quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Pragas do Amendoim


Manejo integrado de pragas

Introdução

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) se refere ao uso racional e integrado de várias táticas no contexto do ambiente em que a praga se encontra, de maneira a complementar e facilitar a ação dos agentes de controle biológico e levando-se em consideração aspectos econômicos, toxicológicos, ambientais e sociais. As táticas são as ações que devem ser implementadas para que as populações das pragas sejam mantidas abaixo dos níveis de dano econômico (nível no qual o prejuízo causado equivale ao custo de controle). Portanto, o MIP é um arcabouço de medidas que precisam ser tomadas em conjunto para o sucesso na redução dos prejuízos causados por pragas. E, portanto, não se trata necessariamente do uso integrado de diversos métodos de controle ou ferramentas de controle.
No MIP, as principais táticas são as seguintes:
  1. Reconhecimento das pragas-chave: as pragas-chave são aquelas que ocorrem com frequência e cujas populações podem superar os níveis tolerados pelos agricultores. Portanto, se referem àquelas pragas que invariavelmente causam prejuízo. Destaca-se que uma praga pode ser chave numa região, mas pode não ser em outra. Portanto, é muito importante se reconhecer as pragas que são importantes na região em que a cultura está sendo conduzida.
  2. Reconhecimento dos agentes de controle biológico: diversos organismos (insetos, ácaros, aranhas, fungos, etc.) podem contribuir para o controle das pragas. Assim, esses agentes precisam ser conhecidos e favorecidos nos agroecossistemas, pois desempenham importante papel na regulação das populações dos insetos que se alimentam das plantas (= pragas).
  3. Amostragem: a determinação da quantidade de pragas é fundamental para se verificar o tamanho da população. A amostragem pode ser realizada de diversas formas, sendo que, para o amendoim, adota-se principalmente a visualização e contagem de insetos e ácaros nas lavouras. As informações devem ser anotadas em ficha própria para acompanhamento da dinâmica das pragas e, consequentemente, verificação da necessidade de tomada de decisão de controle.
  4. Táticas de controle: as medidas de controle devem ser tomadas somente quando os níveis populacionais se aproximarem do nível de dano econômico. Em geral, o controle químico é o principal método de controle adotado na cultura do amendoim. Portanto, níveis de controle (que são níveis populacionais inferiores aos níveis de dano econômico) devem ser utilizados. O uso de variedades resistentes também é uma tática interessante de controle que está em desenvolvimento e poderá ser bastante útil ampliar o número de possibilidades de métodos-controle na cultura.

Pragas-chave do amendoim

Diversos insetos e ácaros ocorrem durante o ciclo fenológico da cultura, atacando tanto a parte subterrânea quanto a parte aérea da planta. Entretanto, nem sempre a ocorrência destes organismos na cultura representa um risco à sua produtividade, dependendo principalmente do nível populacional da praga e dos danos provocados. Na cultura do amendoim, as principais pragas que ocorrem em praticamente todas as regiões produtoras são: tripes-do-prateamento e lagarta-do-pescoço-vermelho.
Tripes-do-prateamento
Enneothrips flavens (Thysanoptera: Thripidae)
Esta é uma praga que possui preferência pela cultura do amendoim. Portanto, é bastante comum em todas as regiões produtoras. Os adultos apresentam coloração cinza com cerca de 2 mm de comprimento (Figura 1). As fêmeas podem se reproduzir por partenogênese. A postura é endofítica, ou seja, os ovos são colocados no interior do tecido vegetal dos folíolos fechados ou semiabertos. As ninfas, que apresentam coloração amarelada ou esbranquiçada vivem nos folíolos fechados, onde se alimentam. Ao final do período ninfal, os insetos empupam no solo. O ciclo de desenvolvimento é de 15 dias (Tabela 1), podendo ser mais curto sob condições de temperaturas mais elevadas.
Foto: Odair Aparecido Fernandes
Figura 1. Adulto de Enneothrips flavens em folíolo de amendoim.
Tabela 1. Ciclo de desenvolvimento do tripes-do-prateamento, Enneothrips flavens(Thysanoptera: Thripidae).
Ciclo
Estágios
Ovo
Larva
Pré-pupa
Pupa
Adulto
I
II
Duração
6 dias
2 dias
4 dias
2 dias
1 dia
-
Local de Ocorrência
Folíolos fechados ou semiabertos
Solo
Folíolos fechados ou
semiabertos

Fonte: Campos et al., 2006.
Esses insetos raspam os folíolos. Com isso, aparecem manchas prateadas nas folhas. Esta injúria causa redução na área fotossinteticamente ativa da planta e, consequentemente, pode comprometer o desenvolvimento e produção da cultura. Os folíolos atacados apresentam estrias e deformações (Figura 2). Além disso, as plantas podem estar mais predispostas a doenças foliares (ex.: verrugose). O ataque pode causar a redução de 10% a 70% na produção nas variedades de porte ereto. Em geral, o ataque é maior em períodos quentes e secos.
Foto: Taís de Moraes Falleiro Suassuna
Figura 2. Injúrias em folíolos causadas por tripes.
Lagarta-do-pescoço-vermelho
Stegasta bosquella (Lepidoptera: Gelechiidae)
Os adultos são mariposas de cor cinza-prateada com manchas douradas e apresentam 6 mm a 7 mm de envergadura (distância entre as pontas das asas). As fêmeas realizam a postura em folíolos fechados. As lagartas são esverdeadas, apresentam a cabeça escura e podem atingir 6 mm de comprimento. Os dois primeiros segmentos torácicos são avermelhados (Figura 3) e, por isso, o nome comum de lagarta-do-pescoço-vermelho. Nesta fase, os insetos alimentam-se do limbo foliar em folíolos ainda fechados (Tabela 2). Em geral, se alimentam dos folíolos jovens, ocasionando perfurações simétricas (Figura 4). Ainda, este ataque nas variedades rasteiras tem causado morte dos ponteiros e consequente redução do desenvolvimento das plantas e redução da produção.
Foto: Odair Aparecido Fernandes
Figura 3. Adulto da lagarta-do-pescoço-vermelho (Stegasta bosquella).
Tabela 2. Ciclo de desenvolvimento de Stegasta bosquella (Lepidoptera: Gelechiidae).
Ciclo
Estágios
Ovo
Lagarta
Pupa
Adulto
Duração
2-3 dias
8-15 dias
4-10 dias
6-17 dias
Local de Ocorrência
Folíolos
fechados
Folíolos fechados e galerias no interior das gemas
Solo (geralmente)
-

Fonte: Campos et al., 2006.
Foto: Taís de Moraes Falleiro Suassuna
Figura 4. Dano típico do ataque da lagarta-do-pescoço-vermelho.

