domingo, 10 de maio de 2020

Botânica da Cultura da Ervilha


Introdução
Oprovável centro de origem da ervilha ( Pisum sativum L.) é o Oriente Médio com sua distribuição alcançando o nordeste da Índia e Afeganistão
A Etiópia é tida também como centro de origem secundário. 
A cultura é bem significa-tiva para a história, existindo vários relatos de ervilha na Bíblia, além de ter sido de grande importância para pesquisas de Gregor Mendel, criador da genética moderna. Atualmente, as ervilhas continuam tendo enorme importância, principalmente na nutrição humana, por ser um excelente ali-mento, contendo em sua composição elevados teores de proteínas, vitami-nas do complexo B (tiamina, riboflavi-na e niacina), minerais (ferro, cálcio, potássio e fósforo), além dos carote-noides luteína, β-caroteno e violaxan-tina. O teor do aminoácido lisina faz com que seja, em termos nutricionais, um bom complemento dos cereais. Apresenta ainda uma maior digesti-bilidade (90%) quando comparada ao feijão (73%). A Índia é o maior pro-dutor mundial, com um volume anual com cerca de 35% da produção, se-guida da China, com cerca de 23%. Esses dois países atingem produtivi-dades de até 9 t/ha. A União Européia (U.E.) é responsável por aproximada-mente 16% e os E.U.A. por cerca de 10% da produção mundial. Na U.E., a

França é o maior produtor, com cer-ca de 5% do total mundial. As maio-res produtividades desta cultura são obtidas na Bélgica, Países Baixos e França (14 t/ha -18 t/ha).

No Brasil, a ervilha é consumida principalmente na forma de grãos se-cos reidratados e enlatados ou como ervilha partida (dry pea); como ervilha verde / fresca (green pea ou garden pea ) debulhada, enlatada ou congela-da; como ervilha de vagem comestí-vel (sugar pea) achatada (snow pea) ou arredondada (snap pea) . Existe ainda a ervilha forrageira que é desti-nada ao consumo animal (gado leitei-ro principalmente) ou utilizada como adubo verde (ou cobertura do solo). Até a década de 1980, quase toda a ervilha consumida no Brasil era impor-tada acarretando uma evasão anual de divisas na ordem de sete milhões de dólares. Atualmente, toda a de-manda poderia ser atendida pela pro-dução nacional, graças às pesquisas realizadas pela Embrapa Hortaliças, juntamente com as empresas de pes-quisa e extensão rural dos Estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul e as indústrias de processamento, através do desenvolvimento de cultivares adaptadas e técnicas de cultivo. A produção de ervilha (seca ou verde) destinada à indústria tem sido realiza-da na forma de contrato entre o pro-dutor e a empresa, onde são estabe-lecidos a área a ser cultivada, a épo-ca de plantio, a cultivar, os insumos e as demais atribuições relacionadas a produção, entrega e preço do pro-duto. A partir da década de 1990, as agroindústrias passaram a importar grãos de ervilha novamente, e depen-dendo da taxa cambial, este produto é produzido aqui no país ou é importa-do. Dados mostram que a importação de ervilha tem sido relativamente alta nos últimos anos, chegando em 2015 ao volume importado de 41 mil tone-ladas, representando um valor de 23 milhões de dólares (Figura 1).

Em 2010, a área cultivada com ervilhas no Brasil foi de, aproximada-mente, 2.575 ha, com produção de 5.963 toneladas. Apesar da expansão da produção de ervilha no país nos úl-timos anos, a participação do Brasil no mercado mundial de ervilhas ainda é inexpressiva, apresentando conside-ráveis oscilações em termos de área cultivada e de produção ao longo dos anos. Assim, é de extrema importân-cia a melhoria de tecnologia de produ-ção e ou incentivos que favoreçam o aumento dessa produção no país. As informações que seguem visam apre-sentar aspectos importantes relacio-nados à produção de ervilha nas con-dições tropicais do Brasil.

Figura 1. Importação de ervilha no Brasil entre os anos 2011-2015.

