sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Solos para o Cultivo de Arroz Irrigado



Uma topografia plana, com declividade pequena, suficiente para evitar estagnação de água, um solo sedimentar argilo-humifero ou simplesmente argiloso, sobre camadas impermeáveis de subsolo, próximas da superfície, é o mais indicado para a cultura irrigada. Em todos os países de alta produção, o arroz é irrigado.
O arroz irrigado exige solos com condições físicas que permitam a inundação na maior parte do ciclo. Os solos mais indicados são os de relevo plano, lençol freático próximo à superfície e uma textura que possibilite as condições adequadas de retenção de água.
Quanto à acidez, embora a faixa mais indicada de pH seja entre 5,7 a 6,2, o arroz produz ainda em solos que tenham alto índice de acidez e baixo teor de elementos minerais. Por sua vez, em terrenos alcalinos, o arroz não se dá bem.


Para definirmos a aptidão de determinado solo é necessário o entendimento daquilo que é “solo”, o que varia conforme a atividade ou a formação das pessoas.



Todavia, o enfoque de desenvolvimento agrícola e preservação ambiental requer uma definição de solo que contemple aspectos desde sua origem, composição, importância ambiental, até o seu uso e manejo.

No Rio Grande do Sul, a combinação da diversidade geológica, climática e de relevo originou uma grande variedade de tipos de solos, que contribuíram para os diferentes padrões de ocupação das terras, de seu uso agrícola e do desenvolvimento regional.


Para organizar o conhecimento que se tem a respeito dos solos e facilitar o entendimento do grande número de informações disponíveis utilizar-se-á o agrupamento dos solos em classes de acordo com suas semelhanças e, ao mesmo tempo, separando-os em classes distintas conforme suas diferenças entre si. Os critérios usados para a classificação dos solos quanto sua aptidão para o cultivo com arroz irrigado referem características e propriedades (morfológicas, físicas, químicas e mineralógicas) consideradas importantes para a interpretação de seu uso com a cultura. O avanço do conhecimento a respeito dos solos (mapa de solos mais detalhados, por exemplo), pode exigir uma correspondente readequação da interpretação atual. 


1. O perfil do solo e suas características para o cultivo com arroz irrigado



A identificação dos tipos de solos no campo é feita pela observação do perfil do solo em um talude de estrada, na parede de uma trincheira ou por tradagem. O entendimento do perfil é a primeira etapa na identificação e interpretação das características do solo para fins de recomendação de uso e manejo. O perfil do solo mostra uma seqüência vertical de camadas mais ou menos paralelas à superfície, resultantes da ação dos processos de formação do solo (processos pedogenéticos). Estas camadas são chamadas de horizontes pedogenéticos que são diferenciados entre si pela espessura, cor, textura, estrutura e outras características. Os horizontes principais, não necessariamente presentes em todos os perfis de solo, são: A, E, B, C, R, O e H.

As características morfológicas representam a aparência do solo no campo, sendo visíveis a olho nu ou perceptível por manipulação. A sua feição no perfil de solo é utilizada na identificação de solos, na avaliação da capacidade de uso da terra, no diagnóstico da causa de variação no crescimento de plantas e no diagnóstico de degradação em propriedades do solo.

Os perfis representando os diversos tipos de solos mostram uma grande heterogeneidade quanto à presença e a seqüência de horizontes, bem quanto à espessura e cor. Além dessas propriedades visíveis, os horizontes de cada solo podem variar quanto à textura, à estrutura, ao teor de matéria orgânica, à capacidade de troca de cátions, à saturação por bases, ao teor de alumínio extraível e outros atributos. Isto implica em que o mesmo tipo de horizonte pedogenético (A, E, B ou C) pode apresentar diferenças de um solo para outro. Não menos importante dizer que esta variação entre os solos representa qualidades ou limitações ao uso para determinados fins (cultivo de arroz irrigado), além de refletir o ambiente particular de formação de cada solo, ou seja, variações quanto ao material de origem, clima, relevo, drenagem e outras. Uma das primeiras características que se procura identificar é se no perfil dos solos ocorre algum horizonte ou camada com baixa condutividade hidráulica. As principais características do solo para sua avaliação quando do cultivo com arroz irrigado são:

a. Classe de solo: as informações contidas nas classes de solos encerram a natureza do ecossistema terras baixas;

b. Seqüência e tipo de horizontes: horizontes argilosos e a determinadas profundidades facilitam o manejo da água e/ou reduzem a percolação de água no perfil;

c. Classe de drenagem: solos que apresentem classes de drenagem de baixa ou muito baixa condutividade hidráulica racionalizam o uso da água de irrigação;

d. Textura; os solos que apresentam textura argilosa em todo perfil e/ou horizontes, camadas de textura argilosa favorecem o manejo da irrigação por inundação;

e. Classe de relevo: quanto mais suave o relevo, menor a movimentação de solo, melhor o manejo da água e controle de ervas daninhas, com consequente aumento de produtividade.



