sábado, 21 de março de 2020

Cultura da Mamona


A mamona é uma planta que possui um teor de óleo muito elevado (48-60%) nas sementes. As características de adaptabilidade da planta em diferentes ecossistemas e a possiblidade de seu cultivo em áreas marginais a tornam importante alternativa tanto para cultivo em safra quanto em safrinha. No Brasil é cultivada principalmente na região Nordeste.  A Embrapa pesquisa a cultura da mamona desde 1987, e foram desenvolvidas quatro cultivares e vários sistemas de produção. O óleo de mamona é uma matéria prima importante para a indústria química, visto ser a  única fonte comercial de ácido ricinoleico, que compreende cerca de 90% do teor do óleo. Além das principais utilizações do ácido ricinoleico, há também uma recente exploração deste óleo vegetal como biocombustível e de novos produtos derivados do óleo de rícino. Novos produtos derivados do óleo de mamona surgem todos os dias, aumentando a demanda no mercado global, e tornando essa maior que a oferta.
Importância econômica
O óleo extraído das sementes de mamona é um dos mais nobres existentes no mercado mundial, e o Brasil é um dos seus maiores produtores. Desde a antiguidade, esse óleo foi utilizado como vermífugo; já serviu há 1.900 anos para iluminação de ambientes, como combustível, segundo o historiador Plínio (Historiorum Mundi); ou, ainda, foi usado como lubrificante nas engrenagens e mancais dos inúmeros engenhos de cana-de-açúcar da era Colonial brasileira. É o único óleo existente no mercado mundial que suporta variadas condições de pressão e altas temperaturas sem perder a viscosidade, já que sua estrutura química é diferenciada dos demais óleos pela presença de 90% de >ácido ricinoleico.

Na atualidade a mamoneira tem outros e ampliados usos, sendo cultivada em mais de 20 países tropicais e temperados, no caso os mais quentes, com destinação quase exclusiva para fins industriais.

O óleo das sementes é um produto de alto valor para fins industriais, já que ele queima sem deixar resíduos e suporta altas temperaturas sem perder a viscosidade. Por isso que as indústrias químicas e de lubrificantes e o mercado em geral o tem como excelente lubrificante para motores de alta rotação, sendo empregado pela indústria aeronáutica e nos freios de automóveis. Segundo Coelho (1979), citado por Embrapa (2001), “o óleo de mamona é mais usado, em termos quantitativos, na fabricação de tintas, vernizes, cosméticos e sabões. É também importante na produção de plásticos e de fibras sintéticas. Deve-se mencionar que as fibras em cujas composições entra o óleo de mamona são antitóxicas e antialérgicas”. É também usado na fabricação de  plásticos, máscaras contra gases, pergaminhos, perfumes, sabonetes finos e pomadas, com a vantagem de ser um produto renovável e barato, se o comparativo for com o petróleo, dada a quantidade expressiva de usos semelhantes entre as duas substâncias naturais. Diante do portfólio dos subprodutos de uma tradicional indústria esmagadora de bagas de mamona – indústria essa chamada de “ricinoquímica” – impressiona a variação de empregos alternativos do óleo de mamona: são mais de 400 subprodutos derivados desse óleo, incluindo-se entre eles, medicamentos, fungicidas, biodiesel, lentes de contato, lubrificantes e aditivos para tanques de combustível de aeronaves (EMBRAPA, 2001), sendo o melhor óleo para lubrificação de motores a jato, como fluído nas  instalações hidráulicas, como base para a manufatura da maioria dos cosméticos e de muitos tipos de drogas farmacêuticas. É empregado também na biomedicina, em filtros hospitalares, na elaboração de próteses ósseas e implantes, substituindo o silicone, como ocorre em cirurgias ósseas, de mama e de próstata.

Os usos do óleo da mamona são bastante diversos. Uma das aplicações de grande valor econômico do óleo de mamona é na fabricação do náilon e da matéria plástica onde o seu emprego é muito importante. É útil também em vários processos industriais como a fabricação de corantes, anilinas, desinfetantes, germicidas, óleos lubrificantes de baixa temperatura, colas e aderentes em geral. Na fabricação de espumas plásticas, o óleo de mamona confere texturas variáveis desde a macia e esponjosa até a dura e rígida. É empregado, depois de desidratado, na fabricação de tintas e protetores ou isolantes (EMBRAPA, 2001, apud SAVY FILHO, et al., 1999).

Os preços do óleo de rícino praticados na última década no mercado mundial são compensadores, para a produção e comercialização, o que deu novo status à ricinoquímica. Esta indústria tem se modernizado após ser alvo de renovado interesse empresarial de produtores, de exportadores e de industriais.

A importância social do cultivo da mamoneira no Brasil está no envolvimento de grandes contingentes de agricultores familiares, especialmente no Semiárido baiano. Nessa região a mamona é grande empregadora de mão de obra, no período de entressafra das culturas de grãos. O destaque entre as regiões produtoras é Irecê-BA . Acontece que, como se trata de cultura de ciclo anual, a ricinocultura exige grandes investimentos na organização e assessoramento técnico dos produtores, o que tem sido historicamente deficitário no âmbito da agricultura familiar brasileira. Estaria aí uma explicação para a frustração com os incentivos do Governo Federal a partir da safra 2004/2005, quando passou-se a esperar um grande crescimento da área plantada, da produtividade e da produção nos anos seguintes (Figuras 1, 2 e 3). É que a agregação de novas utilidades técnicas ao óleo de mamona, ou seja, com a fabricação do biodiesel poderia ter movimentado vários outros segmentos industriais. Essa situação nova, então, favoreceria o crescimento da ricinocultura também nos Cerrados das regiões Nordeste e Centro-Oeste, em sistemas totalmente mecanizados.

Verificou-se que outras oleaginosas, apesar de também terem safras anuais como a mamoneira – sementes de girassol, linhaça, gergelim, grãos de soja e milho, polpa e  amêndoa de palma (dendê), amêndoas de coco-da-praia, coco babaçu, pequi, buriti, carnaúba e outras palmeiras, maracujá, caroço de algodão, sementes de girassol –, não impediram a manutenção da competitividade do óleo de mamona nos mercados nacional e mundial, apesar daquelas outras terem maior competitividade diante da necessidade de ganhos em escala.

Nos últimos dez anos mantiveram-se praticamente inalterados parâmetros como área plantada, produtividade e produção, indicando que ações da indústria ricinoquímica nas compras com preços mínimos acima dos apresentados pela Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), e os avanços tecnológicos permitidos pelo sistema nacional de inovação, viabilizaram regular as atividades dos agentes produtivos e abastecer o mercado interno e manter o nível das históricas exportações de óleo de rícino. Na década passada, a indústria ricinoquímica comprou a produção de bagas de mamona que garantiu as atividades regulares das indústrias, sem maiores sobressaltos diante da movimentação que a cultura da mamona teve através de ações do Governo Federal como o “Selo Combustível Social”, com as reduções tributárias, PIS/PASEP e COFINS, e que eram formas de se buscar a introdução da produção de biodiesel no Semiárido brasileiro.

Contudo, e independente disso, as informações seguintes divulgadas pelo Governo Federal demonstram que a produção de mamona continua estratégica para o Brasil atual, visto que para cumprir a meta de produção de biodiesel será necessário o aumento da produção de oleaginosas e a mamona deverá ter importante papel neste sentido.

As empresas responsáveis pelas atividades industriais da cadeia produtiva da mamona são indústrias esmagadoras e refinadoras que produzem em diversos processos industriais. Há dois tipos de indústrias relacionadas com a cadeia produtiva da mamona: algumas processam a mamona e obtêm o óleo e a torta e outras utilizam o óleo como matéria-prima, sendo que as primeiras são em menor número em relação às segundas. Segundo Silva; Lino (2012), “a quantidade de indústrias processadoras de mamona reduziu nos últimos anos em função do processo de redução da produção brasileira de mamona que levou algumas indústrias à falência”.

Segundo Freire e Severino (2006), o óleo de mamona poder ser classificado comercialmente em três tipos:

Óleo Industrial nº 1: tipo comercial ou standard, límpido, brilhante, com o máximo de 1% de acidez e de 0,5% de impurezas e umidade, de coloração amarelo-clara;
Óleo Industrial nº 3: tipo comercial, com acidez maior que 3% e impureza maior que 1%, com cor variando do amarelo-escuro ao marrom-escuro e verde-escuro, e
Óleo Medicinal nº 1: também denominado extrapale, por ser praticamente incolor; é absolutamente isento de acidez e de impurezas, e brilhante.
No Brasil, em 2004/2005, o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) despertou o interesse de várias indústrias em desenvolver projetos para processamento de mamona e de outras oleaginosas. As forças de mercado têm convergido para um aproveitamento estratégico da soja, como a oleaginosa que mais ocupa área atualmente no Brasil. Mas as indústrias de processamento estão acompanhando o desempenho do mercado e das políticas voltadas ao biodiesel, com vistas a melhor avaliar seus investimentos. Nesse sentido, as regiões limítrofes entre o Semiárido brasileiro e o Cerrado continuam sendo estratégicas, já que poderá se utilizar de diversas oleaginosas (soja, algodão, girassol) para a produção de biodiesel. O desempenho das lavouras de mamona precisariam passar por alterações significativas até atingir o desempenho que se esperou no lançamento do PNPB.

Diante de estatísticas de agroindustrialização de produto e subprodutos da mamoneira, o papel da agricultura familiar é, naturalmente, o de buscar agregar valor às suas colheitas, transformando-as em óleo, em torta, e nos diversos itens já relatados no presente texto. Mas os produtores da matéria-prima precisariam ter a propriedade das indústrias esmagadoras e refinadoras, certamente de forma coletiva, para que isso pudesse se transformar em realidade. Acontece que não é essa a situação dos plantadores de mamona, especialmente no Semiárido brasileiro. Em Jacobina-BA, por exemplo, uma das principais regiões produtoras do Estado da Bahia - que é o estado maior produtor do Brasil -, não só os agricultores familiares não tem empresa responsável pela comercialização de mamona como não tem como impedir a ação dos intermediários comerciais entre eles mesmos e as indústrias. Aliás, a própria competitividade dessas empresas é questionável, na medida em que se tem decretado falência das mesmas muito frequentemente (SILVA; LINO, 2012).

A vinculação da cultura da mamona com a agricultura familiar no Brasil se dá pela sua resistência a déficits hídricos e à boa adaptação às condições edafoclimáticas do Semiárido brasileiro. Trata-se de uma cultura que pode ter pouca mecanização nos seus tratos, e produz boas safras também se for cultivada de forma consorciada com feijão e milho. Isso é ideal para a agricultura familiar. Mas essa ricinocultura se encontra num quadro de não crescimento, em contraste com muitas outras cadeias produtivas do agribusiness brasileiro. Basta verificar que, nos últimos 35 anos, a área plantada evoluiu negativamente de quase 500 mil hectares para flutuar em torno de uma média de 150 mil hectares. Em termos de produção, isso significou quase atingir a marca de 400 mil toneladas, e refluir para uma média de 100 mil toneladas anuais. Na produtividade, se chegou a 1.141 kg/ha, na safra 1976/1977, mas daquele período de tempo até a safra 2010/2011 a média anual chega a 602kg/ha (CONAB, 2012).

Figura 1
Figura 1. Área plantada de mamona no período de 2001 a 2011, com dados do Brasil e da Bahia, principal estado produtor.

Fonte: CONAB (2012).

Figura 2
Figura 2 Produção de mamona no período de 2001 a 2011, com dados do Brasil e Bahia, principal estado produtor.

Fonte: CONAB (2012).

Figura 3
Figura 3. Produtividade média de mamona no período de 2001 a 2011 do Brasil e principais estados produtores.

Fonte: CONAB (2012).

Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO-ONU), a  produção de óleo de rícino da Índia tem crescido nos últimos 5 anos, e a produção chinesa vem apresentando oscilações, com quedas frequentes, se se tiver em conta que, em 2005, a China chegou a produzir 250 mil toneladas métricas. Já a produção brasileira, embora tenha comportamento similar à chinesa, vem apresentando crescimento: chegou a produzir 146 mil toneladas métricas em 2005. Além de maior área cultivada, a Índia tem conseguido obter produtividades superiores à brasileira, tendo já produzido 1.238kg/ha, em 2004.

Tabela 1. Produção mundial de óleo bruto de mamona e valor da produção em 2010.
Posição
Área
Valor da Produção (Int $1000)*
Produção (toneladas)**
1
Índia
445.240
1.150.000
2
China
69.426
180.000
3
Brasil
35.332
93.025
4
Moçambique
14.481
38.600
5
Paraguai
4.987
13.000
6
Tailândia
4.744
12.197
7
Etiópia
3.211
8.400
8
Angola
2.830
7.500
9
Vietnã
2.294
6.000
10
África do Sul
2.100
5.500
Dados não-oficiais: * / Dados oficiais: [ ] / Im: da FAO, baseados numa metodologia de  atribuição / 1000$ Int: milhares de dólares internacionais. Ver conceito em http://faostat.fao.org/site/379/DesktopDefault.aspx?PageID=379. Acesso em 01/03/2012.
Fonte: FAOSTAT (FAO-ONU), 2012.











quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Comercialização e Coeficientes Técnicos do Gergelim



Comercialização

No Nordeste, a comercialização do gergelim é bastante pulverizada e de difícil organização, principalmente por ser proveniente de pequenos agricultores, onde se concentra a maior parte da produção. Nessa situação, o ideal é que os agricultores se organizem em cooperativa e associações para fomentar o cultivo em comunidade, visando a um planejamento antecipado para maior eficiência e rentabilidade da exploração do gergelim. E, a partir desse sistema de organização, explorar a agregação de valores à produção, seja por meio da extração de óleo, seja pelo processamento dos grãos para uso na alimentação, pois existe um mercado potencial em expansão para atender às indústrias oleoquímica e alimentícia, podendo constituir-se em fontes de alimentos e renda que contribuirão significativamente para melhorar a dieta alimentar e desenvolvimento rural com sustentabilidade.

No setor industrial, existem algumas firmas compradoras tradicionais, como a Istambul e a Sesamo Real, ambas de São Paulo, e outras pequenas empresas, como a Coopernut e a Produtos do SOL na Paraíba, e a Germina no Rio Grande do Norte, que processam o gergelim para a produção de concentrados proteicos e fazem esmagamento para obter óleo vegetal.

Coeficientes técnicos
Tabela 1. Coeficientes técnicos por hectare em solo já cultivado (KOURI et al., 2009).
Discriminação
Unidade
Quantidade
1. OPERAÇÕES AGRÍCOLAS (serviços)


1.1. Distribuição de calcário
d/h
2
1.2. Preparo do solo


1.2.1. Aração
h/m
3
1.2.2. Gradagem niveladora
h/m
1
1.3. Abertura de sulcos
d/h/a
0,5
1.4. Distribuição de esterco
d/h
2
1.5. Plantio
d/h
2
1.6. Capinas


1.6.1. Capina com cultivador
d/h/a
2
1.6.2. Repasse com enxada e raleio
d/h
15
1.6.3. Capina com enxada
d/h
10
1.7. Controle de formigas
d/h
1
1.8. Colheita


1.8.1. Corte e formação de feixes
d/h
3
1.8.2. Amarração dos feixes e empilhamento
d/h
7
1.9. Beneficiamento


1.9.1. Batedura e limpeza
d/h
7
1.10. Transporte interno
d/h/a
0,5
2. MATERIAIS CONSUMIDOS (insumos)


2.1. Calcário dolomítico
t
2
2.2. Esterco bovino
m3
30
2.3. Sementes de gergelim
kg
3
2.4. Formicida
kg
1
2.5. Sacaria
U
30
2.6. Barbante
Rolo
8
Nota 1: h/m= hora máquina; d/h = dia homem; d/h/a= dia homem/animal.
Nota 2: produtividade de 1.000 a 1.500 kg de sementes de gergelim por hectare, onde a precipitação média pluvial varia de 400 mm a 600 mm bem distribuídos durante o ciclo da cultura.
Nota 3: dados obtidos em Unidades de Teste e Demonstração em áreas de agricultores familiares.




segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Composição química e usos do Gergelim



As sementes de gergelim são pequenas, achatadas, de coloração variando do branco ao preto. Contêm aproximadamente 25% de proteína, vitaminas do complexo B, B1, B2 e niacina. São ricas em constituintes minerais, como cálcio e ferro, fósforo, potássio, magnésio, zinco e selênio. Sua utilização em âmbito industrial envolve a fabricação de pães, biscoitos, bolos, salgados, doces e balas. O óleo, principal produto desta planta, extraído de suas sementes, é muito rico em ácidos graxos insaturados, como o oleico (média de 47%) e linoleico (média de 41%). É um óleo especial e muito procurado, apresentando vários constituintes secundários importantíssimos na definição de suas qualidades, como sesamol, sesamina, sesamolina e gama tocoferol, que determinam sua elevada qualidade, em especial, a estabilidade química em decorrência da resistência à rancificação por oxidação, propriedade atribuída ao sesamol.

Por ser resistente à rancificação, possui a qualidade marcante de permanecer fresco por longos períodos de tempo; alimentos, doces, margarinas e produtos de panificação fabricados com óleo de gergelim permanecem livres de rancidez num espaço de tempo dez vezes maior que aqueles fabricados com alguns dos melhores óleos vegetais conhecidos.

O teor de óleo representa de 44% a 58% do peso das sementes. A torta é rica em proteínas (39,7%) e baixo teor de fibras (4,7%) com elevados teores de vitaminas do grupo B e alta concentração de aminoácidos, que contêm enxofre, especialmente a metionina (1,48%), sendo essa concentração de duas a três vezes mais elevada que a encontrada nas tortas de soja, algodão e amendoim.

As sementes descascadas, tostadas e moídas são usadas na produção de uma pasta espessa (manteiga) conhecida como “tahine”, tradicionalmente empregada na culinária do Oriente Médio. Judeus e Árabes adicionam açúcar ao tahine para confecção do “halawe”. Os Turcos fazem a “halvah”, uma mistura de queijo com gergelim torrado prensado recoberto com açúcar ou mel. Em comidas típicas da Índia, o gergelim é incorporado para elevar o nível de aminoácidos sulfurados nos alimentos, como a “dosa”.

Suas sementes podem também ser usadas como tempero em saladas e arroz, ou ingeridas diretamente in natura. A semente torrada e moída (farinha) é usada como massa para biscoito, bolachas, bolos, doces, sopas, mingaus, pães e pastas, a qual pode ser empregada também no enriquecimento de alimentos, sobretudo os da merenda escolar. No Nordeste do Brasil, as sementes do gergelim são tradicionalmente usadas no preparo de alimentos, como paçocas, cocadas, tijolinhos, fubá e pé de moleque.

A torta de gergelim, subproduto da extração do óleo, pode ser destinada à alimentação humana e animal, sem quaisquer restrições em virtude de seu alto teor de proteína (39,77%) e baixo teor de fibras (4,7%). Obtida por prensagem (método Expeller) dos grãos, a torta possui ainda 8,2% de umidade, 12,8% de óleo, 22,8% de carboidratos e 11,8% de cinzas.

As preparações caseiras incluem, além dos alimentos, o preparo de produtos de uso interno e externo (fitoterápicos e fitocosméticos conforme a sabedoria popular e repassados de pai para filho por gerações) e são recomendadas pela medicina popular. O chá das folhas é adstringente para diarreia; o óleo das sementes é usado em emplastros contra queimaduras e ainda galactagogo, antirreumático e anti-inflamatório. Na aromaterapia, é base para as composições sinérgicas dos óleos essenciais.

Com a finalidade de valorizar o cultivo do gergelim, algumas receitas/formulações/adaptações foram testadas e analisadas no Laboratório de Tecnologia de Alimentos da Embrapa Algodão (LTA) e por seus parceiros (como a Embrapa Agroindústria de Alimentos). Os produtos adaptados e/ou desenvolvidos estão arrolados num portfólio, que inclui produtos de consumo caseiro e diário, produtos indicados para merenda escolar e dietas especiais, produtos com nível de exportação e que envolvem alta tecnologia de produção (como os extrudados expandidos e farinhas instantâneas).

Relacionam-se aqui algumas indicações e receitas que foram testadas e analisadas no Laboratório de Tecnologia de Alimentos da Embrapa Algodão (LTA) e seus parceiros, e que se constituem em excelentes opções de alimentação à saúde da população, além de fonte alternativa de renda ao produtor e sua família.

Receitas alternativas com gergelim
(indicadas para a alimentação diária, merenda escolar e comercialização)

1. Biscoito de gergelim


Ingredientes

    1 xícara (chá) de farinha de gergelim
    1 xícara (chá) de açúcar
    250 g de amido de milho
    250 g de farinha de trigo
    100 g de manteiga
    2 colheres (sobremesa) de fermento
    3 ovos
    1 colher (chá) de sal

Modo de preparo

Torrar as sementes de gergelim e triturar no liquidificador. Bater a manteiga com açúcar até ficar um creme. Juntar os ovos. Acrescentar a farinha de gergelim, o amido de milho, o fermento, o sal e a farinha de trigo, até desprender das mãos. Enrolar a massa e cortar em quadradinhos. Colocar sementes de gergelim para decorar e amassar com garfo. Assar em forno à temperatura de 180º C. Cada tabuleiro leva aproximadamente 20 minutos para assar (Figura 1). Rendimento: 500 g de biscoitos.


2. Bolo de gergelim com coco


Ingredientes

Massa

    2 colheres (sopa) de gergelim torrado e triturado
    250 g de manteiga
    2 ½ xícaras (chá) de açúcar
    2 ½ xícaras (chá) de farinha de rosca
    1 xícara (chá) de chocolate em pó solúvel
    1 xícara (chá) de leite
    2 colheres (chá) de fermento em pó
    1/2 coco fresco ralado
    3 ovos

Recheio

    1 lata de leite condensado
    1 litro de leite
    ½ coco ralado
    2 gemas
    1 colher (sopa) de amido de milho

Cobertura

    1 lata de creme de leite
    2 colheres (sopa) de chocolate em pó solúvel
    5 colheres (sopa) de açúcar

Modo de preparo

Massa

Bater a manteiga com o açúcar e as gemas aos poucos, acrescentar os ingredientes secos e o leite. Bater as claras em neve e misturar suavemente aos outros ingredientes. Colocar a massa em forma untada e polvilhada. Levar ao forno à temperatura de 180 ºC para assar por, aproximadamente, 30 minutos.
Obs.: Forma com furo central nº 24.

Recheio

Misturar tudo e levar ao fogo mexendo sempre até engrossar. Colocar no centro e nas laterais do bolo.

Cobertura

Levar tudo ao fogo até desprender da panela, despejar sobre o bolo para formar uma camada fina. Decorar a gosto (Figura 2). Rendimento: de 20 a 25 porções.


3. Cocada de gergelim


Ingredientes

    1 coco médio (ralado)
    1 copo (americano) de gergelim
    3 copos (americano) de açúcar
    1 lata de leite condensado

Modo de preparo

Juntar todos os ingredientes em uma panela e levar ao fogo, mexendo sempre. Retirar do fogo quando estiver desprendendo da panela, depois de aproximadamente 40 minutos. Espalhar sobre uma superfície lisa. Molhar a lâmina de uma faca e cortar as cocadas, ainda quentes, no tamanho desejado. Guardá-las em vidro ou em saco plástico (Figura 3). Rendimento: 1 kg.


4. Gersal


Ingredientes

1 copo de gergelim torrado
Sal a gosto

Modo de preparo

Triturar o gergelim em moinho ou liquidificador. Juntar o sal a gosto. Colocar em vidro bem tampado. NOTA: Usa-se uma colher (chá) sobre a comida.


5. Doce de gergelim (Espécie)


Ingredientes

    1 copo americano de gergelim
    1 copo americano de farinha de mandioca
    1 colher de sopa de manteiga
    1 colher de sopa de cravo da índia torrado
    ½ copo americano de castanha de caju assada e sem pele
    4 copos americano de mel de rapadura 

Modo de preparo

Colocar o gergelim numa panela e levar ao fogo para torrar. Quando estiver estalando, retirar do fogo e continuar mexendo até esfriar um pouco. Medir o cravo e a castanha e misturar tudo. Passar no moinho (ou liquidificador) e colocar numa panela. Juntar o mel e a manteiga. Levar ao fogo, mexendo sempre. Retirar do fogo quando começar a aparecer o fundo da panela. Colocar em recipiente de boca larga com tampa (Figura 4).
IMPORTANTE: O gergelim pode ser moído ou liquidificado. Para não “embolar” deve-se colocar, no liquidificador, uma porção de gergelim e igual quantidade de farinha de mandioca, pois a farinha “enxuga” o gergelim.


6. Tijolinho de gergelim


Ingredientes

    1 copo americano de gergelim
    2 copos americano de açúcar
    ½ copo de água

Modo de preparo

Colocar o açúcar numa caçarola e levar ao fogo para fazer a calda caramelada (calda para pudim). Quando estiver derretido, juntar a água. Deixar dissolver todo o açúcar. Juntar o gergelim e mexer uma vez ou outra. Quando estiver soltando das paredes da panela, está no ponto. Retirar a panela do fogo e continuar mexendo, a fim de endurecer um pouco. Espalhar sobre uma tábua ou superfície lisa. Retirar os tijolinhos e embalar em papel celofane.


7. Fuba de gergelim (Paçoca)


Ingredientes

    1 copo de gergelim torrado
    2 copos de farinha de mandioca
    ½ copo de açúcar

Modo de preparo

Juntar o gergelim e a farinha. Passar no moinho ou liquidificador. Peneirar juntamente com o açúcar. Guardar em vidro.

8. Pé de moleque de gergelim

Ingredientes

    1 rapadura grande ou duas pequenas
    1 prato raso de gergelim torrado
    Manteiga para untar

Modo de preparo

Levar a rapadura (em pedaços pequenos) ao fogo com um pouco de água para derreter. Coar depois em um pano. Levar ao fogo para engrossar até o ponto de bala mole. Retirar do fogo e colocar o gergelim. Bater até começar a açucarar. Despejar em superfície untada com manteiga. OBS: Cortar, ainda morno, no formato desejado.  

9. Empadas com gergelim


Ingredientes

    ½ xícara (chá) de gergelim torrado e triturado
    300 g de manteiga
    450 g de farinha de trigo
    3 colheres (sopa) de água fria
    1 colher (chá) de sal
    2 gemas

Modo de preparo

Misturar muito bem todos os ingredientes, sem sovar; abrir pequenas porções da massa nas mãos, forrar a forma de empada e encher com o recheio, à escolha (frango ou camarão). Depois de colocar o recheio, cobrir a empada, pincelar com gema e decorar com sementes de gergelim. Levar ao forno à temperatura de 180 ºC por, aproximadamente, 20 minutos (Figura 5). Rendimento:100 empadas.


10. Coxinha com gergelim


Ingredientes

    ½ xícara (chá) de gergelim torrado e triturado
    2 xícaras (chá) de farinha de trigo
    1 kg de peito de frango
    2 ovos
    200 g de farinha de rosca

Modo de preparo

Cozinhar o frango com todos os temperos, uma colher (sopa) de farinha de gergelim e água suficiente para formar um caldo. Depois de cozido, reservar o caldo, que deve ser de aproximadamente 400 ml, para fazer o pirão com a farinha de trigo e a farinha de gergelim (até desprender da panela). Deixar esfriar, modelar as coxinhas e colocar o recheio; passar em ovos batidos e na farinha de rosca; fritar em óleo bem quente para não abrir a massa (Figura 6). Recheio: Desfiar o frango e temperar a gosto.