Botânica

A ervilha é uma leguminosa pertencente à família Fabacea, subfa-mília Faboideae (sin. Papilionoideae),

à tribo Vicieae (sing. Fabeae), ao gê-nero Pisum e à espécie Pisum sativum L. O gênero Pisum possui grande va-riabilidade genética, presente nas va-riedades comerciais e nos materiais dos bancos de germoplasma. Dentro deste gênero, são relatadas sete es-pécies: P. arvense, P. elatius, P. formo-sum, P. fulvum, P. humile, P. jomardie e P. sativum. Entretanto, alguns autores reconhecem apenas duas espécies, P. arvense L. (ervilha forrageira) e P. sativum L. (ervilha verde). No entanto, todos os tipos são classificados den-tro da espécie P. sativum, onde se in-cluem também as ervilhas forrageiras.

A ervilha é uma espécie diploide (2n=2x=14), anual de inverno, herbá-cea e com germinação hipógea (Figu-ra 2). Apresenta hábito de crescimento determinado ou indeterminado (Figura

3), possui hastes finas formadas por nós e entrenós. As folhas são com-postas distribuídas de forma alterna-da, formadas por 2 a 3 pares de fo-líolos ovalados, de margem inteira ou sinuado-dentados na parte superior, na base das folhas dispõem-se duas estípulas arredondadas e podem ser encontradas em três formas: áfila, se-mi-áfila e normal (Figura 4). Suas inflo-rescências estão distribuídas de forma alternada ao longo do caule, e podem ter uma ou mais brácteas, de forma e dimensões variáveis que surgem nas axilas foliares. Até o surgimento da pri-meira inflorescência, o número de nós é constante, característica utilizada para a caracterização de precocidade de cultivares.

Figura 2. Etapas da geminação de sementes de ervilha.

Figura 3. Campos de produção de ervilha de crescimento indeterminado (A) e determinado (B).

Figura 4. Tipos de folhas de ervilha: áfila (A); semi-áfila (B); normal (C)

A flor da ervilha é composta por cinco pétalas, sendo a maior delas denominada de estandarte. As péta-las menores são as asas, e na parte anterior da flor se encontram as duas pétalas que formam a quilha. Já o cá-lice verde é formado por cinco sépa-las unidas, duas atrás do estandarte, duas opostas às asas e uma anterior e oposta à quilha. O gineceu é constituído pelo pistilo e um ovário e o an-droceu é formado por dez estames. O pistilo é formado por um único carpelo e um ovário que contém duas fileiras de óvulos inseridos em duas placen-tas paralelas. As flores podem encon-trar -se solitárias ou em grupo de 3 ou 4 e apresentam uma coloração branca ou violácea (Figura 5).

Figura 5. Flores de ervilha de coloração branca (A) e violácea (B).

É uma espécie autógama, cleis-togâmica, com polinização ocorrendo aproximadamente 24 horas antes da abertura da flor (antese). A germina-ção do tubo polínico pode levar de 8 a 12 horas e a fertilização de 24 a 28 horas após a polinização. Seu es-tigma fica receptivo ao pólen alguns dias antes da antese até um dia após o murchamento da flor. O pólen, por sua vez, é viável desde o momento da deiscência das anteras. Após o pro-cesso da fecundação, desenvolve-se o fruto que consiste em uma vagem de forma, tamanho, coloração e textu-ra variáveis. Suas sementes maduras são globulares, podendo ser lisas ou rugosas, e o tegumento pode ser tanto hialino quanto colorido e seu embrião formado por dois cotilédones e um hipocótilo bem desenvolvido. Os coti-lédones podem ser encontrados nas cores amarela ou verde e nas texturas lisa ou enrugada. O ciclo vegetativo da ervilha, dependendo da cultivar e das condições climáticas necessárias para o seu desenvolvimento, é de 90 a 140 dias. Em função do fotoperíodo, são estabelecidos três distintos grupos va-rietais de ervilha:

Precoces – Se caracterizam pelo aparecimento das primeiras flores entre o 6º e o 9º entrenó e são normal-mente indiferentes ao fotoperíodo.

Semiprecoces – As primeiras flores deste grupo varietal aparecem entre o 9º e o 11º entrenó e são me-dianamente sensíveis ao fotoperíodo.

Tardias – Neste grupo, as pri-meiras flores aparecem entre o 11º e o 13º entrenó, respondendo positiva-mente à ação dos dias longos (fotope-ríodo), assim como ocorre um efeito quantitativo das baixas temperaturas.

Alguns autores consideram que o ciclo da ervilha é composto por cin-co fases: (1) germinação/emergência; (2) crescimento vegetativo; (3) flo-ração; (4) vingamento e desenvolvi-mento das vagens, e (5) maturação dos grãos.