2. Classes de solos aptas ao cultivo de arroz irrigado



A sociedade não mais aceita e o planeta não mais comporta a produção de alimentos a qualquer custo. Certamente, nas próximas décadas aqueles solos com certas limitações e/ou vocações deverão ter seu uso direcionados para atividades específicas, as quais deverão levar em conta não apenas o ganho em produtividade, mas, também a preservação para que possa continuar a produzir alimentos. Esta visão não é apenas romântica como pode-se pensar, mas uma necessidade face o aumento populacional da humanidade. 

O processo de formação dos solos é muito lento e, se levar-se em conta que, dependendo do clima, relevo, rocha etc. é gasto em média para a formação de um centímetro de solo 400 anos, uma camada de 30 centímetros levaria 12.000 anos. Portanto, solos rasos apresentam grandes limitações de uso, assim como outros solos de textura muito arenosa (Neossolos Flúvicos ou Quartzarênicos). Nestes, os riscos de erosão, desperdício de água, contaminações profundas e a baixa produtividade alcançada são potencializados. Solos com horizontes superficiais arenosos e muito profundos, utilizam maior volume de água para irrigação e facilitam a percolação de nutrientes e pesticidas, afetando o ambiente de produção.


Características gerais dos principais solos cultivados com arroz irrigado

Os solos cultivados com arroz irrigado no RS e SC apresentam drenagem naturalmente deficiente, decorrente de densidade elevada, baixa porosidade total, alta relação micro/macroporos, presença de camada subsuperficial com baixa permeabilidade e do relevo plano a suave ondulado. Parte destas condições são acentuadas pelo preparo do solo realizado em condições de umidade excessiva. 



Solos situados em patamares mais elevados ou em terras adjacentes às várzeas, de relevo suave ondulado a plano, eventualmente também são usados com cultura de arroz irrigado. No RS, esses solos são encontrados na região da Campanha e Fronteira Oeste; em SC, ocorrem em patamares mais elevados de várzeas de praticamente todas as regiões.

Até um determinado ponto, as condições apresentadas pelos solos de várzea podem ser consideradas favoráveis para o cultivo do arroz irrigado por reduzir as perdas de água e de nutrientes, porém são restritivas ao desenvolvimento do sistema radicular das culturas de sequeiro, podendo, em casos extremos de compactação, ser prejudiciais mesmo para o arroz irrigado. Em função da heterogeneidade do material de origem e dos diferentes graus de hidromorfismo, apresentam grande variação nas características morfológicas, físicas, químicas e mineralógicas, o que determina seu agrupamento em diferentes classes, com diferentes limitações. 





quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Custo de Produção do Arroz Irrigado



As fortes mudanças de mercado em termos de competitividade, decorrentes da globalização da economia, abertura de mercados, formação do Mercosul, exige do produtor brasileiro a postura de empresário rural: eficiência no gerenciamento da propriedade e no aproveitamento dos recursos destinados a produção.
A reestruturação dos fatores de produção ( terra, capital, trabalho), a escolha das tecnologias, o conhecimento da sua realidade e do meio em que produzem, a busca constante de informações e o controle de receitas e despesas, permitem aos produtores definir escalas de produções que os tornem competitivos.
A competitividade do setor, deve ter como base os seguintes pontos:
- Determinação dos custos de produção por área de lavoura;

- Revisão dos arrendamentos;

- Cultivo restrito à áreas economicamente viáveis;

- Adoção de tecnologias e manejos para redução de custos: Plantio Direto, Pré-germinado, densidade de semeadura, adubação, etc.

- Qualidade total: redução das perdas de colheita, irrigação, mão de obra, etc.
- Análise mercadológica permanente, entre outros.

A determinação do custo de produção, elemento-chave para que se estabeleça a competitividade, e sua análise, oferece uma base consistente e confiável para a projeção dos resultados e para o planejamento, principalmente na decisão de o que, quando e como plantar, além de revelar as operações, áreas e atividades de maior ou menor custo.