11. Cookie de gergelim: uma proposta para o aproveitamento da torta na merenda escolar


Ingredientes

1 xícara (chá) de manteiga sem sal
1 xícara (chá) de açúcar mascavo
1 ovo; 1 colher (chá) de baunilha
2 ½ xícaras (chá) de farinha de trigo
1 colher (chá) de fermento em pó
1 xícara (chá) de raspas de chocolate meio amargo
½ xícara (chá) de gergelim triturado
Sal a gosto

Modo de preparo

Bater numa batedeira planetária a manteiga e o açúcar mascavo até a obtenção de um creme claro e fofo; posteriormente, adicionar os ovos e a essência de baunilha. Após bem homogeneizado, adicionar (um a um homogeneizando bem) a farinha peneirada, sal, as gotas de chocolate, o gergelim triturado e por último o fermento. Logo em seguida, retirar a massa em mesa de inox (ou granito, mármore, etc.) higienizada e recortada nos tamanhos de aproximadamente 4 cm de diâmetro. Colocar os biscoitos em forma previamente untada e enfarinhada e levá-los ao forno pré-aquecido a 200º C para assar e dourar por, aproximadamente, 15 minutos. Após assados, deixar esfriar sobre o fogão (Figura 7).


Produtos adaptados e/ou desenvolvidos que envolvem alta tecnologia de produção

1. Farinha instantânea de milho e de gergelim integral por extrusão (Figura 8).

Matéria-prima: Milho e gergelim (Grits de milho com granulometria média de 850 μm e grãos de gergelim integral “BRS SEDA”).
Condicionamento – Umidade de 15%.
Extrusão – Temperatura de 100 ºC a 160 ºC.
Secagem – 5% a 7% de umidade final.
Moagem – Farinha instantânea.


2. Extrudados não expandidos (pellets) de milho e de gergelim integral (Figura 9).


Matéria-prima: Grits de milho e gergelim in natura.

Mistura e condicionamento – Umidade de 27%.

Extrusão – Baixa taxa de cisalhamento com temperatura da última zona inferior a   100 ºC

Corte – Com 3 cm.

Embalagem e comercialização dos pellets secos e/ou Expansão dos pellets com fritura em gordura hidrogenada de palma (180 ºC e embalagem dos pellets expandidos em lâmina plástica).



3. Utilização Parcial da farinha extrudada de gergelim em biscoitos à base de arroz (Figura 10).


Matéria-prima: Gergelim na forma de semente e torta (resíduo da extração do óleo) e arroz.

Condicionamento – 15% de umidade.

Extrusão – 100 ºC a 160 ºC.

Secagem – 5% a 7% de umidade final.

Moagem – Farinha instantânea.



Produtos adaptados e/ou desenvolvidos que envolvem alta tecnologia de produção
Os produtos à base de gergelim produzidos por comunidades de agricultores familiares atendidos por projetos vinculados ao laboratório de tecnologia de alimentos (LTA) da Embrapa algodão incluem:

1. Óleos (Figuras 11 e 12).


Figura 11. Óleo de gergelim orgânico extraído a frio por agricultores familiares da Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA) em Simplício Mendes, PI.


Figura 12. Biscoito e óleo de gergelim extraído a frio por agricultores familiares vinculados à Cooperativa de Agricultores Familiares de Lucrécia (Coafal) em Lucrécia, RN.

 

2. Doces, cocadas e bolos (Figuras 13 e 14).


Figura 13. Doce de gergelim confeccionado para comercialização por agricultores familiares da Cooperativa de Agricultores Familiares de Lucrécia (Coafal) em Lucrécia, RN.



Figura 14. Produtos diversos à base de gergelim (doce, cocada, biscoito e bolo) confeccionados para comercialização por agricultores familiares da Cooperativa de Agricultores Familiares de Lucrécia (Coafal) em Lucrécia e Marcelino Vieira, RN.

 

3. Farinhas e multimisturas (Figura 15).

Figura 15. Farinha de gergelim, multimistura (com gergelim) e produtos diversos elaborados para comercialização por mulheres integrantes da Cooperativa de Produção e Suplementos Naturais de Campina Grande LTDA (Coopernut) em Campina Grande, PB.




Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *