domingo, 10 de maio de 2020

Botânica da Cultura da Ervilha


Introdução
Oprovável centro de origem da ervilha ( Pisum sativum L.) é o Oriente Médio com sua distribuição alcançando o nordeste da Índia e Afeganistão
A Etiópia é tida também como centro de origem secundário. 
A cultura é bem significa-tiva para a história, existindo vários relatos de ervilha na Bíblia, além de ter sido de grande importância para pesquisas de Gregor Mendel, criador da genética moderna. Atualmente, as ervilhas continuam tendo enorme importância, principalmente na nutrição humana, por ser um excelente ali-mento, contendo em sua composição elevados teores de proteínas, vitami-nas do complexo B (tiamina, riboflavi-na e niacina), minerais (ferro, cálcio, potássio e fósforo), além dos carote-noides luteína, β-caroteno e violaxan-tina. O teor do aminoácido lisina faz com que seja, em termos nutricionais, um bom complemento dos cereais. Apresenta ainda uma maior digesti-bilidade (90%) quando comparada ao feijão (73%). A Índia é o maior pro-dutor mundial, com um volume anual com cerca de 35% da produção, se-guida da China, com cerca de 23%. Esses dois países atingem produtivi-dades de até 9 t/ha. A União Européia (U.E.) é responsável por aproximada-mente 16% e os E.U.A. por cerca de 10% da produção mundial. Na U.E., a

França é o maior produtor, com cer-ca de 5% do total mundial. As maio-res produtividades desta cultura são obtidas na Bélgica, Países Baixos e França (14 t/ha -18 t/ha).

No Brasil, a ervilha é consumida principalmente na forma de grãos se-cos reidratados e enlatados ou como ervilha partida (dry pea); como ervilha verde / fresca (green pea ou garden pea ) debulhada, enlatada ou congela-da; como ervilha de vagem comestí-vel (sugar pea) achatada (snow pea) ou arredondada (snap pea) . Existe ainda a ervilha forrageira que é desti-nada ao consumo animal (gado leitei-ro principalmente) ou utilizada como adubo verde (ou cobertura do solo). Até a década de 1980, quase toda a ervilha consumida no Brasil era impor-tada acarretando uma evasão anual de divisas na ordem de sete milhões de dólares. Atualmente, toda a de-manda poderia ser atendida pela pro-dução nacional, graças às pesquisas realizadas pela Embrapa Hortaliças, juntamente com as empresas de pes-quisa e extensão rural dos Estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul e as indústrias de processamento, através do desenvolvimento de cultivares adaptadas e técnicas de cultivo. A produção de ervilha (seca ou verde) destinada à indústria tem sido realiza-da na forma de contrato entre o pro-dutor e a empresa, onde são estabe-lecidos a área a ser cultivada, a épo-ca de plantio, a cultivar, os insumos e as demais atribuições relacionadas a produção, entrega e preço do pro-duto. A partir da década de 1990, as agroindústrias passaram a importar grãos de ervilha novamente, e depen-dendo da taxa cambial, este produto é produzido aqui no país ou é importa-do. Dados mostram que a importação de ervilha tem sido relativamente alta nos últimos anos, chegando em 2015 ao volume importado de 41 mil tone-ladas, representando um valor de 23 milhões de dólares (Figura 1).

Em 2010, a área cultivada com ervilhas no Brasil foi de, aproximada-mente, 2.575 ha, com produção de 5.963 toneladas. Apesar da expansão da produção de ervilha no país nos úl-timos anos, a participação do Brasil no mercado mundial de ervilhas ainda é inexpressiva, apresentando conside-ráveis oscilações em termos de área cultivada e de produção ao longo dos anos. Assim, é de extrema importân-cia a melhoria de tecnologia de produ-ção e ou incentivos que favoreçam o aumento dessa produção no país. As informações que seguem visam apre-sentar aspectos importantes relacio-nados à produção de ervilha nas con-dições tropicais do Brasil.

Figura 1. Importação de ervilha no Brasil entre os anos 2011-2015.

Botânica

A ervilha é uma leguminosa pertencente à família Fabacea, subfa-mília Faboideae (sin. Papilionoideae),

à tribo Vicieae (sing. Fabeae), ao gê-nero Pisum e à espécie Pisum sativum L. O gênero Pisum possui grande va-riabilidade genética, presente nas va-riedades comerciais e nos materiais dos bancos de germoplasma. Dentro deste gênero, são relatadas sete es-pécies: P. arvense, P. elatius, P. formo-sum, P. fulvum, P. humile, P. jomardie e P. sativum. Entretanto, alguns autores reconhecem apenas duas espécies, P. arvense L. (ervilha forrageira) e P. sativum L. (ervilha verde). No entanto, todos os tipos são classificados den-tro da espécie P. sativum, onde se in-cluem também as ervilhas forrageiras.

A ervilha é uma espécie diploide (2n=2x=14), anual de inverno, herbá-cea e com germinação hipógea (Figu-ra 2). Apresenta hábito de crescimento determinado ou indeterminado (Figura

3), possui hastes finas formadas por nós e entrenós. As folhas são com-postas distribuídas de forma alterna-da, formadas por 2 a 3 pares de fo-líolos ovalados, de margem inteira ou sinuado-dentados na parte superior, na base das folhas dispõem-se duas estípulas arredondadas e podem ser encontradas em três formas: áfila, se-mi-áfila e normal (Figura 4). Suas inflo-rescências estão distribuídas de forma alternada ao longo do caule, e podem ter uma ou mais brácteas, de forma e dimensões variáveis que surgem nas axilas foliares. Até o surgimento da pri-meira inflorescência, o número de nós é constante, característica utilizada para a caracterização de precocidade de cultivares.