Coeficientes técnicos e custo de produção do cultivo de arroz irrigado no RS

Os coeficientes técnicos apresentados a seguir, são para os sistemas de cultivo convencional e mínimo que, respectivamente, são realizados em cerca de 53% e 32% da área do Estado. Estes sistemas diferem entre si pela realização da operação "dessecação", apenas no cultivo mínimo, e pelo período no qual executam-se as operações de preparo do solo. No cultivo mínimo, estas são realizadas antecipadamente (janeiro/fevereiro ou agosto/setembro), em épocas mais favoráveis.
O sistema convencional proporciona bons rendimentos, no entanto, segundo Vernetti Jr. e Gomes (2000), a época de semeadura do arroz irrigado no RS, é muito estreita e, o atraso na sua execução, tem influência direta no rendimento, devido ao aumento da possibilidade de ocorrência de frio, na floração. Além disso, no sistema convencional de cultivo, considerando-se as precipitações que normalmente ocorrem na época ideal de semeadura e o tipo de solo utilizado para essa cultura, dificilmente se consegue cumprir o cronograma ideal para àquela prática, sendo em determinados anos necessário refazer algumas operações de preparo de solo.
Na tabela 1, pode-se observar os coeficientes técnicos para o cultivo de um hectare de arrroz irrigado no RS. A determinação dos coeficientes técnicos, tem como base levantamento realizado junto à produtores, em dois municípios gaúchos, e as tecnologias desenvolvidas pela pesquisa.



Os coeficientes demonstram a necessidade de insumos, hora- máquina e mão de obra para o cultivo de um hectare de arroz irrigado, com produtividade estimada de 6000 kg ha-1 , de acordo com a tecnologia preconizada.

Na tabela 2 apresenta-se a estimativa do custo médio das operações e insumos utilizados na lavoura de arroz irrigado, em dois municípios do RS, os valores são baseados em informações de produtores, cuja produtividade média para o sistema cultivo mínimo é 10% maior que o sistema convencional. Cabe ressaltar que estes são custos operacionais, nos quais não estão computadosos juros sobre o capital investido, juros de financiamento, taxas e contribuições, benfeitorias (estradas, cercas, instalações agrícolas) e administração.
Existem custos inferiores e superiores aos apresentados na tabela. Nesses casos, as produtividades também podem variar de acordo com os níveis tecnológicos adotados.
O ponto de equilíbrio no sistema convencional e no cultivo mínimo, considerando-se a média (fev/jun de 2002) do preço de comercialização do arroz irrigado no RS, de R$ 16,84/saco de 50 kg, está em 99,34 sacos /ha e 105,34 sacos /ha, respectivamente.

Tabela 1. Coeficientes técnicos para 1 hectare de arroz irrigado no estado do RS.
Operações/insumos
Unidade
Qt.*/ha
Insumos
-Semente
Kg
160
-Adubo de base
Kg
200
-Adubo coberta
Kg
80
-Herbicida
..Glifosate
L
4
..Propanil
L
8
..Clomazone
L
1
-Fungicida(10% da área)
..Benomil
Kg
0,5
-Inseticida(20% da área)
..Carbofuran
Kg
15
Preparo solo
-Demanche taipas
Hora/máq.
0:50
-Aração/Gradagem
Hora/máq.
0:45
-Aplainamento
Hora/máq.
1:00
-Locação de taipas
Saco/ha
1
-Construção de taipas
Hora/máq.
1:30
-Drenagem
Hora/máq.
0:20
-Limpeza canais
Hora/máq.
1:45
-Dessecação
Aplic. aérea
1
-Mão de obra
Dia/hom.
0,70
Plantio
-Plantio/semeadura
Hora/máq.
1:00
-Mão de obra
Dia/hom.
0,30
Tratos culturais
-Adub. cobertura
Aplic. aérea
1
-Controle pl. daninhas
Aplic. aérea
1,2
-Controle doenças
Aplic. aérea
0,1
-Mão de obra
Dia/hom.
0,40
Irrigação
-Irrigação
Saco/50kg
15
-Irrigador
% produção
1,5
Colheita
-Colhedora
% produção
7
-Graneleiros
% produção
2
-Mão de obra
Dia/hom.
0,20
-Frete externo
R$/t
6
Limpeza/sec/armaz.
% produção
8
Arrendamento terra
Saco/50 kg
13
* Estabelecido pela média de municípios.
Fonte: Dados de pesquisa, Embrapa Clima Temperado

Tabela 2. Padrão de potabilidade para substâncias químicas que representam riscos à saúde.
Custo R$/ha
Operações
Convencional
Cultivo Mínimo
Preparo do solo
253,73
253,73
Dessecação
-
55,43
Plantio
21,73
21,73
Sementes
105,00
105,00
Adubo
74,80
74,80
Adubação de cobertura
54,20
54,20
Controle pl. daninhas/pragas/doenças
199,50
199,50
Irrigação
282,91
285,94
Colheita
266,77
292,75
Secagem/armazenagem
161,66
177,83
Arrendamento
252,60
252,60
Total
1.672,90
1.733,51
Receita (R$ 16,84* X saco 50 kg)
2.020,80
2.222,88
Margem Bruta
347,90
449,37
Relação custo/benefício
1,21
1,25
* Preço médio dos meses fev/jun de 2002, no RS






FONTE: EMBRAPA

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Arroz, Qualidade e Classificação de Grãos



As características determinantes da qualidade de grão em arroz refletem-se diretamente no valor do produto no mercado. No entanto, o conceito de qualidade é concebido e visto de maneira diferenciada, dependendo da finalidade do consumo, do grupo étnico envolvido, do tipo de processamento pós-colheita, entre outros. De maneira geral, a qualidade de grão em arroz pode ser classificada em quatro grandes grupos: comportamento no beneficiamento; qualidade comestível, de cocção e de processamento; valor nutritivo e adequação do produto aos padrões de comercialização.
Palavras-chave: Oryza sativa. Arroz parabolizado. Beneficiamento. Cocção; Processamento. Padrão de comercialização. Valor nutritivo.


INTRODUÇÃO

O termo “qualidade de grão”, em arroz, apresenta diferentes significados, sendo concebido e visto também de forma diferenciada, dependendo da finalidade de consumo, do grupo étnico envolvido, do tipo de processamento utilizado, entre outros fatores.
Dessa forma,a definição de um arroz como de boa ou má qualidade é grandemente influenciada pelas preferências e/ou necessidades do consumidor e, quando estas diferem, o produto pode ser julgado como bom e adequado por um grupo e totalmente inadequado por outro. O presente artigo aborda as diversas características ligadas à qualidade do arroz e é dirigido a todos
profissionais interessados no produto, tanto do ponto de vista da comercialização, como do ensino, da produção, da utilização (alimentar ou não) e da transformação industrial.

COMPORTAMENTO NO BENEFICIAMENTO

Embora as preferências de consumo de arroz, em termos de tipo de grão, aroma e aparência antes e após o cozimento sejam bastante variadas, um produto uniforme, sem a presença de grãos quebrados e/ou danificados é usualmente preferido pela maioria dos consumidores. Desse modo, uma performance adequada no beneficiamento, com bons rendimentos de grãos inteiros, é também almejada por produtores e cerealistas, uma vez que o índice de quebra durante o processamento dos grãos para consumo afeta o valor do produto no mercado e consiste em fator determinante da aceitabilidade de novas variedades.
Variações na ocorrência e intensidade de baixos rendimentos de grãos inteiros no beneficiamento tornam-se mais alarmantes no caso do arroz de terras altas, devido o produto, nesse ecossistema, estar mais sujeito aos efeitos das variações climáticas que o cultivado nas várzeas irrigadas por inundação contínua.
Além do sistema de cultivo, vários outros fatores, como características próprias da cultivar em uso, condições climáticas durante o desenvolvimento, maturação e colheita do grão, assim como
condições de processamento e manejo pós-colheita influenciam, sobremaneira, o rendimento do arroz no beneficiamento.
A quebra de grãos no beneficiamento é, portanto, de grande importância econômica para a indústria do arroz, especialmente quando se atenta para a diferença na valoração do produto inteiro e do quebrado.
Desta maneira, a pesquisa tem-se preocupado com o desenvolvimento de cultivares com elevado rendimento no beneficiamento e boa estabilidade para esta característica, ou seja, cultivares menos sensíveis a quedas significativas no percentual de inteiros, quando deixadas no campo além do ponto ideal de colheita da lavoura.
As principais propriedades do grão de arroz que influenciam seu comportamento no beneficiamento são determinadas, basicamente, pelas características da casca (glumas: lema e pálea), sua coloração e pubescência, pelas dimensões e formato do grão e pela dureza e aparência do endosperma.
Ademais, o teor de umidade dos grãos, na época da colheita ou do beneficiamento, influencia grandemente na recuperação de grãos inteiros durante o processo de descasque e polimento.

Características da casca

Embora sem importância aparente, no arroz beneficiado e empacotado, colocado à disposição do consumidor no mercado varejista, as características da casca podem ter influência significativa na qualidade e aceitação do produto, em função do tipo de processamento utilizado. Cultivares de arroz com casca de coloração mais escura resultam, geralmente, num produto mais escurecido após o processo de parboilização, o que prejudica a aparência e interfere na aceitação para consumo, quando comparado com um produto mais claro e
atrativo.
Cultivares com casca pubescente quase sempre são rejeitadas pelo cerealista por serem mais abrasivas e, além de provocar maior desgaste às máquinas de beneficiamento, têm sido causa de desconforto e de alergia para os operadores, devido à poeira que ocorre durante o processo de descasque dos grãos.
Além desses dois aspectos, grãos malempalhados, ou seja, com aberturas na junção da lema com a pálea na porção apical do grão, apresentam maiores problemas de conservação após a colheita, por estarem mais expostos ao ataque de pragas durante o armazenamento. Cultivares com essa característica geralmente apresentam maior dano causado por insetos, o que prejudica a qualidade e interfere negativamente no aspecto visual do produto, seja no arroz
branco, integral ou parabolizado, seja no rendimento de beneficiamento.

Dimensões e formato do grão

Durante o processo de desenvolvimento de cultivares melhoradas, deve ser levado em conta que o comprimento e a forma do grão são características herdadas independentemente e podem ser combinadas como desejado. Além disso, não existem barreiras para a recombinação de qualquer classe de grão com outros parâmetros de qualidade, como aparência do endosperma
ou teor de amilose, ou com características agronômicas, como tipo de planta ou ciclo de maturação.
Os padrões utilizados para classificar o arroz em função do comprimento e forma do grão variam de um país para outro e refletem as preferências de consumo. No Brasil, além do comprimento, tomado como base para enquadrar o grão como longo, médio ou curto, é também considerada a relação comprimento/largura para enquadrá-lo como do tipo longo-fino (agulhinha), tipo de grão característico das variedades irrigadas.
 No mercado brasileiro, cultivares com grãos tipo longo-fino têm valor cerca de 30% superior ao de cultivares com grãos longos.


Aparência do endosperma

A aparência do endosperma do arroz é uma característica importante tanto para o consumidor, quanto para o produtor e para a indústria de beneficiamento e de empacotamento do produto. Consumidores de arroz de diversos tipos de mercado dão preferência para o produto com endosperma translúcido, sem áreas opacas, livre de manchas e imperfeições causadas por ataque de insetos ou por doenças. A aceitação do produto é igualmente prejudicada pela ocorrência de grãos com centro branco (ou barriga branca), que são áreas opacas causadas
por um acondicionamento mais frouxo das partículas de amido e proteína. Além do aspecto visual negativo, esses são mais sujeitos a quebras no beneficiamento e têm valor de mercado bastante diminuído, embora tais manchas desapareçam naturalmente durante o cozimento e não alterem o valor nutritivo do produto. O centro branco não deve ser confundido com a opacidade apresentada pelos grãos de variedades conhecidas como glutinosas ou cerosas, cujo endosperma é naturalmente opaco, e nem com o gessamento do endosperma (grãos gessados), que ocorre quando o arroz é colhido ainda imaturo e com alto teor de umidade (acima de 26%) ou em grãos danificados por insetos.


Teor de umidade

Aliado à melhor performance varietal, o teor de umidade dos grãos na colheita, o método de colheita, as condições de secagem, trilha e estocagem do produto, o teor de umidade por ocasião do beneficiamento, e as várias interações entre esses componentes são fundamentais para a maximização do percentual de grãos inteiros no beneficiamento do arroz.
O teor de umidade do arroz por ocasião da colheita, assim como as condições climáticas
vigentes durante o período que antecede a colheita do produto e que contribuem para flutuações na umidade dos grãos ainda no campo, no período pré-colheita, como também o teor de umidade por ocasião do beneficiamento, têm sido considerados fatores importantes na determinação do comportamento do produto no beneficiamento.
De maneira geral, para obtenção de maiores rendimentos, tem sido recomendado colher o arroz com teor de umidade ainda elevado, entre 18% e 22%, secá-lo à baixa temperatura e em tantas etapas quantas forem necessárias, para evitar a ocorrência de fissuras nos grãos e seus efeitos
prejudiciais à qualidade, além de auferir melhores preços de mercado.