A ervilha-vagem (também conhe-cida como “ervilha torta”), (Figura 6), não apresenta pergaminho, devido a presença de dois genes com interação não alélica localizados nos cromosso-mos 4 e 6. O genótipo duplo-dominan-te (PPVV) apresenta esclerênquima nas vagens e o duplo recessivo pro-porciona ausência total de fibras. As demais combinações (ppVV e PPvv) possuem áreas irregulares de tecido esclerenquimatoso distribuído nas pa-redes das vagens e, por esse motivo, não são comestíveis.

As cultivares utilizadas para a produção de ervilha seca possuem sementes redondas e lisas, que po-dem ser utilizadas partidas ou inteiras, e neste caso, visando o enlatamento após a reidratação (Figura 7a). Já as cultivares utilizadas para produção de grãos verdes, destinados ao enlata-mento possuem geralmente sementes rugosas e elevado teor de açúcar (Figura 7b). No caso dos grãos imaturos destinados ao congelamento, a colora-ção verde escura é a mais desejável.

A ervilha forrageira (P. sativum subsp. arvense) apresenta caules fle-xuosos, estriados, delicados, simples ou quase simples; suas folhas são paripinadas apresentando gavinhas, ramos, geralmente terminais; possui entre 1 - 3 pares de folíolos ovalados, mucronados, de margem inteira ou sinuado-dentados na sua parte supe-rior. A coloração de suas flores é um vermelho-violáceas, podendo ser en-contradas solitárias ou geminadas so-bre pedúnculos axilares aristados; sua corola geralmente é rosa-violácea com alas violáceo-purpúreas (Figura 8).

Os frutos são vagens oblongas, que podem, de acordo com a sua for-ma, apresentar terminação obtusa, curvada ou fortemente em forma de pico; apresentam sementes lisas, es-féricas, ovaladas ou rugosas (cilíndri-cas, comuns), verdes (normal, pálido, amarelo), creme, marrons ou com manchas de cor castanha-púrpura.

Como na maioria das dicotiledôneas, as reservas do endosperma são direcionadas para o embrião, se acumulando nos cotilédones, sendo assim denominadas exoalbuminosas.

Figura 6. Produção de ervilha da cultivar ‘Torta de Flor Roxa’.

Figura 7. Sementes de ervilha lisas (A) e rugosas (B).

Figura 8. Detalhe de uma planta de ervilha forrageira.



terça-feira, 5 de maio de 2020

Adubação na Cultura da Mamona


Adubação
A mamoneira é uma planta exigente em nutrientes para se desenvolver e produzir bem, cujo potencial pode alcançar mais de 6.000 kg/ha. Ela tolera bem o estresse hídrico, mas não o nutricional. Ela também precisa de solo leve, aerado, para poder se desenvolver porque seu sistema radicular é, em geral, muito superficial. Desse modo, é comum encontrar plantas de mamoneira vegetando em locais ricos em matéria orgânica, como os lixões e terrenos baldios das cidades. Nesses locais, ela retira do solo tudo que necessita para crescer e produzir.

A mamoneira é apta para cultivo em amplas regiões do mundo e adapta-se bem a diversos tipos de solos e climas. Entretanto, trata-se de uma cultura exigente em solos férteis e os descuidos em sua correção e adubação podem trazer sérios transtornos produtivos, tanto em condições semiáridas, quanto em condições de Cerrado.