Figura 2. Etapas da geminação de sementes de ervilha.

Figura 3. Campos de produção de ervilha de crescimento indeterminado (A) e determinado (B).

Figura 4. Tipos de folhas de ervilha: áfila (A); semi-áfila (B); normal (C)

A flor da ervilha é composta por cinco pétalas, sendo a maior delas denominada de estandarte. As péta-las menores são as asas, e na parte anterior da flor se encontram as duas pétalas que formam a quilha. Já o cá-lice verde é formado por cinco sépa-las unidas, duas atrás do estandarte, duas opostas às asas e uma anterior e oposta à quilha. O gineceu é constituído pelo pistilo e um ovário e o an-droceu é formado por dez estames. O pistilo é formado por um único carpelo e um ovário que contém duas fileiras de óvulos inseridos em duas placen-tas paralelas. As flores podem encon-trar -se solitárias ou em grupo de 3 ou 4 e apresentam uma coloração branca ou violácea (Figura 5).

Figura 5. Flores de ervilha de coloração branca (A) e violácea (B).

É uma espécie autógama, cleis-togâmica, com polinização ocorrendo aproximadamente 24 horas antes da abertura da flor (antese). A germina-ção do tubo polínico pode levar de 8 a 12 horas e a fertilização de 24 a 28 horas após a polinização. Seu es-tigma fica receptivo ao pólen alguns dias antes da antese até um dia após o murchamento da flor. O pólen, por sua vez, é viável desde o momento da deiscência das anteras. Após o pro-cesso da fecundação, desenvolve-se o fruto que consiste em uma vagem de forma, tamanho, coloração e textu-ra variáveis. Suas sementes maduras são globulares, podendo ser lisas ou rugosas, e o tegumento pode ser tanto hialino quanto colorido e seu embrião formado por dois cotilédones e um hipocótilo bem desenvolvido. Os coti-lédones podem ser encontrados nas cores amarela ou verde e nas texturas lisa ou enrugada. O ciclo vegetativo da ervilha, dependendo da cultivar e das condições climáticas necessárias para o seu desenvolvimento, é de 90 a 140 dias. Em função do fotoperíodo, são estabelecidos três distintos grupos va-rietais de ervilha:

Precoces – Se caracterizam pelo aparecimento das primeiras flores entre o 6º e o 9º entrenó e são normal-mente indiferentes ao fotoperíodo.

Semiprecoces – As primeiras flores deste grupo varietal aparecem entre o 9º e o 11º entrenó e são me-dianamente sensíveis ao fotoperíodo.

Tardias – Neste grupo, as pri-meiras flores aparecem entre o 11º e o 13º entrenó, respondendo positiva-mente à ação dos dias longos (fotope-ríodo), assim como ocorre um efeito quantitativo das baixas temperaturas.

Alguns autores consideram que o ciclo da ervilha é composto por cin-co fases: (1) germinação/emergência; (2) crescimento vegetativo; (3) flo-ração; (4) vingamento e desenvolvi-mento das vagens, e (5) maturação dos grãos.

A ervilha-vagem (também conhe-cida como “ervilha torta”), (Figura 6), não apresenta pergaminho, devido a presença de dois genes com interação não alélica localizados nos cromosso-mos 4 e 6. O genótipo duplo-dominan-te (PPVV) apresenta esclerênquima nas vagens e o duplo recessivo pro-porciona ausência total de fibras. As demais combinações (ppVV e PPvv) possuem áreas irregulares de tecido esclerenquimatoso distribuído nas pa-redes das vagens e, por esse motivo, não são comestíveis.

As cultivares utilizadas para a produção de ervilha seca possuem sementes redondas e lisas, que po-dem ser utilizadas partidas ou inteiras, e neste caso, visando o enlatamento após a reidratação (Figura 7a). Já as cultivares utilizadas para produção de grãos verdes, destinados ao enlata-mento possuem geralmente sementes rugosas e elevado teor de açúcar (Figura 7b). No caso dos grãos imaturos destinados ao congelamento, a colora-ção verde escura é a mais desejável.

A ervilha forrageira (P. sativum subsp. arvense) apresenta caules fle-xuosos, estriados, delicados, simples ou quase simples; suas folhas são paripinadas apresentando gavinhas, ramos, geralmente terminais; possui entre 1 - 3 pares de folíolos ovalados, mucronados, de margem inteira ou sinuado-dentados na sua parte supe-rior. A coloração de suas flores é um vermelho-violáceas, podendo ser en-contradas solitárias ou geminadas so-bre pedúnculos axilares aristados; sua corola geralmente é rosa-violácea com alas violáceo-purpúreas (Figura 8).

Os frutos são vagens oblongas, que podem, de acordo com a sua for-ma, apresentar terminação obtusa, curvada ou fortemente em forma de pico; apresentam sementes lisas, es-féricas, ovaladas ou rugosas (cilíndri-cas, comuns), verdes (normal, pálido, amarelo), creme, marrons ou com manchas de cor castanha-púrpura.

Como na maioria das dicotiledôneas, as reservas do endosperma são direcionadas para o embrião, se acumulando nos cotilédones, sendo assim denominadas exoalbuminosas.

Figura 6. Produção de ervilha da cultivar ‘Torta de Flor Roxa’.

Figura 7. Sementes de ervilha lisas (A) e rugosas (B).

Figura 8. Detalhe de uma planta de ervilha forrageira.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *