quarta-feira, 8 de abril de 2020

Comercialização e Mercado da Mamona



Exportação / importação

No comércio internacional ocorrem as movimentações de baga e de óleo de mamona, verificando-se que a venda de baga, que apresentava quedas significativas até 2010, voltou a crescer já no primeiro semestre de 2011. Nesse contexto, a mamona, produzida principalmente por agricultores familiares localizados no Nordeste e  no Semiárido brasileiro, voltou a apresentar aumentos gerais de produção. Para visualizar como se dá essa movimentação nos últimos dez anos em relação ao óleo, a Figura 1 e as Tabelas 1 e 2,  apresentam dados de exportação e importação disponíveis na Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO-ONU).

Figura 1. Evolução do comércio exterior de mamona (grão e óleo).

Tabela 1. Exportação de óleo de mamona no mundo 2000 - 2009, em toneladas métricas.
Países
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Índia
238.949
199.789
143.643
136.509
239.218
233.324
271.596
257.515
331.665
368.433
Brasil
16.743
10.244
5.815
1.980
824
11.782
4.343
746
237
874
Holanda
7.656
8.803
12.524
17.005
21.492
30.732
29.924
28.642
42.242
28.964
Alemanha
6.182
6.365
6.827
6.987
5.512
3.600
6.313
5.170
6.121
7.156
EUA
3.320
2.819
2.836
3.128
3.065
2.522
1.100
3.846
6.783
6.739
França
2.351
3.190
3.297
3.401
4.992
6.052
7.569
15.305
22.352
21.043
Tailândia
2.060
1.358
1.552
1.775
1.720
1.418
1.496
1.558
1.585
1.279
UE (27 países)
1.789
1.322
1.266
1.445
1.571
1.210
1.095
1.331
1.475
1.652
Equador
693
1.337
1.071
464


292
314
284
287
Suécia
618
584
752
751
752
289





Fonte: FAO ( 2012).

Tabela 2. Importação de óleo de mamona no mundo 2000 - 2009, em toneladas métricas.
Países
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
UE (27 países)
135.256
142.752
117.434
104.034
127.106
152.633
124.483
129.192
172.001
86.446
França
76.701
82.095
54.327
41.764
48.707
72.411
48.279
55.994
95.89
22.631
EUA
40.739
45.395
32.339
26.702
40.669
41.794
45.908
44.299
49.832
32.145
Alemanha
33.786
30.014
34.661
35.393
38.476
33.833
39.897
41.944
44.629
43.088
China
32.267
9.933
8.115
14.8
43.6
65.549
86.441
82.078
86.507
131.235
Japão
19.765
20.086
19.283
22.805
21.051
24.987
16.58
18.993
19.282
15.706
Tailândia
15.122
13.562
15.322
14.583
14.192
15.037
11.433
10.462
16.7
12.475
Holanda
12.503
21.203
21.007
18.535
29
53.292
35.632
37.849
40.921
30.15
Itália
9.367
8.863
10.563
9.303
10.556
10.301
11.969
12.774
13.492
11.769
Reino Unido
5.407
1.871
2.899
6.014
8.774
9.723
8.96
8.597
6.864
6.617
Fonte: FAO (2012).

Fica evidenciada a utilização do óleo de mamona em maior quantidade por países de economia altamente industrializada, dado seu emprego em indústrias de ponta tecnológica, com o mesmo se deslocando geograficamente a partir da linha tropical em que se situam os principais produtores: Índia, Brasil e China. Pode-se observar, também, o papel que os Países Baixos (Holanda) exercem na distribuição dessa mercadoria pelo mundo, já que, mesmo não sendo produtor primário de mamona, tem desempenho histórico como um importante centro de logística mercadológica mundial (MME, 2011). Visualize-se também os decréscimos abruptos dos montantes de óleo de mamona exportados (e importados) a partir de 2004, certamente como reprodução dos efeitos da política pública brasileira ligada ao emprego desse óleo para a fabricação de biodiesel, o que interferiu no planejamento normal dos agentes e atores ligados à cadeia produtiva. Dados preliminares dão conta de que, no primeiro semestre de 2011, mais de 11 mil metros cúbicos de óleo de rícino foram exportados, confirmando-se o retorno de aumento sustentado da exportação brasileira.

O Brasil é o segundo maior exportador mundial, e quando o óleo se destina à exportação, deve-se observar as especificações do mercado importador (EMBRAPA, 2001). No caso do mercado norte-americano, as exigências são as seguintes:
Óleo de Mamona Industrial nº 1: deve ter, no máximo, 1% de acidez livre; 0,25% de impurezas e umidade; 6,25 a 7,55 de viscosidade a 25ºC; 0,97 de densidade a 15,5ºC; 1,475 a 1,482 de índice de refração a 25ºC e coloração amarelo-claro;
Óleo de Mamona Industrial nº 3: deve ter, no máximo, 2,5% de acidez livre; 0,5% de impurezas e umidade; 6,25 a 7,55 de viscosidade a 25ºC; 0,95 a 0,97 de densidade a 15,5ºC; 1,475 a 1,482 de índice de refração a 25ºC e cor amarelo-35 e vermelho-3 a 4, na escala Lovibond.

Mercado

Os maiores produtores de baga e óleo de mamona no panorama internacional são a Índia, a China, o Brasil e Moçambique, que ditam os preços do produto no mercado internacional. O mercado mundial é de aproximadamente 800.000 t (oitocentas mil toneladas). Considerando a capacidade de produzir e exportar produtos da mamoneira, a liderança isolada é da Índia, que é quem concorre com o Brasil; diferentemente da China, pois a economia chinesa consome toda sua produção internamente, ou seja, ela não participa desse mercado internacional. Trata-se de um mercado ditado por uma série de fatores, os quais fizeram o preço se elevar desde 2004, principalmente pela redução da safra americana de soja e o crescente aumento da importação de oleaginosas pela China.

Segundo a CONAB (2012), os  preços  reais  mensais  verificados  no  mês  de  setembro,  na  Bolsa  de  Rotterdam (Tabela 3), em  comparação  ao  mês  anterior  permaneceram  inalterados.  Isso  pode  ser fundamentado:  a)  na  incerteza   do  mercado que espera o desenrolar das turbulências financeiras que ocorrem no mercado mundial e; b) realinhamento de preços que estiveram em picos elevados.

No Brasil existe um mercado oligopsônico para o óleo de mamona, onde um pequeno excesso de oferta pode causar uma grande queda nos preços. O Brasil conta com capacidade instalada de cerca de 160 mil toneladas/ano nas principais empresas esmagadoras de baga de mamona, considerando-se, para fins de cálculo, 200 dias úteis de processamento industrial.
Tabela 3. Evolução dos preços reais de óleo de mamona em Rotterdam (US$/Tonelada).
Ano
jan
fev
mar
abr
mai
jun
2006
930,45
910,00
915,22
909,17
895,23
890,71
2007
1115,00
1124,72
1167,27
1207,89
1300,00
1278,57
2008
1423,86
1480,00
1600,00
1620,00
1627,50
1653,50
2009
1512,50
1433,33
1380,15
1248,50
1250,00
1250,00
2010
1563,75
1575,00
1575,00
1575,00
1575,00
1631,80
2011
1951,92
1951,92
1951,92
1951,92
2650,00
2512,00

Ano
jul
ago
set
out
nov
dez
2006
897,48
944,35
966,84
1042,27
1119,09
1120,75
2007
1275,00
1281,96
1265,00
1284,57
1323,26
1335,00
2008
1660,00
1786,00
1855,50
1677,00
1585,00
1575,00
2009
1250,00
1250,00
1317,00
1391,50
1385,00
1393,85
2010
1825,00
1825,00
1928,13
2100,00
1925,00
2150,00
2011
2436,25
2650,00
2650,00
-
-
-
Fonte: CONAB, (2012).

A questão da disponibilidade de matéria-prima estará equacionada pelo aumento sustentado da produção interna de bagas de mamona, o que atende às necessidades das principais empresas esmagadoras existentes na Bahia, São Paulo e Minas Gerais.

Para que toda a problemática da cadeia produtiva da mamona seja resolvida em prazo mais longo, torna-se essencial que sejam estabelecidos relacionamentos entre os produtores da matéria-prima e os empresários da indústria de esmagamento, de modo que sejam respeitadas as necessidades de continuação de existência de cada um deles. Na história das Políticas Públicas dirigidas para a cultura da mamoneira, os agricultores familiares,  em especial os do Semiárido, foram desafiados por diversas vezes pelos governos a plantar sob promessa das produções serem compradas por preços melhores que os historicamente praticados no mercado; ao não se cumprir o que estava estipulado nessas políticas, terminou por frustrar e gerar descrença em relação ao potencial econômico da oleaginosa. Atualmente, o Programa de Biodiesel da Petrobrás (PBio), tem a missão de reanimar o mercado, colocando dinheiro para compras de safras, criando mercado cativo onde haja tradicionalmente plantios de mamona, oferecendo acompanhamento técnico adequado, distribuição de sementes com potencial de produtividade e colheita e armazenagem garantidas, dando segurança aos agricultores, tudo sob contrato de 5 anos; e com a Petrobrás dando a contrapartida financeira. O objetivo é estruturar a cadeia produtiva da mamona a partir da agricultura familiar brasileira. A Petrobrás procura trabalhar com a parceria dos governos estaduais (EMATER, etc.) e com as cooperativas de produção dos agricultores familiares. No entanto, a estrutura organizacional dos agricultores familiares ainda é muito frágil, não existindo organizações que possam facilitar a implementação dos projetos de forma representativa (FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS, 2009).