A mamona é uma planta resistente ao estresse hídrico, amplamente cultivada nas regiões semiáridas do mundo, especialmente na China, na Índia e no Brasil, os quais concentram mais de 90% da produção mundial. Aproximadamente 95% da área cultivada (em torno de 126 mil ha) e da produção brasileira se encontra no estado da Bahia. A ricinocultura é típica de pequena agricultura no Brasil, sendo cultivada sob baixo a médio nível tecnológico, com pouco ou nenhum uso de adubos e corretivos. Nas condições experimentais no semiárido tem-se obtido produtividade de até 1.500 kg/ha usando as cultivares BRS Paraguaçu e BRS Nordestina. Em condições comerciais, entretanto, tem sido levantada pelo IBGE produtividade de 600 kg/ha a 900 kg/ha. Essa baixa produtividade média regional tem sido explicada constantemente como imposição da falta de água e de problemas no manejo (consórcio, época de plantio, variedades, espaçamentos inadequados etc.), se bem que as deficiências minerais podem estar contribuindo para esse quadro, ao menos nos anos de melhor pluviosidade. Os solos do Semiárido são, quase sempre, bem supridos de Ca e Mg, já aqueles das regiões de maior pluviosidade ou do Sudeste, Norte e Centro-Oeste são ácidos e pobres em bases trocáveis, necessitando de correção de acidez com calagem (fornece Ca e Mg) e gessagem (fornece Ca e S), mais adubação com NPK. O baixo teor de matéria orgânica e a forte adsorção de metais (Cu, Mo e Zn, principalmente), ou pH elevado em algumas áreas, reduzem a capacidade desses solos em fornecer N, S, B, Cu, Fe, Mn, Mo e Zn. Os nutrientes N, S e B são supridos pela mineralização da matéria orgânica, sendo o S um elemento secundário no sulfato de amônio e no superfosfato simples e pode ser fornecido à planta concomitantemente com o fornecimento de N e P na adubação anual de manutenção ou produção, usando as fontes citadas. A aplicação de gesso agrícola também fornece S para a planta, podendo ser utilizado em regiões com acidez nas camadas inferiores do solo, como em Roraima. O Mo é disponibilizado pelo aumento do pH, como efeito da calagem, e os demais, pela adubação com micronutrientes, seja em fontes contendo o conjunto (uso de FTE – Frited trace elements) ou naquelas com nutrientes específicos (como sulfatos, óxidos e cloretos do elemento desejado).

Em São Paulo e Minas Gerais, têm sido obtidas produtividades de até 2.500 kg/ha de grãos, sendo comum a produtividade média de 2.080 kg/ha. Na média dos últimos 30 anos, São Paulo tem produzido 1.314 kg/ha (SAVY FILHO, 2001). Neste caso, além do clima mais propício, o uso de alta tecnologia tem sido comum: variedades de porte anão, correção do solo com calcário e gesso e adubação com NPK.

A mamoneira exporta da área de cultivo cerca de 80 kg/ha de N, 18 kg/ha de P2O5 e 32 kg/ha de K2O, 13 kg/ha de CaO e 10 kg/ha de MgO para cada 2.000 kg/ha de baga produzida (Canecchio Filho & Freire, 1958).  Entretanto, a absorção de nutriente da parte aérea aos 133 dias da emergência chega a 156 kg/ha, 12 kg/ha, 206 kg/ha, 19 kg/ha e 21 kg/ha de N, P2O5, K2O, CaO e MgO, respectivamente (NAKAGAWA; NEPTUNE, 1971). Com isto, observa-se que a mamona tem alto requerimento de nutrientes para se obter produtividade adequada e recicla grandes quantidades de nutrientes, sendo interessante para rotação com outras culturas, como a soja, o milho e o algodão no Cerrado. Resposta a doses de 20 kg/ha a 80 kg/ha de N, P2O5 e K2O são mais comuns na literatura (Azevedo et al., 1997). A aplicação de 2 t/ha de calcário dolomítico em um solo ácido de São Paulo, em conjunto com adubação 70-80-50 kg/ha de N-P2O5-K2O, permitiu alcançar produtividade de 1.256 kg/ha de sementes de mamona, enquanto na ausência da adubação e da calagem a produtividade foi de apenas 70 kg/ha de semente (SOUZA; NEPTUNE, 1976).