Propriedades do amido

O teor de amilose do arroz exerce,reconhecidamente, uma influência marcante na performance de cozimento. A escala para classificação do teor de amilose do arroz, utilizada no Programa de Seleção de Linhagens da Embrapa Arroz e Feijão , considera os seguintes valores:
a) teor alto: atribuído ao arroz com conteúdo de amilose entre 28% e 32%;
b) teor intermediário: entre 23% e 27%;
c) teor baixo: para o arroz com conteúdo amilótico entre 8% e 22%.
Para atender as preferências de consumo no Brasil, buscam-se cultivares com conteúdo de amilose intermediário a alto, cujos grãos, quando cozidos, apresentamse secos e soltos.

Temperatura de gelatinização

Um importante efeito do cozimento do arroz refere-se ao aumento e à solubilização dos grânulos de amido, resultando em alterações, como aumento de volume, abertura ou fragmentação dos grãos e desenvolvimento de texturas diferenciadas no arroz
cozido. A temperatura de gelatinização (TG) do amido refere-se à temperatura de cozimento, na qual a água é absorvida e os grânulos de amido aumentam irreversivelmente de tamanho com simultânea perda de cristalinidade. A determinação da TG representa uma ferramenta muito importante na avaliação do comportamento culináriodo arroz.
A temperatura de gelatinização é comumente estimada de forma indireta, através do grau de dispersão e clarificação dos grãos de arroz submetidos à ação de soluções alcalinas e varia, aproximadamente, entre 63oC e 80oC. Pela sua determinação, os materiais são classificados como:
a) TG baixa: arroz cuja temperatura de gelatinização do amido ocorre entre 63oC e 68oC;
b) TG intermediária: entre 69oC e 73oC;
c) TG alta: temperatura entre 74oC e 80oC.
Grãos de arroz com TG baixa podem-se tornar excessivamente macios e até mesmo desintegrar-se durante o cozimento. Por outro lado, cultivares com TG alta requerem
mais água e maior tempo de cozimento, que aquelas com TG baixa ou intermediária, sendo
geralmente rejeitadas em quase todos os mercados consumidores.

Alterações pós-colheita

No cozimento, o arroz beneficiado envelhecido absorve maior quantidade de água, expande mais, apresenta menor índice de sólidos solúveis na água de cocção e é mais resistente à desintegração dos grãos durante o cozimento, que o arroz recém-colhido.
Assim, um arroz recém-colhido que tende a empapar durante o cozimento pode, com o passar do tempo, modificar esse comportamento, tornando-se mais adequado às preferências de consumo e apresentar-se seco e solto.
O arroz integral, da mesma forma que o arroz mal polido, devido à conservação das camadas externas do grão, mais ricas em lipídios, apresenta poder de conservação inferior ao arroz beneficiado polido.

Padrões de comercialização

As Normas de Identidade, Qualidade, Embalagem e Apresentação do Arroz (BRASIL, 1988) proporcionam um sistema de comercialização por classes e tipos, que leva em consideração os fatores de qualidade associados a limpeza, uniformidade, condições sanitárias e pureza do produto.


Grupos

De acordo com a forma de apresentação do produto a ser comercializado, o arroz pode ser classificado em dois grandes grupos, arroz em casca e arroz beneficiado.

Subgrupos

O grupo do arroz em casca pode ser enquadrado em dois subgrupos: arroz em casca natural ou parboilizado. Para o arroz beneficiado são previstos quatro subgrupos, a saber: arroz beneficiado integral, polido, parboilizado ou parboilizado integral.

Classes

Para o enquadramento em classe de quaisquer dos subgrupos acima, são consideradas cinco categorias, com base nas dimensões dos grãos inteiros após o descasque e polimento. As quatro primeiras classes referem-se ao produto longo-fino, longo, médio e curto e, para que o produto comercial possa ser enquadrado em qualquer uma delas, é necessário que, no mínimo, 80%
do peso dos grãos inteiros da amostra seja representado por grãos com as dimensões previstas oficialmente, como segue:
a) grãos longo-finos:
- comprimento ≥ 6 mm;
- espessura ≤ 1,90 mm;
- relação comprimento/largura ≥
2,75 mm;
b) grãos longos: comprimento ≥ 6 mm;
c) grãos médios: comprimento entre 5 mm e menos de 6 mm;
d) grãos curtos: comprimento inferior a 5 mm.
Adicionalmente, é considerada uma quinta classe, designada como arroz misturado e destinada à classificação do produto que não se enquadre em nenhuma das classes anteriores e apresente-se constituído pela mistura de duas ou mais delas, sem predominância (80%) de nenhuma.


