domingo, 28 de maio de 2017

Pragas na Cultura do Algodão

Pragas

As tomadas de decisão que visem aumentar e preservar as populações de inimigos naturais dentro do agroecossistema algodoeiro são ações promissoras, técnica e ecologicamente viáveis, que poderão resultar em grande economia para os cotonicultores, na melhoria da qualidade do meio ambiente e na redução dos problemas de saúde pública decorrentes do uso indiscriminado de produtos químicos. Portanto, é necessário que o cotonicultor esteja apto em reconhecer as pragas e seus inimigos naturais que, porventura, venham a ocorrer durante o ciclo da cultura, realizando amostragens periódicas na lavoura para uma tomada de decisão inteligente e que seja econômica, social e ecologicamente indicada para as condições de sua empresa.
Geralmente, as amostragens deverão ser feitas em intervalo de cinco dias, tomando-se aleatoriamente 100 plantas em talhões com até 100 ha, área homogênea, através do caminhamento em zigue-zague dentro da cultura, de tal maneira que se observem plantas que estejam bem distribuídas na cultura. Para amostrar o curuquerê, em cada planta, deve-se examinar a terceira folha, contada a partir do ápice para a base. No caso do bicudo, deve-se observar um botão floral de tamanho médio, tomado aleatoriamente, na metade superior da planta, a fim de se verificar a presença ou não de orifícios de oviposição e/ou alimentação. As amostragens visando o bicudo deverão ser feitas a partir do surgimento dos primeiros botões florais até o aparecimento do primeiro capulho na cultura.
O manejo integrado de pragas tem como base fundamental a integração de várias táticas de controle de pragas, tais como: escolha da cultivar, controle cultural (plantio, conservação do solo e adubação, densidade de plantio, destruição dos restos de cultura e rotação de cultura), controle climático, controle biológico e controle químico. A seguir, serão apresentadas informações sobre as pragas e as estratégias que podem ser adotadas para o seu controle.

Broca-da-raiz (Eutinobothrus brasiliensis, Col.: Curculionidae)

Descrição e ciclo de vida
Os besouros passam a entressafra abrigados em capinzais e matas. Sua longevidade é de, aproximadamente, 200 dias, podendo ocorrer até quatro gerações por ano. O adulto mede de 3 mm a 5 mm de comprimento, é de cor pardo-escura e pouco brilhante. Cada fêmea coloca cerca de 160 ovos e estes são de coloração creme esbranquiçada ou amarela. A fêmea coloca-o na altura do coleto da planta, entre a casca e o lenho, na proporção de um ovo por orifício. A larva nasce dez dias após a oviposição e mede cerca de 5 mm a 7 mm de comprimento, é ápoda; apresenta coloração branca a creme e penetra no caule abrindo galerias (Figura 1). Já a pupa é branca e passa essa fase em uma cavidade construída na planta por ocasião da sua fase larval. Seu ciclo biológico é de 84 dias (ovo: 11 dias (21 ± 6°C); larva 58 (23 ± 2°C); e pupa:15 dias (22 ± 5°C)). A longevidade varia de 100 a 200 dias, respectivamente, pra fêmeas e machos. O período de pré-oviposição varia entre 5,5 e 6,5 dias a 25 ± 4°C.
Identificação da injúria
Esse inseto ocorre desde as primeiras folhas até o início do florescimento (10 a 40 dias após a emergência). Os sintomas iniciais são caracterizados por um avermelhamento das folhas, murcha, seca e queda das mesmas. Há ainda, a perda de turgescência dessas folhas, nas horas mais quentes do dia, e, posteriormente, ocorre o secamento e morte da planta.
Foto: Carlos Alberto Domingues da Silva
Figura 1. Broca da Raiz do algodoeiro (Eutinobothrus brasiliensis).
Controle
Medidas preventivas são fundamentais para controlar os adultos remanescentes da safra anterior e incluem o preparo correto do solo (o uso de calcário desfavorece a praga), a semeadura concentrada na época recomendada, o tratamento de sementes, a eliminação de plantas hospedeiras (plantas da família das Malváceas, como o quiabo e o hibisco) e a destruição de soqueiras e de plantas voluntárias.
Faixas de plantio-isca podem ser utilizadas para atrair indivíduos sobreviventes da entressafra, e aplicações de inseticidas nessas faixas podem suprimir a população, evitando assim prejuízos econômicos à cultura.
A rotação de culturas, evitando o cultivo do algodoeiro por três safras em áreas infestadas com o inseto configura-se em medida altamente eficaz.
Os fungos entomopatogênicos presentes no solo exercem o controle biológico natural, mas em áreas desequilibradas, em que a broca encontra condições adequadas para elevar sua população, tais organismos apresentam eficiência parcial.
Também, o uso de sementes tratadas com inseticidas sistêmicos contribui para evitar explosões populacionais. Em áreas com histórico de ocorrência, inseticidas aplicados no sulco de plantio têm apresentado efeito moderado. Em áreas tradicionalmente infestadas será necessário uma ou duas pulverizações entre os 10 e 30 dias de idade da planta, utilizando-se produtos de ação de contato.

Pulgões (Aphis gossypii e Myzus persicae, Het.: Aphididae)

Descrição e ciclo de vida
São insetos polífagos, capazes de se alimentar de plantas das famílias Cucurbitaceae, Malvaceae, Solanaceae e Leguminosae. Sugam seiva, medem de 1 mm a 3 mm de comprimento; coloração variável do amarelo-claro ao verde escuro. Apresentam estruturas na parte final do abdômen denominada de sifúnculos ou cornículos.
Nas condições de clima tropical, as colônias são constituídas apenas por fêmeas, e estas reproduzem-se sem haver acasalamento (partenogênese telítoca), o que resulta em um rápido aumento populacional.
Os pulgões vivem sob as folhas e brotos novos das plantas, sugando continuamente a seiva (Figura 2). A infestação inicial se dá em reboleiras, e no início da formação da colônia todos os indivíduos são ápteros mas, sempre que a população cresce, surgem formas aladas que representam indivíduos responsáveis pela disseminação da espécie para novas plantas. Além dos danos diretos causados pela contínua sucção de seiva, também transmitem vírus (dano indireto).
O período ninfal (fase jovem) é de 5 a 6 dias, e cada fêmea adulta pode gerar de 2-4 ninfas/dia, ocorrendo uma nova geração a cada semana. Podem ser detectados desde a germinação até os primeiros capulhos. Tanto estiagem como alta temperatura e umidade são condições climáticas que favorecem o pulgão.

Foto: José Ednilson Miranda
Figura 2.  Colônia de pulgões em pecíolo de folha de algodoeiro.
Identificação da injúria
Os sintomas característicos do ataque do pulgão são encarquilhamento das folhas, bordas das folhas viradas para baixo, deformação dos brotos, folhas brilhantes devido à secreção da mela (Figura 3). Esta substância adocicada excretada pelos pulgões atrai tanto as formigas como o fungo Capnodiumsp.,que forma a fumagina, que por sua vez dificulta a absorção da radiação solar pelas folhas da planta. Quando a mela ocorre no final do ciclo da cultura, surge o “algodão doce” ou algodão caramelizado”, manchando a pluma e fazendo a pluma perder qualidade. Outro sintoma é a presença de folhas vermelhas entre as nervuras (vermelhão) devido ao vírus “Cotton anthocyanosis virus”. Os sintomas do vermelhão ocorrem, principalmente, nas folhas do terço inferior e médio, e assemelham-se à deficiência de magnésio. Também, é possível observar entrenós curtos, folhas novas com bordas curvadas e quebradiças (mosaico das nervuras).

