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quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Conservação de forragem de Alfafa


Em poucos sistemas de produção animal que têm por base a utilização de pastagens, observa-se regularidade na oferta e na qualidade da forragem ao longo do ano. Desta forma, a adoção de práticas eficientes de produção e conservação de forragem de elevado valor nutritivo, tais como a ensilagem e a fenação, permite explorar de modo mais eficiente o potencial produtivo das plantas forrageiras. Além disso, a conservação de forragem é uma técnica bastante conhecida e utilizada para suprir a redução do valor nutricional e das ofertas de forragens durante o período seco do ano, quando a qualidade e a quantidade de forragem disponível das pastagens são limitantes, devido a fatores climáticos.
Cada sistema de conservação de forragem oferece vantagens e desvantagens em relação ao outro. A produção de silagem permite intensa mecanização na confecção e no fornecimento aos animais, e pode poupar trabalho manual. Além disso, a forragem picada é facilmente utilizada em rações em mistura completa. Porém, a ensilagem requer mais energia para a colheita, para o manuseio e para o fornecimento aos animais e grande investimento em máquinas e em estrutura de armazenamento (CÂNDIDO et al., 2008). A ensilagem e a fenação não devem ser comparadas em termos de eficiência e tampouco na qualidade do produto, pois são processos de conservação que produzem forragem com características nutricionais distintas e em muitas circunstâncias feno e silagem podem ser usados na dieta de maneira complementar.
A alfafa, devido ao seu potencial de produção, à alta qualidade e à adaptação a diversas condições ambientais, tem sido cultivada em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. A alfafa é utilizada tanto no pastejo, como nas formas de feno e de silagem, mas a fenação é a principal forma de uso no Brasil e em países como os Estados Unidos (PEREIRA et al., 2005).

Corte da forragem para conservação

Com o crescimento, ocorrem alterações na planta, que resultam em elevação dos teores de compostos estruturais, tais como a celulose, a hemicelulose e a lignina, e, paralelamente, na diminuição do conteúdo celular. Além destas alterações, é importante salientar que a diminuição na relação folha:caule resulta em modificações na estrutura das plantas. Desta forma, é de se esperar que plantas mais velhas apresentem menor conteúdo de nutrientes potencialmente digestíveis (que serão absorvidos mais facilmente durante o processo de digestão).
De acordo com Martins e Vilela (2008), recomenda-se, após o plantio, efetuar o primeiro corte da alfafa no período de floração plena. Os cortes subsequentes devem ser feitos quando houver entre 5% e 10% de floração ou quando a brotação basal atingir altura média de 3 cm a 5 cm, em períodos do ano em que não ocorre o florescimento. Segundo esses autores, a altura de corte deverá ser de 8 cm a 10 cm do solo, e o corte deve ser feito pela manhã, após a evaporação do excesso de orvalho (Figura 1).
Foto: Lucas Castilho Flores

Figura 1. Corte da alfafa.

Produção de feno

O princípio básico da fenação resume-se na conservação do valor nutritivo da forragem por meio da rápida desidratação, para que a atividade respiratória das plantas, bem como a dos microrganismos, seja paralisada. Assim, a qualidade do feno está associada a fatores relacionados com as plantas que serão fenadas, às condições climáticas ocorrentes durante a secagem e ao sistema de armazenamento empregado. As operações envolvidas no processo de fenação incluem, além das práticas comuns a áreas destinadas ao cultivo de alfafa (como implantação da cultura e aplicação de fertilizante), práticas específicas do processo que são: corte, revolvimento da forragem, enleiramento, enfardamento, recolhimento e armazenamento dos fardos.
Para a produção de feno de alto valor nutritivo, alguns fatores básicos devem ser observados: as condições climáticas apropriadas para a secagem no período de corte; a colheita da forragem no estádio de desenvolvimento no qual o valor nutritivo é máximo; o corte de uma quantidade de forragem que possa ser manuseada com base nos equipamentos e na mão de obra disponíveis; o controle de plantas invasoras; o uso de equipamentos apropriados para o corte e o manuseio da forragem no campo; o enfardamento do feno quando o teor de água do material atingir 18% e o armazenamento em local apropriado.

Processo de desidratação da forragem

Segundo ROTZ (1995), a forragem ao ser cortada para fenação contém de 70% a 80% de umidade, isto é 2,3 a 5,6 partes de água para cada parte de MS. Quando a forragem é cortada e espalhada no campo para secar, há uma súbita interrupção da transpiração (HARRIS e TULLBERG, 1980). A supressão do suprimento de água pelas raízes e uma evaporação contínua da superfície foliar levam ao pré-murchamento, secagem e morte das células. Durante a secagem, alguma atividade enzimática prossegue e nutrientes podem ser perdidos. Assim, quanto mais rapidamente ocorrer a secagem e, consequentemente, a morte das células, menor será a perda de valor nutritivo.
Durante o processo de secagem, quando a forragem é enleirada, a progressiva perda de água e o sombreamento promovem o fechamento dos estômatos, o que resulta em aumento na resistência à desidratação. Embora os estômatos se fechem em, aproximadamente, uma hora após o corte, quando as plantas possuem de 65% a 70% de água, de 20% a 30% dessa água é perdida nesta primeira fase da secagem (MacDONALD e CLARK, 1987).
Após o fechamento dos estômatos, de 70% a 80% da água deverá ser perdida pela cutícula, cuja função é de prevenir a perda de compostos da planta por lixiviação e de prover proteção contra a abrasão e os efeitos da geada e da radiação. Na fase final de secagem, a membrana celular perde a sua permeabilidade seletiva e então ocorre rápida perda de água. Essa fase se inicia quando o teor de água da planta atinge em torno de 45% e é menos influenciada pelo manejo e mais sensível às condições climáticas do que as anteriores, principalmente à umidade relativa do ar.
Alguns fatores como condições climáticas, estrutura da planta, maquinário utilizado no corte e manuseio da forragem, uso de condicionadores químicos e tipo de secagem devem ser considerados, pois interferem na desidratação das plantas. As principais variáveis a serem consideradas em relação ao clima são radiação solar, temperatura, umidade do ar e velocidade do vento.
Os fatores relativos à planta que afetam a taxa de secagem, segundo Rotz (1995), são o conteúdo inicial de água da planta e as características físicas da forragem. A espessura da cutícula, o diâmetro e o comprimento do colmo e a relação folha:colmo, entre outros, podem influenciar a velocidade de secagem da alfafa.
Inúmeras características relacionadas à estrutura das plantas influenciam a taxa de perda de água. Em relação à proporção de caule, é importante considerar que a transferência de água desta fração para as folhas é um fator importante relacionado à velocidade de secagem. A aplicação de tratamentos mecânicos nos caules como o condicionamento resulta em alta taxa de secagem e é vantajosa mesmo se a perda de água do caule pelas folhas for reduzida (ROTZ, 1995; ROTZ, 2001). É fato reconhecido que folhas de alfafa secam mais rapidamente do que os caules mais espessos e essa secagem mais rápida das folhas contribui para a destruição e a perda mecânica dos tecidos foliares mais nutritivos (HARRIS e TULLBERG, 1980).
Outro ponto importante a ser considerado é o maquinário utilizado no corte e no manuseio da forragem. Por muitos anos, as segadeiras de barra têm sido utilizadas no corte, principalmente por serem máquinas simples e baratas. A desvantagem desse equipamento é a baixa velocidade de operação, além de promover dilaceração dos caules, o que prejudica a rebrota das plantas e reduz a persistência do estande (ROTZ, 2001). As segadeiras de disco giratório desenvolvem mais velocidade do que as de barra, mas o seu desempenho é limitado pela habilidade do operador e a desvantagem desta máquina é o seu alto custo de operação, pois requer quatro vezes mais potência para operação.
A utilização de segadeiras condicionadoras que promovem o esmagamento dos caules acelera a taxa de secagem, pois elas aumentam a perda de água desta fração e reduzem pela metade o tempo de secagem de plantas forrageiras (RAYMOND et al., 1991; ROTZ, 1995). Roçadeiras não devem ser utilizadas no processo, pois além de dilacerarem os caules, picam a forragem, o que dificulta o recolhimento e resulta em substancial perda de matéria seca.
A altura de corte influencia a porção dos caules remanescentes e determina a circulação de ar na base da leira. As leiras produzidas pela maioria das segadeiras são compactas e altas, considerando-se que a resistência da leira na fase inicial de secagem é o principal fator que limita a perda de água, a taxa de desidratação pode ser aumentada com o uso de ancinhos. Assim, a perda de água na segunda fase de secagem pode ainda ser rápida se a compactação da leira for diminuída com viragens e revolvimento com ancinhos (ROTZ, 2001).
No processo de secagem da alfafa no campo, o topo da leira se desidrata antes da base. Desta forma, a manipulação da leira pode acelerar e uniformizar a secagem, por meio do revolvimento da forragem mais úmida e também do espalhamento, que aumentará a superfície de contato com o ambiente (ROTZ, 2001). O uso de ancinhos para promover a inversão das leiras não se aplica em leguminosas. Contudo, ele é benéfico após chuvas ou quando as condições de secagem são inadequadas (ROTZ, 1995).
Ainda em relação à secagem, têm sido utilizados condicionadores químicos, que mantêm os estômatos abertos e aceleram a taxa de secagem das plantas. De acordo com MacDonald e Clark (1987), a adição de fusicocina, de quinetina e de azida sódica retardou o processo de fechamento dos estômatos e acelerou a taxa de secagem. A aplicação de produtos químicos, com a finalidade de alterar a estrutura da epiderme, tais como o carbonato de potássio ou de sódio e os herbicidas dessecantes dinoseb, endotal e diquat, pode resultar em maior taxa de secagem de plantas forrageiras, uma vez que ela promove redução na resistência cuticular e perda de água (MEREDITH e WARBOYS, 1993).
O tipo de secagem, artificial ou à sombra, também deve ser considerado. A secagem artificial propicia a obtenção de feno de qualidade superior, com poucas perdas. Ela pode ser feita mediante ventilação forçada ou com ar quente em secadores especiais (CÂNDIDO et al., 2008). Martins e Vilela (2008) afirmam que o uso de galpões para completar a secagem da forragem emurchecida diminui os riscos de perdas e resulta em feno de melhor qualidade e o uso de estrados e/ou de cavaletes, sobre os quais a alfafa é depositada, é indicado para facilitar a circulação do ar. Para prevenir o aquecimento e o crescimento de mofos, deve-se efetuar o revolvimento da forragem periodicamente. O uso de secadores tipo barcaça, com ventilação forçada de ar, à temperatura ambiente ou aquecido, é uma alternativa para regiões ou para períodos do ano em que chuvas intensas e prolongadas dificultam ou impedem a secagem à campo (MARTINS e VILELA, 2008).