terça-feira, 31 de março de 2020

Curiosidades sobre a Mamona


Introdução
A mamoneira, mais conhecida como “carrapateira”, “rícino”, ou “ planta christi” é uma planta muito exótica de origem afro-asiática, nativa e muito resistente ela é encontrada em grande quantidade na Etiópia, na região do Sennaar e Kordofan e na Índia.
Provavelmente os egípcios atribuíam valores curativos a mamona, considerando-a uma planta medicinal. Em várias pirâmides foram encontradas, em grandes quantidades sementes dessa planta, principalmente nos sarcófagos que guardavam as múmias dos faraós.
A diversificação de um grande número de variedades desta planta, encontradas tanto no continente africano, como no asiático, impossibilita qualquer tentativa de estabelecer uma procedência efetiva da mamona.
No Brasil a mamona foi trazida pelos portugueses com a finalidade de utilizar seu óleo para iluminação e lubrificação dos eixos das carroças. O clima tropical e, predominante no Brasil, facilitou o seu alastramento
Assim, hoje podemos encontrar a mamoneira em quase toda extensão territorial, como se fosse uma planta nativa e em cultivos destinados à produção de óleo.
A facilidade de propagação e de adaptação em diferentes condições climáticas propiciou a mamona ser encontrada ou cultivada nas mais variadas regiões do mundo, como no norte dos Estados Unidos da América e Escócia..
A mamoneira (Ricinus communis L.) é uma oleaginosa de destacada importância no Brasil e no mundo. Seu óleo é uma matéria prima de aplicações únicas na indústria química devido a características peculiares de sua molécula que lhe fazem o único óleo vegetal naturalmente hidroxilado, além de uma composição com predominância de um único ácido graxo, ricinoléico, o qual lhe confere as propriedades químicas atípicas.
Além da vasta aplicação na indústria química, a mamoneira é importante devido à sua tolerância à seca, tornando-se uma cultura viável para a região semi-árida do Brasil, onde há poucas alternativas agrícolas. No entanto, esta cultura não é exclusiva da região semiárida, sendo também plantada com excelentes resultados em diversas regiões do país
A mamoneira (Ricinus communis L.) é uma planta pertencente à família das Euforbiáceas, a mesma da mandioca, da seringueira e do pinhão manso. É originária provavelmente da África ou da Índia, sendo atualmente cultivada em diversos países do mundo, sendo a Índia,
a China e o Brasil, nesta ordem, os maiores produtores mundiais.
O principal produto da mamoneira é seu óleo, o qual possui propriedades químicas peculiares que lhe fazem único na natureza: trata-se do ácido graxo ricinoleico que tem larga predominância na composição do óleo (cerca de 90%) e possui uma hidroxila (OH) o que lhe confere propriedades como alta viscosidade, estabilidade física e química e solubilidade em álcool a baixa temperatura.
O óleo de mamona tem centenas de aplicações dentro da indústria química, sendo uma matéria prima versátil com a qual se podem fazer diversas reações dando origem a produtos variados. Suas principais aplicações são para fabricação de graxas e lubrificantes, tintas, vernizes, espumas e materiais plásticos para diversos fins. Derivados de óleo de mamona podem ser encontrados até em cosméticos e produtos alimentares.
A mamona foi escolhida como uma das oleaginosas fornecedoras de matéria prima para fabricação de biodiesel no Brasil. Essa escolha foi feita porque ela é uma oleaginosa bem adaptada e para a qual se dispunha de tecnologia para cultivo na região semi-árida, possibilitando a inclusão social de milhares de pequenos produtores que estavam sem opções agrícolas rentáveis. Embora este aspecto social tenha proporcionado a escolha da mamona, essa cultura também pode ser plantada em várias regiões do país, desde o Sul
até o Norte, desde que se obedeçam suas exigências climáticas e receba manejo adequado
A mamoneira é uma planta heliófila, ou seja, deve ser plantada exposta diretamente ao sol e não tolera sombreamento. Tem grande tolerância ao estresse hídrico, mas é exigente em fertilidade do solo. Embora tolere a seca, com boa disponibilidade de água sua produtividade é muito maior. Também pode ser plantada sob irrigação.
A mamoneira é uma planta de alto valor econômico e fornece resíduos vegetais e frutos. Os resíduos vegetais devolvem ao solo 20 toneladas por hectare de matéria orgânica verde ou 5 toneladas de matéria orgânica seca. Já os frutos da mamoneira são constituídos de sementes e cascas, que também fornecem matéria orgânica. 
Depois de industrializados, as sementes resultam na torta e no óleo de mamona. Se extraídas as toxinas, a torta ainda pode gerar o farelo que é utilizado na ração de bovinos e aves. Isolados protéicos (fonte de proteína industrial) e aminoácidos (empregados como suplemento de rações) também são gerados pela torta.
È o melhor óleo vegetal para fins industriais, pois, não muda as suas características, em altas e baixas temperaturas e também em variações bruscas de temperatura, razão do seu imprescindível emprego na aviação. 
O óleo de mamona possui uma gama muito extensa de aplicações: é utilizado como matéria prima para fabricação de batom, é utilizado como lubrificante de motores, incluindo turbinas de avião a jato, motores de foguetes e etc. Tem larga aplicação de tintas, vernizes, sabões, detergentes, inseticidas, fungicidas, bactericidas, papel carbono, velas, crayon, produtos sintéticos, plásticos, produtos farmacêuticos, nylons, desinfetantes, revestimentos protetores, adesivos, borrachas isolantes, colas especiais, tubos especiais para irrigação, graxas especiais para navios e aviões, chapas e engrenagens, aditivos para combustíveis, cosméticos, lentes de contacto, fluidos especiais para transmitir pressões hidráulicas.





sábado, 21 de março de 2020

Cultura da Mamona


A mamona é uma planta que possui um teor de óleo muito elevado (48-60%) nas sementes. As características de adaptabilidade da planta em diferentes ecossistemas e a possiblidade de seu cultivo em áreas marginais a tornam importante alternativa tanto para cultivo em safra quanto em safrinha. No Brasil é cultivada principalmente na região Nordeste.  A Embrapa pesquisa a cultura da mamona desde 1987, e foram desenvolvidas quatro cultivares e vários sistemas de produção. O óleo de mamona é uma matéria prima importante para a indústria química, visto ser a  única fonte comercial de ácido ricinoleico, que compreende cerca de 90% do teor do óleo. Além das principais utilizações do ácido ricinoleico, há também uma recente exploração deste óleo vegetal como biocombustível e de novos produtos derivados do óleo de rícino. Novos produtos derivados do óleo de mamona surgem todos os dias, aumentando a demanda no mercado global, e tornando essa maior que a oferta.
Importância econômica
O óleo extraído das sementes de mamona é um dos mais nobres existentes no mercado mundial, e o Brasil é um dos seus maiores produtores. Desde a antiguidade, esse óleo foi utilizado como vermífugo; já serviu há 1.900 anos para iluminação de ambientes, como combustível, segundo o historiador Plínio (Historiorum Mundi); ou, ainda, foi usado como lubrificante nas engrenagens e mancais dos inúmeros engenhos de cana-de-açúcar da era Colonial brasileira. É o único óleo existente no mercado mundial que suporta variadas condições de pressão e altas temperaturas sem perder a viscosidade, já que sua estrutura química é diferenciada dos demais óleos pela presença de 90% de >ácido ricinoleico.

