sábado, 11 de março de 2017

Manejo de Solos para a Cultura do Algodão

Manejo de solos

O manejo do solo se constitui de práticas simples e indispensáveis ao bom desenvolvimento das culturas, e compreende um conjunto de técnicas que, utilizadas racionalmente, proporcionam alta produtividade, mas, se mal utilizadas, podem levar à destruição dos solos em curto prazo. Principalmente porque o algodoeiro é uma das culturas que mais expõem o solo aos agentes erosivos.
A produção de algodão em monocultivo, sob plantio convencional, em geral, não é uma prática sustentável (Figura 1). Atualmente, as pesquisas têm mostrado que melhor sustentabilidade agrícola ocorre quando se usa um sistema de produção, sob plantio direto ou similar, com rotação efetiva de diversas culturas, capazes de gerar abundante palhada, incorporar nitrogênio no solo, reciclar nutrientes, limitar a dispersão de doenças e pragas, manter o solo sempre coberto e gerar alternativas de renda ao produtor, com ou sem integração com pecuária e/ou silvicultura.
De maneira geral, pode-se considerar os seguintes tipos de manejo do solo:
Preparo convencional - provoca inversão da camada arável do solo, mediante o uso de arado ou grade aradora (Figura 2); a esta operação seguem-se outras, secundárias, com grade niveladora ou destorroadora, para triturar os torrões; 100% da superfície é removida por implementos. Este tipo de preparo só deve ser utilizado quando da correção de algumas características na subsuperfície do solo, onde necessite de incorporação de corretivos ou rompimento de camadas compactadas através de subsolador (Figura 3). Esse sistema tem a desvantagem de pulverizar excessivamente o solo, deixando-o susceptível à erosão.
Foto: José da Cunha Medeiros
Figura 1. Erosão laminar severa na cultura do algodão.
Foto: José da Cunha Medeiros
Figura 2. Preparo do solo com grade aradora em sistema convencional.
Foto: José da Cunha Medeiros
Figura 3.  Subsolador com disco cortante para palha.
Preparo mínimo - intermediário, que consiste no uso de implementos sobre os resíduos da cultura anterior, com o revolvimento mínimo necessário para o cultivo seguinte. Geralmente, é utilizado um arado escarificador em profundidade suficiente para romper crostas ou camadas compactadas. Alguns equipamentos de escarificação fazem o destorroamento (Figura 4), enquanto os que não possuem esse mecanismo necessitam do auxílio de uma gradagem leve para o destorroamento do solo.
Plantio direto – neste sistema, as sementes de algodão são semeadas através de plantadeira especial sobre a palhada de culturas do cultivo anterior (Figura 4) ou de culturas de cobertura com palha produzida no local para este fim, incluindo-se o sistema de Integração Lavoura Pecuária (ILP), onde as sementes de algodão são semeadas diretamente sobre uma pastagem previamente dessecada.
Foto: Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira
Figura 4. Algodão em ILP (Semeado sobre pastagem de Brachiaria brizanta dessecada).
Plantio semidireto - semelhante ao Plantio Direto; semeadura direta sobre a superfície, com semeadora especial, diferindo deste sistema apenas por haver poucos resíduos na superfície do solo.
Os manejos referidos nos itens 2, 3 e 4, são conhecidos como conservacionistas, sendo consideradas as melhores práticas de manejo, até o momento, estabelecidas na conservação da água e do solo.
As técnicas de manejo do solo a serem aplicadas em determinada área dependem de vários fatores. Cada área rural tem suas peculiaridades e requer manejo próprio. Para cada caso, definir-se-ão as técnicas, de acordo com: a textura do solo, o grau de infestação de invasoras, os resíduos vegetais que se encontram na superfície, a umidade do solo, a existência de camadas compactadas, pedregosidade e os riscos de erosão, máquinas e implementos disponíveis, preço remunerador para os produtos colhidos das diferentes culturas trabalhadas em rotação e sucessão de culturas, e o mercado abrangente para esses produtos. Para isto, o estudo do perfil do solo torna-se primordial. Contudo, vale a pena lembrar que, sempre que possível, deve-se decidir pelos manejos conservacionistas e, mesmo quando da impossibilidade da aplicação do conjunto de técnicas que os compõem, deve-se eleger os preparos e técnicas que provoquem o menor revolvimento do solo.

Perfil do solo

No Cerrado brasileiro, o uso de máquinas e implementos cada vez mais pesados vem ocasionando a formação de encrostamento superficial e de uma camada adensada na subsuperfície do solo, comumente chamada “camada compactada”, que reduz a taxa de infiltração e aumenta a erosão, incidindo no incremento de perdas de nutrientes do solo, que é a causa mais grave da degradação do meio físico.
O impacto das gotas de chuva diretamente sobre a superfície desnuda desses solos desprende as partículas finas que são arrastadas pela água em sua descida, até a referida camada, onde exercem efeito prejudicial sobre a infiltração de água. Neste processo, é determinante a exposição do solo. A camada compactada se torna desfavorável ao desenvolvimento dos cultivos, pois, além de pouco permeável à água e ao ar, dificulta a penetração das raízes, o que repercute negativamente sobre a produtividade do solo, principalmente quando se trata de uma cultura como o algodão, que exige ambiente edáfico com equilíbrio entre a quantidade de macro e microporos, ou seja, favorável tanto à retenção de umidade quanto à aeração.
A existência de camada compactada é facilmente identificada através do exame do sistema radicular das plantas em pleno desenvolvimento vegetativo, observando-se a morfologia das raízes (Figura 5). Sintomas como desvio lateral da raiz principal, tortuosidade anormal, deformações da forma cilíndrica, acúmulo de raízes secundárias próximo à superfície, são características que indicam a existência de compactação ou toxidez, havendo necessidade de correção.
Foto: José da Cunha Medeiros
Figura 5. Perfil de solos destacando sistema radicular em situação normal.
A descompactação deve ser efetuada com um implemento, geralmente de hastes rígidas, capaz de romper a dita camada de forma que a ponta da haste opere a, pelo menos, 5 cm abaixo do limite inferior da compactação. Para romper adensamentos superficiais, geralmente, arados escarificadores, promovem bom trabalho, enquanto camadas mais profundas e espessas necessitam de subsoladores de alta resistência. Áreas de solos com textura média ou arenosa com mais de quatro anos de pousio dificilmente necessitam de descompactação, pois as raízes das plantas ali existentes já se encarregaram de realizá-la biologicamente.

Manejo Conservacionista

Nos melhores solos do Cerrado, que em geral são profundos, bem estruturados, de textura média, com uma boa drenagem ao longo do perfil, pode-se manter um alto nível de produtividade mediante a aplicação de práticas de conservação de solos. Então, um verdadeiro sistema de agricultura sustentável é aquele em que os efeitos benéficos das diferentes práticas de conservação são iguais ou ultrapassam os efeitos adversos dos processos de degradação. O componente vital deste equilíbrio dinâmico é a matéria orgânica, a qual tem que ser mantida através de adições regulares de materiais orgânicos.
Uma das características do solo que mais sofre influência do manejo é a estrutura que pode ser considerada o componente básico de sua fertilidade física, ao condicionar o desenvolvimento da porosidade intra e inter agregados, como a principal via de circulação da água e do ar no solo. A estrutura que envolve uma série de inter-relações muito sutis, estabelecidas entre os componentes minerais e orgânicos do solo, e que resulta de uma série de processos físicos, químicos e biológicos, pode facilmente se deteriorar pela ação das forças de compressão derivadas do uso incorreto de máquinas e implementos agrícolas. Os restos vegetais deixados na superfície do solo nos sistemas de manejo conservacionistas  repercutem muito no aumento e na conservação da estabilidade de agregados na superfície e na redução da compactação das camadas subsuperficiais.
Todos estes fatores incidem também sobre a capacidade de infiltração de água no solo, que é resultante do balanço entre a quantidade de água que chega e a que sai. Neste balanço, influi a taxa de infiltração, o escorrimento superficial, a ascensão capilar, a drenagem e a evaporação. Do volume de água que cai na superfície, parte se infiltra no solo e atinge o lençol freático, garantindo a perenização dos cursos d`água, enquanto a parte infiltrada é retida pelo solo, constituindo-se em água disponível para as plantas, o que é de grande importância, pois o processo de nutrição de plantas depende da água disponível para a formação da solução do solo e as plantas poderem absorver os nutrientes necessários ao seu pleno desenvolvimento.
Parte da água retida no solo é perdida por evaporação e/ou evapotranspiração e, em função da capacidade de infiltração e retenção de água do solo e da intensidade das chuvas, parte pode exceder e ser perdida por escoamento superficial. Dependendo do volume e da velocidade deste escoamento, pode ocorrer o arraste de partículas de solo e dos insumos nele aplicados, sedimentando-se em baixadas, lagos e rios, o que afeta gradativamente a capacidade produtiva do solo, reduzindo, entre outros fatores, a sua fertilidade, a capacidade de infiltração e a retenção de água. Além disso, eleva a acidez e provoca irregularidade superficial, o que vem dificultar seu uso agrícola, exigindo mais energia e insumos para a manutenção de sua produtividade.
Em todos esses fatores citados, a matéria orgânica tem participação direta ou indireta, estando presente na atividade agrícola desde a sua origem e até a sua utilização, afetando diretamente a fertilidade e a produtividade dos solos cultivados. Em muitos solos, a matéria orgânica humificada do horizonte superficial é o principal fator responsável pela "capacidade de troca de cátions" (CTC), verdadeira dispensa dos nutrientes, que podem ser liberados progressivamente à disposição dos cultivos; logo, pode-se deduzir que é um componente do solo que tem papel fundamental nas perdas de nutrientes por lixiviação.
À parte desta relação direta, há outras, indiretas: o húmus, como visto anteriormente, é um dos principais condicionantes do desenvolvimento da estrutura do solo e de sua estabilidade; a degradação da estrutura incide sobre a distribuição do tamanho dos poros e da erodibilidade e perdas de solo da zona, que costuma ser a mais rica em húmus e nutrientes; por outro lado, os resíduos dos cultivos deixados na superfície pelos sistemas de preparo conservacionistas protegem a ação direta do impacto das gotas de chuva (responsáveis pelo selamento de poros e pela formação de crostas superficiais), incidem sobre o regime de temperatura e umidade do solo e, também, reduzem o escoamento superficial.
Assim, pode-se dizer que a proteção da superfície do solo nos sistemas de manejo evita perdas de umidade por evaporação, o que, unido ao desenvolvimento de uma quantidade maior de macroporos aptos para a transmissão de água e de microporos para sua retenção, proporcionam incremento significativo na capacidade de armazenamento de água e nutrientes e melhor disponibilidade destes para os cultivos.
A utilização de espécies de cobertura e do plantio direto permitem a reciclagem de nutrientes e melhoram as condições físicas do solo devido à rede de raízes subterrâneas (Figura 6), o que reduz o uso de fertilizantes devido à reciclagem de nutrientes (Tabela 1) e potencializa a produtividade da cultura do algodão; o solo se mantém sempre coberto e protegido da erosão, economizando água e suprimindo a competição com ervas daninhas. Como consequência, são obtidas plantas saudáveis e produtivas. Essas são, pois, as condições de cultivo que devem ser alcançadas por um manejo de solo adequado para o cultivo do algodoeiro no Cerrado do Brasil.
O manejo conservacionista do solo deve ser pensado de modo que se alcance sistemas de produção que gerem o máximo de palhada para cobertura permanente do solo, recicle o máximo de nutrientes para a cultura do ciclo seguinte, não multiplique nematoide, nem seja fonte de inóculo de doenças para os demais cultivos usados, tenha facilidade de manejo com a estrutura de equipamento existente na propriedade e faça com que as culturas em rotação/sucessão explorem economicamente todo o período de chuva existente na região. Sugestões de sistemas de produção sustentáveis e efetivos têm sido o foco de diversos trabalhos da Embrapa.
Foto: Maria da Conceição Santana Carvalho
Figura 6. Desenvolvimento das raízes de Brachiaria ruziziensis no SPD, até 60 cm de profundidade, antes da dessecação e semeadura do algodoeiro.




sábado, 21 de janeiro de 2017

Clima para a Cultura do Algodão

O clima influi na produção do algodoeiro nos aspectos quantitativo e qualitativo, e, em condições naturais, as plantas externam seu potencial produtivo quando esses fatores entram em equilíbrio ecológico. Fatores climáticos como chuva, temperatura, umidade relativa, duração do dia, velocidade do vento e intensidade de luz interferem na cultura do algodoeiro, cujo plantio deve ser feito no período mais propício quando os fatores climáticos forem mais favoráveis ao início do cultivo. A análise desses fatores associados ao conhecimento dos solos e sua síntese são indicadas no Zoneamento Agrícola para o algodão.
As Portarias de Zoneamento Agrícola de Risco Climático por Unidade da Federação são o resultado de análises e modelagem de dados de clima e informações fenológicas relacionadas às culturas. O primeiro passo é dado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que desenvolve um estudo sobre as exigências mínimas de cada cultura a ser zoneada. Os estudos e as séries históricas climáticas diárias de, no mínimo, 15 anos são utilizados para elaboração do calendário de plantio por tipo de solo e por cultivar, em cada município. O produto final é publicado em portarias no Diário Oficial da União e no site do MAPA. Para a Paraíba, por exemplo, são zoneadas 21 culturas, dentre elas o algodão herbáceo. Normalmente, o zoneamento indica as épocas de plantio de sequeiro, por estado da União, para áreas agrícolas aptas, ou seja, com condições edafoclimáticas ideais para plantio, crescimento e desenvolvimento pleno da cultura. Para o cultivo, considerando que não existe deficiência de umidade e baixa temperatura, não há restrições de época e local de plantio, devendo-se levar em conta o ciclo fenológico da cultura, de forma a não haver coincidência do período de colheita na época chuvosa.
O algodoeiro herbáceo requer calor e umidade no solo para completar seu ciclo vegetativo, devendo o final do ciclo coincidir com o período seco, para possibilitar a perfeita secagem e deiscência do fruto. Entretanto, o algodoeiro é muito sensível à temperatura, que é um dos fatores ambientais que mais interferem no crescimento e desenvolvimento da cultura e que afeta significativamente a fenologia, a expansão foliar, a elongação dos internós, a produção de biomassa e a partição dos assimilados pelas diferentes partes da planta, entre outros aspectos.
Temperaturas inferiores a 20 °C reduzem o comprimento e outras características tecnológicas da fibra, porque reduzem o metabolismo celular, envolvendo as organelas comprometidas na síntese dos componentes da fibra, dos quais a celulose, que representa mais de 94% da fibra madura, é o mais importante.
De acordo com Souza et al. (2008), a faixa de temperatura para a germinação do algodoeiro está entre 25 °C e 30 °C. Na fase de crescimento vegetativo, a faixa ideal está entre 27 °C e 32 °C. Ainda de acordo com estes autores, temperaturas noturnas superiores a 25 °C atrasam o florescimento, enquanto temperatura noturna baixa (20 °C) combinada com temperatura diurna de 25 °C estimula o florescimento. O algodoeiro é muito sensível à temperatura. Noites frias ou temperaturas diurnas baixas restringem o crescimento das plantas levando-as à emissão de poucos ramos frutíferos.
Para produção máxima, o algodoeiro herbáceo deve ser cultivado sob as seguintes condições climáticas:
  • Temperatura média do ar variando entre 20 ° e 30 °C (Ver Tabela 1).
  • Precipitação anual variando entre 500 mm e 1.500 mm.
  • Umidade relativa média do ar em torno de 60%.
  • Nebulosidade inferior a 50%.
  • Inexistência de inversão térmica (dias muito quentes e noites muito frias).
A temperatura tem importância também como indutora do crescimento das plantas, tendo sido determinada a exigência em unidades de calor para cada fase do crescimento do algodoeiro. Assim, é necessário um determinado acúmulo térmico, representado pelo somatório da diferença entre as temperaturas médias e a temperatura mínima basal diárias, para que o algodoeiro expresse todo seu potencial de crescimento a cada fase de seu desenvolvimento. Essas necessidades térmicas, denominadas de Unidades de Calor (UC) ou Graus Dia (GD) é característica de cada variedade, influenciando fortemente a época de cultivo, em função da latitude e altitude de cada localidade. Na Tabela 2 encontram-se essas temperaturas determinadas para variedades cultivadas na literatura americana e no Brasil, de acordo com Rosolem (2001).
Dependendo do clima e da duração do ciclo, o algodoeiro necessita de 700 a 1.300 mm de chuva para atender suas necessidades de água; 50% a 60% dessa água é necessária durante o período de floração/frutificação (50 a 70 dias), quando a área foliar está completamente desenvolvida. Ocorrências de chuvas contínuas durante a abertura das maçãs poderão comprometer a qualidade das fibras, especialmente a resistência e a finura, importantes características nos novos processos de fiação e tecelagem.
A necessidade de água do algodoeiro, representada pela evapotranspiração máxima (Etm) em relação à evapotranspiração de referência (Eto), é estimada para cada etapa do desenvolvimento das plantas utilizando-se o respectivo coeficiente de cultivo (kc), através da equação: ETm = kc x ETo. Na Tabela 3 são apresentados os valores de kc nas diversas fases de desenvolvimento do algodoeiro.



sábado, 14 de janeiro de 2017

Importância Econômica da Cultura do Algodão

A cultura do algodoeiro tornou-se nos últimos anos uma das principais commodities brasileiras. O avanço da cultura no Cerrado brasileiro resgatou o país da condição de importador para a de exportador de pluma. Esse fenômeno é o resultado do esforço dos produtores, técnicos, pesquisadores e governos por meio de associações de produtores, das instituições públicas e empresas privadas na geração e transferência de novas tecnologias visando aperfeiçoar o sistema produtivo. Este aspecto tem feito com que o Cerrado brasileiro detenha as mais altas produtividades na cultura do algodoeiro no Brasil e no mundo, em áreas não irrigadas.
A segunda metade da década de 90 significou um marco na migração da cultura do algodoeiro, das áreas tradicionalmente produtoras no Semiárido para o Cerrado brasileiro. Hoje esta região responde por 99% da produção brasileira de algodão, tendo o Estado de Mato Grosso como o maior produtor. A Embrapa vem participando decisivamente da evolução da cotonicultura do Cerrado através da geração e transferência de tecnologias. A Embrapa faz pesquisas visando aperfeiçoar os sistemas de produção bem como desenvolve novas cultivares com as características de produtividade, qualidade de fibra e resistência às doenças demandadas pelo setor produtivo. Recentemente, a transgenia para facilitar o controle de plantas daninhas e pragas também passou a ser uma tecnologia demandada pelo sistema produtivo, e a Embrapa está empenhada em disponibilizar cultivares que atendam a essa demanda.
O sistema de produção do algodoeiro no Cerrado que a Embrapa está disponibilizando, resulta da necessidade de os clientes terem acesso imediato a informações precisas sobre temas que envolvem toda a cadeia produtiva do algodoeiro no Cerrado. Espera-se que seja de grande utilidade para o desenvolvimento da cultura do algodoeiro em uma das regiões mais importantes para o agronegócio brasileiro.

Importância econômica

Até o início da década de 90, a produção de algodão no Brasil concentrava-se nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Após esse período, aumentou significativamente a participação do algodão produzido nas áreas de cerrado, basicamente da região Centro-Oeste.
Os estados do Centro-Oeste, reconhecidamente produtores de algodão herbáceo, são Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul.
Outros estados brasileiros que também estão produzindo algodão no Cerrado são a Bahia, o Maranhão e o Piauí, na região Nordeste, cujos sistemas de produção apresentam características semelhantes às do Centro-Oeste e formam hoje, juntamente com o Tocantins, um cinturão de produção de algodão conhecido como MATOPIBA.
Os estados de Sergipe, Alagoas, Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, que plantam algodão em sistema de produção familiar, plantaram pequenas áreas de algodão. Esses estados da região semiárida vêm sofrendo uma gradativa redução da área plantada com o algodoeiro, devido, principalmente, à baixa adoção de tecnologias, escassez e custo da mão de obra, além do efeito dos frequentes períodos de estiagem.
Permanecem ainda nesta região do Brasil programas localizados de produção de algodão colorido, orgânico e agroecológico que atendem a pequenas comunidades de produtores, localizadas, principalmente, no Estado da Paraíba, e que atendem a uma demanda por esse produto advinda de consórcios de pequenas indústrias locais que comercializam peças confeccionadas a partir dessa matéria prima para o comércio local e para alguns países da Europa, atendendo a um nicho existente no mercado.

A evolução da cultura do algodoeiro no Cerrado brasileiro

As áreas do Cerrado brasileiro, destacadamente as regiões Centro-Oeste e Nordeste, têm se firmado como principais produtoras de algodão herbáceo. Neste cenário, destacam-se os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia. Nestas áreas, o cultivo do algodão, por médios e grandes produtores, caracteriza-se pelo elevado nível tecnológico, intensivo uso de máquinas e alta eficiência da mão de obra.
A região Centro-Oeste e o oeste do Estado da Bahia contribuem com mais de 90% do algodão produzido no país, enquanto outros estados situados no Cerrado brasileiro participam com apenas 5,5% (IBGE, 2013a).

Panorama em Mato Grosso

O algodão encontra em Mato Grosso condições favoráveis para o seu desenvolvimento, como topografia plana, alta intensidade de luz e clima bem definido, com período seco na época da colheita, o que faz melhorar a qualidade da pluma.
O Mato Grosso é uma das mais importantes áreas de produção da cultura do algodão herbáceo no Brasil, ocupando, atualmente, a primeira posição em área cultivada e produção, contribuindo com, aproximadamente, 60% da produção nacional (IBGE, 2013a). Os principais produtores são os municípios de Sapezal, Campo Verde, Campo Novo do Parecis, Primavera do Leste e Diamantino (Figura 1).
Figura 1. Distribuição da área cultivada com algodão herbáceo em municípios de Mato Grosso, na safra 2010/2011.
Fonte: IBGE (2013c).

Panorama em Goiás

A produção de algodão em Goiás está distribuída em diversos municípios. No entanto, Chapadão do Céu, Cristalina e Montividiu, são os principais produtores (Figura 2).
Figura 2. Distribuição da área cultivada com algodão herbáceo em municípios de Goiás, na safra 2010/2011.
Fonte: IBGE (2013c).

Panorama em Mato Grosso do Sul

O Estado de Mato Grosso do Sul ocupa o quarto lugar em produção, sendo o quinto em produtividade.
Mais de 95% da produção de algodão do estado é proveniente das Microrregiões Geográficas (MRG) Cassilândia e Alto Taquari, onde as condições de solo, topografia e clima são favoráveis para o desenvolvimento da cultura. As demais MRGs têm produção insignificante.
A produção de algodão em Mato Grosso do Sul está concentrada nos municípios de Costa Rica, Chapadão do Sul e São Gabriel do Oeste (Figura 3).
Figura 3. Distribuição da área cultivada com algodão herbáceo em municípios de Mato Grosso do Sul, na safra 2010/2011.
Fonte: IBGE (2013c).

Panorama na Bahia

Dentre os principais estados produtores de algodão herbáceo, a Bahia é o que apresentou o maior crescimento médio anual em área e produção, no período compreendido entre 2000 e atualmente. A produção concentra-se no este do estado.
As Microrregiões Geográficas Barreiras, Santa Maria da Vitória e Guanambi cultivam praticamente toda a produção de algodão do estado, onde as condições de solo, topografia e clima são favoráveis para o desenvolvimento da cultura. Nas demais MRGs, a área cultivada é insignificante.
O Município de São Desidério possui a maior área cultivada, vindo a seguir Formosa do Rio Preto, Correntina, Barreiras e Riachão das Neves (Figura 4).
Figura 4. Distribuição da área cultivada com algodão herbáceo em municípios da Bahia, na safra 2010/2011.
Fonte: IBGE (2013c).

Panorama em Minas Gerais

Do ano de 2000 até os dias atuais, a área cultivada com algodão foi reduzida significativamente. No entanto, o rendimento médio cresceu bastante no mesmo período, devido ao aumento do cultivo em áreas de cerrado.
Os principais municípios produtores de algodão herbáceo são: Buritis, Unaí, Presidente Olegário, Centralina Coromandel e Tupaciguara (Figura 5).
Figura 5. Distribuição da área cultivada com algodão herbáceo em municípios de Minas Gerais, na safra 2010/2011.
Fonte: IBGE (2013c).

Panorama na região do MAPITO

A região do MAPITO, formada pelos estados de Maranhão, Piauí e Tocantins, merece ser destacada pelo crescimento da área e da produção de algodão herbáceo. No período de 2000 e atualmente, a área cultivada cresceu consideravelmente.

Maranhão

A área cultivada com algodão herbáceo no Estado do Maranhão concentra-se na Microrregião Geográfica Gerais de Balsas, principalmente nos municípios de Tasso Fragoso, Balsas e Alto Parnaíba (Figura 6).
Figura 6. Distribuição da área cultivada com algodão herbáceo em municípios do Maranhão, na safra 2010/2011.
Fonte: IBGE (2013c).

Piauí

No Estado do Piauí, a área de algodão herbáceo encontra-se nas Microrregiões Geográficas Alto Parnaíba piauiense, Bertolínia, Alto Médio Gurgueia e Alto Médio Canindé, com a maior parte da produção estadual (IBGE, 2013b).
Os municípios de Sebastião Leal, Baixa Grande do Ribeiro, Santa Filomena, Uruçuí e Filbués são os maiores cultivadores de algodão herbáceo do Estado (Figura 7).
Figura 7. Distribuição da área cultivada com algodão herbáceo em municípios do Piauí, na safra 2010/2011.
Fonte: IBGE (2013c).

Tocantins

No Estado do Tocantins, toda a área cultivada com algodão herbáceo concentra-se nas Microrregiões Geográficas Dianópolis, Porto Nacional e Rio Formoso (IBGE, 2013b). Dianópolis, Porto Nacional, Novo Jardim e Paraíso do Tocantins são os municípios que cultivam o algodão herbáceo no estado, com áreas que variam de 150 ha a 2.500 ha (Figura 8).
Figura 8. Distribuição da área cultivada com algodão herbáceo em municípios do Tocantins, na safra 2010/2011.



segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Cultura do Amendoim (Arachis hypogaea L.)