Pragas secundárias

Há diversas outras pragas de importância secundária. Nas regiões de Jaboticabal e Sertãozinho, SP, destacam-se a ocorrência de surtos populacionais da lagarta-da-soja,Spodoptera spp. e algumas pragas de solo (percevejos). Todavia, há diversos outros insetos e ácaros que podem ocorrer na cultura.
Lagarta-da-soja
Anticarsia gemmatalis (Lepidoptera: Noctuidae)
Os adultos são mariposas pardo-acinzentadas com 40 mm de envergadura. As asas apresentam linha que divide o corpo ao meio e pode ser facilmente observada quando o inseto está em repouso (Figura 5). Os ovos esbranquiçados são colocados isoladamente na face inferior das folhas. As lagartas apresentam coloração esverdeada e cinco estrias brancas no dorso (Figura 6). Entretanto, elas podem apresentar outras cores. Sob altas populações, as lagartas apresentam coloração preta. Ainda, as lagartas possuem quatro pares de falsas pernas abdominais. Portanto, essas lagartas não apresentam a característica de caminhar “medindo palmo”. Ao final desta fase, podem atingir 30 mm de comprimento e empupam no solo (Tabela 3).
Foto: Raul Porfirio de Almeida
Figura 5. Adulto da lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis)
Foto: Raul Porfirio de Almeida
Figura 6. Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis).
Tabela 3. Ciclo de desenvolvimento de Anticarsia gemmatalis (Lepidoptera: Noctuidae).
Ciclo
Estágios
Ovo
Lagarta
Pupa
Adulto
Duração
3 dias
15 dias
9 dias
1-8 dias
Local de Ocorrência
Folhas
Folhas
Solo
Fêmea oviposita 500 ovos

Fonte: Campos et al., 2006.
A lagarta-da-soja se alimenta de todo o limbo foliar, causando desfolha. Com isso há comprometimento da fotossíntese e, desse modo, redução da produção de metabólitos. Essa praga ocorre sistematicamente nas regiões de Jaboticabal e Sertãozinho em surtos esporádicos, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro. Como neste período há condições propícias para a ocorrência de epizootias do fungo Nomuraea rileyi, as populações desta praga acabam sendo controladas por este agente de controle biológico (Figura 7).
Foto: Odair Aparecido Fernandes
Figura 7. Lagarta infectada pelo fungo entomopatogênico Nomuaraea rileyi.
Lagarta-marrom
Spodoptera spp. (Lepidoptera: Noctuidae)
Há diversas espécies do gênero Spodoptera, cujas lagartas podem atacar a cultura do amendoim (Figura 8). Em geral, elas ocorrem na mesma época que a lagarta-da-soja. As lagartas deste grupo apresentam coloração marrom ou preta e também causam desfolha nas plantas. Uma das espécies mais comuns na região de Jaboticabal e Sertãozinho é S. cosmioides, cujo ciclo de desenvolvimento é apresentado na Tabela 4.
Foto: Odair Aparecido Fernandes
Figura 8. Espécie do gênero Spodoptera atacando folíolo de amendoim.
Tabela 4. Ciclo de desenvolvimento de Spodoptera cosmioides (Lepidoptera: Noctuidae).
Ciclo
Estágios
Ovo
Lagarta
Pupa
Adulto
Duração
4 dias
20-28 dias
14-16 dias
10-22 dias
Local de Ocorrência
Folhas
Folhas
Solo
Fêmea oviposita mais de 1.000 ovos

Fonte: Bavaresco et al., 2003.
Percevejo-preto e percevejo-castanho
Cyrtomenus mirabilis (Hemiptera: Cydnidae)
Scaptocoris castanea (Hemiptera: Cydnidae)
Estes percevejos são pequenos insetos sugadores (cerca de 7 mm de comprimento). Todos os estágios de desenvolvimento ocorrem no solo, e tanto as ninfas como os adultos atacam o sistema radicular. No caso do amendoim, há sérios danos às vagens. Os adultos apresentam coloração marrom (Scaptocoris – Figura 9) ou preta (Cyrtomenus - Figura 10). Os ovos são colocados no solo. As ninfas são esbranquiçadas e também são encontradas associadas ao sistema radicular. O ciclo biológico destes insetos ainda é pouco conhecido. Todavia, o ciclo completo pode durar até um ano. No período chuvoso, é possível se observar revoada destes insetos. Estes insetos são polífagos, que atacam diversas culturas, inclusive cana-de-açúcar. As formas jovens e adultas aderem-se às raízes sugando a seiva, enfraquecendo a planta, podendo causar a morte. Uma característica que denuncia a presença destes insetos no campo é o forte cheiro exalado quando o solo é revolvido para plantio. As vagens afetadas produzem grãos deformados.
Foto: D. N. Gassen
Figura 9. Adulto do percevejo-castanho (Scaptocoris castanea).
Foto: Odair Aparecido Fernandes
Figura 10. Adulto do percevejo-preto (Cyrtonemus mirabilis).
Nos últimos anos, esses insetos passaram a se destacar como pragas, pois os danos causados às vagens e grãos têm aumentado consideravelmente. Estas lesões comprometem o aspecto visual do grão e, consequentemente, a comercialização (Figura 11).
Foto: Odair Aparecido Fernandes
Figura 11. Dano em grãos causado pelo percevejo-preto.
Larva-alfinete
(Diabrotica speciosa) (Germar, 1824) (Coleoptera: Chrysomelidae).
As larvas são de coloração branco-leitosa e de formato afilado (Figura 12). O adulto é vulgarmente conhecido como vaquinha (Figura 13). A larva perfura as vagens ainda não completamente formadas, além de facilitar a penetração de patógenos. O adulto alimenta-se do limbo foliar, provocando perfurações circulares.
Foto: D. N. Gassen
Figura 12. Larva-alfinete (Diabroticaspeciosa).
Foto: Raul Porfírio de Almeida