Na atualidade a mamoneira tem outros e ampliados usos, sendo cultivada em mais de 20 países tropicais e temperados, no caso os mais quentes, com destinação quase exclusiva para fins industriais.

O óleo das sementes é um produto de alto valor para fins industriais, já que ele queima sem deixar resíduos e suporta altas temperaturas sem perder a viscosidade. Por isso que as indústrias químicas e de lubrificantes e o mercado em geral o tem como excelente lubrificante para motores de alta rotação, sendo empregado pela indústria aeronáutica e nos freios de automóveis. Segundo Coelho (1979), citado por Embrapa (2001), “o óleo de mamona é mais usado, em termos quantitativos, na fabricação de tintas, vernizes, cosméticos e sabões. É também importante na produção de plásticos e de fibras sintéticas. Deve-se mencionar que as fibras em cujas composições entra o óleo de mamona são antitóxicas e antialérgicas”. É também usado na fabricação de  plásticos, máscaras contra gases, pergaminhos, perfumes, sabonetes finos e pomadas, com a vantagem de ser um produto renovável e barato, se o comparativo for com o petróleo, dada a quantidade expressiva de usos semelhantes entre as duas substâncias naturais. Diante do portfólio dos subprodutos de uma tradicional indústria esmagadora de bagas de mamona – indústria essa chamada de “ricinoquímica” – impressiona a variação de empregos alternativos do óleo de mamona: são mais de 400 subprodutos derivados desse óleo, incluindo-se entre eles, medicamentos, fungicidas, biodiesel, lentes de contato, lubrificantes e aditivos para tanques de combustível de aeronaves (EMBRAPA, 2001), sendo o melhor óleo para lubrificação de motores a jato, como fluído nas  instalações hidráulicas, como base para a manufatura da maioria dos cosméticos e de muitos tipos de drogas farmacêuticas. É empregado também na biomedicina, em filtros hospitalares, na elaboração de próteses ósseas e implantes, substituindo o silicone, como ocorre em cirurgias ósseas, de mama e de próstata.

Os usos do óleo da mamona são bastante diversos. Uma das aplicações de grande valor econômico do óleo de mamona é na fabricação do náilon e da matéria plástica onde o seu emprego é muito importante. É útil também em vários processos industriais como a fabricação de corantes, anilinas, desinfetantes, germicidas, óleos lubrificantes de baixa temperatura, colas e aderentes em geral. Na fabricação de espumas plásticas, o óleo de mamona confere texturas variáveis desde a macia e esponjosa até a dura e rígida. É empregado, depois de desidratado, na fabricação de tintas e protetores ou isolantes (EMBRAPA, 2001, apud SAVY FILHO, et al., 1999).

Os preços do óleo de rícino praticados na última década no mercado mundial são compensadores, para a produção e comercialização, o que deu novo status à ricinoquímica. Esta indústria tem se modernizado após ser alvo de renovado interesse empresarial de produtores, de exportadores e de industriais.