Quando submetida a estresse nutricional, aparecem os sintomas de deficiências nutricionais mostrados na Tabela 1. Porém, diversas situações no campo podem provocar clorose foliar. Assim, a chave analítica da Tabela 2 ajuda a diagnostica o problema que está ocorrendo.
Tabela 1. Resumo das deficiências de nutrientes na cultura da mamona.
Nutriente
Sintomatologia
N
Forte redução do crescimento inicial ou mesmo sua paralização; clorose generalizada nas folhas mais velhas, com ou sem ilhas de pigmentos verde-escuros sobre o limbo; forte desfolhamento e clorose ascendente até o ponteiro. Morte da planta ou forte redução na produtividade.
P
Redução moderada no crescimento inicial; folhas com coloração verde-escura que rapidamente evolui para clorose amarelo-bronzeada, com pigmentos esverdeados distribuídos de forma razoavelmente homogênea sobre o limbo. Necrose nas bordaduras e enegrecimento das pontuações antes esverdeadas, seguida de amarelecimento e/ou queda das folhas. Pode haver ou não manchas esparsas no limbo da folha, que podem coalescer e tomar toda a folha. Morte da planta ou forte redução na produtividade.
K
Redução moderada no crescimento inicial. Clorose internerval nas folhas mais velhas, que rapidamente progride para clorose generalizada, com fechamento da folha, secamento, necrose e queda. Os sintomas continuam progredindo de baixo para cima até o ponteiro. Há grande desfolhamento e forte queda de produtividade.
Ca
Redução de crescimento. Morte acentuada das raízes. Clorose internerval nas folhas superiores novas, nas quais os bordos viram para baixo. As folhas velhas rapidamente murcham e aparece mancha molhadas entre os lóbulos das folhas. Eventualmente, os lóbulos podem se diferenciar corretamente, mas não conseguem crescer normalmente.
Mg
Redução no crescimento. Clorose internerval nas folhas mais velhas, que avançam em direção ao centro de forma persistente. Eventualmente há clorose no limbo com os bordos mantidos claramente mais esverdeados. A clorose pode progredir e tomar toda a folha, que fica arqueada sobre o caule, murcha, seca e caem. Eventualmente, as folhas ficam amareladas com pontuações esverdeadas nas regiões internervais.
S
Redução no crescimento. A folha mais nova adquire coloração verde-limão que logo se expande para as vizinhas maiores. A folha menor toma formato de taça ou copo e a clorose se acentua; as folhas vizinhas têm seus bordos virados para baixo e formato típico de chapéu de palhaço; as folhas podem ter necrose na ponta dos lóbulos, que evoluem para toda a margem, podendo provocar rasgadura. A clorose verde limão avança de cima para baixo, amarelando toda a planta. Há superbrotamento abundante na planta. A inflorescência enegrece e morre.
B
Em fase aguda, o crescimento é reduzido. As folhas mais novas se espessam e tornam-se ásperas ao tato e quebradiças; o pecíolo se quebra com facilidade. Os lóbulos não conseguem se diferenciar corretamente. O broto terminal morre. As folhas mais velhas tornam-se ressecadas com qualquer estresse hídrico. Mesmo em fase crônica, os frutos não se sustentam no cacho; há falha na fertilização das flores, na formação e na manutenção dos frutos no cacho. Eventualmente, o cacho pode ser mostrar retorcido.
Em mamoneiras de porte médio, sob deficiência aguda, as primeiras folhas do ponteiro se enrugam, endurecem e deformam, poucos lóbulos se desenvolve; há necrose nos ápices dos lóbulos e/ou nas margens do limbo e/ou na base das folhas, que acabam caindo. Os internódios ficam curtos e ocorrem superbrotamento. O florescimento e frutificação são impedidos ou fortemente prejudicados.
Cu
As folhas do ponteiro adquirem coloração verde-limão menos intensa do que na deficiência de S, porém a clorose não avança. Não há o desenvolvimento de clorose internerval clara, como na deficiência de Fe e Mn.
Fe
As folhas do ponteiro ficam cloróticas e a clorose avança na região internerval deixando uma rede fina de nervuras verdes sobre um fundo amarelo.
Mn
As folhas do ponteiro ficam cloróticas e a clorose avança na região internerval deixando uma rede grossa de nervuras sobre um fundo amarelo-esverdeado.
Mo
Ocorre uma clorose leve de baixo para cima na planta, que evolui muito lentamente. As folhas mais velhas tem clorose generalizada, similar à deficiência de N. Em seguida, arqueiam sobre o caule, murcham e caem.
Fonte:  Ferreira et al. (2008).
Tabela 2. Chave analítica para identificar problemas nutricionais na mamoneira.
Sintomas
Causa prováve
Clorose generalizada nas folhas mais velhas
-N, -Mo, -K, -Mg
Crescimento muito lento ou travado
-N, -P ou -K
Clorose generalizada nas folhas mais velhas, com rápida e acentuada queda de folhas e sem presença de clorose internerval típicas noutras folhas mais novas.
-N
Clorose generalizada nas folhas mais velhas, com presença de clorose internerval, avançando pelas margens dos bordos em direção ao centro da folha. Próximo à margem do limbo, a clorose torna-se generalizada.
-K
Manchas foliares oleosas nas folhas mais velhas associado com intensa falha na emergência; perda intensa de folhas velhas e manchas aquosas nas novas.
+N ou K
Crescimento reduzido da planta, porém com folhas intensamente mais verde-escuro. Surgimento de pontuações negro-esverdeada sobre o limbo; clorose amarelo-bronze-enferrujada; necrose das margens das folhas; queda acentuada de folhas cloróticas, com manchas ferruginosas.
-P
Clorose generalizada nas folhas mais velhas com presença de clorose internerval típica e persistente por toda a folha.
-Mg
Clorose generalizada nas folhas mais velhas que avança muito lentamente para cima, com pouco desfolhamento, ligeira perda de cor verde de baixo para cima e ausência de folhas com clorose internerval.
-Mo
Folha recém-expandida com reviramento de bordo e clorose amarelada persistente; baixo crescimento; com superbrotamento; arqueamento de folhas sobre o caule, murchamento e queda. Folhas típicas de chapéu de palhaço, com presença de manchas aquosas entre os lóbulos.
- Ca
Clorose verde-limão típica na folha mais nova que avança muito rapidamente para as folhas vizinhas, as quais podem adquirir o aspecto de chapéu de palhaço com bordos revirados para baixo. A folha mais nova tem aspecto de copo ou taxa. Plantas com crescimento reduzido.
- S
Folhas mais novas com lóbulos indiferenciados, grossas e ásperas, com morte de gema apical ou superbrotamento visível; plantas adultas cujas folhas não resistem à murcha nos horários com temperatura mais elevada, não consegue se reidratar e seca; quebra fácil do pecíolo. Cachos muito pequenos, com visível falha na fertilização; queda intensa de frutos novos; cacho tortuoso.
-B
Folhas mais novas com clorose acentuada, formando uma rede fina típica sobre um fundo amarelado.
- Fe
Folhas mais novas com clorose mediana a leve, formando uma rede grossa sobre um fundo verde-amarelado.
- Mn
Folha recém-expandida com lóbulo maior excessivamente desenvolvido, na forma de dedos; ligeira clorose na folha, com ou sem pontuações amareladas na região internerval.
- Zn
Crescimento reduzido sem causa nutricional aparente
Compactação do solo
Morte das raízes e murchamento da planta
Excesso de água
Baixo crescimento, com sintomas generalizados de deficiência de diversos nutrientes no campo
Acidez excessiva
Planta pequena com raízes curtas, grossas e coraloides
+ Al
Fonte: Ferreira et al. (2008).