Perdas durante o processo de secagem

As perdas de nutrientes se iniciam imediatamente após o corte e algumas alterações bioquímicas são inevitáveis durante a secagem. Desta forma, a remoção de água tão rapidamente quanto possível resultará na diminuição das perdas (REES, 1982; MUCK e SHINNERS, 2001). Vários tipos de perdas podem ocorrer no recolhimento da forragem, além daquelas consideradas inevitáveis, tais como aquelas decorrentes da respiração celular, da fermentação, da lixiviação de nutrientes, da decomposição de compostos nitrogenados e da oxidação de vitaminas.
As enzimas hidrolíticas e as enzimas respiratórias presentes nas células das plantas continuam ativas até que haja redução acentuada no conteúdo de água das células que, de acordo com Rees (1982) e MacDonald e Clark (1987), é de 35% a 40%. Se a planta permanecer respirando, ocorrerá perda de carboidratos solúveis, diminuindo a qualidade do feno. Outros compostos, como gorduras e proteínas, podem ser usados no processo de respiração, quando se esgotam os carboidratos solúveis.
As perdas devidas à ocorrência de chuvas durante a secagem no campo podem chegar a mais de 30% da MS. Os principais fatores que afetam as perdas por lixiviação estão relacionados com a quantidade, a intensidade e a duração das chuvas. Fatores inerentes à cultura tais como o conteúdo de água da planta no momento da chuva, a maturidade, a relação folha:caule, a densidade da camada de forragem, a espécie forrageira e o tratamento da planta no momento do corte, influenciam acentuadamente as perdas de MS (MacDONALD e CLARK, 1987; MOSER, 1995; MUCK e SHINNERS, 2001).
Durante a secagem, e em decorrência da atividade respiratória, as concentrações de proteína bruta, de fibra em detergente neutro, de fibra em detergente ácido e de lignina, podem aumentar em termos proporcionais, uma vez que os resultados são expressos em percentagem. Além disso, podem ocorrer pequenas perdas de compostos nitrogenados. Assim, o desdobramento da proteína na presença de umidade é muito rápido e a extensão da degradação é influenciada pelo tempo de secagem (MOSER, 1995). As perdas de compostos nitrogenados são menores do que as de carboidratos solúveis.
A secagem ao sol diminui os teores das vitaminas A, C e E, em função da oxidação e da queima (MOSER, 1995). As perdas de minerais, como fósforo e cálcio, em geral são pequenas; entretanto, a exposição prolongada no campo pode intensificá-las e com a ocorrência de lixiviação, a quebra de folhas e outros processos físicos indiretos, esta perda pode aumentar.
Outras mudanças também ocorrem na forragem após a secagem, natural ou artificial, destacando-se a diminuição do conteúdo de proteína solúvel da alfafa, que é o agente causador do timpanismo em animais em pastejo nesta espécie de leguminosa (MOSER, 1980; MOSER, 1995).

Armazenamento

As principais causas de perdas de matéria seca no armazenamento de feno com alto teor de água estão relacionadas com a continuação da respiração celular e o desenvolvimento de bactérias, de fungos e de leveduras. Em razão da respiração celular e do crescimento de microrganismos, há utilização de carboidratos solúveis, de compostos nitrogenados, de vitaminas e de minerais, resultando na diminuição do valor nutritivo do feno. Condições de alta umidade e de temperatura acima de 55 ºC no feno são favoráveis à ocorrência de reações não enzimáticas entre os carboidratos solúveis e o grupo amina dos aminoácidos, resultando em compostos denominados produtos da reação de Maillard (MOSER, 1980; MOSER, 1995).
De acordo com MOSER (1995), a análise de fenos armazenados com umidade acima de 15% e que sofreram aquecimento evidencia algumas mudanças na cor, associadas com a atividade de microrganismos e aquecimento durante o armazenamento. A cor verde, presente no enfardamento dos fenos úmidos, é alterada para vários tons de marrom. A extensão das alterações na cor fornece indicação da intensidade do aquecimento no armazenamento e ocorrência da reação de Maillard.
As plantas forrageiras em crescimento no campo estão inoculadas, naturalmente, com ampla variedade de fungos e de bactérias. É importante considerar, que além das alterações na composição química, o desenvolvimento de fungos pode ser prejudicial à saúde dos animais e das pessoas que manuseiam estes fenos, devido à produção de toxinas, principalmente aquelas relacionadas aos fungos patogênicos como Aspergillus glaucus e Aspergillus fumigatus (MOSER, 1995; REIS e RODRIGUES, 1998).
Devido às perdas e ao aumento na população de microrganismos que podem ocorrer durante o armazenamento do feno, é necessário tomar algumas precauções. Segundo Costa e Resende (2006), o feno deve ser armazenado em galpões arejados, protegidos da umidade e os fardos devem ser dispostos em pilhas sobre estrados de madeira, evitando-se o contato com o piso (Figura 2).
 


Figura 2. Exemplo de armazenamento de feno de alfafa.
Fonte: Faes-PaalGroup

É imprescindível observar cuidados em relação à ocorrência de fogo nos galpões. As causas de fogo nesses locais podem ser por combustão espontânea ou de origem externa. Como medida de segurança, os fardos redondos não devem ser armazenados com teor de água superior a 18%, enquanto os retangulares podem ter 20% ao serem colocados em galpões. Quando se suspeita que a concentração de água está acima dos valores citados, o feno deve ser armazenado em local arejado e seco por pelo menos três semanas, a fim de perder água. Os fenos que foram recolhidos recentemente não devem ser armazenados com os mais secos.
Deve-se avaliar periodicamente a temperatura dos fardos, com base nos seguintes critérios: valores abaixo de 49 oC são considerados normais, entre 49 ºC e 60 oC inicia a fase de alerta e acima de 70 oC existe sério risco de combustão espontânea.