A importância social do cultivo da mamoneira no Brasil está no envolvimento de grandes contingentes de agricultores familiares, especialmente no Semiárido baiano. Nessa região a mamona é grande empregadora de mão de obra, no período de entressafra das culturas de grãos. O destaque entre as regiões produtoras é Irecê-BA . Acontece que, como se trata de cultura de ciclo anual, a ricinocultura exige grandes investimentos na organização e assessoramento técnico dos produtores, o que tem sido historicamente deficitário no âmbito da agricultura familiar brasileira. Estaria aí uma explicação para a frustração com os incentivos do Governo Federal a partir da safra 2004/2005, quando passou-se a esperar um grande crescimento da área plantada, da produtividade e da produção nos anos seguintes (Figuras 1, 2 e 3). É que a agregação de novas utilidades técnicas ao óleo de mamona, ou seja, com a fabricação do biodiesel poderia ter movimentado vários outros segmentos industriais. Essa situação nova, então, favoreceria o crescimento da ricinocultura também nos Cerrados das regiões Nordeste e Centro-Oeste, em sistemas totalmente mecanizados.

Verificou-se que outras oleaginosas, apesar de também terem safras anuais como a mamoneira – sementes de girassol, linhaça, gergelim, grãos de soja e milho, polpa e  amêndoa de palma (dendê), amêndoas de coco-da-praia, coco babaçu, pequi, buriti, carnaúba e outras palmeiras, maracujá, caroço de algodão, sementes de girassol –, não impediram a manutenção da competitividade do óleo de mamona nos mercados nacional e mundial, apesar daquelas outras terem maior competitividade diante da necessidade de ganhos em escala.

Nos últimos dez anos mantiveram-se praticamente inalterados parâmetros como área plantada, produtividade e produção, indicando que ações da indústria ricinoquímica nas compras com preços mínimos acima dos apresentados pela Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), e os avanços tecnológicos permitidos pelo sistema nacional de inovação, viabilizaram regular as atividades dos agentes produtivos e abastecer o mercado interno e manter o nível das históricas exportações de óleo de rícino. Na década passada, a indústria ricinoquímica comprou a produção de bagas de mamona que garantiu as atividades regulares das indústrias, sem maiores sobressaltos diante da movimentação que a cultura da mamona teve através de ações do Governo Federal como o “Selo Combustível Social”, com as reduções tributárias, PIS/PASEP e COFINS, e que eram formas de se buscar a introdução da produção de biodiesel no Semiárido brasileiro.

Contudo, e independente disso, as informações seguintes divulgadas pelo Governo Federal demonstram que a produção de mamona continua estratégica para o Brasil atual, visto que para cumprir a meta de produção de biodiesel será necessário o aumento da produção de oleaginosas e a mamona deverá ter importante papel neste sentido.

As empresas responsáveis pelas atividades industriais da cadeia produtiva da mamona são indústrias esmagadoras e refinadoras que produzem em diversos processos industriais. Há dois tipos de indústrias relacionadas com a cadeia produtiva da mamona: algumas processam a mamona e obtêm o óleo e a torta e outras utilizam o óleo como matéria-prima, sendo que as primeiras são em menor número em relação às segundas. Segundo Silva; Lino (2012), “a quantidade de indústrias processadoras de mamona reduziu nos últimos anos em função do processo de redução da produção brasileira de mamona que levou algumas indústrias à falência”.

Segundo Freire e Severino (2006), o óleo de mamona poder ser classificado comercialmente em três tipos:

Óleo Industrial nº 1: tipo comercial ou standard, límpido, brilhante, com o máximo de 1% de acidez e de 0,5% de impurezas e umidade, de coloração amarelo-clara;
Óleo Industrial nº 3: tipo comercial, com acidez maior que 3% e impureza maior que 1%, com cor variando do amarelo-escuro ao marrom-escuro e verde-escuro, e
Óleo Medicinal nº 1: também denominado extrapale, por ser praticamente incolor; é absolutamente isento de acidez e de impurezas, e brilhante.
No Brasil, em 2004/2005, o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) despertou o interesse de várias indústrias em desenvolver projetos para processamento de mamona e de outras oleaginosas. As forças de mercado têm convergido para um aproveitamento estratégico da soja, como a oleaginosa que mais ocupa área atualmente no Brasil. Mas as indústrias de processamento estão acompanhando o desempenho do mercado e das políticas voltadas ao biodiesel, com vistas a melhor avaliar seus investimentos. Nesse sentido, as regiões limítrofes entre o Semiárido brasileiro e o Cerrado continuam sendo estratégicas, já que poderá se utilizar de diversas oleaginosas (soja, algodão, girassol) para a produção de biodiesel. O desempenho das lavouras de mamona precisariam passar por alterações significativas até atingir o desempenho que se esperou no lançamento do PNPB.