Correção de deficiências minerais na cultura da mamona
A correção de deficiências de nutrientes na cultura da mamona deve ser feita, prioritariamente, pelas adubações minerais e orgânicas baseadas na análise do solo, aplicada no plantio e em cobertura, no período do florescimento. Não há dados na literatura sobre adubação foliar na cultura e o uso de pulverizações deve ser restrito a condições bem específicas para evitar queima generalizada das folhas. As diferentes soluções vendidas no mercado com macro e micronutrientes para adubação foliar podem ser usadas para corrigir deficiências específicas. Porém, deve-se usar sempre soluções mais diluídas do que o recomendado para outras culturas até que se tenha trabalhos mais detalhados com indicações de concentrações específicas para uso na mamoneira.

Em geral, é necessário que se faça boa correção da acidez do solo com mínimo de 90 dias de antecedência a data do plantio, para que a mamona possa desenvolver todo seu potencial produtivo. Assim, o uso de calcário para corrigir a camada superficial do solo, para atingir uma saturação por bases trocáveis (Ca, Mg e K) de 60% da CTC a pH 7,0, é obrigatório se o agricultor deseja ter boas produtividades em solos ácidos. Em havendo veranicos na região, é essencial corrigir o perfil com gesso agrícola, onde se recomenda aplicar 50 kg de CaSO4.2H2O para cada 1% de argila do solo.

Para as condições de solo de região semiárida e cultivo em sequeiro, o uso das doses de nutrientes especificadas na Tabela 3 permite a obtenção de boas produtividades. Porém, para condições de solos ácidos típicos de mata e cerrado brasileiros, é mais apropriado o uso das adubações prescritas nas Tabelas 4 e 5. Em todo caso, é recomendado aplicar uma adubação corretiva de micronutrientes e, onde o solo apresentar mais de 3% de matéria orgânica, deve-se suspender a adubação mineral nitrogenada no plantio e só aplicar em cobertura se o crescimento da planta for menor do que o esperado.