TIPOS

Qualquer que seja o grupo, subgrupo ou classe a que pertença, o arroz destinado à comercialização como grão para consumo é classificado em cinco tipos, expressos numericamente e definidos de acordo com o percentual de ocorrência de defeitos e
com o percentual de grãos quebrados e quirera. De acordo com a importância e as conseqüências no produto de consumo, são considerados como defeitos graves (matérias estranhas, impurezas, grãos mofados, ardidos, pretos e não gelatinizados) e defeitos gerais (grãos danificados, manchados, picados, amarelos, rajados, gessados e não parboilizados). 
Alguns desses defeitos são comuns a todos os subgrupos e outros específicos. Para enquadramento em tipo comercial são observados os percentuais de defeitos graves, de defeitos gerais, de grãos quebrados e de quirera. Os percentuais máximos de defeitos permitidos em cada um dos cinco tipos encontram-se expressos em tabelas de tolerância, para cada subgrupo, a serem aplicadas na tipificação do produto.

Renda no benefício e rendimento do grão

Para a valoração comercial do produto, são considerados a renda no benefício, expressa pelo percentual total de arroz beneficiado (grãos inteiros, quebrados e quirera), e o rendimento do grão, expresso, separadamente, pelo percentual de inteiros e de quebrados obtido. A legislação prevê uma renda base em nível nacional de 68% para a renda no benefício, constituída de um rendimento de grão de 40% de inteiros e 28% de quebrados e quirera. Rendimentos inferiores ou superiores aos estabelecidos pela renda base devem ser corrigidos pela aplicação de coeficientes específicos.



terça-feira, 18 de agosto de 2015

Subprodutos do Arroz



Os subprodutos do arroz, geralmente descartados por causa do menor interesse econômico, resultam, em parte, do seu beneficiamento como casca, farelo gordo, quirera (arroz polido quebrado); dos resíduos de cultivo como a palha, entre outros, normalmente obtidos por processos industriais mais refinados (amido, farinha, arroz pré-cozido, arroz expandido, cereais matinais, saquê, óleo de arroz).


PALHA



Componente do tijolo-mutirão, com cimento e arenito, em proporção ideal para garantir durabilidade e resistência à ação da chuva, ventos e do próprio tempo (TIJOLO-MUTIRÃO..., 1993). Poderá tornar-se uma alternativa viável para baratear os custos da construção civil. A palha de arroz também pode ser utilizada como cobertura morta nos solos cultivados.

CASCAS



No beneficiamento do arroz, a casca corresponde a cerca de 20% do peso produto. Tem lenta biodegradação, baixa densidade e peso específico. Carbonizada, a casca de arroz pode ser usada como substrato (pura ou em mistura com outros materiais) na propagação de plantas florestais, frutíferas, olerícolas e ornamentais (SOUZA, 1995). Porém o desconhecimento de tal utilidade é um dos fatores do seu baixo aproveitamento. Como matéria-prima integral, a casca tem aplicação potencial na fabricação de diversos produtos (CARVALHO; VIEIRA, 1999):
a) adesivos;
b) adsorvente de materiais tóxicos;
c) como componente da alimentação animal para prevenir formação de gases e distúrbios estomacais;
d) como material de cama e ninhos para animais;
e) para polimento de metais, devido ao seu poder abrasivo;
f) como material de construção na confecção de tijolos etc.