Figura 13. Adulto da larva-alfinete (vaquinha).
Lagarta-rosca
Agrotis ipsilon (Hufnagel, 1767) (Lepidoptera: Noctuidae).
As lagartas variam de cinza-escura a verde-escura, tem o hábito de quando tocadas enrolarem-se rapidamente. O adulto é uma mariposa de coloração marrom. Esta praga corta o coleto da planta em nível de solo (Figura 14). O ataque intenso reduz significativamente a população de plantas.
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 14. Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)
Lagarta-elasmo
Elasmopalpus lignosellus (Zeller, 1848) (Lepidoptera: Pyralidae).
É considerada uma das mais severas pragas para o amendoinzeiro. A lagarta apresenta listras transversais e coloração verde-azulada e produzem uma teia característica (Figura 15). Os adultos apresentam coloração pardo-avermelhada, pardo-escura a cinza. Este inseto pode atacar o ginóforo e as vagens (Figura 16). Além do dano direto, sua injúria facilita a penetração de patógenos.
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 15. Teia produzida pela lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus).
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 16. Injúrias na vagem causadas pela lagarta-elasmo.
Cigarrinha-verde
Empoasca kraemeri (Ross & Moore, 1957) (Hemiptera: Cicadellidae).
Os insetos são de coloração verde (Figura 17) e têm como característica locomover-se lateralmente. Durante a alimentação introduzem seu aparelho bucal nos vasos de seiva da planta sugando-a, deixando as folhas com as bordas voltadas para baixo e ligeiramente amareladas (Figura 18).
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 17. Ninfa de cigarrinha-verde (Empoasca kraemeri).
Foto: Taís de Moraes Falleiro Suassuna
Figura 18. Folíolos com as bordas amareladas por causa do ataque de cigarrinhas.
Gafanhoto-do-nordeste
Schistocerca pallens (Thrunberg, 1815) (Orthoptera: Acrididae).
As ninfas são de coloração verde (Figuras 19), e à medida que mudam de instar escurecem, até atingirem a cor acinzentada quando adulto (Figura 20). Esta praga remove grandes quantidades de área foliar, deixando as plantas completamente desfolhadas (Figura 21).
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 19. Ninfa de gafanhoto (Schistocerca pallens).
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 20. Adulto de gafanhoto (Schistocerca pallens).
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 21. Injúrias do gafanhoto-do-nordeste.
Curuquerê-dos-capinzais
Mocis latipes (Guenée, 1852) (Lepidoptera: Noctuidae).
As lagartas são de coloração amarelada com listras longitudinais castanho-escuras. A cabeça também apresenta estrias longitudinais amarelas. Locomovem-se como mede palmo (Figura 22). O adulto apresenta coloração parda (Figura 23). As lagartas atacam as ramas e os folíolos, podendo em altas infestações consumir toda área foliar.
Foto: Paulo Henrique Soares da Silva
Figura 22. Curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes).
Foto: Paulo Henrique Soares da Silva
Figura 23. Adulto do curuquerê-dos-capinzais.
Lagarta-da-teia
Stylopalpia costalimai (Almeida, 1960) (Lepidoptera: Pyralidae).
As lagartas apresentam coloração esverdeada a cinza. O ataque caracteriza-se pela presença de vários insetos sobre uma mesma planta, podendo até causar o seccionamento na altura do coleto. Pode ainda haver formação de um emaranhado de teia entre as hastes e a região do coleto.
Ácaro-rajado
Tetranychus urticae (Koch, 1836) (Acari: Tetranychidae).
Estes artrópodes são de tamanhos bastante reduzidos, apresentando na sua fase adulta quatro pares de pernas. Tem como característica principal duas manchas escurecidas na face dorsal do corpo. Localizam-se na face inferior dos folíolos e tecem considerável quantidade de teia; em altas infestações migram para o ponteiro da planta para dispersão. As injúrias são muito parecidas com as causadas por tripes. Durante a alimentação introduzem seus estiletes nas células das folhas e sugam o conteúdo celular extravasado. As plantas geralmente apresentam as folhas cloróticas, e com a evolução do ataque tornam-se bronzeadas, podendo cair.
Ácaro-vermelho
Tetranychus evansi (Baker & Pritchard, 1960) (Acari: Tetranychidae). Morfologicamente estes ácaros são muito parecidos com o ácaro-rajado, porém apresentam coloração vermelha intensa (Figura 24). Os sintomas são os mesmos do ácaro-rajado, ou seja, formação de teia e clorose nos folíolos.
Foto: Raul Porfírio de Almeida
Figura 24. Ácaro-vermelho (Tetranychus evansi).
Os ácaros não são tão importantes como praga do amendoinzeiro em condições normais, entretanto, quando da ocorrência de veranico (alta temperatura e baixa unidade), podem se tornar problema sério, pois nestas condições seu desenvolvimento populacional é bastante acelerado.

Pragas de ocorrência durante a armazenagem dos grãos

Traça-das-vagens
Corcyra cephalonica (Stainton, 1865) (Lepidoptera: Pyralidae).
Foto: Bayer S.A.
Figura 25. Injúrias causadas pela traça-das-vagens (Corcyra cephalonica).

O adulto é uma pequena mariposa de coloração cinza nas asas anteriores. As lagartas são de coloração branco-pérola. No caso desta praga, apenas a forma jovem causa injúria. Os insetos atacam os grãos defeituosos sobre os quais abrem uma galeria. Em grãos inteiros, atacam a região do embrião. A lagarta ainda pode penetrar no fruto.
Gorgulho
Tribolium castaneum (Herbst, 1797) (Coleoptera: Tenebrionidae).
As larvas são de coloração branco-amarelada e os adultos são achatados de coloração castanho-avermelhada (Figura 26). Tanto os adultos como as larvas provocam perfurações nos grãos. A ocorrência desta praga está relacionada à presença, anteriormente, de uma praga primária.
Foto: Fábio Aquino de Albuquerque
Figura 26. Gorgulho (Tribolium castaneum).
Cascudinho
Alphitobius diaperinus (Panzer, 1797).
É uma praga secundária de grãos armazenados e se alimenta de produtos cereais e de ração animal. Considerada mundialmente como uma das principais pragas da avicultura moderna, foi introduzida em sistemas de produção animal, provavelmente por meio de ração contaminada, dispersando-se e se adaptando rapidamente às condições dos aviários. Os adultos apresentam coloração branca e sem quitinização, a qual é adquirida em quatro dias, passando à coloração marrom-avermelhada.

Agentes de controle biológico

Os agentes de controle biológico são agentes naturais de controle, tais como predadores, parasitoides e fungos entomopatogênicos que atuam na regulação populacional das pragas. Estes organismos têm sido pouco estudados na cultura do amendoim. Todavia, tem-se verificado a ocorrência de parasitoides e fungos entomopatogênicos principalmente sobre lagartas desfolhadoras.
Os predadores são, em geral, maiores do que as pragas e se alimentam de diversas presas para se desenvolverem. Dentre os principais predadores, podemos destacar: joaninhas, bicho-lixeiro, carabídeo, vespas, aranhas, ácaro fitoseídeo, etc. Os parasitoides, por sua vez, são muito menores do que as pragas. Assim, são pouco percebidos na lavoura. Esses insetos precisam, em geral, apenas de uma presa para se desenvolverem. Os parasitoides são, em geral, pequenas vespas ou moscas, cujas larvas se desenvolvem no interior de pragas. Um exemplo é o parasitoide de ovos Trichogramma pretiosum, que é bastante comum associado aos ovos de mariposas, cujas lagartas atacam lavouras.
Os entomopatógenos são microrganismos que causam doenças nas pragas. Os principais microrganismos são fungos, bactérias e vírus. Talvez o patógeno mais conhecido seja oBacillus thuringiensis, que causa a morte de lagartas, em geral. Na cultura do amendoim, é bastante comum a ocorrência de Nomuraea rileyi em lagartas desfolhadoras durante os períodos de alta temperatura e alta umidade. Todavia, este fungo benéfico pode ser afetado por fungicidas utilizados no controle de doenças foliares do amendoim.
É importante lembrar que os inimigos naturais sempre estão presentes em todas as lavouras. Porém, eles são grandemente afetados pela ação de inseticidas de largo espectro, ou seja, inseticidas não seletivos. Assim, é muito importante que toda e qualquer medida de controle leve em consideração a preservação dos agentes de controle biológico na lavoura.

Amostragem

A amostragem é uma ferramenta fundamental para a tomada de decisão. Munido da informação da quantidade de pragas (nível da infestação), o produtor passa a ter maior segurança para realizar ou não o controle. Portanto, a lavoura precisa ser vistoriada frequentemente para se garantir que a praga está presente e se há necessidade de se adotar qualquer medida de controle.
Para a realização da amostragem, o produtor de amendoim dever seguir alguns passos:
Dividir a área em talhões menores
É fundamental a divisão da área em talhões menores. O tamanho do talhão não deve ultrapassar (preferencialmente) 10 ha. Isso garantirá maior precisão na avaliação da população das pragas e tomada de decisão.
Pontos de amostragem
Iniciar amostragem aos 15 dias após a emergência. A amostragem pode ser feita por meio da observação da presença de tripes em 10 pontos de amostragem por talhão, sendo que cada ponto de amostragem é representado por um metro na linha (aproximadamente 3 plantas). Assim, observa-se 4 folíolos fechados de cada planta do ponto de amostragem de modo que, ao final, são avaliados 120 folíolos por talhão. As demais pragas e doenças também devem ser observadas em todas as plantas do ponto de amostragem.
Ficha de amostragem
As informações devem ser devidamente anotadas em ficha própria (Tabela 5). Isto facilita o registro e posterior análise dos dados.

Táticas de controle

O controle químico ainda é o principal método utilizado na cultura do amendoim. Como o principal alvo é o tripes-do-prateamento, inseticidas fosforados, piretroides e neonicotenoides têm sido os principais grupos utilizados. Trabalho recente demonstrou que o produto metamidofós não apresenta mais a mesma eficiência de controle observada há alguns anos. Isto pode ser um indicativo que as populações da praga podem ter desenvolvido resistência ao produto. Cabe ressaltar que este produto não é mais recomendado para o controle de tripes no amendoim e, portanto, não deve ser utilizado. Todavia, serve de alerta aos produtores para evitar o uso contínuo e restrito de um único princípio ativo.
Dessa forma, dentro do contexto do MIP é imprescindível a adoção de estratégias de manejo de resistência de insetos a inseticidas. Portanto, é imprescindível a adoção da rotação de produtos que apresentem modos de ação distintos. Ainda, a adoção de produtos seletivos ou utilização racional para se garantir seletividade permitirá que os agentes de controle biológico possam encontrar condições para atuar sobre as pragas. Isto vale também para a utilização de fungicidas que podem reduzir a ação de fungos entomopatogênicos, que podem atuar sobre insetos-praga na cultura do amendoim.

Comentários finais

A adoção do MIP é perfeitamente factível, mesmo que o produtor de amendoim utilize ferramentas básicas, como amostragem e utilização do controle químico apenas. A realização da amostragem para tomada de decisão ao invés da utilização de aplicações pré-agendadas poderá garantir ao produtor redução de custos e maior proteção ao meio ambiente e seu próprio investimento.
Com a implementação da Produção Integrada do Amendoim, o MIP passa a ser um componente obrigatório. Portanto, os produtores já devem incorporar o MIP no sistema produtivo para garantir, entre outros pontos, segurança de que as aplicações de inseticidas são executadas de acordo com critérios técnicos, baseadas em amostragem e observação ao período de carência para evitar resíduos no produto final.
Para a cultura do amendoim, a implementação do programa de MIP apresenta alguns desafios, os quais deverão ser enfrentados pelos agricultores, extensionistas e pesquisadores. Entre eles, destacam-se:
  1. Plantios em áreas arrendadas: diversos produtores de amendoim arrendam diversas áreas de reforma de canavial. Desse modo, em geral, os produtores possuem diversas áreas de produção localizadas em pontos distantes. Isso causa entraves logísticos para deslocamento de máquinas e pessoal. Portanto, os produtores têm preferido a adoção do calendário de pulverização. Com a Produção Integrada, o controle baseado no calendário não será possível. Critérios baseados no MIP deverão ser adotados.
  2. Sistema de amostragem e dos níveis para tomada de decisão para as variedades rasteiras: os poucos níveis para tomada de decisão de controle de pragas foram desenvolvidos para as variedades eretas. Assim, há escassez de informação para as novas variedades. Ainda, o sistema de monitoramento de pragas também precisa ser aprimorado. Em particular, o manejo das pragas de solo precisa ser aprimorado com a maior urgência.
  3. Alternativas aos produtos organofosforados: os produtos organofosforados têm sido muito utilizados para o controle de diversas pragas na cultura do amendoim. Ademais, os mercados consumidores têm exigido a eliminação do uso desses produtos para o controle de pragas. Assim, alternativas de controle devem ser propostas.
  4. Aprimoramento de sistema de monitoramento de ocorrência de doenças: a utilização regular de fungicidas em associação com inseticidas acaba levando os produtores a utilizarem produtos desnecessariamente em algumas ocasiões. Num trabalho realizado em Jaboticabal, verificou-se que, em média, metade dos produtos incluídos na mistura não precisaria ser aplicada (Tabela 6).
Tabela 6. Comparação da tomada de decisão de controle de pragas na produção integrada e convencional de amendoim na região de Jaboticabal, SP.
Local
Nº de Aplicações
Nº de Produtos
Produção Integrada
Produtor (convencional)
Produção Integrada
Produtor (convencional)
Dumont
6
5
1,3
3,2
Guariba
5
6
1,6
2,5
Jaboticabal
9
9
1,4
2,1
Jaboticabal
6
6
2,2
2,8
Sertãozinho
5
6
2,6
2,5
Taquaritinga
7
6
1,3
2,7
Taquaritinga
6
7
1,8
2,0
Média
6,3
6,4
1,7
2,5
Redução em relação ao convencional
1,5%
-
32%
-

Fonte: Conceição, 2009.
Com isso, verifica-se que a integração dos pesquisadores, agentes de extensão, cooperados e produtores é imprescindível para se avançar no controle de pragas do amendoim, nos quais o MIP e a produção integrada são contemplados. Seguramente, este é um dos componentes importantes de sustentação do agronegócio do amendoim.




terça-feira, 25 de outubro de 2016

Fertilidade do solo e adubação para a cultura do Amendoim


Fertilidade do solo e adubação

A maioria dos solos do Brasil, mesmo com propriedades físicas adequadas, apresenta, em geral, características químicas inadequadas, tais como elevada acidez, altos teores de alumínio trocável e deficiência de nutrientes, especialmente de cálcio, magnésio e fósforo. Mas, uma vez corrigidos quimicamente, os solos apresentam grande potencial para o cultivo do amendoim.
O amendoim apresenta facilidade de desenvolvimento na maioria dos tipos de solo, mas apresenta melhor desempenho em solos bem drenados, férteis e de textura arenosa (BELTRÃO et al., 2011), o que favorece a penetração dos ginóforos ou “esporões” no solo.
O sistema radicular do amendoim é extenso e ramificado. Apresenta raiz pivotante com ramificações laterais, o que propicia rápido crescimento inicial. A maior concentração de raízes é encontrada nos primeiros 25 cm, embora possua capacidade de atingir maiores profundidades (PINTO et al., 2008). Portanto, torna-se essencial para o bom desenvolvimento radicular a correção química do solo, visto que quanto maior o crescimento radicular maior será a tolerância ao déficit hídrico e o acesso aos nutrientes.
Para facilitar o planejamento para a correção e fertilização do solo para o cultivo do amendoim, algumas etapas devem ser seguidas:
  1. Amostragem do solo para análise química e física nas profundidades de 0 cm a 20 cm e de 20 cm a 40 cm.
  2. Verificar a necessidade de aplicação de calcário.
  3. Verificar a necessidade de aplicação de gesso.
  4. Recomendar a adubação de semeadura.
  5. Coletar folhas para avaliação do estado nutricional.

Etapa 1. Amostragem do solo

A área a ser amostrada deve ser divida em talhões uniformes em razão de indicadores de variações facilmente perceptíveis, como: topografia, cobertura vegetal natural ou uso agrícola, textura, cor, condições de drenagem, histórico de manejo e produtividade agrícola. A prática tem demonstrado que, dependendo da topografia, a área de 10 hectares possibilita uma distribuição uniforme de amostras simples (CANTARUTTI et al., 2007).
Para alcançar maior exatidão na avaliação da fertilidade média, coleta-se um número de amostras simples, não menos que 10 amostras por talhão para formar uma amostra composta. Todas as amostras simples devem ter o mesmo volume de solos e coletadas na mesma profundidade.
No cultivo de amendoim, sugere-se coletar duas profundidades, de 0 cm a 20 cm visando à recomendação de calagem e adubação e de 20 cm a 40 cm visando à recomendação de gessagem.
Os métodos de análise química de solo em uso no Brasil podem ser, em linhas gerais, categorizados em dois grupos: o primeiro fundamentado no uso do extrator ácido – Melich-1 e da solução salina de KCl, e o segundo no uso das resinas de troca iônica e do extrator quelante DTPA (CANTARUTTI et al., 2007). É importante conhecer o método utilizado pelo laboratório para interpretação dos resultados da análise de solo e posterior recomendação da adubação.

Etapa 2. Calagem

A calagem é prática fundamental para a melhoria do ambiente radicular das plantas, sendo responsável pela correção da acidez do solo. O calcário possui baixa movimentação do solo, sendo sua reação restrita à profundidade de incorporação.
O amendoim é uma leguminosa, e a acidez do solo pode comprometer a fixação biológica de nitrogênio (COX et al.,1982).
Determinação da necessidade de calagem
Para estimar a necessidade de calagem (NC), ou seja, a dose de calcário recomendada, são utilizados dois métodos: “Método da neutralização da acidez trocável e da elevação dos teores de Ca e Mg trocáveis”; e o “Método da saturação por bases” (RIBEIRO et al., 1999).
1) Método da neutralização do Al trocável e da elevação dos teores de Ca e Mg trocáveis:
Neste método, consideram-se ao mesmo tempo as características do solo e exigências das culturas. Para o cálculo é preciso conhecer a textura do solo, por meio da análise física, e conhecer os teores de alumínio, cálcio e magnésio trocáveis, mediante análise química. Este método é dividido em duas partes CA e CD:
NC (t/ha) = CA + CD
Em que:
  • CA = visa a correção da acidez por alumínio até determinado valor de tolerância da cultura à acidez (mt), e leva em consideração a capacidade tampão da acidez do solo (Y)
  • CD = correção da deficiência de Ca e Mg, assegurando um mínimo (X) desses nutrientes para a cultura
Cálculo do CA:
CA = Y [ Al+3 – (mt . t/100) ],
Em que:
  • Y é um valor variável em razão da capacidade tampão do solo e que pode ser definido de acordo com a textura do solo, conforme Tabela 1.

Tabela 1. Valores de Y para o cálculo de necessidade de calagem por causa da textura do solo.
Textura do solo
Porcentagem de argila
Y
Arenosa
0 a 15
0,0 a 1,0
Média
15,1 a 35,0
1,0 a 2,0
Argilosa
35,1 a 60,0
2,0 a 3,0
Muito argilosa
60,1 a 100
3,0 a 4,0
Fonte: Ribeiro et al. (1999).
  • Al3+ é a acidez trocável, em Cmolc/dm3, ou seja, é a quantidade de alumínio trocável no solo, este valor aparece na análise química do solo
  • mt é o valor de máxima saturação por alumínio tolerada pela cultura, em porcentagem. Para o amendoim o valor do mt é 5, ou seja, o amendoim tolera 5% de saturação por alumínio na CTC efetiva
  • t é o valor da CTC efetiva, em Cmolc/dm3; este valor aparece na análise química do solo
Observação: se o valor de CA for negativo, significa que a quantidade de alumínio presente no solo é menor que a quantidade de alumínio que a cultura é capaz de tolerar; neste caso, deve-se considerar seu valor igual a zero e continuar os cálculos da segunda parte da fórmula.
Cálculo do CD:
CD = X – (Ca2+ + Mg2+)
Em que:
  • X é o valor que representa a quantidade de cálcio e magnésio mínima que a cultura exige, no caso do amendoim, o valor de X é 2,0 Cmolc/dm3, ou seja, o amendoim precisa de no mínimo esta quantidade de cálcio e magnésio para produzir adequadamente
  • Ca2+ + Mg2+ são valores em Cmolc/dm3 de cálcio e magnésio, sendo que estes valores aparecem na análise química do solo
Observação: se o valor de CD for negativo, significa que a quantidade de cálcio e magnésio presentes no solo é maior que a quantidade que a cultura necessita; neste caso, deve-se considerar seu valor igual à zero para continuar os cálculos.
Com as duas partes calculadas e somadas, tem-se a quantidade de calcário necessária para a correção da acidez em toneladas por hectare, considerando a camada de 0 cm a 20 cm.
2) Método da saturação por bases
Neste método, considera-se a relação existente entre o pH e a saturação por bases (V). Para utilizar este método, os teores de cálcio, magnésio e potássio trocáveis e a acidez potencial (hidrogênio e alumínio) devem ser determinados por meio da análise química do solo.
A fórmula do cálculo da necessidade de calagem (NC, em t/ha) é:
NC = T .(Ve – Va)/100
Em que:
  • T é o valor da CTC a pH 7,0, que é a SB + (H+Al), em Cmolc/dm3; este valor aparece na análise de solo. SB representa a soma de bases = Ca+2 + Mg+2 + K+ + Na+ em Cmolc/dm3
  • Ve é o valor da saturação de bases desejada ou esperada para a cultura; no caso do amendoim a saturação de bases ideal é 70%, ou seja, 70% da capacidade de troca de cátions devem estar ocupadas com cálcio, magnésio e potássio
  • Va é o valor da saturação de bases atual do solo; este cálculo aparece na análise de solo
Escolha do calcário
Na escolha do calcário devem-se considerar critérios técnicos (qualidade química e física) e econômicos. O poder relativo de neutralização total (PRNT) estima o quanto de calcário irá reagir em um período de aproximadamente 3 anos. Para o cálculo do PRNT do calcário, são consideradas a capacidade de neutralizar a acidez do solo (natureza geológica) e a reatividade do material (granulometria) (RIBEIRO et al., 1999). Quanto maior o PRNT maior será a reatividade do calcário.
Todos os cálculos de calagem consideram o PRNT igual a 100%, portanto, deve-se corrigir a quantidade de calagem a ser aplicada em virtude do PRNT:
QC = NC . 100/PRNT
Em que:
  • QC é a quantidade do calcário adquirido que deverá ser aplicada na camada de 0 cm a 20 cm
  • NC é a necessidade de calagem calculada por um dos métodos descritos anteriormente
  • PRNT é o poder relativo de neutralização total do calcário adquirido, valor que caracteriza o calcário
Época de aplicação do calcário
A calagem deve ser realizada de dois a três meses antes da semeadura, com o objetivo de promover as reações químicas de neutralização da acidez. O calcário deve ser uniformemente distribuído sobre a superfície do solo, de forma manual ou mecanizada, e posteriormente deve ser incorporado com arado e grade até 20 cm.
Para que a reação do calcário inicie, é necessário umidade no solo; a água tem papel fundamental na neutralização da acidez pelo corretivo, portanto, é preciso que ocorra pelo menos uma chuva no período anterior a semeadura.

Etapa 3. Gessagem

O gesso é um importante insumo para a agricultura, sendo responsável pela correção de camadas mais profundas do solo. Pode ser utilizado como fonte de cálcio e enxofre ou na correção de camadas subsuperficiais com altos teores de alumínio trocável e/ou baixo teores de cálcio, com o objetivo principal de melhorar o ambiente radicular (RIBEIRO et al., 1999).
A recomendação de aplicação de gesso é feita de forma simples, baseada na análise química do solo na profundidade de 20 cm a 40 cm, que deve apresentar as seguintes características:
  • Teor de cálcio igual ou menor que 0,4 Cmolc/dm3 e/ou
  • Teor de alumínio trocável maior ou igual a 0,5 Cmolc/dm3 e/ou
  • Saturação por alumínio maior que 30%
Recomendação de gesso
A melhoria do ambiente radicular das camadas abaixo da arável efetua-se incorporando o gesso juntamente com o calcário, na dose de 25% da necessidade de calagem. Ou seja, a necessidade de gesso pode ser calculada pela formula:
NG = 0,25 . NC
Em que:
  • NG é a necessidade de gessagem em t/ha
  • NC é a necessidade de calagem calculada por um dos dois métodos descritos anteriormente
Suplementação de cálcio
Recomenda-se aplicar 500 kg/ha de gesso agrícola sobre a área na formação do esporão, ou seja, depois do início do florescimento.

Etapa 4. Adubação mineral

As plantas precisam de 17 elementos para completar o ciclo, são eles: C, H, O, N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu, Cl, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn (DECHEN; NACHTIGAL, 2006). Portanto, para uma planta estar bem nutrida, todos estes elementos devem estar presentes. Os três primeiros nutrientes, C, H e O, são fornecidos pela água e ar, por isso, não serão comentados nesta publicação. Os macronutrientes primários (N, P e K) são fornecidos por meio da fertilização orgânica ou mineral, os macronutrientes secundários (Ca, Mg e S) são fornecidos via calagem e gessagem, e os micronutrientes via fertilização mineral.
Em media, cultivares de amendoim absorvem os macronutrientes, na seguinte ordem: nitrogênio (192 kg/ha); potássio (60 kg/ha); cálcio (26 kg/ha); magnésio (20 kg/ha); fósforo (13 kg/ha) e enxofre (9 kg/ha) (FEITOSA et al., 1993).
A calagem é responsável pelo suprimento de cálcio e magnésio; no caso específico do cultivo do amendoim, o suprimento de cálcio é imprescindível para enchimento e formação das vagens. Considerando-se o aspecto qualitativo da produção, o cálcio é o nutriente mais importante para a cultura do amendoim (BOLONHEZI et al., 2005). Um detalhe com relação ao magnésio em amendoim, é que, se ele estiver deficiente, há aumento na incidência da cercosporiose, causada pelo fungo Mycospharella arachidicola (MALAVOLTA et al., 1997). A gessagem fornece cálcio e enxofre.
O amendoim responde eficientemente à adubação fosfatada, sendo que alguns trabalhos apresentam resultados expressivos para produção de vagens e grãos, utilizando-se concentrações de 40 kg/ha e 80 kg/ha de P2O5 (BOLONHEZI et al., 2005). A adubação fosfatada será recomendada em virtude dos teores de fósforo no solo. Para interpretar os resultados de fósforo no solo, é primordial conhecer o método utilizado pelo laboratório. Se o método utilizado pelo laboratório for Melich-1, deve-se utilizar a Tabela 2. Se o método utilizado for resinas de troca iônica será a Tabela 3.
Tabela 2. Classes de interpretação da disponibilidade para o fósforo pelo método Melich-1, de acordo com o teor de argila do solo ou do valor de fósforo remanescente (P-rem).
Classificação do fósforo disponível (P)
Característica
Muito baixo
Baixo
Médio
Bom
Muito bom
Argila (%)
mg/dm3
60-100
≤ 2,7
2,8 – 5,4
5,5 – 8,0
8,1 – 12,0
> 12,0
35-60
≤ 4,0
4,1 – 8,0
8,1 – 12,0
12,1 – 18,0
> 18,0
15-35
≤ 6,6
6,7 – 12,0
12,1 – 20,0
12,1 – 18,0
> 30,0
0-15
≤ 10,0
10,1 – 20,0
20,1 – 30,0
30,1 – 45,0
> 45,0
P-rem (mg/L)
mg/dm3
0 – 4
≤ 3,0
3,1 – 4,3
4,4 – 6,0
6,1 – 9,0
> 9,0
4 – 10
≤ 4,0
4,1 – 6,0
6,1 – 8,3
8,4 – 12,5
> 12,5
10 – 19
≤ 6,0
6,1 – 8,3
8,4 – 11,4
11,5 – 17,5
> 17,5
19 – 30
≤ 8,0
8,1 – 11,4
11,5 – 15,8
15,9 – 24,0
> 24,0
30 – 44
≤ 11,0
11,1 – 15,8
15,9 – 21,8
21,9 – 23,0
> 33,0
44 – 60
≤ 15,0
15,1 – 21,8
21,9 – 30,0
30,1 – 45,0
> 45,0
Fonte: Ribeiro et al. (1999).
Da mesma forma, com relação ao potássio, a tabela de interpretação escolhida deve estar de acordo com o método utilizado, se for Melich-1 utilizar Tabela 4, se for método de resinas de troca iônica utilizar Tabela 5.
Tabela 3. Classes de interpretação da disponibilidade para o fósforo pelo método de resinas de troca iônica.
Classificação do fósforo disponível (P) Resina
Muito baixo
Baixo
Médio
Bom
----------------------------------- mg/dm3 ----------------------------------
0 – 6
7 - 15
16 – 40
> 45,0
Fonte: Raij et al. (1996).
Tabela 4. Classes de interpretação da disponibilidade de potássio pelo método Melich-1.
Classificação do potássio disponível (K)
Muito baixo
Baixo
Médio
Bom
Muito bom
mg/dm3
≤ 15,0
16,0 – 40,0
41,0 – 70
71 – 120
> 120,0
Fonte: Raij et al., 1996.
Tabela 5. Classes de interpretação da disponibilidade de potássio pelo método de resinas de troca iônica.
Classificação do potássio disponível (K)
Muito baixo
Baixo
Médio
Bom
Muito bom
------------------------------ mmolc/dm3 -------------------------------
0 – 0,7
0,8 – 1,5
1,6 – 3,0
3,1 – 6,0
> 6,0
Fonte: Raij et al. (1996).
As quantidades de nutrientes a serem aplicadas dependem dos resultados da análise do solo. Os manuais de recomendação de fertilizantes para o amendoim são sistematizados em tabelas de acordo com as classes de disponibilidade dos nutrientes disponíveis no solo. Na Tabela 6, são apresentadas recomendações para a adubação com fósforo e potássio em virtude da interpretação da análise de solo pelo método Melich-1. E na Tabela 7 pelo método de resinas de troca iônica, em razão da expectativa de produção e dos teores acusados na análise de solo.
Tabela 6. Doses de nitrogênio, de fósforo (P2O5) e de potássio (K2O), de acordo com a disponibilidade de baixa, média e boa de fósforo e potássio disponíveis no solo, extraídos pelo Melich-1, para amendoim conforme a quinta aproximação.
Dose de N na semeadura
Disponibilidade de P
Disponibilidade de K
Dose de N em cobertura
Baixa
Média
Boa
Baixa
Média
Boa
Dose de P2O5 (kg/ha)
Dose de K2O (kg/ha)
0
80
60
40
60
40
20
0
Fonte: Ribeiro et al. (1999).
Tabela 7. Recomendação de adubação mineral na semeadura, de acordo com análise de solo e expectativa de produção.

Produção esperada
t/ha

N
Disponibilidade de P Resina
Disponibilidade de K trocável
Muito baixo
Baixo
Média
Boa
Muito baixo
Baixo
Média
Boa
Dose de P2O5 (kg/ha)
Dose de K2O (kg/ha)
<1 font="">
0
60
40
20
0
20
20
0
0
1,5 – 3,0
0
80
60
40
20
40
30
20
20
> 3,0
0
100
80
50
20
60
40
20
20
Fonte: adaptado de Recomendações de Adubação e Calagem para o Estado de São Paulo – Boletim Técnico
100 (Raij et al., 1996).

Observação: De um modo geral, a cultura do amendoim responde bem à adubação residual da cana-de-açúcar, mesmo para condições de baixa e média fertilidade do solo (GERIN et al., 1996).
Adubação nitrogenada
Em solos adequadamente corrigidos, drenados e inoculados, não há resposta à aplicação de nitrogênio (NOGUEIRA; TAVORA, 2005). Por se tratar de uma leguminosa, a adubação nitrogenada é dispensada na cultura do amendoim, pois esta planta tem a capacidade de associar a bactérias capazes de fixar o nitrogênio da atmosfera, mediante fenômeno conhecido com fixação biológica de nitrogênio (GIARDINI et al., 1985). Na Figura 1 podemos observar nodulação abundante nas raízes amendoim, resultante da associação espontânea com rizóbio em área cultivada no Nordeste. Aproximadamente 55% do nitrogênio requerido pelo amendoim são provenientes da fixação biológica (ELKAN, 1995).
Foto: Nelson Suassuna
Figura 1. Nodulação de rizóbio nas raízes de amendoim, variedade “Vagem Lisa”, em Itabaiana, SE.
Quando o pH não estiver na faixa adequada para a fixação biológica (entre 5,9 e 6,3) ou o amendoim estiver sendo cultivado na área pela primeira vez, recomenda-se aplicar entre 10 kg/ha e 16 kg/ha de nitrogênio (BOLONHEZI et al., 2005).
Micronutrientes
A marcha de absorção de micronutrientes acompanha o acúmulo de matéria seca, ocorrendo valores máximos entre 85 e 100 dias do ciclo biológico, com a seguinte ordem decrescente de extração da parte aérea: ferro, manganês, boro, zinco e cobre (FEITOSA et al., 1993; BOLONHEZI, 2005).
O boro é o micronutriente que mais limita o rendimento e qualidade da vagem (NOGUEIRA; TAVORA, 2005).
Os micronutrientes ferro, cobre, manganês e zinco diminuem a disponibilidade com o aumento do pH, mas em geral não é necessária a suplementação. As classes para interpretação da disponibilidade de micronutrientes são apresentadas nas Tabelas 8 e 9, a escolha da tabela será em virtude do método utilizado pelo laboratório de solo para o qual foi encaminhada a amostra de solo.

Etapa 5. Análise foliar

Um programa correto de adubação se inicia com a análise de solo, que é uma técnica preventiva, ou seja, representa o primeiro passo para diagnosticar possíveis problemas nutricionais para as plantas e sustentará as decisões de adubação e correção do solo. A análise de folha, complementar à análise de solo, servirá para diagnosticar se a adubação recomendada com base na análise de solo foi eficiente, e adicionalmente, servirá para ajustar as adubações para as safras seguintes. Na Tabela 10 podemos observar os teores adequados de macro e micronutrientes, baseados em análise foliar, para a cultura do amendoim.
  • Época: início do florescimento.
  • Tipo de folha: quarta folha da haste principal a partir da base (primeira acima dos ramos cotiledonares).
  • Número de folhas por hectare: 30.
Tabela 10. Teores totais de macronutrientes e micronutrientes considerados adequados para o amendoim (análise de folhas).
Nitrogênio
Fósforo
Potássio
Cálcio
Magnésio
Enxofre
g/kg
40
2
15
20
3
2,5
Boro
Cobre
Ferro
Manganês
Molibdênio
Zinco
Molibdênio
g/kg
20-180
10 – 50
50 - 300
50 - 350
0,13-1,39
20 - 150
0,1 – 1,4
Fonte: Bataglia et al. (1991); Malavolta et al. (1997).





quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Cultivares de Amendoim



A produção de amendoim no Brasil mudou rapidamente nos últimos anos, graças à substituição das tradicionais variedades tipo “Valência”, popularmente conhecidas como tipo “Tatu”, por variedades do grupo Virgínia runner, em especial a cultivar Runner IAC 886, lançada pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Esta mudança foi mais significativa no Estado de São Paulo, que concentra entre 70% a 80% da produção de amendoim no Brasil. O cultivo de variedades tipo “Tatu” ainda predomina nas regiões do Sul, enquanto na região Nordeste outra variedade local tipo “Valência”, denominada “Vagem Lisa”, é a preferida dos agricultores.


A demanda por cultivares do tipo “Runner” no Brasil foi percebida pelo Instituto Agronômico de Campinas (GODOY, 2001), que registrou a primeira cultivar tipo Runner no Brasil em 1999, a IAC Caiapó, que também apresentava resistência múltipla às doenças foliares (GODOY et al., 1999b), uma das maiores demandas de pesquisa com esta cultura no Brasil (MARTINS; VICENTE, 2010). Em 2002 foi registrada pelo IAC a Runner IAC 886, com maior potencial produtivo e rendimento industrial (maior rendimento após descascamento e sementes de tamanho uniforme – 60 a 70 gramas em 100 sementes), sendo adotada pela maioria dos produtores paulistas. Em 2009 o IAC lançou as cultivares alto oleico IAC 503 e IAC 505, que também apresentam resistência moderada e diversas doenças foliares. O maior teor de ácido oleico (70%) nas cultivares alto oleico confere maior estabilidade oxidativa, maior vida útil de prateleira, para o amendoim e produtos que contenham amendoim em sua composição, um mercado importante que inclui indústrias de alimentos nacionais e internacionais. Cultivares alto oleico desenvolvidas na Argentina (Granoleico e Pronto AO) e nos Estados Unidos (TamRun OL01 e OLin) também foram registradas no Brasil em 2010 e 2011 (MAPA, 2012), demonstrando a elevada demanda por cultivares com estas características e a perspectiva de expansão da produção de amendoim no Brasil.
As cultivares BR 1, BRS 151 L-7 e BRS Havana (SUASSUNA et al., 2008), registradas pela Embrapa entre 1999 e 2005, são adequadas à colheita manual e atendem à demanda do mercado regional de consumo in natura de amendoim no Nordeste. A cultivar BRS 151 L-7 é mais precoce (85 dias) e tolerante à seca, característica herdada da cultivar africana Senegal 55437, e apresenta maior potencial produtivo sob cultivo irrigado. Os ciclos das cultivares BR 1 e BRS Havana também são precoces (90 dias); BR 1 é amplamente difundida entre os agricultores nordestinos e também tolerante à seca; BRS Havana tem apresentado boas produtividades no Nordeste e Centro-Oeste, sendo também indicada para o mercado da indústria de alimentos (SANTOS et al., 2006). Nos últimos anos, o cultivo do amendoim rasteiro passou a ser interessante na região graças à perspectiva de expansão dos mercados de confeitaria e agroenergia, incentivados pela Petrobras e Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), incluindo os estados de Pernambuco, Maranhão e Piauí. A Embrapa registrou em 2011 a cultivar rasteira BRS Pérola Branca, cujas principais características são: porte rasteiro, ciclo 120 dias, 50% de óleo nas sementes, relação O/L 1,9, sendo indicada para o mercado de óleos vegetais (SANTOS et al., 2012).
A aquisição de sementes das cultivares desenvolvidas pela Embrapa pode ser feita diretamente no Escritório de Negócios (SNT) de Campina Grande, PB, telefones (83) 3315-4348 ou 3341-2314 ou pelo e-mail sementes@cnpa.embrapa.br.




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