Foto: José Ednilson Miranda
Figura 3. Colônia de pulgões (Aphis gossypii) em folha de algodoeiro induzindo sintoma de encarquilhamento.
Controle
A eliminação de ervas invasoras hospedeiras, de plantas voluntárias ou restos culturais de algodão reduz os focos iniciais, uma vez que os indivíduos que completariam o desenvolvimento nessas plantas serão suprimidos.
Dentre os agentes de controle biológico que atuam reduzindo a população de pulgões destacam-se espécies de predadores e parasitoides. As vespas parasitoides Lysiphlebus testaceipes comumente estão presentes durante as infestações de pulgões. Ao parasitarem os pulgões, estes adquirem aspecto mumificado. Formas larvais de joaninhas (Cycloneda sanguinea Scymnus sp.), crisopídeo (Chrysoperla externa), e mosca sirfídeo (Toxomerus sp.) também colonizam e suprimem infestações de pulgões. Se houver 30% de plantas com inimigos naturais e for detectado 70% de ataque, a pulverização deve ser adiada e nova amostragem deverá ocorrer em dois ou três dias para uma nova tomada de decisão.
O tratamento de sementes é importante para retardar o estabelecimento dos insetos na cultura. Em caso de ataques que causem danos econômicos, o uso de inseticidas sistêmicos (que circulam na planta), como neonicotinoides pode ser necessário. Uma vez que os pulgões colonizam a face adaxial (inferior) das folhas, o controle com inseticidas não sistêmicos fica comprometido.
O uso de inseticidas de largo espectro, como piretroides, para controlar outras pragas pode debilitar e suprimir populações de inimigos naturais de pulgões e aumentar a probabilidade de surtos populacionais. De forma geral, o uso de inseticidas deve ser restringido tanto quanto possível a fim de preservar os inimigos naturais.

Mosca-branca (Bemisia tabaci Bemisia tabaci biótipo B; Het.: Aleyrodidae)

Descrição e ciclo de vida
A forma adulta apresenta tamanho de 1 mm, tem o corpo amarelado, asas cobertas uniformemente por uma camada de cera branca e os olhos são vermelhos. São insetos capazes de se alimentar de centenas de espécies vegetais, como algodão, berinjela, couve, ervas daninhas, feijão, melancia, pimentão, soja, tomate.
Uma fêmea pode depositar de 30 a 400 ovos ao longo de sua vida reprodutiva; sua reprodução pode ocorrer com ou sem a presença do macho (sexuada e assexuada). Os ovos são depositados na face inferior das folhas; aqueles recém-colocados são amarelados e, próximo à eclosão, são marrons.
As ninfas de mosca branca apresentam quatro ínstares, sendo o primeiro móvel e os demais fixos (Figura 4). No segundo ínstar, após se fixarem na superfície da folha, as ninfas inserem seus dois pares de estiletes e succiona a seiva elaborada da planta. No quarto ínstar, fase também chamada de pupa ou pseudo-pupa, devido às ninfas não se alimentarem, sua forma é achatada e translúcida.
Identificação da injúria
A mosca-branca ataca desde a germinação da planta até a colheita. No início do ataque, observam-se pequenas pontuações brancas (exúvia de ninfa de quarto ínstar) e amarelas (ninfas de terceiro e quarto ínstar) na face inferior das folhas. Também, podem-se observar manchas cloróticas na face adaxial (superior) da folha. À medida que a colonização avança, surgem folhas com aspecto brilhante devido à mela, plantas com nanismo e definhadas, além da ocorrência de queda de folhas, botões e frutos.
No algodoeiro, além dos danos diretos, a mosca-branca também causa danos indiretos, pois é vetora do vírus do mosaico comum, possivelmente o AbMV (Abutilon Mosaic Virus). O vírus é persistente, ou seja, após a aquisição das partículas virais, estas serão transmitidas por todo o seu ciclo. O vírus não se multiplica no vetor (mosca-branca) nem é transmitido para os seus descendentes, as sementes ou pólen.
Os sintomas do mosaico comum são manchas mosqueadas amarelas (cor gema de ovo), inicialmente pequenas e isoladas as quais se unem e podem tornar-se avermelhadas com a maturação da folha. Além de apresentar engrossamento das nervuras das folhas, internódios curtos, aparência e redução da área foliar.
Durante o processo de alimentação nas folhas do algodoeiro, o inseto injeta toxinas por meio da saliva, que podem produzir distintas alterações na planta, como debilitação, paralisação do crescimento e diminuição da capacidade de produção de estruturas reprodutivas. O ataque desse hemíptero promove o aparecimento de pequenas pontuações brancas e amareladas na face inferior das folhas. Na face superior, manchas cloróticas com aspecto brilhante, decorrentes da deposição de substâncias açucaradas excretadas pelos insetos, provocam a mela que, quando ocorre no período de abertura dos capulhos, resulta na redução da qualidade da fibra.
Controle
As moscas-brancas são comumente atacadas por parasitoides do gênero Encarsia e predadores como os percevejos Orius sppGeocoris sp., os crisopídeos (Chrysoperlaexterna) e as joaninhas. O uso de inseticidas para o controle de outras pragas pode reduzir a população desses agentes de controle e promover o aumento populacional da mosca-branca. Portanto, é imprescindível que se faça uso de produtos seletivos para que haja um favorecimento à sobrevivência e multiplicação de tais predadores e parasitoides.
Como medidas de controle cultural, a destruição dos restos culturais após a colheita e de plantas invasoras hospedeiras auxiliam na supressão de infestações de mosca-branca.
O tratamento de sementes é uma medida de controle necessária para que a planta possa se estabelecer. O levantamento populacional de ninfas é particularmente importante para a tomada de decisão de controle com inseticidas reguladores de crescimento (buprofezin, pyriproxifen), os quais são letais para a forma jovem.
Uma vez que ataques de mosca-branca costumam se iniciar pelas bordaduras da lavoura, o controle químico de bordadura pode ser necessário quando há culturas adjacentes com alta infestação do inseto na fase de senescência das culturas.
O uso de desfolhantes após 60% dos capulhos estarem abertos é prática recomendável, pois ao eliminar o alimento (as folhas) haverá uma supressão da população da praga e também, haverá a preservação da qualidade da fibra ao evitar a contaminação desta, pela mela e fumagina.

Foto: Carlos Alberto Domingues da Silva
Figura 4. Ninfas de mosca branca (Bemisia tabaci Bemisia tabaci biótipo B) em folha de algodoeiro.

Curuquerê (Alabama argillacea Lep.: Noctuidae)

Descrição e ciclo de vida
A mariposa é de hábito noturno e mede cerca de 30 mm de envergadura, é de cor marrom-palha e apresenta duas manchas circulares escuras na parte central das asas anteriores. Uma fêmea pode colocar até 500 ovos. Estes são muito pequenos, de coloração azul-esverdeada, formato circular e achatados; e colocados isoladamente na face superior da folha do algodoeiro.
A lagarta pode medir até 40 mm de comprimento; com coloração variando do verde-amarelado ao verde-escuro, apresenta a cabeça amarelada com pontuações pretas e listras longitudinais ao longo do corpo. Quando o nível populacional aumenta, as lagartas se tornam enegrecidas. Locomove-se como “mede-palmo” e salta quando tocada. A fase larval dura de 14 a 21 dias.
Ao final da fase larval, a lagarta enrola a folha onde se encontra e tece uma espécie de casulo, passando todo o período pupal no seu interior. A pupa tem formato reniforme e cor castanho escura.
Identificação da injúria
O curuquerê pode ocorrer já na emergência da planta até o primeiro capulho. É consideradacomo a principal praga desfolhadora da cultura, podendo causar redução da capacidade fotossintética das plantas de algodão. As lagartas provocam desfolhamento descendente na planta, a partir das folhas do ponteiro. Os últimos três estádios larvais são responsáveis pela maior parte da desfolha e, dependendo da época de ataque, podem causar maturação precoce das maçãs e paralisação da frutificação, resultando em redução da produção.
Quando o ataque ocorre por ocasião da abertura das maçãs, há uma maturação forçada, diminuindo a resistência das fibras. Infestações no final do ciclo contaminam as fibras com fezes ou mesmo com a hemolinfa de lagartas esmagadas pela colheitadeira.
Controle
O curuquerê pode ser controlado com o uso de cultivares que expressam a toxina Bt. Pode-se, também,liberar o parasitoide de ovos Trichogramma sp. semanalmente a partir do aparecimento da mariposa no campo, na quantidade de 100.000 ovos distribuídos em 15 pontos por hectare.
Para utilizar-se inseticidas fisiológicos (reguladores de crescimento, inibidores da síntese de quitina) e biológicos (à base de Bacillus thuringiensis), os quais são mais eficientes sobre a forma jovem, é necessário que haja predominância de lagartas pequenas (até o terceiroínstar) de curuquerê.