FARELO DE ARROZ



O farelo integral utilizado na extração do óleo é proveniente da operação de brunimento do arroz durante o seu beneficiamento.
Da matéria-prima original (arroz em casca), o farelo é gerado na proporção de 8% a 10%. Aliados às características de qualidade, outros fatores que colocam o farelo como matéria-prima com amplo potencial de utilização são a sua abundância e o baixo preço. Tem sido aproveitado, em quase sua totalidade, como aditivo em rações animais, como adubo, ou simplesmente descartado como detrito não aproveitável. Contém substâncias de valor nutricional, que incluem lipídeos com benefícios à saúde, além de propriedades que reduzem o colesterol e a calciúria. O farelo de arroz apresenta todos os aminoácidos essenciais ao homem e constitui boa fonte de fibras para a dieta humana. O seu conteúdo vitamínico inclui as vitaminas do complexo B e as lipossolúveis A e tocoferóis com atividade vitamínica E. Pode ser uma boa fonte de nutrientes de baixo custo, na complementação da dieta humana, sem alterar hábitos alimentares. As fibras do farelo, por possuir boa capacidade de retenção de água e óleo, podem ser utilizadas no desenvolvimento de vários produtos industrializados, como no preparo de laxativos pela indústria farmacêutica, como despoluente na adsorção de metais pesados da água para fins industriais ou para consumo domiciliar.

ÓLEO DE FARELO DE ARROZ



Não é um óleo popular no mundo, mas possui uma demanda padrão como óleo saudável, nos países asiáticos. Do ponto de vista nutricional, o interesse no óleo de farelo de arroz tem crescido, principalmente devido aos benefícios à saúde, os quais incluem a redução de ambos colesteróis do soro e de baixa densidade lipoprotéica. Por outro lado, sua produção está limitada por um fator: após o polimento, o óleo é decomposto rapidamente em ácidos graxos
livres pela lipase, tornando-se impróprio para refinamento e uso comestível.

AMIDO DE ARROZ



Os grãos quebrados e a quirera são subprodutos do beneficiamento, que apresentam baixo valor agregado no Brasil. Tradicionalmente, são utilizados em rações animais ou como coadjuvantes em cervejarias, no processo de fermentação. Uma das diversas formas de aproveitamento do arroz quebrado é como fonte de amido, certamente agregando valor comercial a esse subproduto. O amido de arroz é um produto não alergênico, uma vez que não se tem conhecimento de reações adversas causadas pelo seu consumo ou manuseio. Por isso, tem sido recomendado para dieta de pessoas portadoras da doença celíaca, que se caracteriza pela intolerância do organismo à ingestão de glúten. Ademais, o amido de arroz apresenta baixo índice glicêmico, ou seja, causa pequeno aumento do teor de glicose no sangue após a ingestão, o que o torna um importante componente no balanceamento das refeições. Possui estabilidade no congelamento e descongelamento, não havendo necessidade de modificação prévia, como acontece com amidos de outras fontes, tornando-se de grande utilidade em
produtos alimentícios congelados. Pode passar pelo processo de cozimento, visando sua pré-gelatinização. O seu aproveitamento em cereais matinais melhora a textura e a expansão do produto final, sendo também um substituto natural e de baixo custo, para o uso de gorduras em snacks.

FARINHA DE ARROZ



Diferentes tipos de farinha de arroz prégelatinizadas podem ser obtidos através do cozimento do arroz quebrado, seja por extrusão, vapor, ou pressão. O produto é cozido e posteriormente secado e moído.
Esta farinha é amplamente usada nos mercados americano e asiático, na fabricação de pães, massas, molhos, produtos matinais extrusados, além de outros que precisam destacar-se no sabor, aspecto e qualidade.
Facilita, por exemplo, a obtenção de snacks mais macios e que demoram a amolecer, quando embebidos em leite; reduz a quebra do produto durante o empacotamento e transporte. Na fabricação de produtos com textura semelhante à de bolos, a utilização da farinha de arroz, prégelatinizada ou não, melhora as condições de formação de bolhas de ar necessárias à expansão de volume e alcance da textura desejada. Além dessas vantagens, a isenção de glúten na farinha de arroz abre novas possibilidades de uso de pães e bolos, com ela elaborados, para
portadores de doença celíaca. 
No Brasil, a empresa Bifum Produtos Alimentícios Ltda. desenvolveu um macarrão à base de farinha de arroz, considerado um alimento típico da colônia oriental.

PROTEÍNA DA FARINHA DE ARROZ



A proteína do endosperma do arroz pode ser utilizada para enriquecer produtos à base de arroz, como pães, bebidas e snacks, ou ser misturada à proteína de soja para otimizar o perfil de aminoácidos de proteínas vegetais texturizadas. Sua principal vantagem na alimentação humana, em relação às outras fontes protéicas de mesma natureza, como a da soja, consiste no fato de não causar flatulência, além de não ser alergênica.
Para finalidades não alimentícias, pode ser empregada na indústria de cosméticos, filmes,

plásticos e adesivos.



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