dia de floração
1
4
8
Fonte: Thomas (2003).

Traça-das-crucíferas
A traça-das-crucíferas, Plutella xylostella (Lepidoptera: Plutellidae) (Figura 2a), é a praga mais importante na cultura da canola no Rio Grande do Sul. Seus danos são ocasionados pelas larvas (lagartas) que causam desfolhamentos e, em altas populações, também podem consumir as hastes e a epiderme das síliquas. Surtos dessa praga, se iniciados antes da floração, podem causar sérios danos e prejuízos à cultura. Maiores densidades populacionais e danos tem sido relacionados em períodos de estiagem.
No Canadá, o nível de controle é de 2 a 3 larvas/planta (THOMAS, 2003). No Brasil, Dominiciano & Santos (1996) mencionaram a necessidade de controle com o uso de inseticida quando houver infestação generalizada de larvas e cerca de 10% de desfolha. Com relação ao controle químico, deve-se dar preferência à utilização de inseticidas reguladores de crescimento, em função de suas características favoráveis de eficiência, residualidade e seletividade. Atualmente, existe um único inseticida registrado para o controle da traça-da-crucíferas, para a cultura da canola, cujo ingrediente ativo é a bifentrina, do grupo químico dos piretróides (AGROFIT, 2012). Após o controle de P. xylostella em lavoura que já tenha as síliquas formadas, dificilmente haverá tempo para que uma nova infestação possa danificar a cultura, pois as plantas já estarão na fase de maturação dos grãos.
Formigas-cortadeiras
As principais formigas-cortadeiras são as saúvas (Atta spp.) (Figura 2b) e quenquéns (Acromyrmex spp.) (Hymenoptera: Formicidae). Essas pragas, ao desfolharem as plantas de canola, reduzem a área fotossintética, resultando em reduções no crescimento, na produção e, dependendo do nível de desfolha, também na morte das plantas. O controle dessas formigas deve ser realizado principalmente na fase inicial da cultura.
Para controle de insetos que atacam no período de estabelecimento da canola, os agricultores têm empregado alternativas como: 1) a aplicação de inseticidas na operação de dessecação antes da semeadura da canola; 2) a aplicação de inseticidas na linha de semeadura, usando aplicadores de granulados acoplados às semeadoras, e 3) aplicação de inseticidas logo após a emergência da canola para o controle de formigas.
Vaquinhas
Uma das vaquinhas mais frequentemente encontradas na cultura da canola, ocasionando danos, é a Diabrotica speciosa (Coleoptera: Chrysomelidae) (Figura 2c). É uma praga que ataca muitas culturas (polífaga) e, em canola, os adultos dessa espécie desfolham as plantas especialmente da fase cotiledonar até a fase de 2-3 folhas verdadeiras. Os danos são mais frequentes em lavouras semeadas no início do período recomendado. Em determinadas lavouras o tratamento de sementes com inseticidas permitiu proteger as plântulas por até 20 dias.
Outra espécie que tem sido observada causando danos na cultura da canola no Rio Grande do Sul é Lagria villosa (Coleoptera: Lagriidae) (Figura 2d). Adultos e larvas dessa praga podem eventualmente atacar o colo e desfolhar plantas jovens de canola causando reduções de crescimento e produção, e, em altas infestações, podem ocasionar a morte das plantas.
Não há níveis de controle estabelecidos e nem inseticidas registrados para o controle dessas pragas em canola (AGROFIT, 2012).

Insetos sugadores de ramos, folhas e inflorescências – tripes e pulgões

Tripes
A espécie que tem sido observada infestando plantas de canola é Frankliniella occidentalis(Thysanoptera: Thripidae) (Figura 2e) (MARSARO JÚNIOR et al. 2012). Os danos são provocados por ninfas e adultos que sugam o tecido da superfície das folhas, originando sintomas de raspagem. Esses danos podem reduzir a taxa fotossintética das folhas atacadas, mas ainda não se sabe qual o impacto dessa praga para a produtividade da cultura. Atualmente, não há inseticidas registrados para o controle dessa praga em canola (AGROFIT, 2012).
Pulgões
As principais espécies de pulgões encontradas na canola são Myzus persicae (Figura 2f), que geralmente ataca da emergência até a fase de roseta, Brevicoryne brassicae e Lipaphis sp. (Hemiptera: Aphididae) (Figura 2g), que ocorrem em reboleiras ou em infestações generalizadas, principalmente nas inflorescências, no período da elongação à maturação. Os pulgões podem ser encontrados na face inferior das folhas e cotilédones, no caule, nas inflorescências e também nas síliquas.
Em razão do aparelho bucal sugador, ao se alimentar da seiva das plantas os pulgões provocam deformações e enrolamento das folhas (reduzindo a capacidade fotossintética) e redução do potencial produtivo (quando atacam as inflorescências). Em infestações severas os pulgões podem levar as plantas à morte.
Segundo Dominiciano & Santos (1996), o nível de controle para pulgões na cultura da canola é atingido quando forem detectadas na lavoura cerca de 25% de plantas com infestação nas inflorescências. Atualmente, não há inseticidas registrados para o controle dessas pragas na cultura da canola (AGROFIT, 2012).
Fotos: Paulo Roberto Valle da Silva Pereira (a) e Alberto Luiz Marsaro Júnior (b, c, d, e, f, g).
Figura 2. Desfolhadores e sugadores de ramos e inflorescências: a) Plutella xylostella, b) Atta sp., c) Diabrotica speciosa, d) Lagria villosa, e) Frankliniella occidentalis, f) Myzus persicae e g) Lipaphis sp.

Insetos sugadores de síliquas/grãos - percevejos

As espécies de percevejos que têm sido observadas na cultura da canola no Rio Grande do Sul são: Nezara viridulaPiezodorus guildiniiEuschistus heros e Dichelops furcatus (Hemiptera: Pentatomidae) e Neomegalotomus parvus (Hemiptera: Alydidae) (Figura 3). Ninfas e adultos dessas espécies sugam os grãos reduzindo-lhes principalmente o peso. O controle é especialmente importante após o início da formação das síliquas, devido ao grande efeito negativo sobre o rendimento de grãos nessa fase de desenvolvimento da cultura. Não há, no momento, inseticidas registrados para o controle dessas pragas na cultura da canola (AGROFIT, 2012).
Fotos: Paulo Roberto Valle da Silva Pereira (a, b, c) e Alberto Luiz Marsaro Júnior (d, e).
Figura 3. Insetos sugadores de síliquas/grãos: a) Nezara viridula, b) Piezodorus guildinii, c) Euschistus heros, d) Neomegalotomus parvus e e) Dichelops furcatus.

Monitoramento e controle de insetos-praga

  • Vistoriar periodicamente a lavoura, verificando, mais frequente e cuidadosamente a partir do início do surgimento de insetos-praga ou de seus danos.
  • Começar a observação pelas raízes, hastes, face inferior das folhas e, principalmente, pelos ponteiros e as flores.
  • Verificar durante o dia se existe lagartas abaixo da superfície do solo e ao redor da base das plântulas. Durante a noite, examinar a superfície do solo.
  • Ao realizar os monitoramentos, lembrar que insetos-praga localizam-se inicialmente nas bordas da lavoura.
  • Procurar orientação técnica para identificação correta dos insetos-praga (cujas espécies podem variar de acordo com a região do país), verificação do nível de dano econômico e recomendação de controle.
  • Utilizar, de preferência, inseticidas seletivos para abelhas e para inimigos naturais dos insetos-pragas.
  • Utilizar inseticidas para o controle de pragas somente quando necessário, de forma curativa quando em pulverização.
  • Havendo a necessidade de se utilizar inseticidas tóxicos para as abelhas, caso não haja inseticidas seletivos disponíveis, deve-se realizar as aplicações somente no início da manhã ou no final da tarde, visando à redução do impacto dos pesticidas sobre as abelhas e polinização.
  • Antes de utilizar qualquer produto químico para o controle de pragas na cultura da canola deve-se consultar o Agrofit, “Agrofit: sistema de agrotóxicos fitossanitários”, que está disponível em http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons, para verificar se o produto está registrado para o controle da praga alvo na cultura da canola.
  • Atualmente, o único inseticida disponível para o controle de insetos-praga na cultura da canola, no Brasil, apresenta o ingrediente ativo bifentrina, é do grupo químico dos piretróides, e está registrado para a traça-das-crucíferas, P. xylostella (AGROFIT, 2012).



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