Planta herbácea anual, da família Leguminosae, cujas sementes contêm ao redor de 25% de proteína e 45 a 50% de óleo comestível. A espécie é cultivada em diversos países ao redor do mundo, nos hemisférios norte e sul, tanto por pequenos agricultores familiares como por produtores com alto nível tecnológico. Em alguns países asiáticos, a produção de amendoim destina-se para óleo, utilizado em culinária. Em países ocidentais, inclusive o Brasil, o produto é utilizado prioritariamente como alimento, no mercado de confeitaria.

A planta de amendoim tem como característica peculiar a produção de frutos subterrâneos. A flor, uma vez fertilizada, emite um pendão ou esporão (ginóforo) que cresce em direção ao solo, penetrando-o. O ovário fertilizado, localizado na ponta do esporão, desenvolve-se nessas condições, sob a superfície do solo, formando a vagem.

A espécie, típica de climas quentes, adapta-se a uma ampla faixa climática em regiões tropicais e subtropicais, com exceção das excessivamente úmidas, e desenvolve-se bem em regiões ou estações de cultivo em que as temperaturas mínimas não fiquem abaixo de 15ºC. Com nível adequado de fertilidade, os solos de textura leve e bem drenados são os preferíveis para o seu cultivo, porém pode ser cultivado também em solos com certo teor de argila.

Cultivares

Estes são os cultivares IAC atualmente recomendados para plantio:

IAC Tatu ST: Indicado para cultivos familiares, em sistema semi-mecanizado; a planta é de porte ereto, tipo Valência, ciclo de 90 a 110 dias, vagens com três a quatro sementes de tamanho pequeno e película vermelha; potencial produtivo: até 4.500 kg ha-1 de vagens; em São Paulo, atende a uma demanda de pequena escala, nicho de mercado para amendoins comercializados em casca ou descascados crús.

IAC 503: Indicado para sistemas tecnificados, porte rasteiro, moderadamente resistente a doenças foliares, ciclo de 140 dias; vagens com duas sementes alongadas de tamanho médio a grande, sementes de cor castanho claro; potencial produtivo de até 6.500 kg ha-1 de vagens; as sementes possuem a característica “alto oleico” (ao redor de 80% deste ácido graxo, responsável por propiciar ao produto um “período de prateleira” mais longo).

IAC 505: Indicado para sistemas tecnificados, porte rasteiro, moderadamente resistente a doenças foliares, ciclo de 130 a 140 dias; vagens com duas sementes de tamanho médio (padrão comercial Runner), película castanho claro; potencial produtivo: até 6.500 kg ha-1; este cultivar destaca-se pelo teor de óleo mais alto que outros cultivares (cerca de 50%), tornando-o atraente tanto para o mercado de alimentos como para projetos voltados para a produção de óleo; as sementes possuem a característica “alto oleico”.

IAC OL 3: Indicado para sistemas tecnificados, porte rasteiro, ciclo de 130 dias, com melhor ajuste do que os anteriores nas áreas de renovação de cana; vagens com duas sementes de tamanho médio a grande, película de cor rosada; potencial produtivo: até 7.000 kg ha-1; as sementes possuem a característica “alto oleico”.

IAC OL 4: Indicado para sistemas tecnificados, porte rasteiro, o ciclo  de 125-130 dias, permite melhor ajuste do seu cultivo nas áreas de renovação de cana; vagens com duas sementes de tamanho médio (padrão Runner), película de cor rosada; potencial produtivo: até 7.000 kg ha-1; as sementes possuem a característica “alto oleico”.

Para efeitos de previsão de custos e lucratividade, a produtividade média esperada para o cultivar IAC Tatu ST situa-se entre 3.500 e 4.000 kg ha-1  de vagens, nas condições do estado de São Paulo. Para os cultivares rasteiros aqui relacionados, a média de produtividade a ser considerada situa-se entre 4.500 e 5.000 kg ha-1.

Plantio

As sementes de amendoim são vulneráveis a infecções por fungos de solo na sua germinação e emergência; assim, é imprescindível o seu tratamento com fungicidas. A melhor época para o plantio, nas condições climáticas do estado de São Paulo é entre outubro e novembro. O cultivar IAC Tatu ST pode ser plantado em uma segunda época (fevereiro-março), mas a cultura fica sujeita a estiagem no final do ciclo; não se recomenda o plantio de cultivares rasteiros nesta época.

Controle de pragas

O tripes-do-prateamento, (Enneothrips flavens Moulton) é a praga de maior expressão econômica da cultura no estado de São Paulo; a lagarta-do-pescoço-vermelho (Stegasta bosquella Chambers) também é frequente e pode causar danos significativos às plantas; ambas atacam os brotos (folhas jovens) prejudicando o crescimento da planta.

O tripes pode ser controlado quimicamente através do tratamento das sementes com tiametoxan ou imidacloprid e, após 30 dias da semeadura, com pulverizações foliares de neonicotinoides ou organofosforados, a cada 15 dias. Sem o tratamento das sementes, as pulverizações devem iniciar-se aos 10-15 dias após a semeadura.

Quando as condições permitem, o controle de tripes pode ser realizado através de monitoramento do inseto por amostragens de folíolos, avaliando-se a infestação para determinar a necessidade de aplicação do inseticida. Neste caso, em cultivares eretos, recomenda-se a pulverização quando 30% de folíolos apresentarem o inseto e, em cultivares rasteiros, quando a infestação for de 40%. 

No caso da lagarta do pescoço vermelho, o controle químico é feito com inseticidas à base de piretróides ou organofosforados. No controle por monitoramento, recomenda-se realizar a pulverização quando o nível de infestação atingir uma lagarta a cada 5 ponteiros amostrados.

Outros insetos que podem eventualmente causar danos à parte aérea são cigarrinhas, ácaros e outras espécies de lagartas, controlados, quando no seu aparecimento, com inseticidas apropriados. Infestações de larvas de Diabrotica e percevejos (castanho e preto) podem causar danos às raízes ou às vagens e sementes em formação, no solo. Os danos causados pelas larvas de Diabrotica podem ser prevenidos através do controle dos insetos adultos, via foliar. O percevejo-preto pode causar prejuízos significativos, pois danifica os grãos em formação. Em regiões ou ambientes em que a sua ocorrência é frequente, deve-se monitorar o inseto  escavando o solo a 30 cm em diversas áreas ao longo da cultura, quando esta estiver na fase de enchimento de grãos; encontrando-se 2 insetos, recomenda-se a aplicação de clorpirifós no solo, em jato dirigido. 

