domingo, 19 de abril de 2020

Clima e Solo para a Mamona




Clima

Latitude e altitude
A mamoneira é uma planta heliófila, e vegeta bem em climas tropicais e subtropicais e pode ser explorada comercialmente entre as latitudes 40o N e 40o S. No Brasil ela é encontrada como planta asselvajada desde o Rio Grande do Sul até a Amazônia. A mamoneira é encontrada vegetando em altitudes desde o nível do mar até 2.300 m. A altitude, pode influenciar na expressão sexual da mamona, apesar da base genética, está diretamente relacionada com a temperatura.

A mamoneira é considerada uma planta de dias longos, embora se adapte bem às regiões com fotoperíodos curtos, desde que não sejam inferiores a 9 horas. Seu melhor desenvolvimento ocorre em áreas com boa insolação, com pelo menos 12 horas de sol por dia, sendo que dias longos favorecem a formação de flores femininas, enquanto os curtos favorecem as masculinas. Nesse sentido, a altitude tem sido considerada como critério no zoneamento dessa cultura, pois a mesma interfere diretamente sobre o fotoperiodismo, taxa de nebulosidade diária, densidade da radiação solar diária, temperatura e umidade relativa do ar, além de alterar a relação de flores femininas/masculinas, bem como o número médio de flores femininas por cacho (WEISS, 1983).

Pluviosidade/umidade

A mamoneira é relativamente tolerante à seca. A planta utiliza vários mecanismos para suportar a limitação de água, tais como crescimento das raízes em profundidade, aumento da cerosidade, redução do tamanho das folhas, ajuste osmótico etc. A tolerância da mamoneira à seca é importante para que ela suporte alguns períodos de seca e possa voltar a produzir quando a água voltar a ser disponível. No entanto, a planta não é capaz de ter alta produtividade se não houver disponibilidade adequada de água, seja da chuva ou de irrigação.

A maior exigência de água desta oleaginosa ocorre no inicio da fase vegetativa. Para ter uma produção economicamente viável, é preciso que no inicio do enchimento dos frutos a planta tenha recebido em torno de 500 mm. Se a quantidade de água for maior (entre 500 mm e 1000 mm), a produtividade também será maior. No período de floração, alta umidade relativa do ar (acima de 80%) junto com temperaturas mais amenas (em torno de 22 oC), podem favorecer o desenvolvimento de mofo cinzento o qual é a mais grave doença da mamoneira. Altas temperaturas também podem favorecer outras doenças como cercosporiose e podridão das raízes.

Temperatura

A mamoneira se desenvolve bem com produção com valor comercial em ambientes com uma faixa de temperatura variando de 20ºC a 35ºC, sendo que a temperatura ideal é de 28ºC. Plantas cultivadas sob temperatura superior a 40ºC no período de floração podem apresentar senescência das flores, prejudicando a produção de frutos, podendo ocorrer ainda a reversão sexual das flores, aumentando a quantidade de flores masculinas e diminuindo a quantidade de flores femininas. Entretanto, plantas cultivadas sob temperaturas médias inferiores a 10ºC podem apresentar pólen danificado, comprometendo a produção de sementes.

Temperaturas infra e supra-ótimas interferem na produtividade da cultura: ambientes com temperatura noturna em torno de 30ºC aumentam a respiração e diminuem a fotossíntese, reduzindo o crescimento e a produção (BELTRÃO et al, 2008). A mamoneira não suporta temperaturas abaixo de 0 oC, embora possa resistir a uma geada leve e de curta duração. Temperaturas amenas (15°C - 20oC) podem também tornar lento o enchimento das sementes.

Necessidades hídricas

A mamoneira é considerada uma espécie tolerante à seca. Porém, esta tolerância depende do adequado crescimento das raízes e por isto não é recomendado plantar mamona em solos rasos nos quais as raízes não poderão crescer em profundidade. Para a mamoneira, o período entre a brotação e a floração, representa o período de maior demanda de água, com necessidade de pelo menos 400 mm (TÁVORA, 1982). A escassez de água naquela fase pode causar redução da produtividade.