Aditivos

Grande variedade de produtos químicos pode ser aplicada em fenos armazenados com alto teor de água, para controlar o crescimento de microrganismos, destacando-se a utilização de diacetato de sódio, ácido propiônico, propionato de amônio, uréia e amônia anidra (COLLINS, 1995). Os produtos químicos podem agir na diminuição da disponibilidade de água e de oxigênio, na alteração do pH do feno ou na destruição de microrganismos ou na inibição do seu crescimento.
O ácido propiônico e outros ácidos orgânicos, quando aplicados em quantidades apropriadas, controlam o crescimento de fungos (como Aspergillus fumigatus), de actinomicetos (como Micopolyspora faeni) e de Thermoamicetos vulgaris, agente causador da febre do feno (COLLINS, 1995). Segundo esse autor, produtos químicos à base de ácido propiônico foram eficientes em prevenir o aquecimento e em preservar a qualidade de feno de alfafa e de feno de capim coastcross armazenados com alta concentração de água.
Segundo Lacey et al. (1981), os aditivos utilizados para conservação do valor nutritivo de fenos com alto teor de água devem apresentar características como: ser de baixa toxicidade para mamíferos; possuir efeito sobre fungos, actinomicetos e bactérias; possibilitar distribuição uniforme nos fardos; apresentar baixo nível de perda por volatilização; não ser excessivamente absorvido pelo feno; ser de manuseio fácil e seguro; ter amplo espectro de ação e ser solúvel em água.
Dentre as técnicas utilizadas para a conservação de fenos com alta concentração de água, destaca-se a amonização, com amônia anidra ou ureia como fontes de amônia (REIS e RODRIGUES, 1992; REIS et al., 1997). É importante salientar que bovinos que consumam feno de alta qualidade tratado com alta dose de amônia (3,0% da MS) podem apresentar hipersensibilidade; essa dose pode causar danos ao animal e levar à redução no consumo de forragem (COLLINS, 1995).
Trabalhos de pesquisa indicam que as reações entre a amônia e os açúcares presentes na forragem de alta qualidade resultam na formação de 4-metilimidazol, que é tóxico. A aplicação de amônia anidra em forragens de baixo valor nutritivo não apresenta risco de formação desse composto em razão do baixo teor de açúcares solúveis destes volumosos (ROTZ, 1995; COLLINS, 1995). Além disto, deve-se considerar que o manuseio da amônia requer cuidados especiais, pois o contato deste produto com a pele pode causar queimaduras, e a sua inalação acarreta problemas cardíacos e respiratórios (ROTZ, 1995).
Estudos têm demonstrado a viabilidade de se usar ureia como fonte de amônia para o tratamento de fenos armazenados com alto teor de água. O sistema de tratamento é fundamentado no fato de que a uréia em contato com uma fonte de urease, em ambiente úmido, é hidrolisada, produzindo duas moléculas de amônia e uma de gás carbônico (SUNDSTOL e COXWORTH, 1984). Entretanto, Freitas et al. (2002) avaliaram duas fontes de amônia (amônia anidra ou uréia) para conservação do feno de alfafa armazenado com alta concentração de água e verificaram que somente a amônia foi eficiente no controle dos fungos. Nos tratamentos com ureia, apesar de haver controle dos gêneros Aspergillus e Penicillium, os demais gêneros presentes foram suficientes para causar a deterioração dos fenos. Os autores afirmaram que as quantidades de ureia aplicadas (0,9% e 1,8% na MS) possivelmente foram insuficientes para o controle de fungos no feno.
A utilização de aditivos microbianos, tais como as bactérias homofermentativas que aumentam a produção de ácido lático, tem sido recomendada para acelerar o abaixamento do pH das silagens. Segundo Collins (1995), inoculantes bacterianos podem ser usados para conservar a qualidade de fenos armazenados com alta concentração de água. Contudo, a forma de atuação destes aditivos não tem sido claramente definida. De acordo com Rotz (1995), inoculantes com poucas cepas de Lactobacillus não têm efeito sobre desenvolvimento de fungos, alterações na cor, aquecimento, perda de matéria seca e mudanças na qualidade de fenos armazenados com alto teor de água.

Silagem

A conservação da alfafa como silagem e haylage é menos conhecida do que a conservação na forma de feno. A ensilagem é o método de conservação da forragem mediante um processo anaeróbio (sem a presença de oxigênio), com objetivo de produção de ácidos durante a fermentação que reduz o pH do meio, controlando, assim, a atividade de microrganismos. Denomina-se silagem de alto teor de água ou silagem de corte direto aquela em que a forragem é armazenada com mais de 70% de água e se aplica a denominação de haylage à silagem pré-secada, que tem no produto final de 40% a 60% de água (JUAN e ROSSI, 2007).
No processo de ensilagem, a forrageira é cortada, picada e posteriormente ensilada. Nesse processo, há sucessivas mudanças bioquímicas, que dependem de fatores externos e internos das plantas. A ação conjunta desses fatores favorece o desenvolvimento dos microrganismos durante o processo de fermentação (JUAN e ROSSI, 2007).
Quando a ensilagem é feita sob condições ideais, o processo é dividido em quatro fases. Na primeira fase, o oxigênio retido no ar que permanece no silo após a compactação da forragem é utilizado para a respiração da planta e, como consequência, na massa ensilada, ocorrem trocas gasosas. Esse fenômeno acontece quando no meio há açúcares solúveis e oxigênio (CLEALE et al., 1990; JUAN e ROSSI, 2007). O rompimento das membranas celulares da planta é chamado de segunda fase, aquela em que é liberado o conteúdo celular e em que há proliferação das bactérias contidas naturalmente na forragem. Nesse ponto, os carboidratos solúveis da planta são transformados rapidamente pelas enzimas em glicose e em frutose. Os carboidratos solúveis são imediatamente atacados enquanto houver oxigênio na massa ensilada.
A respiração provoca liberação de gás carbônico e pouco a pouco é consumido o oxigênio do silo. No processo há produção de calor e de água. Nesse momento prevalecem condições sem a presença de oxigênio na maior parte do silo. Segundo Devusyst e Van Belle (1964), citados por Juan e Rossi (2007), ao final de 5h a 6h o silo pode estar totalmente isento de oxigênio, se for fechado com rapidez. Mas se o fechamento for realizado 48h depois do enchimento, o processo respiratório continua por aproximadamente 72h.
A seguir, na fase de fermentação, os microrganismos iniciam o processo fermentativo. As bactérias que necessitam da presença de oxigênio para
sobreviver permanecem por pouco tempo no silo e, à medida que aumenta a anaerobiose, inicia-se a multiplicação das bactérias anaeróbias, representadas pelas coliformes (ou enterobactérias). Essas bactérias atuam até que o pH da silagem esteja em torno de 4,5. Em seguida, as bactérias láticas se multiplicam rapidamente, não só porque têm afinidade com o pH baixo, mas também porque impedem a proliferação de outras bactérias. Essas bactérias convertem o açúcar das plantas em ácido lático, principalmente. Além das bactérias homofermentativas (produzem apenas um produto final durante a fermentação) e das heterofermentativas (produzem mais de um produto final durante a fermentação), outras bactérias também participam desse processo fermentativo, porém com menor eficácia.
Finalmente, se a queda do pH é suficiente para limitar o crescimento bacteriano, a silagem estará na quarta fase ou fase estável, em que a atividade bioquímica é baixa ou inexistente, levando à preservação da massa e, consequentemente, dos seus nutrientes (CLEALE et al., 1990). Embora apresente elevado valor nutritivo, a alfafa possui características indesejáveis para o adequado processo de fermentação, tais como alto teor de água no momento do corte, alto poder-tampão (capacidade de resistir à variações do pH), baixos teores de carboidratos solúveis e caule  tubular e oco, o que impede a completa retirada do ar no momento da ensilagem (McALLISTER et al., 1998 citado por PEREIRA et al., 2005). Além disso, as referidas características indesejáveis são mais acentuadas quando a planta é mais jovem.
Uma forma de contornar esta situação é a forragem passar por um processo de emurchecimento ou ser ensilada com aditivos (PEREIRA et al., 2005). As perdas totais de matéria seca e de nutrientes durante o processo de ensilagem da alfafa podem variar entre valores mínimos de 3% a 6% em condições adequadas até 70% ou mais quando a forragem ensilada sofrer sérias alterações. Alguns estudos comprovaram que as perdas são mais severas em silagem do que em silagem pré-secada (JUAN e ROSSI, 2007). Por esses motivos é importante salientar a necessidade do abaixamento do pH o mais rapidamente possível, visando obter menores perdas durante a fermentação.
Para tanto, é necessário que as condições anaeróbias sejam alcançadas e com isso se retarde o crescimento e o metabolismo de microrganismos indesejados. Se houver falha nestas condições, há produção de volumoso de baixa qualidade, redução de consumo e, consequentemente, baixo desempenho animal (CLEALE et al., 1990).
Diversos procedimentos vêm sendo pesquisados visando contornar esses problemas, tal como o uso de inoculantes microbianos, os quais possuem a função de aumentar a população de bactérias láticas no silo e, consequentemente, a produção de ácido lático (CLEALE et al., 1990), de modo que haja rápido declínio no pH e decréscimo nos níveis de acetato e de butirato (ácidos indesejáveis na ensilagem). Além disso, os inoculantes auxiliam na fase de abertura do silo, na qual a silagem é exposta ao ar e inicia-se o processo de degradação, evitando perdas durante esta fase.