Colheita

Na época da maturação, e conhecendo-se o ciclo do cultivar, monitorar constantemente o campo e amostrar plantas observando as vagens e grãos para definir o melhor momento da colheita. Para o cultivar IAC Tatu ST e outros do tipo Valência, efetuar o arranquio das plantas quando 70% das vagens apresentarem o característico manchamento escuro em seu interior. Para cultivares rasteiros, iniciar o arranquio quando 60% das vagens apresentarem escurecimento da endoderme (superfície da casca logo abaixo da epiderme).

Em culturas tecnificadas, o arranquio e enleiramento das plantas são realizados através de máquinas arrancadoras/invertedoras. Em plantios familiares, efetuar o corte da raiz abaixo das vagens com uma lâmina tracionada por animal ou trator, enleirando as plantas manualmente, com as vagens voltadas para cima. As plantas devem permanecer enleiradas ao sol até secagem completa, quando não há secagem artificial. Havendo secagem artificial, o período de secagem no campo é menor, o suficiente para permitir o despendoamento com a máquina recolhedora.

A secagem artificial pode ser feita em secadores tipo silo ou carretas com fundo perfurado. Em ambos os casos o ar é forçado entre as vagens depositadas a granel no compartimento de secagem.

Rotação de culturas

O amendoim é eficiente em aproveitar a adubação residual da cultura anterior, além de ser praticamente autossuficiente em nitrogênio via fixação simbiótica. A cultura também é conhecida pela sua tolerância a diversas espécies e raças de nematóides, contribuindo para reduzir a população desses patógenos em áreas infestadas. Em São Paulo, o seu cultivo  é conduzido  predominantemente em rotação com cana-de-açúcar e pastagens. O seu plantio nas áreas de renovação de cana propicia à cultura principal, entre outros benefícios, a redução da infestação de plantas daninhas, além de deixar resíduos de nutrientes no solo, contribuindo para reduzir os custos de implantação dos canaviais. No caso do plantio em rotação com a cana, é necessário que os cultivares de amendoim sejam de ciclo compatível com a duração do período de renovação do canavial.

Controle preventivo da aflatoxina

A aflatoxina é uma substância tóxica cancerígena para seres humanos e animais, que pode estar presente no amendoim e seus derivados; ela é produzida por fungos do gênero Aspergillus e Penicillium que sobrevivem naturalmente no solo e podem infectar o amendoim e produzir a toxina, tanto antes como depois da colheita, e durante o armazenamento.

As infecções por esses fungos, quando o amendoim ainda está no solo, são especialmente favorecidas por períodos de estiagem durante a fase de maturação das vagens; assim, regiões muito propensas a estresse hídrico devem ser evitadas; em contrapartida, o uso de irrigação propicia condições favoráveis para a produção de amendoim com qualidade, além das práticas preventivas a serem seguidas.

Para a produção de amendoins isentos desta toxina, diversas medidas devem ser adotadas: a) controlar pragas e doenças das plantas, para produzir vagens sadias e resistentes a esses fungos; b) colher o amendoim quando estiver plenamente maduro e, após o arranquio das plantas, enleirá-las com as vagens voltadas para cima, sem contato com o solo; c) secar o amendoim colhido até que a umidade dos grãos seja reduzida para 8%; d) em sistemas tecnificados, o uso de secadores artificiais é a prática recomendada; em pequenas produções familiares, a secagem das vagens, depois de retiradas das plantas, pode ser feita eficientemente em terreiro; e) nunca ensacar, empilhar ou armazenar amendoim com mais de 8% de umidade; f) após o descascamento, proceder a seleção dos grãos, retirando os danificados, chochos, imaturos ou de má aparência.

Para maior garantia da sanidade do produto, recorrer a laboratórios especializados em análise de aflatoxina; para os consumidores, adquirir preferentemente produtos que contenham selo ou certificado de qualidade.  