Em ambientes com precipitação pluvial acima de 700 mm, a mamoneira pode atingir produtividade superior a 1500 kg/ha (BELTRÃO; SILVA, 1999; WEISS, 1983). Na região semiárida do Nordeste, tem-se atingido produtividades de 500 kg/ha1, em sistema de sequeiro. É importante ressaltar a importância de se realizar a semeadura no início do período recomendado para a região, pois assim é maior a probabilidade de haver água disponível no solo, do contrário, a quantidade de água disponível pode ser reduzida, comprometendo assim a produtividade.

Entre a floração e a maturação dos frutos, é desejável que a umidade relativa do ar seja baixa para que se evite o desenvolvimento de doenças nas folhas e o mofo cinzento (que se desenvolve com alta umidade e temperatura amena).

Solo

A mamoneira desenvolve-se e produz bem em vários tipos de solo, com exceção daqueles de textura muito argilosa, que apresentam deficiência de drenagem e aeração. Solos profundos, com boa drenagem, de textura franca e bem balanceado quanto aos aspectos nutricionais, favorecem o seu desenvolvimento. O sistema radicular da mamoneira tem capacidade de explorar as camadas mais profundas do solo, que normalmente não são atingidas por outras culturas anuais, como soja, milho e feijão, promovendo o aumento da aeração e da capacidade de retenção e distribuição da água no solo.

A mamoneira é exigente em fertilidade, devendo ser cultivada em solos com fertilidade média a alta. A cultura prefere solos com pH entre 5 e 6,5, produzindo em solos de pH até 8,0. A mamoneira não é capaz de atingir produtividade satisfatória em solos de baixa fertilidade ou alta acidez, mesmo que haja boa disponibilidade de água. O solo para plantio de mamona deve ser bem drenado, pois a planta é extremamente sensível ao encharcamento, mesmo que temporário.

Cerca de três dias sob encharcamento podem provocar morte das plantas. Solos com alta salinidade também são pouco recomendados, pois a presença de alta concentração de sais pode prejudicar o crescimento da planta. O cultivo da mamoneira em solo impróprio pode constituir sério fator de degradação dos solos de uma região, por essa cultura apresenta um baixo índice de área foliar, deixa o solo mais susceptível ao impacto das gotas da chuva.





quarta-feira, 8 de abril de 2020

Comercialização e Mercado da Mamona



Exportação / importação

No comércio internacional ocorrem as movimentações de baga e de óleo de mamona, verificando-se que a venda de baga, que apresentava quedas significativas até 2010, voltou a crescer já no primeiro semestre de 2011. Nesse contexto, a mamona, produzida principalmente por agricultores familiares localizados no Nordeste e  no Semiárido brasileiro, voltou a apresentar aumentos gerais de produção. Para visualizar como se dá essa movimentação nos últimos dez anos em relação ao óleo, a Figura 1 e as Tabelas 1 e 2,  apresentam dados de exportação e importação disponíveis na Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO-ONU).

Figura 1. Evolução do comércio exterior de mamona (grão e óleo).

Tabela 1. Exportação de óleo de mamona no mundo 2000 - 2009, em toneladas métricas.
Países
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Índia
238.949
199.789
143.643
136.509
239.218
233.324
271.596
257.515
331.665
368.433
Brasil
16.743
10.244
5.815
1.980
824
11.782
4.343
746
237
874
Holanda
7.656
8.803
12.524
17.005
21.492
30.732
29.924
28.642
42.242
28.964
Alemanha
6.182
6.365
6.827
6.987
5.512
3.600
6.313
5.170
6.121
7.156
EUA
3.320
2.819
2.836
3.128
3.065
2.522
1.100
3.846
6.783
6.739
França
2.351
3.190
3.297
3.401
4.992
6.052
7.569
15.305
22.352
21.043
Tailândia
2.060
1.358
1.552
1.775
1.720
1.418
1.496
1.558
1.585
1.279
UE (27 países)
1.789
1.322
1.266
1.445
1.571
1.210
1.095
1.331
1.475
1.652
Equador
693
1.337
1.071
464


292
314
284
287
Suécia
618
584
752
751
752
289





Fonte: FAO ( 2012).