Emurchecimento e aditivos

Ensilar a alfafa sem emurchecimento, com teor de matéria seca (MS) menor do que 35% resultará em perda decorrente de formação de efluente no silo e em fermentações indesejáveis causadas por bactérias do gênero Clostridium. Entretanto, teor de MS acima de 60% dificulta a compactação e favorece a penetração de oxigênio (MUCK, 1990), com consequente superaquecimento da massa, o que provoca menor disponibilidade do nitrogênio.
Há de se considerar que o crescimento dos clostrídios é estimulado por elevação da temperatura no interior do silo, baixo teor de MS da forragem ensilada, baixo teor de carboidratos solúveis, alta capacidade tamponante da forragem e vedação inadequada do silo (JOBIM e GONÇALVES, 2003). Segundo Muck (1988), citado por Jobim e Gonçalves (2003), o pH no qual a atividade dos clostrídios é interrompida depende da atividade da água, relacionada ao teor de matéria seca da silagem. Portanto, é necessário pH baixo para conservar a silagem. Isso mostra que nem sempre o baixo pH em silagens com alto teor de água pode controlar o crescimento de clostrídios. Portanto, o emurchecimento é uma ferramenta que poderá ser utilizada para auxiliar o controle desses microrganismos indesejáveis.
Os aditivos biológicos (enzimas e bactérias homoláticas e heteroláticas) e o emurchecimento têm sido propostos como formas de propiciar melhores resultados no processo fermentativo de silagens. Na literatura, vários autores relatam a utilização de inoculantes microbianos. Muitos têm demonstrado efeitos positivos na qualidade de silagens, evidenciados por diminuição da proteólise inicial, redução do pH final, aumento da produção de ácido lático e diminuição do nitrogênio não-protéico solúvel (JONES et al., 1992).
Ainda assim, boas condições ambientais, substrato suficiente para as bactérias láticas, no caso da utilização de aditivos (HENDERSON, 1993), bom manejo, boa regulagem do maquinário destinado à colheita, garantia da manutenção do meio anaeróbio, tamanho certo das partículas a serem ensiladas (STOKES, 1992; HARRISON et al., 1994), boa compactação para efetiva e rápida expulsão do ar (WOOLFORD, 1990), ausência de rachaduras a fim de evitar a infiltração de ar ou de água, rápido fechamento do silo e cobertura do silo com lonas plásticas (MUCK, 1987), são mecanismos para minimizar as perdas de matéria seca, de energia e de qualidade da silagem. O manejo deve permitir a ocorrência e a manutenção do meio anaeróbio do silo, já que este é o ponto crítico da confecção de uma boa silagem (McDONALD et al., 1991).


quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Produção de sementes de Alfafa


A produção comercial de sementes de alfafa requer dias ensolarados e quentes, com pouca ou nenhuma precipitação pluviométrica (RINCKER et al., 1988). Essas condições climáticas promovem a floração e a atividade dos polinizadores, permitem o adequado amadurecimento dos frutos e previnem a queda e/ou danos às sementes.
Quando se deseja obter altos rendimentos, a produção de sementes deve ser considerada como uma indústria especializada, separada da produção de forragem (MARBLE, 1980). Os fatores mais importantes na produção de sementes são a fertilidade do solo, o controle de pragas, de plantas daninhas e de doenças, a polinização e o manejo de água. Isto significa que devem adotar-se práticas de manejo que tenham por finalidade exclusivamente a produção e a colheita de sementes.
Há dois sistemas de colheita de sementes: corte, enleiramento e trilha; e colheita direta, com prévia aplicação de um desfolhante (dessecação). Na colheita, é necessário cuidar bem da regulagem de máquinas, principalmente a colhedora, para evitar perdas elevadas de produtividade e da qualidade das sementes.

 

Requerimentos ambientais

Clima

As condições climáticas que favorecem a produção de sementes são: a) um período de crescimento de ao menos 150 dias de duração; b) durante o período de floração, temperaturas médias em torno de 24-25 ºC durante o dia e menores que 18 ºC durante a noite, com ar relativamente seco (umidade relativa menor que 50%); c) alta luminosidade e ausência de ventos fortes durante a floração, com um mínimo de dias nublados e frescos; d) dias longos, com um mínimo de 14h de luz; e e) uma distribuição de chuvas ou irrigação que promova um crescimento vegetativo controlado e que, através de uma redução gradual da umidade do solo após a floração, provoque um adequado crescimento reprodutivo (MOSCHETTI et al., 2007).
Em zonas úmidas e com chuvas frequentes nos períodos de maturação e colheita, a produção de sementes costuma ser muito baixa (50 a 100 kg/ha). Ao contrário, em climas áridos, onde se pode controlar a irrigação, a produção pode chegar a 1.000 kg/ha (ECHEVERRIA, 1993). Assim, uma chuva de apenas 5 mm pode provocar a queda de vagens e causar perdas de sementes de certa magnitude; uma chuva de 10 mm a 20 mm pode produzir perdas de até 75%, se a semente estiver seca e no ponto de ser colhida (MARBLE, 1980; MARBLE, 1987). Com base na precipitação no momento de maturação e colheita das sementes, Ochoa (1980) sugeriu a seguinte classificação da aptidão agrícola para se produzir sementes em uma região: excelente: 0-20 mm; muito boa: 20-40 mm; boa: 40-60 mm; regular: 60-80 mm; problemática: 80-100 mm; muito difícil: 100-120 mm e impossível: > 120 mm.
Ainda que a alfafa seja uma espécie de dias longos, a resposta ao comprimento do dia também é influenciada pela radiação e pela temperatura (FICK et al., 1988). De modo geral, a formação de flores é favorecida por um mínimo de 12h de luz, com alta intensidade luminosa e temperaturas mínimas acima de 20 ºC (FICK et al., 1988). A temperatura e o fotoperíodo não só condicionam o desenvolvimento das inflorescências e a fertilidade do pólen e dos óvulos, como também a atividade dos polinizadores, o crescimento e a maturação das vagens (HACQUET, 1986). Temperaturas muito altas ou ventos extremamente secos podem provocar uma significativa queda de flores e/ou afetar o desenvolvimento das sementes, aumentar a proporção de sementes duras e diminuir o seu vigor (FICK et al., 1988).
Solo
Embora a alfafa se adapte a várias condições de solo, os altos rendimentos de sementes são obtidos em solos bem drenados, com baixo teor de sais e uma profundidade mínima em torno de 1 m. Os solos argilosos, argilo-arenosos ou franco-argilo-arenosos são preferíveis aos solos arenosos, por sua maior capacidade de retenção de água. Devem-se evitar os solos extremamente arenosos, pedregosos ou com algum tipo de compactação próximo à superfície. Um terreno de textura uniforme facilita o manejo da umidade no perfil do solo e a sincronização dos estádios de desenvolvimento da cultura (MARBLE et al., 1986; MARBLE, 1987; RINCKER et al., 1988). 
O excesso de umidade é prejudicial não só porque favorece demasiadamente o desenvolvimento vegetativo, mas também porque pode provocar a morte de plantas por anoxia radical (ausência de ar no solo) ou o desenvolvimento de doenças (CABRAL et al., 1985). Dessa forma, ao se utilizar um sistema de irrigação, é fundamental um bom nivelamento do terreno (sistematização), para eliminar pontos de encharcamento e uniformizar a distribuição de água. Também é importante conhecer a profundidade e a dinâmica do lençol freático, pois suas contribuições ao cultivo podem diminuir a frequência e a intensidade das irrigações aplicadas ao longo do ciclo produtivo (BRASE, 1987).
A fertilidade do solo é um fator importante para definir os rendimentos de sementes. Os conteúdos de nitrogênio (N), fósforo (P), enxofre (S) e boro (B), na ausência de restrições hídricas severas, costumam ser os elementos que mais limitam o crescimento e o desenvolvimento das plantas (DARWICH, 1992). Também não se deve descuidar do fornecimento de outros elementos como potássio (K), magnésio (Mg), zinco (Zn), cobre (Cu), manganês (Mn) e molibdênio (Mo) (CULOT, 1986; DIAZ ZORITA et al., 2007). As necessidades de fertilização podem ser definidas com base na análise do solo ou tecido vegetal. Outro fator importante é o grau de acidez dos solos, pois a alfafa não se desenvolve em solos ácidos. A acidez excessiva do solo reduz a disponibilidade de alguns macronutrientes (como P, N, Ca, Mg e K), assim como pode aumentar a solubilidade do alumínio (Al) a níveis fitotóxicos, prejudicando a fixação simbiótica do N2 ao diminuir a atividade dos rizóbios (Sinorhizobium meliloti). Quando necessário, deve-se corrigir a acidez do solo por meio da calagem (HONDA e HONDA, 1990; DIAZ ZORITA e GAMBUADO, 2007).

Estabelecimento do cultivo

Escolha e preparo do solo
A escolha do solo onde será feito o plantio deve basear-se primeiramente nas características desejáveis do solo, tanto físicas (textura, profundidade, etc.) como químicas (fertilidade, acidez, salinidade, etc.). Devem-se, também, evitar solos que tenham alta infestação de plantas daninhas que sejam difíceis de controlar e que causarão sérios prejuízos à produção, inviabilizando economicamente a atividade.
Outro critério para a seleção da área é a necessidade de isolamento, que é a distância mínima que deve existir entre lotes contíguos de alfafa de outra variedade ou de outra categoria de sementes. Desse modo, evita-se a contaminação com outras fontes de pólen, preservando-se a pureza genética da variedade que está sendo multiplicada.
Uma vez escolhida a área, as práticas de preparo de solo devem oferecer um solo bem destorroado, com uma camada fina e firme para efetuar a semeadura. As crostas superficiais de solo (pé de arado ou de grade, horizontes adensados etc.) devem ser eliminadas com aração profunda antes da preparação final para a semeadura.
Época e densidade da semeadura
Da mesma forma que para a produção de forragem, a melhor época de plantio de um cultivo de alfafa para semente deve ser escolhida com base em três fatores importantes: temperatura, umidade e incidência de plantas daninhas. A combinação desses fatores sugere que o outono é a melhor época de semeadura na grande maioria dos casos. No Brasil, o período de abril a junho (outono) é o mais indicado para a implantação da cultura (HONDA e HONDA, 1990). A semeadura na primavera, especialmente sob irrigação, também tem sido feita com êxito. No entanto, nesta época, deve-se intensificar o controle de plantas daninhas, particularmente as gramíneas.
A inoculação das sementes com Sinorhizobium meliloti é uma prática recomendável, especialmente para solos em que ainda não se cultiva alfafa. Para as condições do Brasil, o uso de sementes peletizadas - que combinam a inoculação com o uso de fungicida e recobrimento com carbonato de cálcio - pode oferecer vantagens significativas comparativamente à utilização de semente natural, pois não há tradição de cultivo da alfafa e as condições edáficas nem sempre são propícias. Ao se usar sementes peletizadas, deve-se considerar a quantidade de material inerte que se incorpora, a fim de se calcular corretamente a quantidade de sementes a serem utilizadas.
As densidades de semeadura em cultivos de alfafa destinados à produção de sementes devem ser consideravelmente mais baixas que as empregadas para a produção de forragem. Recomenda-se semear até 1 kg/ha em fileiras espaçadas de 0,7 a 1 m (ECHEVERRIA et al., 1995).
A profundidade ótima de semeadura não deve exceder 1,5-2 cm de profundidade em solos franco-arenosos ou 0,6-1,5 cm em solos franco-argilosos. Quando se semeia a profundidades de 2,5 a 3,5 cm, a emergência de plântulas é significativamente reduzida e é quase nula a partir dos 5 cm (SMITH et al., 1967). A semeadura profunda atrasa a emergência e aumenta a probabilidade de perda de plantas por ocorrências meteorológicas desfavoráveis, por invasão de plantas daninhas e/ou crostas de solo (MARBLE, 1980; MARBLE et al., 1986).
Espaçamento entre fileiras
Vários trabalhos de pesquisa têm demonstrado que as semeaduras em espaçamentos maiores produzem maiores rendimentos de semente do que os espaçamentos menores usados para a produção de forragem (GOPLEN, 1975 e 1976; HART, 1980). Isto se deve a maior produção de néctar (e, portanto, maior atração para os polinizadores) e menor índice de aborto de flores nas plantas distanciadas. Outras vantagens observadas incluem o desenvolvimento de plantas mais eretas, que facilitam o trabalho dos polinizadores; a penetração da luz e o aumento da temperatura do solo; a diminuição do acamamento e a redução da umidade na folhagem, que reduzem a incidência das doenças foliares e os danos à semente; a maior eficiência no uso de agroquímicos, devido à maior penetração na pulverização; a simplificação no manejo da irrigação; e a possibilidade de se realizar controles mecânicos de plantas daninhas e de plantas de alfafa de cultivos anteriores, assegurando-se, desta forma, a pureza genética (MARBLE, 1976; MARBLE, 1987; RINCKER et al., 1987).
O espaçamento entre fileiras mais aconselhável varia de 0,9 m a 1 m para áreas com maior período de crescimento, e de 0,7 m a 0,8 m para áreas com menor período de crescimento, depositando 4 a 5 sementes a cada 20 cm ou 30 cm da linha de plantio, formando-se o conceito de grupo de plantas e não plantas individuais (Figura 1).
Foto: Daniel Horacio Basigalup

Figura 1. Germinação de grupos de plantas de alfafa em sistema de irrigação por gotejamento.

Irrigação
O uso de irrigação é um aspecto fundamental para a produção de sementes de alfafa e é um dos temas mais difíceis de regular na prática. Como cada situação particular requer seu próprio ajuste, a irrigação é mais uma arte que uma técnica rígida. Entre outros fatores, as quantidades e os momentos de aplicação de água variam em função da textura e da profundidade dos solos, das chuvas recebidas, da evapotranspiração, da influência dos lençóis freáticos, da quantidade e qualidade da água disponível, da densidade do cultivo e do tipo de cultivar (MARBLE, 1976; RINCKER, 1979; MARBLE et al., 1986; RINCKER et al., 1987). Em consequência, a complexidade das interações entre todos esses fatores torna quase impossível a definição de um esquema de irrigação de aplicação geral.
Quando bem manejada, a irrigação deve promover um crescimento lento e sustentado das plantas, evitando o desenvolvimento vegetativo excessivo e favorecendo o desenvolvimento reprodutivo. Um desenvolvimento vegetativo excessivo, como consequência da aplicação de água em demasia, aumenta a predisposição ao acamamento e reduz a produção de flores, com menor conteúdo de néctar. Por outro lado, uma severa deficiência de água gera plantas com pequeno desenvolvimento vegetativo, baixa produção de flores e sementes muito pequenas.
Nas áreas produtoras de semente do mundo se empregam basicamente três sistemas de irrigação: sulco ou inundação, aspersão ou gotejamento.
Controle de plantas daninhas
Uma forte infestação de plantas daninhas em uma área de alfafa pode reduzir significativamente a produção de sementes e o resultado econômico da atividade, não só pela competição por luz, água e nutrientes, mas também pela interferência no trabalho dos agentes polinizadores, pelas complicações na colheita e pelo aumento dos custos de produção e das perdas durante o processamento da semente (DELL’ AGOSTINO et al., 1990; ECHEVERRIA et al., 1995). É mais simples e econômico eliminar as plantas daninhas antes da colheita do que fazê-lo depois da semente colhida. Se as plantas daninhas amadurecerem e formarem sementes – além de aumentar o banco de sementes da área – estas serão colhidas junto com a alfafa e terão que ser eliminadas no processo de limpeza. Esta é uma prática muito difícil, particularmente quando se trata de sementes com peso e tamanho similares às de alfafa.
Um programa racional de controle das plantas daninhas, tanto no estabelecimento quanto em cultivos já estabelecidos, deve combinar medidas de prevenção com controles culturais, mecânicos e químicos. Uma das medidas mais efetivas de prevenção é a escolha de um lote livre de plantas daninhas problema e com baixa ou nenhuma infestação de plantas daninhas perenes.
O controle mecânico é um método econômico, mesmo que seja efetivo somente para as plantas daninhas anuais. Pode ser feito com implementos como grade de discos, carpideiras, cultivadores rotativos, etc. Obviamente, o cultivo em espaçamentos maiores facilita essas operações. Para se decidir o momento e a frequência do controle mecânico, deve-se verificar o desenvolvimento das plantas e o dano que ele pode ocasionar. Portanto, é conveniente que o trator tenha rodas estreitas. O controle mecânico também pode ser útil para a eliminação de plântulas de alfafa de cultivos anteriores, bem como para melhorar a infiltração da água de irrigação no perfil do solo (ECHEVERRIA et al., 1995).
O controle químico com herbicidas seletivos costuma ser efetivo e duradouro, mas exige maior grau de planejamento e conhecimento do que o requerido no controle mecânico. Moschetti et al. (2007) descrevem os herbicidas que têm sido empregados na produção de sementes de alfafa, que podem resumir-se da seguinte maneira: A- Preparação do terreno: glifosato (2-4 L i.a/ha) para plantas daninhas perenes e paraquat (500 a 750 g i.a/ha) para plantas daninhas anuais; B- Estabelecimento da cultura: a) pré-plantio incorporado: trifluralina (550 a 900 g i.a./ha) e EPTC (2,5-3,0 kg i.a/ha); b) pré-emergência: methazole (1,5 a 1,8 kg i.a./ha) e flumetsulam (50 a 70 g i.a./ha); e c) pós-emergência: i) latifoliadas (dicotiledôneas ou “folhas largas”): 2,4-DB (0,75 a 1,0 kg i.a./ha); bromoxinil (350 a 550 g i.a./ha); e flumetsulam (35 g i.a./ha) ou bentazon (300 a 500 g i.a./ha), geralmente combinados com 2,4-DB para controlar plantas daninhas pouco sensíveis ou resistentes a este último; e ii) gramíneas (monocotiledôneas ou “folhas estreitas”): cletodim, fenoxaprop-p-etil, fluazifop-p-butil, haloxifopmetil, quizalofop-etil, quizalofop-p-etil, e setoxidim (DELL’AGOSTINO et al., 1987; DELL’AGOSTINO, 1990); e C- Cultivos já estabelecidos: a) durante o repouso invernal e em pré-emergência das plantas daninhas: diuron (2,0-2,4 kg i.a./ha), terbacil (0,8 a 1,0 kg i.a./ha), metribuzin (550 a 750 g i.a./ha) e propizamida (1,0 a 2,0 kg i.a./ha); e b) pós-emergência: 2,4-DB, bromoxinil, flumetsulam (25 a 35 g i.a./ha), imazetapir (80 a 100 g i.a./ha), clorimurón etil (5 a 7,5 g i.a./ha), bentazon (300 a 500 g i.a./ha) e glifosato (0,5 a 1,0 kg i.a./ha), aplicados durante os meses sem rebrota ativa na alfafa. Deve-se ressaltar que estes herbicidas não possuem registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para serem utilizados em alfafa no Brasil.
Merece consideração especial o controle de uma planta daninha muito problemática para a produção de semente de alfafa: a cuscuta. Esta espécie anual e parasita aparece geralmente em forma de manchas isoladas (reboleiras) que, se não forem controladas, podem chegar a invadir toda a área. O controle preventivo inclui o uso de semente livre de cuscuta; a adequada limpeza das máquinas ao término da colheita de uma área; o controle de cuscuta e de plantas daninhas hospedeiras em estradas e carreadores, alambrados e canais de irrigação, e impedir o pastejo em áreas contaminadas (DAWSON et al., 1984; DELL’ AGOSTINO, 1990). Quando aparecem manchas (reboleiras) de cuscuta em uma área, é fundamental eliminá-las antes que a mesma floresça e produza sementes. Para isso, devem-se cortar as plantas de alfafa parasitadas abaixo do ponto onde a cuscuta está aderida, deixá-las secar e depois retirá-las do lote e destruí-las. Uma alternativa é cortar as plantas de cuscuta e  queimá-las após a secagem. Outra opção é queimar diretamente o setor invadido com um lança-chamas ou aplicar um herbicida de contato (paraquat) e, após a secagem, queimá-lo. Em todos os casos, é aconselhável o tratamento de uma área maior do que a invadida para se evitar a permanência de plantas parasitadas na cultura (DAWSON et al., 1984; DELL’ AGOSTINO, 1990). Quanto ao controle químico, podem-se usar diversos produtos. O glifosato, em doses muito baixas (75 a 150 g i.a/ha), permite um controle seletivo da cuscuta quando esta já está aderida ao
hospedeiro (DAWSON, 1986). No caso de lotes já invadidos, com uma grande quantidade de sementes de cuscuta no solo, os herbicidas propizamida (1 a 2 kg i.a./ha), trifluralina (granulada e em doses muito altas), cloroprofán, pendimetalín ou dinitroanilina tem sido usados com sucesso nos EUA, em aplicações de préemergência (ORLOFF, 1985; DAWSON, 1986; BURRIL et al., 1988; ORLOFF et al., 1989; DELL’ AGOSTINO, 1990).
Polinização
Para produzir semente em quantidade e qualidade, a alfafa requer que haja polinização cruzada (alogamia). A disposição dos órgãos florais requer um mecanismo que libere os órgãos sexuais das flores (pistilo e estames), atividade que é realizada por várias espécies de insetos (MARTINEZ, 1987). Deste modo, quando os órgãos sexuais da planta tocam o abdômen do inseto, o estigma entra em contato com o pólen proveniente de outras flores. Mecanismos de auto-incompatibilidade e auto-esterilidade favorecem a alogamia (VIANDS et al., 1988).
A polinização deficiente é um dos fatores que mais dificultam a produção de sementes de alfafa no mundo. Na ausência de insetos polinizadores, a grande maioria das sementes provém da auto-fecundação, o que dará origem a plantas com pouco vigor, tendo, consequentemente, baixa produção de forragem e de sementes. Com auto-fecundação, somente 35% das flores fecundadas formam vagens, enquanto na polinização cruzada esse valor chega a 60%. Em geral, rendimentos de sementes de 50 a 150 kg/ha e 1 a 3 sementes/vagem indicam alto nível de auto-fecundação. Por outro lado, rendimentos acima de 500 kg/ha indicam polinização cruzada, chegando a produzir 9 sementes/vagem (MOSCHETTI et al., 2007).
As abelhas são os insetos mais eficientes como polinizadores de alfafa. As espécies mais importantes são: abelha melífera ou européia (Apis mellifera), abelha cortadeira de folhas (Megachile rotundata), abelha alcalina (Nomia melanderi) (MARBLE, 1976; MARBLE, 1980; MARBLE et al., 1986).
A atividade das abelhas depende, entre outros fatores, das condições ambientais, da cultivar, da proximidade de fontes competitivas de pólen, do tamanho e cor das flores, da aplicação de inseticidas na área ou em áreas vizinhas, etc. (MARTINEZ et al., 1983). As temperaturas baixas, os ventos fortes, o céu nublado e a chuva retardam o vôo das abelhas e dificultam a colheita de pólen ou néctar (MARTINEZ, 1987).
Polinização com abelhas melíferas
Nos campos de semente de alfafa, as abelhas operárias são principalmente coletoras de néctar (MARTINEZ et al., 1983) e, mesmo visitando as flores rapidamente (cerca de 14/minuto), evitam o mecanismo de desenlace dos órgãos sexuais florais, chegando a fecundar somente 1% das flores visitadas. Mesmo em número reduzido (1-5% da população da colméia), as operárias que colhem pólen trabalham mais lentamente (8 flores/minuto), mas conseguem ativar o mecanismo de desenlace em 80% das flores visitadas, o que faz com que polinizem uma média de 384 flores/hora e sejam 45 vezes mais eficientes como polinizadoras do que as operárias coletoras de néctar (MARTINEZ, 1988). As abelhas coletoras de pólen têm picos de atividade entre 32 ºC e 44ºC, enquanto as coletoras de néctar alcançam sua máxima atividade entre 32 ºC e 35ºC (FRANKLIN, 1951).
Colheita
Há basicamente dois métodos de colheita de sementes de alfafa: a) corte, enleiramento e trilha; e b) colheita direta, com prévia aplicação de um desfolhante (dessecação). Utiliza-se o primeiro método quando é necessário colher cultivares de maturação tardia com uma significativa percentagem de vagens imaturas, com uma alta proporção de sementes verdes, que terminam de amadurecer após o enleiramento. Por sua vez, a colheita direta permite reduzir a incidência dos fatores ambientais, como chuvas, alta umidade relativa (que podem provocar sementes ardidas e manchadas) ou ventos (que podem disseminar o material cortado e amontoado na fileira) (MARBLE, 1976; STEPHEN et al., 1976; MOSCHETTI e DELL’ AGOSTINO, 1982; MOSCHETTI e DELL’ AGOSTINO, 1990).
Quando o enleiramento se realiza em condições de baixa umidade relativa e ventos fortes, as perdas de semente podem superar 50% (MARBLE, 1976; GOSS, 1979). O uso de dessecantes químicos na colheita direta permite uma secagem rápida e homogênea do cultivo, diminuindo os riscos da secagem natural.
Se for utilizado o sistema de enleiramento, a cultura deve ser cortada quando cerca de 70% das vagens apresentarem cor marrom-escura, mas antes de começarem a abrir. A operação deve ser feita durante as horas do dia com maior umidade do ar, ou quando as folhas estão úmidas por efeito do orvalho (STANGER e THORP, 1974). A semente está pronta para ser trilhada quando o conteúdo de umidade da folhagem oscilar entre 12% e 18% (BUNNELLE et al., 1954). Sob condições ótimas de trabalho, as perdas na barra de corte da enleiradeira não devem exceder os 10 kg/ha.
Para a implementação do sistema de colheita direta, o dessecante químico deve ser aplicado quando pelo menos 80-85% das vagens apresentarem cor marrom-escura. Para que a aplicação do dessecante seja mais efetiva, as plantas devem apresentar um crescimento aberto e ereto, e o teor de umidade do solo deve ser baixo, para inibir a rebrotação da coroa (ROYLANCE, 1968; MARBLE, 1976). Se o cultivo é muito denso e apresenta abundante folhagem, ou se está com alta infestação de plantas daninhas, é mais eficaz efetuar duas aplicações separadas com 2-4 dias de intervalo (MARBLE, 1976; MOSCHETTI e DELL’ AGOSTINO, 1979). Para evitar perdas por deiscência (abertura de vagens), a colheita deve iniciar-se quando o teor de umidade das folhas e vagens está ao redor de 15-20% e ao redor de 50% nos talos. Em áreas com altas temperaturas, a colheita se efetua normalmente entre 3 e 5 dias após a aplicação do dessecante, enquanto em áreas com temperaturas mais baixas podem ser necessários entre 5 e 12 dias (JONES e MARBLE, 1961; MARBLE, 1976). Se as recomendações técnicas de ajuste dos implementos são seguidas, as perdas na colheita devem oscilar entre 10 e 20 kg/ha (MARBLE, 1976; GOSS et al., 1977 e 1979).
Os dessecantes químicos, que são produtos de contato e que não se translocam na planta nem afetam a coroa ou a raiz, têm efeito temporário e não afetam a rebrotação posterior das plantas. Os mais usados são diquat e paraquat, em doses de 1 a 4 L/ha de produto formulado, com um volume de água não inferior a 100 L/ha em aplicações terrestres, e de 20-25 L/ha em aplicações aéreas. Recomenda-se o uso de espalhante adesivo não iônico, em concentrações de 0,10% ou 0,50%. A efetividade destes dessecantes é mais alta quando a aplicação é sucedida por um período de horas sem luz (fim da tarde), favorecendo a penetração do produto nas plantas. Nos EUA, são utilizados outros produtos, como dinoseb, pentaclorofenol, DNOC e endothal, embora ocasionalmente possa aumentar o número de sementes duras . Na maioria dos casos, a maior segurança de colheita e a diminuição das perdas tornam mais econômico o uso do dessecante, apesar do seu preço relativamente elevado.
Na colheita, é necessário cuidar bem da regulagem de máquinas, principalmente a colhedora, para evitar perdas elevadas de produtividade e qualidade das sementes.




sábado, 29 de julho de 2017

Pragas da Alfafa

O reconhecimento das principais pragas da cultura da alfafa pode ser realizado por meio da chave de identificação (Figura 1) e das características mais facilmente visualizáveis.



Figura 1. Chave para identificação de pragas da cultura da alfafa.
Fonte: Bueno et al. (2011).

A seguir serão mencionadas as principais pragas da cultura da alfafa (BUENO et al., 2011):
Pulgões
São as pragas de maior importância econômica na alfafa por causa da sua capacidade de reprodução e de causar danos à cultura.  Formam colônias nas folhas e caules da planta, onde convivem indivíduos de diferentes idades. Na sua maioria, são pulgões sem asas; insetos com asas aparecem quando a colônia está muito grande e outras plantas devem ser colonizadas para perpetuação da espécie.
No Brasil, são encontradas quatro espécies de pulgões que causam danos à cultura da alfafa e cada uma delas tem preferência por determinada condição climática. São elas:
a) Pulgão-manchado-da-alfafa (Therioaphis trifolii forma maculata) – Possui coloração verde e é facilmente diferenciado dos demais pulgões da alfafa por conter fileiras de manchas escuras no dorso, de onde saem pequenos pelos (Figura 2A). Ele se desenvolve bem sob condições de tempo quente e seco; os picos populacionais estão relacionados com temperaturas em torno de 25 °C, mas desde que a precipitação semanal esteja abaixo de 50 mm. Ninfas e adultos dessa espécie sugam a seiva das folhas e das hastes e são numerosos na parte mais baixa da planta e no lobo inferior das folhas.
b) Pulgão-da-ervilha ou pulgão-verde-da-alfafa (Acyrthosiphon pisum) – Esse pulgão tem coloração verde brilhante e antenas com manchas escuras no final de cada segmento (Figura 2B). Suas pernas são longas e os sifúnculos (duas estruturas pontiagudas presentes na parte posterior do corpo) são bastante afilados. Sua maior ocorrência está associada com temperaturas entre 16 ºC e 18°C, acompanhadas de escassez de chuva. Entretanto, A. pisum é tolerante a altas temperaturas, tendo sido registrados picos populacionais sob temperaturas iguais a 23 °C. As ninfas dessa espécie vivem frequentemente escondidas em folhas enroladas e por isso passam despercebidas.
c) Pulgão-azul-da-alfafa ou pulgão-verde-azulado (Acyrthosiphon kondoi) – Essa espécie possui coloração verde azulada e os indivíduos alados têm uma mancha marrom no tórax. Apresentam os três primeiros segmentos das antenas claros e os demais vão escurecendo de forma gradual até o último, que é negro e de menor tamanho (Figura 2C). As maiores populações desse pulgão estão relacionadas à ausência de chuvas e a temperaturas que variam entre 16 ºC e 22°C. A espécie A. kondoi prefere os brotos apicais, alojando-se sobre o caule e sobre as folhas. Grandes quantidades de “mela” estão associadas com as infestações desse pulgão.
d) Pulgão-das-leguminosas (Aphis craccivora) – As ninfas desse pulgão são de coloração verde-escura e os adultos são pretos brilhantes com pernas brancas. Embora essa espécie esteja relacionada com períodos de seca prolongada e altas temperaturas, já foi constatada a ocorrência de pico populacional a 18 °C. Essa espécie forma colônias muito densas nas hastes das plantas (Figura 2D). Danos: Os pulgões sugam a seiva das plantas e injetam saliva tóxica, deixando as folhas severamente amareladas, provocando deformação e enrugamento das folhas e brotos, além do encurtamento dos entrenós, nas hastes. Esses insetos liberam uma substância adocicada onde cresce um fungo preto denominado fumagina, prejudicando a fotossíntese. Desse modo, as plantas reduzem a produção de folhas e, consequentemente, a de forragem e de feno, podendo ser mortas. A maior sensibilidade da alfafa ao ataque de pulgões ocorre no início da rebrota.
Outra consequência grave do ataque de pulgões à alfafa é o fato de muitas espécies agirem como vetores de importantes viroses, que limitam a produção da planta: o mosaico-da-alfafa, e o mosaico-das-enações. Os indivíduos com asas aumentam a dispersão dos vírus (BLACKMAN e EASTOP, 1984; SOUZASILVA et al., 1998; LECLANT et al., 1973).
Fotos: Fernando Daniel Fava


Figura 2. Pulgões que causam danos às plantas de alfafa: pulgão-manchado Therioaphis trifolii forma
maculata (A), pulgão-da-ervilha Acyrthosiphon pisum (B), pulgão-azul Acyrthosiphon kondoi (C) e
pulgão-das-leguminosas Aphis craccivora (D).

Lagartas
A ocorrência de lagartas na alfafa também pode ser bastante importante, porque esses insetos consomem folhas, diminuindo a produção de massa vegetal, produto de maior interesse na planta por parte dos agricultores e pecuaristas. Várias são as espécies de lagartas presentes na cultura, embora a grande maioria ocorra principalmente em outros cultivos e somente esporadicamente na alfafa.
Lagarta-da-alfafa (Colias lesbia pyrrhothea) – É a única que tem a alfafa como planta hospedeira principal. Os adultos possuem variações de cores que vão desde o branco até o alaranjado, passando por vários tons de amarelo. Suas lagartas alimentam-se de folhas, de flores e de hastes finas da alfafa; consomem as áreas entre as nervuras das folhas, deixando as nervuras intactas. Os danos mais severos estão relacionados às plantas com menos de 15 cm de altura, onde o corte foi realizado recentemente. Machos e fêmeas se diferenciam pela coloração (Figura 3).
Fotos: Fernando Daniel Fava

Figura 3. Fase jovem (A) e adulta – fêmea e macho (B) da lagarta-da-alfafa Colias lesbia pyrrhothea.


Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) – Quando pequenas, as lagartas raspam as folhas e causam a formação de manchas claras; à medida que crescem, as lagartas destroem as folhas totalmente, podendo danificar também hastes terminais (Figura 4).
Fotos: Fernando Daniel Fava
Figura 4. Fase jovem (A) e adulta (B) da lagarta-da-soja Anticarsia gemmatalis.

Lagarta-do-cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda) – Apesar de ocorrer com maior frequência no milho e outras gramíneas, consome folhas novas da alfafa; em ataques intensos, pode-se notar até 300 lagartas por metro quadrado (ARAGÓN e IMWINKELRIED, 1995) (Figura 5).
Fotos: Fernando Daniel Fava
Figura 5. Fase jovem (A) e adulta (B) da lagarta-do-cartucho-do-milho Spodoptera frugiperda.

Curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes) – Essas lagartas são mais comuns em gramíneas, das quais podem migrar em grande quantidade para a alfafa. Isso pode tornar-se um problema em áreas voltadas para a criação de bovinos e em áreas de outros cultivos próximas a pastagens. A lagarta é reconhecida por se locomover como se estivesse medindo palmos, tal como Rachiplusia nu, outra espécie que também pode atacar a alfafa (Figura 6).
 
Fotos: Fernando Daniel Fava

Figura 6. Fase jovem (A) e adulta (B) do curuquerê-dos-capinzais Mocis latipes; fase jovem (C) e
adulta (D) de Rachiplusia nu.

Broca-das-axilas (Epinotia aporema) – Quando pequena, tem aspecto gelatinoso e o hábito de unir as folhas ou flores das extremidades da planta com fio de seda, alimentando-se delas. Nas hastes, abrem galerias, provocando o secamento de ramos e de folhas na extremidade da planta (Figura 7A,B).
Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon) – Insetos que seccionam as plantas, principalmente as mais novas, na região do caule próxima ao solo. Têm hábito noturno e, durante o dia, permanecem enroladas e abrigadas no solo (Figura 7C).
Fotos: Fernando Daniel Fava

Figura 7. Fase jovem (A) e adulta (B) de Epinotia aporema; adulto de Agrotis ipsilon (C).

Besouros
Os principais besouros que causam danos à alfafa são:
a) Gorgulho-da-alfafa (Naupactus leucoloma ou Pantomorus leucoloma) – O adulto tem cabeça prolongada, cor cinza claro, com listra branca nas laterais das asas; medem de 8 mm a 12 mm de comprimento (Figura 8A). Suas larvas têm corpo branco amarelado, sem pernas, cabeça grande e com coloração castanha.
Durante a fase larval, vivem no solo e se alimentam de raízes (Figura 8B).
b) Brasileirinho ou patriota (Diabrotica speciosa) – Os adultos vivem sobre as plantas e têm coloração verde com pintas amarelas (Figura 8C). Suas larvas vivem no solo, são brancas e finas, sendo conhecidas como larvas-alfinete.
c) Vaquinha (Epicauta atomaria) – O adulto é um besouro de coloração cinza com pontos pretos distribuídos sobre as asas; medem de 10 mm a 15 mm de comprimento (Figura 8D). Sua presença em alfafais é atribuída à proximidade de cultivos de soja, de feijão ou de guandu.
Danos: O brasileirinho adulto alimenta-se de folhas mais tenras, deixando-as com pequenos orifícios; a vaquinha E. atomaria destrói as folhas da planta, deixando-as apenas com as nervuras. Ambas causam diminuição da área fotossintética e queda na produção. Os danos causados pelos adultos são maiores em alfafais em fase de estabelecimento. As larvas do gorgulho e do brasileirinho atacam a região de crescimento das raízes, causando a morte de plantas recém-emergidas. Os danos às raízes de plantas de alfafa, além de diminuírem a produtividade e a longevidade do cultivo, constituem portas de entrada para fungos que contribuem para o aumento dos danos provocados. Sua importância aumenta em áreas de plantio direto, com solos escuros, ricos em matéria orgânica e úmidos.
Fotos: Fernando Daniel Fava

Figura 8. Besouros pragas da alfafa: gorgulho-da-alfafa adulto Naupactus leucoloma (A) e seus
danos nas raízes (B), brasileirinho Diabrotica speciosa (C) e vaquinha Epicauta atomaria (D).

Cigarrinha-verde
Tratam-se de insetos pequenos, sugadores, com 3 mm de comprimento e dotados de movimentos rápidos. Os adultos são de coloração verde e as ninfas, menores, de coloração amarelo-esverdeada (Figura 9). As formas jovens têm o hábito de se locomoverem lateralmente e são facilmente encontradas na superfície inferior das folhas. Nos EUA, sua ocorrência está associada a clima quente e seco.

Danos: Tanto os adultos como as ninfas da cigarrinha-verde succionam a seiva da planta, deixando-a amarelada, com crescimento reduzido e folhas com bordos enrolados para baixo ou arqueados; sinais que são muito semelhantes aos de viroses.
Fotos: Fernando Daniel Fava

Figura 9. Cigarrinha adulta sugando folha de alfafa e deixando sinais da saliva tóxica nas folhas.

Tripes
São insetos muito pequenos (0,5 mm a 13 mm), com corpo delgado e dois pares de asas franjadas longas e estreitas. Na Argentina, a espécie mais frequentemente encontrada é Caliothrips phaseoli (Figura 10); as espécies de maior ocorrência nos EUA são Caliothrips fasciatus, Thrips tabaci e Frankliniella occidentalis.
Danos: Essas espécies causam prejuízos diretos, por se alimentarem de plantas, ou indiretos, por serem vetores de vírus de plantas. Durante a alimentação, os tripes raspam os tecidos das folhas e sugam a seiva extravasada, causando deformação e crescimento desigual dos tecidos em torno da lesão, os quais ficam com aparência enrrugada.
Fotos: Fernando Daniel Fava

Figura 10. Tripes Caliothrips phaseoli: ninfas (A); adultos (B); sintomas verificados nas folhas de alfafa
atacadas pela praga (A-B).

Ácaros
Esses têm sido cada vez mais frequentes nos cultivos de alfafa do Rio Grande do Sul. Algumas espécies, como o ácaro manchado Tetranychus urticae formam colônias na superfície inferior das folhas, onde também deixam seus ovos, colocados em uma teia tecida com fios de seda semelhantes aos de uma aranha. As ninfas e os adultos são muito pequenos (Figura 11).
Danos: Em consequência da alimentação do ácaro, aparecem pequenas áreas esbranquiçadas na parte superior das folhas, que com o passar do tempo se tornam amareladas; danos graves incluem a queda das folhas. Plantas altamente infestadas têm aparência amarelada e podem ficar atrofiadas. A redução na produção é maior quando a alfafa está crescendo ou quando as infestações ocorrem no início do ciclo de corte.
Fotos: Fernando Daniel Fava

Figura 11. Presença de teias com ácaros Tetranychus urticae (A) e sintomas verificados nas plantas de
alfafa atacadas pela praga (B).

Controle das principais pragas

Em razão principalmente do seu uso como forragem na alimentação animal, deve-se evitar o controle químico de pragas na cultura da alfafa, optando-se por outros métodos. Atualmente, não há registro de inseticidas químicos para uso na cultura da alfafa junto ao Ministério da Agricultura. Os métodos recomendados são:

a) Preventivos
– Uso de cultivares resistentes;
– Manejo racional do mato, evitando plantas espontâneas que abrigam as mesmas pragas da alfafa.
b) Culturais
– Uso de curvas de nível em áreas declivosas para evitar a perda da fertilidade do solo e, consequentemente, manter as plantas mais saudáveis e capazes de reagir ao ataque de insetos fitófagos.
– Priorização de adubos nitrogenados de solubilização lenta porque os de rápida disponibilização deixam a planta mais suscetível ao ataque de insetos sugadores.
– Controle do excesso de água que pode causar estresse nas plantas, deixando-as sem defesas para reagir ao ataque de pragas.
– Escalonamento dos cortes de alfafa para manter os inimigos naturais nas áreas de cultivo. Assim, os predadores e parasitoides da área cortada podem se refugiar nas áreas onde a alfafa não foi cortada, controlando as pragas.
c) Físicos
– Antecipação do corte ou do pastejo quando os insetos-praga estiverem iniciando o ataque pode controlar o aumento de determinada praga na área.
d) Biológicos
– Preservação de áreas de refúgio diversificadas para manutenção dos inimigos naturais. Estas áreas podem ser matas ou faixas com diferentes plantas inseridas entre as áreas de plantio.
– Uso de inseticidas biológicos como aqueles à base de bactéria Bacillus thuringiensis para controle de lagartas ou besouros, ou dos fungos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae para vaquinhas e cigarrinhas. O fungo Nomuraea rileyi tem ocorrência natural em campos de cultivo e a presença de lagartas flácidas e com bolor branco na sua superfície pode ser indício de sua presença.
– Manutenção do parasitismo natural: pulgões com aspecto inchado e de coloração muito mais clara que os demais podem estar parasitados por microvespas que os consomem internamente, matando-os.
Por se tratar de uma cultura perene, a alfafa forma um agroecossistema relativamente estável em que inimigos naturais podem se estabelecer. Assim, predadores e parasitoides, juntamente com outros fatores, como temperatura e precipitação, são componentes que apresentam um papel importante na redução das populações de pragas. Insetos que agem como agentes reguladores da população de pragas (inimigos naturais) podem ser facilmente visualizados pelos agricultores, que não devem confundi-los com as pragas. O reconhecimento deles é fundamental para o sucesso do controle biológico natural. Na Tabela 1, são apresentadas as pragas da alfafa e seus predadores e parasitoides mais comuns, e existem publicações que podem auxiliar os agricultores nesse processo (SILVA et al., 2013).
Tabela 1. Pragas da cultura da alfafa e seus predadores e parasitoides mais comuns.
 
PragasInimigos Naturais
PulgõesPredadores: Percevejos jovens e adultos das famílias Geocoridae, Nabidae e Anthocoridae, além das joaninhas (Coccineliidae); larvas de Chrysopidae e Syrphidae.
Parasitoides: Microvespas (Aphidiidae).
 
LagartasPredadores: Percevejos jovens e adultos das famílias Geocoridae, Nabidae e Anthocoridae.
Parasitoides: De ovos (Trichogrammatidae) e de lagartas (vários).
BesourosPredadores: Percevejos jovens e adultos das famílias Geocoridae e Nabidae; e joaninhas (Coccineliidae); larvas de Chrysopidae.
Parasitoides: Microvespas (várias).
Cigarrinha-verdePredadores: Percevejos jovens e adultos das família Nabidae e Anthocoridae; larvas de Chrysopidae.
Parasitoides: Microvespas (várias).
















Outro ponto a ser levado em conta no controle de pragas da alfafa é o fato de ela necessitar, obrigatoriamente, de insetos para a sua polinização. É muito importante o conhecimento das relações entre os métodos de controle e os agentes polinizadores, principalmente quando se visa produzir sementes. A abelha comum (Apis mellifera), a mamangava (Xylocopa brasilianorum) e a irapuá (Trigona spinipes) foram relacionadas como as espécies mais comumente associadas à polinização de alfafa no Brasil.




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