Diante de estatísticas de agroindustrialização de produto e subprodutos da mamoneira, o papel da agricultura familiar é, naturalmente, o de buscar agregar valor às suas colheitas, transformando-as em óleo, em torta, e nos diversos itens já relatados no presente texto. Mas os produtores da matéria-prima precisariam ter a propriedade das indústrias esmagadoras e refinadoras, certamente de forma coletiva, para que isso pudesse se transformar em realidade. Acontece que não é essa a situação dos plantadores de mamona, especialmente no Semiárido brasileiro. Em Jacobina-BA, por exemplo, uma das principais regiões produtoras do Estado da Bahia - que é o estado maior produtor do Brasil -, não só os agricultores familiares não tem empresa responsável pela comercialização de mamona como não tem como impedir a ação dos intermediários comerciais entre eles mesmos e as indústrias. Aliás, a própria competitividade dessas empresas é questionável, na medida em que se tem decretado falência das mesmas muito frequentemente (SILVA; LINO, 2012).

A vinculação da cultura da mamona com a agricultura familiar no Brasil se dá pela sua resistência a déficits hídricos e à boa adaptação às condições edafoclimáticas do Semiárido brasileiro. Trata-se de uma cultura que pode ter pouca mecanização nos seus tratos, e produz boas safras também se for cultivada de forma consorciada com feijão e milho. Isso é ideal para a agricultura familiar. Mas essa ricinocultura se encontra num quadro de não crescimento, em contraste com muitas outras cadeias produtivas do agribusiness brasileiro. Basta verificar que, nos últimos 35 anos, a área plantada evoluiu negativamente de quase 500 mil hectares para flutuar em torno de uma média de 150 mil hectares. Em termos de produção, isso significou quase atingir a marca de 400 mil toneladas, e refluir para uma média de 100 mil toneladas anuais. Na produtividade, se chegou a 1.141 kg/ha, na safra 1976/1977, mas daquele período de tempo até a safra 2010/2011 a média anual chega a 602kg/ha (CONAB, 2012).

Figura 1
Figura 1. Área plantada de mamona no período de 2001 a 2011, com dados do Brasil e da Bahia, principal estado produtor.

Fonte: CONAB (2012).

Figura 2
Figura 2 Produção de mamona no período de 2001 a 2011, com dados do Brasil e Bahia, principal estado produtor.

Fonte: CONAB (2012).

Figura 3
Figura 3. Produtividade média de mamona no período de 2001 a 2011 do Brasil e principais estados produtores.

Fonte: CONAB (2012).

Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO-ONU), a  produção de óleo de rícino da Índia tem crescido nos últimos 5 anos, e a produção chinesa vem apresentando oscilações, com quedas frequentes, se se tiver em conta que, em 2005, a China chegou a produzir 250 mil toneladas métricas. Já a produção brasileira, embora tenha comportamento similar à chinesa, vem apresentando crescimento: chegou a produzir 146 mil toneladas métricas em 2005. Além de maior área cultivada, a Índia tem conseguido obter produtividades superiores à brasileira, tendo já produzido 1.238kg/ha, em 2004.

Tabela 1. Produção mundial de óleo bruto de mamona e valor da produção em 2010.
Posição
Área
Valor da Produção (Int $1000)*
Produção (toneladas)**
1
Índia
445.240
1.150.000
2
China
69.426
180.000
3
Brasil
35.332
93.025
4
Moçambique
14.481
38.600
5
Paraguai
4.987
13.000
6
Tailândia
4.744
12.197
7
Etiópia
3.211
8.400
8
Angola
2.830
7.500
9
Vietnã
2.294
6.000
10
África do Sul
2.100
5.500
Dados não-oficiais: * / Dados oficiais: [ ] / Im: da FAO, baseados numa metodologia de  atribuição / 1000$ Int: milhares de dólares internacionais. Ver conceito em http://faostat.fao.org/site/379/DesktopDefault.aspx?PageID=379. Acesso em 01/03/2012.
Fonte: FAOSTAT (FAO-ONU), 2012.











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