Tabela 3. Recomendação de adubação para a região semiárida do Brasil.
Teor no solo
Plantio
Cobertura
Kg/ha

Nitrogênio (N)
(Não analisado)
15
20
mg/dm3 de P_Mehlich-1
Fósforo (P2O5)
<11 o:p="">
50
-
11-20
40
-
>20
30
-
cmolc/dm3 de P_Mehlich-1
Potássio (K2O)
<0 o:p="">
40
-
0,13-0,23
30
-
>0,23
20
-
1. A fertilização de cobertura deverá ser realizada 50 a 80 dias após a emergência (ou no início do florescimento), utilizando o sulfato de amônio, preferencialmente.
2. Aplicar B (1,0 kg/ha), Cu (0,5 kg/ha), Mn (1 kg/ha), Mo (0,4 kg/ha) e Zn (1 kg/ha) no primeiro ano de plantio em área nova; repetir a aplicação de 1 kg/ha/ano de B até que a análise de solo acuse valor de B disponível maior ou igual a 0,5 mg/dm3.
3. Se disponível, o autor recomenda a aplicação de até 15 m3/ha de esterco curtido ou 2-4 m3/ha de esterco de galinha ou torta de mamona. Neste caso, suspender a adubação nitrogenada ou aplicar apenas metade do previsto em cobertura.
Fonte: Coutinho (1998); Beltrão et al. (2005); e Severino et al. (2006).
Tabela 4. Recomendação de adubação para a cultura da mamoneira.

P_Resina, mg/dm3
K+, mmolc/dm3
0,0-0,7*
0,8- 1,5
>1,5
kg/ha de N-P2O5-K2O
0-6*
15-80-40
15-80-30
15-80-20
7-15
15-60-40
15-60-30
15-60-20
>15
15-40-40
15-40-30
15-40-20
*Extrator Resina de troca iônica.
A adubação de cobertura é feita na quantidade de 30 a 60 kg/ha de N, aplicado aos 50 dias da emergência (preferencialmente, na emissão da inflorescência). A calagem é recomendada com base na saturação de bases, para 60%, e deve ser feita com a antecipação de dois a três meses antes do plantio.
Deve-se aplicar uma correção com micronutrientes de: B (2,0 kg/ha), Cu (2 kg/ha), Mn (6 kg/ha), Mo (0,4 kg/ha) e Zn (6 kg/ha) no primeiro ano de plantio em área nova; aplicar a lanço em área total ou aplicar 1/3 da dose indicada no sulco de plantio por três anos consecutivos; repetir a aplicação de 1 kg/ha/ano de B até que a análise de solo acuse valor de B maior ou igual a 0,5 mg/dm3. Reaplicar todos os nutrientes após 4 anos de cultivo sucessivo no área ou quando os teores da análise de solo ou de planta estiverem baixo.
Fonte: Savy Filho (2005a); Galrão (2004), com adaptações.
Tabela 5.  Interpretação e recomendação de adubação com micronutrientes para o Cerrado.
Teor**
Interpretação*
Recomendação de adubação***
Boro
Cobre
Manganês
Zinco
Boro
Cobre
Manganês
Zinco
mg/dm3
kg/ha
Baixo
0-0,2
0-0,4
0-1,9
0-1,0
0,7
0,7
2,0
2,0
Médio
0,3-0,5
0,5-0,8
2,0-5,0
1,1-1,6
0,5
0,5
1,5
1,5
Alto
>0,5
>0,8
>5,0
>1,6
0
0
0
0
*Adubação feita na linha de plantio. **B (extrator água quente); Cu, Mn e Zn (Mehlich-1). ***Aplicar também 0,4 kg de Mo, em área total, ou no período de 3 anos consecutivos.
Fonte: Galrão (2004).

Deve-se fazer o acompanhamento do estado nutricional da cultura para ajuste na adubação, se for necessário. Em geral, os teores mostrados no limbo da folha recém-expandida do caule principal, no início do florescimento, com os valores apresentados na Tabela 6 são considerados adequados.

Tabela 6. Teores de macro e micronutrientes no limbo da folha recém-expandida, na época do florescimento, considerados adequados para o estado nutricional da mamoneira.
Status
N   
P
K
Ca
Mg
S
                 g/kg
Adequado
40-50
3,0-4,0
30-40
15-25
2,5-3,5
3,0-4,0

B
Cu
Fe
Mn
Mo
Zn
Adequado
20-30
4-10
25-100
20-150
-
15-40
Fonte: Oliveira (2004).





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