Falsa-medideira (Crhysodeixis includens Lep.: Noctuidae)

Provavelmente, a população da espécie Chrysodeixis includens (nova nomenclatura para Pseudoplusia includens), vulgarmente conhecida como falsa medideira (Figura 5), tenha aumentado nas últimas safras em decorrência da necessidade de aplicações frequentes de fungicidas para controle da ferrugem asiática da soja. Tais medidas de controle a transformaram em um dos grandes problemas fitossanitários das culturas da soja e do algodão. Seu aumento populacional foi favorecido pela eliminação de um de seus mais eficientes agentes de controle biológico, o fungo Nomuraea rileyi, pelos fungicidas que visam controlar o fungo da ferrugem Phakopsora pachyrhiz. Outro fator importante é o nicho ecológico ocupado pela praga, que se instala na parte inferior das plantas, o que dificulta o atingimento do alvo pelos inseticidas empregados na tentativa de controlar sua população.
Descrição e ciclo de vida
Os adultos têm aproximadamente 28 mm de envergadura, suas asas anteriores são de coloração cinza escura e possuem um desenho prateado no centro em forma de oito. Os machos possuem um tufo de pelos de cor marrom brilhante, na extremidade do abdômen. A oviposição é feita sob as folhas, sendo os ovos brancos, achatados, circulares e estriados e tornam-se verde-cinza próximo à eclosão.
As lagartas são verde claras com linhas brancas longitudinais. As pernas torácicas são escuras e são chamadas de falsa-medideira pois possuem dois pares de pseudopernas. As lagartas de último ínstar tecem seus casulos com fios brancos presos às folhas para neles empupar. A pupa inicialmente é verde, passando a marrom antes de o adulto emergir.
O período de incubação do ovo é de três dias, já o período larval é de 15 a 18 dias, e o pupal de seis a sete dias.
Identificação da injúria
As lagartas podem ser encontradas, principalmente, nos terços médio e inferior das plantas. O local preferido para alimentação são as folhas desenvolvidas, estas apresentam orifícios em seu limbo.

Foto: José Ednilson Miranda
Figura 5. Pseudoplusia spp.
Controle
Essa praga é de difícil controle devido ao seu hábito de se alojar abaixo da metade inferior das plantas. O ataque da C. includens inicia quando as linhas da cultura estão se fechando. Neste momento, deve-se efetuar a aplicação de inseticidas reguladores de crescimento.

Complexo Spodoptera (Spodoptera eridaniaS. frugiperdaS. cosmioides, Lep.: Noctuidae)

A importância econômica de espécies do gênero Spodoptera tem crescido bastante na agricultura brasileira, onde ataques severos têm comprometido a produção de alimentos e fibras. A ação desse grupo de insetos-praga, constituído especialmente por três espécies, S. cosmioides, S. frugiperda e S. eridania tem ocorrido, principalmente, nas culturas da soja, milho, feijão e algodão. Entretanto, ocorrem também em tomate, repolho, cenoura, beterraba, batata, abacate, citrus e girassol.
Por sua polifagia e danos promovidos nas culturas agrícolas, estes insetos têm sido motivo de preocupação por parte dos produtores e técnicos envolvidos com tais culturas. Frequentes confusões também têm ocorrido quanto à identificação de cada uma destas espécies, o que implica em manejos por vezes inadequados. Assim, por exemplo, o uso de armadilhas com feromônios para monitoramento de S. frugiperda não detecta a presença de S. eridania ou S. cosmioides. Da mesma forma, há diferenças quanto ao comportamento, hábitos de alimentação e nicho ecológico ocupados pelas espécies que interferem diretamente no manejo a ser utilizado. Uma mesma espécie quando se alimenta de diferentes hospedeiros ou em diferentes condições climáticas pode ter seu comportamento e sua biologia alterados.
É importante, assim, que o produtor conheça mais detalhadamente cada espécie e seus hábitos e, com base neste conhecimento, possa tomar decisões de controle quando necessário.
Spodoptera eridania
Descrição e ciclo de vida
As mariposas medem entre 33 mm e 38 mm e têm asas cinza e marrons, com marcas irregulares marrom escuras e pretas. Embora com grande variação morfológica, alguns indivíduos apresentam uma mancha em forma de grão próximo ao centro das asas, enquanto outros têm uma banda negra estendida do centro para a margem das asas. As asas posteriores são de coloração branca opaca. É possível que ocorram quatro gerações por ano. Aproximadamente, 30 a 40 dias são requeridos para completar o ciclo ovo-adulto.
Os ovos têm formato esférico, medem 0,45 mm de diâmetro e têm coloração verde inicialmente, escurecendo com a proximidade da eclosão. São postos em camadas e cobertos com escamas do corpo da mariposa. O estágio embrionário dura de quatro a seis dias.
As lagartas passam por seis ínstares e chegam a medir 35 mm de comprimento. São verdes ou verde enegrecidas com cabeça castanha ou castanha avermelhada. Apresentam uma linha fina longitudinal e faixas laterais mais largas. Em cada lado, normalmente nota-se uma faixa amarelada ou esbranquiçada, que é interrompida por um colar preto no primeiro segmento abdominal, embora em alguns casos este colar seja pouco aparente. Uma série de triângulos negros está usualmente presente na porção lateral do dorso ao longo do comprimento do corpo. São encontradas na porção inferior das folhas e são mais ativas à noite. A duração do estágio larval varia entre 14 e 20 dias.
As lagartas empupam no solo enterradas a 5-10 cm da superfície. As pupas são de coloração marrom e medem 16-18 mm de comprimento. O período pupal varia entre 11 e 13 dias.
Spodoptera frugiperda
Descrição e ciclo de vida
A mariposa de S. frugiperda apresenta asas anteriores com coloração pardo-escura ou branco acinzentada, com pontos claros na região central de cada asa. Medem, aproximadamente, 35 mm de comprimento (Figura 6). A longevidade do adulto varia entre 7 e 12 dias. S. frugiperda apresenta período de pré-oviposição que varia entre 3 e 5 dias, e período de oviposição entre 6 e 7 dias, dependendo da planta hospedeira.
Os ovos possuem coloração verde clara passando a alaranjada com o desenvolvimento do embrião. São colocados em massa de 100 a 300 em camadas sobrepostas, na parte superior das folhas. A fase de ovo tem duração de 3 a 5 dias a 25°C.
As lagartas, inicialmente, são claras, se alteram para cor esverdeada e até preta (Figura 7). Iniciam sua alimentação pela casca dos próprios ovos e depois raspam as folhas mais novas da planta. No final da fase, a larva chega a atingir 50 mm de comprimento. Quando desenvolvidas, costuma-se encontrar apenas lagartas isoladas nas estruturas das plantas atacadas, devido ao canibalismo. O período larval varia de 12 a 30 dias dependendo do hospedeiro.
Quando completamente desenvolvida, a lagarta penetra no solo, onde se transforma em pupa com aproximadamente 15 mm de comprimento. Esta possui coloração avermelhada ou amarronzada. Esta fase dura em média 10 a 12 dias. O ciclo ovo-adulto desta espécie se estende por 33 a 48 dias, de acordo com o hospedeiro, temperatura e outros fatores interferentes.

Foto: José Ednilson Miranda
Figura 6. Mariposa de Spodoptera frugiperda.

Foto: José Ednilson Miranda
Figura 7. Spodoptera frugiperda na flor do algodoeiro.
Spodoptera cosmioides
Descrição e ciclo de vida
Os adultos de S. cosmioides apresentam as asas anteriores cinza-clara, mosqueadas longitudinalmente e margeadas por uma franja, enquanto que as asas posteriores são de cor branco-pérola com franja. Os ovos são colocados em forma de massa sob as folhas e cobertos por escamas.
As lagartas dessa espécie apresentam seis ou sete ínstares. Ao eclodirem, as lagartas de S. cosmioides são de coloração marrom e a cabeça é preta. Inicialmente apresentam tom pardo acinzentado, com três listras longitudinais alaranjadas, uma dorsal e duas laterais, com pontos brancos. Acima dos pontos brancos, ocorrem triângulos pretos voltados para o dorso. As lagartas totalmente desenvolvidas são pardas e apresentam uma faixa mais escura entre o tórax e o abdômen (Figura 8).
A fase pupal varia de 11 a 15 dias e o ciclo total (ovo-adulto) varia de 39 e 50 dias, de acordo com o hospedeiro. Quando criada em diferentes alimentos, S. cosmioides apresenta longevidade de adultos de 10 a 15 dias.
Identificação da injurias
As lagartas são desfolhadoras e se alimentam de modo gregário no início, para depois se tornarem solitárias, atacando também os frutos da soja, algodão e tomate.
As lagartas das três espécies, quando recém-nascidas, permanecem agrupadas, raspando o parênquima das folhas, levando a necrose e desfolha. À medida que crescem, se distribuem pelas plantas.
No algodoeiro, S. cosmioides S. eridania ocorrem a partir da fase inicial da emissão dos botões florais e durante o pleno florescimento. As lagartas de S. eridania se alimentam, principalmente, de folhas e brácteas, raspam a casca das maçãs e podem danificar botões florais. As lagartas de S. cosmioides são desfolhadoras, mas também perfuram botões florais e maçãs macias ao se alimentarem. As lagartas de S. frugiperda podem atacar plântulas de algodão, sendo confundidas com lagarta rosca, causando o mesmo efeito. As lagartas perfuram e destroem botões florais, flores e maçãs desenvolvidas.

Foto: José Ednilson Miranda
Figura 8. Spodoptera cosmoides.
Controle
A detecção de migrações de mariposas para o interior das culturas pode ser feita para S. frugiperda através do uso de armadilhas com feromônios específicos. Por esta técnica, utiliza-se uma armadilha para cada cinohectares, dispondo-se as mesmas em posição um pouco acima da altura das plantas. Avaliações semanais são efetuadas e a captura de cinco ou mais mariposas por noite por armadilha indica a necessidade de controle químico. A cada 15 dias, devem-se substituir os feromônios.
O controle de populações de lagartas pequenas (até o terceiro ínstar) é importante para a tomada de decisão de controle com inseticidas fisiológicos (reguladores de crescimento, inibidores da síntese de quitina) e biológicos (à base de Bacillus thuringiensis), os quais são mais eficientes sobre a forma jovem. Existem, por outro lado, evidências de que as ureias substituídas (lufenuron, teflubenzuron, diflubenzuron) apresentam ação transovariana, ou seja, a contaminação das fêmeas adultas inviabilizaria os ovos.
A resistência de plantas a Spodoptera via transgenia poderá, em breve, ser utilizada pelos produtores brasileiros, uma vez que um evento já foi liberado e está em fase de registro e produção de sementes. Este evento também apresentará resistência a outras lagartas, como curuquerê e lagarta rosada. Estas cultivares transgênicas contêm um ou mais genes de Bacillus thuringiensis que codificam para endotoxinas, as quais são tóxicas a essas lagartas. Quando o custo de controle químico destas pragas excederem o custo da nova tecnologia, essa estratégica deve ser considerada.
Importantes medidas de controle cultural se referem à semeadura concentrada e à destruição da soqueira. A semeadura concentrada de todas as áreas circunvizinhas de algodão em até 30 dias tende a inibir a migração de mariposas. A destruição de soqueira é prática indispensável para a supressão da população da praga no período de entressafra.
Controle biológico
Diversas vespas parasitoides estão associadas com lagartas desta espécie, entre eles Cotesia sp., Campoletis fravicincta e Euplectrus sp. O principal parasitoide, no entanto, costuma ser Trichogramma sp.
A liberação de Trichogramma sp. para o parasitismo de ovos de lagartas tem sido uma alternativa importante em áreas de algodoeiro. Para tanto, libera-se os parasitoides semanalmente no momento do aparecimento do inseto no campo na quantidade de 100.000 ovos distribuídos em 15 pontos por hectare.
Muitos predadores também atacam as lagartas, como percevejos pentatomídeos, tesourinhas e besouros Calosoma sp., fungos entomopatógenos como Beauveria bassiana Metarrizhium anisoplae e bactérias Bacillus thuringiensis infectam as lagartas quando as condições ambientais e de manejo de pragas são favoráveis a estes agentes de controle biológico.

Bicudo (Anthonomus grandis Col.: Curculionidae)

Descrição e ciclo de vida
Os adultos são besouros com coloração cinza ou castanha, com 3-7 mm de comprimento, apresentando rostro em forma de tromba e esta corresponde à metade do comprimento do corpo (Figura 9). Podem ser encontrados dentro de flores abertas ou protegidos pelas brácteas. Esses insetos têm elevado potencial reprodutivo e alta mobilidade, podendo ter quatro a seis gerações em um ciclo da cultura.
A ovogênese (produção de ovos) só inicia após a fêmea se alimentar de plantas que estejam frutificando. Os ovos são branco-amarelados e a fêmea coloca apenas um ovo na base do botão, mas vários por maçã. Em média, uma fêmea pode pôr 150 ovos. Os orifícios de alimentação são identificados por perfurações escuras (oxidação dos tecidos em decorrência da injúria durante alimentação). Já os orifícios de oviposição são protuberantes em relação à superfície do botão e contêm uma substância gelatinosa excretada pela fêmea.
Esses curculionídeos são, na sua fase jovem, larvas desprovidas de pernas, de formato curvo, coloração branco-leitoso a creme, com, aproximadamente, 5-7 mm de comprimento (Figura 10). Seu ciclo de vida de ovo a adulto é de, aproximadamente, 19 dias. Após a oviposição, a larva leva de três a cinco dias para eclodir, o período larval e o pupal duram de sete e quatorze dias.
O bicudo pode ser encontrado no interior de botões, flores e maçãs atacadas, onde passam toda a fase larval e pupal. Pode ocorrer desde o estádio de duas folhas verdadeiras (fase V2) até o final do ciclo.
Identificação da injúria
O ataque do bicudo se inicia a partir das bordaduras da cultura. As injúrias são observadas nos botões florais, cujas brácteas ficam abertas e amareladas. O orifício de alimentação tem aspecto enegrecido, devido à oxidação dos tecidos. Já o orifício de oviposição é protuberante em relação à superfície do botão floral e contém substância gelatinosa excretada pela fêmea. Os botões atacados caem em seguida. As flores atacadas não se abrem normalmente e apresentam as pétalas perfuradas. No interior dos capulhos, as larvas do bicudo destroem as fibras e as sementes.

Foto: José Ednilson Miranda
Figura 9. Adulto do bicudo (Anthonomus grandis) em botão floral de algodoeiro.

Foto: Wagner Alexandre Lucena
Figura 10. Larvas do bicudo (Anthonomus grandis) em botão floral de algodoeiro.
Controle
O monitoramento deve ser intensificado a partir do estádio de duas folhas verdadeiras (fase V2). Como o bicudo tem por característica iniciar a infestação pela bordadura dos cultivos de algodoeiro, logo após a constatação de sua presença, devem ser realizadas pulverizações na bordadura.
A adição de um inseticida ao desfolhante contribui para a redução da população de bicudos. O desfolhamento reduz o suprimento alimentar do bicudo (principalmente no ponteiro) e antecipa a colheita. Os insetos que permanecerem nas plantas desfolhadas entram em contato com o inseticida aplicado e morrem. Se for observada população acima do nível de controle ao final do ciclo, recomenda-se a pulverização de inseticida durante a prática da destruição dos restos culturais. Essa medida visa suprimir ao máximo a população remanescente de entressafra.
Uma destruição eficiente e a dessecação das plantas com mistura de inseticida ao produto dessecante complementam a ação química de redução da população que iria para os refúgios na entressafra, reduzindo sobremaneira as próximas gerações de início de safra seguinte. É importante também eliminar plantas voluntárias que surgem na entressafra, como aquelas que germinam a partir de sementes caídas à beira de rodovias.
Para o controle comportamental do bicudo, utiliza-se a técnica “Atrai e Mata” através do emprego do tubo-mata-bicudo. Esse dispositivo é confeccionado em papelão de cor verde limão revestido com um atraente alimentar e apresenta um sistema de liberação lenta de inseticida. Na parte superior do tubo, existe um dispersor do feromônio. Os tubos são instalados nas bordas das áreas com algodão, nas fases pré-plantio e pós-colheita, proporcionando elevada mortalidade aos adultos de bicudo. Essa técnica tem a vantagem de possuir ação localizada sobre o bicudo, excluindo os inimigos naturais.
Quando o cultivo do algodoeiro é feito em sistema irrigado por pivô central, a utilização de produtos formulados à base do fungo Beauveria bassiana costuma apresentar resultados satisfatórios, servindo como um controle complementar. Neste caso, o fungo deve ser pulverizado sobre as plantas, de preferência, no final da tarde, a fim de que o período de inoculação sobre os hospedeiros se dê sob condições de temperatura amena e com umidade do ar acima de 60%, fatores imprescindíveis para que a infecção ocorra.

Lagarta das maçãs (Heliothis virescens, Lep.: Noctuidae)

Descrição e ciclo de vida
A forma adulta é uma mariposa com asas anteriores esverdeadas e listras oblíquas avermelhadas (Figura 11). As fêmeas põem em média 600 ovos; que são de coloração amarelada, e colocados em folhas novas do ápice da planta e brácteas na parte do ponteiro. Os ovos apresentam em média 21 estrias, variando de 18 a 25.
A lagarta apresenta coloração variável de verde a verde-escuro e chega a atingir até 25 mm de comprimento no ápice de seu desenvolvimento, apresenta cerdas na região dorsal e faixas longitudinais escuras e claras (Figura 12). Seu ataque pode ocorrer no surgimento dos botões florais (fase B1) até a formação do primeiro capulho.
As lagartas recém-eclodidas alimentam-se de tecidos novos, folhas ou botões florais; quando maiores, passam a se alimentar de botões ou maçãs, destruindo uma ou várias lojas e atingindo a semente. A lagarta da maçã passa por seis ínstares ao longo de 25 a 28 dias e se transforma em pupa no solo, de onde emerge o adulto.
As lagartas possuem cerdas (pelos) na região dorsal que saem da base de protuberâncias escuras. Apresentam ao longo do corpo faixas escuras alternadas com faixas claras. Bem como apresentam microcerdas sobre as protuberâncias do primeiro, segundo e oitavo segmentos abdominais.

Foto: José Ednilson Miranda
Figura 11.  Mariposa de Heliothis virescens.
Identificação da injúria
As lagartas fazem galerias nos botões florais e maçãs muitas vezes causando sua queda. É possível observar, ainda, as fibras e sementes destruídas.

Foto: José Ednilson Miranda
Figura 12. Lagarta Heliothis virescens.
Controle
Importantes medidas de controle cultural são a semeadura concentrada e a destruição dos restos culturais. A semeadura concentrada de todas as áreas circunvizinhas de algodão em até 30 dias tende a inibir a migração de mariposas. A destruição dos restos culturais é prática indispensável para a supressão da população da praga no período de entressafra.
Inúmeras espécies de inimigos naturais atacam populações da lagarta da maçã, entre elas, percevejos Orius sp., Tropiconabis sp.e Geocoris sp., crisopídeos e vários parasitoides de ovos e lagartas. A preservação de inimigos naturais é uma estratégia fundamental de manejo. Quando houver 60% de ovos escuros (parasitados por Trichogramma) não há necessidade de entrar com produtos químicos.
Atualmente, existem no mercado cultivares expressando toxinas Bt capazes de controlar a lagarta da maçã.O uso contínuo e indiscriminado de inseticidas químicos pode resultar no surgimento de populações resistentes aos princípios ativos aplicados Neste sentido, quando há necessidade do controle químico, o uso de inseticidas biológicos ou fisiológicos é preferível, desde que a infestação esteja na fase inicial com predominância de lagartas de primeiro ao terceiro ínstar.

Lagarta rosada (Pectinophora gossypiella, Lep.: Gelechiidae)

Descrição e ciclo de vida
A mariposa é um microlepidóptero com 20 mm de comprimento, de coloração pardacenta e possui asa anterior com manchas escuras e asa posterior cinza-escuro (Figura 13). Os ovos são branco-esverdeados e colocados entre as fendas das brácteas, flores e maçãs.
A lagarta pode ter de 10 mm a 14 mm de comprimento, coloração branco-leitosa quando pequena e rosada quando maior (Figura 14). Vivem no interior dos botões, flores e maçãs e a fase pupal ocorre no solo.

Foto: José Ednilson Miranda
Figura 13. Mariposa da lagarta rosada (Pectinophora gossypiella).
Identificação da injúria
Essa lagarta pode ser vista na lavoura por ocasião da primeira maçã firme e pode atacar até o surgimento do primeiro capulho. As injúrias são caracterizadas pela imbricação das flores formando uma “roseta” (não se abrem e não são fecundadas). As flores não abrem (formam rosetas), há a murcha e queda de botões florais, as maçãs são destruídas total ou parcialmente, as fibras e sementes ficam danificadas. Os capulhos amadurecem precocemente, com a fibra apresentando aspecto de ferrugem.

Foto: José Ednilson Miranda
Figura 14. Pectinophora gossypiella em maçã de algodoeiro.
Controle
A destruição dos restos culturais e de hospedeiros é importante na supressão de infestações. Outras medidas como uniformização da época de semeadura e rotação de culturas são imprescindíveis para manter a espécie em densidade populacional reduzida.
A técnica de confundimento de machos também pode ser usada para o controle populacional da lagarta rosada. Dispositivos contendo o feromônio sexual da espécie estão disponíveis comercialmente e configuram-se em tubetes liberadores que são distribuídos uniformemente na área da cultura. A saturação causa desorientação dos machos, comprometendo o acasalamento e, por conseguinte, a fecundação dos ovos. A distribuição dos dispositivos deve ser feita no momento da emissão dos botões florais, permanecendo na lavoura até o final da safra.
Dentre as espécies que exercem ação de controle biológico sobre a lagarta rosada, estão os percevejos predadores Podisus nigrispinusGeocoris spp., Nabis spp., Orius spp. e Zellus spp., o crisopídeo bicho-lixeiro Chrysoperla spp., as joaninhas Cycloneda sanguinea e Scymnus spp., os besouros Calosoma sp. e Lebia concinna e as tesourinhas Dorus sp. Há, ainda, os parasitoides Trichogramma spp. e Cerastomicra intmaculata,os fungos Beauveria bassianaNomuraea rileyi e o vírus da poliedrose nuclear.
Todos esses agentes ocorrem naturalmente na cultura e podem ser encontrados. Todavia, devido à suscetibilidade de cada um destes organismos aos inseticidas aplicados para o controle de pragas, suas populações tendem a se manter em baixos níveis, insuficientes para o controle das populações das lagartas. O uso racional de produtos químicos com base nos níveis de controle e doses adequadas favorecem a manutenção dos agentes biológicos de controle.
Produtos entomopatogênicos à base de bactérias Bacillus thuringiensis também costumam apresentar boa eficiência, desde que observadas as premissas acima discutidas. Além disso, seu sucesso está diretamente influenciado pela amostragem precoce. A detecção de infestações de lagarta rosada por meio de armadilhas determina o momento propício de liberação inundativa dos microrganismos entomopatogênicos.

Complexo Helicoverpa (Helicoverpa zea e H. armigera, Lep.: Noctuidae)