sábado, 17 de dezembro de 2016

Mecanização no Amendoim

Equipamentos para a colheita mecanizada do amendoim

Como o amendoim forma suas vagens abaixo da superfície do solo, a colheita necessita de um maior número de operações quando comparadas as demais grandes culturas em que geralmente é feita uma única operação. No Brasil a colheita totalmente mecanizada é utilizada apenas nas lavouras do Estado de São Paulo, onde os produtores são mais tecnificados. Nos estados produtores do Nordeste, a maior parte do amendoim produzido é proveniente de pequenos produtores com pouco uso da mecanização, principalmente na colheita.
Arranquio, enleiramento, cura e recolhimento das vagens feitos manualmente ou de forma semimecanizada
Os pequenos produtores, na maioria das situações, fazem o arranquio e despencamento manuais. Entretanto, atualmente existem alguns equipamentos disponíveis para auxiliar os pequenos produtores no arranquio. A Embrapa Algodão avaliou diversas enxadas acopladas a um implemento à tração animal, com a finalidade de auxiliar no arranquio do amendoim (SILVA et al., 1999a). O implemento consiste em uma armação de um pequeno arado, o qual se acopla uma enxada do tipo facão ou aiveca, para efetuar o arranquio do amendoim. Este equipamento reduz a mão de obra necessária para o arranquio de 12 dias/homem para 2 dias/homem. Em estudo feito por Silva et al. (1999a) com vários tipos de enxadas, verificaram que o arrancador com enxada tipo facão e asa de andorinha foram os que demandaram menor força, potência e energia para a operação de afofamento da terra, para o arranquio das plantas de amendoim e consequentemente demandaram menores custos. O arrancador com a enxada do tipo facão foi o único tratamento que não alterou a configuração das fileiras de plantas de amendoim.
Assim, o arranquio do amendoim feito pelos pequenos produtores pode ser feito de forma totalmente manual ou com o auxílio de um equipamento dotado de uma lâmina à tração animal ou mecânica, a qual tem a finalidade de cortar as raízes previamente ao arranquio, fazendo também um afrouxamento do solo, o que proporciona redução das perdas (GODOY et al., 1984). Alguns produtores têm utilizado um implemento tracionado por trator, que possui duas lâminas cortantes em forma de V aberto que cortam quatro linhas por vez.
Após o arranquio é feito o enleiramento manual, amontoando as plantas em fileiras com as vagens para cima, de maneira a favorecer o processo de cura ou secagem em condições de campo. Após o processo de cura e secagem, faz-se a retirada das vagens ou despencamento, o qual pode ser efetuado manualmente batendo-se um feixe de amendoim seco contra a borda de um balaio de bambu ou com auxílio de trilhadeiras estacionárias. Em seguida, as vagens do amendoim são peneiradas, ensacadas e, conforme o grau de umidade, continuam a secar em terreiro.
Arranquio, enleiramento, cura e recolhimento das vagens mecanizados
Atualmente, os produtores mais tecnificados vêm utilizando a colheita mecanizada em todas as etapas do processo de colheita, o que tem ocasionado redução da necessidade de mão de obra, diminuindo significativamente o custo de produção, além de aumentar significativamente o rendimento operacional e proporcionar melhora na qualidade do produto, uma vez que a operação é mais rápida, reduzindo o tempo que o produto fica exposto às intempéries do clima no campo. Na colheita mecanizada, a operação de colheita do amendoim inicia-se com o arranquio e enleiramento, passando pelo processo de cura em condições de campo e finalizando com o recolhimento das vagens.
Para o arranquio e enleiramento são utilizados os equipamentos denominados de arrancadores-invertedores, que fazem as duas operações simultaneamente (Figura 1). Este equipamento possui lâminas cortadoras em forma de “V”, onde atrás de cada lâmina existem diversas hastes. Em seguida às hastes, a máquina apresenta uma esteira elevadora das plantas acionada pela tomada de potência do trator (TDP). O arranquio ocorre com as lâminas cortadoras penetrando no solo a uma profundidade de aproximadamente 5 cm abaixo das vagens da planta com a finalidade de cortar as raízes e proporcionar o afofamento do solo ao redor das vagens. As hastes contidas na parte posterior das lâminas conduzem as plantas com as vagens e o solo para a esteira elevadora que, dotada de movimento, separa o solo das plantas. Estas são conduzidas até a parte superior da esteira e caem sobre um dispositivo que realiza o enleiramento das plantas na superfície do solo, deixando as plantas voltadas para cima (SILVA et al., 2009).
Foto: Raimundo Estrela Sobrinho
Figura 1. Representação esquemática de um arrancador-enleirador de amendoim.
Após a secagem ao sol ou cura, é feito o recolhimento e despencamento das vagens mecanizado (Figura 2). O equipamento utilizado com esta finalidade é acoplado na barra de tração do trator e acionado pela tomada de potência. Na parte dianteira existe uma plataforma recolhedora que recolhe as plantas enleiradas do solo por meio de dedos com molas e as conduz a uma esteira elevadora, a qual por sua vez, conduz as plantas para o mecanismo de batimento ou despencamento constituído pelo cilindro batedor e pelo côncavo (SILVA et al., 2009). O cilindro batedor trabalha a baixas rotações, normalmente de 400 rpm a 600 rpm, e o côncavo é constituído de uma tela perfurada em formato de um losango onde ocorre a separação das vagens das demais partes da planta. Após a separação, as vagens passam por um sistema de limpeza composto por peneiras vibratórias e ar, de maneira semelhante às colhedoras de grãos e cereais, sendo que, em seguida, as vagens são conduzidas a uma caçamba graneleira própria onde são armazenadas ou podem ser ensacadas com auxílio de um operador. Atualmente, a maioria dos equipamentos de recolhimento possui uma caçamba basculante para armazenamento do amendoim em vagem e para o esvaziamento da mesma; cilindros hidráulicos externos acionados pelo trator levantam a caçamba e fazem o descarregamento nos veículos utilizados no transporte.
Fotos: Odilon R.R.F. Silva
Figura 2. Equipamentos utilizados no recolhimento e despencamento do amendoim em sistema totalmente mecanizado.
Quando a colheita mecanizada é feita com recolhedoras que fazem o armazenamento das vagens de amendoim a granel, a produção é transportada por meio de carretas graneleiras ou transbordos tracionados por trator. Por sua vez, quando a recolhedora utilizada faz o ensaque, o amendoim em vagem ensacado fica distribuído no campo, e se utilizam carregadeiras usadas para colheita de cana-de-açúcar para o carregamento dos sacos em caminhões que transportam do campo até as unidades de recebimento ou armazenamento (BOLONHEZI et al., 2005).
Quando o processo de “cura” ou secagem natural no campo não é suficiente para que as vagens atinjam a umidade adequada de armazenamento, é necessária a secagem artificial. Dessa forma, o amendoim em vagem é recebido na unidade de armazenamento, onde é feita a pré-limpeza com a finalidade de eliminação de resíduos mais grosseiros, como terra, pedras e pedaços de plantas, e o mesmo é destinado à secagem artificial. A secagem normalmente é feita em “carretas secadoras”, as quais apresentam um fundo falso perfurado, para insuflação de ar previamente aquecido. O aquecimento do ar de secagem proporciona a redução da umidade relativa e, por isso, ao atravessar a massa de vagens na carreta, ocorre a secagem das vagens.
Máquinas para descascamento do amendoim
O descascamento do amendoim pode ser feito manualmente ou com equipamentos de acionamento manual ou totalmente mecanizado. O descascamento manual é extremamente demorado, requerendo elevada quantidade de mão de obra. Assim, as formas predominantes de descascamento utilizadas pelos pequenos produtores são por meio de pequenas máquinas de acionamento manual ou motorizado, e os grandes produtores utilizam máquinas de grande porte motorizadas.
A Embrapa Algodão desenvolveu alguns equipamentos visando a aumentar a capacidade de trabalho do pequeno produtor rural e reduzir os custos, principalmente da operação de descascamento do amendoim (SILVA et al., 1999b). O equipamento de descascamento possui um chassi feito com cantoneiras de ferro para sustentação do mecanismo descascador, o qual é composto de um côncavo, confeccionado com barras chatas e redondas de ferro, que formam uma tela curva e um semicilindro formado por barras chatas de ferro dotadas de fileiras de grampo galvanizado de cerca, com a função de promover a quebra das vagens, sendo este acionado por uma alavanca manual (Figura3). O descascamento ocorre pela fricção das vagens no côncavo, provocada pelo movimento alternado semicircular do semicilindro, induzindo à quebra das cascas das vagens, e estas, juntamente com as sementes, fluem através das malhas do côncavo, caindo sobre uma lona de pano ou de plástico. A alimentação é feita por um operador, que coloca as vagens de forma contínua e uniforme, em uma espécie de moega, que é continuação do côncavo. Por se tratar de um equipamento simples, o mesmo não dispõe de dispositivo de separação da casca das sementes, necessitando, assim, que esta operação seja feita de forma manual, com o auxílio de uma peneira e do vento para a abanação e, consequentemente, da limpeza dos grãos. Em testes de avaliação, o equipamento apresentou capacidade operacional média de 83 a 113 kg/hora de trabalho efetivo, com eficiência de descascamento entre 95% a 96% e quebra das sementes abaixo de 6%, dependendo das condições de umidade das vagens do amendoim.
A partir do equipamento de acionamento manual, a Embrapa Algodão também desenvolveu um equipamento com o mesmo princípio de funcionamento com acionamento motorizado. Entretanto, o equipamento com acionamento motorizado possui um sistema de separação das cascas dos grãos, o qual é feito por meio de um ventilador exaustor que succiona o ar na parte de baixo do côncavo, e, como as cascas são mais leves que os grãos, succiona as mesmas e ocorre a remoção.
Foto: Odilon R.R.F. Silva
Figura 3. Equipamento de descascamento do amendoim de acionamento manual.
As máquinas de grande porte utilizadas em unidades de beneficiamento são constituídas basicamente por dois sistemas, sendo um de descascamento ou batimento e outro de separação e limpeza (Figura 4A). O sistema de descascamento é constituído de um cilindro batedor de barras e um côncavo em forma de peneira (Figura 4B). A ação do cilindro sobre as vagens quebra as mesmas e faz com que tanto as sementes como os fragmentos de vagens (cascas) atravessem a peneira do côncavo. Em seguida, as cascas são separadas das sementes por meio da força do ar produzido por um ventilador. As sementes por apresentarem peso maior que as cascas não são carregadas pelo ar e são conduzidas para outro mecanismo de separação e limpeza ou então ensacadas.
Foto: Valdinei Sofiatti
Figura 4. Equipamento utilizado no descascamento do amendoim (A) e mecanismo de descascamento do equipamento constituído por cilindro e côncavo (B).







terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Manejo de plantas daninhas na Cultura do Amendoim


Manejo de plantas daninhas

O manejo integrado de plantas daninhas na cultura do amendoim deve visar não somente a maior produtividade da cultura, mas também a conservação do solo e a preservação do seu potencial produtivo. Nem sempre a eliminação total das plantas daninhas significa o lucro máximo, pois o investimento requerido para altos percentuais de controle pode trazer menor retorno. Por isso, deve-se analisar caso por caso a relação custo de controle versus benefício. Além disso, a presença de plantas daninhas no momento da colheita dificulta o arranquio e inversão das plantas, a secagem/cura do amendoim no campo, o que pode ocasionar a contaminação por aflatoxinas. Os principais métodos de controle de plantas daninhas são descritos a seguir.

Controle cultural

Respeitadas as exigências culturais de cada cultivar, recomenda-se buscar o mais rápido fechamento das entrelinhas, para possibilitar maior sombreamento do solo reduzindo o crescimento das plantas daninhas. A rotação de culturas também deve ser uma prática adotada, pois além de suas múltiplas vantagens, impede a seleção natural de certas espécies de plantas daninhas, que são controladas pela aplicação de herbicidas nas culturas de rotação. Vale ressaltar que o controle cultural apenas reduz a incidência de plantas daninhas e deve ser utilizado juntamente com outros métodos de controle para que a produtividade da cultura não seja prejudicada.

Controle mecânico

O controle mecânico das plantas daninhas pode ser feito com uso de enxada ou cultivador à tração animal ou mecânica na entrelinha da cultura. Quando se utiliza o cultivador na entrelinha da cultura, normalmente é necessário o retoque com enxada para eliminação das plantas daninhas dentro das linhas de plantio. Quando se utiliza o cultivador mecânico, usam-se preferencialmente ponteiros do tipo “asa-de-andorinha”, pois, esse modelo apresenta a vantagem de efetuar uma capina superficial, sem remover grande quantidade de solo, e sem formar sulcos profundos nas entrelinhas, evitando-se danos ao sistema radicular da cultura. Para que não ocorra redução na produtividade da cultura, é necessário mantê-la sem a interferência das plantas daninhas no período compreendido entre 10 e 60 dias após a emergência, dependendo da cultivar e das espécies infestantes.

Controle químico

Atualmente o controle químico das plantas daninhas é o método mais utilizado principalmente entre os médios e grandes produtores. Quando empregados corretamente, respondem com eficiência e segurança aos objetivos visados. Caso contrário, poderão causar sérios prejuízos não somente à cultura, como também ao homem e ao meio ambiente. Para se obter máxima eficiência com o controle químico de plantas daninhas, é fundamental que o equipamento de aplicação esteja em perfeitas condições de uso, sem vazamentos, com bicos apresentando vazão uniforme, além de estar adequadamente regulado e calibrado.
Os herbicidas utilizados na cultura do amendoim podem ser aplicados nas modalidades de aplicação descritas abaixo.
OBS: Para o uso de Herbicidas, devem procurar o Agrônomo da região.

Herbicida de pré-plantio incorporado (PPI)
Os herbicidas de pré-plantio incorporado são aplicados antes da semeadura do amendoim, pois são produtos que, por suas características físico-químicas, necessitam ser incorporados mecanicamente ao solo, evitando-se, com isso, redução em sua eficiência agronômica. A incorporação deverá ser realizada logo após a aplicação, usando-se grade niveladora de discos, regulada para trabalhar numa profundidade de 10 cm a 15 cm.
Herbicidas de pré-emergência (PRÉ)
Os herbicidas de pré-emergência são aqueles aplicados após a semeadura do amendoim. Por ocasião da aplicação, o solo deve apresentar-se com umidade e destorroado, para que ocorra uma perfeita distribuição do herbicida na sua superfície. Para proporcionar um controle eficiente das plantas daninhas com herbicidas residuais de solo que não apresentam atividade em pós-emergência, recomenda-se efetuar a semeadura, seguida da aplicação dos produtos, imediatamente após a última gradagem, evitando a emergência das plantas daninhas antes da aplicação do herbicida.
Herbicidas de pós-emergência (PÓS)
Uma característica importante desses herbicidas é a sua seletividade à cultura, pois a aplicação é realizada após a emergência das plantas daninhas e da cultura. Para obtenção de melhores resultados, é necessária a observação de alguns fatores importantes, tais como as condições climáticas por ocasião da aplicação e o estágio de desenvolvimento das plantas daninhas.
Em condições de estresse biológico das plantas daninhas, deve-se evitar a aplicação de herbicidas de pós-emergência, pelo fato das mesmas não se encontrarem em plena atividade fisiológica e, assim, a atuação do herbicida pode ficar prejudicada. Os estágios iniciais de desenvolvimento das plantas daninhas (entre duas e quatro folhas) são os mais susceptíveis à ação dos herbicidas de pós-emergência e, portanto, devem ser as épocas preferenciais de aplicação (Figura 1).
Foto: Taís de Moraes Falleiro Suassuna
Figura 1. Controle de plantas daninhas com herbicida pós-emergente, em lavoura de amendoim. Mogeiro, PB., 2008.
Manejo da resistência de plantas daninhas a herbicidas
O uso continuado de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação pode contribuir para o aumento de população de plantas daninhas a ele resistentes. Como prática de manejo e resistência de plantas daninhas, deverão ser aplicados herbicidas com diferentes mecanismos de ação, devidamente registrados para a cultura. Não havendo produtos alternativos, recomenda-se a rotação de culturas que possibilite o uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação.





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