Tabela 2. Importação de óleo de mamona no mundo 2000 - 2009, em toneladas métricas.
Países
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
UE (27 países)
135.256
142.752
117.434
104.034
127.106
152.633
124.483
129.192
172.001
86.446
França
76.701
82.095
54.327
41.764
48.707
72.411
48.279
55.994
95.89
22.631
EUA
40.739
45.395
32.339
26.702
40.669
41.794
45.908
44.299
49.832
32.145
Alemanha
33.786
30.014
34.661
35.393
38.476
33.833
39.897
41.944
44.629
43.088
China
32.267
9.933
8.115
14.8
43.6
65.549
86.441
82.078
86.507
131.235
Japão
19.765
20.086
19.283
22.805
21.051
24.987
16.58
18.993
19.282
15.706
Tailândia
15.122
13.562
15.322
14.583
14.192
15.037
11.433
10.462
16.7
12.475
Holanda
12.503
21.203
21.007
18.535
29
53.292
35.632
37.849
40.921
30.15
Itália
9.367
8.863
10.563
9.303
10.556
10.301
11.969
12.774
13.492
11.769
Reino Unido
5.407
1.871
2.899
6.014
8.774
9.723
8.96
8.597
6.864
6.617
Fonte: FAO (2012).

Fica evidenciada a utilização do óleo de mamona em maior quantidade por países de economia altamente industrializada, dado seu emprego em indústrias de ponta tecnológica, com o mesmo se deslocando geograficamente a partir da linha tropical em que se situam os principais produtores: Índia, Brasil e China. Pode-se observar, também, o papel que os Países Baixos (Holanda) exercem na distribuição dessa mercadoria pelo mundo, já que, mesmo não sendo produtor primário de mamona, tem desempenho histórico como um importante centro de logística mercadológica mundial (MME, 2011). Visualize-se também os decréscimos abruptos dos montantes de óleo de mamona exportados (e importados) a partir de 2004, certamente como reprodução dos efeitos da política pública brasileira ligada ao emprego desse óleo para a fabricação de biodiesel, o que interferiu no planejamento normal dos agentes e atores ligados à cadeia produtiva. Dados preliminares dão conta de que, no primeiro semestre de 2011, mais de 11 mil metros cúbicos de óleo de rícino foram exportados, confirmando-se o retorno de aumento sustentado da exportação brasileira.

O Brasil é o segundo maior exportador mundial, e quando o óleo se destina à exportação, deve-se observar as especificações do mercado importador (EMBRAPA, 2001). No caso do mercado norte-americano, as exigências são as seguintes:
Óleo de Mamona Industrial nº 1: deve ter, no máximo, 1% de acidez livre; 0,25% de impurezas e umidade; 6,25 a 7,55 de viscosidade a 25ºC; 0,97 de densidade a 15,5ºC; 1,475 a 1,482 de índice de refração a 25ºC e coloração amarelo-claro;
Óleo de Mamona Industrial nº 3: deve ter, no máximo, 2,5% de acidez livre; 0,5% de impurezas e umidade; 6,25 a 7,55 de viscosidade a 25ºC; 0,95 a 0,97 de densidade a 15,5ºC; 1,475 a 1,482 de índice de refração a 25ºC e cor amarelo-35 e vermelho-3 a 4, na escala Lovibond.

Mercado

Os maiores produtores de baga e óleo de mamona no panorama internacional são a Índia, a China, o Brasil e Moçambique, que ditam os preços do produto no mercado internacional. O mercado mundial é de aproximadamente 800.000 t (oitocentas mil toneladas). Considerando a capacidade de produzir e exportar produtos da mamoneira, a liderança isolada é da Índia, que é quem concorre com o Brasil; diferentemente da China, pois a economia chinesa consome toda sua produção internamente, ou seja, ela não participa desse mercado internacional. Trata-se de um mercado ditado por uma série de fatores, os quais fizeram o preço se elevar desde 2004, principalmente pela redução da safra americana de soja e o crescente aumento da importação de oleaginosas pela China.

Segundo a CONAB (2012), os  preços  reais  mensais  verificados  no  mês  de  setembro,  na  Bolsa  de  Rotterdam (Tabela 3), em  comparação  ao  mês  anterior  permaneceram  inalterados.  Isso  pode  ser fundamentado:  a)  na  incerteza   do  mercado que espera o desenrolar das turbulências financeiras que ocorrem no mercado mundial e; b) realinhamento de preços que estiveram em picos elevados.

No Brasil existe um mercado oligopsônico para o óleo de mamona, onde um pequeno excesso de oferta pode causar uma grande queda nos preços. O Brasil conta com capacidade instalada de cerca de 160 mil toneladas/ano nas principais empresas esmagadoras de baga de mamona, considerando-se, para fins de cálculo, 200 dias úteis de processamento industrial.
Tabela 3. Evolução dos preços reais de óleo de mamona em Rotterdam (US$/Tonelada).
Ano
jan
fev
mar
abr
mai
jun
2006
930,45
910,00
915,22
909,17
895,23
890,71
2007
1115,00
1124,72
1167,27
1207,89
1300,00
1278,57
2008
1423,86
1480,00
1600,00
1620,00
1627,50
1653,50
2009
1512,50
1433,33
1380,15
1248,50
1250,00
1250,00
2010
1563,75
1575,00
1575,00
1575,00
1575,00
1631,80
2011
1951,92
1951,92
1951,92
1951,92
2650,00
2512,00

Ano
jul
ago
set
out
nov
dez
2006
897,48
944,35
966,84
1042,27
1119,09
1120,75
2007
1275,00
1281,96
1265,00
1284,57
1323,26
1335,00
2008
1660,00
1786,00
1855,50
1677,00
1585,00
1575,00
2009
1250,00
1250,00
1317,00
1391,50
1385,00
1393,85
2010
1825,00
1825,00
1928,13
2100,00
1925,00
2150,00
2011
2436,25
2650,00
2650,00
-
-
-
Fonte: CONAB, (2012).

A questão da disponibilidade de matéria-prima estará equacionada pelo aumento sustentado da produção interna de bagas de mamona, o que atende às necessidades das principais empresas esmagadoras existentes na Bahia, São Paulo e Minas Gerais.

Para que toda a problemática da cadeia produtiva da mamona seja resolvida em prazo mais longo, torna-se essencial que sejam estabelecidos relacionamentos entre os produtores da matéria-prima e os empresários da indústria de esmagamento, de modo que sejam respeitadas as necessidades de continuação de existência de cada um deles. Na história das Políticas Públicas dirigidas para a cultura da mamoneira, os agricultores familiares,  em especial os do Semiárido, foram desafiados por diversas vezes pelos governos a plantar sob promessa das produções serem compradas por preços melhores que os historicamente praticados no mercado; ao não se cumprir o que estava estipulado nessas políticas, terminou por frustrar e gerar descrença em relação ao potencial econômico da oleaginosa. Atualmente, o Programa de Biodiesel da Petrobrás (PBio), tem a missão de reanimar o mercado, colocando dinheiro para compras de safras, criando mercado cativo onde haja tradicionalmente plantios de mamona, oferecendo acompanhamento técnico adequado, distribuição de sementes com potencial de produtividade e colheita e armazenagem garantidas, dando segurança aos agricultores, tudo sob contrato de 5 anos; e com a Petrobrás dando a contrapartida financeira. O objetivo é estruturar a cadeia produtiva da mamona a partir da agricultura familiar brasileira. A Petrobrás procura trabalhar com a parceria dos governos estaduais (EMATER, etc.) e com as cooperativas de produção dos agricultores familiares. No entanto, a estrutura organizacional dos agricultores familiares ainda é muito frágil, não existindo organizações que possam facilitar a implementação dos projetos de forma representativa (FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS, 2009).





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