O gênero Helicoverpa está inserido na subfamília Heliothinae e contém espécies-pragas de várias culturas. No Brasil, a principal representante é Helicoverpa zea, praga-chave de milho e outras gramíneas. A partir de 2012, verificou-se no Cerrado ataques intensos de lagartas desse gênero nas culturas de algodão, feijão comum, feijão caupi, milheto, milho, soja e sorgo. Em março de 2013, foi constatada a presença de H. armigera atacando as culturas do algodão, milho e soja, causando significativos prejuízos. A espécie H.armigera não existia no Brasil e assim como H. zea é uma espécie voraz, polífaga, com elevada fecundidade e mobilidade, o que lhe permite sobreviver em ambientes instáveis e adaptar-se às mudanças sazonais do clima.
Helicoverpa zea
Descrição e ciclo de vida
As mariposas de H. zea medem cerca de 40 mm de envergadura, suas asas anteriores são de coloração amarelo-parda, possuem uma faixa transversal mais escura e manchas escuras dispersas sobre as asas. As asas posteriores são mais claras, com uma faixa nas bordas externas.
As fêmeas põem, em média, 1.000 ovos, de coloração amarelada, e colocados de forma isolada nos ponteiros, folhas novas, brácteas ou botões florais. Os ovos apresentam, em média, 25 estrias, podendo variar entre 21 e 31. As lagartas eclodem em três a quatro dias, dependendo da temperatura. A fase larval apresenta seis ínstares e pode variar de 14 a 16 dias. Sua coloração depende da exposição à luz, temperatura e alimento; logo, essa característica não é indicada para identificar a espécie. Uma característica que auxilia na diferenciação de H. zea de H. virescens é que a primeira não apresenta micro cerdas sobre as protuberâncias do primeiro, segundo e oitavo segmentos abdominais, ao contrário de H. virescens. A fase pupal ocorre no solo e dura de sete a 14 dias.
Identificação da injúria
As plantas apresentam botões florais e maçãs com galerias.
Helicoverpa armigera
Descrição e ciclo de vida
As mariposas de H. armigeratêm hábitos noturnos e as fêmeas podem ovipositar de 1.000 a 1.500 ovos, sempre de forma isolada e de preferência em superfícies pubescentes. A oviposição é feita na face inferior da folha, mas também pode ser efetuada em flores.
A lagarta passa por cinco ou seis ínstares em um período de duas a três semanas. No quarto ínstar, é possível ver protuberâncias escuras em forma de “sela” no primeira segmento abdominal. No último ínstar, a lagarta mede de 30 mm a 40 mm, sua cor pode ser verde, amarelo claro, marrom avermelhada ou preta; tem, ainda, linhas finas brancas laterais. Também, pode-se observar que sua cápsula cefálica é de cor parda clara com pelos longos e brancos atrás da cabeça. Se molestada, tem por hábito encurvar a cápsula cefálica até o primeiro par de falsas pernas permanecendo nessa posição por algum tempo. A fase de pupa ocorre no solo e, dependendo das condições climáticas, pode entrar em diapausa (Karim 2000).
O adulto apresenta, sobre as margens das asas anteriores, uma linha com sete a oito manchas e, logo acima, uma faixa marrom ampla, irregular e transversal, tendo, ainda, na parte central, uma marca em forma de vírgula. As asas posteriores são mais claras, apresentando, na extremidade apical, uma borda marrom escura, com uma mancha clara no centro. Os machos de H. armigera possuem o primeiro par de asas de cor cinza esverdeada e as fêmeas pardo alaranjado.
Em temperatura de 25 oC, o período de incubação do ovo é de três a quatro dias e o período larval é de 14 a 21 dias. Cerca de quatro a cinco gerações podem ocorrer por safra. No último ínstar, a lagarta se move para o solo para empupar, mas, geralmente, não vai muito longe da base da planta onde completou seu desenvolvimento.
Identificação da injúria
As plantas apresentam botões florais e maçãs com galerias.
Controle
Efetuar o controle dessa praga é difícil por apresentar polifagia e alta mobilidade, que permite seu desenvolvimento e dispersão nas várias culturas instaladas no Cerrado (milho, sorgo, algodão, soja, feijão etc.); localização em partes basais ou estruturas frutíferas das plantas, que dificultam o seu atingimento por produtos inseticidas; e possibilidade de desenvolvimento de resistência a inseticidas.
Os níveis de ação para as medidas curativas estão nas Tabelas 1 e 2.
Tabela 1. Níveis de ação para controle de Helicoverpa armigera utilizando os inseticidas químicos.
Cultura
Nível de Ação
Algodão convencional
2 lagartas/metro < 8 mm ou 1 lagarta/metro > 8 mmou 5 ovos marrons/metro
Algodão Bt
2 lagartas >3mm/metro ou 1 lagarta >8mm/metro
Tabela 2. Níveis de ação para controle de Helicoverpa armigera utilizando os inseticidas biológicos.
Agente de controle
Nível de Ação
Trichogramma pretiosum
Liberar 100.000 vespinhas/ha quando forem observados três adultos de Helicoverpa spp. por armadilha.
Baculovirus
Bacillus thuringiensis
Observar os níveis de ação sugeridos na Tabela 1 considerando lagartas < 8 mm.
Com relação ao controle químico, dada a urgência advinda da detecção de Helicoverpa armigera em altas infestações na cultura do algodoeiro a partir da safra 2012/2013, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento declarou estado de emergência fitossanitária e aprovou registro temporário de produtos inseticidas para o controle da praga.
O MAPA publicou, entre 2013 e 2015, mais de 20 atos normativos permitindo o registro especial temporário (RET) e o correspondente uso emergencial de inseticidas com eficiência agronômica para o controle da praga (Tabela 3), buscando minimizar os danos às culturas onde a praga ocorre (SISLEGIS, 2014).
Inseticidas de diversos grupos químicos e variados modos de ação foram incluídos na lista de produtos autorizados emergencialmente para o controle de H. armigera. Tal uso está autorizado enquanto persistir o estado de emergência fitossanitária. A partir do momento em que for revogado este ato, o uso de produtos para o controle da praga passará a depender de autorização através de registro do produto pelas vias convencionais, motivo pelo qual as várias empresas interessadas estão efetuando os trâmites exigidos pela legislação para a aprovação de uso.
Tabela 3. Produtos autorizados emergencialmente com registro especial temporário para o uso no controle de Helicoverpa armigera na cultura do algodoeiro.
Ingrediente Ativo
Produto
Formulação
Dose (PC)
  Bacillus thuringiensis (biológico)  
  Able  
  SC - Suspensão Concentrada  
500-700
  Clorantraniliprole (antranilamida) + lambda-cialotrina (piretroide)  
  Ampligo  
  SC - Suspensão Concentrada  
300
  Bacillus thuringiensis (biológico)  
  Bac-Control EC  
  EC - Concentrado Emulsionável  
500-750
  Bacillus thuringiensis (biológico)  
  Bac-Control WP  
  WP - Pó Molhável  
500-750
  (Z)- 11- Hexadecenal (aldeído)  
  Bio Helicoverpa  
  GE - Gerador de gás  
1
  Clorantraniliprole (antranilamida)  
  Coragen  
  SC - Suspensão Concentrada  
150
  Bacillus thuringiensis (biológico)  
  Dipel WG  
  WG - Granulado Dispersível  
500-750
  Bacillus thuringiensis (biológico)  
  Dipel WP  
  WP - Pó Molhável  
500
  VPN-HzSNPV (não pertinente)  
  Hz-NPV CCAB  
  SC - Suspensão Concentrada  
130
  Helicoverpa zea nucleopolyhedrovirus - HzSNPV (biológico)  
  Hz-NPV Bio CCAB  
  SC - Suspensão Concentrada  
200
  Metoxifenozida (diacilhidrazina)  
  Intrepid 240 SC  
  SL - Concentrado Solúvel  
400-625
  Espinosade (espinosinas)  
  Tracer  
  SC - Suspensão Concentrada  
70-125

Percevejo castanho da raiz (Scaptocoris castanea, Hem.: Cydnidae)

Descrição e ciclo de vida
Os adultos e as ninfas ficam protegidos em uma câmara ovalada no interior do solo. No período de seca, os adultos se aprofundam no solo em busca de umidade. As maiores densidades de adultos e ninfas estão entre 20 cm e 40 cm de profundidade. Ambas as formas têm hábito subterrâneo e sugam a seiva das raízes da planta. Essas espécies são polífagas, podendo atacar várias culturas, como soja, milho, sorgo e pastagens, e são facilmente identificadas no momento da abertura dos sulcos de plantio, pelo cheiro desagradável que exalam. As formas jovens são de coloração branca. As ninfas passam por cinco ínstares, sendo a duração do período ninfal de 150 dias. O adulto mede de 5 mm a 8 mm e é de coloração marrom-claro (Figura 15). O acasalamento ocorre no interior do solo, e a dispersão dos adultos se dá nas épocas chuvosas, ocasião em que os mesmos retornam à superfície. Os prejuízos são maiores no período de estabelecimento da cultura e início do crescimento das plantas, quando coincide com chuvas intensas e constantes, e consequentemente ocorre a redução no estande.

Foto: José Ednilson Miranda
Figura 15. Adultos de Scaptocoris castanea.
Identificação da injúria
A sucção contínua da seiva por ninfas e adultos leva as plantas ao definhamento, seca e morte. Quando o ataque é intenso, há a necessidade de replantio. As plantas que sobrevivem ao ataque ficam com o desenvolvimento comprometido, notando-se diferença no porte e na capacidade de produção de estruturas reprodutivas entre plantas atacadas e não atacadas (Figura 16). Áreas infestadas apresentam plantas amareladas, raquíticas, murchas e mortas. Esses sintomas podem ser confundidos com deficiência nutricional, mas são facilmente diferenciados quando as plantas são arrancadas do solo, pois exalam um odor típico de "maria-fedida", oriundo das glândulas odoríferas dos percevejos.

Foto: José Ednilson Miranda
Figura 16. Danos em reboleira promovidos por S. castanea.
Controle
Em esquemas de rotação ou sucessão, a seleção de culturas que não sejam hospedeiras comuns às pragas e doenças é uma das estratégias fundamentais para o manejo integrado de pragas (FERREIRA et al., 2012). Nas áreas do Cerrado em que o algodoeiro tem sido cultivado, um grande complexo de pragas incide e causa injúrias às plantas, exigindo atenção constante e eventuais intervenções para se evitar danos econômicos.
Entre as pragas de solo, percevejos castanhos (Scaptocoris castanea) têm se destacado por causar danos significativos em plantações no Cerrado, especialmente no cultivo de soja, milho e algodão. Ao se alimentar das raízes das plantas, causa acentuado atraso no desenvolvimento, prejudicando a produção. Os estudos efetuados por pesquisadores de diversas instituições brasileiras mostram que o controle químico por si só é insuficiente, uma vez que não trata a causa do problema. O controle químico não apresenta eficiência acima de 50% e a presença do milho no esquema de rotação é fator que favorece a proliferação de percevejos castanhos. Quando o dano é constatado na lavoura, já não há muito o que fazer, pois a planta atacada dificilmente se recupera e a produção fica comprometida.
Se o controle químico do percevejo castanho nem sempre se tem mostrado efetivo, o inseto se expõe muito pouco ao inseticida, seu hábito de polifagia e de migração a cada ano contribuem para dificultar o controle da população da praga, medidas preventivas devem ser adotadas.
O percevejo castanho vem sendo associado também a plantas invasoras, relacionadas em ordem decrescente de preferência: caruru, apaga-fogo, trapoeraba, picão-preto, dentre outras (SILOTO e RAGA, 1998). Da mesma forma, algumas plantas cultivadas como milheto e milho parecem ser preferenciais aos indivíduos destas espécies de pragas de solo. Por outro lado, plantas de cobertura da família das leguminosas, como a crotalária, se mostram supressivas da população do inseto.
Assim, estratégias para melhorar as condições nutricionais da área cultivada e incluir plantas de cobertura com efeito supressivo no esquema de rotação são apontadas como saídas para diminuir a população do inseto e assegurar a rentabilidade do cultivo.
A utilização de entomopatógenos como fungos e nematoides vem se mostrando uma opção para diminuir a população da praga em áreas problemáticas. Nematoides entomopatogênicos dos gêneros Steinernema e Heterorhabidits já são comercializados para o controle de pragas de solo. Outros organismos entomopatogênicos que vêm apresentando efeito letal sobre percevejos castanhos são os fungos Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana. Em trabalho realizado por Ávila e Xavier (2007), esses fungos mostraram controle sobre ninfas e adultos, com mortalidade superior a 50%.
O controle químico com aplicação de inseticidas no sulco de plantio pode ser uma medida curativa a ser considerada. Inseticidas como clorpirifós, imidacloprid, fipronil e tiametoxam proporcionam redução do número de percevejo castanho maior que quando são aplicados na forma convencional.
Outras medidas que podem ser propostas para o sucesso no manejo de percevejo castanho da raiz incluem:
  1. Avaliar o histórico da praga na localidade. Áreas problemáticas deverão ser monitoradas.
  2. Abrir trincheiras nas áreas da propriedade logo após as primeiras chuvas antes do plantio. Detectar os focos e mapear a propriedade, definindo as áreas de atenção.
  3. Em áreas de manejo convencional do solo, efetuar bom preparo de solo (uma aração e três gradagens) para o plantio. Em áreas de plantio direto, seja na implantação ou na reforma (áreas de mais de sete anos), efetuar subsolagem após a colheita.
  4. Corrigir a acidez do solo conforme análise e usar gesso como fonte de enxofre, pois este favorece o desenvolvimento radicular e a exploração de maior volume de solo, conferindo maior capacidade de tolerância da planta ao ataque do inseto. Em solos arenosos, a quantidade de gesso deve ser entre 500 a 1000 kg/ha e em solos argilosos pode ser aplicado até 2.000 kg/ha.
  5. Antecipar o plantio nas áreas infestadas (para permitir o escape do sistema radicular ainda pouco desenvolvido das plantas ao ataque da praga).
  6.  Além do tratamento de sementes, aplicar inseticidas no sulco de semeadura ou em aplicação sobre o solo logo após a germinação.
  7. Ao efetuar as adubações de cobertura, optar pelo sulfato de amônia (doses de até 250 kg/ha) nos focos da praga. Assim como o gesso, o sulfato de amônia vai acelerar o desenvolvimento da planta e sua capacidade de suportar o ataque da praga.
  8. Controlar as plantas daninhas, eliminando plantas hospedeiras como corda-de-viola, joá, leiteiro, guanxuma e milheto-tiguera.
  9. Manter a área em pousio na entressafra ou com cobertura de leguminosa. Em áreas infestadas, evitar o plantio de gramíneas como milheto, braquiária e milho.
Para mais informações sobre o manejo cultural para a convivência com o percevejo castanho, consulte a Circular Técnica 138 (Sistemas de cultivos e plantas de cobertura como medidas de supressão de percevejo-castanho no algodoeiro). O Comunicado Técnico 371 (Plantas que Minimizam Problemas do Sistema de Produção do Algodoeiro no Cerrado) também poderá trazer informações úteis.
Níveis de controle das principais pragas do algodoeiro
Para as principais pragas que ocorrem na cultura do algodoeiro, os níveis de controle constam da Tabela 4, e os inseticidas registrados para seu controle constam da Tabela 5.
Tabela 4. Níveis de controle sugeridos para o manejo de pragas do algodoeiro.
Pragas
Nível de controle
Tripes
70% de plantas atacadas
Pulgão
Cultivares suscetíveis à virose: 5% a 15% de plantas com colônias.
Cultivares resistentes à virose: 60% a 70% de plantas com colônias
Curuquerê
53% ou 32% de plantas com lagartas < ou > 15mm, respectivamente
Bicudo
5% das plantas com botões florais danificados ou presença do adulto
Lagarta das maçãs
13% de plantas atacadas
Spodoptera spp.
10% de plantas atacadas
Lagarta rosada
11% das plantas atacadas
Ácaros
Detecção (reboleira) ou 30% de plantas com colônia
Percevejos
20% de plantas com botões atacados
Mosca branca
40% de plantas com ninfas ou 60% de plantas com adultos
Fonte: Miranda (2010).
Tabela 5. Inseticidas e acaricidas com registro definitivo no controle de pragas do algodoeiro.
Ingrediente ativo
Grupo Químico
Praga-alvo
Modo de ação no inseto1
Abamectin
Avermectina
Curuquerê, ácaro branco e ácaro rajado
1
Alfacypermetrhrin
Piretroide
Curuquerê, lagarta da maçã, bicudo e lagarta rosada
2
Bacillus thuringiensis
Biológico
Curuquerê, lagarta da maçã e lagarta rosada
3
Betacyfluthrin
Piretroide
Bicudo, pulgão, curuquerê, lagarta da maçã e lagarta rosada
2
Buprofezin
Tiadiazinona
Mosca-branca
4
Carbofuran
Carbamato
Broca da raiz, pulgão e tripes
5
Chlorfenapyr
Análogo de pirazol
Lagarta da maçã, ácaro branco, ácaro rajado e lagarta militar.
6
Chlorpyrifos
Organofosforado
Broca da raiz, pulgão, lagarta da maçã, lagarta rosada e ácaro branco
5
Cypermethrin + Profenophos
Piretroide + Organofosforado
Curuquerê, lagarta da maçã, bicudo, lagarta rosada, ácaro branco e ácaro rajado
2 e 5
Deltamethrin
Piretroide
Curuquerê, lagarta da maçã, bicudo, lagarta rosada, percevejo rajado, percevejo manchador e pulgão
2
Deltamethrin + Triazophos
Piretroide + Organofosforado
Bicudo, mosca branca e lagarta da maçã
2 e 5
Diafentiurom
Feniltioureia
Pulgão, curuquerê, ácaro branco, ácaro rajado
7
Esfenvalerate + Fenitrothion
Piretroide + Organofosforado
Bicudo
2 e 5
Etofenprox
Éter piretroide
Bicudo e lagarta da maçã
2
Fipronil
Pirazol
Bicudo, curuquerê e tripes
8
Imidacloprid
Neonicotinoide
Mosca branca, pulgão e tripes
9
Lambda-cialothrin
Piretroide
Bicudo, percevejo rajado, curuquerê, lagarta da maçã e lagarta rosada
2
Lufenuron
Benzoilureia
Curuquerê e lagarta da maçã
4
MetamidophosOrganofosforado
Pulgão, curuquerê, lagarta da maçã, tripes, ácaro vermelho, ácaro rajado
5
MethomilCarbamato
Bicudo, pulgão, curuquerê, lagarta da maçã e tripes
5
Methyl Parathion
Organofosforado
Broca da raiz, percevejo rajado, percevejo manchador, pulgão, curuquerê, lagarta da maçã, lagarta rosada, tripes, ácaro vermelho e ácaro rajado
5
Novaluron
Benzoilureia
Curuquerê
4
PermethrinPiretroide
Curuquerê, pulgão, lagarta da maçã e lagarta rosada
2
Profenophos
Organofosforado
Pulgão, curuquerê, lagarta da maçã, ácaro branco e ácaro rajado
5
TebufenozideBenzoilureiaCuruquerê4
ThiaclopridNeonicotinoide
Pulgão, mosca branca e tripes
9
ThiametoxanNeonicotinoide
Broca da raiz, pulgão, tripes, curuquerê e bicudo
9
ThriclorfonOrganofosforado
Curuquerê e lagarta da maçã
5
TriflumuronBenzoilureiaCuruquerê
VamidothionPiretroidePulgão, tripes e ácaro vermelho2
Zetacypermethrin
Piretroide
Bicudo, pulgão, curuquerê, lagarta da maçã e lagarta rosada
2
1- Ativador dos canais de sódio.
2- Modulador dos canais de sódio.
3- Disruptor microbiano da membrana do mesêntero.
4- Inibidor da formação de quitina.
5- Inibidor da acetilcolinesterase.
6- Desacoplador da fosforilação oxidativa via disrupção do gradiente de próton H.
7- Inibidor de ATP sintetase mitocondrial.
8- Antagonista de canais de cloro mediados pelo GABA.
9- Agonista de receptores nicotínicos da acetilcolina.

Para melhor identificação das pragas do algodoeiro, consulte a publicação Documentos 255 (Guia de identificação de pragas do algodoeiro).
Outras medidas que auxiliam o controle das pragas do algodoeiro
Época de semeadura
Recomenda-se efetuar a semeadura das culturas do milho, soja e algodão no menor espaço de tempo possível, procurando obter uma janela de semeadura menor. Esse curto período de semeadura é importante para reduzir o período de disponibilidade de alimento às pragas polífagas e assim maximizar a eficiência da prática de destruição dos restos de cultura quando esta se tratar do algodoeiro.
Uso de plantas geneticamente modificadas expressando toxinas Bt
A escolha das variedades Bt deve se basear nas opções disponíveis no mercado que possuam eficiência de controle contra as pragas-chave e também na indicação das empresas para o sistema relacionado. As cultivares transgênicas de algodão comercializadas atualmente expressam as toxinas Cry2Ab, Cry1Ab, Cry2Ae, Cry1Ac e Cry1F. Recomenda-se dessa forma, evitar eventos que expressem as mesmas toxinas nas diferentes culturas simultaneamente e sucessivamente, utilizando, preferencialmente, a rotação dessas toxinas. Dessa forma, se promoverá o estabelecimento de um mosaico de toxinas na paisagem agrícola, reduzindo o potencial de adaptação das pragas (resistência).
Para usar cultivares com a toxina Bt, é necessária a adoção de “áreas de refúgio”, utilizando a isolinha da cultivar selecionada ou outra cultivar. A área de refúgio tem por objetivo promover a sincronia de emergência de adultos favorecendo o cruzamento entre as populações de pragas expostas e não expostas à toxina Bt. A distância máxima entre o refúgio e a área cultivada com plantas Bt é de 800 metros. Outro aspecto importante é utilizar o MIP na área de refúgio priorizando a utilização de inimigos naturais como parasitoides de ovos e agentes microbianos à base de vírus.
Vazio sanitário
A implantação de medidas legislativas que assegurem a existência de um período de ausência de hospedeiros (“vazio sanitário”) é prática recomendável como outra ferramenta bastante eficaz para contribuir na minimização dos problemas decorrentes de altas populações de insetos-praga. A normatização dos vazios sanitários deverá respeitar as condições edafoclimáticas regionais para a definição de calendários de plantio e colheita.
Para mais informações de como fazer um vazio sanitário eficiente no manejo das pragas e doenças do algodoeiro, consulte o Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 96 (Destruição dos Restos Culturais do Algodoeiro) e do Dia de Campo na TV (Técnicas de destruição dos restos culturais do algodoeiro).
Uso do Manejo integrado de pragas (MIP)
O elevado uso de agrotóxicos sintéticos no Brasil e em outros países, com o passar do tempo, vem causando sérios problemas ambientais e de saúde aos consumidores, tais como: contaminação do solo, da água e dos alimentos; intoxicação de agricultores; redução da biodiversidade; e desequilíbrio biológico.
Estes problemas, juntamente com as demandas globais pela necessidade de manutenção da inocuidade alimentar e da sustentabilidade ambiental, levou ao desenvolvimento do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Este sistema é entendido como “a forma que racionaliza o controle dos insetos-praga das culturas através da utilização de processos naturais e do uso racional de defensivos agrícolas para o controle de pragas” (SIMONATO et al., 2014).
A aplicação do MIP é realizada através da utilização de um ou mais dos seguintes métodos de controle de pragas (WWF-Brasil): uso de sementes que repelem ou se tornam menos preferidas pelas infestações; práticas agrícolas, como a rotação de culturas ou o plantio de culturas-armadilhas; barreiras físicas que dificultam a entrada de insetos na plantação, por exemplo, coberturas plásticas; biocontrole, ou seja, utilização de inimigos naturais na regulação populacional da praga; e controle químico quando as técnicas anteriores forem ineficazes para contornar a infestação na lavoura.
Como se pode observar, o manejo integrado é um sistema complexo; entre outros aspectos, envolve a possibilidade de utilização de diferentes métodos, os quais por sua vez apresentam formas ou tipos alternativos de controle. Um exemplo nesse sentido é o controle biológico de pragas, o qual como uma das ferramentas do MIP é divido em três tipos (SIMONATO et al., 2014): (i) controle biológico natural - promove a preservação das populações de inimigos naturais existentes naturalmente no ecossistema da propriedade através de práticas culturais que permitam o seu desenvolvimento no agrossistema; (ii) controle biológico clássico – consiste na importação e liberação de agentes de controle biológico da praga-alvo de uma região para outra; e (iii) controle biológico aplicado – compreende a criação massal em laboratório de inimigos naturais de uma praga e a sua liberação em grande número em uma área.
Um segundo aspecto da complexidade do MIP consiste na necessidade de se conhecer diferentes pragas, monitorar periodicamente as lavouras à sua procura, quantificar o nível de incidência dos insetos, avaliar o dano causado e definir o método de controle a ser seguido (CARVALHO e BARCELLOS, 2012). Parcela significativa dos produtores não domina ou não dedica a atenção merecida a essas atividades. Além disso, por vezes, estes produtores têm dificuldade de obter as orientações necessárias junto à assistência técnica devido, em parte, ao baixo contingente de profissionais qualificados para prover esse serviço.
Ademais das complexidades do MIP, os produtores interessados em utilizar essa tecnologia enfrentam outros desafios importantes; por exemplo, poucas empresas que produzam e comercializem inimigos naturais. Embora altamente recomendável, o emprego de insumos biológicos esbarra na sua disponibilidade, que influencia diretamente no seu custo. Assim, a dúvida que muitos produtores têm de trocar a segurança de um calendário de aplicação de produtos químicos por um método de controle biológico que envolve maior risco, exige mais atenção e trabalho e nem sempre é atrativo financeiramente.
Um desafio adicional observado na utilização do MIP é que não obstante diversos produtos biológicos sejam amplamente comercializados e usados na agricultura brasileira um número reduzido está registrado no Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (MAPA). O uso de produtos não registrados torna-se um risco, contra o qual a fiscalização não tem grande capacidade de repressão.
Alie-se o fato de que pequenas empresas produtoras de insumos biológicos nem sempre mantêm programa eficaz de controle de qualidade de seus produtos, o que pode propiciar o surgimento de produtos de baixa qualidade no mercado e provocar perda de credibilidade no uso do controle biológico por parte dos produtores.






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